ORGANIZAÇÃO SETE DE SETEMBRO DE CULTURA E
ENSINO – LTDA
FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FASETE
LICENCIATURA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM INGLÊS E
PORTUGUÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS
PATRÍCIA ALVES MIGUEL NERY
A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO-NATUREZA E O
SENTIDO DE PERTENCIMENTO NAS MÚSICAS DE LUIZ
GONZAGA
PAULO AFONSO- BA
JULHO- 2013
PATRÍCIA ALVES MIGUEL NERY
A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO-NATUREZA E O
SENTIDO DE PERTENCIMENTO NAS MÚSICAS DE LUIZ
GONZAGA
Trabalho de conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Licenciatura em Letras, da
Faculdade Sete de Setembro - FASETE, como
requisito para a avaliação conclusiva.
Orientadora, Msc. Maria do Socorro Pereira
de Almeida.
PAULO AFONSO-BA
JULHO- 2013
Dedico esse trabalho aos meus pais Cícera e
João Alves Miguel, que me deram suporte
durante a realização desse sonho.
Dedico, também, especialmente, ao meu
esposo, José Fábio Araújo Nery, por sempre
estar comigo nos momentos que mais precisei,
pelo apoio, companheirismo e por sempre
acreditar em meu potencial.
AGRADECIMENTOS
Terminar a graduação significa a realização de um sonho. Não foi tão fácil ser alcançado,
como toda caminhada, passei por vários caminhos repletos de pedras ou espinhos, mas sempre
acreditei que tudo daria certo e, com muita fé em Deus, coragem, persistência e esperança,
consegui traçar mais uma etapa de minha vida.
Nesta caminhada nunca estive sozinha, sempre tive a presença de Deus, da família e dos
amigos, pessoas que nunca me desampararam e acreditaram em meu potencial.
Agradeço a Deus primeiramente, pois sem ele não sou nada, que me deu forças para seguir
essa nova etapa da vida, guiando-me e fortalecendo nos momentos que mais precisei.
A todos os meus familiares, em especial, meus irmãos, Janeide, José, Nilton, Sidézio,
Adriana, Josivânia, pelo apoio e incentivo quando precisei.
Aos meus pais, Cicera e João, que me ajudaram, não só financeiramente, mas com o apoio
durante essa nova etapa vencida.
Aos meus professores, Gilberto, Kárpio Márcio, Luiz José, Sandra Marcula, Isa Úrsole,
Welligton Neves, Gilvanira, Rita Rejane, Joseval, Cecília, Ângela Gandier, Jacinto, Ednaldo
Torres, Wilma, Marcelo, Sérgio Malta, que me deram sabedoria e proporcionaram
conhecimento durante todo o percurso do curso.
A minha querida orientadora, a quem agradeço de coração e admiro muito, Maria do Socorro
Pereira de Almeida, pelo incentivo, apoio, paciência e profissionalismo durante essa etapa de
minha vida. Ser sua orientanda foi uma honra, pois sua presença foi fundamental para a
concretização deste trabalho.
Agradeço, também, a minha querida amiga Izaelma de Souza, pelo companheirismo, apoio e
incentivo quando mais precisei.
Aos meus colegas de classe, Júlia Clícia, Eliene Santos, Clara Suzane, Luciana Lima, Camila
Gabrielle, em especial, Líllian Mariana e Rodolfo Santos, grandes amigos, a quem guardarei
para sempre em meu coração.
Quero fazer um agradecimento muito especial a uma pessoa que conheço há cinco anos, desde
que entrou na minha vida, tudo mudou. Essa pessoa é meu esposo José Fábio, que esteve
sempre presente nos momentos que mais precisei me dando ânimo quando eu pensava em
desistir: carinho, companheirismo e dedicação por todos esses anos. E que fez de tudo que
estava ao seu alcance para a realização deste sonho.
A todos vocês, agradeço profundamente!
Minha vida é andar /Por esse país/ Pra ver se um
dia descanso feliz/ Guardando as recordações/ Das
terras onde passei/ Andando pelos sertões/ E dos
amigos que lá deixei/ Mar e terra, inverno e verão/
Mostro o sorriso/ Mostro alegria/ Mas eu mesmo
não/ E a saudade no coração.
(Luiz Gonzaga)
RESUMO
Este trabalho propõe analisar a representação do espaço-natureza e o sentido de pertencimento
nas músicas de Luiz Gonzaga e seus parceiros que evidenciam em suas músicas a relação
entre o homem e a natureza e os aspectos que remetem à identidade cultural sertaneja.
Durante a construção deste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas que embasaram o
assunto em questão. Entre os teóricos abordados pode-se destacar Milton Santos, Stuart Hall,
Michael Pollak, Dominique Dreyfus, José Mário Austregésilo, dentre outros, que deram
embasamento sobre a conceituação de espaço, natureza e pertencimento, além da vida e obra
de Luiz Gonzaga. Dividimos a pesquisa em três capítulos. No primeiro, buscou-se apresentar
conceitos e considerações sobre espaço/natureza e o sentimento de pertencimento, para
entendê-los melhor. O segundo capítulo apresenta a vida e obra de Luiz Gonzaga e o terceiro
capítulo finaliza a pesquisa com a análise de algumas músicas, nas quais busca-se evidenciar a
representação do espaço/natureza e sentido de pertencimento na poesia musical de Luiz
Gonzaga., revelando todo amor e saudosismo do sertanejo pela terra natal. O que se percebe
nesta pesquisa é o amor e a saudade de quem se ausenta de sua terra natal e a importância de
preservar a identidade cultural de um povo.
Palavras- Chave: Espaço/natureza. Pertencimento. Luiz Gonzaga
ABSTRACT
This work aims to analyze the representation of space-nature and sense of belonging in the
songs of Luiz Gonzaga and its partners in their songs that evidence the relationship between
man and nature and aspects that relate to cultural identity back country. During the
construction of this work were made bibliographic searches that supported the subject matter.
Among the theorists discussed can highlight Milton Santos, Stuart Hall, Michael Pollak,
Dominique Dreyfus, José Mário Austregésilo, among others, which gave foundation for the
conceptualization of space, nature and belonging, beyond life and work of Luiz Gonzaga. We
divide the research into three chapters, the first aimed to present concepts and considerations
for space / nature and sense of belonging, to understand them better. The second chapter
presents the life and work of Luiz Gonzaga and the third section concludes the research with
the analysis of some songs, in which we try to highlight the representation of space / nature
and belonging in the musical poetry of Luiz Gonzaga., revealing all love and longing that
back country feels of homeland. What it is noticed in this research is the love and longing of
those who are away from their homeland and the importance of preserving the cultural
identity of people.
Word- keys: Space/nature. Belonging. Luiz Gonzaga.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 ESPAÇO-NATUREZA E PERTENCIMENTO: CONCEITOS E
CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................... 12
2
1.1
ESPAÇO- NATUREZA .......................................................................................... 12
1.2
PERTENCIMENTO: CONSIDERAÇÕES .......................................................... 19
LUIZ GONZAGA: BIOGRAFIA E DISCOGRAFIA ................................................. 24
2.1
BIOGRAFIA ............................................................................................................ 24
2.2
DISCOGRAFIA ....................................................................................................... 29
3 ESPAÇO-NATUREZA E PERTENCIMENTO NAS MÚSICAS DE LUIZ
GONZAGA ............................................................................................................................. 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48
10
INTRODUÇÃO
A mídia, muitas vezes, tenta construir uma imagem diferente do sertão, demonstrando a
miséria causada pela seca, a pobreza e o analfabetismo. No entanto, o sertão nordestino é rico
em belezas naturais e identidade cultural. Este cenário mudou quando um homem de sua terra,
com seu jeito simples e linguagem popular construiu uma imagem diferente do Nordeste que
muitos ignoravam. Entre esses cantos de louvor está o de Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga, com sua oralidade, utilizou a linguagem musical para expressar as belezas da
terra tão querida e amada, inserindo o Nordeste no cenário musical brasileiro. Com seu jeito
modesto apresentou todo amor e saudosismo que tinha pelo espaço e fez arte utilizando a
natureza como representação de superação e esperança. Este trabalho de pesquisa propõe uma
análise do discurso musical de Luiz Gonzaga. O objetivo é analisar como o espaço-natureza e
o sentimento de pertencimento do sertanejo estão representados em algumas músicas de Luiz
Gonzaga.
No desenvolvimento desse trabalho, foram utilizadas diversas fontes bibliográficas que
contribuíram para a fundamentação e realização dos objetivos propostos. Dentre os
estudiosos, contamos com Michael Pollac, Stuart Hall, José Austregésilo, Dominique
Dreyfus, Almeida, dentre outros que foram de suma importância para a concretização desse
estudo.
O trabalho foi construído em três capítulos. O primeiro capítulo foi dividido em dois tópicos,
foram abordados os conceitos e considerações sobre espaço-natureza e o sentido de
pertencimento, a fim de darem respaldo à análise das músicas. Falar sobre espaço não é fácil,
por existir diversas definições e tipos, no entanto, o espaço-natureza representa a relação que
o homem tem com a terra, o apego, o cuidado com a natureza. Luiz Gonzaga conseguiu
expressar o espaço através do saudosismo e do sentimento de pertencimento, ou seja, pode-se
observar que esse sentimento pelo lugar de origem, inerente ao sertanejo, pode ser levado por
toda uma vida por algumas pessoas, causando-lhes tristeza, solidão e desespero por estar
distante dos familiares do próprio espaço habitado.
No segundo capítulo, foi realizada a pesquisa sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga. Um
nordestino, que desde criança enfrentou várias dificuldades e preconceitos para chegar aonde
11
chegou. Dedicou sua vida a expor os problemas enfrentados por seus conterrâneos e
encontrou na música o prazer de denunciar o que estava errado e trazer a alegria para o povo
nordestino.
No terceiro e último capítulo, foram feitas as análises de algumas músicas de Luiz Gonzaga e
seus parceiros, no intuito de observar como espaço-natureza e o sentido de pertencimento do
homem por esse espaço estão representados em suas canções. Gonzaga em sua poesia cantada
expressa o apego que o homem nordestino tem por sua terra, o saudosismo por estar distante
do lugar de origem e a natureza como sinônimo de superação e esperança. A luta, a fé,
persistência, a cultura, a seca são temas vigentes nas canções gonzaguianas, divulgando e
denunciando tudo que tem no sertão, ou seja, não só as agruras do homem do campo, mas
também o luar, o sol de todo dia, os costumes, a esperança, a solidariedade do povo e a
paisagem sertaneja, além da fartura com a vinda da chuva.
Falar de Luiz Gonzaga é desvelar o Sertão em todas as suas particularidades, nada melhor do
que alguém que cantou o Nordeste, mostrando os mínimos detalhes, a vegetação, os animais,
a luta, a mulher, a família, persistência, esperança, a fé e as razões de ser nordestino,
demonstrando suas raízes e expressando o amor que tem por sua terra natal.
Luiz Gonzaga foi o grande representante de sua terra, um cancioneiro de seu povo, expressou
e denunciou o sofrimento do povo, privilegiando melhorias políticas por parte dos
governantes, amou seu lugar, expressou com todo amor suas raízes e nunca deixou sua
identidade cultural.
