Comportare
Volume 11 Edição 01
Janeiro - 2013
A Atuação do Analista do Comportamento na
Política Pública de Assistência Social
Andreza Garbeloti Passos*, Luciana Aparecida Zanella Gusmão**
(*UniFil - Centro Universitário Filadélfia
**IACEP – Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicoterapia)
NESSA EDIÇÃO
AC e Políticas
Públicas
1
Quem
Somos
2
Aconteceu
IACEP
4
Pergunte
ao Psi- 5
A Psicologia foi regulamentada como
profissão em 1962 e, desde então, muito se
discute sobre o trabalho realizado pelo psicólogo. Na época da ditadura militar o psicólogo
era visto como aquele que fazia psicoterapia,
somente. Foi no final dos anos 80, com o início
dos movimentos para mudanças na atuação
profissional que foi adotado o lema do compromisso social como norteador da atuação psicológica. A partir daí, várias ações foram realizadas pelos psicólogos e entidades de Psicologia
brasileira no sentido da construção de práticas
comprometidas com a sociedade brasileira
(CFP/CFESS, 2007).
Nos últimos dez anos, houve um crescimento na inserção do psicólogo nas políticas
públicas, o que resultou numa ampliação da
concepção social e governamental acerca das
contribuições da Psicologia para as políticas
públicas, além da geração de novas referências para o exercício da profissão de psicólogo
no interior da sociedade. Dessa forma, os psicólogos passaram a atuar nas diversas políticas públicas, dentre as quais a de Assistência
Social, auxiliando na compreensão e no enfrentamento dos problemas sociais.
Analistas do comportamento já vêm, há algum
Nesse ínterim, vamos discorrer sobre a
Análise do Comportamento como base à atuação profissional na política pública de Assistência Social, propondo a utilização de seus princípios na compreensão dos fenômenos e na
intervenção com as pessoas.
Assistência Social no Brasil
A Assistência Social é uma política
pública de proteção social relativamente nova
no Brasil. Foi em 1988 que ela passou a integrar o tripé do Sistema de Seguridade Social
na Constituição Federal, como política pública
não contributiva, pautada pela universalidade
da cobertura e do atendimento, assim como a
Saúde e a Previdência Social. Dessa forma, é
um dever do Estado e um direito de quem dela
necessitar, independentemente de contribuição
à Seguridade Social (Brasil, 2004).
Como regulamentação da Assistência
Social no Brasil, foi promulgada, em 1993, a
Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS,
que tem como objetivos: 1) proteger a família,
a maternidade, a infância, a adolescência e a
velhice dos indivíduos; 2) amparar crianças e
adolescentes carentes; 3) integrar os indivíduos no mercado de trabalho; 4) promover habilitação/reabilitação de pessoas com deficiên-
que garantam a convivência familiar e comunitária (Brasil, 2004). Assim, a PNAS traz à tona as necessidades de uma população excluída pelas desigualdades, em situação de vulnerabilidade e risco marcada pela pobreza e extrema pobreza.
Assistência Social e Psicologia
Dessa forma, a psicologia está inserida na Assistência Social oferecendo contribuições relevantes para que essa
política pública realmente promova qualidade de vida aos cidadãos. Essa contribuição se dá por meio de práticas que garantam acesso aos direitos de forma humana e ética, favorecendo o desenvolvimento de sujeitos capazes de reflexão social
e política, com atitudes de autonomia e emancipação.
Com isso, as contribuições do psicólogo pretendem abarcar o cotidiano de desigualdades e violência dessas populações, visando o enfrentamento e superação das vulnerabilidades, procurando desenvolver, em todos, o anseio por conquistas e reivindicações de seus direitos como cidadãos. Para tanto, as práticas psicológicas
“não devem categorizar, patologizar e objetificar a classe trabalhadora, mas buscar compreender os processos estudando
as particularidades e circunstâncias em que ocorrem. Os processos devem ser compreendidos de forma articulada com os
aspectos histórico-culturais da sociedade, produzindo-se a construção de novos significados ao lugar do sujeito-cidadão
autônomo e que de ter vez e voz no processo de tomada de decisão e de resolução das dificuldades e problemas vivenciados”. (CFP/CFESS, 2007, p.23).
No entanto, estudos realizados na área de Psicologia Social têm privilegiado abordagens internalistas ou mediacionais, explicando o comportamento de indivíduos em grupo com base em variáveis intrínsecas aos indivíduos, tais como
variáveis emocionais e/ou intelectuais, e características de personalidade (Lana, 1994 apud Farias, 2005).
Diferentemente dessa abordagem e em consonância com as propostas do CFP, a Análise do Comportamento tem a contribuir para o estudo e compreensão desse novo campo de atuação do psicólogo.
