ESTIMATIVA E COMPARAÇÃO DA ÁREA OCUPADA POR PLANTAS AQUÁTICAS NO PARQUE MUNICIPAL LAGOA DAS BATEIAS, VITÓRIA DA CONQUISTA- BA, ENTRE 2008 E 2013 Luana Jessica Souza Santos1, Odair Lacerda Lemos2, Pedro Henrique Vieira Candido3. 1 Graduanda em Engenharia Florestal da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB, Vitória da Conquista – Brasil, e-mail: [email protected] 2 Professor Doutor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -UESB 3 Graduando em Engenharia Florestal da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –UESB Recebido em: 31/03/2015 – Aprovado em: 15/05/2015 – Publicado em: 01/06/2015 RESUMO Este trabalho teve como objetivo estimar e comparar a cobertura vegetal aquática na microbacia do Parque Municipal Lagoa das Bateias usando técnicas de Sensoriamento Remoto, entre os anos de 2008 e 2013. Foram utilizadas imagens satélite RapidEye e SPOT obtida do Google Earth. As categorias estabelecidas foram água e planta aquática. A imagem RapidEye é de 04/09/2011 e 06/05/2013 e do SPOT de 17/05/2008 referentes ao município de Vitória da Conquista-BA. Para classificar foram gerados vetores poligonais das áreas de água e cobertura vegetal aquática. O processamento e análise foram realizados por meio do software QGIS 2.8. Os resultados revelaram que o maior percentual de área do espelho d’água coberta por macrófitas foi em 2013 com aproximadamente 52%. Em relação ao ano de 2008 até 2013 a elevação da área de ocupação por macrófitas foi de aproximadamente 20%. Observou-se que a dinâmica espacial das macrófitas formam densas e extensas colonizações nas margens e no centro da lagoa, que ao longo do tempo foram afastando do centro, provavelmente pelo fluxo natural de saída da água. Portanto, os dados obtidos auxiliam no fundamento para aplicação de medidas mitigadoras e um planejamento voltado para o manejo integrado de plantas aquáticas no Parque Municipal Lagoa das Bateias. PALAVRAS-CHAVE: macrófita, microbacia, multitemporal, sensoriamento remoto ESTIMATE AND COMPARISON OF THE AREA COVERED BY AQUATIC PLANTS IN MUNICIPAL PARK LAGOA DAS BATEIAS, VITÓRIA DA CONQUISTA- BA, BETWEEN THE YEARS 2008 AND 2013 ABSTRACT The objective of this study was to analyze and estimate the vegetation coverage in the Municipal Park Lagoa das Bateias using remote sensing techniques, between the years of 2008 and 2013. The coverage categories defined were aquatic vegetation and water. The study makes use of RapidEye images that correspond to 04/09/2011 and 06/05/2013 acquisition dates and a SPOT image of 17/05/2008, in which all of them are of the city of Vitória da Conquista, Bahia. The classification technique was a manual vector tracing of the features. The processing and analysis were performed ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.984 2015 using QGIS 2.8. The results show that the biggest amount of macrophyte coverage corresponds to 2013, with approximately 52%. Regarding the coverage of 2008 to 2013, the new area occupied by the macrophyte was 20% higher. The especial dynamics of the plant growth indicate dense colonies along the borders and in the center of the pond, where the water flow probably repulse the center colonies to the borders. Therefore, the data obtained was helpful in fundamental decision taking mitigation measures and planning aimed at the integrated aquatic plants management in the Municipal Park Lagoa das Bateias. KEYWORDS: macrophyte, microbasin, multitemporal, remote sensin INTRODUÇÃO Sensoriamento Remoto é a área da ciência que obtém informações da superfície terrestre sem estar em contato físico com o alvo, por meio de sensores contidos em avião ou satélite. JENSEN (2011) descreve sensoriamento como sendo a arte e ciência de adquirir informações sobre um objeto sem estar em contato físico direto com o objeto, importante na medição e monitoramento de características biofísicas e atividades do homem na Terra. No que envolve o gerenciamento dos recursos naturais, o diagnóstico ambiental é um dos primeiros passos para conhecer os impactos antrópicos (CANDIDO, 2008). A observação da realidade e dos problemas do meio de interesse com foco nos recursos hídricos, na urbanização e no uso do solo é bastante propício a utilização de imagens de sensores remotos, já que áreas em construção ou ocupadas pelo homem possuem contraste maiores entre os elementos da paisagem (FLORENZANO, 2002). Segundo BABAN (1999) a gestão de lagos é uma ciência recente e o uso de Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) podem acelerar e ampliar a compreensão das mudanças ocorridas em lagos e no desenvolvimento de estratégias de manejo, já que os sensores a bordo de satélites possuem caráter multitemporal das imagens que possibilita o monitoramento dos ambientes (FLORENZANO, 2002). Um dos representantes mais atuais dos sensores remoto em nível orbital é o satélite RapidEye. A constelação do RapidEye é composta de cinco satélites e depois de processada permite adquirir imagens ortorretificadas com resolução espacial de cinco metros. Os satélites RapidEye são capazes de coletar cinco bandas multiespectrais, com a adição da banda chamada de RedEdge, desenvolvida para reconhecer a vegetação, a qual se situa numa faixa do espectro de alta correlação com a refletância da clorofila, diferenciando diferentes tipos de cobertura vegetal e cobertura do solo (SCCON, 2014). O sensor remoto capta a imagem por meio da refletância, transmitância e absorção dos comprimentos de onda do objeto. As folhas são a principal parte contribuinte da vegetação para os sinais de detecção dos sensores, as suas propriedades espectrais dependem da estrutura interna, composição química e morfologia. A vegetação sadia possui uma refletância baixa até 0,7 µm, devido aos pigmentos absorverem a energia, na faixa do verde até 0,56 µm a refletância aumenta. Entre 1,3 µm e 2,5 µm a refletância é influenciada pela quantidade presente de água nas folhas. A água no estado líquido apresenta uma refletância baixa, absorve toda radiação acima de 0,7 µm. A presença de matéria em suspensão e dissolvidos na água afeta o comportamento espectral, assim quanto maior a concentração de material em suspensão na água maior a refletância na faixa do vermelho (IBGE, 2000). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.985 2015 O índice de vegetação são assinaturas espectrais, as quais indicam a abundância relativa e atividade da vegetação (JENSEN, 2011), utilizados para monitorar e estimar a distribuição espacial da cobertura vegetal por meio de várias combinações matemáticas das refletâncias de bandas, principalmente o vermelho e o infravermelho próximo (BACKES, 2010). FAUSTINO (1996) citado por TEODORO et al. (2007) considera que as microbacias hidrográficas são unidades com drenagem direta ao curso principal de uma sub-bacia. São classificados com área inferior a 100 Km2. As microbacias asseguram a produção de água, a sustentação da vida na natureza, a diversidade no meio ambiental e contribui eminentemente na preservação da biosfera (VALDEMIR, 2013). Ainda segundo o autor o planejamento ambiental e o manejo adequado podem subsidiar a redução dos principais impactos ambientais provocados pela ação desordenada do homem que altera a disponibilidade hídrica nas nascentes, a qualidade de água nos corpos d’água e a eutrofização em rios e lagos, principalmente pelo aumento de nutrientes como fósforo ou nitrogênio, consequentemente favorecendo a proliferação de plantas aquáticas. As macrófitas podem ser interpretadas como Clorofitas, Briófitas, Pteridófitos e Espermatófitos, as quais possuem parte fotossinteticamente ativas permanentemente e que durante vários meses do ano permanecem submersos em água ou flutuando na superfície (COOK, 1974). Estas plantas promovem diversos benefícios ao ecossistema são fontes de energia e de matéria para o ecossistema aquático, em regiões de pouca ação antrópica fornece abrigo para reprodução e proteção de organismos aquáticos e pássaros, filtra excesso de substâncias tóxicas na água, além de reduzir o processo erosivo do corpo hídrico nas margens (AGEVAP, 2007). Segundo FACIOLI & MOREIRA (2013) a modificação das características em uma região acarretada pelas ações antrópicas provoca intensas alterações nos corpos hídricos. O favorecimento das condições do ambiente aumenta excessivamente o crescimento populacional de macrófitas. A eutrofização, a construção de barragens que altera o regime hídrico, assoreamento, a introdução de macrófitas e peixes exóticos são as principais modificações que contribui para alterar as comunidades de macrófitas. A proliferação excessiva de macrófitas causam diversos problemas ambientais, à saúde humana e ao uso múltiplo da água, como: Alteração das propriedades físicas e químicas da água, principalmente o oxigênio disponível no