MÚSICA SERTANEJA E IDEOLOGIAS DE ESTADO
BAUMGÄRTNER, Carmen Teresinha
FERREIRA, Susana Aparecida
GRZYBOWSKI, Márcia Floriza
OLIVEIRA, Luiz Antonio de
Resumo: O presente trabalho faz uma análise interpretativa de letras de algumas canções
sertanejas, especificamente músicas de moda e viola, de algumas décadas atrás. Norteado
pelo trabalho de Louis Althusser, em seu livro “Aparelhos Ideológicos de Estado”, editora
Graal, 6ª ed. São Paulo, 1992, analisamos as letras de músicas, buscando ideologias
presentes nas mesmas, de que maneira estas canções, às vezes até ingênuas, serviam ao
Estado, quais eram as ideologias que as mesmas pregavam, e por que fazer uso de músicas
para difundir ideologias tornou-se a mais eficiente maneira encontrada pelo Estado para
difundir suas mensagens. Esse estudo se justifica, tendo em vista que, mesmo atualmente, a
música sertaneja ainda é bastante difundida e inclusive, tem sido levada para discussão em
sala de aula. Assim, considerando-se o alcance de circulação, propomo-nos desenvolver
essa reflexão, na perspectiva de contribuirmos para o seu trabalho de sala de aula.
PALAVRAS-CHAVE: Música, Ideologias, Comunicação de Massa.
1 – APARELHOS REPRESSIVOS DO ESTADO E APARELHOS IDEOLÓGICOS
DO ESTADO
Louis Althusser, em seu livro “Aparelhos Ideológicos do Estado”, debate duas
questões muito interessantes: o que são aparelhos repressivos do estado (ARE) e o que são
aparelhos ideológicos do estado (AIE). A definição de o que é Estado foi feita por Karl
Marx, em seus estudos teóricos sobre as lutas de classes. Defendia este autor que o
proletariado deveria tomar o poder do Estado para destruir o aparelho burguês existente, e
substituí-lo, em um primeiro momento, por um aparelho completamente diferente. E numa
etapa posterior, provocar a destruição do Estado em todas as suas instâncias.
Segundo Althusser, na categoria de Aparelhos Repressivos do Estado se
encaixariam: O governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões etc.
Esses aparelhos funcionariam através da violência administrativa, e também física;
enquanto os Aparelhos Ideológicos do Estado teriam uma atuação puramente ideológica,
atuação essa mais discreta, mas não menos importante que a anterior, pois a esses aparelhos
caberiam funções como “educar”, “doutrinar” e “conduzir” a população rumo a atitudes
coerentes com as vontades desse mesmo Estado; entre os aparelhos ideológicos do estado
encontram-se:
AIE religioso (o sistema das diferentes igrejas)
AIE familiar (a família enquanto instituição)
AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas)
AIE jurídico (estas podem pertencer tanto ao aparelho ideológico como ao aparelho
repressivo do estado)
AIE político (o sistema político os diferentes partidos)
AIE sindical (os diferentes sindicatos das mais diversas classes trabalhistas)
AIE de informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.)
AIE cultural (letras, belas artes, esportes, etc.)
2 – MÚSICA SERTANEJA: UM APARELHO IDEOLÓGICO DE ESTADO
Um outro importante AIE mencionado apenas vagamente por Althusser (ele se
refere ao rádio e as artes) em seu livro, mas que acreditamos ter, ou pelo menos ter tido em
um passado recente, tanta, ou até mais importância que os AIE`s anteriormente citadas é a
música, especificamente a música sertaneja de moda e viola. Em uma época em que o rádio
e os programas de música sertaneja ocupavam o papel preponderante de veículo (quase que
exclusivo) de comunicação, entretenimento e informação perante a população brasileira, o
Estado encontrou o veículo ideal para propagar suas ideologias.
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Nosso País não passou como a maioria dos outros povos por uma fase de imprensa
escrita profundamente alicerçada antes da difusão da imprensa falada e televisiva, segundo
o que Gustavo Barbosa nos conta em seu Ensaio Literatura e Comunicação de massa
Fragmentos para a reflexão compilados no livro “Os contrapontos da Literatura Arte,
Ciência e Filosofia” por Sonia Salomão Khéde. No Brasil até a chegada de D. João VI, que
desembarcou em nossas terras com toda a sua corte fugindo de Napoleão Bonaparte, era
proibido, por um decreto Real, editar e publicar qualquer tipo de material. Os outros
vizinhos das Américas tinham suas publicações produzidas em seus próprios Países,
séculos antes do nosso, caso do México, por exemplo, onde desde de 1520 já funcionava
uma tipografia. O primeiro livro impresso no território do Brasil foi: “Exame de
Bombeiros”, em 1747, seu autor, o general José Fernandes Pinto Alpoim obteve licença
régia para publicá-lo, setenta anos antes da abertura política e econômica promovida por D.
