RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Luís Henrique Araújo Raposo Letícia Resende Davi Paulo Cézar Simamoto Júnior Flávio Domingues das Neves Paulo Vinícius Soares Veridiana Rezende Novais Simamoto Alexandre Coelho Machado Analice Giovani Pereira Paulo Sérgio Borella INTRODUÇÃO O crescente interesse por um padrão estético harmonioso do sorriso e a necessidade de se empregarem materiais restauradores de excelente qualidade foram determinantes no desenvolvimento de inúmeras aplicações clínicas para os materiais cerâmicos.1 As cerâmicas odontológicas são caracterizadas por estruturas inorgânicas não metálicas compostas de oxigênio com um ou mais elementos metálicos ou semimetálicos associados.2 A busca por um sorriso estético e o contínuo avanço nas propriedades dos materiais restauradores odontológicos resultaram em significativo aumento nas indicações de restaurações em cerâmica pura devido às características de cor, textura e resistência desse material. Além | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 9 de se assemelharem ao esmalte dentário por suas propriedades mecânicas, ópticas e estabilidade química, as cerâmicas odontológicas têm:3, 4 § estabilidade de cor; § alta resistência e durabilidade; § excelente lisura superficial; § resistência à abrasão; § baixo acúmulo de placa bacteriana; § coeficiente de expansão térmica; § rigidez compatíveis com as estruturas dentais. A associação dessas características faz com que os materiais cerâmicos proporcionem excelente estética, função e durabilidade quando bem indicados. Após décadas de evolução, a Odontologia contemporânea tem empregado cada vez mais procedimentos restauradores conservadores (minimamente invasivos), que incluem os procedimentos indiretos, não sendo mais preponderantes preparos extensos objetivando apenas a criação de macrorretenções.1 Tais procedimentos conservadores são dependentes de adequada adesão entre os materiais restauradores e os substratos dentários, e a possibilidade de empregá-los deve-se principalmente à melhoria dos materiais resinosos poliméricos, como: 5 § adesivos; § cimentos; § resinas compostas. A possibilidade de fixação adesiva dos materiais restauradores cerâmicos aos tecidos dentais associada com o sucesso estético de restaurações livres de infraestrutura metálica impulsionou avanços no desenvolvimento e na fabricação das cerâmicas odontológicas. Isso resultou em implementações que permitiram melhores propriedades mecânicas, como o aumento da resistência à fratura desses materiais.6-8 Tal ganho de resistência nos materiais cerâmicos deu-se principalmente com a modificação e/ou o aumento do conteúdo cristalino nesses materiais e também com os avanços obtidos nas formas de processamento, o que tem possibilitado maior número de aplicações clínicas para esses materiais, que são, atualmente, empregados na confecção de infraestruturas para determinados tipos de próteses fixas em substituição às estruturas metálicas.9 O potencial estético e a biocompatibilidade das cerâmicas podem ser considerados únicos dentre os materiais restauradores odontológicos. Apesar de apresentarem inúmeras vantagens, as cerâmicas são materiais frágeis, com baixa tolerância a tensões de tração e cisalhamento, estando suscetíveis à formação e à propagação de trincas por serem friáveis e de baixa resistência ao impacto. Portanto, o sucesso do tratamento restaurador com restaurações cerâmicas é dependente de adequado planejamento, sendo de extrema importância o conhecimento das propriedades desses materiais para sua correta indicação e aplicação.10 10 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Para obtenção de desempenho adequado do procedimento restaurador com restaurações totalmente cerâmicas, deve-se ter associação de resistência da restauração e estética satisfatória. Esses fatores são dependentes de planejamento minucioso que deve ser conduzido envolvendo as seguintes etapas, condicionadas de acordo com cada condição clínica e demanda estética: § escolha do sistema cerâmico adequado; § extensão e forma do preparo no substrato dentário (esmalte e/ou dentina); § tratamento de superfície da restauração cerâmica (de acordo com o material); § procedimentos de fixação (sistemas adesivos, cimentos resinosos etc.). OBJETIVOS Após a leitura deste artigo, o leitor poderá: § conhecer a importância das cerâmicas na odontologia contemporânea, bem com seu histórico; § compreender, com embasamento científico, as técnicas que envolvem as restaurações totalmente cerâmicas; § identificar as diferentes aplicações possíveis das restaurações totalmente cerâmicas; § distinguir as singularidades dos sistemas cerâmicos disponíveis, com base em elementos como composição química, classificação e longevidade; § empregar os fatores determinantes no sucesso dos procedimentos restauradores, tais como o planejamento minucioso, a correta seleção do sistema cerâmico e a forma de processamento do material; § aplicar restaurações totalmente cerâmicas na prática clínica. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 11 ESQUEMA CONCEITUAL Histórico das cerâmicas Composição química das cerâmicas Tipos de cerâmicas Conteúdo das cerâmicas Cerâmicas aluminizadas Cerâmicas infiltradas por vidro Cerâmicas reforçadas por leucita Classificação das cerâmicas Cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio Cerâmicas com alto conteúdo de cristais Indicação clínica Formas de processamento Temperatura de sinterização Preparos protéticos Longevidade – restaurações totalmente cerâmicas Protocolos para tratamento de superfície e fixação Casos clínicos Conclusão HISTÓRICO DAS CERÂMICAS A origem da palavra cerâmica é derivada do grego Keramos e significa matéria assada ou pertinente à olaria.11 Entretanto, o termo porcelana também é aceito para designação das cerâmicas odontológicas do tipo feldspáticas. Desde os tempos antigos, a porcelana é utilizada na confecção de louças e utensílios, com registros que datam de 2300 anos A.C. Com o passar dos anos, houve contínuo desenvolvimento e aumento das aplicações da cerâmica em variados campos, conforme pode ser acompanhado pela linha do tempo, a seguir. 12 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 13 1770 1808 1825 1837 Claudius Ash criou a primeira fábrica de dentes de porcelana e de instrumentos odontológicos na Inglaterra. Com os avanços obtidos com as porcelanas, fabricou dentes em porcelana para emprego em sua prática clínica e revenda. Giuseppangelo Fonzi, dentista, aumentou a versatilidade das porcelanas ao sintetizar dentes individuais sobre pinos de platina (metal com coeficiente de expansão próximo ao das porcelanas odontológicas da época), o permitia que esses dentes fossem fixados em infraestruturas metálicas para fabricação de próteses parciais.11-13 1774 Alexis Duchateau, farmacêutico, verificando a durabilidade ao desgaste de seus instrumentos de trabalho feitos em porcelana (grau e pistilo), realizou experimentos para desenvolver um material substituto para os dentes de hipopótamo, empregados em suas próteses. 1728 Primeira tentativa de utilização da porcelana na odontologia, com Fauchard. Sem sucesso. Alexis Duchateau e o cirurgião-dentista Nicholas Dubois de Chémant realizaram modificações nas composições das porcelanas testadas previamente, a fim de diminuir sua temperatura de fusão. Sucesso no desenvolvimento de uma prótese completa para Duchateau. 1839 1903 1950 1965 1970-1980 Apesar do conceito de utilização de porcelana reforçada pelo aumento no conteúdo de alumina, introduzido por McLean e Hughes, o material ainda tinha limitações em situações de maior demanda funcional. Assim, novos sistemas cerâmicos foram postos no mercado a fim de melhorar as propriedades físicas e mecânicas dos materiais restauradores, possibilitando a confecção de restaurações indiretas livres de infraestrutura metálica (totalmente cerâmicas ou em cerâmica pura).12 1970 As oscilações econômicas do período e a grande variação nos preços dos metais nobres que compunham as ligas áureas restringiram a utilização de restaurações com esses componentes. Assim, ligas alternativas compostas, em sua maioria, por metais não nobres (Ni-Cr, Co-Cr, Co-Al) passaram a ser empregadas em infraestruturas de próteses fixas, sendo necessário o desenvolvimento de cerâmicas com coeficiente de expansão térmica linear compatível com o das novas ligas. McLean e Hughes introduziram um novo tipo de porcelana com cerca de 40 a 50% a mais de cristais de alumina (Al2O3) como forma de reforçar a porcelana fedspáltica sem prejudicar a estética.15 Foi adicionada leucita na formulação da porcelana para aumentar o coeficiente de expansão térmica do material e possibilitar sua fusão com algumas ligas áureas para confecção de coroas totais e próteses parciais fixas. Charles Henry Land foi o primeiro a relatar a utilização de próteses em porcelana pela técnica da folha/lâmina de platina (coroa de jaqueta).14 As aplicações dos materiais cerâmicos foram ampliadas, e John Murphy confeccionou a primeira restauração inlay em cerâmica. Seguindo a evolução dos materiais restauradores, diversos sistemas cerâmicos inovadores foram introduzidos no mercado entre final do século passado e o início deste século, a fim de possibilitar a confecção de restaurações totalmente cerâmicas com maior confiabilidade. Além disso, a implementação dos materiais resinosos, como adesivos e cimentos, e a introdução do agente de união bifuncional (Silano) para promover a união química entre os materiais restauradores foram fatores determinantes na melhora da resistência de união e, por consequência, da longevidade das restaurações em cerâmica pura.16,17 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS CERÂMICAS As cerâmicas odontológicas são fundamentalmente estruturas inorgânicas, constituídas primariamente por oxigênio (O) com um ou mais elementos metálicos ou semimetálicos, tais como (Figura 1): 2 § alumínio (Al); § boro (B); § cálcio (Ca); § cério (Ce); § lítio (Li); § magnésio (Mg); § fósforo (P); § potássio (K); § silício (Si); § sódio (Na); § titânio (Ti); § zircônio (Zr). Figura 1 – Diagrama de fases terciário identificando a composição básica das porcelanas (cerâmicas) odontológicas. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 14 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE As cerâmicas utilizadas na odontologia podem ser basicamente caracterizadas por duas fases: uma matriz cristalina circundada por uma fase vítrea de silicato.2 A porção vítrea das cerâmicas é caracterizada por cadeias de tetraedros de (SiO4)4-, em que cátions de Si4+ estão posicionados no centro de cada tetraedro com ânions O- em cada um dos cantos, resultando tanto em ligações covalentes quanto em iônicas. Essa porção Si/O é que define a viscosidade e a expansão térmica do material. A matriz vítrea é responsável pelas propriedades ópticas do material, como a translucidez. A presença de óxidos metálicos, inseridos em menor quantidade, reforça a fase vítrea e interfere na cor das cerâmicas. Já a fase cristalina relaciona-se com as propriedades mecânicas (resistência e isolamento) e também com as ópticas, de acordo com a quantidade de cristais e natureza da composição. A composição das porcelanas é relevante para definir as suas aplicações, sejam elas artísticas ou com indicações odontológicas, e a quantidade de feldspato, caulim e quartzo define a utilização das porcelanas/cerâmicas. As cerâmicas empregadas em procedimentos restauradores odontológicos apresentam maior conteúdo de feldspato, seguido por quartzo, o que acarreta um excelente resultado estético devido às suas propriedades óticas. Já as porcelanas utilizadas para confecção de trabalhos culturais e dispositivos domésticos além de apresentarem feldspato, apresentam um equilíbrio entre a quantidade de quartzo e caulim. O grés porcelânico e a argila, por sua vez, têm reduzida quantidade de feldspato e maior quantidade de caulim e quartzo (Figuras 2 e 3). | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 15 Figura 2 – Diagrama de fases terciário localizando as cerâmicas odontológicas e materiais de uso geral de acordo com a quantidade de feldspato, caulim e quartzo. