O PROFESSOR ONLINE – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Carvalheiro, Gonçalo
[email protected]
MPEL05 Universidade Aberta
Resumo
O presente artigo tem como base uma entrevista realizada a uma docente, investigadora e coordenadora do
Ensino Superior, e procura clarificar o que torna o ensino online numa experiência única, detentora das
suas próprias metodologias. Complementado com bibliografia relevante na temática, procura compreender
de que forma a atividade do tutor/professor online regulada por práticas pedagógicas adequadas à
singularidade desta modalidade de ensino, interferem no sucesso do percurso de ensino-aprendizagem
realizado em ambiente online.
Palavras Chave: Ensino Online; Práticas Pedagógicas; tutor/professor online
Introdução
Analisando a actual sobrevalorização da tecnologia e o nível de interacção que esta permite, Morgado
(2001) considera que o termo “ensino online” é hoje aplicado a diferentes tipos de cursos: quer aqueles
unicamente acessíveis via computador, quer aqueles que utilizam a Web com uma ferramenta aplicada a
determinada etapa.
A integração de uma modalidade online poderá ocorrer como um complemento do ensino presencial,
citando Pessoa (2011) “A ideia do ensino online não acontece apenas nos sistemas a distância, acontece
também em ambiente presencial, o que torna as coisas cada vez mais difusas”.
Como nos sugere Salmon (2011) a satisfação e a qualidade do académico têm sido fatores determinantes
para a integração e progresso do ensino online em Universidades e Instituições de formação. Especialmente
no ensino superior, a confiança na adopção das várias modalidades de ambientes online continua inabalável,
em parte devido ao valor que o e-learning tem vindo a representar em contexto académico. Estudos
desenvolvidos na área mostram também o importante papel e influência do professor ou tutor online no
aproveitamento dos estudantes, independentemente do contexto, nível e tipo de tecnologia utilizada.
Salmon (2011) acrescenta ainda que conceitos como o tempo, a motivação e o desenvolvimento do
professor são fatores chave para o sucesso do e-learning.
Como salienta Ragan (2007) torna-se crucial entender o potencial pedagógico do ensino online para
aprendizagem activa e dinâmica, devendo as instituições promotoras utilizar estratégias que envolvam os
alunos na "produção de aprendizagem" .
A especifidade do ensino online
O ensino online desde a sua origem, sempre esteve envolto no mito de que ensinar online é uma
tarefa simples, bastando para isso a transposição do que e realizado face-a-face sala para ambiente online.
Tecnologias como a captação de vídeo tornam possíveis a gravação de uma aula e a sua publicação no
sistema de aprendizagem a utilizar (Palloff & Pratt, 2011) . Mas será este o caminho para uma instrução
online de sucesso?
No desenho de um curso online à semelhança do que acontece no ensino presencial é necessário que os
objectivos e resultados a obter sejam definidos à partida. (Zhu et al. 2003). Ainda segundo os autores é este
traçar de objectivos que permitirá a escolha das ferramentas de domínio tecnológico a utilizar que
diretamente influenciam as atividades a executar e as metodologias de avaliação.
Como nos sugere Zhu et al. (2003), devido à especificidade que em si encerra, não é portanto expectável,
que um curso online resultado da conversão de um curso face-a-face seja definitivamente um sucesso.
realçam ainda que, atendendo ao envolvimento e interesse merecido pelos entusiastas do ensino online, que
encorajaram outros a segui-los e abraçarem esta forma de ensino/aprendizagem, muitos o fizeram de forma
obrigatória e forçada mostrando relutância, sentindo-se perdidos e sem uma perfeita noção de por onde
começar. Outros acreditam que a fórmula de sucesso assenta nos conteúdos, bastando por isso a sua
migração do ensino presencial para o ambiente online. Noutros casos, o domínio técnico da ferramenta, ou
software no qual se desenvolve o curso, é entendido como suficiente para o sucesso do percurso online.
De referir ainda o caso em que, estando reunidas as condições para o desenrolar do curso, o formador/tutor
se afasta deixando os estudantes com uma orientação e acompanhamento praticamente nulos.
As práticas desadequadas de implementação e dinamização dos ambientes online assumem um impacto
negativo no processo de ensino-aprendizagem, comprometendo também o sucesso futuro da sua utilização.
