64 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 UNEP, Zhan Huang, China, Still Pictures Terra Panorama mundial A área de terra do planeta cobre um total de mais de 140 milhões de quilômetros quadrados – um pouco menos do que um terço da superfície da Terra. Os recursos da terra são finitos, frágeis e não-renováveis. Incluem o solo, que é importante principalmente para a agricultura; a cobertura do solo, que é importante para o meio ambiente; e as paisagens, que são um importante componente do habitat e do bem-estar humanos. Além de formar uma base para os sistemas de apoio à vida animal e vegetal e para a produção agrícola, a terra auxilia na preservação da biodiversidade terrestre, na regulação do ciclo da água, no armazenamento e na reciclagem do carbono e em outros serviços do ecossistema. A terra atua como um estoque de matérias-primas, um depósito de lixo e aterro para resíduos sólidos e líquidos, bem como uma base para assentamentos humanos e atividades de transporte (FAO, 1995a; Wood, Sebastian e Scherr, 2000). A Rio-92 deu um passo à frente ao chamar mais atenção para os problemas associados aos re- cursos da terra. Na Agenda 21 (UNCED, 1992), os Capítulos 10, 12, 13 e 14 dizem respeito à terra, cobrindo a abordagem integrada ao manejo dos recursos da terra, desertificação e seca, desenvolvimento de regiões de montanhas e agricultura sustentável. Nas discussões sobre desmatamento, diversidade biológica e recursos de água doce (Capítulos 11, 15 e 18), dá-se uma ênfase significativa à terra como recurso produtivo, à importância do uso sustentável da terra e à poluição e conservação ambiental. A Agenda 21 permanece como base primária para a política de recursos da terra, embora o documento preparado para a Cúpula do Milênio (UN, 2000) revele maior conscientização em relação à terra em níveis políticos mais elevados. Esse documento identifica as ameaças à futura segurança alimentar global que surgem de problemas relativos aos recursos da terra. Agricultura e produção de alimentos Desde 1972, a produção crescente de alimentos é o principal fator de pressão sobre os recursos da terra. Em 2002, serão necessários alimentos para cerca de 65 TERRA Área utilizada para o plantio e colheitas permanentes (milhão ha) 600 500 400 300 200 100 98 19 96 94 19 América Latina e Caribe África Ásia e Pacífico 19 92 19 90 88 19 86 19 84 19 82 19 80 19 78 19 76 19 74 19 19 19 72 0 Europa Ásia Ocidental América do Norte Área irrigada (milhão ha) 200 175 150 125 100 75 50 25 América Latina e Caribe África Ásia e Pacífico 98 19 96 19 94 19 92 19 90 88 19 86 19 84 19 82 19 80 19 78 19 19 76 19 74 19 19 72 0 Europa Ásia Ocidental América do Norte Consumo de fertilizantes (kg per capita/ano) 100 80 60 40 20 África Ásia e Pacífico América Latina e Caribe América do Norte 19 98 19 96 19 94 19 92 19 90 19 88 19 86 19 84 19 82 19 80 19 78 19 76 19 74 0 19 72 2,22 bilhões de pessoas a mais do que em 1972 (United Nations Population Division, 2001). A tendência durante a década de 1985-95 revelou que o crescimento da população foi muito superior à produção de alimentos em várias partes do mundo, particularmente na África: em 64 de 105 países em desenvolvimento estudados nesse período, a produção de alimentos ficou bem atrás do crescimento populacional (UNFPA, 2001). A terra agrícola (definida como terra utilizada para cultivo mais os cultivos permanentes) tem aumentado constantemente em regiões em desenvolvimento, mas não em regiões desenvolvidas (ver gráfico). A diminuição nas regiões desenvolvidas parece ter sido provocada menos pela disponibilidade de recursos da terra do que por forças econômicas, incluindo a superprodução de produtos básicos importantes e os preços decrescentes de produtos agrícolas. O fracasso das políticas e práticas agrícolas inadequadas contribuem para uma maior pressão sobre a terra. Por exemplo, o uso excessivo de fertilizantes e outros produtos químicos contribui para a degradação do solo e a poluição da água. Entre 1972 e 1988, o uso global de fertilizantes aumentou para uma média anual de 3,5%, ou mais de 4 milhões de toneladas por ano (FAO, 2001). Até a década de 1980, a manutenção e o aperfeiçoamento da fertilidade eram considerados principalmente em termos de adição de fertilizantes minerais, e os subsídios agrícolas aumentaram ainda mais o uso de fertilizantes. As políticas governamentais deram apoio aos agricultores subsidiando insumos agrícolas, tais como irrigação, fertilizantes e pesticidas. Um estudo realizado pela FAO em 38 países em desenvolvimento revelou que 26 deles subsidiavam o uso de fertilizantes (FAO/IFA, 1999). Os pesticidas continuam a ser usados de forma indiscriminada (às vezes ilegalmente) em alguns lugares e descartados com negligência. Um estudo publicado pela FAO em países da África e do Oriente Próximo relatou estoques de pesticidas indesejados ou proibidos que perfaziam um total de mais de 16.500 toneladas em cerca de mil locais em 49 países (FAO, 1995a). A irrigação também tem dado uma importante contribuição à produção agrícola, mas o potencial para crescimento futuro mudou. A eficiência de muitos sistemas de irrigação é baixa, e os problemas de degradação da terra estão muito generalizados. Sistemas de irrigação mal planejados e implementados inadequadamente podem causar alagamentos, salinização e alcalinização dos solos. De acordo com as estimati- Europa Ásia Ocidental mundo Os gráficos acima mostram as tendências de trinta anos relacionadas às três maiores variáveis agrícolas: área agrícola, área irrigada e o consumo per capita de fertilizantes. Este último vem caindo na Europa e na América do Norte, mas continua a crescer – mesmo que de maneira lenta – em outras regiões do globo. Fonte: dados compilados de FAOSTAT, 2001 e United Nations Population Division, 2001 66 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Extensão e causas da degradação da terra Alcance da degradação Causa 580 milhões de hectares Desmatamento: foram degradadas vastas reservas florestais devido à exploração madeireira e a desmatamentos para uso agrícola e urbano. Mais de 220 milhões de hectares de florestas tropicais foram destruídos no período de 1975 a 1990, principalmente para a produção de alimentos 680 milhões de hectares Pastoreio excessivo: cerca de 20% das terras de pastagem no mundo foram danificadas. As perdas mais recentes foram mais graves na África e na Ásia. 137 milhões de hectares Consumo de lenha: cerca de 1,730 bilhão de m3 de lenha são obtidos anualmente de florestas e plantações. A lenha representa a principal fonte de energia em muitas regiões em desenvolvimento. 550 milhões de hectares Má gestão agrícola: a erosão hídrica causa perdas de solo estimadas em 25 bilhões de toneladas ao ano. A salinização do solo e os alagamentos afetam aproximadamente 40 milhões de hectares de terras no mundo. 19,5 milhões de hectares Indústria e urbanização: o crescimento urbano, a construção de estradas, a mineração e a indústria são fatores importantes na degradação de terras em diferentes regiões. Freqüentemente, perdem-se terras agrícolas valiosas. Fonte: FAO, 1996 vas da FAO para 1995, entre 25 milhões e 30 milhões dos 255 milhões de hectares mundiais de terra irrigada sofreram séria degradação devido à acumulação de sais. Relatou-se que mais 80 milhões de hectares foram afetados por salinização e alagamento (FAO, 1995b). Na década de 1980, estimou-se que cerca de 10 milhões de hectares de terra irrigada estavam sendo abandonados anualmente (WCED, 1987), embora a área total irrigada tenha continuado a aumentar (ver gráfico na página anterior). Degradação da terra A degradação da terra leva a uma redução significativa de sua capacidade de produção. As atividades humanas que contribuem para a degradação da terra incluem o uso inadequado de terras agrícolas, práticas inadequadas de manejo da água e do solo, desmatamento, remoção da vegetação natural, uso freqüente de máquinas pesadas, excesso de pastagens, rotação incorreta de cultivos e práticas de irrigação inadequadas. Os desastres naturais, incluindo secas, inundações e deslizamentos de terra, também constituem fatores importantes. Uma Avaliação Global da Degradação do Solo (Global Assessment of Soil Degradation – GLASOD) foi realizada no início da década de 1990 (Oldeman, Hakkeling e Sombroek, 1990; UNEP, 1992), e, em 2000, uma Avaliação da Degradação da Terra (Land Degradation Assessment – LADA) em terras secas foi iniciada pelo GEF e pelo PNUMA e agora está sendo desenvolvida com a FAO. Estima-se que 23% do total de terras utilizáveis (com exceção de montanhas e desertos, por exemplo) foi afetado pela degradação em um grau suficiente para reduzir sua produtividade (UNEP, 1992; Oldeman, Hakkeling e Sombroek, 1990). No início da década de 1990, cerca de 910 milhões de hectares de terra foram classificados como “moderadamente degradados”, com uma produtividade agrícola bastante reduzida (ver ilustrações ao lado). Cerca de 305 milhões de hectares de solos variaram entre “fortemente degradados” (296 milhões de hectares) e “extremamente degradados” (9 milhões de hectares, dos quais mais de 5 milhões se encontravam na África). Os solos “extremamente degradados” não podem ser recuperados (Oldeman, Hakkeling e Sombroek, 1990). Apesar dessas tão convincentes estatísticas de degradação da terra, alguns estudos estão começando a questionar os dados, alegando que as estimativas de degradação são exageradas. Um dos motivos principais sugeridos para essas superestimativas é a subestimação da capacidade dos agricultores locais (Mazzucato e Niemeijer, 2001). Esses autores argumentam que “... os especialistas precisam diferenciar mais cuidadosamente entre um estado naturalmente ruim, um estado ruim temporário e um estado degradado da terra”. A erosão do solo é um fator importante na degradação da terra e causa efeitos sérios sobre as funções do solo – tais como sua capacidade de atuar como amortecedor e filtro de poluentes, seu papel no ciclo da água e do nitrogênio e sua capacidade de providenciar habitat e sustentar a biodiversidade. Aproximadamente 2 bilhões de hectares de solo, equivalentes a 15% da área de terra do planeta (uma área maior que a dos Estados Unidos e a do México juntas), têm sido degradados por meio de atividades humanas. Os principais tipos de degradação do solo são a erosão hídrica (56%), a erosão eólica (28%), a degradação química (12%) e a degradação física (4%). TERRA As causas da degradação do solo incluem o excesso de pastagens (35%), o desmatamento (30%), as atividades agrícolas (27%), a exploração excessiva da vegetação (7%) e as atividades industriais (1%) (GACGC, 1994). As abordagens quanto à conservação do solo têm se modificado muito desde a década de 1970. Esse trabalho costumava estar concentrado na proteção mecânica, como muros de contenção e terraços, em grande parte para controlar o escoamento da superfície. Essa prática foi complementada por uma nova abordagem (Shaxson e outros, 1989; Sanders e outros, 1999), que chama maior atenção aos métodos biológicos de conservação, bem como à integração da conservação da água com a proteção do solo, por meio de melhor gestão das relações entre o solo, a vegetação e a água, incluindo uma menor alteração pelo cultivo da terra (University of Bern e outros, 2000). Dentro do sistema de pesquisa agrícola internacional, o Grupo Consultivo sobre Pesquisa Agrícola Internacional, agora há um compromisso para com o manejo de recursos naturais, além de um reconhecimento explícito da terra degradada e da desertificação como problemas ambientais (Shah e Strong, 1999). Apesar desses avanços, não há uma indicação clara de que a taxa de degradação da terra tenha diminuído. Até agora não foram desenvolvidos indicadores das condições do solo continuamente monitorados, que permitiriam avaliações quantitativas das mudanças ocorridas com o passar do tempo, comparáveis ao controle do desmatamento. 67 Solo muito degradado Solo degradado Solo estável Solo desprovido de vegetação Os gráficos e o mapa acima demonstram a extensão das áreas que apresentam terras degradadas ao longo do globo e a localização dos solos degradados. Nota: as regiões não correspondem exatamente às regiões GEO Fonte: UNEP, 1992; GRID Arendal, 2001 Propôs-se que o monitoramento do solo deveria tornar-se uma tarefa básica das organizações nacionais de estudos dos solos (Young, 1991), mas essa proposta ainda precisa ser adotada de forma ampla. Foi estabelecido um programa internacional para desenvolver um conjunto de indicadores da qualidade da terra (Pieri e outros, 1995), comparável aos utilizados para monitorar as condições econômicas e sociais. O programa prossegue em uma escala modesta sob o Sistema Mundial de Observação da Terra. 