12
1 ESPAÇO-NATUREZA E PERTENCIMENTO: CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES
1.1
ESPAÇO- NATUREZA
Este trabalho tem como objetivo observar como é representado o espaço/natureza e o
sentimento de pertencimento ao espaço nas músicas de Luiz Gonzaga. Nessa perspectiva,
abordam-se os conceitos e considerações acerca do que é espaço e como se pode observar o
sentido de pertencimento, para depois adentrar nas canções do Rei do Baião. Em princípio,
falar de espaço não é uma tarefa muito fácil, por haver várias definições e pelas grandes
transformações que o espaço vem sofrendo a cada dia.
Devido às grandes transformações que o espaço está sofrendo cotidianamente, o avanço
tecnológico, a nova face do mundo e a mudança da percepção humana, criam-se diferentes
prismas em relação à definição de espaço. Nesse contexto, é cabível observar as palavras de
Milton Santos (1994, p. 31) quando afirma que: “o espaço se transforma, se globaliza, mas
não de forma mundial”, pois quem globaliza são as pessoas que vivem nesses lugares, essa
metáfora é utilizada por Milton Santos para designar como o espaço está sendo globalizado,
no decorrer da história. A todo o momento, deparamo-nos com situações novas,
acontecimentos que demonstram como as formas geográficas estão presentes no espaço e
pouco a pouco se transformando.
Em relação ao texto literário, o espaço tem uma representação muito grande, Gancho definiu
que “o termo espaço, de um modo geral, só dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos da
história; para designar um “lugar” psicológico, social, econômico, etc., empregamos o termo
ambiente”. (1993, p. 23). No entanto, como não existe ambiente sem espaço, observamos a
forma como o homem se refere ou se sente em relação ao espaço-natureza.
Para Gancho, tratando-se de literatura, o termo espaço é caracterizado como aquele que define
o lugar físico, no qual acontecem os fatos da história, sendo este, responsável por acolher as
ações, pensamentos e emoções dos personagens. Ela vê o espaço e o ambiente de certa
maneira, separados quando diz que o que define as atitudes psicológicas, sociais e econômicas
é o ambiente. Com relação ao termo espaço, tem-se a concepção que cada elemento presente
13
condiz com um conjunto indissociável, seja geográfico, natural ou social, cada um
apresentando uma função e relacionando com os lugares que fazem parte da vida do homem.
Nesse contexto, Milton Santos diz:
O espaço deve ser considerado com um conjunto indissociável de que
participam de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais
e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, seja a
sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente, da
forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do
conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas
contendo cada qual frações da sociedade em movimento .As forma, pois têm
um papel na realização social. (1988, p.10)
Diante dessa perspectiva, pode-se dizer que o espaço é formado pelo conjunto de objetos
geográficos, naturais e sociais. Segundo Santos, cada conteúdo não pode viver independente,
um depende do outro para sobreviver, a sociedade depende dos objetos geográficos e naturais
para que seja realizada sua função social. Assim, o espaço é formado caracteristicamente
pelas ações geográficas, naturais e humanas, sendo o homem dependente deles para continuar
seu processo de adaptação.
Como qualquer objeto de pesquisa no contexto da literatura, o espaço pode ser observado a
partir de diferentes prismas. Milton Santos em seu livro “Metamorfoses do espaço habitado”
(1988) refere-se ao termo espaço habitado, como um ponto de vista biológico, sendo o
homem responsável pela sua adaptação individual.
No contexto entre espaço/homem é importante observar de forma significativa, o que leva o
sujeito a adaptar-se no espaço, são as diferentes percepções que ele tem desse lugar, as
vivências, a relação que cada um tem com as pessoas que vivem ao seu redor, criando um
vínculo de afetividade.
De acordo com Socorro Almeida (2008), vê-se que a relação do indivíduo com a terra e com o
lugar onde vive, é tão forte e tão íntimo quanto o vínculo criado com o espaço da casa. Esse
espaço torna-se individual e íntimo, porque cada um consegue adaptar-se de forma diferente,
podendo criar vínculos. Esses laços de afetividade muitas vezes tornam-se lembranças quando
pessoas saem da terra natal à procura de melhores condições de vida.
Nessa perspectiva, podem-se destacar os textos musicais de Luiz Gonzaga que, em sua
maioria, traz a descrição da representação de Gonzaga com o homem sertanejo, um homem de
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sua terra, forte, persistente, desconstruindo a caricatura existente da identidade nordestina e
construindo personagens do cotidiano.
Milton Santos mostra ainda que, “o valor de um dado elemento do espaço, seja ele o objeto
técnico mais concreto ou mais performante, é dado pelo conjunto da sociedade, e se exprime
através da realidade do espaço em que se encaixou”. (2008, p. 43). Nesse sentido, pode-se
observar que a própria realidade do espaço habitado se insere em uma linha baseada no modo
como a sociedade conduz este espaço, nele retribui-se a técnica de que o homem evolui-se de
acordo com seu estado de mudanças. Neste espaço criado o homem cria seu próprio espaço,
podendo, assim, transformá-lo de forma que condizem as suas condições e interesses.
A “leitura” de um espaço é individual, cada um pode representar suas ações de formas
diferentes, sejam pelo saudosismo ou momentos vividos, momentos estes que ficaram
marcados para sempre na memória. O espaço pode ser preenchido de sentimentos bons e
também de sentimentos negativos quando, por algum motivo, não nos sentimos bem em
determinado lugar.
Luiz Gonzaga foi um dos introdutores da cultura nordestina no cenário musical brasileiro. Em
suas canções exprimia a dor, a alegria e os aspectos geográficos e culturais do espaço
nordestino, retratando como era conviver em um espaço, mesmo sendo castigado pela mãe
natureza, mas que se tornava fonte de inspiração para suas canções. Dessa forma, Aragão
(1992, p. 95) diz em A Natureza e a Poesia: o exemplo de Murilo Mendes que: “a natureza,
como arte, não precisam se apoiar em outra coisa. Elas têm em si mesmas tudo o que é
necessário para se desenvolverem”. Ela, por si só, é fonte inspiradora, o poeta ao adentrar
nesse espaço é capaz de captar as mais belas informações possíveis para a construção da
poesia.
É perceptível a relação que o homem sertanejo tem com a natureza, o cuidado na plantação,
nos animais, a esperança que a chuva retorne, sua íntima visão de enxergar os objetos
concretos que estão em sua volta. A princípio, parece simples refletir sobre a natureza, mas ao
adentrarmos neste universo, percebe-se que não é uma tarefa muito fácil por ser um assunto
complexo e diversificado.
A natureza, muitas vezes, revela o reflexo do homem na construção do próprio eu. A procura
pela sua própria essência, fez com que o homem buscasse os elementos da natureza, para se
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situar em seu espaço. Este espaço, que para o nordestino é de extrema luta e persistência. O
clima, a falta de chuva fez com que a esperança de criar, trabalhar e superar se tornassem
tarefas de suprema resistência. Porém, mesmo com tanta dificuldade, o espaço nordestino
torna-se um veículo de imaginação para a criação da poesia, fazendo com que o poeta tente
exprimir a sensação que está vivendo naquele exato momento.
Segundo Massaud Moisés, (2000, p.167 e 168) “o espaço criado torna-se, assim, questão de
sobrevivência da poesia, ou do “eu” que, por meio dela, se exprime”. Esse contexto se revela
em obras e poetas e prosadores de muitas regiões, porém, Luiz Gonzaga deixa claro em cada
música, um pouco da cultura, da vivência, do dia a dia do Nordeste, de modo que se mostre
em sua obra, a presença de um espaço único, de um espaço vivido e sentido, com uma face
geográfica e aspectos culturais que o diferencia, dando-lhe uma identidade.
A partir da concepção de espaço é cabível ressaltar que o homem, ao se situar em seu espaço,
tenta exprimir seus sentimentos através da inspiração que a natureza lhe proporciona. O
homem necessita da mãe natureza para sobreviver, seu envolvimento torna-se um vínculo de
criação imaginária e conduz a diferentes perspectivas para observar o mundo em sua volta.
Demonstrando a relação da poesia com a natureza, Aragão afirma:
Poesia e natureza sempre tiveram uma estreita relação. Quantos símbolos se
podem captar a partir desse íntimo diálogo. Não apenas pelo fato da poesia ir
buscar na natureza os seus principais temas, mas também pelo fato de que
toda criação pertence ao próprio âmbito genérico da Natureza, aqui tomada
no seu sentido mais amplo, sinônimo de Real, reino de tudo o que existe e de
todo vir a ser. Lugar dos sonhos e das realizações sem limites, onde a
imaginação pode seguir o seu curso, inesgotável. (1992, p.97)
Assim, a natureza e a poesia sempre foram ligadas uma a outra, sendo a natureza uma fonte de
inspiração para as construções da poesia. Ela torna-se lugar de encantamento e de sonhos,
deixando a imaginação seguir uma linha que não tem fim. Segundo a autora, “o poeta Murilo
Mendes vai inserir a natureza como metáfora para nos falar da necessidade de criarmos um
mundo melhor, mais humano, mais justo, mais equilibrado. Um mundo vocacionado para a
paz e para a defesa das grandes causas”. (1992, p.97)
Aragão enfatiza ainda que o poeta Murilo Mendes seja um exemplo de poeta que utilizou a
natureza como fonte de inspiração de suas poesias, sendo ela uma forma de retratar a vida de
diversas maneiras e responsável por definir o mundo de maneira sociável, voltada para a paz e
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a busca de um mundo melhor, direcionado a defesas de boas causas para uma sociedade justa
e com igualdade para todos.
Luiz Gonzaga fez de suas canções uma eterna poesia, retratando o Nordeste e suas raízes,
revelando o perceber do homem e o seu modo de pensar em seu espaço querido. A natureza é
vista não somente como um meio de sobrevivência, mas como um espaço de amor e
pertencimento, sendo o homem objeto do mesmo, podendo ele, encontra-se no mundo.
Outro ponto importante é ressaltar os quatro elementos da natureza, terra, água, ar e fogo,
representando símbolos de valores, prosperidade e superação. Cada um desses elementos
apresenta diferentes significados e exprimem a sentimentalidade do povo nordestino.
Começando pelo elemento terra, pode-se dizer que ela representa um símbolo de fertilidade,
procriação e também dureza, indica a grande persistência que os nordestinos apresentam em
cultivar mesmo com tanta seca e falta de chuva. Ela representa também, a resistência e gosto
que cada sertanejo tem por seu espaço.
A terra é a paisagem da vida, sua seiva alimenta frutos e flores; suas
entranhas guardam gemas e minérios; em sua superfície, habitam homens e
animais; em sua quietude, escondem-se água e fogo. É a mãe das espécies,
cujo calor fecunda os ovos e as sementes, cujas cores compõem as imagens
das árvores, dos animais, das colinas. Da terra brotam alguns elementos de
que se nutre a poesia: a quietude dos prados, o silêncio dos desertos, a
solidão das montanhas. (NEVES, 2006, p. 3)
Nessa concepção, é cabível dizer que o elemento terra, representa muito mais que a
fertilidade, é uma parte da vida que toma conta dos elementos de sua própria capacidade de
criação. É a terra que guarda, que protege, sustenta e alimenta os frutos e habitantes de sua
superfície, fazendo com que, tenham a subsistência própria para sobreviverem.
