Conjuntos de manobra e controle de potência Apoio 38 Capítulo XI Conjuntos de manobra e controle resistentes aos efeitos de um arco elétrico interno – Parte 2 Comparativo dos requisitos de ensaio de arco interno em MT Por Luiz Felipe Costa* Em continuidade ao capítulo anterior, um aos ensaios de verificação de desempenho diante de comparativo básico entre os documentos da IEC e do efeitos de um arco interno em conjuntos de manobra IEEE sobre as principais características relacionadas e controle de MT é apresentado na Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Comparativo básico entre ANSI e IEC para ensaio de arco interno Característica ANSI C37.20.7 IEC 62271-200 1.1 Montagem no plano vertical e plano horizontal Montagem no plano vertical e plano horizontal 1.2 150 mm x 150 mm 150 mm x 150 mm 1.3 Algodão – 150 g/m2 Algodão – 150 g/m2 (tipo A) N.A. Algodão – 40 g/m2 (tipos B e C) Tampas e coberturas não devem abrir, se fechadas de Tampas e coberturas não devem abrir se fechadas de forma correta forma correta Não pode ocorrer a fragmentação do invólucro (ejeção Não pode haver ejeção de partes perigosas 1.0 Indicadores para verificação os efeitos térmicos de gases 1.4 2.0 Avaliação do ensaio 2.1 Critério # 1 (para proteção pessoal) 2.2 Critério # 2 (para proteção pessoal) de partes) 2.3 Critério # 3 (para proteção pessoal) Não pode haver perfuração das partes acessíveis Não pode haver perfuração das partes acessíveis 2.4 Critério # 4 (para proteção pessoal) Tanto os indicadores verticais quanto horizontais não Tanto os indicadores verticais quanto horizontais não podem ter se inflamado podem ter se inflamado Tipo 1(A) – Acesso somente frontal a 100 mm (ver nota Nota: Esta classificação IEEE equivale a IAC A/B - F 2.5 3.0 3.1 Acessibilidade ao lado) 3.2 Tipo 2(A) – Acessos frontal, lateral e traseiro a 100 mm (ver nota ao lado) Nota: Esta classificação IEEE equivale a IAC A/B - FLR Apoio 39 Característica 3.3 3.4 ANSI C37.20.7 IEC 62271-200 Tipo 2B – Similar ao 2(A), com a porta do compartimento IAC A: Pessoal Autorizado. Distância dos indicadores de controle (BT) aberta igual a 300 mm +/- 15 mm Tipo 2C – Similar ao 2(A), com a verificação da IAC B: Público em geral. suportabilidade aos efeitos do arco entre compartimentos Distância dos indicadores igual a 100 mm +/- 5 mm 3.5 IAC C: Equipamentos montados em postes. 3.6 Condição de acesso especial (caminhar sobre a estrutura, por exemplo): indicador de algodão com 40 g/m2 4.0 Início do arco Fio de diâmetro de 0,5 mm / 24 AWG Fio de diâmetro de 0,5 mm 5.0 Valor de crista do primeiro semiciclo Calibrado para 2,6 vezes o valor eficaz de I’’k Calibrado para 2,5 ou 2,6 vezes o valor eficaz de I’’k, 6.0 Duração do teste 6.1 “Burn-through” segundo a frequência Valor preferido de 500 ms, sendo o mínimo de 100 ms Pelo menos 100 ms Nota: Tanto a norma IEC quanto o guia do IEEE demandam que todos os cinco critérios de avaliação sejam atendidos. Locais onde falhas internas ocorrem mais frequentemente e as possíveis medidas preventivas a probabilidade de ocorrência de falhas internas em Com base nas experiências adquiridas ao longo do uso na Tabela 2, é fortemente recomendável que o projetista ou dos conjuntos de manobra e controle, é apresentada, na usuário de um conjunto de manobra e controle consulte, Tabela 2, uma combinação das tabelas “102” da norma também, a seção B2 do guia IEEE Std C37.20.7. Além de técnica IEC 62271-200 e da “B.1” da IEEE Std C37.20.7- orientações relativas à instalação, operação e manutenção 2007, com alguns dados e avaliações relativas aos locais, deste tipo de equipamento, o leitor encontra várias análises causas e exemplos de medidas identificadas para diminuir rápidas sobre estratégias de engenharia para mitigar os níveis de conjuntos de manobra e controle de média tensão. A fim de complementar as medidas preventivas sugeridas Conjuntos de manobra e controle de potência Apoio 40 energia presente e, assim, diminuir os riscos associados a estes 62271-200, que, conforme já comentado, visa indicar formas equipamentos. Pode-se dizer que esta literatura complementa complementares de proteção para aumentar a segurança das as sugestões presentes na seção “8.104.3” da