CARACTERÍSTICAS ESTUDANTIS GERADORAS DE BOM
DESEMPENHO NO CURSO NOTURNO DE ADMINISTRAÇÃO.
Autoria: Rodrigo Gayger Amaro, Marcos Gilson Gomes Feitosa, Raquel de Oliveira Santos Lira,
Cecília Souto Maior de Brito
Resumo
Os estudantes de Administração na UFPE do curso noturno possuem escasso tempo
disponível. O tempo dedicado aos estudos precisa ser utilizado de forma a otimizar o
aprendizado. O presente trabalho objetiva compreender as características comuns aos
estudantes que conseguem obter bom rendimento acadêmico (média acima de 8,0). Para
análise utilizamos métodos dedutivos e estatísticos. O referencial teórico procura lidar com as
questões que cercam a problemática, dividida em questões externas relacionadas ao
aprendizado em sala de aula e as relacionadas aos fatores individuais, como organização,
planejamento, habilidades, condições e interesses pessoais. O questionário misto, objetivo e
com perguntas abertas, foi passado a 36 alunos sob o critério da acessibilidade. Desses,
apenas 11% não trabalha, nem faz estágio. Constatou-se, entre outras coisas, que o fator renda
não foi percebido como determinante no desempenho, que eles dedicam até cinco horas por
semana aos estudos, na maioria das vezes estudam na véspera da prova, e mesmo assim
conseguem obter êxito. Eles mostram algum controle de planejamento, têm claras as razões
porque estudam, e revelam um grau de motivação razoavelmente constante durante o ano
letivo inteiro.
1
1. Introdução.
A vida universitária, mesmo para os estudantes que se dedicam tempo integral aos
seus estudos, não se revela uma vida fácil e sem atropelos. Existem dificuldades, muitas delas
iniciadas no período de integração do estudante, ao lidar com a maneira de ser acadêmica,
bem diferente daquela experimentada no ciclo colegial e pré-vestibular. Feitosa (2001, p.25)
aponta que “a experiência comum em praticamente todas as universidades é que grande parte
dos estudantes enfrentarão, logo ao ingressar, dificuldades sérias de adaptação, especialmente
a experiência da reprovação, comumente concentrada nas matérias consideradas básicas ao
núcleo do seu curso.”
As dificuldades dos estudantes são mais amplas. Não se restringem só com reprovação
e rendimento. Polydoro diz que a necessidade que eles têm é muito mais ampla:
Ao ingressar no ensino superior, o estudante percebe, diante das demandas
universitárias e da grande quantidade de informações a que é exposto, que
precisa aprender um grande número de papéis, exigidos por esse novo
ambiente, em um reduzido período de tempo, incluindo desde as coisas mais
simples, como o domínio da linguagem acadêmica e o conhecimento do
novo espaço físico, até a assimilação de novos valores, a assunção de novas
responsabilidades e a reaprendizagem do ato de estudar. (POLYDORO,
2000, p.45).
Todavia, se os estudantes com dedicação integral necessitam de muito empenho e
determinação para conseguirem bom aproveitamento escolar, haja vista os índices críticos em
termos de repetência (FEITOSA, 2001) a situação é ainda mais complicada quando
consideramos os estudantes dos cursos noturnos. Muito deles fazem a escolha noturna devido
às necessidades de trabalho e de manutenção da família.
Além dos papéis que o estudante do curso noturno exerce nas áreas que atua, ele
precisa aprender, quase que instantaneamente, a otimizar o tempo que lhe resta a fim de obter
bom aproveitamento escolar. Neste contexto, como estes estudantes estudam? Como
conseguem lidar com o pouco tempo livre, as necessidades de estudo, notadamente, aferir
bons resultados nas provas? É possível para um estudante do curso noturno obter desempenho
acadêmico razoável nas avaliações? E, se é possível, como estes estudantes se preparam?
De posse destas inquietações, decidimos observar os estudantes do curso noturno de
Administração da UFPE, por serem da mesma instituição e curso onde estão os autores, tanto
como alunos quanto como professor.