O pertencimento a esse ambiente, no caso do Sertão, muitas vezes escasso de produtividade,
fez com que este cenário mudasse aos poucos, pois a esperança de ter melhores condições de
vida, fez com que o sertanejo deixasse a terra natal, seu habitat de quando criança, em busca
de oportunidades em regiões diferentes da sua, com culturas diferentes, modo de vida
diferentes, levando apenas saudades de uma terra querida. Embora sendo improdutiva em
certas épocas do ano, a terra é sinônimo de sustento para os nordestinos, é a fonte de
sobrevivência e superação, deixar seria como sacrificar-se.
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Embora a terra seca e árida seja incapaz de fornecer aos seus habitantes o
sustento, ela é vista como ideal e deixá-la é algo que surge por meio de
forças externas: a saída da terra é uma verdadeira tragédia, pois, se morrer
nela é algo terrível, abandoná-la parece ainda mais recheado de horror, mas é
também imperativo. (NEVES, 2006, p. 33)
Outro elemento essencial da natureza é a água, representando a esperança que mantém ativa a
fé dos nordestinos diante de tanta seca que assola sua região. É um elemento que sacia e
alimenta, aumentando a vontade de nunca desistir mesmo diante de tantas dificuldades. Neves
ressalta ainda que “A água resulta da metamorfose ontológica entre fogo e terra, embora sua
substância sugira uma intimidade distinta da que emana desses elementos. A água arrasta o
leitor ao destino das coisas fugidias” (NEVES, 2006, p. 119). A água é indispensável para a
sobrevivência humana, enquanto uns tem de mais, outros não tem praticamente nada, apesar
de muitos saberem de sua importância, continuam poluindo, utilizando sem necessidade.
O elemento ar, levando em conta a linguagem literária, representa tudo àquilo que vai, mas
que retorna a seu ponto, onde todas as ações são realizadas. É a condição devolvida pelo que
foi tirado. O sertanejo, ao sair de sua terra natal, regressa com a finalidade e a esperança de
uma melhor condição de vida para sua família, mas retorna por não perder suas raízes e o
amor por sua própria identidade.
Sob o influxo do elemento ar, as cores familiares ganham as nuanças efêmeras do
impressionismo. Os contornos da imagem se diluem nos tons esfumaçados de um
esboço. O tempo é uma composição diáfana, cuja substância permanece um segredo,
cujo território é inominável. Dinamismo e verticalidade integram sua poética, em
que paira a esfera valorização humana em face do dilema de ligar-se à matéria ou
livrar-se de seu peso. (NEVES, 2006, p.115)
É interessante perceber que todos esses aspectos estão representados pelo vôo da asa branca
no contexto das duas músicas: A asa branca e A volta da asa branca em que o homem é
levado pelos prenúncios da natureza representada pelo pássaro que um dos ilustres habitantes
das terras sertanejas, no Nordeste do Brasil.
O elemento fogo, em uma linguagem simbólica, denota as agruras do Sertão provocados pela
seca, que castiga e que faz o homem nordestino sair de sua terra á procura de melhores
condições para a família. Diante disso, pode-se dizer que essa simbologia representa o desejo,
à vontade, a mudança de transformar o que foi tirado. Neste sentido, pode-se dizer que o
nordestino sabe conviver com o espaço em que vive mesmo com muitas dificuldades eles
sempre acreditam que tudo dará certo.
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A natureza nordestina também é representada pela vegetação que é influenciada pelo clima.
Com a presença do clima semi-árido, com a pouca decorrência de chuvas durante o ano, a
vegetação cresce seca e opaca, porém apropriada a se adaptarem ao ambiente que se encontra.
Essa adaptação o sertanejo também precisou enfrentar quando foi para os grandes centros
urbanos, pois precisou sair de sua terra para ir à busca de melhores condições para sua
família.
Paraíba
( Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira)
Quando a lama virou pedra
E mandacaru secou
Quando ribaçã, de sede
Bateu asas e voou
Foi aí que eu vim m´ embora
Carregando a minha dor
Hoje eu mando um abraço pra ti, pequenina
Paraíba masculina
Muié macho, sim sinhô
Eita, pau pereira
Que em Princesa já roncou
Através dessa canção o eu- poético exprime as consequências provocados pela seca em que o
homem sertanejo se sente na necessidade de deixar sua casa, sua terra e sua família para ir em
busca de melhores condições para o sustento da família. “Lama virou pedra”,” mandacaru
secou”, “ ribaçã voou”, são características provocadas pela seca, a “mulher macho”,
representa a mulher que tem que trabalhar duro no período da seca para ajudar o esposo a
sustentar a família, suportando o sol e as condições da seca. É uma mulher macho, porque é
forte, que luta para a sobrevivência sua e da família, cuidando da casa e do roçado enquanto o
marido volta para casa.
A temática de espaço-natureza, ao mesmo tempo em que assume uma centralidade, é ponto
relevante para a construção de uma análise com as relações do homem com a natureza,
podendo assim identificar como ocorrem às mudanças do espaço habitado e como o homem
pode se situar no mesmo.
Segundo Milton Santos “a cada momento histórico cada elemento muda seu papel e sua
posição no sistema temporal e no sistema espacial, a cada momento, o valor de cada qual deve
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ser tomada da sua relação com os demais elementos com o todo” (1985, p. 1). Nessa
concepção, pode-se dizer que cada elemento que constitui o espaço se transforma ao longo
dos tempos, cada um tem um valor diferente.
O espaço pode ser visto como uma ferramenta para a compreensão de diferentes paradigmas
em relação ao modo como a sociedade se encaixa no espaço em que habita. Existem vários
conceitos sobre espaço, mas o que determina como a sociedade está em movimento e a
realização social do indivíduo e saber de que forma o indivíduo se insere na realidade em que
a sociedade está exposta e como ele está pronto a assumir papéis na sociedade, demonstrando
seus valores e adquirindo experiências de vida. É a partir do conceito de espaço que o homem
compreende qual é o seu papel na sociedade, podendo conhecer os processos sintéticos da
natureza e adquirir capacidade de ver as coisas que o cercam.
1.2
PERTENCIMENTO: CONSIDERAÇÕES
Muito se fala em pertencimento de algo a alguém, no entanto as pessoas também pertencem a
um determinado espaço ou até a outra pessoa, desde que se sinta assim pelo sentimento que
nutre por um determinado lugar ou por alguém. Levando em conta o modo de pertencer, temse como base o velho “Lua”, que em suas canções declarava todo o amor e saudosismo que o
nordestino sente por sua terra natal, sua terra de origem ao se ausentar dela, desvelando todos
os momentos bons ,vividos na terra querida e a vontade de voltar para seu cantinho.
Cada um de nós tem uma forma única de pertencer, a forma como cada um reflete suas
atitudes em relação ao outro é particular, isso é visto de forma clara, pois como somos
indivíduos de uma sociedade composta por diferentes elementos, somos levados a reconstruir
o nosso próprio eu. Todo o saudosismo, imagens passadas são vivenciadas a todo o momento
por termos dentro de cada um de nós uma forma única de pertencer.
Está inserido em uma sociedade em que o indivíduo se sente aceito, as vivências são
compartilhadas e sua existência é refletida através dos acontecimentos, é que faz o homem
sentir-se, de certa forma, aceito por suas raízes. Como afirma Pollak “há o sentimento de
coerência, ou seja, de que os diferentes elementos que formam um indivíduo são efetivamente
unificados” (1992, p. 204). Isso porque, todos têm uma forma única de pertencer, o
20
sentimento de cada um é único, quando o indivíduo se sente pertencente a um lugar ou
pessoa, esse sentimento torna-se claro e evidente, tornando-se freqüente e sendo levado por
sentimentos de saudades e lembranças. Segundo Bauman:
A ‘identidade’ só nos é revelada como algo a ser inventado, e não
descoberto; como alvo de um esforço, “um objetivo”, como uma coisa que
ainda se precisa construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e
então lutar por ela e protegê-la lutando ainda mais – mesmo que, para que
essa luta seja vitoriosa, a verdade sobre a condição precária e eternamente
inconclusa da identidade deva ser, e tenda a ser, suprimida e laboriosamente
oculta. (2005, p. 22)
Acerca da fala de Bauman observa-se que a identidade de cada um é adquirida aos poucos,
não nascemos com ela, é algo oculto que se adentra no imaginário, depende muito das
decisões que o indivíduo toma em relação às ações que desenvolvem a cada dia, a
determinação de se manter fiel e pertencer a esse lugar, que muitas vezes torna-se um espaço
de saudade pela ausência da terra querida.
O sentimento de pertencimento promove saudades e faz com que o indivíduo procure saciar o
seu espírito com lembranças passadas de um momento vivido. Luiz Gonzaga, em suas
canções, procurava mostrar esses momentos vividos através de sua imaginação, separando a
realidade do espaço que separa o homem de sua terra natal. A esperança de voltar para a terra
era imensa por muitos sertanejos ou pessoas de outras regiões, a saudade da família, do
cantinho, faz com que o sentimento de pertencimento viesse á tona.
Em uma entrevista ao jornal do Brasil em (18/9/79), Luiz Gonzaga diz: “o nordestino
reconhece no meu trabalho o amor pela terra, o carinho e o respeito por suas coisas, por suas
tradições. Tudo aparece nas minhas músicas, nas minhas jogadas, nas minhas prosas”. Isso
demonstra todo o amor que Luiz Gonzaga tem pela terra, mesmo distante da terra natal, ele
não esquece os momentos vividos, as experiências trocadas dia a dia, defendendo com todas
as forças sua terra querida.
Com a falta de emprego e a seca que assola a região Nordeste, muitos nordestinos deixam a
terra natal para ir à busca de novas oportunidades. Com o contato com outras culturas, o
indivíduo passa a conviver forçado por uma socialização inadequada. É natural sentir essa
insegurança, pois o indivíduo não está acostumado a conviver com uma cultura diferente da
21
sua. Isso acontece porque cada um tem um sentimento chamado pertencimento, que define o
modo como cada indivíduo torna-se pertencente a um local, causando-lhe saudade,
insegurança, medo e a resistência em habituar-se a essa sociedade contemporânea.
Para referir o que é pertencimento é necessário compreender o que a palavra pertencer
significa. Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa (2007), tem-se como definição a
palavra pertencer como “ser propriedade de, ser de, estar ligado a”. Portanto, o modo como
cada indivíduo se vê pertencente a um local ou grupo é que revela seu sentimento de
pertencimento, seu amor e vontade de voltar a sua terra natal.
Laraia, (2002, p. 86) diz: “Embora nenhum indivíduo, repetimos, conheça totalmente o seu
sistema cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo dentro do mesmo”. O autor
explica que apesar de fazermos parte de uma cultura, não conhecemos totalmente seu sistema.
Isso porque a cultura de um povo se modifica no decorrer dos tempos e como fazemos parte
desse sistema, temos que nos adequar mesmo com pouco conhecimento, pois cada povo tem
um comportamento e costumes diferentes.