meio; impede a navegabilidade e a utilização do corpo hídrico para esportes aquáticos; impossibilita a criação e captura de peixes; favorece condições adequadas para instalação e sobrevivência de populações de insetos e moluscos que podem ocasionar implicações de saúde pública; reduz a capacidade de armazenamento de reservatórios. Diante das problemáticas causadas pelo excesso de plantas aquáticas visa à necessidade de aplicar medidas de controle. As ações de controle de macrófitas são determinadas por fatores, como a espécie, sua biologia e ecologia, a sazonalidade, com relação à dinâmica de crescimento nos períodos de chuva e seca (FACIOLI & MOREIRA, 2013). A presença de plantas aquáticas é constatada na microbacia do Parque Municipal Lagoa das Bateias, no entanto não se verifica, nas literaturas, estudos relacionados aos impactos e nem dados da estimativa de área ocupada pela macrófita no espelho d’água. A Lagoa das Bateias faz parte da sub-bacia da Bacia ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.986 2015 do Rio Santa Rita, localizada na área urbana de Vitória da Conquista com 53 ha de área (PMVC, 2014). Anteriormente era considerada apenas como Área de Preservação Permanente (APP), desde 1996. Hoje, passa por um processo de regularização para ser reconhecida como unidade de conservação. Na década de 90, a região da Lagoa das Bateias foi ocupada por moradias ilegais, casas construídas em terrenos inadequados e sujeitos a inundação. Após a intervenção do Programa Pró-Moradia, que reestruturou o local com obras de macro-drenagem e infraestrutura urbana, não se observa mais o cenário fragilizado pela invasão. No entanto, a situação precária ainda está presente, algumas casas encontram-se em situação de inundação e insalubridade, pela falta de esgotamento sanitário, assim como a região do loteamento Santa Cruz, um dos loteamentos ao redor da Lagoa das Bateias, também não possui um sistema de esgotamento, sendo o esgoto doméstico lançado diretamente na lagoa (PIÁU, 2013). Este trabalho teve como objetivo comparar a cobertura vegetal na microbacia do Parque Municipal Lagoa das Bateias usando técnicas de Sensoriamento Remoto, entre 2008 e 2013. MATERIAL E MÉTODOS O município de Vitória da Conquista localiza-se na região Sudoeste do estado da Bahia, Brasil, na microrregião do Planalto da Conquista entre às coordenadas 14°51'58'' S latitude, e 40°50'22'' O longitude. A altitude média do município é de 923 m, com uma área de 3.356,886 km² (IBGE, 2014). O clima da região é subúmido à seco com temperatura média anual de 20 °C e pluvios idade anual de 733,9 mm. A vegetação classificada como Floresta Estacional Decidual (SEI, 2013). O estudo foi realizado com imagens de satélite RapidEye adquiridas do sistema denominado GeoCatalogo do Ministério do Meio Ambiente disponível em http://geocatalogo.ibama.gov.br, de 04/09/2011 e 06/05/2013, e imagem do satélite SPOT obtida do Google Earth na data de 17/05/2008 referentes ao município de Vitória da Conquista-BA. O georreferênciamento da imagem SPOT foi realizado por meio da opção de ajuste pela camada que está ao fundo da ferramenta Georreferênciamento do software QGIS. A imagem de fundo utilizada foi a RapidEye de 04/09/2011 que já é georreferenciada. O fluxo da metodologia empregado está apresentado na figura 1. Na qual é possível observar os passos para gerar os mapas temáticos tanto para as imagens RapidEye quando para SPOT do Google Earth. FIGURA 1. Fluxo da metodologia ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.987 2015 Pré-processamento MENESES & ALMEIDA (2012) explicam que existem diferenças entre o fluxo radiante incidente devido às absorções dos gases e as mudanças contínuas da distância e posição do Sol em relação à Terra, que acarretam alteração na radiância medida no sensor, mesmo de um dia para outro, sem que os alvos tenham mudado nada. A influência dessa variação seria eliminada caso o sensor, no momento em que medisse a radiância que deixa o alvo, medisse também o fluxo radiante incidente no alvo. A razão entre a quantidade de energia radiante que deixa uma unidade de área (radiância) pela quantidade de energia incidente naquela área (irradiância) é a refletância, e é essa medida que deve ser utilizada no cálculo do NDVI. A conversão dos valores digitais para radiância, e de radiância para refletância, é feito através de equações matemáticas e necessitam de metadados