1. 1. Caracterização do Problema.
Boa parte dos discentes em Administração possui uma vida profissional ativa, de
acordo com Resumo Técnico do Exame Nacional de Cursos 2003, 60,3% dos estudantes de
Administração brasileiros trabalham 40 horas semanais ou mais (INEP, 2006).
Os estudantes noturnos de Administração na UFPE, como a maioria dos alunos de
cursos universitários noturnos, possuem escasso tempo disponível, fruto das múltiplas
atividades desenvolvidas por eles como trabalho, estágio, curso de língua e obrigações
familiares. Desta forma, o tempo dedicado aos estudos precisa ser capaz de otimizar o
aprendizado, buscando o ponto ótimo na curva de eficiência e tempo disponível ao estudo.
O presente trabalho não pretende medir a capacidade de aprendizado ao longo dos
quatro anos e meio de graduação, por entender que isso envolveria um trabalho muito mais
amplo e complexo. Segundo Primi, Santos e Vendramini (2002) avaliar o desempenho
acadêmico de um aluno levando-se em conta apenas o domínio de conhecimentos específicos
é uma técnica cada dia imprecisa. Todavia, optamos por realizar este trabalho focando em
uma variável dependente, a média global.
2
Qual o nosso propósito? Buscamos encontrar o perfil de aplicação no estudo do
indivíduo que possui nota global diferenciada em relação aos demais. Através de investigação
de campo e revisão de literatura, esperamos descobrir quais as atitudes dos discentes que
mantém bom desempenho em provas e trabalhos de graduação.
Assim, o objetivo é compreender a quais fatores está ligado o bom desempenho na
graduação, quais as características comuns a estes estudantes que conseguem obter bom
rendimento acadêmico. Para tanto, foi estabelecido como “bom desempenho acadêmico” ou
“bom rendimento” a média global (média da soma das notas de aprovação nas disciplinas
cursadas) acima de 8,0.
Do exposto acima, podemos então precisar qual a questão de pesquisa que norteou
nossa investigação: Como se preparam para as avaliações os estudantes do curso noturno
de Administração na UFPE que possuem sua média global de desempenho acadêmico
acima de 8,0?
1.2. Objetivos.
Objetivo Geral: Compreender quais são as características estudantis geradoras de bom
desempenho no curso noturno de administração.
Objetivos específicos: Efetuar a revisão de literatura pertinente ao tema, relacionando-o com
o Objetivo Geral do trabalho; identificar junto ao Corpo Discente da instituição e Chefia do
Departamento de Ciências Administrativas dados sobre os estudantes do curso noturno;
aplicar pesquisa explicativa com questionário sobre “preparação para as avaliações” aos
discentes de Administração UFPE noite; mensurar, tabular e analisar os dados obtidos a partir
da pesquisa de campo, e realizar uma análise-crítica sobre os dados coletados utilizando
métodos dedutivos e estatísticos para responder ao objetivo geral.
1.3. Justificativas
A priori, a relevância social é peso presente na pesquisa, visto o discente ser
tensionado cada vez mais cedo a trabalhar, à revelia, inclusive, das determinações dos
departamentos, subtraindo tempo de estudo no período de formação básica do futuro
administrador. Despejando, conseqüentemente, mão-de-obra deficitária no mercado
(prejudicando, inclusive, a imagem da instituição). Isto ocorre, especialmente, por dois
fatores: o atual estágio do mercado de trabalho e a escassez de financiamento estudantil. O
primeiro altamente competitivo e exigente de experiência; o segundo bastante oneroso ao
orçamento familiar devido à necessidade de alimentação, transporte, livros e fotocópias.
E ainda, o tema justifica-se por auxiliar os discentes trabalhadores a entender quais as
atitudes que levam os colegas com dificuldades semelhantes a se diferenciarem em
rendimento. O estudo também pode apontar aos gestores educacionais, especificamente aos
coordenadores de curso noturnos as dificuldades dos seus alunos ainda não identificadas.