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 3 – Exemplos de aplicações das porcelanas/cerâmicas. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 16 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 1. Qual componente adicionado às cerâmicas feldspáticas possibilitou sua utilização como material de cobertura sobre ligas metálicas (compatibilidade entre os coeficientes de expansão térmica dos dois materiais)? A) B) C) D) Alumínio. Leucita. Paládio. Dissilicato de lítio. Resposta no final do artigo 2. Qual foi a consequência das oscilações econômicas ocorridas na década de 1970 e da variação nos preços dos metais nobres nas infraestruturas de próteses fixas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 3. Qual era o objetivo dos novos sistemas cerâmicos introduzidos no mercado nas décadas de 1970-1980? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 4. Em relação aos sistemas cerâmicos introduzidos no mercado entre final do século passado e início deste século, quais foram os fatores determinantes na melhora da resistência de união química entre os materiais restauradores? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 17 5. O que define a viscosidade e a expansão térmica das cerâmicas utilizadas na odontologia? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 6. Como a porção vítrea das cerâmicas é caracterizada? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 7. Qual é a importância da composição das porcelanas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICAS Atualmente, existem variadas classificações sendo empregadas na tentativa de se dividir as cerâmicas odontológicas em diferentes categorias. Serão apresentados na sequência alguns dos tipos de classificação mais comumente utilizados, que dividem as cerâmicas odontológicas quanto a: § tipo; § conteúdo; § indicação clínica; § temperatura de sinterização. TIPOS DE CERÂMICAS As cerâmicas odontológicas podem ser divididas basicamente, quanto ao tipo, em: § cerâmicas convencionais: feldspáticas; e § cerâmicas reforçadas: leucita, dissilicato de lítio, spinel, alumina, zircônia etc. 18 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE A cerâmica feldspática foi a primeira a ser utilizada na odontologia, sendo essencialmente uma mistura de feldspato de potássio (K2OAl2O36SiO2) ou feldspato de sódio (Na2OAl2O36SiO2) com quartzo (SiO2). O feldspato é um mineral cristalino e cinza, facilmente encontrado na natureza. A composição usual da cerâmica feldspática está descrita na Tabela 1, a seguir. Tabela 1 COMPOSIÇÃO DA CERÂMICA FELDSPÁTICA Sílica 63% Alumina 17% Óxido de Boro 7% Potássio 7% Sódio 4% Outros óxidos 2% Quando o feldspato, na forma coletada da natureza, é aquecido a temperaturas entre 12001250ºC, ocorre a sua decomposição e, posteriormente, será desencadeada a fusão incongruente. Essa reação propiciará formação de uma estrutura amorfa (vidro líquido) e de uma fase cristalina constituída de leucita (K2OAl2O34SiO2). Após o resfriamento brusco da massa fundida, ocorre a manutenção do estado vítreo, constituído basicamente por sílica (SiO2). A alumina (Al2O3) é acrescentada à composição das cerâmicas feldspáticas para, junto com outros óxidos metálicos (como ferro, níquel, cobre, titânio, manganês, cobalto e estanho), promoverem a pigmentação e opacidade necessárias para o mimetismo das cores dos dentes naturais.2 A leucita também está presente nas cerâmicas feldspáticas e é relacionada à quantidade de feldspato de potássio. É utilizada em associação com outros óxidos como forma de se controlar o coeficiente de expansão térmica, tornando-o semelhante ao do material da infraestrutura, minimizando o estresse térmico residual. De acordo com sua composição, podem ser utilizadas como material de recobrimento de infraestruturas metálicas ou cerâmicas de diversos tipos (camada de opaco, corpo de dentina, dentina gengival, esmalte e esmalte | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 19 incisal), além de ser utilizada também em restaurações totalmente cerâmicas, como inlays, onlays, facetas laminadas e coroas totais, apesar das limitações para o último caso. As porcelanas feldspáticas apresentam translucidez e coeficiente de expansão térmica semelhante aos dos dentes; são resistentes à compressão e à degradação hidrolítica promovida pelos fluidos orais, além de não possuírem potencial corrosivo. No entanto, apresentam baixa resistência à tração e flexão (60MPa) e elevada dureza (Figura 4).12 Figura 4 – Coroa total em cerâmica feldspática. Fonte: Prado & Neves Odontologia. Por ser um material friável, as cerâmicas apresentam limitada capacidade de dissipação de tensões, sendo estas acumuladas nas extremidades, nos ângulos e nas fendas da restauração. As cerâmicas têm limitada capacidade de deformação quando são submetidas a forças que tendem a flexioná-las devido ao alto módulo de elasticidade. Assim, as tensões tendem a ser acumuladas no próprio material e, caso haja a presença de fendas, pode ocorrer propagação destas, levando à fratura da cerâmica. Com base no princípio de que quanto maior a quantidade de matriz cristalina, maior a resistência da cerâmica, foram então propostas as cerâmicas reforçadas, que apresentam maior proporção de fase cristalina quando comparadas com as cerâmicas convencionais. Cristais de leucita, dissilicato de lítio, alumina, spinel e zircônia são os mais comumente empregados para atuarem como agentes de reforço da fase cristalina, diminuindo a propagação de trincas nas cerâmicas quando submetidas a tensões de tração, o que aumenta, desta forma, a sua resistência.2,12 CONTEÚDO DAS CERÂMICAS As cerâmicas odontológicas podem ser também classificadas, quanto ao seu conteúdo, em: § cerâmicas vítreas: feldspáticas, leucita e dissilicato de lítio; § cerâmicas cristalinas/policristalinas: alumina, spinel e zircônia. 20 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE CERÂMICAS ALUMINIZADAS As cerâmicas feldspáticas eram as únicas aplicadas na odontologia, para confecção de próteses, até a década de 1960. Entretanto, devido à baixa resistência desse material, McLean e Hughes desenvolveram novo material pelo aumento da fase cristalina da porcelana feldspática com adição de maior conteúdo de óxidos de alumina.15 As cerâmicas aluminizadas são inicialmente indicadas para confecção de coroas em cerâmica pura. Com composição semelhante à das porcelanas feldspáticas, porém com aumento de 40% da fase vítrea com alumina (Al2O3), as cerâmicas aluminizadas tiveram a resistência à flexão praticamente duplicada (130MPa) quando comparadas às cerâmicas feldspáticas convencionais. O maior conteúdo de alumina foi responsável por diminuir a concentração de tensões no interior do material, o que normalmente ocorre durante o resfriamento, além de ocupar espaços estratégicos, impedindo, em parte, a propagação de trincas. Apesar do aumento da resistência, a inserção de alumina promoveu significante aumento da opacidade da cerâmica. Essa nova formulação foi empregada como recobrimento em lâminas de paládio com 0,5 a 1,0mm (jaquetas de porcelana), sendo posteriormente também empregada como material de cobertura sobre infraestruturas metálicas e cerâmicas. As coroas produzidas com cerâmica aluminizada eram consideradas mais estéticas do que as coroas metalocerâmicas, porém esse material não apresentava resistência suficiente para suportar áreas de alto esforço mastigatório, como nos dentes posteriores, sendo indicado apenas para aplicações na região anterior (Figura 5).2 Figura 5 – Coroas totais com recobrimento em cerâmica aluminizada. Fonte: Prado & Neves Odontologia. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 21 CERÂMICAS INFILTRADAS POR VIDRO Posteriormente à proposição das cerâmicas aluminizadas por McLean e Hughes, foi introduzido novo sistema cerâmico infiltrado por vidro com alto conteúdo de alumina visando a melhorar os problemas relacionados com a capacidade de resistir à fratura e à tenacidade – cuja resistência flexural média é de 650MPa. Sua composição consiste em duas fases tridimensionais interpenetradas: uma fase de alumina (óxido de alumínio) e uma fase vítrea (à base de lantânio), sendo sua confecção baseada em estrutura de alumina porosa que, posteriormente, é infiltrada por vidro. Como o sistema cerâmico infiltrado por vidro é ainda mais opaco do que as cerâmicas aluminizadas, ele é indicado para confecção de infraestruturas para coroas totais anteriores e posteriores, além de próteses fixas de até três elementos para a região anterior. O sistema cerâmico infiltrado por vidro apresenta três variações, de acordo com o seu principal componente de reforço, que podem ser verificadas no Quadro 1, a seguir. Quadro 1 VARIAÇÕES DO SISTEMA CÊRAMICO INFILTRADO POR VIDRO Variação Descrição Alumina (Al2O3) Apresenta conteúdo de alumina variando entre 70 e 85% com resistência flexural de 250-600 Mpa; é indicado para infraestruturas de coroas unitárias anteriores e posteriores e próteses parciais fixas de três elementos na região anterior. Alumina e zircônia (Al2O3ZrO2) É composta de cerâmica a base de alumina (30-35%) infiltrada por vidro reforçada por óxido de zircônio parcialmente estabilizado (3035%), o que proporciona maior resistência à flexão (420-700MPa), porém com opacidade semelhante à das ligas metálicas. Esse fato contraindica este material para próteses fixas na região anterior, sendo indicado para coroas unitárias e próteses parciais fixas posteriores de até três elementos. Spinel (MgAl2O4) 22 Contém espinélio de magnésio como principal fase cristalina, com traços de alfa-alumina, que proporciona melhora na translucidez da cerâmica, devido ao baixo índice de refração do aluminato de magnésio e da matriz vítrea. Apresenta resistência à flexão entre 280-380MPa, e é indicado para restaurações parciais e coroas unitárias anteriores (Figura 6).10,12,13,18 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Figura 6 – Infraestrutura em cerâmica reforçada por alumina antes e após infiltração com vidro. Fonte: Vita. CERÂMICAS REFORÇADAS POR LEUCITA Com os avanços nas formulações das cerâmicas odontológicas, foram produzidos materiais cerâmicos reforçados pelo aumento na quantidade de cristais de leucita (SiO2Al2O3K2O). Essas cerâmicas são materiais vítreos reforçados pela adição de aproximadamente 55% em peso desses cristais. A resistência flexural dessas cerâmicas pode variar entre 90 e 180MPa, o que é até três vezes superior à resistência das porcelanas feldspáticas. Devido à boa translucidez e à ausência de infraestrutura metálica, as cerâmicas reforçadas com cristais de leucita são indicadas para confecção de inlays, onlays, facetas, laminados e coroas unitárias anteriores e posteriores, alcançando excelentes resultados estéticos Entre as desvantagens das cerâmicas reforçadas por leucita, está a necessidade de alto investimento inicial para aquisição dos equipamentos especiais necessários no processamento da cerâmica (Figura 7).10,12,13,18 Figura 7 – Coroa total em cerâmica reforçada por leucita. Fonte: Prado & Neves Odontologia. