114 O MESSIANISMO DE FERNANDO PESSOA E AGOSTINHO NETO: EM BUSCA DA (RE)CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA Lidiane Moreira e Silva (UNESP/Assis) E-mail: [email protected] RESUMO: Em Mensagem (1934) Fernando Pessoa (1888-1935) realiza uma epopeia moderna sobre a constituição da identidade portuguesa. Utilizando mitos, forma uma ilustração simbólica que parte de um núcleo histórico. O orgulho português é reforçado por meio do relembrar os feitos corajosos daqueles que participaram da expansão do Império e restaura o messianismo não apenas na crença do regresso de D. Sebastião, último rei da dinastia de Avis, mas na reviravolta da nação portuguesa. Sagrada Esperança (1974), obra poética de António Agostinho Neto (1922-1979), também traz luz ao caminho histórico percorrido pelos africanos firmado no conceito messiânico como meio de restauração da liberdade do povo e fomento à construção da identidade nacional. Mediante análise comparativa, procura-se refletir e compreender como estes dois nomes das literaturas utilizam o messianismo em suas poéticas e a relevância do mesmo para suas obras. Palavras-chave: Messianismo; Fernando Pessoa; Agostinho Neto. I. Messianismo poético: Dirigir olhar para a identidade de um país requer o uso de ferramentas documentais variadas. A literatura é também um objeto de auxílio na proposta de investigação histórica, fomentando a reflexão crítica para a correspondência existente entre culturas próximas ou distantes e, portanto, torna-se meio de diálogo com o coletivo. Como em outras, na literatura portuguesa e na literatura africana de língua portuguesa, tendo em vista a identidade nacional, verifica-se uma série de questões históricas e mitológicas que ajudam a compor o perfil coletivo. A relação humana com o místico é permeada pela elevação de poderes supremos a Deus: o homem [...] elevou as categorias do seu conhecimento até Deus, supremo bem, o primitivo instituiu a sua escala de valores até Deus, supremo mal. Há nisso uma radical oposição de conduta. E tudo se prende à existência de dois hemisférios culturais que dividiram a história em