Ainda de acordo com Laraia (2002), apesar de cada povo ter sua cultura, cada um participa de
forma diferente, os olhares em relação ao mundo são diferentes, o modo como cada um
participa dos costumes também difere uns dos outros. O modo como cada um conduz sua vida
é particular, a participação dos acontecimentos é feita de forma limitada, isso porque cada um
apresenta gostos diferentes, cada um tem dentro de si uma forma individual de internalizar as
coisas.
Essa forma de pertencer faz com que pessoas quando migram para outras regiões em busca de
melhores condições de vida, embora tragam um pouco dessa cultura, nunca perdem suas
raízes. Além disso, todos nós temos uma identidade própria que é adquirida aos poucos, não
nascemos com ela, ela é algo que adquirimos em diversos momentos de nossa existência,
tornando parte de nossa vida. Como afirma Stuart Hall (2006, p.02):
A identidade é definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito
assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidade que não
são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente. Dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas
identificações estão sendo continuamente deslocadas [...] A identidade
plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia.
22
Diante disso, pode-se dizer que cada indivíduo constrói sua identidade ao longo do tempo,
não nascemos com ela, sendo diferente de uma pessoa para outra, muitas vezes é contraditória
e assume direções diferentes, demonstrando de que forma o indivíduo afirma-se como um
“eu” coerente a partir das diferentes percepções que tem do mundo e do espaço que vive.
Cada indivíduo tem um modo diferente de pertencer a um local e vivenciar suas tradições, o
lugar que cada um vive é próprio e independentemente da distância, essas marcas não são
deixadas para traz. O que ocorre nesse caso são recordações e projeções de vida que ficaram
como memória de uma terra querida que mesmo com tanta saudade não são esquecidas. Nesse
contexto, Bachelard (2005, p. 25) afirma:
Nessa região longínqua, memória e imaginação não se deixam dissociar.
Ambas trabalham para o seu aprofundamento mútuo. Ambas constituem na
ordem dos valores, uma união da lembrança com a imagem. Assim a casa
não vive somente no dia-a-dia, no curso de uma história, na narrativa de
nossa história. Pelos sonhos, as diversas moradas de nossa vida se
interpenetram e guardam os tesouros dos dias antigos.
Mesmo estando distante da terra natal, a identidade que cada um adquire ao longo da vida não
é deixada para trás, os valores e crenças que foram aprendidos dentro de seu berço, sempre
ficará inato na memória de cada um, o amor pela terra natal, os momentos vividos, a cultura
serão marcas expressivas e cada um terá dentro de si mesmo com o contato com outras
culturas.
Embora esse sentimento, próprio do homem em qualquer região ou lugar, no reportamos ao
nordestino e vemos que para a maioria deles, o Nordeste é um espaço de memória, por ter um
povo forte e persistente, que nunca desanima diante de tantas dificuldades que enfrenta. Uma
região que tem grande parte de pessoas humildes, receptivas que se esforçam a cada dia e,
quando saem de seu espaço, mesmo distante de sua terra, nunca esquecem os momentos
vividos, as danças, os costumes e até mesmo os valores. Todos esses valores estão expressos
nas músicas de Luiz Gonzaga, a exemplo de “Meu pé de serra”.
Pollak (1992) mostra que existem lugares de memória, lugares particularmente ligados a uma
lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo
cronológico, que, de certa forma, revela a característica própria de cada indivíduo, mesmo
distante de sua comunidade, os traços vivenciados anteriormente não serão deixados. Esses
23
momentos vividos, lembranças passadas, trazem á tona toda sentimentalidade existente em
cada indivíduo.
Este sentimento é tão profundo, que ao deparar-se com outras culturas, só reforça o amor e
dedicação que tem por sua localidade. A memória se revela com tanta força que se transforma
em sentimento de pertencimento. Assim, Pollak diz que:
A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa.
A memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela
é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento
constituem um elemento de estruturação da memória
Conforme Pollak, a memória muitas vezes é adquirida, o homem não nasce necessariamente
com ela e, dependendo das situações que o indivíduo se encontra, ela pode vir á tona, levando
em conta as circunstâncias que o momento esta proporcionando. Cada momento, imagem,
acontecimentos se tornam únicos e memoráveis , quando sentimos falta de algo que vivemos,
essas lembranças muitas vezes vem à tona quando estamos longe de nossas raízes.
O Nordeste, sendo espaço de memória e pertencimento, revela-se para muitos que o deixaram,
todo o saudosismo de uma terra que significa muito para os nordestinos, todos os momentos
vividos, festas, brincadeiras ficaram na memória por representar momentos únicos que foram
vivenciados ao longo da vida de cada nordestino. Não negamos a afinidade do homem com o
espaço em qualquer lugar do mundo, mas nos reportamos a uma situação posta tanto pelo
conhecimento social, cultural e científico, através de pesquisas quanto pelo conhecimento
empírico e testemunhal da vida no Nordeste Brasil, uma vez que esse estudo procura mostrar
esses sentimentos através das músicas do rei do baião.
24
2 LUIZ GONZAGA: BIOGRAFIA E DISCOGRAFIA
2.1
BIOGRAFIA
Em 13 de dezembro de 1912, na cidade de Exu, Pernambuco, nasce um dos maiores
sanfoneiros que encantou o Brasil, Luiz Gonzaga do Nascimento, nome dado por nascer no
dia de Santa Luzia e no mês de Dezembro, filho de Januário dos Santos e Ana Maria de Jesus,
teve oito irmãos. Com a morte de seu irmão primogênito, Luiz passou a ajudar seu pai a
cuidar dos sete irmãos. Como afirma o trecho da música Macapá, de Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira, “Eu não tinha nem dez anos minha mãe veio me chamar me vestiu calça
de homem e me disse vai fio, vai trabaiá”. Como a maioria das crianças de sua época, o
menino Luiz começou a trabalhar desde cedo para ajudar seus pais a criarem seus irmãos,
porém mesmo com essa condição ele se sentia feliz por poder conviver com liberdade a sua
infância.
Fui um moleque feliz. No sertão, todo moleque que não vive no domínio de
senhores perversos é feliz. Tem suas compensações a pobreza. A liberdade
ampla, a natureza imensa a sugerir uma grandeza que está longe a atingir.
Liberdade para os banhos de rio, pras calçadas no mato, pra soltar-se nas
festas. Já os chamados meninos ricos são uns recalcados, presos a pequenos
nadas, contra os quais não ousam rebelar-se. Não podem fazer isso, não
podiam fazer aquilo. E eu fazia tudo que me vinha à fantasia, coisas
inocentes e maliciosas, desde que Santana não soubesse. (GONZAGA apud
RENNÓ, 1990, p.54)
Mesmo tendo que trabalhar muito cedo, Luiz teve uma infância feliz por poder desfrutar de
liberdade quando era criança. Seu pai Januário era consertador de sanfonas, Gonzaga ficava
observando-o consertar sanfonas, até que o pai permitiu que ele experimentasse um
instrumento recém concertado. Sua mãe, Ana Maria, não permitia que Luiz seguisse o mesmo
destino do pai, mas nada adiantou como afirma o próprio Luiz “para tocar nas festas da região
meu pai, às vezes, tinha que me roubar de minha mãe” (GONZAGA apud RENNÓ, 1990,
p.24).
Januário viu que o menino não tinha jeito para trabalhar na roça e fez com que ele seguisse o
seu caminho nos traços da sanfona. E assim, entre uma festa e outra, o menino Luiz ganhava
25
uns trocados e pediu dinheiro emprestado para comprar uma sanfona. Assim, de festa em festa
sua fama foi se espalhando por toda região.
Por volta de 1930, Luiz Gonzaga deixa a terra natal para servir o exército, devido uma briga
com o coronel da cidade. Foi ameaçado de morte, apanhou de seus pais e, revoltado, decide
sair de casa. Toda essa revolta e mágoa só fizeram aumentar a vontade de Luiz Gonzaga
crescer mais, se ele não tivesse saído de casa, talvez não tivesse aprendido como é a vida e
como ela muitas vezes é complicada.
A saída foi como se ele definisse que direcionamento ele daria em sua vida, viver para sempre
naquela pequena cidade, sua terra de origem ou mostrar para as pessoas todo o talento que
tinha, fazendo todo o povo admirar e gostar de seu trabalho e tendo uma melhor visão de
mundo. E foi com essa coragem que o jovem Luiz foi levar todo o seu talento para o Brasil
inteiro. Vendeu sua sanfona, juntou- se ao exército e acaba vendo de perto a Revolução de 30,
ficando conhecido como Bico de Aço, apelido que ganhou no exército por ser um exímio
corneteiro.
Na passagem por Juiz de Fora, conhece Domingos Ambrósio que lhe ensina alguns truques na
sanfona. Vai para São Paulo, compra uma nova sanfona e começa a tocar em várias casas,
cabarés, dancings e gafieiras. Começa a tocar no programa de Ary Barroso interpretando
tangos e valsas, mas não tem nenhum sucesso. Em 1940, numa casa noturna, Gonzaga é
desafiado por um grupo de estudantes nordestinos, que exige dele que toque algo “lá da terra”.
“Depois de treinar várias vezes, o sanfoneiro apresenta-se diante dos mesmos tocando “Pé de
serra e ”Vira e Mexe”, sendo aplaudido por todos da casa e novamente volta ao programa de
Ary Barroso, onde conquista a nota máxima e é contratado pela Rádio Nacional”. (RENNÓ,
39, 1994). Inicia então o começo da escalada, como era analfabeto, conheceu compositores e
saiu divulgando sua música para toda a região.
Gonzaga era “analfabeto”, mas tinha o conhecimento do mundo e do povo, conhecimento este
adquirido por suas vivências, sua mediação e sua vontade de representar o sertão nordestino.
O ABC, forma de educação na época, era apresentado para as famílias de alta renda. Em
1953, com Zé Dantas, compõe a música ABC do Sertão, representando a linguagem popular
do povo e a forma de ensino da época.
26
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender um outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rêAté o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Atenção que eu vou ensinar o ABC
A, bê, cê, dê, e
Fê, guê, agâ, i, ji,
ka, lê, mê, nê, o,
pê, quê, rê, ci
Tê, u, vê, xis, pissilone e Zé
27
Segundo Dreyfus (1996, p.44), “o único contato que Luiz Gonzaga teve com a leitura foi
ouvir os meninos da escola cantando o ABC”. A música ABC do Sertão de Luiz Gonzaga em
parceria com Zé Dantas mostra como era ensinado o ABC, designada como alfabeto,
definindo como eram as peculiaridades e diferenças, de uma terra que era abandonada pelos
governantes, demonstrando a identidade nordestina e a forma como era ter a chance de ser
educado naquela época.
Mesmo assim, Gonzaga aprendeu alguma coisa, assinava o nome, mas a aprendizagem não
durou muito tempo, pois tinha que ajudar os pais na roça. “Eu queria aprender a ler, mas meus
pais precisavam de mim para ajudar na roça, e aquele vai e vem entre Exu e a Caiçara não
acabava mais. E eu não era um aluno interessado em queimar as pestanas. Isso me faz falta até
hoje. Além do mais, eu era muito namorador.” (GONZAGA apud DREYFUS, 1996, 51). Sua
escolaridade acabou quando seu amigo escoteiro, Aprígio, morreu afogado.