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 23 CERÂMICAS REFORÇADAS POR DISSILICATO DE LÍTIO As cerâmicas vítreas reforçadas pelo acréscimo de cristais de dissilicato de lítio (SiO2Li2O) foram apresentadas em sequência e possuem cerca de 60 a 65% desses cristais em sua fase cristalina. Este sistema apresenta resistência flexural de 300 a 400MPa, podendo ser até sete vezes mais resistente quando comparado às porcelanas feldspáticas convencionais; entretanto, sua translucidez é inferior. Considerando o fator resistência do material combinado com a tenacidade a fratura, as cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio podem ser indicadas para confecção de inlays, onlays, laminados, coroas unitárias e próteses parciais fixas de três elementos até a região de 2º pré-molar. Esses materiais também podem ser empregados como infraestrutura para próteses unitárias de até três elementos, recebendo posteriormente, recobrimento com porcelanas feldspáticas compatíveis. As vantagens da utilização das cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio são: ausência de infraestrutura metálica ou opaca, boa translucidez, resistência e estética adequada. Entretanto, alto investimento inicial é requerido devido à necessidade de equipamentos especiais para seu processamento (Figura 8).10,12,13,18 Figura 8 – Coroa total em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio. Fonte: Prado & Neves Odontologia. 24 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE CERÂMICAS COM ALTO CONTEÚDO DE CRISTAIS As cerâmicas policristalinas podem ser subdivididas em reforçadas por alumina e / ou reforçadas por zircônia, categorias descritas a seguir. Cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina O óxido de alumínio foi também utilizado para desenvolvimento de sistema cerâmico policristalino com alto conteúdo de alumina pura (99,9% de Al2O3), densamente compactada e sinterizada. O grande conteúdo de alumina empregado nesse sistema faz com que ele apresente resistência à flexão variando de 450-700MPa e excelente biocompatibilidade. Cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina são indicadas para a confecção de infraestruturas para coroas unitárias anteriores e posteriores, além de infraestruturas de próteses parciais fixas de três elementos com extensão até o 1º molar. Apesar das excelentes propriedades mecânicas verificadas neste sistema cerâmico, existem limitações na sua utilização para fixação adesiva, pois os tratamentos de superfície convencionais podem não ser efetivos nessas cerâmicas devido ao reduzido conteúdo vítreo presente nelas (0,01%). Desta forma, tratamentos de superfície alternativos fazem-se necessários como forma de se obter adesão favorável às cerâmicas policristalinas (Figura 9).10,12,13,18 Figura 9 – Pilar protético e infraestrutura em cerâmica reforçada por alumina densamente sinterizada recoberta por cerâmica feldspática. Fonte: Prado & Neves Odontologia. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 25 Cerâmicas policristalinas reforçadas por zircônia Além de estar presente como reforço em alguns sistemas cerâmicos, a zircônia também passou a ser empregada na forma Y-TZP (zircônia tetragonal policristalina estabilizada com ítria), com alto conteúdo (99,5% de ZrO2). Este material foi primeiramente empregado na confecção de próteses ortopédicas e apresentou bons resultados devido às excelentes propriedades mecânicas e à sua biocompatibilidade. O óxido de ítrio (Y2O3) é associado à zircônia pura com intuito de estabilizar a fase cúbica ou tetragonal dos cristais em temperatura ambiente, obtendo-se assim um material polifásico, a zircônia estabilizada. Essa estabilização dos cristais de zircônia na fase tetragonal em temperatura ambiente possibilita a alta tenacidade à fratura da Y-TZP e resistência à flexão maior em relação aos demais sistemas cerâmicos, variando de 900 a 1200MPa. Em situações de acúmulo de tensões de tração na cerâmica, como no surgimento de trincas no material, estas podem ser contidas pela transformação de fases da zircônia. A transformação de fases da zircônia é o mecanismo no qual os cristais de forma tetragonal são convertidos para a forma monoclínica gerando aumento volumétrico localizado (3-5%) e retardando, assim, a propagação de trincas na estrutura cerâmica por meio de tensões de compressão. A zircônia foi incialmente indicada apenas para confecção de infraestruturas para coroas totais e próteses parciais fixas para as regiões anterior e posterior, necessitando ser recoberta com cerâmicas vítreas, devido à estética reduzida causada pela alta opacidade do material. Recentemente, com o aprimoramento das propriedades ópticas da Y-TZP, esse material tem sido indicado para utilização em estruturas monolíticas, ou seja, toda a prótese é confeccionada com o mesmo material. A quantidade de elementos que podem ser envolvidos numa prótese utilizando Y-TZP (Figura 10) dependerá das indicações de cada fabricante, porém existem sistemas capazes de suportar a reabilitação de praticamente todos os dentes de uma arcada em uma única peça (Ex.: 10 a 12 elementos) (Figura 11).10,12,13,18 26 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Figura 10 – Infraestrutura em cerâmica reforçada por zircônia Y-TZP com recobrimento em cerâmica feldspática. Fonte: Prado & Neves Odontologia. Figura 11 – Sistemas cerâmicos odontológicos quanto a sua composição, espessura mínima recomendada para utilização, desempenho estético e resistência. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 27 8. Quais são os principais componentes das cerâmicas feldspáticas? A) B) C) D) Quartzo e caulim. Feldspato e caulim. Feldspato e quartzo. Apenas caulim. Resposta no final do artigo 9. Como as cerâmicas odontológicas podem ser classificadas em relação ao seu conteúdo? A) B) C) D) Convencional e reforçada. Media fusão e baixa fusão. Prensada e infiltrada por vidro. Vítreas e cristalinas/policristalinas. Resposta no final do artigo 10. De acordo com a classificação das cerâmicas odontológicas em relação a seu conteúdo, assinale a alternativa que contém tipos de cerâmicas vítreas e cerâmicas cristalinas/policristalinas, respectivamente. A) Reforçada por leucita, reforçada por alumina, feldspática; e reforçada por dissilicato de lítio, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zircônia. B) Feldspática, reforçada por leucita, reforçada por dissilicato de lítio; e reforçada por alumina, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zircônia. C) Reforçada por alumina, reforçada por espinélio de MgAl (spinel), reforçada por zircônia; e feldspática, reforçada por leucita, reforçada por dissilicato de lítio. D) Feldspática, reforçada por dissilicato de lítio, reforçada por zircônia; e reforçada por leucita, reforçada por espinélio de MgAl (pinel), reforçada por alumina. Resposta no final do artigo 11. Quais são as indicações clínicas das cerâmicas vítreas reforçadas por dissilicato de lítio? A) B) C) D) Restaurações parciais e coroas totais. Coroas totais e próteses parciais fixas de até três elementos. Infraestrutura. Todas as anteriores. Resposta no final do artigo 28 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 12. O que acontece quando o feldspato, na forma coletada da natureza, é aquecido a temperaturas entre 1200-1250ºC? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 13. O que confere a pigmentação e a opacidade necessárias para mimetismo das cores dos dentes naturais? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 14. A que está relacionada a leucita presente nas cerâmicas feldspáticas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 15. Quais são as vantagens e as desvantagens das porcelanas feldspáticas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 16. Qual é a capacidade de deformação e de dissipação de tensões das cerâmicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 17. Em quais regiões da restauração é comum o acúmulo de tensões? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 29 18. Qual foi o objetivo da adição de maior conteúdo de óxidos de alumina nas cerâmicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 19. Além do aumento da resistência, o que a inserção de alumina promoveu nas cerâmicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 20. Quais são as fases tridimensionais das cerâmicas infiltradas por vidro? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 21. Qual é a contraindicação do sistema cerâmico infiltrado por vidro, alumina e zircônia? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 22. Devido a que ocorre melhora na translucidez na variação spinel do sistema cerâmico infiltrado por vidro? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 23. Qual material tem sido indicado para utilização em estruturas monolíticas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 30 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 24. Por que tratamentos de superfície alternativos fazem-se necessários na utilização das cerâmicas policristalinas reforçadas por alumina? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 25. Qual é a ação do óxido de ítrio associado à zircônia pura? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 26. Como ocorre a transformação de fases da zircônia? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ INDICAÇÃO CLÍNICA As cerâmicas odontológicas podem também ser classificadas quanto à sua indicação clínica, sendo categorizadas em materiais indicados para confecção de restaurações parciais, como inlay/onlay, facetas e laminados, coroas unitárias, próteses parciais fixas e materiais empregados para recobrimento de infraestruturas metálicas (metalocerâmicas) ou infraestruturas cerâmicas (totalmente cerâmicas) (Figura 12). | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 31 Figura 12 – Classificação das cerâmicas odontológicas de acordo com sua indicação clínica. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. O entendimento da classificação das cerâmicas quanto a sua composição é essencial para a determinação da indicação clínica dos materiais, pois esta irá depender de propriedades específicas de cada cerâmica, como: § coeficiente de expansão térmica; § resistência flexural; § tenacidade a fratura; § características ópticas (translucidez, opalescência, fluorescência etc). 