técnicos do satélite no momento da aquisição das imagens. O produto 3A da RapidEye (imagem disponibilizada pelo MMA) vem com os valores de radiância pré-processados e associados a um fator de escala, em que se faz a multiplicação desse fator para obter os valores de radiância da imagem. O cálculo da refletância é realizado pela fórmula 1. As operações matemáticas realizadas com os valores digitais da imagem foram efetuadas na ferramenta Raster Calculator do ArcGIS. Refletâncias: ρx = (Lrad * π) / (E0 * cosZ * dr) (1) Em que, ρ é a refletância espectral na banda X; dr o inverso do quadrado da distância Terra-Sol em unidade astronômica; E0 é o valor médio da irradiância solar exoatmosférica obtida a partir da constante solar; Z o ângulo zenital solar obtido a partir de metadados do sensor (pode ser calculado a partir do ângulo de elevação solar); e Lrad é a radiância espectral. Índice de vegetação- NDVI Ainda de acordo com MENESES & ALMEIDA (2012) a curva de refletância eletromagnética da vegetação expõe que a principal faixa espectral de absorção está centrada em ondas 650 nm de comprimento, região visível da luz vermelha, e a região de maior refletância é no infravermelho próximo, de 760 nm a 900 nm. Os índices de vegetação consideram esse comportamento e as resoluções espectrais das imagens (entre outras coisas) para a criação de razões matemáticas que aumentam os valores dos pixels das áreas com vegetação, e produzem um efeito de contraste na imagem resultante. Os pixels da vegetação se transformam para valores digitais elevados, realçados nas imagens em tons mais claros, e os outros alvos terão valores digitais comparativamente bem mais baixos, aparecendo como alvos escuros e indicando as áreas com pouca ou sem vegetação. O Normalized Difference Vegetation Index – NDVI é a razão da diferença e a soma entre as bandas do infravermelho próximo e do vermelho, segundo a equação evidenciada na equação 2. Os valores computados através da equação variam de -1 a +1. NDVI: NDVI = (ρIVP – ρV) / (ρIVP + ρV) (2) ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.988 2015 Em que ρIVP e ρV são a refletância na faixa do infravermelho próximo e a refletância na faixa do vermelho visível. Classificação supervisionada No processo de classificação foram gerados vetores poligonais para representar as classes de vegetação e água dentro da lagoa conforme as características padrões identificadas pelo analista da área. As imagens com NDVI foram utilizadas pelo analista para facilitar a diferenciação da área de vegetação e água, já que se revelam de forma distinta possibilitando a limitação de cada ocupação. Posteriormente as feições não significativas foram eliminadas. O programa utilizado para realizar o pré-processamento, gerar o NDVI e os polígonos foi o QGIS 2.8. Por fim, obteve-se a área para cada classe para os anos de 2008, 2011 e 2013 com a ferramenta calculadora de campo. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado do processo de classificação da área coberta por plantas aquáticas está disponível na figura 2. FIGURA 2. Representação da área coberta por vegetação aquática na Lagoa das Bateias, em 2008 e 2013 respectivamente. Fonte: SANTOS (2015) Analisando os resultados, observa-se que houve um aumento acentuado da área ocupada com plantas aquáticas de 2008 a 2013, com pouca variação quantitativa entre os anos de 2011 e 2013. GALO et al. (2002) em resultados de pesquisa sobre aplicação do sensoriamento remoto no monitoramento de áreas infestadas por plantas aquáticas apresentaram comportamento semelhante de ocupação. Os autores sugerem que a estagnação do avanço das ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.989 2015 áreas de infestação indica uma ocupação completa das partes aptas a suportar comunidades de plantas das margens, outra hipótese levantada para estabilização é a redução no processo de assoreamento na referida área, sendo que o assoreamento favorece o surgimento de novas áreas aptas à colonização. Para maiores detalhes a Tabela 1 demonstra tais proporções de área e, em percentuais no Gráfico 1. TABELA 1 Áreas, em ha, de ocupação no interior da microbacia Lagoa das Bateias, em diferentes épocas. Área (ha) Ano 2008 2011 2013 Fonte: SANTOS (2015) Água Vegetação aquática 23,65 16,76 14,79 11,78 14,27 16,23 TABELA 2 Taxa de crescimento da vegetação aquática e taxa de redução da área superfícial d’água, em m2/ano. Anos