Como era elegante e talentoso, vestia-se bem e chamava a atenção das moças dos arredores,
teve muitas namoradas, a maioria ficou anônima por Gonzaga gostar de preservar sua imagem
de homem de bem, escondendo seus casos amorosos, como enfatiza Dreyfus:
Luiz Gonzaga sempre fez questão de preservar uma imagem de homem de
bem, abstendo-se habitualmente em tudo que dizia respeito à sua vida
amorosa, ou melhor, contando apenas o que valorizava. E o tremendo
namorador que foi a vida inteira não encaixava bem com sua idéia de
moralidade. (DREYFUS, 1996, p.47).
Seu sucesso surge verdadeiramente em 1941, quando ele atinge a nota máxima no programa
de Ary Barroso. Vestido de cangaceiro por ser fã de lampião, encantava multidões por onde
passava por cantar o Nordeste como ninguém tinha feito.
Eu queria cantar o Nordeste. Eu tinha a música, tinha o tema. O que eu não
sabia era continuar. Eu precisava de um poeta que saberia escrever aquilo
que eu tinha na cabeça, de um homem culto pra me ensinar as coisas que eu
não sabia. Eu sempre fui um bom ouvidor. Cheguei até a enganar que era
culto! (LUIZ GONZAGA apud DREYFUS, 1996, p.109)
Para que seu sonho fosse concretizado, ele necessitava de parceiros para compor suas
músicas, foi quando surgiram as parcerias, sendo seus principais parceiros Humberto Teixeira
e Zé Dantas. Ele precisava de alguém que fosse de sua terra para que, juntos, pudessem criar
músicas com o intuito de cantar o Nordeste.
28
Em 1946 volta para a terra natal, passa somente 16 ou 17 dias, mas trouxe alegria para toda a
pequena cidade, principalmente para sua mãe, Santana, que a última vez que viu era
adolescente e já era um homem formado. Seu pai Januário o achou modificado, somente ele
perdera o sotaque pernambucano, mas com a volta da música nordestina ele recupera seu
linguajar.
Sua volta para o Nordeste trouxe a lembrança de seus momentos passados, uma terra querida
e amada por Luiz Gonzaga, era seu espaço preferido, nunca perdera suas raízes, mesmo
estando em contato com outras culturas. Suas músicas eram sempre dedicadas ao povo
nordestino, que por muito tempo foi marginalizado e desconhecido por muitos.
Suas canções inspiram a alegria e força de vontade de nunca desistir. Gonzaga, além de criar
outros ritmos, como o baião, coloca o Nordeste no cenário musical brasileiro, revelando toda
a beleza e honestidade que o povo nordestino apresenta sua cultura. Revela também todo o
saudosismo inerente de pessoas, não somente os nordestinos, que deixam sua terra natal por
questões particulares, mas de todos aqueles que nunca perdem suas raízes.
Gonzaga foi um homem exímio por natureza, dedicou-se ao Nordeste, lutou pelas causas, teve
suas desavenças em torno da carreira de sucesso, passou por momentos de crise, mas nunca
desanimou. O que ele queria mostrar para as pessoas ele conseguiu com a simplicidade de
uma terra muitas vezes esquecida. Entre amores e sucessos ele chegou ao fim de sua carreira,
quando em 1987 descobre que está com câncer de próstata e metástase nos ossos, causandolhe dores na perna. Dois anos mais tarde, em 02 de agosto de 1989, o grande rei do baião
adormece para a eternidade, mas deixa um legado para vida inteira:
Minha vida é andar/ por esse país/ Pra ver se um dia descanso feliz/
Guardando as recordações/ Das terras onde passei/ Andando pelos sertões/ E
os amigos que lá deixei/ Mar e terra, Inverno e verão/ Mostro o sorriso/
Mostro alegria/ Mas eu mesmo não/ E a saudade no coração. (Exu, 1987/
Paris, 1995)
Esse trecho da música “Vida de Viajante”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, revela todo o
saudosismo que o rei do baião tinha por sua terra querida, a lembrança de seus amigos e a
diversidade da natureza nordestina. Deixou como herança, vários clássicos, além de uma vasta
obra que influenciou as novas gerações de sanfoneiros.
29
Luiz Gonzaga é um exemplo de homem que nunca desiste, mesmo diante das dificuldades,
sua saída de casa fez mostrar que o nordestino não é aquele que as pessoas pensam. O
Nordeste tem cultura, pessoas humildes que batalham a cada dia para conseguirem o pão de
cada dia, que nunca perdem suas raízes mesmo longe de sua terra natal. Segundo
Albuquerque Jr:
No trabalho de Gonzaga, o Nordeste é o espaço descrito na grande maioria
das composições, e nele o sertão é o lugar por excelência. Na sua música, o
sertão aparece acompanhado com seus temas e imagens já cristalizados no
imaginário comum sobre esta geografia: a seca, as retiradas, a devoção aos
santos, o Padre Cícero, o cangaço, a valentia popular etc. O Nordeste
sertanejo do artista é sempre representado pelo povo sofrido, simples,
resignado, devoto e capaz de grandes sacrifícios: “Nordeste de homens que
vivem sujeitos à natureza, a seus ciclos, quase animalizados em alguns
momentos, mas em outros, capazes de produzir uma rica cultura.”
(ALBURQUERQUE JR, 1999, p.88)
Pode-se perceber que Gonzaga, apesar de não ter uma vida muito fácil, enfrentou todas as
dificuldades de cabeça erguida, tornando-se um homem inesquecível por cantar sua terra
como nunca ninguém cantou e por traçar sua trajetória de forma que deixou marcas por onde
passou e muitos cantores admiram e regravam suas canções até hoje.
2.2
DISCOGRAFIA
A discografia de Luiz Gonzaga é traçada por uma linearidade baseada em tudo que acontecia
no Nordeste, principalmente em sua terra natal, Exu, Pernambuco, onde passou uma boa parte
de sua vida. Todos os acontecimentos, vivências, cultura, a própria natureza eram retratadas
em suas canções. Criador de vários ritmos, sendo eles o Baião, xote, xaxado, nunca deixou de
lado os instrumentos que o acompanhavam por onde passava. O triângulo, a sanfona e a
zabumba lhe garantiam o ritmo que contagiava as multidões.
Com uma discografia riquíssima, ele passou por várias gravadoras, dentre elas a Victor, futura
RCA, BMG, Pámela, Camden, Paulus, EMI- Odeon, Copacabana, Revivendo, EMI-Music,
que desde 1941 a 1989, faz vários títulos, juntamente com os seus parceiros, que fizeram parte
de toda sua trajetória musical.
30
Conforme Rennó (1990, p.142), a discografia do rei do baião é bastante confusa,
principalmente no período compreendido entre 1959 e 1963 (fase final de produção de discos
de 78 RPM e início dos discos de 45 e 33 RPM). O que tornou um pouco difícil para um
levantamento completo de sua discografia, por Luiz Gonzaga não ter controle de suas
gravações, mesmo assim ele afirma que:
Luiz Gonzaga gravou 115 discos de 78 RPM; 7 discos de 45 RPM(
compactos simples); 7 discos de 45 RPM( compactos duplos); 15 discos de
33 RPM( compactos simples); 10 discos de 33 RPM( compactos duplos).
Assis apresenta uma relação de 64 LPs..Convém,incluir o álbum Forró 1982.
Luiz Gonzaga participa com quatro faixas nesta gravação de um especial de
TV(“Luar do Sertão”, Derramaro o Gaí”, “ Paraíba” e Forró no Escuro”).
(RENNÓ, 1990, p.142).
Com uma musicografia composta por 312 músicas, Luiz Gonzaga cantou o Nordeste,
demonstrando outra realidade que era desconhecida por outras pessoas. Com os seus
parceiros, Humberto Teixeira, Zé Dantas, dentre outros, desvendou as problemáticas
provocadas pela seca e também às questões de politicagem, a cultura, religião e a vontade de
cada nordestino que denotava o amor e apego que cada um tinha por sua terra querida.
Em 1945 grava seu primeiro disco, tocando e cantando mazurca mariquinha, com a parceria
de Miguel Lima, o primeiro com 78 rotações, tendo no repertório a música Chamego de
Guiomar, a seguir Dezessete e Setecentos. O 78 rpm estourou, fazendo com que Luiz
Gonzaga se firmasse como cantor e tendo sua resistência nas rádios. Porém essa parceria não
deu muito certa, pois Gonzaga queria alguém que cantasse o Nordeste como ele, que pensasse
como ele.
Eu me lembrava do Nordeste, eu queria cantar o Nordeste. E pensava que o
dia em que encontrasse alguém capaz de escrever o que eu tinha na cabeça,
aí é que eu me tornaria um verdadeiro cantor. O Miguel Lima fora o
primeiro parceiro que me apareceu. Mas o seu raio cultural não era o
nordestino. O “Dezessete Setecentos” foi fácil de fazer, porque não tinha
compromisso regional. (GONZAGA apud DREYFUS, 1996, p.105).
Para a concretização de seu sonho, Luiz Gonzaga precisava de um parceiro que entendesse o
Nordeste, foi quando conheceu o parceiro nordestino Humberto Teixeira e gravou sucessos
como “No Meu Pé de Serra” (1946), “Asa Branca” (1947), com o lançamento do disco “Vou
pra Roça”, “Juazeiro” (1947),” Légua Tirana”, ”Paraíba”, sucessos que divulgavam a cultura
31
nordestina, sua terra e a natureza. Foi com Humberto Teixeira que Luiz Gonzaga conseguiu a
entrada triunfal na música popular brasileira através do Baião. Como assevera Dreyfus:
O termo “baião”, sinônimo de rojão, já existia, designando na linguagem dos
repentistas nordestinhos, o pequeno trecho musical tocado pela viola, que
permite ao violeiro testar a afinação do instrumento e esperar a inspiração,
assim como introduzir o verso do cantador ou pontua o final de cada estrofe.
(1996. p. 112)
Em 1946 foram lançadas 78 rotações com a música “Baião”, o sucesso foi tanto que Gonzaga
teve de esperar três anos, antes de poder gravar sua própria versão de “Baião”. Um ritmo que
concretizou sua carreira artística, sendo consagrado o Rei do Baião pelo povo brasileiro.
Humberto Teixeira candidatou-se a deputado federal e ganhou as funções assumidas
impediram que prosseguisse as atividades principais e Luiz Gonzaga precisava de outro
parceiro, desfez a parceria com Humberto Teixeira e conseguiu chegar a seu objetivo com a
parceria com Zé Dantas, podendo cantar o Nordeste como sempre desejou.
Afastado do Nordeste desde menino, Humberto Teixeira era mais asfalto que
Sertão; ele mentalizava o mundo nordestino, mas não possuía o
conhecimento de Zé Dantas, que o vivera por dentro, que levava o Nordeste
em si, que era o próprio Nordeste. E que encontrara em Gonzaga “a voz que
completa as coisas que eu quero dizer do Sertão”. Com Humberto, Gonzaga
realizara o seu projeto de lançar a música do Nordeste no Sul. Com Zé
Dantas, ele iria mais longe, transformar-se-ia num militante da alma do
Nordeste. (DREYFUS, 1996, p. 149)
Entre 1953 e 1954, com Zé Dantas, Gonzaga gravou músicas como “Xote das Meninas”, “A
letra I”, “ABC do Sertão”, “Algodão” e “ Vozes da Seca”, além de músicas que cantavam os
problemas do Nordeste, miséria, fome, desemprego, produziam canções que demonstrava a
parte excluída do país, dos mais marginalizados.