norma IEC pessoas no caso de ocorrência de um arco interno. Tabela 2 – Locais e causas de falhas internas Locais onde falhas internas ocorrem Possíveis causas Exemplos de medidas preventivas com mais frequência Projeto Inadequado Seleção de dimensões adequadas Evitar que as conexões em cabos se cruzem Instalação defeituosa No local deve ser feito comissionamento por pessoal especializado Uso dos valores corretos de torque Compartimento de conexões (por cabos e/ou barramentos) Fazer inspeções regulares e ensaios dielétricos periódicos ou contínuos no local Falha em isolamento sólido ou fluido (defeito ou ausência) Verificar regularmente, onde aplicável, o nível / pressão dos fluidos Intertravamentos Reabertura retardada Seccionadoras, chaves com abertura sob carga (interruptores) e chaves de aterramento Operação indevida Manobra manual independente Capacidade de estabelecimento em curto-circuito Instruções a pessoal qualificado Uso de acabamentos superficiais (prata, estanho, etc.), anticorrosivos e/ou graxas Corrosão Revestimento protetor onde for possível Conexões aparafusadas e contatos Montagem defeituosa Inspeção por meios adequados Uso dos valores corretos de torque Transformadores de instrumentos Ferrorressonância Evitar estas influências elétricas por meio de projeto adequado do circuito Disjuntores Manutenção inadequada Manutenção regular programada Instrução a pessoal qualificado Limitação de acesso pelo uso de compartimentação Erro humano Isolamento das partes vivas Envelhecimento do dielétrico Ensaios periódicos ou contínuos de verificação do dielétrico Poluição, umidade, penetração de animais, poeiras, etc. Prevenir tais condições de serviço ou adotar medidas que Instruções a pessoal qualificado Todos os locais permitam o conjunto lidar com as elas Proteções contra surtos de tensão Sobretensões Coordenação adequada de isolamento Ensaios dielétricos no local Contexto na baixa tensão a uma falha interna em conjuntos de manobra e controle Por conta dos riscos associados a um arco interno de baixa tensão, a IEC adota como guia para ensaios o dentro de um conjunto de manobra e controle de potência relatório técnico (“Technical Report”) IEC/TR 61641 [5]. E em baixa tensão, existe, também, em casos específicos, a este documento, que não é uma norma técnica, apresenta a solicitação, por parte do usuário, de se adotar uma solução seguinte história de emissões: que apresente baixa probabilidade de ocorrência de uma falha interna ou, então, que seja resistente aos efeitos de • 1996: publicação da 1ª edição. um arco elétrico. • 2008: publicação da 2ª edição. • 2014 (setembro): publicação da 3ª edição (atual). Quando se aborta o tópico referente a um arco devido Apoio 41 Conjuntos de manobra e controle de potência Apoio 42 A cultura ANSI/NEMA adota as diretrizes do guia 3. Duração permissível do arco (tarc: “Permissible arc elaborado pelo IEEE, que atende tanto a conjuntos de duration”): é o máximo valor do tempo de duração de manobra e controle de média quanto baixa tensão, um arco que não se autoextingue ou é limitado por um conforme Entretanto, dispositivo limitador de corrente. Este valor pode diferir é fundamental atentar para o fato de que qualquer teste para partes distintas de um mesmo conjunto. O valor efetuado tem um caráter orientativo de como o conjunto mínimo, solicitado no documento da IEC para a verificação deverá se comportar, sem, necessariamente, cobrir todas as de arco nas condições descritas anteriormente, é 100 ms; já mencionado, anteriormente. possíveis eventualidades. Grandes usuários em importantes segmentos no mercado 4. Corrente de curto-circuito condicional permissível sob brasileiro começam a pedir características de desempenho condições de arco (Ipc_arc: “Permissible conditional short- de Conjuntos de Manobra e Controle de Potência em Baixa circuit current under arcing conditions”): é o máximo valor Tensão frente a um arco interno. Para esta condição, a eficaz permitido da corrente de curto-circuito presumida referência adotada tem sido a IEC, aplicando-se o relatório nos terminais de entrada de um conjunto, declarado pelo técnico IEC TR 61641. fabricante, para uma dada tensão operacional (Ue), na qual Como a nova edição deste documento da IEC é muito um circuito do conjunto é capaz de atender aos requisitos recente e com uma abordagem e roupagem diferentes do da IEC, quando o circuito é protegido por dispositivo que foi visto para os painéis de MT, o primeiro passo nesta limitador de corrente ou por dispositivo de mitigação de fase deste trabalho é familiarizar-se com termos e conceitos falha por arco com função de limitação de corrente; novos apresentados no documento. 