Devemos então ter em conta o importante papel que os professores desempenham no processo de
concepção e dinamização de cursos online, nomeadamente na escolha do modelo pedagógico, que
influenciará o percurso da acção e na definição de práticas e actividades que, por sua vez, influenciarão o
desenvolvimento deste processo.
Práticas Pedagógicas no Ensino Online
As pesquisas realizadas na área evidenciaram que um bom professor/tutor online é a chave de sucesso para
a preferência e persistência dos alunos nas modalidades online, tornando-se assim imperativo e prioritário
para as instituições a contratação e avaliação de bons professores. A falta de formação ou formação
inadequada de alguns destes profissionais poderão de certa forma estar relacionados com as situações
económicas e financeiras débeis atravessadas por algumas instituições de ensino. (Palloff & Pratt, 2011)
Reconhecendo agora que ensinar online difere do ensino face-a-face, é dada especial atenção aos factores
que constituem, experiências educacionais positivas e às características dos formadores e cursos em prática.
No sentido de elucidar o que constitui práticas de sucesso em ensino/instrução online podemos recorrer às 7
lições para ensino online enunciadas Graham et al. (2001) em Palloff & Pratt (2011).
Segundo os autores, o professor deverá:
• Fornecer informações claras para que a interacção entre os alunos ocorra;
• Fornecer tarefas de discussão bem desenhadas por forma a promover a cooperação entre os estudantes;
• Encorajar os estudantes a apresentarem projectos de curso ao restante grupo;
• Fornecer pronto feedback quer a nível informativo quer de conhecimento;
• Fornecer datas de realização das tarefas;
• Fornecer tarefas desafiantes, casos relacionados e elogios aos trabalhos de qualidade superior por forma
a reforçar as altas expectativas;
• Permitir que os alunos escolham os temas dos trabalhos a elaborar.
Nesta linha de raciocínio e como reforçado por Palloff & Pratt (2011)é necessário que o papel do
professor/tutor se altere, devendo então passar a ser o guia, um facilitador de aprendizagens que concede o
espaço necessário para que os estudantes assumam uma posição de destaque no seu processo de
aprendizagem, detendo uma maior responsabilidade sobre ele. O autor remete-nos para a ideia de que o
professor/tutor online deverá ser organizado, estar altamente motivado,
Também os processos e formas de avaliação deverão ser repensados, no sentido em que as tradicionais
formas de avaliação não servem plenamente esta forma de ensino, devendo assim ser adoptadas
metodologias mais centradas na auto-avaliação e na realização de actividades em que o aprendido é
aplicado.
Dependendo da instituição, do curso a ministrar e dos propósitos da utilização do ambiente online, o
Professor poderá não estar sozinho. Neste sentido deverá contar com uma equipa de tutoria que com ele
colabora na dinamização do espaço de aprendizagem. Como nos sugere Pessoa (2011) "o professor pode
ser simplesmente o coordenador científico do curso, mais ligado aos conteúdos, embora podendo ser o
tutor do curso pode também não ser. Neste caso, o tutor terá um trabalho de monitorização de
acompanhamento, de garantir a não desistência dos alunos, o “dar colo”, o pedagogo no verdadeiro
sentido da palavra, não apenas para tirar duvidas pontuais, com recurso ao professor, mas no
acompanhamento, estando sempre disponível quando as dificuldades surgem."
Neste sentido, é necessário o estabelecimento de uma forte presença online por parte do professor/tutor,
demonstrando o seu expertise e dessa forma conduzir os estudantes no seu processo de aprendizagem.
O estabelecimento da presença online deverá ser uma prioridade na atividade do e-professor. Deverá
revelar habilidade na construção da sua presença bem como no processo de motivação que conduzirá a que
o grupo de estudantes também o façam.
Como Palloff & Pratt (2011) enunciam, estabelecer presença é o processo de demonstrar aos outros quem
somos no ambiente online, bem como o estabelecimento das conexões sociais com os que connosco
partilham o mesmo ambiente.
No que concerne ao estabelecimento da sua presença os professors/tutores dão o primeiro passo no que
concerne à sua apresentação, sendo que aquilo que mostram de si motiva os alunos a partilharem também
algo de si. (Pessoa, 2011)
Embora esta questão da presença social não seja tida como relevante no ensino presencial, dadas as suas
caraterísticas face-a-face, também nesta modalidade de ensino e como nos sugere Pessoa (2011), “os que
estão mais próximos, são aqueles com que mais facilmente se estabelece um contato visual,”. Criando uma
comparação com o ensino online, nomeadamente na utilização dos LMS’s, a autora refere ainda que “os
que se encontram mais atrás (presencialmente), estariam mais próximos numa plataforma desta natureza”.