João VI. Quando o mercado editorial floresceu em nosso País, logo encontrou um
concorrente de peso, o rádio, que muito rapidamente viria a se consolidar como o mais
eficiente meio de comunicação em tão amplo território.
Em Nova Iorque, no ano de 1916, foi ao ar o primeiro programa de rádio, de que se
tem notícia. Ele tinha conferências, música de câmara e gravações. A primeira transmissão
radiofônica oficial no Brasil, foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de
Janeiro, em plena comemoração do centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de
setembro de 1922. O discurso aconteceu numa exposição, na Praia Vermelha - Rio de
Janeiro e o transmissor foi instalado no alto do Corcovado, pela Westinghouse Electric
Company.
A partir dessa data tem início em nosso País a chamada era do rádio, inovando o
conceito de “comunicação”. Tornou-se muito mais cômodo, rápido e fascinante ouvir
notícias, música e outras transmissões, do que lê-las. Ainda segundo Gustavo Barbosa em
Literatura e Comunicação de Massa Fragmentos para reflexão, p. 84 “O brasileiro passou
do carro de boi para o avião a jato, passou imediatamente da comunicação oral para a
auditiva, sem passar, como os outros povos de densidade cultural, pelas fases intermediárias
da comunicação escrita”.
Nossa população era predominantemente rural e os programas de maior sucesso das
rádios eram os de música sertaneja. Entre os cantores de maior renome desta época
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destacam-se Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco, Inezita Barroso, Tião Carreiro e
Pardinho. As composições e interpretações desses artistas estavam entre as mais tocadas em
todos os programas, tornando-se, dessa maneira, eficientes veículos propagadores das
ideologias do Estado. Em uma análise superficial de várias letras desses cantores é possível
perceber essas ideologias presentes: machismo, racismo, normas de boa conduta, respeito
ao Estado e as autoridades, superstições e crendices, submissão da mulher, etc.
3 - ANÁLISE
A escolha das músicas para análise feita por nós, procurou músicas que contenham
pelo menos um exemplo das principais ideologias presente em suas letras.
Analisaremos primeiro a música “ Cabocla Teresa” de João Pacífico e Raul Torres
Gravada primeiramente por Tonico e Tinoco.
Em seguida analisaremos a música “ O Patrão e o Empregado” de Tião Carreiro e
Lourival dos Santos, gravada por Tião Carreiro e Pardinho.
Depois analisaremos a música “ A Coisa Ficou Bonita” também de Tião Carreiro e
Lourival dos Santos, gravada por Tião Carreiro e Pardinho.
Analisaremos também a música “ Oswaldo Cintra” de Tião Carreiro e Lourival dos
Santos, gravada por Tião Carreiro e Pardinho.
Em seguida faremos a análise da música “Boiadeiro de Palavra” de autoria de
Moacir dos Santos, Tião Carreiro e Lourival dos Santos, e gravada por Tião Carreiro e
Pardinho
Finalizando analisaremos a música “ Preto Fugido” de Zé Carreiro gravada por
Tião Carreiro e Pardinho.
A música “Cabocla Tereza” composição de João Pacífico e Raul Torres gravação de
Tonico e Tinoco na década de 40 demonstra o machismo de um homem que, abandonado
pela sua esposa vai atrás dela e assassina-a, a letra da música termina com o assassino
confessando o seu crime orgulhoso de sua vingança, sem fazer menção alguma sobre a
punição que o matador receberia. Difundindo-se com isso a ideologia de submissão da
mulher em relação ao homem, para essa ideologia era inconcebível imaginar que a mulher
estivesse infeliz em seu relacionamento, recebendo casa e a companhia de um homem.