Servindo de base para planos de correção de desempenho com o objetivo de atingir, entre
outras coisas, bons indicadores no ENADE (parte do Sistema Nacional de Avaliação do
Ensino Superior - SINAES). Por último, o estudo pode auxiliar os docentes a compreender o
que está atrelado ao bom desempenho e assim desenvolver avaliações.
2. Referências Teóricas.
Avaliação
Existem controvérsias quanto ao indicador nota como critério para avaliação do
aprendizado. Segundo Esteban (2000), a avaliação está comumente relacionada com a
quantificação do conhecimento do aluno que, transformada em nota, inevitavelmente leva a
classificação, a seleção e ao controle do comportamento. Criticando Esteban, Depresbiteris
(1997) afirma que a nota final tem uma conotação administrativa, descartando o papel de
orientação para a melhoria tanto do professor como do aluno. Na visão de Depresbiteris, a
nota funciona como instrumento de poder na relação professor/aluno, cuja função é
3
meramente burocrática, já que não reflete necessariamente a aprendizagem ocorrida. No
entanto, na grande maioria das instituições de ensino superior, esta é a prática mais comum.
Os preceitos para distinguir a leitura e avaliação da aprendizagem nas Universidades
vêm sendo analisados sob varias visões. Oliveira e Santos (2005) argumentam que a avaliação
possui vários significados. Para esses autores, a relevância da avaliação deve ser entendida
como meio pela qual o avaliador procede a sua avaliação. Citando Gronlund (1979), Oliveira
e Santos (2005) salientam que a função da avaliação é aperfeiçoar métodos, estratégias
visando o aprimoramento da aprendizagem do aluno e a melhoria do ensino do professor.
Neste sentido, a aprendizagem é visto como um processo dinâmico e recíproco entre o
professor e o aluno.
Franco (1997) defende dois modelos básicos que devem ser levados em consideração
nas análises avaliativas. O primeiro modelo diz respeito ao processo avaliativo com base nos
critérios fundamentados na cientificidade, observação, verificação e experimentação. Neste, o
processo avaliativo é visto com base nos fundamentos empiristas que defendem a
experimentação e a observação dos fenômenos.
No segundo modelo, a avaliação é vista como um instrumento subjetivo (FRANCO
1997). Concordando com a abordagem subjetivista de Franco, Oliveira e Santos (2005)
asseveram que o processo avaliativo deve levar em consideração a capacidade de
aprendizagem de cada pessoa, uma vez que não existe uma maneira única de assimilar o
conteúdo. (OLIVEIRA e SANTOS, 2005, p. 119). Estes autores consideram a objetividade
como algo parcial e valorizam em suas análises a auto-avaliação como medida mais confiável,
ressaltando, por outro lado, que os processos avaliativos objetivos são insuficientes. Também
é importante levar em consideração o conhecimento social trazido pelo aluno ao longo da sua
historia. Deve-se levar em consideração o ritmo individual de cada um (OLIVEIRA e
SANTOS, 2005). Grosso modo, para esses autores, a avaliação da aprendizagem pode ser
considerada positiva quando é empregada como pratica educativa integradora, possibilitando
ao estudante a percepção e superação de sua dificuldade ou limitação.
Haydt (1997) afirma que a avaliação permite não só verificar o nível de aprendizagem
dos alunos, mas também determina a qualidade do processo do ensino, isto é, o êxito do
trabalho do professor. Neste sentido, a avaliação é um processo de feedback, uma vez que
fornece dados ao professor para replanejar seu trabalho docente, ajudando-o a melhorar o
processo ensino-aprendizagem.
Demo (2001), por sua vez, propôs três níveis de procedimentos avaliativos. O primeiro
nível coincide com a necessidade de convivência, tais como conversar e estar juntos. O
segundo diz respeito à convivência no meio comunitário ou societário. O último consiste com
a identificação ideológica com o projeto político da comunidade. Aqui a participação aparece
como elemento central de uma avaliação qualitativa. Em outras palavras, a avaliação
qualitativa para este autor está intimamente ligada a avaliação participante (Demo, 2001:34).