68 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Os impactos da mudança do clima sobre a terra e a biodiversidade por região Região Capacidade de adaptação, vulnerabilidade e principais preocupações África A perspectiva é de que a produção de grãos caia em muitas situações, reduzindo a segurança alimentar, particularmente em pequenos países importadores de alimentos. A desertificação deverá ser agravada por meio de reduções na média anual de chuvas, escoamento e umidade do solo, principalmente no Sul, no Norte e no Oeste da África. Prevêem-se extinções significativas de espécies de plantas e animais, que afetarão os meios de subsistência rurais, o turismo e os recursos genéticos. Ásia e Pacífico Diminuições na produtividade agrícola e na aqüicultura devido a pressões térmicas e aquáticas, elevação do nível do mar, enchentes, secas e ciclones tropicais deverão diminuir a segurança alimentar em muitos países da Ásia árida, tropical e temperada; a agricultura se expandirá e a produtividade aumentará nas áreas ao norte. A mudança do clima deverá agravar as ameaças à biodiversidade devido à mudança de uso da terra e de cobertura da terra, bem como à pressão demográfica na Ásia. Na Austrália e na Nova Zelândia, o impacto líquido em alguns cultivos de clima temperado e mudanças nos níveis de CO2 podem ser benéficos, a princípio, mas, com uma mudança climática maior, espera-se que esse equilíbrio se torne negativo para algumas áreas e cultivos. Algumas espécies com nichos climáticos limitados e que são incapazes de migrar devido a fragmentação da paisagem, diferenças do solo ou topografia poderão tornar-se ameaçadas ou extintas. Europa Haverá alguns efeitos positivos sobre a agricultura no norte da Europa; a produtividade diminuirá no sul e no leste da Europa. América Latina Prevê-se que as produções de cultivos importantes diminuam em muitas localidades da América Latina, mesmo quando se consideram os efeitos do CO2; a agricultura de subsistência em algumas regiões da América Latina poderá ficar ameaçada. A taxa de perda da biodiversidade deve aumentar. América do Norte Alguns cultivos serão beneficiados com um aquecimento modesto acompanhado de um aumento do nível de CO2, mas os efeitos deverão apresentar variações entre os cultivos e as regiões, incluindo declínios devido à seca em algumas áreas das Pradarias Canadenses e das Grandes Planícies dos Estados Unidos, um potencial aumento da produção de alimentos em áreas do Canadá ao norte das atuais áreas produtivas e maior produção da floresta mista de clima temperado. Regiões Polares Os sistemas naturais nas regiões polares são altamente vulneráveis a mudanças climáticas, e os ecossistemas atuais têm uma baixa capacidade de adaptação; é provável que as comunidades tecnologicamente desenvolvidas se adaptem prontamente a mudanças climáticas, mas algumas comunidades indígenas, em que se adota um meio de subsistência tradicional, possuem pouca capacidade e poucas opções de adaptação. Pequenos países insulares A elevação do nível do mar prevista, de 5 mm/ano durante cem anos, deverá acarretar maior erosão costeira, perda de terra e de propriedades e deslocamento de pessoas. Terras aráveis limitadas e a salinização do solo fazem com que a agricultura dos pequenos países insulares, tanto para a produção doméstica de alimentos quanto para a exportação de cultivos, fique altamente vulnerável a mudanças climáticas. Desertificação A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) define desertificação como “degradação da terra em áreas áridas, semi-áridas e subúmidas secas” causada por fatores como variações climáticas e atividades humanas. Cerca de 3,6 bilhões de hectares – ou 70% – das terras secas do mundo (exceto os desertos hiperáridos) estão degradados (UNCCD, 2000a). Muitos países partes da Convenção prepararam programas de ação nacionais para fortalecer as atividades de combate à desertificação e à seca (UNCCD, 2000b, 2001). No entanto, não há indicação de que os governos estejam desenvolvendo estruturas por meio das quais poderiam ser implementados programas de ação ascendente em nível local (CSE, 1999). Além disso, a mobilização inadequada de recursos está prejudicando os esforços dos países em desenvolvimento afetados para cumprir seus compromissos assumidos na convenção. Uma análise recente da CCD (Toulmin, 2001) alega que o modelo da Convenção foi imprudente, já que “comprometeu as pessoas em uma série de desempenhos da COP (Conference of the Parties – Conferência das Partes) que não demonstra, para o público em geral, uma ligação com os problemas reais”. O problema da desertificação permanece pouco compreendido, conforme evidenciam os dados disponíveis: as estimativas de áreas afetadas variam de um terço da área da superfície mundial para aproximadamente 50%, e as pessoas afetadas, de uma em seis para uma em três (Toulmin, 2001). Mudança do clima As conseqüências da mudança climática global sobre a agricultura e os ecossistemas são muito incertas. Com base em modelos de simulação, os impactos mais prováveis são os efeitos favoráveis gerais para as margens mais frias da zona temperada, bem como conseqüências negativas para a zona semiárida subtropical (ver box). As mudanças regionais no clima já afetaram diversos sistemas físicos e biológicos em muitas partes do mundo. Os períodos de crescimento entre latitudes médias e altas estão mais longos. Foram observadas mudanças altitudinais e em direção aos pólos quanto à distribuição geográfica de plantas e de animais (IPCC, 2001). Os sistemas naturais em risco de mudança climática incluem geleiras, atóis, ecossistemas polares e alpinos, zonas úmidas de pradarias e pastagens autóctones restantes. Os sistemas humanos vulneráveis incluem a agricultura, particularmente a segurança alimentar, e a silvicultura. TERRA 69 Desde a década de 1990, a questão da mudança do clima dirigiu a atenção ao papel da terra como depósito terrestre de carbono. A degradação da terra quase sempre envolve uma perda da matéria orgânica presente no solo. Se essa tendência puder ser contida ou revertida, será muito possível o seqüestro de carbono por meio do aumento dos níveis de carbono armazenado nos solos e na cobertura vegetal (IFAD/FAO, 1999). Assentamentos humanos e infra-estrutura As áreas urbanas ocupam apenas 1% da área de terra do planeta (UNEP, 2000). No entanto, a expansão urbana, incluindo as exigências de terrenos para a indústria, o transporte e atividades de lazer em todas as regiões, aumenta as pressões sobre os recursos da terra. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 400 mil hectares de terras apropriadas para cultivo se perdem anualmente para a urbanização, e a China perdeu aproximadamente 5 milhões de hectares de terras cultiváveis para a formação de cidades e grandes centros urbanos durante o período de 1987 a 1992 (UNFPA, 2001). A degradação da terra, a sedimentação de rios e a poluição do solo, por meio de chuva ácida e resíduos industriais, são algumas das questões ambientais associadas à urbanização e à industrialização. Os resíduos gerados pelas cidades são uma das principais fontes de degradação. Calcula-se que cerca de 1,95 milhão de hectares de terras tenha sido degradado pela indústria e pela urbanização (FAO, 1996). Uma das causas tem sido a exportação, por parte de alguns países desenvolvidos para regiões Controvérsia demográfica “Muitas pessoas identificam as crescentes pressões demográficas das populações carentes e, como conseqüência, pastagens excessivas, desmatamentos e práticas agrícolas insustentáveis como as principais causas da desertificação. Essa teoria, no entanto, tem base na suposição de que apenas as populações carentes e seu crescimento populacional causam a degradação ambiental. A teoria não considera o impacto de uma cadeia de comércio internacional e de práticas econômicas que resultam em preços baixos para mercadorias agrícolas e de pecuária para o hemisfério sul nem as coerções políticas, tais como dívidas, que forçam um país a promover práticas adversas de uso da terra, de modo a obter divisas estrangeiras. Em uma reação simplista, o Ocidente escolhe fornecer alimentos, primeiramente por meio de subsídio e depois promovendo o crescimento da produção agrícola. O problema, contudo, persiste, demonstrando que a solução é muito mais complexa.” Fonte: Hardin, 1968 Grande parte das terras agrícolas está ameaçada pela poluição química, particularmente pelos resíduos produzidos nos centros urbanos, como na China, aqui retratada. A degradação química é responsável por 12% da degradação dos solos no mundo. Fonte: UNEP, ZehngZhongSu, China, Still Pictures em desenvolvimento, de resíduos tóxicos e substâncias perigosas. A reação internacional a esse fato foi a Convenção da Basiléia de 1989 para o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação. A Convenção da Basiléia, que entrou em vigor em 1992 (ver Capítulo 1), tem o objetivo de reduzir os movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos, minimizar a criação de tais resíduos e proibir seu envio a países que não possuem a capacidade de eliminar os resíduos perigosos de forma ecologicamente racional. A urbanização também gerou a agricultura urbana (ver “Áreas Urbanas”), que quase não foi reconhecida na década de 1970, mas que tem se expandido mundialmente nos últimos quinze a vinte anos de forma mais rápida do que as populações urbanas, e em muitos países mais rapidamente do que suas economias (Smit, 1996). A agricultura urbana ocorre em terras tanto públicas como privadas, tanto legal como ilegalmente. Mais de 800 milhões de residentes urbanos participaram da agricultura urbana em 1993 (Smit, 1996). Por exemplo, na cidade de São Paulo, no Brasil, a agricultura ocupa 70 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Substâncias químicas e o uso da terra Os avanços recentes de grande importância incluem: A Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POP) foi adotada em maio de 2001 (ver Capítulo 1). O PNUMA, juntamente com a FAO e a OMS, está promovendo práticas mais sustentáveis de substituição de pesticidas POP por um manejo integrado de pragas. A Federação para a Proteção Global das Safras está desempenhando um papel pró-ativo na promoção do uso sensato de pesticidas e da prevenção da exposição a substâncias tóxicas e do uso incorreto de pesticidas. Outras ações incluem projetos piloto com a finalidade de demonstrar a viabilidade técnica e econômica de novas tecnologias para destruir substâncias químicas e pesticidas obsoletos, assim como o incentivo de doadores e da indústria para aumentar o financiamento para a gestão e a eliminação dessas substâncias. um lugar importante no planejamento da utilização da terra, segundo o planejamento metropolitano, adotado na década de 1990. Praticamente em todas as regiões, a agricultura urbana tornou-se uma das principais atividades de produção de alimentos. Por exemplo, a maior parte das famílias no sudeste da Ásia e nas subregiões das Ilhas do Pacífico pratica a agricultura urbana (Sommers e Smit, 1994). Cerca de 30% dos alimentos da Federação Russa são produzidos em 3% da terra de dachas (pequenas propriedades rurais) suburbanas (Sommers e Smit, 1994). Em Moscou, as famílias que se dedicam à agricultura cresceram de 20% da população da cidade, em 1970, para 65%, em 1990 (Smit, 1996). Durante o período de 1980 a 1990, a agricultura urbana nos Estados Unidos aumentou em 17% (Smit, 1996). Em algumas áreas urbanas da África, a reação por parte das autoridades municipais foi a de reduzir os cultivos para fazer com que fossem respeitados os estatutos relativos à utilização das terras. Os impactos da agricultura urbana incluem a poluição do ar, da água e do solo, principalmente devido ao uso impróprio de substâncias químicas. A agricultura urbana no Zimbábue Em Harare, Zimbábue, as sanções sobre a agricultura urbana foram suspensas temporariamente em 1992. Em dois anos, a área cultivada dobrou, e o número de agricultores aumentou em mais de 100%. Os custos municipais de manutenção da paisagem e manejo de resíduos diminuíram, os preços dos alimentos caíram, e criaram-se centenas de empregos. Obtiveram-se diversos benefícios apenas a partir de uma mudança nas políticas. Foram registrados benefícios similares relativos a políticas em Lusaka e Accra na década de 1970 (Smit, 1996). Os defensores da agricultura urbana alegam que, além de prover alimentos, a atividade pode contribuir para a melhoria do meio ambiente por meio da reciclagem de matéria orgânica. Os resíduos sólidos podem ser convertidos em compostos para a fertilização dos solos. Conclusão O aumento da população mundial significa que as pressões sobre a terra continuarão sendo graves, principalmente na África e na Ásia. As maiores necessidades de alimentos e outros produtos agrícolas devem ser satisfeitas principalmente por meio do aumento e da sustentação do rendimento de safras e produção pecuária, bem como de uma utilização mais intensiva da terra. Essas atividades devem ser acompanhadas por colheita e processamento de produtos mais eficientes, de modo a reduzir perdas pós-produção. No entanto, as projeções atuais também supõem uma expansão da terra arável nos países em desenvolvimento, embora à metade da taxa dos trinta anos anteriores (FAO, 2001). Até 2030, as estimativas da FAO sugerem que 57 milhões de hectares adicionais serão utilizados para cultivo na África e 41 milhões de hectares na América Latina, representando aumentos de 25% e 20%, respectivamente (FAO, 2001). Essa expansão deve ocorrer necessariamente por meio de mais conversões de florestas e bosques ou pela conversão de áreas frágeis da zona semi-árida em terras próprias para cultivo. Ambas alternativas são graves motivos de preocupação ambiental. Enfrentar esses desafios significará estender ao máximo os recursos limitados destinados atualmente à pesquisa e ao desenvolvimento agrícola e pode exigir uma nova alocação dos escassos financiamentos disponíveis. Além disso, exigirá uma boa gestão governamental, políticas relativas à terra e ao solo, assim como esforços constantes para atingir o uso sustentável dos recursos da terra. É essencial que exista o apoio governamental adequado a instituições nacionais de recursos da terra e ao fortalecimento das capacidades dos responsáveis pelo planejamento dos recursos da terra, aos agricultores e aos administradores em âmbito local e nacional. Uma exigência fundamental para a sustentabilidade é a manutenção ou a melhoria do potencial produtivo dos recursos da terra para atender às necessidades de populações atuais e futuras, concomitante com a sustentabilidade das funções vitais do ecossistema e de outros usos múltiplos da terra. TERRA Referências: Capítulo 2, terra, panorama mundial CSE (1999). Green Politics: Global Environmental Negotiations 1. New Delhi, Centre for Science and Environment FAO (1995a). Prevention and disposal of obsolete and unwanted pesticide stocks in Africa and the Near East. Rome, Food and Agriculture Organization http://www. fao.org/docrep/W8419E/W8419e09.htm#7 [Geo-2-165] FAO/IFA (1999). Fertilizer Strategies. Rome and Paris, Food and Agriculture Organization and International Fertilizer Industry Association ftp://ftp.fao.org/agl/agll /ch10/ch104.pdf FAOSTAT (2001). FAOSTAT Statistical Database. Rome, Food and Agriculture Organization http:// www.fao.org/ [Geo-2-068] FAO (1995b). Planning for Sustainable Use of Land Resources: Towards a New Approach. FAO Land and Water Bulletin 2. Rome, Food andAgriculture Organization GACGC (1994). World in Transition: The Threat to Soils. Annual Report. German Advisory Council on Global Change. Bonn, Economica Verlag GmbH FAO (1996). Our Land Our Future. Rome and Nairobi, Food and Agriculture Organization and United Nations Environment Programme GRID Arendal (1997). Soil Degradation Map http://www. grida.no/db/maps/prod/global/tv01_l.gif [Geo-2-168] FAO (2000). Fertilizer Requirements in 2015 and 2030. Rome, Food and Agriculture Organization ftp://ftp.fao. org/agl/agll/docs/barfinal.pdf [Geo-2-166] FAO (2001). Agriculture: Towards 2015/30.Technical Interim Report April 2000. Rome, Food and Agriculture Organization http://www.fao.org/es/ESD/at2015/ chapter1.pdf [Geo-2-167] IFAD/FAO (1999). Prevention of land degradation, enhancement of carbon sequestration and conservation of biodiversity through land use change and sustainable land management with a focus on Latin America and the Caribbean. World Soil Resources Reports 86. Rome, Food and Agriculture Organization IPCC (2001). Climate Change 2001: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge, United Kingdom, and New York, United States, Cambridge University Press Mazzucato, V. and Niemeijer, D. (2001). Overestimating Land Degradation, Underestimating Farmers in the Sahel, Drylands Issues Paper. London, International Institute for Environment and Development http://www.iied.org/pdf/dry_ip101eng.pdf [Geo-2-169] Oldeman, L. R., Hakkeling, R. T. A. and Sombroek, W. G. (1990). World