Saúde AIDS Jovens subestimam a infecção pelo vírus HIV Ao assumir ser soropositivo, o ator americano Charlie Sheen levanta uma questão dramática: muitos jovens não se ainda não se protegem do vírus HIV Da Redação O ator Charlie Sheen, de 50 anos, confirmou ser portador do vírus HIV na última terça-feira, em entrevista ao programa matinal Today, da rede americana NBC. “Eu admito que sou HIV positivo”, disse. “Tenho de colocar um fim aos ataques, meias verdades e histórias agressivas sobre mim e que afetam a saúde de muitos outros”. O ex-astro da série Two and a Half Men, ídolo dos jovens, afirmou que recebeu o diagnóstico há cerca de quatro anos após ter dores de cabeça e mal estar. Disse também não saber exatamente como adquiriu o vírus. Na entrevista ao Today, porém, eliminou a possibilidade de ter se infectado com o vírus HIV por meio de seringas. O ator garantiu que avisou todos os parceiros sexuais sobre a doença e que dois deles, inclusive, aceitaram ter relações sem proteção. Ao programa, o médico de Sheen, Robert Huizenga, afirmou que o ator não tem aids pelo fato de ele possuir um nível “indetectável” do vírus HIV em seu sangue. Charlie Scheen é um homem bonito. Um homem de sucesso. Tem aparência saudável. Longe, muito longe do perfil do portador do vírus HIV da década de 80. Lembre-se aqui de Cazuza. O cantor morreu magérrimo, com apenas 40 quilos, em decorrência da aids. A doença naquele tempo era uma sentença de morte. Hoje, graças aos eficazes tratamentos com remédios antirretrovirais, o doente vive muito e com uma vida praticamente normal. E aqui está o perigo. “Hoje, o jovem pode subestimar a doença justamente por não conviver com seus efeitos colaterais. O resultado é que ele deixa de se proteger”, diz o infectologista Artur Timerman, uma das maiores autoridades brasileiras no tratamento da aids Antiretrovirais Os medicamentos desenvolvidos nas últimas duas décadas mudaram a vida das pessoas infectadas. O primeiro antiretroviral surgiu em 1986 -- o AZT. A partir de 1997, com o surgimento do coquetel antiaids, uma combinação de três medicamentos de classes diferentes que atuam em fases distintas da replicação do vírus, o quadro mudou radicalmente. Sexo sem proteção A comprovação está nos números. De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, houve um crescimento de 25% de casos da doença em jovens de 15 a 24 anos entre os anos de 2003 e 2012. Eles compõem um grupo de risco preocupante. Em muitos casos, trata-se de jovens que frequentam festas regadas a álcool e drogas e praticam sexo inseguro. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um terço dos rapazes e moças com essa faixa etária dispensa a proteção. O que ocorre é que essa geração não viveu o terror da década de 80 e provavelmente O ator Charlie Sheen assumiu esta semana ser soropositivo não conhece pessoas que morreram com a doença. Seus ídolos estão vivos. Além disso, mesmo com os tratamentos disponíveis hoje, muitas pessoas não estão diagnosticadas, o que significa que elas podem adoecer e infectar outros. Diz Timerman: “A prevenção não é apenas fazer sexo seguro, mas ser diagnosticado precocemente para evitar que o vírus seja transmitido”. Estima-se que, no Brasil, haja 400 000 soropositivos ainda não diagnosticados. Veja alguns famosos que foram infectados pelo vírus da AIDS: • Freddie Mercury No final dos anos 1980, Mercury começou a se ausentar de alguns shows do Queen e passou a aparecer em público cada vez mais magro e abatido, o que fez com que a imprensa britânica desconfiasse que ele havia se infectado, apesar de suas constantes negativas. Em 23 de novembro de 1991, após negar por vários anos que era HIV positivo, o cantor confirmou em um comunicado que tinha aids e afirmou que estava revelando a verdade para que seus fãs se juntassem a ele na luta contra a doença. Mercury, porém, morreu no dia seguinte, aos 45 anos, vítima de uma broncopneumonia, uma complicação da aids. • Magic Johnson O americano Earvin Johnson Jr., conhecido pelo nome de Magic Johnson, fez carreira no basquete como armador do Los Angeles Lakers na National Basketball Association (NBA). Em novembro de 1991, o jogador surpreendeu a todos com o anúncio de que ia se aposentar do esporte após ter sido diagnosticado com HIV. Na época, ele afirmou que não sabia como havia contraído o vírus, mas depois chegou a dizer que isso era resultado de sua “promiscuidade heterossexual”. Começou a fazer aparições públicas para esclarecer sobre o HIV e a aids e hoje, aos 56 anos, se apresenta como empresário, possuindo cafés, restaurantes, cinemas e ginásios nos Estados Unidos. • Eazy-E Eric Lynn Wright, conhecido como Eazy-E, foi um rapper e produtor americano, fundador do grupo de hip hop N.W.A.. Em fevereiro de 1995, o músico foi hospitalizado com o que ele pensava ser uma crise de asma, mas recebeu o diagnostico de que havia sido contaminado com o vírus HIV. Em 16 de março do mesmo ano, ele divulgou um comunicado falando sobre a doença e, quatro dias depois, morreu de complicações da aids. Pouco antes de sua morte, aos 31 anos, ele fez as pazes com Ice Cube e Dr. Dre, com quem havia bri- gado, e escreveu uma carta de despedida aos seus fãs. • Renato Russo Renato Russo, se tornou um dos ícones do rock nacional ao formar a banda Legião Urbana com Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná e Paulo Guimarães em 1982. Alguns anos depois, em 1989, o músico descobriu ser portador do HIV, mas nunca assumiu publicamente ter a doença. A verdade sobre o caso só veio a público após uma declaração de seu médico, Saul Bteshe, em 1996, quando o cantor morreu aos 36 anos por broncopneumopatia, septicemia e infecção urinária, consequências do contágio pelo vírus. Na época, Bteshe afirmou à imprensa que Russo havia “se entregado”, negando-se a comer e a lutar contra a depressão. • Cazuza Em fevereiro de 1989, o músico admitiu que havia sido infectado com o vírus HIV em uma entrevista ao jornalista Zeca Camargo, publicada no caderno Ilustrada, do jornal Folha de São Paulo. Na época, ele afirmou que estava bem de saúde, que mantinha velhos hábitos como fumar e beber vinho e cerveja e que iria viver “até os 70 anos”. Cazuza passou por tratamento em São Paulo e em Boston, onde ficou internado por vários meses até que, em julho de 1990, o cantor morreu, aos 32 anos, de choque séptico, em decorrência da aids. • Sandra Bréa A atriz foi considerada símbolo sexual entre as décadas de 70 e 80 e integrou o elenco de novelas como O Bem-Amado (1973), Os Ossos do Barão (1973), O Pulo do Gato (1978), Elas por Elas (1982) e Ti Ti Ti (1985), da Rede Globo. Em agosto de 1993, Sandra convocou uma coletiva de imprensa para anunciar que havia contraído o vírus HIV. Primeiro ela afirmou que havia adquirido o vírus por uma transfusão de sangue após sofrer um acidente, mas, três anos depois, admitiu que tinha sido contaminada durante relações sexuais. Sandra morreu em maio de 2000, em decorrência de um câncer de pulmão. Anápolis, de 20 a 26 de novembro de 2015 17