Por avaliação qualitativa, Demo entende que ela envolve: a capacitação político-pedagógico
do professor; a convivência participativa dos alunos de forma crítica; a adequação de matérias
didáticas e a convivência crítica entre escola e comunidade, na condição de espaço
privilegiado de discussão.
Os quatros pontos citados, diz Demo, envolvem atender bem a atividade de “ensinar”
e de comunicação entre o professor e o aluno no sentido de motivar discussões profundas,
criativas e transformadoras. Demo chama atenção da necessidade do processo de formação da
consciência política e emancipatória dos alunos (DEMO, 2001).
O sistema avaliativo também pode ser analisado como um instrumento de dominação a
serviço de uma pedagogia liberal conservadora. Para Luckesi (1997), o modelo liberal
conservador produziu quatro pedagogias diferentes: tradicional; técnico; libertário; e
conteúdos sócio-culturais. A pedagogia tradicional centra-se na transmissão de conteúdo na
4
pessoa do professor; a tecnicista consiste na exacerbação dos meios técnicos de transmissão e
apreensão de conteúdos e no princípio do rendimento. O modelo libertário luta contra formas
autoritárias de aprendizagem, centrado na idéia de que a escola deve ser um instrumento da
conscientização e organização política dos alunos. E por ultimo, a chamada pedagogia dos
conteúdos sócio-culturais centra na idéia de igualdade e oportunidade para todos no processo
da educação (LUCKESI, 1997:31). Poderíamos resumir esses modelos pedagógicos em dois
campos distintos: de um lado, os modelos que têm como objetivo a domesticação dos alunos –
aquelas pedagogias que pretendem a conservação da sociedade. Do outro, aqueles pretendem
a humanização dos educandos, ou seja, as pedagogias que pretendem oferecer aos educandos
meios pelos quais possam ser sujeitos e não objetos de ajustamentos (LUCKESI, 1997, apud
FREIRE).
Assim, para que a avaliação educacional escolar assuma o seu verdadeiro papel terá de
se situar e estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social
e não com a sua conservação (LUCKESI, 1997).
Desempenho Docente e Motivação
A forma utilizada pelo docente na transmissão do conteúdo é fundamental. “A forma
também forma.” A maneira como a informação é comunicada pode ser decisiva para
transformá-la conhecimento e aprendizagem do aluno. Esta maneira afeta diretamente na
motivação do estudante sobre o aprendizado do conteúdo. A exposição de idéias desconexas e
desordenadas, por exemplo, prejudicam a assimilação (TIERNO, 2003).
Diversos fatores se relacionam com o desempenho acadêmico, porém podemos
destacar um como fundamental: o “ânimo” do estudante. Este deve ser monitorado e regulado
a todo o instante. Seu estado psicofísico, determinado pela relação entre o corpo e a mente.
Para consolidar este estado são importantes um bom preparo físico, alimentação e sono
adequados, assim como as habilidades de manter a mente limpa de complexos, auto-estima
desenvolvida e a capacidade de explicitar curiosidade por aprender (TIERNO, 2003).
Segundo Douglas (2006) o aumento do desempenho está ligado a seguinte equação:
FAZER PROVAS (aumentando o desempenho) = (A) ATITUDE + (B) TÉCNICAS DE
PROVA. Nesta equação (A) pode ser interpretada como o estado psíquico do aluno, a sua
motivação, a atitude em relação à avaliação. Ele enfatiza que a mudança de paradigma de
tenho obrigação de passar na prova hoje para vou fazer a melhor prova que puder hoje é
fundamental para conquistar um bom resultado (DOUGLAS, 2006, p. 268-271). Mas as
técnicas de estudo só podem ser úteis quando existe estudo e para isso, é necessário ambiente
propício ao estudo.