5. Zona protegida contra ignição de arco (“Arc Ignition Novas definições e nomenclaturas Protected Zone”, antiga “Arc Free Zone”): parte de um A nova revisão (3ª Edição, de setembro de 2014) do circuito dentro de um conjunto de manobra e controle onde relatório técnico IEC/TR 61641 traz um nova nomenclatura, medidas específicas são adotadas para garantir que o início além de algumas novas definições. Por conta disso, elas são de uma falha com arco seja uma possibilidade remota; apresentadas, a seguir, de forma sucinta e numa tradução livre, visando auxiliar o leitor na compreensão desta 6. Zona ensaiada para condições de arco (“Arc Tested terminologia: Zone”, antiga “Arc Proof Zone”): parte de um circuito ou compartimento onde é iniciado um arco e todos os critérios 1. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de avaliação solicitados para o(s) ensaio(s), segundo a IEC de arco autoextinguível (Ips_arc: “Permissible short-circuit TR 61641, são atendidos; current under self-extinguishing arcing conditions”): é o máximo valor eficaz permitido da corrente de curto- 7. Conjunto de manobra e controle avaliado para condições circuito presumida nos terminais de entrada de um de arco interno (“Arc Verified Assembly”, antiga “Arc Proof conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada tensão Assembly”): conjunto de manobra e controle que apresenta operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de atender zonas protegidas contra a ignição de um arco e/ou ensaiadas aos requisitos da IEC TR 61641 pela autoextinção do arco, para as condições de arco; sem a operação de nenhum dispositivo de proteção; 8. Dispositivo de mitigação de falha por arco interno (“Arc 2. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de Fault Mitigation Device”): dispositivo que opera somente arco (Ip_arc: “Permissible short-circuit current under arcing no caso de um arco elétrico devido a uma falha interna e conditions”): é o máximo valor eficaz permitido da corrente que reduz o tempo de duração do mesmo; de curto-circuito presumida nos terminais de entrada de um conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada 9. Classes (de condições) de arco (“Arcing classes”): tensão operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de classificação dada um conjunto ou parte dele conforme atender aos requisitos definidos pela IEC TR 61641; as diferentes formas de proteção fornecida contra falhas Apoio 43 com arco: proteção humana, limitação dos danos a IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and parte do conjunto e capacidade de operação limitada do controlgear assemblies – Guide for testing under conditions equipamento. of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International Electrotechnical Commission, 2014. Referências IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear – Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, 2011. IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear – Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF) and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical Commission, 2013. IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical Commission, 2013. Electrotechnical Commission, 2011. IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, 2011. IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults. Institute of Electrical and Electronic Engineers, 2007. *Luiz Felipe Costa é especialista sênior da Eaton. É formado em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia da UFRJ e pós-graduado em Proteção de Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá. Continua na próxima edição Confira todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o e-mail [email protected]