Assistência Social e Análise do Comportamento
A Análise do Comportamento oferece uma forma de se compreender e atuar na sociedade diferente daquela utilizada na Psicologia Social. Skinner estudou a sociedade sob o ponto de vista da Análise do Comportamento e isso é
evidenciado em diversas de suas obras. Ele enxergava a sociedade como um fenômeno ou uma classe de fenômenos, assim como o comportamento operante. Dessa forma, parte-se agora para uma reflexão sobre de que forma os princípios da
Análise do Comportamento podem ser empregados na teoria e na prática dos psicólogos que trabalham nesse campo.
Quem Somos?
Sócias
Nione Torres (CRP 08/02333)
Kellen M. E. Fernandes (CRP 08/09270)
Luciana Ap. Zanella Gusmão (CRP 08/06382)
Bruna Moraes Aguiar (CRP 08/12450)
Luciana Helena Silva (CRP 08/15219)
Priscila Araújo Taccola (CRP 08/09743)
Estagiários (as)
Laís Rodrigues Paes
Giuliana Inocente
Secretária
Patricia Silva
Colaboradores (as)
Patricia Motta Cordeiro
Cintia Cristiane M B da Rocha
Renata Trovarelli
Sublocatários (as)
Cristhiane de Almeida Mitsi
Luciane F. Alvarez
Fabiane da Costa Moraes
Joseane Kokchan
Wagner Rogerio da Silva
dança das realidades sociais através da melhora na qualidade de vida dos indivíduos e das famílias. Ao trabalhar com
uma população que não tem ou tem pouco acesso aos seus direitos básicos como alimentação vestuário, moradia, o
psicólogo, inserido numa equipe inter e multidisciplinar deve agir com o intuito de modificar essa realidade, diminuindo
as situações de vulnerabilidade e risco às quais ela está sujeita. Assim, por meio da análise funcional, o analista do
comportamento é capaz de prever e controlar comportamentos ao conhecer as variáveis das quais o mesmo em
questão é função. Por isso, pode-se dizer que a Análise do Comportamento é uma aliada no trabalho da Assistência
Social, já que pode contribuir eficaz e diretamente com a transformação social.
Ao utilizar a análise funcional, o analista do comportamento entende que os indivíduos comportam-se da forma como o fazem como consequência das contingências ambientais e da história de aprendizagem individual. Sabendo disso, o analista do comportamento deve auxiliar os indivíduos e famílias a identificarem variáveis que mantém os
comportamentos ditos ―problemáticos‖ envolvidos e propor estratégias de mudanças se houver necessidade.
Lima (2007) propõe a presença de analistas do comportamento junto ao poder público, mas com maior preparo dos
profissionais. Para tanto ele sugere capacitação dos analistas do comportamento no campo das políticas públicas,
inclusive com inserção de disciplinas específicas nos cursos de graduação; incentivo à participação em concursos
públicos, visando adentrar o ambiente de trabalho estatal e garantir espaço de atuação; e apoio à pesquisa aplicada
de foco social.
I
nserido nas Políticas Públicas e utilizando-se da abordagem analítica comportamental, o psicólogo deverá
agir, de acordo com a NOB/SUAS (Brasil, 2005, p. 19), segundo a qual a Assistência Social deve garantir à população:
―A segurança de acolhida;
A segurança social de renda;
A segurança do convívio ou vivência familiar, comunitária e social;
A segurança do desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social;
A segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais”.
Diante disso, é importante destacar que a ação do analista do comportamento deverá sempre ser, segundo Skinner, baseada na substituição do controle aversivo por reforçamento positivo, com preferência por reforçadores naturais,
e não condicionados. Além disso, dar ênfase a comportamentos governados por
consequências e não por regras e a diminuição de reforços incontingentes
(Holpert, 2004).
Percebe-se, então que o analista do comportamento atua modificando
as relações tanto teóricas com relação a compreensão do comportamento, como
práticas, diretamente no controle e previsão dos mesmos. Ao propor a análise
funcional como instrumento de atuação, a Análise do Comportamento enfoca a importância de se conhecer as contingências envolvidas no ambiente presente e passado para se entender os comportamentos, além de propor a não patologização e não estereotipização do comportamento.
Este é o momento do analista do comportamento mostrar a relevância da sua atuação nessa área que apenas começou a expandir. Para tanto é necessário maior interesse e incentivo nesse campo conquistado pelos psicólogos e tão bem assimilado em Análise do Comportamento.
Referências Bibliográficas
Brasil (2004). Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Política Nacional de Assistência Social (PNAS), Brasília: Brasil.
Palestra “Psicopatas: quem são e
onde estão?”
Reunião Equipe IACEP
Confraternização de final de ano com toda a “Equipe
IACEP”
Confraternização Grupo de Superv
Analítico– Comportamental Infant
Como funciona a Terapia de Casal?
De início, citaremos uma frase que nos faz pensar uma relação a dois:
―A BELEZA DO INÍCIO E A TRISTEZA DO FIM ... ’O COMEÇO: VIDA, DOÇURA, ESPERANÇA NOSSA...
TEMPOS DEPOIS: ...GEMENDO E CHORANDO NESTE VALE DE LÁGRIMAS’...”