Ambiente de Estudo
Diversos autores apontam a influência do ambiente de estudo no rendimento do aluno.
Um ambiente propício para estudar é essencial para qualquer estudante. Segundo Ruiz (1995),
é preferível ler em ambiente amplo, arejado, bem iluminado e silencioso; se a luz for artificial,
deve ser difusa, e seu foco deve estar à esquerda de quem lê. É preferível ler sentado a ler em
pé ou deitado. Além do texto a ser lido, é importante ter à mão um bom dicionário, lápis e um
bloco de papel. É de suma importância, também, o clima de silêncio interior, de concentração
naquilo que se vai fazer.
Tudo que resumimos acima está amplamente desenvolvido, provado e justificado nos
tratados da psicologia e da didática. Não duvidamos de sua importância, entretanto, de acordo
com Ruiz (1995), “quem não dispuser do ambiente ideal de leitura deve aprender a ler com
boa velocidade e eficiência num banco de jardim, numa sala de espera ou numa fila de ônibus.
Cada um constrói sua casa com as pedras que tem”.
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Habilidades Pessoais e Utilização de Métodos de Estudo
As habilidades pessoais dos discentes podem influenciar mais no desempenho de
determinadas disciplinas que em outras. Segundo pesquisa de Oliveira e Santos (2003), houve
correlação estatisticamente significativa entre compreensão em leitura e o desempenho
acadêmico em certas disciplinas na universidade. As afirmações se fundamentam no resultado
de um teste de compreensão de leitura já consagrado no meio científico, o teste Cloze, que
utiliza como base de avaliação um texto com 200 palavras, foi aplicado em 412 alunos dos
cursos de Letras, Biologia, Psicologia e Matemática.
Curiosamente o curso de matemática foi o único que não apresentou correlação
significativa com o resultado do teste, derrubando a hipótese de que existiria forte correlação
entre compreensão em leitura e desempenho acadêmico. A autora, porém, alerta sobre o baixo
desempenho de todos no teste Cloze, que poderia ter sido fruto de um baixo
comprometimento dos discentes em responder corretamente o questionário, uma vez que o
mesmo foi aplicado em sala de aula, segundo a própria autora (OLIVEIRA, SANTOS, 2003).
Segundo Primi et.al. (2002), a adaptação ao novo e assimilação de informações nunca
vistas antes ganharam grande importância na análise explicativa do desempenho acadêmico.
Utilizar métodos ou técnicas é uma opção do estudante, porém, devido à necessidade
de produtividade pelo pouco de tempo disponível, as pessoas recorrem cada vez a eles. No
entanto, deve-se entender que o método ideal é aquele adaptado ao indivíduo. Fazer as
adaptações é imprescindível, não existe “receita de bolo”, deve-se entender que nada no
estudo acontece sem a necessária transpiração ou sem dor (TIERNO, 2003).
Outro aspecto importante é a ocupação extra-classe. Segundo pesquisas, ser estagiário
não necessariamente implica dizer que o universitário terá seu aprendizado prejudicado,
embora, realizar tarefas que nada tenham a ver com o curso de administração e que tenham
carga horária muito pesada, lê-se mais de 6 horas, certamente não trarão benefícios para o
aluno (CERETA, 1996).
Já não é suficiente um bom diploma de graduação, e os jovens recém saídos dos
estabelecimentos de ensino superior enfrentam dificuldades em obterem o primeiro emprego.
É perceptível que somente a formação acadêmica não garante um destacado e bom futuro
cargo em uma grande empresa. Segundo Ricardo Semler (1988, p.180), para destacar a
importância da prática e da experiência empresarial, afirma que os graduados em
administração deveriam passar por uma fase de desaprendizado: esquecer parte do que lhes
ensinaram nas escolas e adquirir humildade para um novo aprendizado no dia-a-dia da
empresa. É necessário entender que as organizações convivem com acontecimentos que não
se adaptam às regras e aos esquemas; conseqüentemente, as normas se apresentam
insuficientes e limitadas para a condução dos negócios (MOTTA, 1992).