Map of the Status of Human-Induced Soil Degradation. Wageningen, International Soil Reference and Information Centre Pieri, C., Dumanski, J., Hamblin, A. and Young, A. (1995). Land quality indicators. World Bank Discussion Paper 315. Washington DC, World Bank Sanders, D.W., Huszar, P. C., Sombatpanit, S., and Enters, T. (eds) (1999). Incentives in Soil Conservation: From Theory to Practice. Enfield, New Hampshire, Science Publishers for World Association of Soil and Water Conservation Shah, M. and Strong, M. (1999). Food in the 21st Century: From Science to Sustainable Agriculture. Washington DC, CGIAR System Review Secretariat, World Bank 71 72 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Shaxson, T.F., Hudson, N.W., Sanders, D.W., Roose, E. and Moldenhauer, W.C. (1989). Land Husbandry: A Framework for Soil and Water Conservation. Ankeny, Iowa, Soil and Water Conservation Society Smit, J. (1996). Cities Feeding People: Report 18 - Urban Agriculture, Progress and Prospect: 1975-2005. Ottawa, International Development Research Centre Sommers, P. and Smit, J. (1996). Cities Feeding People: Report 9 - Promoting Urban Agriculture: A Strategy Framework for Planners in North America, Europe, and Asia. International Development Research Centre, Ottawa, Canada Toulmin, C. (2001). Lessons from the Theatre: Should this be the Final Curtain Call for the Convention to Combat Desertification? WSSD Opinion Series. International Institute for Environment and Development http://www.iied.org/pdf/wssd_02_ drylands.pdf [Geo-2-170] UN (2000). We the Peoples — The Role of the United Nations in the 21st Century. New York, United Nations http://www.un.org/millennium/sg/report/key.htm [Geo-1-001] UNCCD (2000a). Fact Sheet 2: The Causes of Desertification. United Nations Secretariat of the Convention to Combat Desertification http:// www.nccd.int/publicinfo/factsheets/showFS.php? number=2 [Geo-2-171] UNCCD (2000b). Fact Sheet 4: Action Programmes for Combating Desertification. United Nations Secretariat of the Convention to Combat Desertification http://www. unccd.int/publicinfo/factsheets/showFS. php?number=4 [Geo-2-172] UNCCD (2001). Action Programmes on National (NAP), Sub-Regional (SRAP) and Regional Level (RAP). United Nations Secretariat of the Convention to Combat Desertification http://www.unccd.int/actionprogrammes/ menu.php [Geo-2-173] UNCED (1992). Agenda 21: Programme of Action for Sustainable Development. Rio de Janeiro, United Nations UNEP (1992). World Atlas of Desertification. London, Arnold UNEP (2000). The Urban Environment: facts and figures. Industry and Environment Vol. 23, No. 2 UNFPA (2001). Footprints and Milestones: Population and Environmental Change - The State of World Population 2001. New York, United Nations Population Fund United Nations Population Division (2001). World Population Prospects 1950-2050 (The 2000 Revision). New York, United Nations www.un.org/esa/population/ publications/wpp2000/wpp2000h.pdf [Geo-2-204] University of Bern, FAO, ISRIC, DLD and WASW (2000). WOCAT World Overview of Conservation Approaches and Technologies. FAO Land and Water Digital Media Series No. 9. CD ROM. Rome, Food and Agriculture Organization WCED (1987). Our Common Future: The World Commission on Environment and Development. Oxford, Oxford University Press Wood, S., Sebastian, K. and Scherr, S.J. (2000). Pilot Analysis of Global Ecosystems: Agroecosystems. Washington DC, World Resources Institute and International Food Policy Research Institute http:// www.ifpri.cgiar.org/pubs/books/page.htm [Geo-2-174] Young, A. (1991). Soil monitoring: a basic task for soil survey organizations. Soil Use and Management. 7, 126-130 TERRA Terra: África A área total de terra da África cobre 29,6 milhões de quilômetros quadrados, dois terços dos quais são terras áridas ou semi-áridas (UNEP, 1999a). A terra é essencial para o desenvolvimento da África, uma vez que a subsistência de aproximadamente 60% da população depende da agricultura (Moyo, 2000). As principais questões relativas à terra na África incluem degradação e desertificação crescentes, juntamente com sistemas inadequados e desiguais de posse de terras, que têm desempenhado um papel importante para o agravamento da degradação. Outros problemas generalizados incluem um declínio da fertilidade do solo, contaminação do solo, manejo e conservação da terra, o desequilíbrio entre os sexos quanto à posse de terra e a conversão do habitat natural para uso agrícola ou urbano. Agricultura A terra, além de proporcionar cultivos de subsistência a uma grande proporção da população africana, enfrenta demandas cada vez maiores para produzir cultivos comerciais de exportação, de modo a facilitar o crescimento econômico. Tais exigências estão freqüentemente em conflito e fazem do desenvolvimento e da implementação de políticas coerentes uma tarefa complexa e difícil. Nos últimos trinta anos, cada vez mais terras têm sido convertidas ao uso agrícola, o que ocorreu mais notadamente durante a década de 1980, em resposta ao aumento dos preços dos produtos básicos. Em 1999, cerca de 202 milhões de hectares de terras na África estavam sendo utilizados para cultivos (32% da área potencialmente cultivável), e 906 milhões de hectares estavam sendo usados como pastagens permanentes (dados compilados pela FAOSTAT, 2001). O percentual de terras agrícolas (cultivadas e utilizadas como pastagens) varia consideravelmente por toda a África, de 54,7% na África Meridional e 46,6% nas ilhas do Oceano Índico Ocidental para 20% no Norte da África e 19,3% na África Central (ver gráfico). O grau em que as economias africanas dependem da agricultura se reflete na contribuição ao PNB (aproximadamente 17% durante a década de 1990) e ao nível de emprego – mais de 60% da mão-de-obra total em 1996, embora esse valor tenha diminuído em relação aos 70% registrados em 1980 (ADB, 2001). A produção aumentou consideravelmente nos últimos trinta anos, principalmente devido à expan- são da área cultivada, embora as melhorias dos métodos de cultivo e um maior uso de produtos agrotóxicos também tenham tido alguma participação. A produção de cereais na África foi de 58 milhões de toneladas em 1975, e esse número quase dobrou para 106 milhões de toneladas em 1999 (FAOSTAT, 2001). Apesar disso, a ingestão nutricional ainda é baixa em muitas partes da África, e o número de pessoas subnutridas dobrou desde 1970 (FAO, 2000). A região é importadora líquida de cereais, e a proporção das importações em relação às exportações está aumentando. Somente no ano 2000, milhões de pessoas em pelo menos 16 países africanos sofreram escassez de alimentos, devido ou a quebras de produção ou a interrupções na distribuição associadas a conflitos civis (FAO, 2000). A falta de tecnologias agrícolas adequadas às condições africanas também vem contribuindo para que não se alcance o potencial de produção (FAO, 2000). A dependência da agricultura sem irrigação artificial, agora que o potencial para a expansão da agricultura irrigada mecanicamente tornou-se limitado devido à escassez de água, aumenta o risco de insegurança alimentar e econômica, principalmente em áreas de elevada variabilidade climática. O acesso restrito aos mercados internacionais, os fortes subsídios agrícolas nos países da OCDE e o processamento limitado antes de exportar contribuem para a vulnerabilidade da África às flutuações dos preços internacionais e, portanto, à impossibilidade de desenvolver o pleno potencial de seus recursos de terra. Degradação da terra A expansão da agricultura nas três últimas décadas envolveu o cultivo de áreas marginais ou a decomposição de habitats naturais importantes, tais como florestas e áreas úmidas. Tal conversão é uma das principais causas da degradação da terra. Nas ilhas do Oceano Índico Ocidental, por exemplo, a competição pela terra é tão intensa que as áreas úmidas costeiras foram destruídas deliberadamente, e os pântanos do interior foram drenados e usados como canteiros de obras (UNEP, 1999b). Muitas comunidades rurais africanas sobrevivem deslocando seu gado e cultivos à medida que baixam as águas das inundações, deixando expostas terras de aluvião e planícies aluviais enriquecidas. Mais de 1,5 milhão de pessoas em Mali, na Mauritânia, no Senegal e no Sudão, além de um grande número de herbívoros silvestres, dependem desse recurso (Maltby, 1986). A drenagem de áreas úmidas para a agricultura, portanto, ameaça não apenas os habitats e a biodiversi- 73 74 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Uso do solo (percentual da superfície total de terras): África África Central 4,1 4,7 Norte da África A terra é utilizada de maneira intensiva na maioria das sub-regiões africanas, com mais de 50% do total das terras em uso compreendidas em duas sub-regiões. Fonte: dados compilados de FAOSTAT, 2001 80 28,3 5,7 0 60 48,9 11,0 África Ocidental Pastagens 15,3 5,8 África Meridional Cultivos 41,7 8,6 África Ocidental Oceano Índico Ocidental 15,2 40,9 10 20 30 40 50 70 90 100 dade, mas também o meio de subsistência dos pastores e da fauna e flora silvestres. A perda de habitats naturais reduziu a cobertura vegetal e expôs os solos à erosão eólica e hídrica. A erosão eólica e hídrica é extensa em diversas partes da África; cerca de 25% da terra é propensa à erosão hídrica e aproximadamente 22% à erosão eólica (Reich e outros, 2001). A erosão do solo também provoca taxas mais elevadas de sedimentação de barragens e rios, além de um maior risco de enchentes em rios e estuários. No Sudão, por exemplo, a capacidade total da hidrelétrica de Roseires – que gera 80% da eletricidade do país – caiu 40% em trinta anos devido à sedimentação do Nilo Azul (Conway, 2001). A erosão do solo reduz a produtividade da terra, exigindo que os agricultores apliquem cada vez mais fertilizantes e outros produtos químicos que ajudam a desacelerar a queda de produtividade. Entretanto, muitos pequenos agricultores não podem arcar com os custos desses insumos e, portanto, obtêm rendimentos baixos. Como resultado do crescente reconhecimento da exaustão dos nutrientes do solo, uma iniciativa de fertilização do solo para a África Subsaariana (onde o problema está particularmente generalizado) foi estabelecida em 1996 (New Agriculturalist, 2001). O objetivo é fortalecer a ação por parte dos organismos participantes para melhorar a produtividade e aumentar a renda agrícola por meio de uma combinação de reforma política e adaptação tecnológica. Atualmente, estão sendo preparados planos nacionais de ação relativos à fertilização do solo em 23 países subsaarianos. Os sistemas de agricultura orgânica ofere- cem uma grande esfera de ação para abordar os problemas da fertilidade do solo, assim como para aumentar a renda agrícola. Em geral, as políticas sobre manejo de terras falharam em tratar as causas profundas da degradação da terra, que provêm de desequilíbrios coloniais na distribuição da terra, da falta de incentivos para a conservação, de um regime inseguro de posse de terras e da falha em providenciar sistemas diversificados de produção rural (Moyo, 1998). A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) enfatiza que a degradação da terra está intimamente ligada à pobreza e que a abordagem a esse problema requer a participação dos usuários dos recursos, aos quais, quando apropriado, devem ser oferecidas opções alternativas de meios de subsistência. Muitas nações africanas assinaram e ratificaram a convenção, e 15 países apresentaram programas de ação nacionais no ano 2000. A União do Maghreb Árabe, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e o Comitê Permanente Interestados de Luta contra a Seca no Sahel também apresentaram planos sub-regionais, o que serviu para conscientizar o público sobre questões relativas ao meio ambiente e à sustentabilidade de recursos, mas os meios necessários para fazer com que se cumpram esses planos com freqüência não têm sido suficientes (UNCCD, 2001). Um estudo recente calculou que os processos de desertificação afetam 46% da África, e 55% dessa área corre um risco alto ou muito alto. As áreas mais prejudicadas se encontram ao longo das margens do deserto (ver mapa na página 75), e cerca de 485 milhões de pessoas no total sofrem os efeitos da desertificação (Reich e outros, 2001). O sucesso dos programas de conservação da terra depende de diversos fatores e está estreitamente ligado às condições socioeconômicas. É fundamental melhorar a distribuição de riquezas, o acesso aos recursos e as oportunidades econômicas (SARIPS, 2000). A paz e a estabilidade política são vitais para melhorar a segurança alimentar e de recursos, conforme revelado pela baixa produção de alimentos per capita dos países em que há conflito. Além disso, a segurança de recursos é necessária para implementar e sustentar os programas de conservação. Outros requisitos essenciais para o desenvolvimento agrícola sustentável são a melhoria dos serviços de divulgação e do acesso a uma tecnologia adequada e acessível, planos de crédito para o setor rural e assistência na comercialização, bem como a superação de barreiras comerciais. TERRA Posse de terras Os padrões de distribuição desigual da terra são comuns na África, seja entre sexos, raças e classes socioeconômicas, seja entre a propriedade por parte do setor privado e do setor público. Partes da região também apresentam políticas inadequadas de propriedade ou de posse de terras, o que afeta o acesso à terra e seus recursos, bem como às práticas de manejo da terra. Nos estados do Oceano Índico Ocidental, as melhores terras estão reservadas para cultivos comerciais principalmente para exportação, enquanto os setores carentes e distantes do poder lutam pela subsistência em áreas menos produtivas e até marginais. A África do Sul apresenta um exemplo extremo de distribuição desigual de terras. Devido às políticas do apartheid abolidas apenas recentemente, os agricultores brancos possuem 87% das terras (Moyo, 2000). A quantia média de terras por pessoa na África do Sul é de um pouco mais de 1 hectare para os negros e 1.570 hectares para os brancos (SARIPS, 2000). Os conflitos por terras vêm ocorrendo há séculos, mas tornaram-se mais freqüentes nos últimos anos (mais notadamente no Zimbábue), principalmente desde a independência do colonialismo europeu. Durante a última década, tem havido diversas invasões de terra e reivindicações retroativas contra o governo, na maioria das vezes devido a carência de terras e deslocamentos. As experiências com a reforma agrária na África são variadas e geram resultados contrastantes. Alguns países africanos empreenderam a reforma agrária logo nos anos 1970; por exemplo, o Quênia privatizou terras anteriormente sob um regime consuetudinário, o que resultou em especulação e na perda de terras por parte de alguns camponeses pobres (Quan, 2000). Outros países, como Botsuana e o