Em 1955, aparecem os primeiros LPs, Gonzaga continuou a gravar discos com 78 rotações,
mas a cada ano lançava um LP, figurando sucessos como “Respeita Januário”, “ABC do
Sertão”, “Asa Branca”. Nesse mesmo, lança um disco com cinco 78 rotações, com dez
músicas inéditas, porém “Riacho do Navio” teve mais êxito. Em 1964, os discos de 78 rpm,
desapareceram definitivamente, sendo lançados os LPs.
Com a decadência dos 78 rpm, as gravadoras começaram a gravar as músicas em LPs, discos
com material plástico chamado vinil. De 1961 á 1989, até sua morte, as canções gonzaguianas
32
foram disponibilizadas em LPs, tendo como alguns discos “São João na Roça”(1962), “A
Triste Partida”( 1964), “Eu e meu Pai” ( 1979)“ A Festa”(1981), “ Danado de Bom” (1984),
dentre outros, além de compilações, “Luiz Gonzaga sua sanfona e sua simpatia ( 1966), Asa
Branca ( 1975), 45 anos de sucesso ( 1985), dentre outros, além de CDs, que foram lançados
após sua morte, com compilações de suas músicas disponíveis apenas em 78 rpm, “E ta cabra
danado de bom” (1993), “ Sanfona dourada” ( 1994) e “ No meu pé de serra” (1995). Nesse
contexto:
Ao marcar sua produção discográfica em 78 rotações, Luiz Gonzaga entrou
na indústria cultural sobrevivendo, sem concessões, e conseguindo o suporte
desejado para cumprir o seu roteiro Nordeste- Sul- Nordeste. Roteiro este
que marcaria para sempre as narrativas da Nação Brasileira, incorporando o
sertão nordestino no complexo híbrido da identidade cultural nacional.
(AUSTREGÉSILO, 2012, p.132)
Suas canções mais conhecidas são: Asa Branca, Juazeiro, Assumpreto, Cintura fina, A volta
da Asa Branca, Boiadeiro, Paraíba, Respeita Januário, Olha pro céu, São João na roça, O
Xote das meninas, ABC do sertão, Riacho do Navio, A feira de Caruaru, Dezessete e
setecentos, A morte do vaqueiro, Ovo de codorna, Vozes da Seca, Algodão, O jumento é
nosso irmão, dentre outras. Músicas que divulgaram a cultura nordestina, suas problemáticas
e o amor que Gonzaga tinha por sua terra querida.
Gonzaga era “analfabeto”, mas tinha uma visão de mundo muito aguçada, pois fazia uma
leitura das manifestações culturais de sua região, interpretando e expressando em suas
canções, fazendo com que revelasse todo o seu amor e apego por a terra, além de influenciar
outros artistas que até hoje cantam suas músicas, um de seus apreciadores o cantor Gilberto
Gil, afirma:
Dentre aqueles gêneros diretamente criados a partir da matriz folclórica, está
o Baião e toda a sua família. E da família do baião Luiz Gonzaga foi o pai.
Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular
brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente
utilização de células rítmicas extraídas do pipocar dos fogos, de moléculas
melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosidade do povo catingueiro, e,
sobretudo da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns
nativos nordestinos emigrantes como ele, veio a inventar um gênero musical.
(Gilberto Gil, apud, Dreyfus, 1996, p. 09)
Gonzaga representava o Nordeste através das narrativas da cultura, da terra e de seu povo,
demonstrando suas vivências e relatando os acontecimentos através da oralidade. Conforme
Austregésilo:
33
Gonzaga tinha em mente que cada espectador é co-autor. Por outro lado, o
compositor estava consciente de que seu público fazia uma leitura de suas
canções com um olhar nordestino, compreendendo e interpretando o
repertório gonzaguiano com os pés no Sertão onde habita. (2012, p. 49).
Diante disso, pode-se dizer que o olhar gonzaguiano era motivador, não só dos nordestinos,
como também de pessoas de outras regiões, diante de seu discurso, compreendia o que estava
sendo cantado não como forma de ritmo, mas como uma forma de protestar a favor de sua
terra querida. Suas músicas traziam um pano de fundo repleto de um conteúdo com o cenário
sertanejo, suas práticas, vivências, sentimentos e linguagem.
Através de suas canções era feita a releitura e a imagem do sertão, o seu discurso é todo em
volta da identidade cultural nordestina. Gonzaga conseguiu criar condições que
demonstrassem a forma como o homem nordestino e a terra ultrapassavam as fronteiras do
Sul, região que por muito tempo utilizava discursos preconceituosos contra os nordestinos. A
divulgação de suas canções juntamente com seus parceiros fez com que fossem divulgadas
todas as diversidades culturais e a natureza, como forma de sinônimo e riqueza. Austregésilo
(2012, p. 32), afirma:
Luiz Gonzaga surgiu com sua visão de Nordeste e Nordestino, de Brasil e de
brasileiro, com uma música representativa de uma cultura que rompia com a
condição de subalternidade. Entretanto a caricatura de Jeca Tatu, Gonzaga
com sua oralidade e seu discurso imagético impressionava a audiência e
chocava-se com os padrões da mídia dominante (o rádio) e da indústria
cultural (gravadoras), com sua voz de taboca rachada e cantando temas
como seca, o êxodo rural, os usos e costumes do povo nordestino.
As músicas gonzaguianas denotam, até hoje, a expressividade do homem nordestino, sua vida,
vivências, o cuidado com os animais e plantações, a ida e volta do roçado, o cotidiano e a
rotina de cada um, a própria mãe natureza, que com a seca torna-se fruto de sobrevivência, e
com a chuva, sinônimo de prosperidade, o ruído dos ventos, dos carros, da recíproca
coletividade do povo nordestino.
Gonzaga retrata todo o apreço que sente por sua terra querida, buscou entender o Nordeste,
representando suas raízes formadoras, estando envolvido com a transformação da realidade
social em que vivia. Dentro de sua ótica de homem do povo, Gonzaga conseguiu demonstrar
toda a expressividade nordestina por ser, ele, parte desse meio e por transmitir as vozes do
Sertão.
34
3 ESPAÇO-NATUREZA E PERTENCIMENTO NAS MÚSICAS DE LUIZ
GONZAGA
Já foi citado nos capítulos anteriores que Gonzaga tentava expressar em suas canções tudo
que tinha no sertão: a natureza, a cultura, a religião, o homem, demonstrando o que cada
elemento representa para o homem sertanejo. A natureza externa apresenta um papel
fundamental na construção do discurso de Luiz Gonzaga. Sua ótica é voltada para a
compreensão do Sertão nordestino, a seca, as agruras do sertanejo e a alegria de um povo que,
mesmo quando se ausenta, tem esperanças de poder voltar para sua terra querida. A natureza
na obra de Luiz Gonzaga é representada pelo clima e apresenta uma ligação entre o espaço
/natureza e homem, demonstrando a compreensão que o homem nordestino tem por sua terra.
Nessa concepção o homem se sente como elemento concreto, estando inserido no próprio
espaço que habita, podendo mudá-lo socialmente e psicologicamente, assim como o espaço
também interfere em si. Nesse contexto, Austregésilo afirma: “Essa dicotomia chuva versus
seca vai permear a concepção de vida, expressa na obra do compositor, como representações
dos ciclos pelos quais as populações rurais são obrigadas a passar sempre em partir em busca
de dias melhores”. (2012, p. 182)
O clima é um dos pontos abordados nas canções de Luiz Gonzaga, ele não queria divulgar
apenas o sofrimento que as pessoas que viviam na zona rural passavam, mas também
denunciava a falta de políticas publicas, pois essas pessoas tinham que deixar sua terra natal á
procura de emprego para poderem sobreviver. É visível, nas canções de Gonzaga, a forte
relação homem/ natureza e seu sofrimento com a saída do espaço vivido. As músicas do Rei
do Baião traduzem a vida sofrida dos sertanejos por terem, muitas vezes, que sair de sua terra,
como se vê em Asa Branca:
ASA BRANCA
(Toada, 1947, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
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Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
A música “Asa Branca”, considerada também como o hino nacional brasileiro, retrata o
cenário do Sertão nordestino, demonstrando como é sobreviver em uma terra escassa de
chuva, que faz o homem migrar para outras localidades. Começando pelo título “Asa Branca”,
é uma ave, conhecida também como pombo que tem uma faixa branca em suas asas. Ela sai á
procura de alimento em outras regiões, quando a seca chega e retorna ao sertão, quando a
chuva cai. É um pássaro que representa simbolicamente o desespero do homem nordestino
por ter de deixar a terra natal, a família e ir embora para o Sul, à procura de melhores
condições de vida.
A Asa branca evoca um sertão marcado pela seca, pela miséria e pela fome, sertão do
trabalho árduo vivenciado a cada dia, da vida dura, assim como esperanças e desilusões dos
seus habitantes. As duas primeiras estrofes referem-se à seca que assola a região sertaneja,
palavras como ardendo e fogueira representam o sol quente e escaldante do sertão, sol que
castiga que obriga o homem a sair à procura de outras regiões. O homem clama a Deus por
misericórdia, porque tanto sofrimento, com a falta de chuva, as plantações não nascem, o
cavalo morre e o desespero aparece por ter que ir a procura de emprego em outras regiões.
Observa-se também a saudade que o homem sente pela terra, a vontade de voltar, a esperança
que a chuva volte para ir para a terra querida, a seca torna-se um sentimento de tristeza por
haver a separação da terra. Na última estrofe, o eu poético diz que volta quando a chuva voltar
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para o sertão, à esperança retorna quando o período de chuvas acontece. Observa-se esse
sentimento na música “A volta da Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.
A VOLTA DA ASA BRANCA
Já faz três noites que pro Norte relampeia
A Asa Branca ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas e voltou pro meu Sertão
Ai, ai eu vou m´embora
Vou cuidar da prantação
Já bateu asas e voltou pro meu Sertão
Ai, ai eu vou m´embora
Vou cuidar da prantação
Como um elemento da natureza muito importante, a chuva representa a esperança que
mantém viva a fé das pessoas que vivem em regiões secas. “A volta da Asa Branca”,
representa o homem que volta para sua terra, sente a imensa felicidade de poder retornar para
o lar e poder criar os animais, as plantações e viver com a família. As estrofes revelam a
beleza da natureza quando o período de chuvas retorna para o sertão. O homem é guiado pelos
elementos da natureza, o relâmpago, trovão e a Asa Branca, sabendo que a hora de voltar para
casa está chegando.