A atenção, segundo Tierno (2003), possui três características: 1) a seleção, a tendência
a colocar em primeiro plano algumas informações e negligenciar outras. 2) a clareza,
conseqüência da seletividade, o organismo “força” o aprendizado daquilo que está em
destaque, que estimulou a sua percepção. 3) a limitação, a incapacidade humana de prestar
atenção em várias coisas ao mesmo tempo, comprovada por experiências em laboratório.
A atenção é a forma pela qual concentramos a percepção, de forma seletiva, sobre um
estímulo que passa para o primeiro plano de nossa consideração, enquanto ignoramos os
outros, que ficam fora do nosso campo de atenção. (TIERNO, 2003, p.113).
Douglas (2006) argumenta que prestar atenção significa ter acuidade. O Dicionário
Aurélio define acuidade como “Agudeza de percepção; perspicácia; finura: [...] Gravidade,
seriedade.”. Douglas diz que isto é o que mais falta para os estudantes quando estão
resolvendo uma prova e expõe a seguinte máxima de N.Poussin para tentar corrigir este
problema “O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito”.
6
3. Procedimentos Metodológicos.
A nossa população estará limitada aos estudantes a partir do 3º período do curso de
Administração noturno unidade Recife. Este foi o tempo mínimo que julgamos necessário
para que o aluno esteja habituado com a vida acadêmica e que o tenha feito capaz de construir
seu “ritual próprio de estudo”, ou seja, o uso de um comportamento relativamente padrão de
preparação para as avaliações. Sendo assim, tivemos aproximadamente 710 estudantes
noturnos. O passo seguinte foi encontrar quais, dentre estes alunos, possuem média global
igual ou superior a 8,0. Dentre os identificados aplicamos um questionário contendo 50
questões alusivas à preparação para as avaliações e quais procedimentos utilizam para obter
esse resultado. Com os dados em mãos e devidamente tabulados, analisamos através de
softwares estatísticos, notadamente o STATISTICA e o EXCEL, a fim de perceber quais são
as variáveis que se relacionam com a nossa variável dependente que é a média global do
estudante com “bom desempenho”.
4. Resultados: os Discentes e a Preparação para as Avaliações.
Foram entrevistados 36 estudantes com média global igual ou superior a 8, coletados
de uma população aproximada de 710 estudantes noturnos do curso de Administração. Desses
são 14 mulheres e 22 homens, com média de idade de 24,8 anos, mediana de 23,9 e moda de
21 anos (09 sujeitos) que dormem em média 6,3 horas. Destes 10 possuem situação financeira
familiar modesta, 16 situação média e 10 situação confortável; 70% dos entrevistados com
média igual ou acima de 8 tem situação familiar modesta ou média. Somente 11% deles não
trabalha nem estagia, 58% trabalham ou estagiam em regime de 8 horas e 22% estagiam em
regime de 4 horas.
Aspectos referentes à dedicação
Os sujeitos não possuem reprovações, estudam em média 4,9 horas por semana, 63,8%
fazem intervalos de estudo somente quando percebem que o rendimento está caindo.
Daqueles indivíduos que já tiveram contato com técnicas de estudo (19,4%) 85,7% dos que
utilizaram perceberam melhora no desempenho acadêmico. Cerca de 66,67% destes
estudantes estudam somente na véspera da prova. Confira na Tabela 1:
Tabela 1 - Preparação para a avaliação
Comportamento
Freq.
%
% Véspera
(1) Leio a bibliografia na véspera da prova uma vez e estudo os exercícios
4 11,11%
feitos em sala.
(2) Leio as anotações no caderno na véspera da prova uma vez e estudo os
3
8,33%
exercícios feitos em sala.
66,67%
(3) Leio a bibliografia e as anotações na véspera da prova uma vez e estudo os
5 13,89%
exercícios feitos em sala.
(4) Leio a bibliografia e as anotações na véspera da prova mais de uma vez e
12 33,33%
estudo os exercícios feitos em sala.