32 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE FORMAS DE PROCESSAMENTO As cerâmicas odontológicas podem ainda ser categorizadas de acordo com as diferentes formas de processamento que são empregadas na confecção das restaurações indiretas. As principais técnicas utilizadas para processamento de restaurações cerâmicas são: § estratificação (condensação); § infiltração de vidro (slip-cast); § injeção/prensagem (press); ou § fresagem/usinagem (CAD-CAM). Os principais sistemas cerâmicos relacionados com suas possíveis formas de processamento estão apresentados na Figura 13.2,12,18 Figura 13 – Principais sistemas cerâmicos e suas formas de processamento. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. ESTRATIFICAÇÃO Na técnica de estratificação, modela-se o pó com líquido aglutinador (água destilada pura ou com adições de glicerina, propileno glicol ou álcool) para manter as partículas do pó cerâmico unidas. Em sequência, a pasta é colocada sobre troquel refratário ou infraestrutura pela técnica do pincel, vibração ou espatulação. A remoção do excesso de água pode ser realizada utilizando-se papel absorvente, vibração ou adição de pó seco à superfície. Estratificação consiste na aplicação da cerâmica com diferentes opacidades (opaco, dentina, esmalte, translúcido etc.) e saturações de cor em camadas sucessivas por meio da condensação. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 33 Na etapa de sinterização, a cerâmica deve passar pelo processo de secagem, por três a cinco minutos com temperatura inicial de 650ºC (média), para então ser inserida no forno programado até atingir a temperatura de 960º (variável de acordo com o fabricante), preferencialmente em ambiente com vácuo. Após a sinterização, o volume da cerâmica sofre contração de aproximadamente 30%, devido à perda de água durante a secagem e densificação. Atualmente, esta forma de processamento ainda é a mais amplamente utilizada nos laboratórios de prótese, sendo empregada principalmente na aplicação de cerâmicas feldspáticas (Figura 14).2,12,18 A remoção do excesso de água na entrada do forno deve ser lenta para evitar a geração de vapor, que pode levar à formação/encapsulação de bolhas. Figura 14 – Estratificação de cerâmica feldspática de recobrimento sobre infraestrutura cerâmica. Fonte: Vita. CERÂMICAS INFILTRADAS POR VIDRO O processamento dos sistemas cerâmicos infiltrados por vidro, também conhecidos como slip-cast ou fundição por suspensão, é aplicado aos exemplos comerciais In-Ceram (Vita Zahnfabrik, Bad Säckingen, Alemanha). Neste método, a infraestrutura cerâmica composta apenas pela fase cristalina é esculpida em um troquel por meio da técnica do pó e líquido, tendo então uma sinterização parcial da cerâmica. Em seguida, por meio da técnica de infiltração de vidro, uma matriz vítrea (à base de óxido de lantânio) é inserida e sinterizada sobre a estrutura ainda porosa, com a posterior remoção dos excessos de vidro, o que resulta em uma infraestrutura finalizada. Esse método permite a infiltração de partículas de vidro em materiais com a fase cristalina composta de alumina, espinélio de magnésio-alumina ou zircônia. Essas infraestruturas devem então ser recobertas com cerâmicas feldspáticas que possuam coeficiente de expansão térmica compatível com o das cerâmicas infiltradas por vidro, para posterior aplicação do glaze e finalização da restauração (Figura 15).2 34 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Figura 15 – Sequência de confecção de infraestrutura pela técnica slip-cast: Infraestrutura porosa antes e após sinterização, seguido de infiltração de vidro e remoção dos excessos. Fonte: Vita. CERÂMICAS PRENSADAS Os sistemas cerâmicos prensados baseiam-se na técnica da cera perdida, na qual um padrão de cera ou resina acrílica com o formato da restauração é incluído em revestimento refratário e, em seguida, é eliminado em forno com alta temperatura. Desta forma, espaço adequado é deixado no revestimento para receber a cerâmica, que será posicionada na forma de pastilhas (lingotes) e posteriormente submetida à alta temperatura e pressão em forno especial para ser injetada no molde, preenchendo assim o espaço existente no interior do revestimento e dando forma à restauração indireta (Figura 16). Figura 16 – Confecção de laminados cerâmicos pela técnica da prensagem. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 35 A técnica das cerâmicas prensadas amenizou o problema de elevada contração que ocorre durante o processo de sinterização, comum para as porcelanas feldspáticas, devido à alta pressão de injeção da cerâmica no molde em alta temperatura. Essa técnica permite variação de volume apenas durante o resfriamento, a qual é controlada com a expansão adequada do revestimento.2,18 CERÂMICAS USINADAS OU FRESADAS A usinagem ou fresagem das cerâmicas (CAD-CAM) é uma forma de processamento na qual os materiais cerâmicos são produzidos pelos fabricantes na forma de lingote ou bloco cerâmico, que pode estar no estado verde (não sinterizado), parcialmente sinterizado ou completamente sinterizado. É também conhecida como CAD-CAM (Computer-Aided Design e Computer-Aided Manufacturing), ou seja, é um projeto assistido por computador, seguido de fabricação assistida por computador. Apesar de ser um método estabelecido há mais de 50 anos na engenharia e há cerca de 30 na odontologia, somente nos últimos anos o CAD-CAM vem sendo empregado com maior frequência na prática clínica, pois o avanço dos computadores, softwares e da robótica, além do aprimoramento dos biomateriais, permitiu que profundos avanços fossem obtidos com essa forma de processamento. Todos os sistemas CAD-CAM odontológicos levam em consideração três etapas principais: § digitalização; § concepção da restauração; § usinagem. A digitalização pode ocorrer pela captação da imagem do preparo diretamente da cavidade oral ou a partir do modelo de gesso com auxílio de uma microcâmera ou scanner a laser. Em seguida, em software interligado ao scanner/câmera, a imagem é processada pela unidade CAD, para que seja possível o planejamento e concepção da restauração. Por último, o projeto da restauração é então enviado a uma unidade fresadora, na qual é executada a confecção da restauração por usinagem de blocos cerâmicos pré-fabricados. Após esta etapa, comumente as restaurações cerâmicas produzidas devem passar por processo de sinterização ou cristalização, dependendo do material cerâmico escolhido, e em seguida as mesmas são maquiadas (staining) como forma de melhorar as propriedades ópticas e a estética das restaurações. Esse sistema tem como principal vantagem a possibilidade de confecção de restaurações totalmente cerâmicas em seção única e como maior desvantagem o alto investimento inicial para aquisição dos equipamentos (Figura 17).2,18,19 36 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Figura 17 – Confecção de prótese parcial fixa pelo sistema CAD-CAM. Fonte: Prado & Neves Odontologia. As restaurações produzidas com os sistemas Procera (AllCeram e AllZircon), também são confeccionadas empregando-se tecnologia CAD-CAM, porém com um processo diferenciado, no qual os pilares são escaneados indiretamente com scanner a laser nos modelos de trabalho gerados a partir dos moldes obtidos pelo profissional por moldagem convencional. Isso possibilita geração de arquivos com modelos tridimensionais dos troquéis, que são então enviados a uma das fábricas do sistema (Suécia ou Estados Unidos). Na linha de produção são gerados troquéis de tamanho aumentado para compensar a contração das infraestruturas confeccionadas em cerâmica densamente sinterizada. Após o processamento, as infraestruturas são checadas em troquéis com o tamanho original do preparo e, posteriormente, são enviadas ao laboratório de origem que realizou o escaneamento dos modelos para serem entregues ao profissional e checadas nos pilares protéticos do paciente. Por último, após moldagem de transferência (moldagem para remontagem), é realizada aplicação da cerâmica de cobertura pela técnica da estratificação.2,18 TEMPERATURA DE SINTERIZAÇÃO Por último, as cerâmicas odontológicas podem também ser classificadas de acordo com seu ponto de fusão, conforme pode ser verificado no Quadro 2, a seguir. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 37 Quadro 2 CLASSIFICAÇÃO DAS CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS CONFORME PONTO DE FUSÃO Classificação Temperatura de sinterização Descrição Alta fusão Superior a 1300ºC Normalmente utilizada para confecção de dentes para próteses removíveis, infraestruturas cerâmicas de alumina ou zircônia totalmente sinterizados. Média fusão Entre 1101 a 1300ºC Utilizada para confecção de dentes para próteses removíveis, para obtenção de blocos de zircônia pré-sinterizada ou para prensagem. Baixa fusão Entre 850 a 1100ºC Indicada para recobrimento de infraestruturas metálicas e cerâmicas, prensagem ou confecção de infraestruturas cerâmicas. Inferior a 850ºC Temperatura inferior a 850ºC devido à redução da quantidade de leucita e/ou por apresentar cristais de leucita mais finos, resultando em uma cerâmica com menor potencial abrasivo, o que irá preservar a microestrutura da cerâmica e promover resistência similar à cerâmica de média fusão. Desenvolvida para utilização em recobrimentos de estruturas em titânio ou ouro, deve ser aplicada por técnica de condensação/estratificação. Ultrabaixa fusão 27. Quais são as principais formas disponíveis para processamento das cerâmicas odontológicas? A) B) C) D) Cocção, sinterização, usinagem, prensagem. Estratificação, slip-cast, prensagem, usinagem. Sinterização, prensagem, cauterização, cocção. Estratificação, usinagem, cocção, sinterização. Resposta no final do artigo 38 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 28. As cerâmicas odontológicas podem ser classificadas de acordo com a temperatura necessária para sua sinterização. Assinale a alternativa que apresenta o ponto de fusão das cerâmicas de alta, média, baixa e ultrabaixa fusão, respectivamente. A) B) C) D) 850 a 1100º C, <850º C, 1101 a 1300º C, >1300º C. <850º C, 1101 a 1300º C, >1300º C, 850 a 1100º C. <850º C, 850 a 1100º C, 1101 a 1300º C, >1300º C. >1300º C, 1101 a 1300º C, 850 a 1100º C, <850º C. Resposta no final do artigo 29. Atualmente, qual é a forma de processamento das cerâmicas mais utilizada nos laboratórios de prótese? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 30. Na técnica de estratificação, por que a remoção do excesso de água na entrada do forno deve ser lenta? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 31. Como funciona a técnica da cera perdida? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 32. Qual problema a técnica das cerâmicas prensadas amenizou? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 39 33. Quais são as três etapas principais que os sistemas CAD-CAM odontológicos levam em consideração? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 34. Por que razão as cerâmicas usinadas são maquiadas (staining)? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PREPAROS PROTÉTICOS Um dos fatores determinantes para o sucesso das restaurações totalmente cerâmicas está relacionado com a qualidade dos preparos protéticos. Estes devem fornecer espaço suficiente para que o material restaurador preserve suas propriedades mecânicas e não interfira na oclusão e contorno dos dentes. A indicação e aplicação dos sistemas cerâmicos odontológicos devem ser pautadas no atendimento das necessidades de cada material para obter o melhor de suas propriedades. Portanto, deve-se ter atenção especial no planejamento de cada caso e nos detalhes que devem ser respeitados durante a realização dos preparos dos pilares protéticos. De maneira geral, os preparos totais para restaurações em cerâmica pura devem propiciar, no mínimo, 1,0-1,5mm de espessura nas faces axiais; 1,5-2,0mm na região incisal (área funcional) para os dentes anteriores; e 1,5-2,0mm nas faces axiais e oclusais (área funcional) dos dentes posteriores, com primeira inclinação de até 5º e segunda inclinação de até 10º (Figuras 18A-B). 40 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Figura 18 – Características desejáveis para preparos totais envolvendo restaurações totalmente cerâmicas na região anterior. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 19 – Características desejáveis para preparos totais envolvendo restaurações totalmente cerâmicas na região posterior. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Uma exceção à regra existe para as restaurações confeccionadas apenas em cerâmica feldspática, que devem ter espessura mínima de 2,0mm em todas as paredes devido à baixa resistência desse material. Os preparos parciais devem seguir as mesmas indicações quanto aos ângulos internos e externos. A região cervical deverá preferencialmente apresentar término em ombro reto com ângulo axiogengival arredondado, e todos os ângulos do preparo devem ser suavizados e arredondados como forma de minimizar o acúmulo de tensões nas restaurações cerâmicas. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 41 LONGEVIDADE – RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS O contínuo desenvolvimento de sistemas cerâmicos para aplicações odontológicas, associado ao crescente interesse de profissionais e pacientes por restaurações totalmente cerâmicas, levou à popularização e à utilização em larga escala desses materiais na prática clínica. Assim, a longevidade dessas restaurações livres de infraestruturas metálicas tem sido continuamente verificada em várias avaliações clínicas retrospectivas e prospectivas ao longo dos últimos anos. Esses dados são importantes para se avaliar a efetividade de diferentes estratégias de tratamento envolvendo esses materiais. Um ponto de consenso entre os estudos clínicos disponíveis na literatura é que o sucesso na aplicação das restaurações em cerâmica pura é totalmente dependente da habilidade do clínico na seleção do material e nas formas de processamento e procedimentos de cimentação/fixação adesiva, adequados para cada condição clínica e necessidades estéticas.10 A complicação clínica mais comumente relatada resultando na falha de restaurações totalmente cerâmicas está relacionada à fratura da porcelana de cobertura e/ou da infraestrutura.20-37 Assim, o sucesso dessas restaurações é intimamente dependente da prevenção de falhas por meio da retardação da propagação de trincas.38-41 O emprego de sistemas totalmente cerâmicos para confecção de próteses parciais fixas tem limitações e, por isso, o diagnóstico correto e a adequada seleção de pacientes são fatores críticos para o sucesso dessas restaurações. Um parâmetro que deve ser levado em consideração para a maioria dos sistemas cerâmicos baseia-se na necessidade de uma altura mínima dos conectores de uma prótese parcial fixa. Estes devem apresentar de 3 a 4mm da papila interproximal até a crista marginal.21,31,37,42-45 Dessa forma, a maximização da altura e largura dos conectores está na base para a concepção adequada das próteses fixas em cerâmica pura. Essas próteses podem ser contraindicadas quando se tem espaço interoclusal reduzido, como nos casos de: 21,43,46 § coroas clínicas curtas; § trespasse vertical profundo; § dente antagonista extruído; § cantilevers; § pilares periodontalmente comprometidos; § pacientes com bruxismo ou atividades parafuncionais severas. 42 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE As causas das falhas dessas restaurações podem ser diversas, como: § fratura do conector em próteses com infraestruturas à base de alumina,31,35,36 ou dissilicato de lítio;21,27 § fratura coesiva da porcelana de cobertura nas próteses com infraestruturas reforçadas por zircônia.47,48 Em paralelo, as falhas mais comumente relacionadas com próteses parciais fixas metalocerâmicas estão relacionadas com fraturas ou cáries nos dentes pilares.49,50 Um fato comum verificado nos estudos que avaliam a longevidade de restaurações totalmente cerâmicas é que a fratura da porcelana de cobertura e/ou da infraestrutura cerâmica apresenta-se como a complicação maior e mais comumente relatada como motivo para substituição das restaurações.21-23,25-31,33-37,51 Entre os fatores descritos como motivos para substituição dessas restaurações constam:24,25,27,30,32,52 § cáries; § necessidade de tratamento endodôntico; § fraturas radiculares. As complicações menores, que não requerem substituição da prótese, mais comumente descritas foram:29,30,32,34,53,54 lascamentos/fissuras limitados à porcelana de cobertura, seguido por necessidade de tratamento endodôntico e posteriormente pelo deslocamento da prótese (relacionado à cimentação) e cáries. A literatura mostra que, nos casos em que pequenas fraturas coesivas da cerâmica de cobertura não impuseram substituição completa das próteses em cerâmica pura, foi realizado apenas o polimento da superfície dessas restaurações,22,23,30 ou o devido reparo utilizando-se resinas compostas.32,37 Os acessos para realização de tratamentos endodônticos também foram restaurados de maneira direta empregando resinas compostas.23,32,37,47 Além disso, esses estudos demonstram que as cáries identificadas nas áreas marginais são normalmente escavadas e também restauradas com resinas compostas.36,53,54 De maneira geral, as taxas de sobrevivência global das restaurações totalmente cerâmicas variam entre 88 a 100% após 2 anos em serviço,21-23,28,34,35,37,47,48,51,52,54 e entre 84 a 97% após 5 a 14 anos em função.24-26,29-33,36 Porém existem diferenças nas taxas de sobrevivência observadas para essas restaurações quando se avalia cada sistema cerâmico isoladamente (Tabela 2). | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 43 Tabela 2 TAXA DE SOBREVIVÊNCIA DAS RESTAURAÇÕES DE ACORDO COM O SISTEMA CERÂMICO Cerâmica reforçada Exemplo comercial Sobrevivência (%) Tempo médio em função (anos) Referências Leucita IPS Empress Esthetic 90,9 3,6 24,25,34 Dissilicato de lítio IPS e.max 90,7 2,5 21,27,37 Al2O3 infiltrado por vidro In-Ceram Alumina 93,5 3,9 28,31,35,36,54 MgAl2O4 infiltrado por vidro In-Ceram Spinell 98,7 3,7 22,51 Al2O3 + ZrO2 infiltrado por vidro In-Ceram Zirconia 94,5 3 52 Alumina densamente sinterizada Procera AllCeram 95,7 4 23,29,30 Zircônia Y-TZP Lava Zircônia 100 2,3 47,48 Em resumo, observou-se que as restaurações em cerâmica pura apresentam longevidade clínica aceitável, associada à manutenção de características estéticas adequadas por longos períodos de tempo. A evidência sugere que, para restaurações intracoronárias, laminados, facetas e coroas unitárias, o clínico pode escolher entre qualquer um dos sistemas cerâmicos disponíveis para restaurações totalmente cerâmicas, baseando-se apenas nas questões estéticas, pois muitos sistemas apresentam taxa de sobrevivência superior a 90% após seis anos em função.55 Evidência razoável demonstrou a eficácia de próteses parciais fixas de até três elementos, na região anterior, confeccionadas com cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio, alumina ou zircônia. Porém, para próteses parciais de três elementos ou mais, que envolvem molares como pilares, a literatura sugere que apenas os sistemas reforçados por zircônia Y-TZP sejam empregados para essas regiões. Apesar dos vários avanços obtidos com as cerâmicas de cobertura para restaurações com infraestruturas em zircônia atualmente, o lascamento do recobrimento dessas restaurações ainda figura como importante processo de falha.55-57 44 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE PROTOCOLOS PARA TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE E FIXAÇÃO O sucesso clínico das restaurações totalmente cerâmicas é altamente dependente dos processos de fixação, os quais variam de acordo com a composição dos sistemas cerâmicos.58 A interação dos agentes de fixação com a superfície interna das cerâmicas ocorre basicamente por dois mecanismos: § adesão mecânica (retenção micromecânica); § adesão química (ligações químicas). O tratamento da superfície interna das restaurações cerâmicas é um passo importante, anterior ao processo de fixação, pois valores reduzidos de resistência de união são observados em superfícies cerâmicas não tratadas. A alteração da topografia de superfície das cerâmicas promove maior retenção micromecânica dos agentes de fixação e, no caso das cerâmicas vítreas, a exposição da rede de sílica permite também a união química com o cimento resinoso por meio de um agente de união bifuncional (Silano). Entretanto, o protocolo do tratamento de superfície das restaurações produzidas com os diferentes sistemas cerâmicos disponíveis é dependente da composição do material restaurador, sendo modulado de acordo com o tipo de material.5 O tratamento químico da superfície interna das cerâmicas vítreas com ácido fluorídrico é necessário para promover alteração morfológica da fase vítrea, criando topografia com aspecto de colmeia.5,59 O condicionamento da superfície é gerado pela reação do ácido fluorídrico com a sílica presente nessas cerâmicas; portanto, o tempo de aplicação deste ácido tem relação direta com a quantidade de sílica presente em cada cerâmica. Este fato, mais uma vez demonstra a necessidade de se conhecer a composição das cerâmicas utilizadas, e por consequência, o protocolo de tratamento de superfície, que é determinante no sucesso reabilitador.5,58 O emprego de cimentos resinosos na fixação de restaurações totalmente cerâmicas é indicado pelas inúmeras vantagens inerentes a esses materiais, que são, entre outras: § a adesão à estrutura dental hibridizada; § a menor solubilidade no meio oral; § a adesão às superfícies tratadas das restaurações. Alguns estudos propuseram que as restaurações em cerâmica pura, principalmente as mais resistentes (policristalinas), poderiam ser fixadas utilizando-se cimentos convencionais, como o cimento à base de fosfato de zinco, cimentos ionoméricos etc.60 | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 45 Entretanto, a reação ácido-base que ocorre durante a presa desses materiais gera uma tendência em exacerbar as falhas de superfície das restaurações cerâmicas, devido à alta acidez desses cimentos.61 Além disso, os cimentos convencionais são mais suscetíveis a degradação hidrolítica, o que pode iniciar fissuras que facilitariam a propagação de trincas pela restauração cerâmica. Por fim, a fixação convencional é mais dependente da retenção macromecânica do que a fixação adesiva (138 – Conrad, 2007).20 Apesar das restaurações baseadas em zircônia não exigirem uma interface adesiva para sua retenção,44 a fixação adesiva pode ser vantajosa pelos motivos descritos previamente. Visando simplificar os procedimentos