Lesoto e, até certo ponto, a Zâmbia, introduziram acordos de arrendamento de terras em áreas anteriormente sob o sistema con- Vulnerabilidade à desertificação: África baixa seco moderada frio alta úmido/não vulnerável muito alta gelo/ glacial suetudinário para aumentar a segurança relativa à posse de terras. As reformas agrárias impulsionadas pelo mercado não alcançaram o efeito desejado de reduzir as desigualdades, conforme evidenciado pelas experiências da África do Sul e da Namíbia, onde a entrega de terras à maioria negra desfavorecida está ocorrendo muito lentamente, enquanto os preços das terras aumentam. Referências: Capítulo 2, terra, África ADB (2001). Statistics Pocket Book 2001. Abidjan, African Development Bank Conway, D. (2001). Some water resource management issues in the Nile Basin. In Gash. J. H. C., Odana, E. O., Oyebande, L. and Schulze, R. E. (eds.), Freshwater Resources in Africa — Proceedings of a Workshop, Nairobi, Kenya, October 1999. Postdam, BAHC (Biospheric Aspects of the Hydrological Cycle) FAO (2000). The State of Food and Agriculture 2000. Rome, Food and Agriculture Organization FAOSTAT (2001). FAOSTAT Statistical Database. Food and Agriculture Organization http://www.fao.org/ [Geo-2-196] Maltby, E. (1986). Waterlogged Wealth. London, Earthscan Moyo, S. (1998). Land entitlements and growing poverty in Southern Africa. Southern Africa Political and Economic Monthly: Southern Review. Harare, SAPES Trust 75 Moyo, S. (2000). The land question and land reform in Southern Africa. In Tevera, D. and Moyo, S. (eds). Environmental Security in Southern Africa. Harare, SAPES TrustNew Agriculturalist (2001). Maintaining soil fertility in Africa http://www.new-agri.co.uk/00-1/pov.html Quan, J. (2000). Land tenure, economic growth and poverty in Sub-Saharan Africa. In Toulmin, C. and Quan, J. (eds). Evolving Land Rights, Policy and Tenure in Africa. London, International Institute for Environment and Development and Natural Resources Institute Reich, P.F., Numbem, S.T., Almaraz, R.A. and Eswaran, H. (2001). Land resource stresses and desertification in Africa. In Bridges, E.M., Hannam, I.D., Oldeman, L.R., Pening, F.W.T., de Vries, S.J., Scherr, S.J. and Sompatpanit, S. (eds). Responses to Land Degradation. Proceedings of the 2nd International Conference on Land Degradation and Desertification, Khon Kaen, Thailand. New Delhi, Oxford University Press SARIPS (2000). SADC Human Development Report: Challenges and Opportunities for Regional Integration. Harare, SAPES Trust UNCCD (2001). Action Programmes to Combat Desertification: Africa.United Nations Secretariat of the Convention to Combat Desertification http://www.unccd.int/ actionprogrammes/africa/africa.php [Geo-2-158] UNEP (1999a). GEO 2000. United Nations Environment Programme. London and New York, Earthscan UNEP (1999b). Western Indian Ocean Environment Outlook. Nairobi, United Nations Environment Programme O mapa correspondente à vulnerabilidade do processo de desertificação na África indica 46% da área sob risco de ocorrência dessa catástrofe, dos quais 55% são considerados zona de risco alto ou muito alto de desertificação. Fonte: Reich e outros, 2001 76 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 Terra: Ásia e Pacífico A região da Ásia e Pacífico cobre cerca de 23% do total da superfície terrestre do planeta. As questões mais críticas em relação à terra são a degradação (incluindo a desertificação), a mudança no uso da terra e a contaminação do solo. O crescimento populacional e a elevada densidade demográfica, práticas inadequadas de manejo da terra e as desigualdades emergentes em relação ao acesso a terras e aos recursos têm sido os maiores impulsores das mudanças nos Uso da terra (percentual da superfície total de terras): Ásia e Pacífico Austrália e Nova Zelândia 6,5 52,7 Cultivos 10,0 63,2 Região Noroeste 12,7 do Pacífico e Leste Asiático 45,1 Ásia Central Ásia Meridional Sudeste Asiático Região do Pacífico Sul 0 A terra é intensivamente utilizada para a produção agrícola no sul e sudeste asiático, com extensas áreas de pastagem em todas as outras sub-regiões, exceto na zona do Pacífico Sul. No Sul da Ásia, mais de um terço de toda a terra é cultivável. Fonte: dados compilados do FAOSTAT, 2001 36,3 Pastagens 14,5 20,5 3,9 2,6 1,1 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 últimos trinta anos. As pressões existentes por trás dos problemas de degradação variam em toda região. Pastagens, cultivos e a utilização de fertilizantes inorgânicos, todos em níveis excessivos, constituem problemas na maior parte das sub-regiões, enquanto a mineração, a exploração madeireira, os monocultivos e espécies exóticas invasoras têm produzido resultados drásticos nos países insulares do Pacífico. Degradação da terra Entre os processos de degradação da terra de maior preocupação na Ásia e no Pacífico, vale mencionar a erosão, a compactação, a acidificação, a diminuição da matéria orgânica do solo, a infestação de ervas daninhas, o esgotamento da fertilidade do solo e a degradação biológica. A Avaliação Global da Degradação do Solo (Global Assessment of Soil Degradation – GLASOD) calcula que aproximadamente 13% (ou 850 milhões de hectares) da terra na Ásia e no Pacífico se encontra degradada (Oldeman, 1994) – a maior parte na Ásia, mas estima-se que a degradação atinja a 104 milhões de hectares na sub-região do Pacífico, onde o desmatamento de florestas em grande escala causou uma diminuição da estrutura e da fertilidade do solo e também onde as espécies invasoras constituem a cobertura vegetal predominante em diversas ilhas. A erosão hídrica mais grave ocorre no Himalaia, na Ásia Central, na China, no Pacífico Sul e na Austrália, enquanto que, de acordo com o estudo da GLASOD, na sub-região do sul da Ásia, os países mais afetados pela erosão eólica são o Afeganistão, a Índia, o Irã e o Paquistão (Oldeman, 1994). A degradação química do solo é causada principalmente pela má gestão agrícola. Em partes do norte da Índia e de Bangladesh, os solos foram acidificados e salinizados e vêm perdendo nutrientes, enquanto uma proporção significativa da terra no Camboja, na Malásia, na Tailândia e no Vietnã tem sido degradada devido a sulfatos ácidos (Oldeman, 1994). Equilíbrios inadequados dos nutrientes do solo (entre fósforo, nitrogênio e potássio) são comuns na Austrália, em Bangladesh, no Nepal, no Paquistão e no Sri Lanka. Os solos salinos cobrem 60 milhões de hectares de terra agrícola na região, e particularmente a Austrália está enfrentando sérios problemas de salinização da terra (MoAFFA, 1999). A extração excessiva de águas subterrâneas e superficiais, assim como a elevação dos lençóis freáticos causada por sistemas inadequados de irrigação, têm aumentado a ocorrência de salinidade de águas superficiais e do solo. Os problemas graves de contaminação do solo são característicos das partes ao norte da região, bem como de partes da Austrália e da Nova Zelândia. Entre os contaminantes, cabe mencionar o cádmio (presente em fertilizantes), o cromo hexavalente, o chumbo, o arsênico, o tricloroetileno, o tetracloroetileno e os concentrados de dioxinas. As questões de saúde decorrentes de envenenamento crônico procedente de terras agrícolas eram comuns nos anos 1970 no noroeste do Pacífico e no nordeste da Ásia (MoE Japan, 2000). Os principais agentes de poluição do solo na região são agora as indústrias químicas e de eletrogalvanização no Japão e na República da Coréia, mas verifica-se também a presença de metais pesados em terras agrícolas (como resultado da aplicação de fertilizantes) e em áreas próximas a minas e refinarias (devido a descargas químicas). A contaminação do solo por meio do chumbo e do arsênico prevalece em todo o sul e sudeste da Ásia. A irrigação com efluentes não tratados tam- TERRA 77 A remoção da vegetação nas áreas agrícolas do oeste da Austrália causou a elevação das águas subterrâneas e a ocorrência de salinização. Fonte: UNEP, Peter Garside, Topham Picturepoint bém tem causado contaminação e acidificação do solo em diversas áreas; na Mongólia, por exemplo, a eliminação de resíduos e as descargas de águas residuais são as principais causas da contaminação do solo (UNDP, 2000). As ações implementadas para combater a contaminação do solo incluem a Lei de Prevenção à Poluição do Solo em Áreas Agrícolas elaborada no Japão, a qual aplica restrições a atividades de contaminação, além de ter promovido projetos de recuperação. Em 1999, foram implementados projetos de recuperação para 79% da área total de terra poluída, o equivalente a 7.145 hectares (MoE Japan, 2000). Na República da Coréia, o Ministério do Meio Ambiente estabeleceu uma Rede de Monitoramento da Contaminação do Solo, em 1996, para evitar a contaminação de solos adjacentes a minas, refinarias, bases militares, instalações de armazenagem de petróleo e aterros de resíduos (Shin-Bom, 1996). Atualmente, a Austrália possui uma abordagem nacional sistemática para a avaliação da contaminação de sítios por meio da Medida Nacional de Proteção Ambiental (National Environmental Protection Measure – NEPM) para a Avaliação da Contaminação de Sítios (Assessment of Site Contamination) (NEPC, 2001). Muitos dos fracassos das respostas por meio de medidas físicas aos problemas da degradação de terras se originaram das influências concorrentes de programas de incentivo fiscal e comercial. A prática de subcotização dos preços dos recursos e o subsídio de insumos agrícolas, tais como fertilizantes, desempenharam papéis importantes ao manter a pressão sobre a terra. Um grande fracasso das políticas é o sistema inseguro de posse de terras, o qual leva à degradação da terra, embora em muitos casos até mesmo o fato de uma pessoa ter a propriedade de um terreno seja insuficiente para assegurar seu uso sustentável, pois as pressões demográficas têm levado à fragmentação e à superexploração de latifúndios. Políticas de competição de natureza econômica e ambiental também influenciaram as práticas de uso da terra na Nova Zelândia. Os subsídios governamentais nas décadas de 1970 e 1980 resultaram na conversão de amplas áreas de florestas e bosques em pastagens e cultivos, aumentando drasticamente o risco de erosão nessas áreas. No entanto, com a eliminação desses subsídios nos anos de 1980, permitiu-se que vastas áreas de pastagens marginais em terrenos íngremes se regenerassem em matagais e florestas nativas, reduzindo o risco de erosão (MoE New Zealand, 1997). 78 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 Vulnerabilidade à desertificação: Ásia e Pacífico Desenvolvimento do Deserto, o Projeto Nacional de Desenvolvimento de Bacias Hidrográficas para Áreas Secas (1990-91), o Projeto Indira Gandhi Nahar (que incentiva a participação da comunidade local) e o Programa de Ação Ambiental de 1993 (MoEF India, 2000). Mudança no uso da terra baixa seco moderada frio alta úmido/não vulnerável muito alta gelo/glacial Mais da metade das regiões áridas são afetadas pela desertificação – a área mais atingida é a Ásia Central, seguida pelo Sul da Ásia e pela Austrália. Fonte: Reich e outros, 2001 Desertificação Da área de 1,977 bilhão de hectares de terras secas na Ásia, mais da metade está afetada pela desertificação (UNCCD, 1998). A região mais prejudicada é a Ásia Central (mais de 60% da área afetada pela desertificação), seguida do Sul da Ásia (mais de 50%) e do nordeste da Ásia (cerca de 30%). As atividades de combate à desertificação incluem manejo de bacias hidrográficas, conservação do solo e da água, estabilização de dunas, programas de reflorestamento, recuperação de terrenos alagados e salinos, manejo florestal e de pastagens e recuperação da fertilidade do solo. Na Índia, entre os programas implementados desde o início dos anos 1990, vale citar o Programa de Reflorestamento, o Programa de Áreas Propensas a Secas (1994-95), o Programa de Os problemas de degradação do solo estão diretamente relacionados a práticas de uso da terra, particularmente a expansão da agricultura e sua intensificação. O padrão de uso da terra na Tailândia, por exemplo, mudou drasticamente nos últimos trinta anos, à medida que a superfície florestal diminuiu de 56% para 24% da área total de terra entre 1965 e 1997 (Donner, 1978; e GWF, 1999). No Japão, a área de terras agrícolas diminuiu de 5,8 milhões para 4,9 milhões de hectares entre 1970 e 1999, já que parte das terras aráveis foram convertidas ao uso residencial (NLA, 2000). As tentativas de reduzir a degradação da terra por meio do controle das mudanças no uso da terra tiveram pouco êxito. O problema constante reside na incapacidade de intervir nos sistemas de planejamento econômico e nas abordagens dos setores dominantes em relação à gestão da terra. Para os países mais pobres, as prioridades de postos de trabalho, emprego e tratamento de economias estagnadas prevaleceram sobre o planejamento integrado. Na Austrália, as iniciativas voluntárias da comunidade que tiveram início no começo da década de 1970 receberam o devido reconhecimento por parte do governo em 1988. A Federação Nacional de Agricultores e a Fundação Australiana para a Conservação propuseram conjuntamente o programa nacional de gestão de terras denominado Landcare (Noble e outros, 1996). A iniciativa proliferou em meados da década de 1990, quando foram incluídos os programas Dune Care, RiverWatch, Bushcare e Coastcare. Referências: Capítulo 2, terra, Ásia e Pacífico Donner, W. (1978) The Five Faces of Thailand: An Economic Geography. London, C. Hurst and Company MoE New Zealand (1997). The State of New Zealand’s Environment 1997. Wellington, GP Publications GWF (1999). State of the Thai Environment. Bangkok, Green World Foundation NEPC (2001). National Environment Protection Council, Australia http://www.nepc.gov.au [Geo-2-160] MoAFFA Australia (1999). Serious Salinity Warning Must Be Heeded — Tuckey Media Release 24 June 1999. Ministry of Agriculture, Fisheries and Forestry, Australia http://www.affa.gov.au/ministers/tuckey/releases/99/ 99_71tu.html [Geo-2-157] NLA (2000). Annual Report on National Land. National Land Agency of Japan. Tokyo, Printing Bureau, Ministry of Finance MoE Japan (2000). Policies and Programmes. Ministry of the Environment, Government of Japan http://www.env. go.jp/en/pol/leaflet1.html [Geo-2-159] MoEF India (2000). National Report on Implementation of the United Nations Convention to Combat Desertification. New Delhi, Ministry of Environment and Forests, Government of India Noble, I., Barson, M., Dumsday, R., Friedel, M., Hacker, R., McKenzie, N., Smith, G., Young, M., Maliel, M. and Zammit, C. (1996). Land resources. In Commonwealth of Australia (ed.), Australia: State of the Environment 1996. Collingwood, CSIRO Publishing Oldeman, L.R. (1994). The global extent of soil degradation. In Greenland, D.J. and Szaboles, T. (eds.), Soil Resilience and Sustainable Land