(5) Leio a bibliografia e as anotações ao longo da disciplina, faço os exercícios
5 13,89%
que o professor solicita, na véspera da prova reviso tudo.
(6) Leio e faço resumos dos conteúdos com antecedência à prova, na véspera só
4 11,11%
faço revisões e exercícios.
3
8,33%
(7) De outra forma (qual?) .
Fonte: Pesquisa Direta com Estudantes - Recife (2006)
Prestar atenção às explicações em sala de aula apareceu como o comportamento mais
comum no aspecto atenção e esforço em sala conforme a Tabela 2:
7
Tabela 2 - Atenção e esforço em sala
Poucas Algumas
Freqüent. Freqüent. +
Comportamento/Freqüência
Nunca
Freqüent. Sempre
+ Sempre Sempre %
vezes
vezes
Presto atenção às explicações durante a
0
2
9
15
10
25
69,4
aula.
Pergunto o que não entendo.
4
6
10
8
8
16
44,4
Anoto as explicações.
1
9
6
11
9
20
55,6
Passo a limpo e organizo minhas
12
11
9
4
0
4
11,1
anotações.
Evito distrações.
3
10
7
12
4
16
44,4
Presto atenção seletiva àquilo que o
0
5
9
15
7
22
61,1
professor prioriza.
Volto frequentemente às anotações, as
2
9
14
10
1
11
30,6
repasso e utilizo.
Participo de forma ativa das aulas.
10
8
12
3
3
6
16,7
Ofereço-me como voluntário.
Fonte: Pesquisa Direta com Estudantes - Recife (2006)
Aspectos referentes aos obstáculos
O que mais lhes prejudicam na hora de estudar é o cansaço físico e mental (52,7%),
seguido pela falta de silêncio no lugar de estudo (25%). Quando questionados sobre o que
mais faz com que eles parem de estudar antes da hora ou se atrasem para começar, 28%
responderam que as atividades familiares são os principais culpados, 22% responderam que é
o namoro o principal responsável.
Questionados sobre quanto o desempenho do docente determina no seu resultado (de 0
a 10) a média encontrada foi 6,1 e a moda foi 7 (10 ocorrências), o desvio padrão foi de 2,24.
Local de estudo
Estudam em uma mesa própria para o estudo 41,67% dos entrevistados e estudam
deitados na cama ou no sofá 36,11%. Estudam sempre no mesmo lugar 75% dos
entrevistados. Ver na tabela abaixo:
Tabela 3 - Estudo individual em casa
Comportamento/Freqüência
Estudo sempre no mesmo lugar.
Meu quarto e a mesa de estudo estão limpos e em ordem.
Cerco-me de silêncio.
Busco uma temperatura agradável.
Evito o máximo as distrações.
Estipulo um horário mínimo para estudar e o cumpro.
Amplio o horário de estudo em caso de necessidade sem reclamar.
Descanso sempre que percebo que meu rendimento diminui.
Utilizo pastas e fichários para organizar as anotações.
Utilizo textos de consulta para ampliar meus conhecimentos.
Nunca +
Freqüent.
poucas vezes +
+ Sempre
algumas vezes
9
21
23
8
14
29
19
7
23
25
27
15
13
28
22
7
17
29
13
11
Freqüent.
+ Sempre
%
75,0
41,7
36,1
77,8
61,1
19,4
47,2
80,6
36,1
30,6
Fonte: Pesquisa Direta com Estudantes - Recife (2006)
Organização e Planejamento
Em relação à organização para o estudo, 63,9% responderam que sempre ou
frequentemente determinam o tempo a partir das dificuldades que encontram e 50%
informaram que estipulam horários de curto prazo para a realização dos estudos e repasses.
Veja na tabela seguir:
8
Tabela 4 - Organização e planejamento do estudo
Comportamento/Freqüência
Costumo elaborar planos de estudo.
Distribuo o tempo de acordo com as
dificuldades que encontro.