Taxa de crescimento Taxa de crescimento da vegetativo área superficial da água 2008 a 2011 8300,00 -22966,67 2011 a 2013 9800,00 -9850,00 2008 a 2013 8900,00 -17720,00 Fonte: SANTOS (2015) GRÁFICO 1. Relação percentual da área da lagoa coberta por plantas aquáticas em diferentes anos. Comparando os mapas gerados de ocupação na microbacia nos diferentes anos, identifica-se que a vegetação ocupa uma significativa área do espelho d’água, no mapa da microbacia no ano de 2011 e 2013, sendo que 2013 obteve o maior percentual de ocupação de todos os anos estudados, aproximadamente 52% do espelho de água foi ocupado por plantas aquáticas. Em relação ao ano de 2008 até 2013 o aumento da área de ocupação por macrófitas foi de aproximadamente 20%. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.990 2015 Na Tabela 2 a taxa de crescimento vegetativo, que é a diferença de área entre os anos dividida pela quantidade de anos, apresentou uma alta taxa de crescimento da vegetação aquática de 0,89 ha/ano no período de 2008 a 2013. Já a taxa de crescimento da área superficial d’água obteve valor negativo para o mesmo período de anos, demonstrando uma redução de aproximadamente 1,77 ha/ano. O monitoramento da taxa de crescimento vegetativo obtido do resultado de mapa de manejo de plantas daninhas e os efetivos métodos de controle auxiliam na realização de ações estrategicas (WEEDSBC, 2002). O desenvolvimento pela colonização de macrófitas pode seguir diferentes tendências. Na figura 3 são representadas algumas possibilidades para a sucessão de colonização por macrófitas em ecossistemas aquáticos. As áreas cinza escuro equivalem as regiões colonizadas por macrófiitas. As espécies apresentadas como b e d, são exemplos de espécies que a colonização é incipiente ou mesmo inexistente por não alcançar o ecossistema. Outras espécies, como a e c alcançam o ecossistemas, mas não conseguem colonizar por fatores desfavoraveis (condição 1). Alguns ecossistemas permanecem relativamente estabilizados por um longo periodo (condição 2), no entanto outros suportam explosões populacionais, após a entrada de uma espécie ou a formação dos reservatório (condição 3). Geralmente, os ecossistema passam por estágios sucessionais e após um longo período de tempo monstram-se como grandes colonizações de macrofitas (condição 4) (THOMAZ, 2001). Conforme verificado, o desenvolvimento da macrofitas no ecossistema da lagoa em estudo é considerado uma sucessão de estágios intermediários, anteriormente (2008) classificado como situação 2 e após 2011 tendendo para a condição 4. A colonização pode ser máxima apenas nos estágios avançados da sucessão (THOMAZ, 2001) FIGURA 3. Diferentes possibilidades para a sequencia da colonização de ecossistemas por macrófitas. Fonte: THOMAZ (2001) Observa-se que a dinâmica espacial das macrófitas forma densas e extensas colonizações nas margens e no centro da lagoa. No entanto, as colônias ao longo do tempo foram afastando do centro para o lado sul do lago, provavelmente pela influência do fluxo natural de saída da água, mas sem muita variação na forma da ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.991 2015 colônia mais densa. Analisando o crescimento espacial das plantas aquáticas verifica-se a aproximação das menores colônias a colônia de maior extensão e tendendo a cobertura total da parte inferior do lago. A formação da grande “ilha” no centro é um indício de sedimentação localizada, a qual permite a instalação de plantas que dependem de um substrato para fixação. Outro ponto relevante é a interferência negativa que o excesso dessas plantas aquáticas presentes nas margens do lago pode causar ao ambiente, já que este está em processo de recuperação. A ocupação de macrófitas impede o crescimento de outras plantas, tornando-se um problema para a recomposição da área, já que o sombreamento das plantas desfavorece o desenvolvimento do banco de sementes e das mudas arbustivas e arbóreas presente no solo. Assim como efeitos alopáticos produzidos por algumas espécies de macrófitas, além de competir por espaço e nutrientes. Todavia, alguns autores defendem a importância das macrófitas na recuperação de lagos e lagoas, pois estas formam densas raízes que retém pequenas partículas em suspensão e absorvem substâncias tóxicas de origem doméstica e industrial (NOTARE, 1992), e que de certa forma se encaixa no perfil da Lagoa das Bateias, pois recebe