Use. Wallingford, Commonwealth Agricultural Bureau International http://www.isric.nl/GLASOD.htm [Geo-2-161] Reich, P. F., Numbem, S. T., Almaraz, R.A. and Eswaran, H. (2001). Land resource stresses and desertification in Africa. In Bridges, E.M., Hannam, I.D., Oldeman, L.R., Pening, F.W.T., de Vries, S.J., Scherr, S.J. and Sompatpanit, S. (eds.). Responses to Land Degradation. Proceedings of the 2nd International Conference on Land Degradation and Desertification, Khon Kaen, Thailand. New Delhi, Oxford Press Shin-Bom, L. (1996). South Korea Environmental Report. ABS Consulting, Government Institutes Division, Rockville, Maryland, United States UNCCD (1998). The Social and Economic Impact of Desertification in Several Asian Countries: Inventory Study. Geneva, Interim Secretariat of the Convention to Combat Desertification UNDP (2000). Human Development Report 2000. Oxford and New York, Oxford University Press TERRA Terra: Europa As principais questões associadas aos recursos da terra na Europa são o planejamento do uso da terra em relação à agricultura e à expansão urbana, bem como a degradação do solo devido a fatores tais como contaminação e erosão. A contínua expansão demográfica, as mudanças econômicas e o crescimento econômico nos últimos trinta anos levaram a demandas concorrentes por terra para agricultura, silvicultura, proteção ambiental e lazer, assim como para o desenvolvimento urbano e de infra-estrutura. A taxa média anual de mudança na ocupação das terras na Europa Ocidental é bastante baixa, mas em nível local as mudanças podem ser significativas, principalmente em áreas densamente povoadas – 74% da população européia está concentrada em apenas 15% da superfície de seu território (EEA, 1999). Ao mesmo tempo, essas áreas apresentam níveis elevados de atividade na indústria, no transporte, nos serviços e em outros setores da economia, com problemas ambientais concomitantes. Uso da terra Apesar de ser uma atividade minoritária em termos de renda e emprego, a agricultura é o uso predominante da terra na Europa. Desde a década de 1950, o continente tem sofrido uma tendência contínua em direção à urbanização à custa de terras naturais, seminaturais e agrícolas. A área utilizada para a agricultura produtiva na Europa Ocidental diminuiu nos últimos trinta anos – em 6,5% para cultivos permanentes e terras de uso agrícola e em 10,9% para as pastagens permanentes (FAOSTAT, 2000). Porém, o declínio tem sido acompanhado por métodos de produção mais intensivos. Essa tendência de intensificação parece determinada a continuar, e são necessários planejamento e gestão mais bem integrados do uso do espaço e da terra para combater os problemas associados à ocupação da terra e à mudança em seu uso. Durante os anos 1990, em muitas partes da Europa Central e do Leste Europeu, a pressão sobre os recursos da terra começou a diminuir, devido à queda das economias de planejamento centralizado, ao fim dos subsídios estaduais para grandes cooperativas de produção agrícola e ao despovoamento de áreas rurais. O colapso econômico também causou uma forte queda no uso de produtos químicos agrícolas, o abandono de imensos projetos de irrigação e terras agrícolas e um declínio na 79 quantidade de gado, com um efeito geral benéfico sobre o meio ambiente. Uma superfície considerável de terra está sendo reflorestada, e é possível que essa tendência se acelere com a mudança climática. Nos últimos anos, maior atenção tem sido dispensada à recuperação e à proteção de áreas úmidas. Perderam-se cerca de dois terços das áreas úmidas européias que existiam há cem anos (EC, 1999). As áreas úmidas são o único tipo de ecossistema protegido por sua própria convenção internacional, a Convenção de Ramsar de 1971, segundo a qual os países signatários concordam em incluir a conservação de áreas úmidas em seu planejamento nacional e em promover sua utilização racional. Em 1985, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF – World Wildlife Fund) e a União para a Conservação Mundial (Union for the Conservation of Nature) lançaram uma campanha para promover a conscientização pública em relação às áreas úmidas e sua importância. Um dos principais objetivos era assegurar que o desenvolvimento das áreas úmidas prosseguisse apenas quando todas as implicações tivessem sido compreendidas e quando tivessem sido elaborados planos para garantir que as conseqüências ambientais fossem minimizadas. De modo geral, na Europa Ocidental, as políticas e as medidas relacionadas explicitamente ao planejamento e à gestão do uso da terra têm sido de responsabilidade de governos locais e nacionais, enEsforços internacionais para melhorar a gestão de terras Os esforços internacionais de políticas para proteger os ecossistemas e os habitats da flora e fauna silvestres por meio de convenções mundiais incluem a Convenção de Ramsar sobre áreas úmidas, a convenção sobre biodiversidade e a Perspectiva Européia de Desenvolvimento Territorial (European Spatial Development Perspective ESDP) iniciada pelos ministros responsáveis pelo Planejamento Regional/ Territorial na União Européia. A ESDP tem o objetivo de melhorar a coerência territorial das políticas da Comunidade Européia (CE). A Perspectiva analisa tanto as realizações como as deficiências dos principais setores de políticas que afetam o desenvolvimento do território da CE, incluindo políticas de concorrência, políticas associadas a redes de transporte e telecomunicações, fundos estruturais, política agrícola e ambiental, e pesquisa, tecnologia e desenvolvimento (EC Committee on Spatial Development ,1999). O processo de Meio Ambiente para a Europa também concentra a atenção na paisagem européia. A Estratégia Européia sobre Biodiversidade e Paisagens foi lançada durante a IV Convenção Ministerial sobre o Meio Ambiente em Aarhus (1998). Todos esses importantes programas internacionais enfatizam a necessidade de melhorar as atividades de monitoramento estatístico. O projeto Estudo Estatístico Europeu de Uso da Terra/ Ocupação da Terra (European Land Use/Land Cover Statistical Survey LUCAS) é um exemplo promissor que foi aprovado pelo Parlamento Europeu em abril de 2000. 80 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 O aumento de superfícies impermeáveis juntamente com um declínio da cobertura florestal causou maiores inundações (como nesta foto em Portugal), correntes de lama e deslizamentos. Fonte: UNEP, Angelo Sande, Topham Picturepoint quanto que, na Europa Central e no Leste Europeu, tem havido uma mudança brusca de planejamento centralizado para local ou mesmo para uma total ausência de planejamento. Desde 1989, as políticas agrícolas da Europa Central e do Leste Europeu foram se alinhando gradualmente com as da União Européia. Também existem várias iniciativas de políticas em relação à gestão de terras (ver box na página anterior). Degradação do solo O dano causado aos solos europeus devido a atividades humanas está aumentando, incluindo a impermeabilização da superfície do solo, a contaminação local e propagada e a erosão do solo. Apesar do reconhecimento geral de que a degradação do solo é um problema sério e generalizado na Europa, isso não foi quantificado e não se sabe com precisão sua distribuição geográfica e extensão real. O aumento de superfícies impermeáveis devido a mudanças no uso da terra juntamente com um declínio da cobertura florestal elevou a freqüência e a dimensão dos escoamentos de tempestades, causando inundações, correntes de lama e deslizamentos (EEA e UNEP, 2000). Os aumentos dos danos causados por inundações também resultaram do desenvolvimento de planícies de inundação com fins industriais e residenciais. A contaminação do solo ocorre em toda a Europa, embora a acidificação do solo proveniente de chuvas ácidas já não seja considerada um grande problema, tendo diminuído em 50% desde os anos 1980 (EEA, 1999). A contaminação é particularmente grave em áreas urbanas, devido a atividades industriais e à eliminação inadequada de resíduos, bem como em áreas com uma longa tradição de indústria pesada, mineração, atividades militares e acidentes. Por todo o sudoeste da Europa, as terras que já sofriam com práticas inadequadas de gestão territorial foram ainda mais danificadas com assentamentos militares e de refugiados, minas terrestres (uma área equivalente a 27% da terra arada em repouso da Bósnia ainda está minada) e outros artefatos que não explodiram (REC, 2000). No Leste Europeu, projetos imensos de irrigação e de energia hidrelétrica, associados a uma gestão inadequada da água, resultaram em salinização e inundação de amplas áreInundações e deslizamentos de terra na Itália (número de eventos) 1990 -1999 1980 -1989 1970 -1979 1960 -1969 1950 -1959 1940 -1949 1930 -1939 1920 -1929 inundações 1910 -1919 1900 -1909 0 deslizamentos de terra 500 1000 1500 2000 2500 3000 Nos últimos vinte anos, as inundações e os deslizamentos de terra têm afetado mais de 70 mil italianos e causado perdas econômicas da ordem de 11 bilhões de euros. Os impactos reais são incalculáveis, já que as informações disponíveis relacionam apenas alguns eventos catastróficos. Fonte: EEA e UNEP, 2000 TERRA 81 Vulnerabilidade à erosão hídrica: Europa baixa seco moderada frio alta úmido/não vulnerável muito alta gelo/glacial A erosão do solo na Europa é em geral causada por água e é mais intensa na região do Mediterrâneo e nas zonas de terras negras da República da Moldávia, da Federação Russa e da Ucrânia. Fonte: USDA, 2001 as, principalmente no Azerbaijão, na Bielorrússia, na Federação Russa e na Ucrânia. A erosão do solo na Europa é causada principalmente pela água e, em grande parte, é resultado de práticas agrícolas insustentáveis, desmatamentos e excesso de pastagens. A erosão do solo é mais grave na região mediterrânea. Tornou-se irreversível (isto é, uma perda de mais de 1 tonelada/ha/ano durante cinqüenta a cem anos) em algumas áreas de terra mediterrânea e nas regiões de solo negro da República de Moldávia, da Federação Russa e da Ucrânia. A erosão é um problema particular da Comunidade dos Estados Independentes: em 12 países, 475 milhões de hectares (79%) de terra agrícola estão afetados até certo ponto pela erosão do solo (Interstate Statistical Committee, 1999). Diferentemente de outros meios, como a água doce ou a atmosfera, não foram estabelecidos obje- tivos e metas específicos para a conservação do solo, que é raramente considerado em atividades de planejamento setoriais, tais como os corredores de transporte transnacionais. Em âmbito nacional, alguns países elaboraram leis, políticas e diretrizes para melhorar ou prevenir uma maior degradação do solo, mas as medidas políticas têm como meta principal o combate à poluição em outras áreas, afetando os solos apenas de forma indireta. O monitoramento do solo estabelecido por lei é realizado em diversos países, mas raramente de forma específica para a proteção do solo; portanto, o desempenho das políticas não pode ser quantificado, e a possibilidade de comparação em âmbito europeu continua fraca. O desenvolvimento de uma estrutura política comum que reconheça a função do solo, visando a sustentabilidade, resultaria em múltiplos benefícios e melhoraria o meio ambiente europeu como um todo. Referências: Capítulo 2, terra, Europa EEA (1999). Environment in the European Union at the Turn of the Century. Copenhagen, European Environment Agency EEA and UNEP (2000). Down to Earth: Soil Degradation and Sustainable Development in Europe. A Challenge for the 21st Century. Environmental Issues Series No 16. Copenhagen, European Environment Agency http://reports. eea.eu.int/environmental_issue_series_16/en/envissue16.pdf [Geo-2-163] EC (1999). European Spatial Development Perspective. Towards Balanced and Sustainable Development of the Territory of the EU. Report of the Final Discussion at the Meeting of the Ministers responsible for Regional/Spatial Planning of the European Union, held in Potsdam, May 1999. Brussels, European Commission FAOSTAT (2000). FAOSTAT Statistical Database. Food and Agriculture Organization http://www.fao.org/ [Geo-2-197] Interstate Statistical Committee (1999). Official Statistics of the Countries of the Commonwealth of Independent States. CD Rom. Moscow, Interstate Statistical Committee of the Commonwealth of Independent States REC (2000). Strategic Environmental Analysis of Albania, Bosnia and Herzegovina, Kozová and Macedonia. Szentendre, Hungary, Regional Environmental Centre for Central and Eastern Europe USDA (2001). Water Erosion Vulnerability. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service, Soil Survey Division, World Soil Resources, Washington http://www.nhq.nrcs.usda.gov/WSR/mapindx/ erosh2o.htm [Geo-2-164] 82 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Terra: América Latina e Caribe A região da América Latina e Caribe possui as maiores reservas de terra arável do mundo, com cerca de 576 milhões de hectares, o equivalente a quase 30% de seu território total (Gómez e Gallopín, 1995). A região contém ainda 16% do total global de 1,9 bilhão de hectares de terra degradada, colocando-se em terceiro lugar, atrás da região da Ásia e Pacífico e da África (UNEP, 2000). As questões prioritárias na região incluem: perda de área agrícola (causada por fatores tais como erosão, mudanças nas práticas agrícolas e crescimento da urbanização), degradação da terra (associada a compactação, lixiviação de nutrientes e poluição) e posse de terras (que abrange a distribuição inadequada e desigual de terras, assim como a inexistência de direitos de posse). Área irrigada (1.000 ha): América Latina e Caribe . . . América do Sul América Central Caribe . . Degradação da terra . . . . . A área irrigada na América Latina e no Caribe expandiu-se em média aproximadamente 2% ao ano, ao longo do período de 1972 a 1999. Fonte: FAOSTAT, 2001 mo período, resultando em uma maior produção agrícola em toda a região. A expansão da terra arável permanente em solos anteriormente cobertos por florestas ainda é a principal causa do desmatamento na região amazônica brasileira (Nepstad e outros, 1999). A produção de soja, principalmente para exportação, tem sido o maior impulsor da expansão dos limites agrícolas no norte da Argentina, no leste do Paraguai e na região central do Brasil (Klink, Macedo e Mueller, 1994). A expansão da produção pecuária também impulsionou consideravelmente a conversão de terras na região. O processo não teria êxito sem o firme apoio dos governos por meio de incentivos fiscais (a “Amazônia Legal” no Brasil), da construção de estradas e da disponibilidade de mão-deobra capacitada e barata. Por exemplo, empresas do setor pecuário na Bolívia arrendavam terras a camponeses de modo que pudessem desmatá-las para cultivo e depois devolvê-las já desmatadas ao término do contrato de arrendamento (Giglo, 2000). Erosão, perda de nutrientes, poluição