Estipulo horários a curto prazo para
estudos e repasses.
Cumpro com rigor os horários
estipulados.
Sei onde e quando descansar física e
mentalmente.
Freqüent.
Poucas Algumas
Freqüent.
Nunca
Freqüent. Sempre
+ Sempre
vezes
vezes
+ Sempre
%
4
13
7
8
4
12
33,3
1
3
9
16
7
23
63,9
2
7
9
14
4
18
50,0
5
15
8
7
1
8
22,2
2
3
13
11
7
18
50,0
Fonte: Pesquisa Direta com Estudantes - Recife (2006)
Interesse pelo Conhecimento
Dos entrevistados, 83,3% afirmam que sempre ou freqüentemente gostam de aprender
tudo e 75% vêem claramente onde a boa formação os levará. Conforme a Tabela 5:
Tabela 5 - Interesse geral por aprender
Comportamento/Freqüência
Gosto de aprender tudo.
Sei bem porque estou estudando e os
benefícios que isso me trará.
Vejo claramente para onde me levará
uma boa formação.
Freqüent.
Poucas Algumas
Freqüent.
Nunca
Freqüent. Sempre
+ Sempre
+ Sempre
vezes
vezes
%
0
3
3
17
13
30
83,3
0
3
4
12
17
29
80,6
0
1
8
8
19
27
75,0
Fonte: Pesquisa Direta com Estudantes - Recife (2006)
4. Conclusão.
O trabalho trouxe informações polêmicas, como o fato de que 36,11% dos
entrevistados estudarem deitados na cama ou no sofá. É pertinente observar que 75% dos
alunos estudam no mesmo lugar e que esse lugar tanto pode ser uma mesa, uma cama ou um
sofá. Isso nos leva a crer que o importante é ter um lugar que você se sinta bem e à vontade e
não necessariamente esse local precisa corresponder a padrões.
Também constatamos que a situação financeira do aluno não foi representativa no
desempenho, talvez pelo tamanho da nossa amostra, ainda assim, entendemos que esta
questão deve ser objeto de estudo em outra pesquisa.
Outro aspecto relevante comprovado por 83,3% dos entrevistados foi o gosto por
querer aprender tudo e em 41,7% não se limitar a somente o que é exigido. Mais um fator
importante é o fato do professor não interferir no desempenho do aluno e essa afirmação
implica dizer que a motivação do aluno é por fatores internos e não externos. Mesmo que o
docente não tenha boa metodologia de ensino ou boa didática o nosso aluno em questão
continuará a ter bom desempenho.
Diante do exposto acima e do que foi investigado podemos concluir que os alunos com
média global acima de oito não dedicam mais de cinco horas por semana aos estudos,
estudam na véspera da prova, muitas vezes deitados na cama ou no sofá, contrariando técnicas
de estudo, e mesmo assim conseguem obter êxito. A nota distintiva parece ser o esforço,
organizando o tempo de estudo de acordo com suas necessidades. Percebeu-se também que
eles são motivados do começo ao fim do ano letivo, e esta talvez seja a principal descoberta
desse trabalho. O aluno que possui média global acima de oito não estuda muitas horas por
semana, mas tem um bom aproveitamento do tempo, e isso pode ser comprovado pelo fato da
maioria trabalhar de seis a oito horas por dia e mesmo assim conseguir bons resultados em
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avaliações. O trabalho deixa evidente que a motivação pessoal do aluno é imprescindível no
seu rendimento acadêmico, visto que mesmo contradizendo técnicas de manuais de estudos,
muitos alunos conseguem vencer barreiras como situação financeira difícil, pouco tempo
dedicado ao estudo e também, depois de um dia inteiro de trabalho, o cansaço físico e mental.
Por fim, ainda podemos expor que é válido o aprofundamento em técnicas de estudo,
salientado que elas por si só não bastam, é notória sua relevância, haja vista identificarmos
que mais de 85% dos que as utilizaram admitiram ter conseguido melhorar seu desempenho.
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