de fixação das próteses produzidas em cerâmica pura, este artigo traz a compilação dos tratamentos de superfície e fixação mais comumente indicados pela literatura de acordo com cada um dos materiais cerâmicos discutidos (Quadro 3).5 Quadro 3 COMPOSIÇÃO DAS CERÂMICAS E PROTOCOLOS PARA TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE Material restaurador Composição Tratamento de superfície Cerâmica feldspática Noritake NX3: SiO2, K2O, Al2O3, 6SiO2 Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 120 a 150s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimentos resinosos (fotoativado; dual; químico)* Duceram: SiO2, Na2O, Al2O3, 6SiO2 Cerâmica reforçada por leucita 46 IPS Empress Esthetic: SiO2, Al2O3, K2O, Na2O, CeO2, outros óxidos Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimento resinoso (fotoativado; dual; químico)* RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Material restaurador Composição Tratamento de superfície Cerâmica reforçada por dissilicato de lítio IPS e.max Press: SiO2, Li2O, Al2O3, La2O3, MgO, P2O5, ZnO, K2O Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 20s; remoção do excesso de ácido e limpeza em cuba ultrassônica por 3min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimento resinoso (fotoativado; dual; químico)* Cerâmica infiltrada por vidro reforçada por alumina / spinel / alumina + zircônia In-Ceram Alumina: Al2O3, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidos In-Ceram Spinell: MgAl2O4, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidos In-Ceram Zirconia: Al2O3, ZrO2, La2O3, SiO2, CaO, outros óxidos Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico) Cerâmica densamente Procera AllCeram: Al2O3 sinterizada reforçada por alumina Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 30-110µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico) | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 47 Material restaurador Composição Tratamento de superfície Cerâmica reforçada por zircônia Y-TZP Lava Zircônia: ZrO2, Y2O3 Opção 1: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; Opção 2: Jateamento com partículas de Al2O3 de 50µm revestidas por SiO2 por 15s; limpeza em cuba ultrassônica por 1min; Aplicação de agente de união bifuncional (Silano). Cimentação: cimento resinoso autoadesivo ou contendo monômeros fosfatados (dual; químico) * Dependente da aplicação a que a restauração indireta se destina. 35. No tratamento de superfície de cerâmicas odontológicas vítreas, o tempo de condicionamento com ácido fluorídrico pode variar de acordo com o tipo de material devido ao conteúdo de: A) B) C) D) alumina. dissilicato de lítio. sílica. zircônia. Resposta no final do artigo 48 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 36. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas feldspáticas? A) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 120s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. B) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. C) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. D) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 120s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso; Resposta no final do artigo 37. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas reforçadas por leucita? A) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. B) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 20s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. C) Condicionamento com ácido fosfórico 32-37% por 20s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. D) Condicionamento com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza, banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento resinoso. Resposta no final do artigo | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 49 38. Qual é o protocolo para tratamento da superfície interna e fixação das restaurações cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio? A) Condicionamento com ultrassônica por 3min, resinoso. B) Condicionamento com ultrassônica por 3min, resinoso. C) Condicionamento com ultrassônica por 3min, resinoso. D) Condicionamento com ultrassônica por 3min, resinoso. ácido fosfórico 32-37% por 60s, limpeza, banho em cuba secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento ácido fluorídrico 5-10% por 20s, limpeza, banho em cuba secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento ácido fluorídrico 5-10% por 60s, limpeza, banho em cuba secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento ácido fosfórico 32-37% por 40s, limpeza, banho em cuba secagem, aplicação de agente de união Silano e cimento Resposta no final do artigo 39. Em que se deve pautar a indicação e a aplicação dos sistemas cerâmicos? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 40. De maneira geral, quais são as medidas mínimas de espessura que os preparos totais para restaurações em cerâmica pura devem propiciar? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 41. Qual é o consenso entre os estudos clínicos disponíveis na literatura em relação ao sucesso na aplicação das restaurações em cerâmica pura? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 50 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE 42. Qual é a complicação clínica mais comumente relatada sobre as restaurações totalmente cerâmicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 43. Quais são as ações descritas na literatura para os casos nos quais pequenas fraturas coesivas da cerâmica de cobertura não impuseram substituição completa das próteses em cerâmica pura? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 44. Atualmente, apesar dos vários avanços obtidos com as cerâmicas de cobertura para restaurações com infraestruturas em zircônia, o que ainda figura como um importante processo de falha? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 45. Quais são as vantagens do emprego de cimentos resinosos na fixação de restaurações totalmente cerâmicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ CASOS CLÍNICOS Na sequência, serão descritos quatro casos clínicos envolvendo a utilização de restaurações totalmente cerâmicas para melhor entendimento quanto a seleção do sistema cerâmico, formas de preparo, tratamento de superfície das restaurações, fixação adesiva, ajustes oclusais e polimento. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 51 CASO CLÍNICO 1 Paciente adulto, gênero masculino, procurou atendimento por estar insatisfeito com a estética do seu sorriso. Após realização de exame clínico, identificou-se faceta em resina composta no dente 11. Este elemento apresentava alteração de cor devido a tratamento endodôntico prévio, e a restauração direta não foi capaz de mascarar o substrato escurecido (Figura 20). Figura 20 – Aspecto inicial do sorriso do paciente, enfatizando a alteração cromática e a restauração em resina composta insatisfatória. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. Após exame radiográfico, verificou-se tratamento endodôntico satisfatório e nenhuma alteração periapical. Devido à alteração de cor do substrato e à perda de estrutura palatina após o acesso endodôntico, indicou-se preparo para coroa total em cerâmica e confecção de restauração indireta em cerâmica reforçada por leucita. O preparo para coroa total foi iniciado pela separação interproximal do dente 11 (1,0mm em cada face) utilizando ponta diamantada #2200 (KG Sorensen, São Paulo, SP), seguido da confecção de canaleta de orientação na região cervical com ponta diamantada #1014G. Essa canaleta foi realizada com o instrumento rotatório inclinado em 45º em relação ao longo eixo do dente e com profundidade de 0,9mm. Na sequência foram realizados três sulcos de orientação na face vestibular no sentido cérvico-incisal, considerando as três inclinações desta face (#2135G) com profundidade de 1,2mm. Posteriormente, esses sulcos de orientação foram unidos com ponta diamantada #4147G. Para orientação do desgaste na concavidade palatina, foram realizados pontos de desgaste com 0,7mm de profundidade com ponta #1014G. Em seguida, com o instrumento rotatório #3118G, o preparo foi realizado na concavidade palatina. A redução incisal foi realizada com a ponta diamantada #2135G e o preparo foi refinado com pontas diamantadas de granulação fina e extrafina (Figuras 21A-D). 52 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE A B C D Figura 21 – A-C) Sequência do preparo protético para coroa total em cerâmica reforçada por leucita. D) – Preparo finalizado com ângulos internos arredondados e cavossuperficial reto. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. Após a inserção de fio afastador (#000, Ultrapack, Ultradent, South Jordan, UT, USA), procedeu-se à moldagem empregando-se silicone por adição (Figura 22A) e, em seguida, seleção da cor e confecção de restauração indireta provisória, utilizando-se faceta obtida de dente de estoque. O molde foi enviado ao ceramista, e a restauração foi confeccionada em cerâmica vítrea reforçada por cristais de leucita (IPS Empress Esthetic, Ivoclar Vivandent, Schaan, Liechtenstein) na cor A1 (Figura 22B). A B Figura 22 – A) Moldagem com silicone por adição. B) Coroa total confeccionada em cerâmica reforçada por leucita, cor A1. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 53 O tratamento da superfície interna da cerâmica foi realizado utilizando-se condicionamento com ácido fluorídrico 10% (Condicionador de porcelanas, Ângelus, Londrina, PR) por 60 segundos, sendo a restauração posteriormente lavada e seca. Em seguida, aplicou-se ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionou-se por 60 segundos para remoção dos cristais precipitados (*Este procedimento produz efeitos equivalentes à limpeza da peça em cuba ultrassônica por 3min). Após esse tempo, a prótese foi lavada com jatos de ar/água por 60 segundos e secada com jatos de ar. O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização. O campo operatório foi isolado de maneira relativa e se realizou profilaxia do preparo com soro e pedra pomes. Após a hibridização do substrato dentário com sistema adesivo convencional de três passos (Scotch Bond Multiuso, 3M-ESPE, St. Paul, MN, USA), o cimento resinoso de ativação física (fotoativado) (RelyX Veneer, 3M-ESPE, A1) foi aplicado na superfície interna da prótese, e esta foi então adaptada ao preparo com pressão digital (Figura 23A). A B C D Figura 23 – A) Inserção de cimento resinoso fotoativado no interior da coroa cerâmica. B) Remoção do excesso de cimento com auxílio de um pincel; C) fotoativação de cada face por 60 segundos; D) aspecto final do sorriso do paciente. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. 54 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Após a remoção dos excessos de cimento resinoso extravasado (Figura 23B), cada face da restauração foi fotoativada por 60 segundos com aparelho LED (Radi-Call, SDI, Austrália) com potência de 1200 mW/cm² (Figura 23C). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de lateralidade e protrusão. Foram realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com borrachas abrasivas de granulação fina e extrafina (Figura 23D). CASO CLÍNICO 2 Paciente adulto jovem, gênero masculino, foi encaminhado por ortodontista por estar insatisfeito com o aspecto de seu sorriso. Após realização do exame clínico, identificou-se que estava em fase de conclusão de tratamento ortodôntico e que seria necessário procedimento restaurador para fechamento dos diastemas remanescentes (Figura 24). Figura 24 – Aspecto inicial do sorriso do paciente, enfatizando a presença de diastemas. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. Após exame radiográfico, verificou-se que todos os dentes estavam hígidos. Para alteração da estética do sorriso do paciente, optou-se pela utilização de preparos minimamente invasivos e confecção de restaurações indiretas em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio (laminados cerâmicos). | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 55 Para este procedimento, um planejamento rigoroso e detalhista deveria ser executado. Portanto, realizou-se o planejamento digital do sorriso do paciente (Figura 25A) e, com base nos resultados deste método, a simulação das restaurações foi encerada em modelo de estudo (Figura 25B). Para maior previsibilidade, tanto para a equipe executora quanto para o paciente, o ensaio restaurador (mock-up) foi elaborado em resina bis-acrílica utilizando-se como referência guia (matriz) obtido em silicone por adição no modelo de estudo com o enceramento (Figura 25C). A B C Figura 25 – AspectoPlanejamento reverso: A) Planejamento digital do sorriso. B) Enceramento (wax-up). C) Ensaio restaurado r (mock-up). Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. O preparos minimamente invasivos foram realizados somente em esmalte nos dentes 13 ao 23, empregando-se ponta diamantada #2135 de granulação fina (KG Sorensen) em alta rotação (Figuras 26A-C). Os preparos são mínimos e visam ao arredondamento de ângulos agudos e ao aumento da expulsividade do dente, além de facilitar o eixo de inserção do laminado e exposição do esmalte subsuperficial. A B Figura 26 – A-C) – Confecção de preparos minimamente invasivos, realizado com ponta diamantada #2135 de granulação fina somente em esmalte. C 56 Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Foi realizada moldagem com silicone por adição e, em seguida, seleção da cor. O molde foi enviado ao ceramista, e as restaurações foram confeccionadas em cerâmica vítrea reforçada por cristais de dissilicato de lítio (IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent) na cor A1. Devido à espessura mínima dos laminados, o teste com simulação da cor do cimento resinoso a ser empregado é muito relevante (Try-in). Para tratamento da superfície interna das restaurações cerâmicas, foi utilizado condicionamento com ácido fluorídrico 10% (condicionador de porcelana, Ângelus) por 20 segundos (Figura 27A), sendo a restauração posteriormente lavada para remoção do excesso de ácido. Em seguida, aplicou-se ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionou-se por 60 segundos para remoção dos cristais precipitados (Figura 27B). O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização (Figura 27C). A B C Figura 27 – Tratamento de superfície de cerâmica reforçada por dissilicato de lítio: A) Aplicação de ácido fluorídrico 10% por 20 segundos. B) Aplicação e fricção de ácido fosfórico 37% por 60 segundos. C) Aplicação ativa de agente de união Silano, aguardando 60 segundos para volatilização. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. O procedimento de aplicar ácido fosfórico a 37% (Ângelus) e friccionar por 60 segundos para remover cristais precipitados produz efeitos equivalentes à limpeza da peça em cuba ultrassônica por 3min). O campo operatório foi isolado de maneira relativa, e foi realizada profilaxia dos dentes preparados com soro e pedra pomes. O cimento resinoso de ativação física (fotoativado) (RelyX Veneer, 3M-ESPE, A1) foi aplicado nas superfícies internas dos laminados, e estes foram levados em posição nos preparos já hibridizados. Após a remoção do excesso de cimento extravasado, cada face foi fotoativada por 60 segundos com | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 57 aparelho LED (Radi-Call, SDI) com potência de 1200mW/cm² (Figura 28). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de lateralidade e protrusão; foram realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com borrachas abrasivas de granulação fina e extrafina. Figura 28 – Aspecto final do sorriso do paciente. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. CASO CLÍNICO 3 Paciente adulto jovem, gênero masculino, procurou atendimento por estar insatisfeito com o aspecto de uma restauração posterior. Após realização de exame clínico, foram identificadas restaurações em amálgama no dente 46. Ambas as restaurações estavam insatisfatórias por apresentarem margens deficientes, infiltrações e fraturas. Após exame radiográfico, verificou-se que este elemento apresentava-se com tratamento endodôntico satisfatório (Figura 29A). A B Figura 29 – Aspecto inicial do dente 36: A) Restaurações em amálgama insatisfatórias. B) Remanescente dentário após a remoção da restauração e de tecido cariado. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. 58 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE O material restaurador e o tecido cariado foram removidos, possibilitando a avaliação do remanescente dentário integro. Apesar da presença de cúspides linguais quase íntegras, a face vestibular exibia trincas no plano horizontal e longitudinal. A combinação das trincas com a cavidade em orifício, consequente da restauração vestibular, tornou a cúspide vestibular frágil (Figura 29B), indicando preparo para prótese fixa parcial posterior (onlay) e confecção de restauração indireta em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio. Após a confecção do núcleo de preenchimento em resina composta nano-híbrida (Figura 30A), foi realizado preparo para restauração indireta tipo onlay, iniciando-se com a separação interproximal com ponta diamantada #2200 (KG Sorensen) (Figura 30B). Na sequência, com a ponta diamantada #3131, realizou-se a abertura da caixa oclusal e, posteriormente, a definição das caixas proximais, com aproximadamente 1mm de profundidade (Figura 30C). Devido à fragilidade do remanescente vestibular, as cúspides desta face foram envolvidas pelo preparo com as pontas diamantadas #2135G. O término do preparo na vestibular foi estendido apicalmente devido às trincas nessa região. A B C D Figura 30 – A) Confecção do núcleo de preenchimento em resina composta. B e C) Sequência de preparo para restauração tipo onlay em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio. D) Aspecto final do preparo. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 59 A redução oclusal foi realizada com a ponta #2135G, com desgaste de aproximadamente 1,5mm, envolvendo a região em que previamente situava-se restauração em amálgama (Figura 30D). O refinamento do preparo foi realizado com pontas diamantadas de granulação fina (#2135F). Foi realizada moldagem com silicone por adição e, em seguida, seleção da cor e confecção de restauração provisória utilizando técnica da resina esculpida. O molde foi enviado ao ceramista, e a restauração foi confeccionada em cerâmica vítrea reforçada por cristais de dissilicato de lítio cor A2 (IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent). Para tratamento da superfície interna da cerâmica, foi utilizado condicionamento com ácido fluorídrico 10% (Condicionador de porcelanas, Ângelus) por 20 segundos, sendo a restauração posteriormente lavada e seca. Em seguida, a peça foi limpa em cuba ultrassônica por 3min e seca. O agente de união Silano foi aplicado com fricção ativa e se aguardou 60 segundos para a sua volatilização. O campo operatório foi isolado de maneira absoluta e foi realizada profilaxia do preparo com soro e pedra pomes. Cimento resinoso autoadesivo de presa dupla (RelyX U200, 3M-ESPE) foi aplicado na superfície do preparo e na superfície interna da prótese, que foi levada ao preparo (Figuras 31A-B). A B Figura 31 – A) Inserção de cimento resinoso autoadesivo no preparo e interior da onlay cerâmica. B) Adaptação da prótese ao preparo e estabilização por 5 minutos previamente à fotoativação. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. 60 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Após a remoção do excesso do cimento extravasado, aguardou-se 5 minutos, e cada face foi então fotoativada por 60s com aparelho LED (Radi-Call, SDI) com potência de 1200mW/cm² (Figuras 32A-B). Os contatos oclusais foram verificados em máxima intercuspidação e nos movimentos de lateralidade e protusão, sendo realizados os ajustes necessários e posterior polimento da restauração com borrachas abrasivas de granulação fina e extrafina. A B Figura 32 – A e B) Aspecto final de onlay confeccionada em cerâmica reforçada por dissilicato de lítio. Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. Fonte: Arquivo de imagens do Dr. Paulo Vinícius Soares. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 61 Paciente adulto, gênero masculino, procurou atendimento odontológico queixando-se que uma prótese fixa metalocerâmica de três elementos, presente nos dentes 44 a 46 – pôntico do 45, tinha se soltado do pilar 44. Após realização de exame clínico, identificou-se prótese deslocada do dente 44 e, como aparentemente não havia infiltração (lesão de cárie), várias tentativas de se remover o retentor do 46 foram feitas, sem sucesso. Considerando a necessidade de remoção não conservadora da prótese, o paciente manifestou interesse em colocar implante na região do 45 e individualizar os três dentes. Após exame tomográfico, observou-se grande perda óssea vertical e horizontal, provavelmente decorrente de exodontia. Como alternativa, restou a construção de nova prótese fixa convencional. Com o intuito de se solucionar rapidamente o caso, decidiu-se realizar o tratamento empregando equipamentos de consultório, no caso o sistema CEREC da Sirona. Optou-se pela opção multicamadas (multi layer) do software 4.0 do referido sistema, em que a infraestrutura e a cerâmica de cobertura da prótese são usinadas separadamente para posteriormente serem unidas com material cerâmico em alta temperatura. Dessa forma, a prótese anterior foi cuidadosamente removida com a criação de uma canaleta cérvico-oclusal com broca carbide, de maneira a desgastar a cerâmica e o metal em toda a extensão descrita, nos dois retentores. Em seguida, com uma espátula, as metades foram forçadas para rompimento da linha de cimentação, favorecendo a remoção da peça. Ambos os retentores possuíam tratamento endodôntico satisfatório e apesentavam retentores metálicos para reconstrução da porção coronária. Os dentes pilares foram então repreparados, apenas melhorando-se a inclinação das paredes axiais e definindo-se a terminação cervical em ombro reto com ombro axiogengival arredondado com ponta diamantada #3097 (KG Sorensen). Em seguida, utilizando spray de dióxido de titânio (Cerec Optispray, Sirona), foi feita a opacificação das estruturas para permitir a digitalização dos pilares e das estruturas adjacentes com o scanner do sistema (BlueCam, Sirona). Após a digitalização das estruturas (moldagem digital) da área de trabalho (pilares e tecidos adjacentes), dentes antagonistas e registro intermaxilar (Figura 33A-D), restauração provisória confeccionada em resina acrílica autopolimerizável foi cimentada temporariamente, até que a prótese definitiva fosse finalizada no dia seguinte. 