química, salinização e os efeitos de fenômenos meteorológicos e geológicos são os principais fatores que contribuem para os diferentes processos de degradação da terra. Expansão dos limites para a agricultura e a pecuária A expansão agrícola intensificou o uso de recursos naturais e agravou muitos dos processos de degradação da terra. Nas três últimas décadas, tem havido um aumento das terras aráveis e pastagens à custa das florestas. Durante o período de 1972 a 1999, a área de terra arável permanente e de terras de cultivo aumentou na América do Sul em 30,2 milhões de hectares ou 35,1%; na América Central, em 6,3 milhões de hectares ou 21,3%; e, no Caribe, em 1,8 milhão de hectares ou 32,0% (FAOSTAT, 2001). A área irrigada (ver gráfico) também aumentou no mes- A erosão é a principal causa da degradação da terra na América Latina, afetando 14,3% do território na América do Sul e 26% na América Central (Oldeman, 1994). O esgotamento de nutrientes também é um problema grave, em grande parte causado pela intensificação da agricultura. Na América do Sul, o esgotamento de nutrientes do solo afetou 68,2 milhões de hectares até 1980 (Scherr e Yadav, 1997). Tal esgotamento agravou a pobreza que, por sua vez, tem contribuído para uma maior degradação ambiental e para a deterioração da terra. A poluição química do solo está cada vez mais significativa, devido à intensificação da agricultura e ao uso de pesticidas nos últimos trinta anos. A tecnologia agrícola aumentou a produção por toda a região, mas a um custo elevado para o meio ambiente. Um assunto de grande preocupação é o impacto da poluição por agrotóxicos sobre o solo e a água e, conseqüentemente, sobre a saúde humana. A nitrificação do solo e da água está associada ao uso de fertilizantes químicos, que aumentou de 3,7 para 10,9 milhões de toneladas no período de 1972 a 1997 (FAOSTAT, 2001). TERRA 83 Vulnerabilidade à erosão hídrica e eólica: América Latina e Caribe Erosão eólica Erosão hídrica baixa seco moderada frio alta úmido/não vulnerável muito alta gelo/glacial A salinização é uma forma de degradação do solo particularmente significativa, devido à dificuldade de tratamento e à possibilidade de causar desertificação. A salinização provocada pela irrigação afeta 18,4 milhões de hectares na região, principalmente na Argentina, no Brasil, no Chile, no México e no Peru (AQUASTAT, 1997). Os problemas da degradação da terra vêm sendo discutidos em fóruns regionais e internacionais há muitas décadas. Após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o trabalho em novas convenções e acordos começou a buscar soluções regionais e subregionais. Por exemplo, o secretariado da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), juntamente com o PNUMA e o governo do México, estabeleceu uma Unidade de Coordenação Regional para a América Latina e o Caribe com o objetivo de coordenar o trabalho de núcleos nacionais na preparação de programas de ação nacional. Tais ações incentivaram vários países a estabelecer programas similares e levaram à criação de sistemas de monitoramento (UNEP/ROLAC, 1999; Universidad de Buenos Aires, 1999). O Pacto Amazônico, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável, o Sistema de Integração Centro-Americano e o Pacto Andino são exemplos de mecanismos sub-regionais que prepararam o terreno para a elaboração de acordos e promoveram sistemas de monitoramento e controle para a prevenção da degradação da terra. Posse de terras Os problemas relativos à posse de terras abrangem a concentração de propriedade em uma minoria da população e a falta de títulos de propriedade, o que tem sua origem histórica no sistema colonial de propriedade de terras e na existência simultânea de grandes latifúndios e pequenas propriedades agrícolas. Aproximadamente 38% da população rural são pequenos agricultores, que administram 35,1% das terras de cultivo permanente (van Dam, 1999). O tamanho médio das fazendas varia de 0,41 hectare no Equador a pouco mais de 1,5 hectare no Brasil e no Peru. Apesar das numerosas reformas agrárias e dos sistemas de distribuição de terras implementados na América Latina, a posse de terras não sofreu uma mudança acentuada; há tanto uma tendência de fundir fazendas para compor latifúndios maiores quanto a de aumentar o número de pequenas propriedades rurais (van Dam, 1999). Ambos os processos causam efeitos ambientais desfavoráveis. Em grandes propriedades rurais, a terra sofre erosão e compactação devido à mecanização, A erosão é a principal causa da degradação do solo na região, afetando 14,3% da América do Sul e 26% da América Central. Fonte: USDA, 2001a e 2001b 84 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 O impacto ambiental do regime de posse de terras nas condições do solo da Jamaica Como ocorre no restante da América Latina e Caribe, o regime de posse de terras na Jamaica é desigual, e, tanto em grandes como em pequenas propriedades rurais, poucos métodos de conservação e recuperação da terra são utilizados. Na década de 1970, a reforma agrária favoreceu grandes propriedades na forma de cooperativas, com base no uso intensificado de cultivos, na mecanização, em um aumento da área irrigada e no monocultivo. Os efeitos ambientais incluíram a erosão e a compactação do solo devido à mecanização, a salinização causada por sistemas deficientes de irrigação e a poluição química. Um quarto do território da Jamaica era usado para cultivo nos anos 1980, e mais de 90% das propriedades cobriam 4 hectares ou menos. Essas pequenas propriedades rurais concentravam-se em áreas de montanhas ecologicamente frágeis de baixa fertilidade. A agricultura tinha base em métodos tradicionais, entre eles o cultivo de corte e queima. Faltavam infra-estrutura física e serviços básicos, e os agricultores recebiam pouco ou nenhum crédito e tinham pouca instrução. A expansão contínua de grandes propriedades agrícolas e a marginalização de agricultores camponeses significam que agora há menos períodos de repouso e menos rotatividade de cultivos. O desmatamento das costas montanhosas continua, e tem havido uma redução no número de animais de tração. Nas áreas com pequenas propriedades, a degradação do solo tende a aumentar, principalmente em termos de perda da fertilidade do solo devido à erosão, o que se reflete em uma notável queda de produção. assim como salinização causada por sistemas de irrigação inadequados e poluição química. As pequenas propriedades aumentam o desmatamento e levam à erosão e à perda de fertilidade do solo, pois são utilizadas de forma intensiva, sem períodos apropriados de repouso (Jazairy, Alamgir e Panuccio, 1992). O Programa Sub-Regional de Ação para o Desenvolvimento Sustentável da Região Americana de Puna, de responsabilidade do secretariado da UNCCD, está desenvolvendo um plano de ação para uma área em que os recursos naturais são limitados e onde há problemas de pobreza, migração e marginalidade crescentes (UNEP/ROLAC, 1999). Inspiraram o programa a questão da posse de terra, regulamentos deficientes relativos à terra e a eliminação de incentivos para a expansão agrícola. Fontes: van Dam, 199; Library of Congress, 1987 Referências: Capítulo 2, terra, América Latina e Caribe AQUASTAT (1997). Tablas Resumen de America Latina y el Caribe. Food and Agriculture Organization http:// www.fao.org/ag/agl/aglw/aquastat/tables/tab9.htm [Geo-2-176] FAOSTAT (2001). FAOSTAT Statistical Database. Food and Agriculture Organization http://www.fao.org/ [Geo-2-199] Giglo, N. (2000). Land and food in Latin America and the Caribbean. Technical paper. Mexico City, DEWA-ROLAC/ UNEP Gómez, I.A. and Gallopín, G.C. (1995). Potencial agrícola de la América Latina. In Gallopin, G.C. (ed.). El Futuro Ecológico de un Continente: Una Visión Prospectiva de la América Latina. Mexico City, Universidad de las Naciones and Fondo de Cultura Económica Jazairy, I., Alamgir, M. and Panuccio, T. (1992). The State of World Rural Poverty: An Inquiry into its Causes and Consequences. New York, New York University Press for IFAD Klink, C. A., Macedo, R.H. and Mueller, C.C. (1994). Cerrado: Processo de Ocupação e Implicações para a Conservação e Utilização Sustentável de sua Diversidade Biológica. Brasilia, WWF-Brasil Library of Congress (1987). Caribbean Islands: A Country Study. Library of Congress, Federal Research Division http://memory.loc.gov/frd/cs/cxtoc.html [Geo-2-175] Nepstad, D. C., Verissimo, A., Alencar, A., Nobre, C., Lima, E., Lefebvre, P., Schlesinger, P., Potter, C., Moutinho, P., Mendoza, E., Cochrane, M. and Brooks, V. (1999). Large-scale impoverishment of Amazonian forests by logging and fire. Nature 98, 505-508 Oldeman, L.R. (1994). The global extent of soil degradation. In Greenland, D.J. and Szaboles, T. (eds.), Soil Resilience and Sustainable Land Use. Wallingford, Commonwealth Agricultural Bureau International http:/ /www.isric.nl/GLASOD.htm Scherr, S. and Yadav, S. (1997). Land Degradation in the Developing World: Issues and Policy Options for 2020, 2020 Vision Policy Brief No. 44. Washington DC, International Food Policy Research Institute UNEP (2000). GEO Latin America and the Caribbean Environment Outlook. Mexico City, United Nations Environment Programme, Regional Office for Latin America and the Caribbean UNEP/ROLAC (1999). Application of the Convention. Examination of Progress in Formulating and Executing Sub-regional and Regional Action Programmes in Latin America and the Caribbean. Summary. Mexico City, Secretariat of the Convention to Combat Desertification, Regional Coordination Unit for Latin America and the Caribbean Universidad de Buenos Aires (1999). Indicadores de la Desertificación para su Monitoreo con Teledetección y Sig en el Valle de Santa Maria (Catamarca). Universidad de Buenos Aires http://www.rec.uba.ar/pc_98_00/htm/ ag13.htm USDA (2001a). Water Erosion Vulnerability. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service, Soil Survey Division, World Soil Resources, Washington DC http://www.nhq.nrcs.usda. gov/WSR/mapindx/erosh2o.htm USDA (2001b). Wind Erosion Vulnerability. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service, Soil Survey Division, World Soil Resources, Washington DC http://www.nhq.nrcs.usda. gov/WSR/mapindx/eroswind.htm van Dam, C. (1999). La Tenencia de la Tierra en América Latina. El Estado del Arte de la Discusión en la Región Iniciativa Global Tierra, Territorios y Derechos de Acceso. Santiago, IUCN Regional Office for South America TERRA Terra: América do Norte Cerca de 11% das terras de cultivo agrícola do mundo se encontram na América do Norte, produzindo alimentos, fibras e outros produtos, tanto para as próprias necessidades da região como para exportação. Quase 20% do território dos Estados Unidos está coberto por terras de cultivo aráveis e permanentes, e 26% por pastagens permanentes (OECD, 1999). Embora apenas 7% das terras do Canadá sejam dedicadas à agricultura, esse número representa quase toda a terra não-desenvolvida que se pode usar para cultivo (Environment Canada, 1996). A degradação da terra, associada à expansão, à intensificação e à industrialização agrícola, é motivo de preocupação na América do Norte. Uma das principais questões ligadas à degradação da terra é o uso de pesticidas químicos, o que tem contribuído para uma maior produção de alimentos, mas que também tem tido efeitos importantes sobre o meio ambiente e a saúde humana. Degradação da terra Algumas das pressões diretas que levam à degradação têm sido a expansão e a intensificação agrícolas e o excesso de pastagens em terras áridas (Dregne, 1986; Gold, 1999). Tais práticas podem causar erosão hídrica e eólica, além de degradação química e física (Eswaran, Lal e Reich, 2001). Entre os fatores socioeconômicos, encontram-se os pesados subsídios federais, a crescente demanda mundial por produtos agrícolas e o aumento da liberalização do comércio (MacGregor e McRae, 2000). As lições extraídas das experiências do fenômeno Dust Bowl, ocorrido na década de 1930, levaram à adoção de estratégias de conservação do solo, tais como cultivo de contorno, métodos sem aragem, redução no repouso de verão e aumento na quantidade de resíduos. No fim dos anos 1970 e início da década de 1980, ambos os países relataram as condições do solo de suas respectivas nações. Esses relatórios deram origem à Lei de 1977 sobre Conservação dos Recursos do Solo e da Água dos Estados Unidos e ao Programa Nacional de Conservação do Solo do Canadá de 1989 (Vaisey, Weins e Wettlaufer, 1996; USDA, 1996). Os países também adotaram estratégias pelas quais os terrenos frágeis deixaram de ser usados para a produção agrícola, a fim de protegê-los da erosão (ver box). As medidas de conservação causaram declínios significativos na erosão nos últimos trinta anos. 85 Nos Estados Unidos, 30% das terras de cultivo estavam em condições de elevada propensão à erosão em 1982, em comparação aos 24% registrados em 1992 (H. John Heinz III Center, 1999; Huffman, 2000; Padbury e Stushnoff, 2000). Os dados para outros índices de degradação da terra são escassos: nos Estados Unidos, faltam dados consistentes em âmbito nacional relativos à matéria orgânica, ao grau de compactação do solo e à quantidade de terras afetadas pelo sal (H. John Heinz Programas de Conservação O Programa de Reservas para Conservação (CRP) dos Estados Unidos entrou em vigor em 1985 e se expandiu em 1990 para ajudar os agricultores a deixar de usar terras de cultivo ecologicamente sensíveis ou suscetíveis a erosão por dez anos, em troca de pagamentos de aluguel e de participação nos custos, além de assistência técnica. A meta era reduzir a erosão e a produção em excesso. A partir de outubro de 1999, 12,5 milhões de hectares de terras de cultivo estavam inscritos no CRP (Zinn, 1994; H. John Heinz III Center, 1999). No Canadá, o Programa de Cobertura Vegetal Permanente (PCP), executado pela primeira vez em 1989 pela Administração Federal de Reabilitação Agrícola das Pradarias, tem o objetivo de reduzir a deterioração do solo de terras de cultivo com alto risco de danos no solo, por meio da manutenção de cobertura permanente de grama e árvores. Embora o programa tenha limitação de fundos, seja executado apenas por um curto período de tempo e restrinja a quantidade de terras que cada agricultor pode deixar de usar, foram economizados entre 2 milhões e 5 milhões de dólares canadenses em produtividade do solo, com a cobertura permanente em 320 mil hectares de terras (Tyrchniewicz e Wilson ,1994; Vaisey, Weins e Wettlaufer, 1996). III Center, 1999). As práticas de conservação no Canadá parecem ter levado a uma queda na taxa de perda de carbono orgânico, de 70 kg/ha, em 1970, para 43 kg/ha, em 1990 (Smith e outros, 2000). De modo geral, a desertificação se estabilizou nos últimos trinta anos, já que a cobertura vegetal nas terras de pastagens melhorou e a erosão e os alagamentos