esgoto doméstico das proximidades. THOMAZ (2001) diz que diante das perspectivas o conhecimento da ecologia das espécies de macrófitas são pontos chaves para direcionar as ações no sentido de controlar ou preservar a vegetação aquática. Segundo SILVA et al., (2010) citado por AFFONSO et al., (2013) a distribuição de plantas aquáticas varia conforme a direção do vento, a competição entre as espécies, a quantidade de nutriente, a velocidade do fluxo de água, a sazonalidade, o nível de água, etc. De acordo com os autores há uma correlação entre o nível de água e o redução de macrófitas, indicando que quanto maior o nível de água, menor é a quantidade de macrófitas. Porém, na estação chuvosa com o aumento do nível de água ocorre maior fluxo do banco de macrófitas para os corpos d’água que são alimentados pela lagoa, assim possibilitando a colonização em novas áreas. Com relação à sazonalidade, não foi considerado um fator de interferência no comparativo entre os anos, pois todas as imagens obtidas eram do período de pouca precipitação, sendo a época de maior precipitação nos meses de novembro a janeiro (JESUS, 2010). VIRGILIO et al. (2013) concluíram que os índices de vegetação são sensíveis para detectar banco de plantas aquáticas em diferentes lagos. Os resultados da classificação de imagens do satélite RapidEye pelo NDVI garantiu uma boa confiabilidade dos dados, visto que o contraste do índice vegetativo na imagem permitiu maior precisão na demarcação do limite entre lagoa e água. Contudo, a utilização da imagem de satélite SPOT também foi satisfatória. Na metodologia de GUASSELLI (2005) foi feita uma classificação nãosupervisionada Isodata em imagens Landsat sensores MSS, TM e imagens CBERS sensor CCD, onde se quantificou toda a área de macrófitas, separadas em classes de macrófitas flutuantes e submersas. Foi realizada a quantificação de 58.17% da cobertura total da lâmina d’água e concluiu-se que as macrófitas sofriam alterações ocasionais por conta da oscilação dos níveis da água, mas os padrões de distribuição das plantas aquáticas eram repetitivos e de certa forma constantes. O benefício do sensoriamento remoto fundamenta-se na compreensão do aspecto que a cobertura vegetal assume na imagem, resultado de um processo complexo entre muitos parâmetros e fatores ambientais (PONZONI, 2002). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p.992 2015 Pesquisas recentes (LEITE & GUASSELLE, 2013; MESQUITA et al., 2013; AFFONSO et al., 2013; MACEDO, 2014) sobre sensoriamento remoto e técnicas de geoprocessamento para mapear plantas aquáticas demonstram os avanços na compreensão e monitoramento de macrófitas, e subsidiam na efetiva estratégia de manejo de macrófitas. CONCLUSÃO O uso de sensoriamento remoto mostrou-se eficaz no monitoramento de mudanças de plantas aquáticas na microbacia Lagoa das Bateias. No entanto, a precisão para detectar a diferença entre as espécies de macrófitas é um desafio a ser alcançado com os avanços de pesquisas em sensoriamento remoto. A presença de macrófitas demonstra importância para a manutenção e biodiversidade aquática desde que haja um equilíbrio no ecossistema. Considera-se relevante a cobertura de 52% do espelho d’água por macrófitas, tornando-se um alarme para a tomada de medidas mitigadoras e um planejamento voltado para o controle ou preservação de plantas aquáticas no Parque Municipal Lagoa das Bateias. São necessários estudos mais aprofundados sobre a temática para verificar as reais influências positivas e negativas da presença das macrófitas, assim como identificá-las e buscar um controle que permita o melhor uso no desenvolvimentosocioeconômico da região, como, por exemplo, o uso da Taboa, muito abundante no local de estudo, a qual é utilizada para confecção de cestarias, objetos decorativos e alimentação, raízes e pólen ricos em carboidratos e proteínas, tanto para consumo humano quanto animal. REFERÊNCIAS AFFONSO, A. G.; NOVO, E. M. L. M.; QUEIROZ, H. L. Dinâmica temporal da cobertura de macrófitas nos lagos de Mamirauá. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 6. Foz do Iguaçu, PR. Anais..., 2013. INPE. ASSOCIAÇÃO PRÓ-GESTÃO DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL (AGEVAP). Plano de recursos hídricos da bacia do Rio Paraíba do Sul: Infestação de macrófitas. Relatório Final, Agosto, 2007. BABAN, S. M. J. 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