Assim parece ocorrer: o casamento começa para a maioria das pessoas como fonte de satisfação, de
bem-estar e termina como fonte de frustração, de desesperança, de dor e de desamparo. Na verdade, há uma
alta tendência dos reforçadores diminuírem sua eficácia com as repetidas experiências!
Exatamente dentro deste contexto que um casal ou um dos cônjuges buscam uma terapia de casal –
hoje chamada de Terapia Comportamental de Casal Integrativa. Assim se inicia o processo de condução de
atendimento de casais.
Primeiramente importante enfatizar que na Terapia de Casal contamos com as diferentes possibilidades
de condução quanto ao atendimento (tais como, opção por sessões conjuntas, sessões conjuntas e individuais
ou sessões basicamente individuais). Além disso, o atendimento pode ser realizado por um terapeuta ou por dupla de terapeutas. Na nossa prática clínica, preferimos o atendimento realizado por duas terapeutas (cada qual
atendendo um cônjuge). Realizamos sessões conjuntas e individuais. Quando conjuntas, a dupla de terapeutas
deverão estar presentes. Vemos neste modelo inúmeras vantagens; entre elas, a de evitar uma triangulação.
Vale assinalar também que, nós, analistas do comportamento, sempre iremos buscar um fio condutor em
nosso trabalho. No que se refere à Terapia de Casal podemos dizer que importante parte deste fio condutor se
dará a partir da compreensão que cada casal é único e, portanto, tem sua história específica de relacionamento.
Ou seja, o comportamento deste casal é formado e mantido por eventos ambientais singulares. Dessa forma,
precisamos compreender como cada membro aprendeu a se comportar num relacionamento íntimo tendo em
vista as diferentes experiências de uma vida por inteira, assim como, das experiências dentro do relacionamento
presente.
a) identificar os padrões comportamentais que trazem prejuízo ao casal;
b) promover a aceitação no sentido dos casais aprenderem amar na diferença e não apenas quando são compatíveis (ou seja, aceitação de comportamentos e sentimentos tanto da própria pessoa
como do parceiro, com vistas à intimidade e proximidade); e, ao mesmo tempo,
c) ensinar estratégias para mudanças a fim de instalar novos repertórios de interação entre o casal
No atendimento de casais enfocamos geralmente objetivos tais como:
Com relação ao Plano Terapêutico a ênfase recai em integrar estratégias que: a) promovam aceitação com b)
estratégias de mudanças (principalmente no que tange aos treinos de comunicação e de resolução de
problemas). Nossa experiência nos diz que trabalhar a aceitação emocional (desde o abandono da luta para
mudar o outro, passando pela compreensão que o outro tem limites e dificuldades, até quanto ao fato de lidar
com conflitos de forma adequada) precedendo os treinos de comunicação e resolução de problemas, poderá
resultar em efeitos mais satisfatórios: o casal torna-se mais colaborativo/responsivo, levando o foco para a rela-
d) quando um ou outro, ou mesmo ambos, não estiver/estiverem emocionalmente engajado (s);
e) quando um dos parceiros apresentar padrões destrutivos de comportamento.
Na verdade, todos estes fatores são indicadores que a Terapia de Casal terá dificuldades em cumprir
seu papel.
Na prática clínica, temos visto muitos casais reconstruindo a relação resgatando ternura, cumplicidade, lealdade,
amizade, intimidade tanto emocional quanto erótica. São, evidentemente, experiências extremamente reforçadoras para nós.
Como também, e, infelizmente, já presenciamos a confirmação de uma ou outra separação. Aqui, a Terapia de Casal terá um papel de suporte tanto no sentido de apoio
emocional quanto o de ensinar ao casal estratégias para lidar com este momento com os
filhos, famílias de origem, tomadas de decisão
e de resolução de problemas (entre outros aspectos) no sentido de auxiliar este casal para
que consiga ter uma separação digna.
Para finalizar, algumas palavras com relação ao
campo de trabalho na Terapia de Casal. É possível afirmar que esta tem sido uma das áreas
de atuação mais desenvolvidas nas últimas décadas, talvez, pelas grandes transformações
em termos de ―novas realidades‖ sociais, econômicas e culturais, o que podem ter consequenciado o surgimento de novas demandas
de casais.
Hoje, a Terapia de Casal necessariamente trabalha com novos contextos que o processo natural da vida/do viver nos aponta: por
exemplos, as novas parcerias (recasamentos,
relacionamentos virtuais, casais homoafetivos)
e as novas idades. Assim como, precisa lidar
com os novos papéis da mulher no contexto
evolutivo sócio cultural (tais como, independência econômica, profissionalização, desempenho
de funções análogas ao dos homens).
Nione Torres é psicóloga clínica pelo IACEP e Mestre em Análise do Comportamento pela
PUC de Campinas
Encaminhe suas dúvidas para o endereço [email protected]
Download

Janeiro 2013