têm sido controlados (Dregne, 1986; UNCCD, 2001). Em meados da década de 1980, estimava-se que a salinização afetasse cerca de 25% das terras irrigadas nos Estados Unidos, e as condições nas áreas agrícolas intensamente irrigadas do sudoeste seco dos Estados Unidos continuam piorando (de Villiers 2000). No Canadá, apenas 2% das terras agrícolas têm mais de 15% de sua área afetada pela salinidade (Environment Canada, 1996). Historicamente, as políticas agrícolas governamentais enfocavam metas econômicas e de produção, mas, no passado recente, as reformas de políticas foram orientadas pela sustentabilidade (Mac- 86 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 Vulnerabilidade à erosão hídrica e eólica: América do Norte Erosão eólica Erosão hídrica A despeito da vulnerabilidade, a erosão do solo nos Estados Unidos diminuiu cerca de um terço, durante o período 198797, e, nas regiões agrícolas do Canadá, a média numérica de dias em que o solo foi deixado sem proteção teve uma redução de 20% entre 1981-96. Fonte: USDA, 2001a e 2001b baixa seco moderada frio alta úmido/não vulnerável muito alta gelo/glacial Gregor e McRae, 2000). O projeto canadense Indicador Agroambiental, concluído no ano 2000, contribuiu para um debate mais bem informado acerca da sustentabilidade agrícola, e as Leis Agrícolas de 1985 e 1990 dos Estados Unidos levaram a uma administração mais sustentável por parte de agricultores e proprietários de terras (McRae, Smith e Gregorich, 2000; NRCS, 2000). Em 1994, a Força-Tarefa dos Estados Unidos sobre Agricultura Sustentável estabeleceu recomendações para alcançar uma produção agrícola segura, em termos tanto ambientais como sociais e, após dois anos, a Lei Federal de Melhoria e Reforma Agrária foi assinada, desenvolvendo temas anteriores relativos à conservação (Gold, 1999). O governo canadense estabeleceu sua estratégia para a agricultura sustentável em 1997 (AAFC, 1997). Pesticidas A América do Norte é responsável por 36% do uso mundial de pesticidas. Sem dúvida, o uso mais comum e generalizado na América do Norte é o que se aplica com fins agrícolas, o que correspondeu a 77% do uso de pesticidas nos Estados Unidos em 1991 (Schmitt, 1998). No Canadá, a área de terras tratadas com pesticidas químicos aumentou 3,5 vezes entre 1970 e 1995 (Statistics Canada, 2000). Desde 1979, a quantidade anual total de pesticidas utilizada nos Estados Unidos se manteve bastante estável, enquanto o uso de inseticidas di- minuiu (Schmitt, 1998). As reduções ocorreram devido ao uso de pesticidas mais seguros, a novas técnicas de manejo para o controle de pragas, bem como ao treinamento e a programas de certificação para usuários de pesticidas (Fischer, 2000). Os pesticidas ainda suscitam diversos problemas. Embora os chamados pesticidas “leves” produzidos desde 1975 tenham uma vida ativa menor do que a dos POPs (poluentes orgânicos persistentes) e não se acumulem, atuam rapidamente e são altamente tóxicos a curto prazo para invertebrados terrestres e aquáticos. Em alguns locais, causaram um aumento no número de mortes de peixes e animais silvestres (OECD, 1996; Schmitt, 1998). As pragas também têmse tornado resistentes. Um relatório calcula que mais de 500 pragas de insetos, 270 espécies de erva daninha e 150 doenças de plantas são agora resistentes a um ou mais pesticidas. Conseqüentemente, hoje são necessárias aplicações mais freqüentes para alcançar o mesmo nível de controle que havia no início dos anos 1970 (Benbrook, 1996). Com uma maior preocupação por parte da população com respeito aos efeitos dos pesticidas sobre a saúde e com o reconhecimento da vulnerabilidade especial de crianças e populações indígenas que vivem na região norte, os regulamentos sobre pesticidas na América do Norte tornaram-se mais rígidos nos anos de 1990. Em 1996, os Estados Unidos aprovaram a Lei sobre Proteção da Qualidade Alimentar, e em 1995 foi instituída a Agência TERRA Reguladora do Manejo de Pragas canadense (OECD, 1996; Cuperus, Berberet e Kenkel, 1997; PMRA, 2001). Ao considerar a exigência pública de proteger as crianças contra pesticidas de uso em gramados, muitos municípios norte-americanos agora restringem o uso de pesticidas em terras públicas, e alguns estabeleceram proibições totais. Também foram implementadas iniciativas de manejo integrado de pragas (NIPMN, 2000; Cuperus, Berberet e Kenkel, 1997), o que permitiu uma flexibilidade maior do que a que ocorre na agricultura orgânica, em que os pesticidas químicos são proibidos. As medidas de conservação do solo na América do Norte e seu compromisso com a contínua eliminação dos POPs são tendências positivas. Contudo, há uma falta de dados confiáveis sobre a erosão do solo e outras medidas de degradação da terra, e ainda são necessários melhores monitoramentos do uso de pesticidas e do impacto por eles causado. A legislação severa voltada às fontes localizadas de poluição tem causado a diminuição de emissões brutas à terra, mas agora está claro que é necessário fazer mais para refrear a poluição de fontes difusas procedente de insumos agrícolas. Referências: Capítulo 2, terra, América do Norte AAFC (1997). Agriculture in Harmony with Nature: Strategy for Environmentally Sustainable Agriculture and Agri-food Development in Canada. Minister of Public Works and Government Services, Canada http://www. agr.ca/policy/envharmon/docs/strat_e.pdf Benbrook, C.M. (1996). Pest Management at the Crossroads. Yonkers, New York, Consumers Union http:/ /www.pmac.net/voc.htm [Geo-2-178] Cuperus, G., Berberet, R. and Kenkel, P. (1997). The Future of Integrated Pest Management. University of Minnesota http://ipmworld.umn.edu/chapters/ cuperus.htm [Geo-2-179] de Villiers, Marq (2000). Water: The Fate of Our Most Precious Resource. New York, Mariner Books Dregne, H.E. (1986). Desertification of arid lands. In ElBaz, F. and Hassan, M.H.A. (eds). Physics of Desertification. Dordrecht, Martinus Nijhoff http:// www.ciesin.org/docs/002-193/002-193.html [Geo-2-180] Environment Canada (1996). The State of Canada’s Environment 1996. In Environment Canada (ed.). Conserving Canada’s Natural Legacy. CD-ROM Ottawa, Environment Canada Eswaran, H., Lal, R. and Reich, P.F. (2001). Land degradation: an overview. Paper presented at Responses to Land Degradation: the Second International Conference on Land Degradation and Desertification at Khon Kaen, Thailand, 25-29 January 1999 Fischer, J. (2000). Pesticide Hysteria. Toronto, The Globe and Mail, 29 August 2000 Gold, M.V. (1999). Sustainable Agriculture: Definitions and Terms: Special Reference Briefs Series no. SRB 9902. National Agricultural Library http://warp.nal.usda. gov/afsic/AFSIC_pubs/srb9902.htm [Geo-2-181] H. John Heinz III Center (1999). Designing a Report on the State of the Nation’s Ecosystem: Selected Measurements for Croplands, Forests, and Coasts and Oceans. The H. John Heinz III Center for Science, Economics and the Environment http://www.heinzcenter.org/publications/ Coasts.pdf [Geo-2-182] Huffman, E. (2000). Indicator: soil cover by crops and residue. In McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the Agri- Environmental Indicator Project. A Summary. Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada MacGregor, R.J. and McRae, T. (2000). Driving forces affecting the environmental sustainability of agriculture. In McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the Agri-Environmental Indicator Project. A Summary. Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.) (2000). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the Agri-Environmental Indicator Project. A Summary. Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada NIPMN (2000). National Integrated Pest Management Network: National Server. National IPM Network http:// www.reeusda.gov/nipmn/ [Geo-2-183] NRCS (2000). Summary Report: 1997 National Resources Inventory, Revised December 2000. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service http://www.nhq.nrcs.usda.gov/ NRI/1997/summary_report/original/body.html [Geo-2184] OECD (1996). Environmental Performance Reviews: United States. Paris, Organization for Economic Cooperation and Development OECD (1999). OECD Environmental Data Compendium. Paris, Organization for Economic Cooperation and Development. Padbury, G. and Stushnoff, C. (2000). Indicator: risk of wind erosion. In McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the Agri-Environmental Indicator Project. A Summary. Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada PMRA (2001). About PMRA Health Canada http://www. hc-sc.gc.ca/pmraarla/english/aboutpmra/about-e.html Schmitt, C. J. (1998). Environmental contaminants. In Mac, M.J., Opler, P.A., Puckett Haecker, C.E. and Doran, P.D. (eds). Status and Trends of the Nation’s Biological Resources. Washington DC, US Department of the Interior and US Geological Survey Shelton, I.J., Wall, G.J., Cossette, J-M., Eilers, R., Grant, B., King, D., Padbury, G., Rees, H., Tajek, J. and van Vliet, L. (2000). Indicator: risk of water erosion. In McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the Agri- Environmental Indicator Project. A Summary Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada Smith, C.A.S., Wall, G., Desjardins, R. and Grant, B. (2000). Indicator: Soil Organic Carbon. In McRae, T., Smith, C.A.S. and Gregorich, L.J. (eds.). Environmental Sustainability of Canadian Agriculture: Report of the AgriEnvironmental Indicator Project: A Summary. Ottawa, Agriculture and Agri-Food Canada http://www.agr.ca/ policy/environment/eb/public_html/ebe/aei.html [Geo2-186] Statistics Canada (2000). Human Activity and the Environment 2000. Ottawa, Minister of Industry Tyrchniewicz, A. and Wilson, A. (1994). Sustainable Development for the Great Plains: Policy Analysis. Winnipeg, International Institute for Sustainable Development http://www.iisd.org/pdf/sd_for_gp.pdf [Geo-2-187] UNCCD (2001). United Nations Secretariat of the Convention to Combat Desertification http://www. unccd.int/main.php USDA (1996). Part 407 - Sustainable Agriculture (Subpart A - General). US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service Electronic Directives System http://policy.nrcs.usda.gov/national/ gm/title180/part407/subparta/index.htm [Geo-2-188] USDA (2001a). Water Erosion Vulnerability. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service, Soil Survey Division, World Soil Resources, Washington DC http://www.nhq.nrcs. usda.gov/WSR/mapindx/erosh2o.htm [Geo-2-189] USDA (2001b). Wind Erosion Vulnerability. US Department of Agriculture, Natural Resources Conservation Service, Soil Survey Division, World Soil Resources, Washington DC http://www.nhq.nrcs. usda.gov/WSR/mapindx/eroswind.htm [Geo-2-190] Vaisey, J.S., Weins, T.W. and Wettlaufer, R.J. (1996). The Permanent Cover Program - Is twice enough? Paper presented at Soil and Water Conservation Policies: Successes and Failures, Prague, Czech Republic, 17–20 September 1996 Zinn, Jeffrey (1994). Conservation Reserve Program: Policy Issues for the 1995 Farm Bill. National Library for the Environment, Congressional Research Service Reports http://www.cnie.org/nle/nrgen-21.html [Geo2-191] 87 88 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Terra: Ásia Ocidental A degradação da terra e, em seu ponto extremo, a desertificação continuam sendo as questões ambientais mais significativas na Ásia Ocidental (CAMRE, UNEP e ACSAD, 1996), principalmente em países em que o setor agrícola oferece uma importante contribuição à economia nacional. Há desertos extensos na região, variando de 10% na Síria a aproximadamente 100% em Barein, no Kuwait, no Catar e nos Emirados Árabes Unidos. A desertificação também afetou amplas áreas de pastagens no Iraque, na Jordânia, na Síria e nos países da Península Arábica. Entre as causas, vale citar uma combinação de clima, taxas elevadas de crescimento demográfico e agricultura intensa. A pobreza e políticas governamentais inadequadas agravam o problema. A instabilidade geopolítica dentro e ao redor dos países da Ásia Ocidental persuadiu os governos a adotarem políticas com o objetivo de alcançar a segurança alimentar nacional. Tais políticas têm sido acompanhadas do protecionismo agrícola, da imposição de barreiras comerciais e de subsídios governamentais aos insumos agrícolas. Os subsídios, juntamente com água gratuita ou mais acessível para irrigação, tiveram sérios impactos sobre os recursos de terra e água, além de terem contribuído para a insustentabilidade da agricultura na região (UNESCWA, 1997). Conseqüentemente, a degradação da terra tornou-se generalizada e acelerou-se à medida que mais terras de pastagens foram recuperadas e destinadas ao cultivo (CAMRE, UNEP e ACSAD, 1996). Os gráficos abaixo apresentam a extensão e as causas da degradação por sub-região. Os incêndios florestais e os desmatamentos são duas das principais causas da perda de cobertura vegetal e da erosão do solo. Entre 1985 e 1993, os incêndios florestais destruíram mais de 8 mil hectares de florestas e afetaram mais de 20 mil hectares de florestas costeiras na Síria, resultando em erosão do solo acima de 20 toneladas/ha/ano. Concomitantemente, cerca de 2.440 hectares de terras florestais foram desmatados para fins agrícolas (World Bank e UNDP, 1998). O crescimento populacional e outras mudanças demográficas causaram perdas de terras para fins de urbanização, industrialização e usos não-agrícolas. O desenvolvimento e serviços insuficientes nas áreas rurais da sub-região de Mashreq e do Iêmen resultaram em êxodo rural, o que propagou assentamentos e habitações ilegais nas periferias de grandes centros urbanos à custa de terras agrícolas férteis. Além de incentivar a intensificação da agricultura, as políticas nacionais voltadas para alcançar níveis mais altos de auto-suficiência alimentar também resultaram em um aumento de mais de 100% da área irrigada entre 1972 e 1999, de 2,991 bilhões de hectares para 7,191 bilhões de hectares (FAOSTAT, 2001). O maior aumento ocorreu na Arábia Saudita, de 0,437 milhão de hectares em 1980 para 1,6 milhão de hectares em 1993 (Al-Tukhais, 1999). No entanto, apesar do grande aumento da área de terra irrigada (ver gráfico na página 89), o incremento da produção de alimentos não acompanhou o crescimento populacional. A gestão inadequada e o uso ineficiente da água para irrigação resultaram em salinização, alcalinização, alagamento e esgotamento de nutrientes em amplas áreas da região. A salinização, causa mais importante da degradação em solos irrigados, afetou cerca de 42,5% da área de deserto da Ásia Ocidental (Harahsheh e Tateishi 2000). Aproximadamente 2 milhões de hectares de terras cultivadas na Arábia Saudita e 33,6% das terras cultivadas de Barein estão moderadamente salinizadas (FAOSTAT, 2001). A salinidade e alagamentos afetaram 8,5 milhões de Degradação do solo na Ásia Ocidental: extensão e causas (%) 19,9% Os gráficos à direita apresentam a extensão (percentual de áreas total de terras) e as causas (percental da degração total) relacionadas à região e as duas subregiões em questão. Fonte: dados copilados de Marcoux, 1996 6,5% 6,9% 12,4% 25,4% 14,7% 10,6% 19,3% 11,6% 3,1% leve moderada forte 12,0% Erosão hídrica 45,8% 82,7% Erosão heólica 75,6% Degradação química 36,3% 5,1% Península Arábica Extensão da degradação 11,1% 1,3% 6,6% Mashreq Degradação física Ásia Ocidental TERRA hectares ou 64% do total de terras aráveis no Iraque, enquanto 20% a 30% da terra irrigada foi abandonada devido à salinização (Abul-Gasim e outros, 1998). Mais de 50% das terras irrigadas nas planícies do Eufrates na Síria e no Iraque foram gravemente afetadas pela salinização e por alagamentos (UNESCWA, 1997). 