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CABOCLA TEREZA
(Autores: João Pacífico e Raul Torres)
Falado:
Lá no alto da montanha, numa casa bem
estranha toda feita de sapê
Parei uma noite a cavalo, por causa de dois
estalo que ouvi lá dentro bater
Apeei com muito jeito, ouvi um gemido
perfeito, uma voz cheia de dor:
"Você Tereza descansa, jurei de fazê
vingança por causa do meu amor"
Pela fresta da janela, por uma luzinha
amarela de um lampião quase apagando
Vi uma cabocla no chão, e um cabra tinha na
mão uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope,
risquei de espora e chicote
Sangrei a anca do tal,
desci a montanha abaixo
E galopando aquele macho,
o seu dotô fui chamar
Voltemo lá pra montanha,
naquela casinha estranha
Eu e mais seu dotô,
topei um cabra assustado
Que chamando nois prum lado,
a sua história contou.
Há tempos eu fiz um ranchinho
Pra minha cabocla morar.
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Pois era ali o nosso ninho
Bem longe deste lugar.
Paguei caro o meu amor
Por causa de outro caboclo
Meu rancho ela abandonou
No alto lá da montanha
Perto da luz do luar
Vivi um ano feliz
Sem nunca isso esperar.
Senti meu sangue ferver
Jurei a Tereza matar
O meu alazão arriei
E ela eu fui procurar
E muito tempo passou
Pensando em ser tão feliz
Mas a Tereza doutor
Felicidade não quis
Agora já me vinguei
É esse o fim de um amor
Essa cabocla eu matei,
É a minha história doutor
Pus meu sonho neste olhar
Na música “O Patrão e o Empregado” temos outro exemplo clássico das “lições”
ideológicas pregadas pelo Estado e difundidas através da música para toda a nação, a
louvação ao trabalho honesto e ao patrão rico, bem como a submissão do empregado e a
necessidade de trabalho árduo.
O PATRÃO E O EMPREGADO
(Autores: Tião Carreiro – Lourival dos Santos)
Eu estava sem assunto a lei divina mandou
Passei a mão na viola o meu santo me ajudou
Pra falar de duas classes que a tempo Deus criou
Empregado e patrão ainda ninguém falou
Empregado é abençoado patrão Deus abençoou
Empregado e patrão duas linhas paralelas
Para defender os dois eu estou de sentinela
No futebol do trabalho os dois juntos faz tabela
Constroi a grande vitória que o país precisa dela
Pátria precisa dos dois e os dois lutam por ela
Empregado quando é bom o patrão é companheiro
Empregado dá suor e o patrão dá o dinheiro
O dinheiro é coisa boa pra aqueles que sabe usar
Usando só para o bem o dinheiro faz cantar
Usando só para o mal o dinheiro faz chorar
Já trabalhei no pesado, pisei descalço na neve
Hoje no braço da viola o meu serviço é mais leve
Sou empregado dos
fãs que pra mim nada
me deve
Eu é quem devo
resposta da carta que o
fã me escreve
Desde o tempo de
menino conheci um
velho ditado
O patrão quando é rico
empregado é
remediado
O que vou dizer agora
eu não deixo pra
depois
Quem trabalha para
pobre não sai do feijão
com arroz
Trabalhar pra quem é
pobre é pedir esmola
pra dois.
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Na música “A Coisa Ficou Bonita” temos a louvação utópica do trabalho do Presidente
Sarney e seu plano cruzado que é cantado pelo poeta como o heróico trabalho de um herói em prol
do bem estar do povo brasileiro, ideologia pura mais uma vez a serviço do Estado.
A COISA FICOU BONITA
(autores: Tião Carreiro/Lourival dos Santos)
Sofria sem esperança a população aflita
A inflação furava o povo com sua espada esquisita
Caiu do céu um governo trazendo força infinita
O preço foi congelado quase ninguém acredita
O Brasil de ponta a ponta... de alegria pula e grita.
Já fizeram seu enterro
e ela não ressuscita
Já voltou café na mesa
pra família e pra visita
Excelência agora eu
peço quero que o
senhor permita
Presidente não congele
beijos de mulher
bonita.
Presidente do pé quente chegou na hora bendita
A coisa que estava feia agora ficou bonita.
Presidente e seus ministros capricharam na escrita
Pacotão veio bonito vejam só a cor da fita
Amarelo, verde e branco azul bandeira que agita
O sofrimento de um povo meu governo agora evita
Quem anda dentro da seda respeita quem veste a chita.
Presidente do pé
quente chegou na hora
bendita
A coisa que estava feia
agora ficou bonita
Presidente do pé quente chegou na hora bendita
A coisa que estava feia agora ficou bonita.