A seca fez eu desertar de minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva pr´esse Sertão sofredô
Sertão de muié feia de homem trabaiadô
De mandar chuva pr´esse Sertão sofredô
Sertão das muié séria dos hometrabaiadô
Nessa estrofe, o eu poético revela que um dos motivos de sua saída foi a falta de chuva,
porém com o retorno da mesma a felicidade vem á tona, a Asa Branca revela o retorno do
homem para sua terra e a felicidade de poder desfrutar novamente todos os momentos bons
vivenciados naquele lugar, de poder sentir o cheiro de terra molhada, dos córregos do riacho,
da natureza em festa, demonstrando que o homem e a natureza são partes integrantes de um
conjunto de vários momentos e experiências felizes.
De certa forma, ele mostra o espaço através do homem e vice versa: “Sertão das muié séria
dos home trabaiadô”. No entanto, quando diz muié feia não está desfazendo da mulher,
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apenas mostra que a mulher sertaneja é diferente daquela do imaginário social ou da mulher
da urbe que vive arrumada, enquanto que a sertaneja trabalha na roça para ajudar na renda da
casa.
Gonzaga também demonstra como o as matas, as cores, as estações estão representadas em
suas músicas. A natureza torna-se um discurso poético para a divulgação do que tem no
Sertão. Embora sendo uma terra árida, com poucas chuvas, Gonzaga em suas canções,
traduzia a expressividade da natureza em toda a sua especificidade, comparava o homem com
os elementos da natureza. Na música “Juazeiro”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira,
observa-se a motivação que o homem sertanejo sente em voltar para a terra, além de
demonstrar a intimidade do homem com a natureza e o envolvimento dele com o espaço
habitado.
JUAZEIRO
Juazeiro, juazeiro
Me arresponda por favor
Juazeiro, velho amigo
Onde anda o meu amor
Ai, juazeiro
Ela nunca mais voltou
Diz, juazeiro
Onde anda o meu amor
O juazeiro, uma árvore típica do Nordeste, está sempre erguido em épocas de seca “cheio de
coragem”, mostrando suas folhas e seus galhos que nunca perdem as forças. É a árvore que
representa a motivação e a esperança do homem sertanejo. Gonzaga, através dessa música,
além de comparar a resistência do homem sertanejo com o juazeiro, traduz a sentimentalidade
do eu poético pela amada. Nesse discurso o eu poético tenta expressar os momentos vividos
debaixo daquela árvore, lembranças passadas que vieram á tona quando sentiu falta dos
momentos vivenciados em uma época que não podia estar neste lugar, pois teve que sair
muito cedo de casa para ir em busca de melhores condições de vida.
O falar popular está sempre presente nas músicas de Luiz Gonzaga. Por ser ele um cantador
de seu povo, palavras como arresponda, alembra, seje denotam a linguagem popular
existente na forma de traduzir o linguajar sertanejo. A árvore que dá sombra, que faz
relembrar momentos inesquecíveis, representava muito para o eu poético, pois foi debaixo
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dessa árvore que escreveu a inicial de seu nome e da amada. Também em outra canção, “xote
das meninas”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, utiliza-se outra árvore típica do Sertão, o
mandacaru, para evidenciar a chegada da chuva do sertão, como também a passagem de uma
garota para a mulher.
XOTE DAS MENINAS
Mandacaru quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no Sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais sapato baixo
Vestido bem citado, não quer mais vestir timão
Ela só quer
Só pensa em namorar...
Nesta canção, o eu poético faz uma comparação entre o mandacaru e a menina. Sendo o
mandacaru uma árvore típica da região sertaneja, é bem resistente à força do sol e do vento,
suporta toda a agrura do sertão e quando floresce evidencia a chegada da chuva. Dessa forma,
remete ao desabrochar da mulher e flor do mandacaru pode simbolizar a fertilidade tanto da
terra quanto a feminina, uma vez que e chegada da chuva e junto com ela a plantação, a
colheita.
Gonzaga aborda nesta canção as transformações do corpo da menina, tanto em seu estado
físico como psicológico. Ele descreve a vaidade, as mudanças psicológicas em suas atitudes,
como não querer mais brincar de boneca, usar meias compridas, sua primeira paixão, a
adolescência é a fase das descobertas.
A expressão da natureza nas músicas gonzaguianas remete a concepção do homem com o seu
espaço, demonstrando a relação que o homem tem com terra, independente de nacionalidade
ou localidade, suas vivências, momentos passados, dentro e fora do espaço habitado.
Conforme Austregésilo (2012), a natureza na obra gonzaguiana é expressa pelas
representações coletivas, pelas vegetações, o canto dos pássaros, os ruídos dos carros, a
natureza em constante movimento, tudo isso sendo retratado de forma imaginativa.
Essa forma de tornar-se pertencente ao espaço, em retratar suas raízes, lembranças passadas,
momentos vividos, está sempre presente na obra de Luiz Gonzaga, ele tentou mostrar o
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espaço em suas particularidades, demonstrando como era viver em um lugar que por muito
tempo foi esquecido. Diante dessa perspectiva, Austregésilo afirma:
A concepção do “espaço” Nordeste já habitava a consciência de Luiz
Gonzaga e o seu papel dentro da relação homem/terra, uma vez que o
compositor teve a oportunidade de experenciar, ao longo de sua vida, a
transitoriedade dos territórios, pois viveu em diversos lugares e regiões do
Brasil, levando no seu consciente a formação discursiva que aprendeu no seu
lugar de origem, de onde absorveu todo o repertório de representações
culturais. (2012, p. 114)
Gonzaga, de forma imaginativa, reinventava outra forma de falar do Nordeste, não como um
estado seco de pessoas analfabetas, mas um estado rico em diversidade cultural, uma bela
natureza que representava muito essas pessoas, isso porque todas essas coisas foram
absorvidas por ele por toda vida. O espaço sertanejo é revelado com muita excelência, o
Sertão é retratado por imagens que estão na memória do Rei do Baião, temas como a seca, o
êxodo rural, a devoção, é demonstrada para designar todo o sofrimento de um povo simples,
humilde que é capaz de fazer qualquer sacrifício para não sair de sua terra tão querida e
amada.
Referindo-se ao Nordeste como espaço temático, e afastado dele, a saudade vem à tona, a
lembrança da família, do pequeno roçado, das festas, das plantações, dos animais, dos amores
que lá ficou, são revelados nas canções gonzaguianas. Isso é demonstrado na música “No Meu
Pé de Serra”, (xote) de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Lá no meu pé de serra
Deixei ficar meu coração
Ai, que saudades tenho
Eu vou voltar pro meu sertão
No meu roçado trabalhava todo dia
Mas no meu rancho tinha tudo o que queria
Lá se dançava quase toda quinta-feira
Sanfona não faltava e tome xote a noite inteira [...]
O eu poético nessa canção coloca-se como um retirante saudoso de sua terra natal e manifesta
a vontade de voltar. Esta música nos leva a perceber um sertão perfeito, prazeroso com muita
fartura e chuvas, um lugar bom de viver. Demonstra a alegria e as festas, representa um sertão
nordestino capaz de deixar saudades em quem passou por lá. A vida simples, o trabalho no
roçado, as festas traduzem o que Gonzaga queria demonstrar da cultura nordestina, o xote de
quinta-feira simbolizava um costume das pessoas que viviam ao seu redor, era uma forma de
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caracterizar os costumes, contribuindo para a construção da identidade cultural nordestina,
como bem observa Austregésilo:
O repertório de Gonzaga e seus parceiros é o espelho de sentimento
nordestino. Nas músicas o compositor narra as manifestações da região e do
povo nordestino, exaltando tipos populares e profissionais como o barbeiro,
a beata, o padre, o vaqueiro, o violeiro, suportando as letras com um humor
militante e, nas interpretações, com distanciamento brechtiano (Bertolt
Brecht) nas ancoragens que fazia do tema apresentado. (2012, p.144).
O sentimento de pertencimento é evidente nas canções de Gonzaga por expressar a saudade
da terra, da mulher amada, da família, das festas, dos parentes, da vida que tinha deixado
naquele lugar, sentimento este motivado pelo êxodo do sertão para outras localidades. Todo
sentimento de pertencimento é expresso através dos elementos do espaço ambiente.
A
distância provocou dor e tristeza na alma, não somente para ele, como para qualquer pessoa
que sai da terra natal a procura de melhores condições de vida.
Em todas estas formas a distância assume um papel essencial, não só a
distância física do lugar, mas a distância emocional da morte, a ironia em
referência ao narrado ou a paixão que se interpõe no encontro amoroso.
Parece que na viagem o homem assiste ao espetáculo da sua imaginação,
contempla como a trágica certeza da ausência do país natal pode dar espaço
ao desprendimento de lugares mágicos. Na viagem, guiados pela bússola do
desejo, pode surgir o escuro prazer de tornar-se estrangeiro, embora também
se possa falar de um trânsito da des-humanização ao anonimato. (CASTRO
apud AUSTREGÉSILO, 2012, p. 152)
Neste sentido, a distância da terra e as angústias sofridas pelo seu povo tornam-se
representações nas músicas de Luiz Gonzaga. Ele queria denunciar a falta de políticas
públicas para esse povo sofredor, pois tinha que abandonar a terra para ir à busca de melhores
condições de vida. Um povo que tinha esperança e desilusões até mesmo com a própria
natureza, a seca castiga e os representantes desse povo não “pagam” as promessas feitas nas
eleições, porque precisam de miséria para mantê-los onde estão. Os que passam fome sofrem
com a seca tinham uma vida difícil, mas nunca perdem a fé de um dia poder voltar para o seu
cantinho e para sua família.
VOZES DA SECA (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
Seu dotô, os nordestino
Têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista
Nesta seca do Sertão
Mas douto, uma esmola
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A um home que é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicia o cidadão
É por isso que pedimo
Proteção a vosmicê
Home por nós escoído
Para as rédias do podê
Pois douto dos vinte Estado
Temos oito sem chuvê
Veja bem, quase a metade
Do Brasil tá sem comê
Dê serviço ao nosso povo
Encha os rios de barrage
Dê comida a preço bão
Não esqueça a açudage
Livre assim nós da esmola
Que no fim dessaestiage
Lhe pagamointé os juro
Sem gastar nossa corage
Se o doutor fizer assi
Salva o povo do Sertão
Se um dia a chuva vim
Que riqueza pra nação
Nunca mais nós pensa em seca
Vai dá tudo neste chão
Como vê, nossos destino
Mecê tem na vossa mão
Mecê tem a vossa mão.
Nesta canção, Luiz Gonzaga coloca-se como porta-voz dos nordestinos que sofrem com a
seca, com uma linguagem simples e regional, denuncia a falta de políticas públicas voltadas
para o povo e solicita medidas para eliminar o sofrimento do povo. Gonzaga protesta contra
os governantes para que procurem medidas de solucionar os problemas provocados pela seca,
levando em conta que o homem sertanejo sente-se humilhado diante da situação exposta, dar
esmolas não irá solucionar os problemas causados pela seca, ao contrário, tirará a dignidade
do homem sertanejo, que agradece pelo que foi recebido, mas espera outras soluções que
amenizem os problemas provocados pela seca, pois a mudança dessa terra muitas vezes
esquecida está nas mãos dos governantes.
Além de Luiz Gonzaga, outros compositores nordestinos também tentavam revelar todo amor
e apego a sua terra natal através da música. Como Catulo da Paixão Cearense, na música
“Luar do Sertão” que foi gravada por Luiz Gonzaga.