62 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE A B C D Figura 33 – A) Tela do software CAD (in lab 4.0, Sirona) em que se seleciona o tipo de trabalho que será executado, neste caso a opção multicamadas. B) Digitalizações do arco de trabalho, antagonista e registro intermaxilar, diretamente da boca. C e D) Montagem em articulador, recorte de troquéis, delimitação de término cervical e obtenção virtual da prótese. Fonte: Prado & Neves Odontologia. Para a construção da prótese, inicialmente na parte CAD (Computer Aided Design) do sistema, escolheu-se a opção multicamadas e, na sequência, escolheu-se o material cerâmico da infraestrutura (Zircônia) e de recobrimento, (Dissilicato de Lítio). Os retentores e o pôntico foram marcados e, após a montagem em articulador virtual, recorte dos troquéis e delimitação dos términos cervicais, as duas partes foram projetadas, uma sobre a outra. A parte superior passou por pequenos ajustes de modo que as marcas de contatos proximais e oclusais em vermelho fossem eliminadas, sendo, então, enviadas para usinagem na unidade CAM (Computer Aided Manufacturing) do sistema, que usinou a cerâmica de cobertura (Figuras 34A-D) ou camada superficial, que é a cobertura estética e, em seguida a camada interna, que é a infraestrutura de zircônia (Figuras 35AD). Para fresar as duas partes, o sistema gastou aproximadamente uma hora e meia. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 63 A B C D Figura 34 – A) Características do projeto da camada de cobertura. B) Posicionamento da camada de cobertura bloco virtual com a disposição em que esta parte da prótese será fresada no bloco cerâmico. C) Interior da unidade CAM do sistema (MCXL, CEREC, Sirona) após fresagem do bloco referente à camada superficial. D) Vista oclusal da camada superficial fresada no bloco de cerâmica reforçada por dissilicato de lítio Fonte: Prado & Neves Odontologia. 64 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE A B C D Figura 35 – A) Vista vestibular da prótese durante os preparativos para encaminhar a camada interna para fresagem, esta camada corresponde à infraestrutura da prótese propriamente dita. B) Bloco virtual com a disposição em que a estrutura da prótese será fresada no bloco retangular. C) Interior da unidade CAM do sistema após fresagem do bloco referente à infraestrutura. D) Vista cervical da estrutura em Zircônia ainda presa ao bloco onde foi fresada. Fonte: Prado & Neves Odontologia. A infraestrutura em zircônia é fresada aproximadamente 20% maior que o tamanho original da peça, para compensar a contração do material durante o processo de sinterização e, além disso, encontrava-se branca, sem cromatização. Desta forma, a infraestrutura já usinada primeiramente passou pelo processo de cromatização e depois pela sinterização (Figuras 36A-B), que consomem, respectivamente, 120 minutos e 90 minutos no forno (in fire HTC speed, Sirona). O processo completo mais o resfriamento lento chegam a 4 horas. Nesse período, a cobertura em dissilicato de lítio passou pelo processo de cristalização, por cerca de trinta minutos no forno (P300, Ivoclar Vivadent), quando a cor roxa é convertida para a cor mencionada no bloco, no caso, A3. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 65 A B C D Figura 36 – A) Camadas que foram fresadas separadamente (*nota-se que é impossível a estrutura caber dentro da parte referente à camada superficial, porque a zircônia neste sistema é fresada pré-sinterizada e, neste momento, encontra-se 20% maior para compensar a contração após a sinterização). B) Camadas após a sinterização da infraestrutura em zircônia (parte inferior da foto) e cristalização da segunda – e.max CAD (parte superior da foto). C) IPS e.max CAD Crystall./Connect. D) Prótese após queima em forno de cerâmica e resfriamento lento. Fonte: Prado & Neves Odontologia. Após a conclusão desses processos, pequenos ajustes são realizados, e as partes podem então ser unidas. Para a união definitiva das partes, uma massa de cerâmica vítrea (IPS e.max CAD Crystall./Connect, Ivoclar Vivadent) é aplicada sob vibração entre as mesmas e levada ao forno de cerâmica com a programação para queima de cerâmica de dissilicato de lítio (Figuras 36C-D). A prótese ficou pronta para prova em boca. Assim, o provisório foi removido, e a prótese ajustada, inicialmente nos contatos proximais. Como os blocos são retangulares, o sprue ou pino de união da parte usinada com o bloco fica sempre na proximal, obrigando um cuidado maior com esta área, que sempre precisará de ajuste nesta técnica. 66 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE Em seguida, foi feita a confirmação de assentamento da peça, ajustes oclusais em fechamento e movimentos excursivos e a maquiagem final da prótese que, posteriormente, recebeu aplicação de glaze (Figuras 37A-B). A fixação definitiva foi realizada com cimento à base de fosfato de zinco (Zinc Cement, SS White) (Figuras 37C-D). Todo o processo levou cerca de onze horas de trabalho executados em dois dias (2h30min – remoção da prótese antiga, repreparo, provisório e moldagem digital; 2h – planejamento da prótese e usinagem da mesma; 4h – cromatização e sinterização; 1h – união das camadas; 1h30min – prova, maquiagem e fixação definitiva), o que mostra a aplicabilidade e viabilidade desta forma de processamento. A B C D Figura 37 – A) Vista vestibular após maquiagem final e glaze da prótese confeccionada pela técnica multicamadas. B) Vista oclusal após maquiagem final e glaze da prótese confeccionada pela técnica multicamadas. C) Vista oclusal após fixação com cimento à base de fosfato de zinco. D) Vista lateral da prótese em posição. Fonte: Prado & Neves Odontologia. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 67 CONCLUSÃO Diante do discutido neste artigo, pode se concluir que os sistemas cerâmicos disponíveis apresentam excelentes propriedades, e a aplicabilidade/indicação desses sistemas é dependente das necessidades de resistência e estética singulares a cada caso. Como visto, a evidência científica indica que as restaurações totalmente cerâmicas apresentam longevidade e efetividade aceitável para inúmeras aplicações clínicas. Porém, o sucesso dessas restaurações está condicionado a um planejamento minucioso que envolve a correta seleção do material, preparos protéticos adequados, processamento do material cerâmico de acordo com as indicações dos fabricantes, tratamento de superfície das restaurações cerâmicas modulado pela composição das mesmas e fixação com agentes cimentantes apropriados. Além disso, a fixação adesiva das restaurações em cerâmica pura com cimentos resinosos favorece o sucesso clínico. Portanto, conhecimento e bom senso são fundamentais nesse sentido. RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: B Comentário: A adição de leucita (K2OAl2O34SiO2) em associação com outros óxidos possibilita o controle do coeficiente de expansão térmica, de forma a aproximá-lo do coeficiente de expansão térmica do material de infraestrutura, minimizando o estresse térmico residual na cerâmica. Atividade 8 Resposta: C Comentário: As cerâmicas feldspáticas empregadas atualmente para confecção de restaurações odontológicas, na sua maioria, não contêm caulim em sua composição, sendo predominantemente compostas por feldspato e potássio. Atividade 9 Resposta: D Comentário: As cerâmicas odontológicas podem ser também classificadas, quanto ao seu conteúdo, em cerâmicas vítreas (feldspáticas, leucita e dissilicato de lítio) e cerâmicas cristalinas/policristalinas (Alumina, Spinel, Zircônia). Atividade 10 Resposta: B Comentário: As cerâmicas que apresentam grande conteúdo vítreo são as feldspáticas, as reforçadas por leucita e as reforçadas por dissilicato de lítio e, por isso, são denominadas 68 RESTAURAÇÕES TOTALMENTE CERÂMICAS: CARACTERÍSTICAS, APLICAÇÕES CLÍNICAS E LONGEVIDADE cerâmicas vítreas. Já as cerâmicas com maior conteúdo de cristais, como as reforçadas por alumina, espinélio de MgAl (Spinel) e zircônia, são denominadas cerâmicas cristalinas/policristalinas. Atividade 11 Resposta: D Comentário: As cerâmicas vítreas reforçadas por dissilicato de lítio apresentam a maior resistência dentre as cerâmicas vítreas, podendo ser indicadas para a confecção de restaurações parciais (laminados, inlays e onlays), coroas totais unitárias e próteses fixas de três elementos com extensão até a região de 2º pré-molar. Atividade 27 Resposta: B Comentário: As principais formas disponíveis para processamento dos materiais cerâmicos são: estratificação (condensação), slip-cast (infiltração de vidro), prensagem (injeção) e usinagem/fresagem (CAD/CAM). Atividade 28 Resposta: D Comentário: Quanto o ponto de fusão, as cerâmicas odontológicas são classificadas em cerâmicas de alta fusão (sinterização: >1300º C); média fusão (sinterização: 1101-1300º C); baixa fusão (sinterização: 850-1100º C) ultrabaixa fusão (sinterização: <850º C). Atividade 35 Resposta: C Comentário: O tratamento de superfície a ser empregado nas cerâmicas odontológicas é modulado pela composição desses materiais. No caso das cerâmicas vítreas, o tempo de condicionamento da superfície interna das restaurações com ácido fluorídrico 5-10% é ditado pelo conteúdo de sílica (SiO2) presente nas mesmas (feldspáticas > reforçadas por leucita > reforçadas por dissilicato de lítio). Atividade 36 Resposta: A Comentário: Devido ao maior conteúdo de sílica (SiO2), as cerâmicas feldspáticas devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 120 a 150s, seguido de limpeza e banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e, por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela aplicação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico. | PRO-ODONTO PRÓTESE E DENTÍSTICA | CICLO 6 | VOLUME 2 | 69 Atividade 37 Resposta: D Comentário: Devido ao conteúdo médio de sílica (SiO2), as cerâmicas reforçadas por leucita devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 60s, seguido de limpeza e banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela aplicação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico. Atividade 38 Resposta: B Comentário: Devido ao menor conteúdo de sílica (SiO2), as cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio devem ser condicionadas com ácido fluorídrico 5-10% por 20s, seguido de limpeza e banho em cuba ultrassônica por 3min, secagem, aplicação de agente de união bifuncional e por último, cimento resinoso. Pode-se substituir o ciclo ultrassônico pela aplicação de ácido fosfórico 32-37% friccionado ativamente por 1min, seguido de limpeza para remoção dos componentes precipitados previamente pelo condicionamento com ácido fluorídrico. REFERÊNCIAS 1. Soares PV, Spini PH, Carvalho VF, Souza PG, Gonzaga RC, Tolentino AB & Machado AC (2014) Esthetic rehabilitation with laminated ceramic veneers reinforced by lithium disilicate Quintessence Int 45(2) 129-133. 2. Anusavice KJ, Shen C & Rawls HR (2013) Philips – Materiais dentários Elsevier Rio de Janeiro. 3. 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