Recebeu um cruzado forte aquela inflação maldita
“OSWALDO CINTRA”, a começar pelo título dessa composição, continuando depois
ao longo de toda a letra da música, os autores “Homenageiam” um rico fazendeiro Paulista,
louvando a maneira honesta com a qual esse fazendeiro prosperou, sua boa índole, boa
família e honradez, a defesa dos ricos e poderosos, bem como a difusão da ideologia de que
o homem trabalhando honestamente pode enriquecer.
OSWALDO CINTRA
(autores: Tião Carreiro e Lourival dos Santos)
Ai eu sou mineiro da gema de minas vivo
distantes
Estou morando em São Paulo já sou quase um
bandeirante
Lá na linha noroeste
Onde eu passo todo instante cidade de
Araçatuba
É meu berço de viajante
Ai eu vou falar a verdade lá tenho muita
amizade
De gente boa importante ai, ai
Ai cidade de Araçatuba o seu progresso não
mente
É a capital do asfalto é uma verdade patente
Dentro da sua razão
Lá existe homem valente as mulheres são
sinceras
É as meninas são descente ai a juventude sadia
estudando noite e dia
Prum futuro sorridente
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Ai o senhor oswaldo cintra fazendeiro da região
Sua fazenda é um palácio sincera comparação
Homem que veio do nada
E ninguém lhe deu a mão lutando honestamente
Foi ganhando posição
Ai a sua fortuna cresce Deus ajuda quem
merece
Por ele ser bom patrão ai, ai
Ai homem que veio da luta muito tombo e
muito chão
Muito arreio e muito laço muito boi e muito
peão
Na grande escola da vida
Ele foi aluno bão sem férias e sem recreio
Aprendeu a sua lição
Ai ele veio da pobreza transformando em
riqueza
Os seus tombos no sertão ai, ai
Ai o senhor Oswaldo Cintra e seu filhinho
Marquinho
O doutor Ubiratan do seu Oswaldo é sobrinho
Família de gente boa
É flor que não tem espinho falo bem de quem
merece
Abraçado neste pinho
Ai eu me despeço cantando adeus vou me
retirando
Pra chorar lá no caminho
NA música “Boiadeiro de Palavra” temos um exemplo clássico do machismo
presente como ideologia de estado, a história contada na música presta-se bem a
perpetuação desses “valores”, machismo, submissão feminina, obediência ao marido, a que
o povo “deveria” ser doutrinado.
BOIADEIRO DE PALAVRA
Moacir dos Santos, Tião Carreiro e Lourival dos Santos
Boiadeiro de palavra que nasceu lá no sertão
Não pensava em casamento por gostar da
profissão
Mas ele caiu no laço de uma rosa em botão
Morena cor de canela, cabelo cor de carvão
Desses cabelos compridos quase esbarrava
no chão
E pra encurtar a história era filha do patrão.
Boiadeiro deu um pulo, de pobre foi a
nobreza
Além da moça ser rica, dona de grande
beleza
Ele disse assim pra ela com classe e
delicadeza:
- Esses cabelos compridos
São minha maior riqueza
Se um dia você cortar, nos separa na certeza
Além de te abandonar vai haver muita
surpresa
Um mês depois de casado o cabelo ela cortou
Boiadeiro de palavra nesta hora confirmou
No salão que a esposa foi com ela ele voltou
Mandou sentar na cadeira e desse jeito falou:
- Passe a navalha no resto do cabelo que
sobrou
O barbeiro não queria, a lei do trinta mandou.
Com o dedo no gatilho pronto pra fazer
fumaça
Ele virou um leão querendo pular na caça
Quem mexeu nesse cabelo vai corta o resto
de graça
A navalha fez limpeza na cabeça da ricaça
Boiadeiro caprichoso, caprichou mais na
pirraça
Faz a morena careca dar uma volta na praça!
E lá na casa do sogro ele falou sem receio
- Vim devolver sua filha pois não achei outro
meio
A minha maior riqueza eu olho e vejo no
espelho
É um rosto com vergonha que à toa fica
vermelho
Sou igual a um puro sangue que não deita
com arreio
Prefiro morrer de pé, do que viver de joelho!
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Na música “Preto Fugido” temos o exemplo clássico do racismo e da discriminação
de classes, os personagens da história são a linda mocinha indefesa, o heróico pai que
continua herói mesmo após assassinar com um tiro na cabeça seu adversário enquanto o
mesmo dormia, e o vilão, nesse caso, negro, pobre e esfarrapado.
