Carta Aberta para o Governo dos Estados Unidos sobre Wikileaks, Julian Assange e os Princípios Fundamentais da Democracia e das Sociedades Transparentes Ao presidente Obama, aos senadores e congressistas, ao advogado geral Eric Holder, ao Departamento de Justiça e a todos os envolvidos na tentativa de processar Julian Assange, fundador da organização sem fins lucrativos Wikileaks.org: Nós somos um grupo de pessoas diferentes espalhados por todo o mundo que se uniram com um próposito em comum: defender o Wikileaks, pedir aos Estados Unidos para cessar a tentativa de criar caso jurídico contra Julian Assange, defender os princípios fundamentais da democracia e garantir os direitos fundamentais. Nós somos trabalhadores, donas-de-casa, ativistas, estudantes e outros que acreditam que o governo parte do consentimento de seus governados, conforme escrito na Declaração da Independência. Mas estes cidadãos só podem dar consentimento significativo se eles forem plenamente informados sobre as ações de seu governo. Nada mais viola os princípios americanos, que inspiram tanto aqueles de nós que são e não são cidadãos americanos, que a ideia de que "o governo sabe melhor" e tem o direito de enganar seu próprio povo. Documentos do Wikileaks revelaram que o governo americano tem mantido em segredo informações importantes para o povo americano, como o fato de que a Casa Branca sabia do assassinato em massa de civis no Iraque mesmo dizendo que não sabia; como o fato de que o governo falhou em sua responsabilidade legal quando entregou civis para a Polícia iraquiana sabendo que eles seriam torturados e mortos, mesmo dizendo que não o fizera; como o fato de que oficiais americanos sabem que o governo do Afeganistão é corrupto e impopular, mesmo que declarem que esse governo afegão luta pela democracia; e que os oficiais dos Estados Unidos estão extremamente preocupados com a segurança da reserva de energia nuclear do Paquistão, uma questão de vida ou morte que se mantinha escondida do mundo. Quando o New York Times divulgou registros oficiais vazados pelo Wikileaks relativos ao Afeganistão, em 25 de julho, a manchete dizia: “O retrato da guerra no Afeganistão é pior do que parece.” Isso revelou, de acordo com o jornal americano, que o governo dos Estados Unidos estava escondendo a verdade de seu próprio povo. É certo que os orgulhosos cidadãos americanos precisem do Wikileaks para descobrir verdades vitais negadas pelo seu próprio governo? Os Estados Unidos afirmam que tem o direito de enganar o povo e processar o Wikileaks e Julian Assange com base nos parâmetros da “segurança nacional”. Mas essas informações vazadas são bem conhecidas pelos inimigos da América. Ao povo americano tem sido negadas informações importantes para se ter capacidade de formar uma decisão embasada para apoiar ou não a guerra de seu governo, inclusive colocando seus filhos e filhas sob o risco de morte e graves prejuízos. O governo americano afirmou que o Wikileaks colocou em risco a segurança nacional. Mas isso foi invalidado pelo próprio secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, que disse “isso é embaraçoso? Sim. Isso é estranho? Sim. Terá consequências à política externa dos Estados Unidos? Eu penso que serão razoavelmente modestas.” O ministro do Interior da Alemanha afirmou que “o Wikileaks é constrangedor, mas não uma ameaça”, e a BBC divulgou “Wikileaks: Aliados dos Estados Unidos estão tranquilos quanto ao vazamento de relatórios das embaixadas.” O resultado de qualquer processo do governo americano contra o Wikileaks e Julian Assange é um reflexo da restrição desta administração em dar informações verdadeiras sobre sua política externa. Mas os Estados Unidos não podem promover democracia no exterior e limitá-la em seu território. Nós o incentivamos a interromper o processo antidemocrático contra o Wikileaks e, em vez disso, aprender com ele, oferecendo ao público a informação honesta e verdadeira que a democracia depende.