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LUAR DO SERTÃO
Não há, oh, gente
Oh, não luar como esse no sertão
Oh, que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Esse luar cá na cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do Sertão
Não há oh! Gente...
Esta música descreve de forma imagética a beleza do luar do Sertão, fazendo referência ao
luar que ele sente saudades de ver. Ele faz uma comparação entre o luar da cidade em que está
e o luar do sertão e refere-se a um luar único, especial e mais belo que qualquer outro. O luar
é como se fosse uma forma simbólica de o eu poético demonstrar a saudade que ele tem da
terra, dos momentos vividos.
Luiz Gonzaga, ao cantar essa música, tenta mostrar que as coisas do Sertão são belas e cada
pedaço do Nordeste tem um grande significado para os nordestinos. O nordestino é forte, crê
que as coisas, apesar de serem difíceis, um dia darão certo e, com muitas dificuldades, vai
sempre a busca da felicidade. Outra música de Luiz Gonzaga que expressa o saudosismo, é a
música Propriá, com parceria de Guio Morais:
PROPRIÁ
Tudo o que eu tinha deixei lá num truce não
Deixei o meu roçado prantadinho de feijão
Deixei a minha mãe com meu pai
E meus irmãos
E com a Rosinha eu deixei meu coração
Por isso eu vou vortar pra lá
Num posso mais ficar
Rosinha, ficou lá em Propriá
Ai, ai, ui, ui
Eu tenho que voltar
Ai, ai, ui, ui
Você tem que voltar
Ai, ai, ui, ui
Minha vida ta todinha em Propriá
Esta música representa a retirado do homem da terra natal, a saudade que tem de sua família
da amada Rosinha. Na ultima estrofe, o eu poético revela “Minha vida ta todinha em Propriá”.
Levando em conta esse trecho, observa-se que o eu poético traduz com sentimentalidade o
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amor por Rosinha e o que sente por “Propriá”, que é uma cidade sergipana. A retirada para
outra cidade fez com desencadeasse sentimentos de tristeza e saudade de momentos e a
família que foram deixadas nesta cidade.
Os momentos vividos, experiências, amores, vêm sempre á tona em qualquer pessoa de
regiões diferentes, quando deixa à terra natal á procura de melhores condições de vida.
Gonzaga, em suas canções, além de divulgar a cultura nordestina, mostra o que a separação
faz com o homem, lhe trazendo sentimentos de tristeza, angústia e dor, mas com a esperança
que tudo dará certo com a chegada da chuva no Nordeste. Nesse contexto Alburquerque Jr.
Afirma:
Gonzaga foi, pois, o artista que, por meio de suas canções, instituiu o
Nordeste como um espaço da saudade. Embora não aquele Nordeste com
saudade da escravidão, do engenho, das casas-grandes; mas o Nordeste da
saudade do sertão, de sua terra, de seu lugar. Saudade de seus cheiros, seus
ritmos, suas festas, suas alegrias, suas sensações corporais. Saudade de
migrante ou de homem de cidade, em relação a um espaço idílico onde
homem e natureza ainda não se separaram; onde as relações comunitárias
ainda estão preservadas, onde a ordem patriarcal ainda está garantida. Um
Nordeste de hierarquias conhecidas e preservadas, mas também o Nordeste
da seca, das retiradas, da súplica ao Estado e às autoridades por proteção e
socorro. Um Nordeste humilde, simples, resignado, fatalista, pedinte. E, ao
mesmo tempo, um Nordeste de grande “personalidade cultural”. Um lugar
que quer conquistar um lugar para sua cultura em nível nacional, que quer
mostrar para o governo e para os do Sulque existe, que tem valor, que é
viável. O espaço da cultura brasileira contra as estrangeirices do Sul. (1999,
p.89)
Este sentimento de pertencimento é evidente nas canções gonzaguianas, por que também ele
passou por isso, começou a trabalhar desde cedo, teve que ir embora de sua cidade natal e
passou por dificuldades para chegar aonde chegou. Só quem sente na pele, quem convive com
a separação é que sabe o que esses sentimentos causam na vida do homem. Gonzaga é um
exemplo de homem que seguiu firme e forte com suas convicções, ele sempre tinha fé como
qualquer pessoa que as coisas iriam dar certo. A comparação que ele faz com o homem e a
natureza é exatamente a firmeza, a dureza, superação e esperança que o homem apresenta
diante da realidade que está inserido.
O espaço-natureza nas músicas de Luiz Gonzaga não é visto somente como um meio de
sobrevivência, mas um espaço de superação, esperanças e amor, sendo um meio do homem se
situar no mundo. Gonzaga exprimia suas raízes formadoras com muito amor, relatava cada
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momento vivido por cada sertanejo, gostos, ações, lembranças passadas, o saudosismo da
terra querida, as festas, a religião, tudo isso era manifestado com muito orgulho por ser ele
parte desse espaço.
Gonzaga trouxe uma novidade á música brasileira. Trouxe o sentimento
melódico das extensões sertanejas, das léguas tiranas, das asas brancas, do
gemer dos aboios. As tristezas dos violeiros se passaram para sua sanfona
[...] Pode-se dizer que Gonzaga renovou com suas interpretações, com a sua
forte personalidade de cantor, um meio que andava convencional, sem
originalidade, banalizado por meia dúzia de bocós que vive a roer as
heranças do genial Noel Rosa. O que nos prende ao cantar de Gonzaga, é o
que nos arrebata Noel, é a simplicidade da melodia, é a doce música que ele
introduz nas palavras, a magia dos instrumentos, a candura de alma tranqüila
que se derrama nas canções. (Rêgo apud Dreyfus, 1996, p. 171)
A forma como Luiz Gonzaga tentava perceber a natureza fica clara em suas músicas. Apesar
da vida dura, do sofrimento pela falta de chuva e de ficar longe da terra querida, ele tinha um
apego ao lugar, um lugar de saudade, que fica na memória refletindo sua própria identidade.
Assim, as músicas do Rei do Baião traduzem toda a sentimentalidade e afeto que tinha por seu
local de origem, ficando evidente a interação do homem com a natureza em geral e com seu
espaço ambiente, tornando-se um, elemento do outro. Segundo Socorro Almeida:
Todas as atitudes dos humanos com relação à natureza e tudo que existe é
reflexo da sua percepção em relação a eles. Percepção essa que também
atribui valores a tudo que está ao alcance factual, sentimental ou no
imaginário do indivíduo. É visível nas letras das músicas cantadas por
Gonzaga a forte relação do homem com o espaço vivido em que o espaço,
muitas vezes ganha status de lugar. (2012, p. 8)
Para Socorro Almeida é visível a relação do homem com a natureza, o homem através dela,
consegue perceber de forma diferente o mundo que o cerca, inserindo uma melhor
compreensão do espaço que habita e a refletindo nas suas ações. Nas canções de Luiz
Gonzaga, essas ações são reveladas através da forte relação do homem com o espaço vivido,
as lembranças, o orgulho por ser parte do lugar, sentimento criado que se torna indefinido e
por onde quer que vá, todos os momentos vividos ficarão sempre na memória.
A vida no Sertão muitas vezes não é fácil, é incerta, só quem vive lá sabe como é conviver
com a falta de chuva, de políticas públicas voltadas para o povo, esperança da volta da chuva
e de dias melhores. Um povo forte, que vivencia, a cada dia, as agruras do sertão, que sente
saudades da terra natal, porém apesar de tudo isso nunca desanima diante das dificuldades
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enfrentadas, vencem as barreiras que a realidade lhes impõe, agarram com todas as forças a
bandeira da terra querida, mesmo com a distância, a cultura, as lembranças passadas ficam
sempre na memória. Portanto, toda essa representação está presente nas canções de Luiz
Gonzaga do Nascimento, um homem de sua terra, de seu povo, que divulgou para o Brasil e
para o mundo, toda a sentimentalidade que tinha por seu espaço habitado, mostrando a cultura
nordestina, as belezas da natureza, a riqueza de seu povo e o saudosismo deixado por quem
um dia por lá passou.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dessa pesquisa, foi possível perceber que as músicas de Luiz Gonzaga trazem os
aspectos que remetem a identidade cultural nordestina e representa a natureza de forma
significante, traduzindo a relação do homem com o espaço que habita. Os conceitos de
espaço-natureza e de pertencimento são partes integrantes do discurso de Luiz Gonzaga, são
imaginados e construídos dentro de uma ótica voltada para o que tem no sertão. Dessa forma,
a natureza em sua totalidade e a forma de pertencer corresponde a uma expressão de existir
dentro da realidade nordestina.
Luiz Gonzaga desbravou fronteiras, desmistificou o preconceito por parte de pessoas que não
tinham o conhecimento de seu local de origem e cantou o Sertão com todo amor. Fez o
Nordeste ganhar espaço no cenário musical brasileiro, criou ritmos que embalam multidões
até hoje e demonstrou o saudosismo que tinha por sua terra querida.
As canções de Luiz Gonzaga exalam até hoje tudo que representa o Sertão nordestino, pois o
próprio Gonzaga fez parte dele, sofreu várias dificuldades e preconceitos para chegar aonde
chegou, mas nunca desanimou, deixou o seu legado, enfrentou vários desafios e demonstrou
sua identidade cultural com muito amor.
Percebeu-se, ao longo dessa pesquisa, que algumas pessoas, mesmo com o contato com diferentes
culturas, não deixam de pertencer ao local de origem, guardam sempre consigo um sentimento de
saudade, provocados pela distância da terra querida, dos momentos vividos, das lembranças passadas,
sendo representadas pelo saudosismo e esses valores inerentes ao sertanejo nordestino.
Com a análise de algumas músicas do “Rei do Baião”, pode-se perceber o contato que o homem tem
com a natureza e o local de origem, sendo representados pela vegetação, animais e o próprio espaço,
tornando-se uma íntima ligação do homem/natureza e seu espaço habitado.
Diante disso, Luiz Gonzaga pode ser considerado como um homem de sua terra que revelou um olhar
sobre o Sertão ao tentar transmitir este espaço para o mundo através de sua oralidade musical,
tomando como referência não só somente a distância espacial, como também a distância temporal que
exprime o saudosismo de Gonzaga por sua terra natal. Gonzaga mostrava através de suas canções, que
o que muitas vezes fazia o homem sertanejo distanciar de sua terra não era somente a força da
natureza, a falta de chuva, a seca, mas a falta de políticas públicas para esse povo por conta dos
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governantes, que apenas prometiam, porém nunca cumprem com as palavras expostas em seus
discursos.
Pode-se concluir que as músicas de Luiz Gonzaga e seus parceiros revelam tudo que tem no Sertão, a
identidade cultural, o espaço, a natureza, a mulher, o homem, a luta, desilusões e esperanças. Retratam
as belezas de uma terra que por muito tempo foi deixada à margem por políticos que só enganavam o
povo, a alma do homem sertanejo, que espera por soluções para os problemas causados pela seca.
Espera-se que este trabalho possa contribuir para futuras pesquisas, pois a obra de Luiz Gonzaga é
inacabável, tem muito mais para ser explorado, com o intuito de divulgar a riqueza e belezas do
Nordeste brasileiro.
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REFERÊNCIAS
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