PRETO FUGIDO
(autor:Zé Carreiro)
Do jeito que me contaram eu vou contar bem direitinho
Ai que um dia o pai de Suzana saiu passear no vizinho
Suzana ficou em casa companheiro um irmãozinho
Um preto tava sondando de dentro de um capãozinho
Proveito à oportunidade roubou a pobre mocinha
O preto disse a Suzana vejam todos os teus vestidos
Bem depressa bem ligeiro que o momento está vencido
Que de hoje por diante eu vou ser vosso marido
A Suzana vendo isso dava suspiro doído
Ela se viu obrigado acompanhar o preto fugido
Suzana se viu no aperto ai no momento ela pensou
Ai pegou um punhado de sar e consigo ela levou
Deixou o sar esparramado por todo lado que andou
Papai vem seguindo o sar e vem achar aonde estou
Justamente saiu certo como a Suzana pensou
O preto era indecente em feio estado ele estava
Já fazia muito tempo que nas matas ele habitava
Qua roupa toda rasgada quase sem roupa se achava
Cabelo tava comprido as zunhas ele não cortava
Parecia fera bruta que nas montanhas morava
O preto disse a Suzana eu sou de cor mais sou de raça
Você vai morar comigo e sem comer você não passa
Eu tenho o meu trabuco que meu matador de caça
Não pense em
fugir de mim este
papel você não
faça
Se você tentar
fugir ai você deita
na fumaça
Pra Suzana não
fugir no colo dela
ele deitou
Ai ele já pegou no
sono e seu
querido pai
chegou
Pois o revolver no
ouvido ai um tiro
ele disparou
O preto tava
dormindo como
tava ele ficou
Tava com sono
pesado e nunca
mais ele acordou
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Poderíamos ter recorrido a muitas outras músicas para exemplificar a presença de
ideologias na música popular brasileira, mas a partir das amostras analisadas pudemos
perceber, a presença de ideologias, em músicas sertanejas. as quais, atingiam, mais
facilmente durante muitas décadas, as classes mais humildes de nosso País.
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Nas músicas de moda e viola é bem mais perceptível a presença de ideologias de
Estado, embora, as mesmas ideologias possam ser encontradas também nas músicas
populares, porém nestas últimas não tão diretas como nas músicas sertanejas.
Entre outras qualidades a música é um importante recurso didático largamente
utilizado em sala de aula. Por isso, cabe aos professores e aos pais terem clareza sobre essas
ideologias, para que possam orientar seus filhos e alunos sobre os efeitos de sentido que a
presença delas pode provocar no imaginário dos ouvintes.
Finalizando, gostaríamos de enfatizar que também há inúmeras músicas sertanejas
de moda e viola nas quais o enfoque não é a inculcação de Ideologias de Estado, músicas
dos mais diversos estilos, qualidade técnica e poética, algumas delas verdadeiras obras de
arte da mais pura poesia, e poesia essa de primeira qualidade. Nossa música é riquíssima, e
a quantidade de material produzido por nossos compositores é muito vasto. Poderemos nos
deliciar ouvindo nossas músicas preferidas seja ela de qualquer estilo, época ou gênero,
independente do fato de conter ou não ideologias, independente das mesmas defenderem
certos pontos de vista, desde que tenhamos consciência dessas ideologias, desde que
saibamos que nada é totalmente inocente, nem mesmo aquela música aparentemente
ingênua que foi gravada há quarenta ou cinqüenta anos e que está entre as nossas prediletas.
BIBLIOGRAFIA
Gustavo Barbosa - Literatura e Comunicação de massa Fragmentos para a reflexão
livro “Os contrapontos da Literatura Arte, Ciência e Filosofia”Comp. Sonia Salomão
Khéde Petrópolis Ed.Vozes 1984
José Ramos Tinhorão - Pequena história da música popular: da modinha ao
tropicalismo /. 5ª ed. Ver. E aum. São Paulo: Art Editora 1986
Louis Althusser – Aparelhos Ideológicos de Estado, 5ª ed. Graal editora, São Paulo 1992
Lyons, John – Linguagem e lingüística, Rio de Janeiro Ed. Guanabara. 1988
Martins Ferreira - Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002. 3ª
ed.- (Coleção como usar na sala de aula)
Toledo, Dionísio – Círculo Lingüístico de Praga: Estruturalismo e Semiologia. Ed.
Globo, Porto Alegre 1978.
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LUIZ ANTONIO DE OLIVEIRA