A autora conclui ainda que “a distância para além de um conceito físico é também um conceito pedagógico
podendo ser diminuída em função do percurso pedagógico desenhado e das ferramentas utilizadas”.
Outro fator importante e intimamente relacionado com a capacidade de estabelecer uma presença online é a
responsabilidade que o e-professor deverá assumir no estabelecimento do sentido de comunidade entre
todos os elementos do curso. Este fator, revela-se decisivo para um processo de aprendizagem de sucesso,
tendo em conta que uma aprendizagem online de sucesso implica uma abordagem mas ativa, colaborativa e
construtivista.
Segundo Paloff&Pratt (2007), “a comunidade de aprendizagem é o veículo através do qual a
aprendizagem online ocorre. Os membros dependem entre si para alcançar os resultados de
aprendizagem”.
O professor/tutor deverá ser parte ativa neste processo, procurando promover o espírito de autonomia, o
estabelecimento de diálogo e de trabalho colaborativo, sendo imprescindível que possua, segundo Pessoa
(2011), para além de um domínio dos conteúdos, uma forte inteligência emocional.
O seu papel enquanto facilitador de aprendizagens, vai para além de permitir esta troca de conhecimentos e
interacção entre todos os elementos do grupo (professor e estudantes). Cabe-lhe promover a discussão dos
temas relevantes e a monitorização desse processo. Além disso e citando Pessoa (2011) “à medida que as
actividades se vão desenrolando deverá ser dado um constante feedback, sendo o tempo, a qualidade e a
quantidade desse feedback fatores fundamentais.” Em percursos marcadamente construtivistas, em que os
estudantes são chamados a assumir um papel ativo na construção do conhecimento, individual e coletivo,
utilizando as suas diversas competências, as práticas pedagógicas utilizadas pelo professor/tutor poderão
marcar a diferença no que refere à qualidade do curso.
Conclusão
São hoje os vários contextos pedagógicos que adoptam as ferramentas online como apoio ao seu
desenvolvimento. Quer em contextos de regime de e-Learning, quer em contextos b-Learning, a prática
pedagógica do professor/tutor online constitui uma forte componente para o sucesso da acção e motivação,
envolvimento e participação dos alunos no processo de aprendizagem a distância.
Distinguindo o ensino presencial do ensino online, o tutor online compromete-se com a modalidade que
utiliza, tirando dela vantagens pedagógicas para si, enquanto profissional, para os alunos e para todo o
ambiente de aprendizagem.
O sucesso da aprendizagem online depende de um conjunto de factores que a tornam possivel. Um desses
factores é a prática e influência pedagógica que o professor/tutor online assume neste contexto. Todas as
suas decisões, metodologias e comunicação influenciam o funcionamento e desenrolar dos processo de
ensino-aprendizagem, pelo que o bom planeamento e a utilização de boas práticas pedagógicas são fatores
de sucesso.
Bibliografia
Morgado, L. (2001). O papel do professor em contextos de ensino online: Problemas e Virtualidades.
Discursos. III Série, n.º especial, pp.125-138. Universidade Aberta. Disponível em: http://www.univab.pt/~lmorgado/Documentos/tutoria.pdf
Palloff,R. & Pratt, K (2007). Building Online Learning Communities: Effective Strategies for the Virtual
Classroom, 2nd Edition, Jossey-Bass, San Francisco
Palloff,R. & Pratt, K (2011). The Excellent Online Instructor: Strategies for Professional Development,
Jossey-Bass, San Francisco
Pessoa, T (2011). Práticas Pedagógicas no Ensino Online, Entrevista, Disponível em:
http://professoronline-praticaspedagogicas.wikispaces.com/3.+Entrevista
Ragan,L. (2007). Best Practices in Online Teaching, Disponível em: http://cnx.org/content/col10453/1.2/
Salmon, G. (2011). E-moderating: The Key to Teaching and Learning Online, 3th Edition, Routledge, New
York
Zhu, E., Payette, P., DeZure, D., (2003). An Introduction to Teaching Online, CRLT Ocasional Paper No.
18, Center for Research on Learning and Teaching, University of Michigan
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