89 Área irrigada (milhão ha): Ásia Ocidental Mashreq Penísula Arábica Pastagens As pastagens ocupam cerca de 50% da área total da Ásia Ocidental. A cobertura vegetal caracteriza-se por baixa tolerância, baixa densidade e cobertura e baixa variabilidade de espécies e produtividade vegetal por unidade de superfície. As secas, o pastoreio excessivo, o extermínio de espécies lenhosas para uso como combustível, a aragem e a gestão inadequada dos recursos hídricos são as principais causas da deterioração das terras de pastagens. Estima-se que cerca de 90% das pastagens estejam degradadas ou vulneráveis à desertificação. Mais de 30% das terras de pastagens da Arábia Saudita estão degradadas (Shorbagy, 1986; Al-Hassan, 1991) e a deterioração das pastagens também foi relatada em vários outros países da Ásia Ocidental (Al-Kuthairi, 1992). A intensidade do pastoreio na maior parte dos países da Ásia Ocidental aumentou em mais de 100% nas quatro últimas décadas, principalmente como conseqüência de alimentação subsidiada dos animais, fornecimento de água e mecanização. A densidade do gado ovino em algumas terras de pastagens é de mais de uma cabeça adulta por hectare – cerca de quatro vezes mais do que a capacidade natural (Le Houerou, 1995). Calcula-se que a capacidade de pastoreio nas terras de pastagens da Cisjordânia tenha excedido 5,7 vezes (Palestinian Authority, 2000). Muitos países da Ásia Ocidental estão formalizando seus planos de ação nacional de combate à desertificação. Um Plano de Ação Regional Estratégico de combate à desertificação na Ásia Ocidental foi estabelecido de acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A legislação entrou em vigor, e regulamentos e leis relativos ao uso da terra e da água tornaram-se mais rígidos. Diversas reservas de pastagens foram estabelecidas na região. Referências: Capítulo 2, terra, Ásia Ocidental Abul-Gasim, S. and Babiker, M. (1998). Iraq’s Food security: the sand dunes fixation project. Desertification Control Bulletin, No. 33, 2–10 Al-Hassan, H.Z. (1991). Deteriorated Rangelands of Northern Saudi Arabia and Measures to Improve. MSc. Thesis, Bahrain, Sciences Graduate Programme, Arabian Gulf University (in Arabic) Al-Kuthairi, A.M. (1992). Forests and Pastoral Activities in Dhofar Mountains: Study of Strategy for their Rehabilitation. MSc. Dissertation, Arabian Gulf University, Bahrain Al-Tukhais, A.S. (1999). Arabian sheald: a model for sustainable agriculture in the Kingdom of Saudi Arabia. The Third Conference on Desertification and Environmental Studies: Beyond the Year 2000. November 30-December 4 1999. Riyadh, King Saud University CAMRE, UNEP and ACSAD (1996). State of Desertification in the Arab Region and the Ways and Means to Deal with It. Damascus, Arab Centre for Studies on Dry Areas and Arid Lands Marcoux, A. (1996). Population Change-Natural Resources-Environment Linkages in the Arab States Region. Population Information Network http://www. un.org/popin/fao/arabstat.htm [Geo-2- 193] FAOSTAT (2001). FAOSTAT Statistical Database. Food and Agriculture Organization http://www.fao.org/ [Geo-2-196] Palestinian National Authority (2000). State of the Environment Palestine. Gaza, Ministry of Environmental Affairs Harahsheh, H. and Tateishi, R. (2000). Environmental GIS Database and Desertification Mapping of West Asia. Paper presented at the Workshop of the Asian Region Thematic Programme Network on Desertification Monitoring and Assessment, Tokyo, 2830 June 2000 Shorbagy, M.A. (1986). Desertification of natural rangelands in the Arab world. Agriculture and Water, 4. Damascus, Arab Centre for Studies on Dry Areas and Arid Lands (in Arabic) Le Houerou, H.N. (1995). Eco-climatic and biogeographic comparison between the rangelands of the iso-climatic Mediterranean arid zone of northern Africa and the Near East. In Omar, A.S., and others (eds.). Range Management in Arid Zones: Proceedings of the Second International Conference on Range Management in the Arabian Gulf. London, Kegan Paul International UNESCWA (1997). Economic and Social Commission for Western Asia: Regional Report. Implementation of Agenda 21: Review of Progress made since the United Nations Conference on Environment and Development, 1992. United Nations Department of Economic and Social Affairs http:// www.un.org/esa/earthsummit/ecwa-cp.htm [Geo-2-194] World Bank and UNDP (1998). State of the Environment in Syria. London, Environmental Resource Management A área irrigada na Ásia Ocidental tem crescido de maneira rápida, nas últimas três décadas, entretanto a produção agrícola não manteve o ritmo em relação ao aumento populacional. Fonte: dados compilados de FAOSTAT, 2001 90 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Terra: as Regiões Polares O ÁRTICO A massa de terra do Ártico é de cerca de 14 milhões de quilômetros quadrados (AMAP, 1997), dos quais aproximadamente 80% pertencem à Federação Russa e ao Canadá, em torno de 16% aos países nórdicos e cerca de 4% aos Estados Unidos (CAFF, 1994). O Ártico consiste em três subsistemas principais: • • • o alto deserto polar no leste do Canadá, que compreende principalmente solos descobertos e rochas com comunidades vegetais esparsas; a tundra, que é uma planície extensa e aberta, com uma cobertura vegetal contínua e baixa; e a floresta-tundra, que é a zona de transição que segue paralela ao sul da selva boreal e consiste em áreas de cobertura florestal contínua intercaladas com áreas abertas similares à tundra (CAFF, 2001). Além de seus recursos vivos, o Ártico contém imensos depósitos de petróleo, gás e minerais. Nas regiões árticas da América do Norte, tem havido um recente aumento na mineração e no desenvolvimento da infra-estrutura associada. Da mesma forma, na Federação Russa – um país que cobre 12,6% da superfície de terra do planeta – uma grande extensão de terra foi gravemente degradada devido a extração mineral, silvicultura, incêndios, poluição do ar ou conversão à agricultura, e a erosão é muito extensa e crescente. Nos últimos anos, aproximadamente 70 milhões de hectares de tundra foram degradados por meio da destruição do solo e da cobertura vegetal, como resultado da prospecção, da exploração mineral, do movimento de veículos, de construções e, em certos locais, do excesso de pastoreio de renas (OECD, 1999). A Federação Russa estabeleceu uma sólida base legislativa e reguladora para responder a essas ameaças. Infelizmente, sua implementação não é garantida, devido à queda da economia russa, principalmente desde 1998. Sem a injeção de apoio financeiro para implementar o regime legislativo e fazer com que seja obedecido, a situação ambiental continuará em declínio (OECD, 1999). Juntamente com uma maior exploração de recursos e com a construção de estradas e de outros itens de infra-estrutura, o aspecto da paisagem do Ártico também está mudando. Na Noruega, por exemplo, a superfície de terras virgens reduziu de 48% em 1900 para 11,8% em 1998. A Noruega está tomando medidas políticas e agora dá maior ênfase à preservação das áreas de flora e fauna silvestres e à prevenção do desenvolvimento desordenado (Nellemann e outros, 2001). O turismo está aumentando no Ártico e já constitui um componente importante das economias do norte, embora ainda esteja em seus primeiros passos no norte da Rússia. Em 2000, mais de 1,5 milhão de pessoas visitaram o Ártico (CAFF, 2001). Existem preocupações, no entanto, de que o turismo esteja promovendo a degradação ambiental, exercendo uma pressão extra sobre a terra, a vida silvestre, a água e outras necessidades básicas, bem como sobre a infra-estrutura viária. A erosão é um problema grave em partes do Ártico. É causada pelo degelo, pela remoção da cobertura do solo e pelo desmatamento. Na Islândia, Ecossitemas do Ártico tundrafloresta taiga O Ártico caracteriza-se por três ecossistemas importantes: o deserto, a tundra e a tundra floresta, que se constitui uma zona de transição. Fonte: CAFF, 2001 América do Norte taiga Eurásia taiga tussock tundracharneca baixo ártico tundrafloresta taiga tundragramínea tundraarbusto tundrameridional tundratípica zona da tundra semideserto deserto polar polar alto ártico tundraartica deserto polar zona do deserto polar TERRA por exemplo, perdeu-se mais da metade da vegetação e da cobertura do solo desde que a ilha foi colonizada pelo homem, principalmente no interior, como conseqüência do desmatamento e do pastoreio excessivo. Os governos dos países árticos tomaram algumas medidas para proteger suas terras. Cerca de 15% da massa de terra do Ártico está protegida, embora aproximadamente 50% da área protegida esteja classificada como deserto ou geleira ártica – a parte menos produtiva da região e a que possui os menores valores de biodiversidade e habitat (CAFF, 2001). ANTÁRTIDA As áreas livres do gelo na Antártida representam menos de 2% da área total de terra do continente. Tais áreas se encontram em boa parte na costa do continente (particularmente na área da Península) e nas ilhas ao sul de 60º. As áreas livres do gelo são sítios biologicamente ativos com acesso relativamente fácil. Portanto, ali também estão concentradas cada vez mais atividades humanas e infra-estrutura. As ameaças à terra antártica surgem dessa atividade humana, e as ameaças enfrentadas pelos mantos de gelo surgem como conseqüência dessa atividade e, o mais importante, da mudança climática global. Os riscos associados aos usos humanos das áreas livres do gelo são associados à possível poluição no local devido a vazamentos de petróleo, depósito de substâncias combustíveis e esgoto, perda do habitat, modificação no terreno, perturbação da vida silvestre devido a operações e à presença humana, além da introdução de espécies exóticas e doenças. Contudo, até o momento, pouco se sabe sobre a importância cumulativa e a longo prazo desses impactos. Atualmente, existem 70 estações de pesquisa na Antártida; metade delas opera durante o ano todo, e quase 50% se encontram na região da Península (COMNAP, 2000b). Poucas estão localizadas em áreas cobertas de gelo. Metade das estações em operação atualmente foi construída antes de 1970. Além dessa atividade científica, o turismo na Antártida também está aumentando. O gelo cobre 98% do continente antártico. O equilíbrio da massa desse manto de gelo da Antártida é motivo de preocupação mundial, particularmente em vista do impacto do degelo sobre o nível do mar. A massa de gelo está aumentando na maior parte da Antártida Oriental, embora as regiões costeiras tendam a estar próximas ao equilíbrio, com certas perdas em torno de algumas das grandes falésias de gelo e correntes de gelo costeiras (Budd, Coutts e Warner, 1998). Portanto, as massas de gelo da Antártida estão aumentando, em vez de diminuir, em âmbito continental (Vaughan e outros, 1999). As falésias de gelo da Península Antártica, porém, continuam a se desintegrar devido ao aquecimento regional. Foi observada a perda de uma área total de 6.300 km2 na falésia de gelo de Larsen entre 1975 e 1998 (Skvarca e outros, 1999), e perderam-se mais 1.714 km2 durante o período de 1998-99. O degelo de icebergs é compatível com o aquecimento global, mas não é uma demonstração disso. Não se espera, contudo, que o degelo das falésias de gelo marginais na Península Antártica tenha efeitos diretos e significativos sobre o nível do mar (IPCC, 1998). Do Protocolo de Madri ao Tratado Antártico sobre a Proteção do Meio Ambiente O Protocolo de Madri ao Tratado Antártico sobre a Proteção do Meio Ambiente entrou em vigor em 1998. A assinatura do protocolo fortaleceu de forma significativa os objetivos ambientais do Tratado Antártico. Exige, entre outras coisas, que todas as atividades sejam planejadas e conduzidas de modo a limitar os impactos negativos sobre o meio ambiente antártico e sobre os ecossistemas dependentes e associados. O Protocolo de Madri também define uma estrutura para áreas protegidas, permitindo uma proteção especial de áreas singulares, importantes ou particularmente vulneráveis. Ainda é cedo demais para se avaliar a eficácia das cláusulas do Protocolo de Madri. No entanto, algumas medidas ambientais adotadas desde a sua assinatura já provaram sua eficiência. Por exemplo, em 1992, os operadores nacionais da Antártida elaboraram diretrizes para a manipulação de combustíveis e para respostas emergenciais. Desde então, tem sido registrado um declínio gradual no número de relatos de incidentes por ano, indicando que essas recomendações estão sendo implementadas e são eficazes (COMNAP, 2000a). 91 92 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Referências: Capítulo 2, terra, as Regiões Polares AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: A State of the Arctic Environment Report. Oslo, Arctic Council Arctic Monitoring and Assessment Programme Budd, W.F., Coutts, B. and Warner, R.C. (1998). Modelling the Antarctic and Northern Hemisphere icesheet changes with global climate through the glacial cycle. Annals of Glaciology. 27, 153-160 CAFF (2001). Arctic Flora and Fauna: Status and Conservation. Helsinki, Arctic Council Programme for the Conservation of Arctic Flora and Fauna CAFF (1994). The State of Protected Areas in the Circumpolar Arctic - 1994, CAFF Habitat Conservation Report No. 1, Trondheim, Directorate for Nature Management COMNAP (2000a). Assessment of Environmental Emergencies Arising from Activities in Antarctica. Working Paper No 16. Tromsø, Norwegian Polar Institute, Committee for Environmental Protection COMNAP (2000b). Stations and Bases. Council of Managers of National Antarctic Programs http:// www.comnap.aq/comnap/comnap.nsf/P/Stations/ [Geo-2-192] IPCC (1998). Rapid Non-Linear Climate Change – Report of a Workshop, Noordwijkerhout, The Netherlands, 31 March - 2 April, 1998. Bracknell, UK Meteorological Office Nellemann, C., Kullerud, L., Vistnes, I., Forbes, B.C., Foresman, T., Kofinas, G.P., Kaltenborn, B.P., Grøn, O., Husby, E., Magomedova, M., Lambrechts, C., Bobiwash, R., Schei, P.J. and Larsen, T.S. (2001). GLOBIO Global Methodology for Mapping Human Impacts on the Biosphere; The Arctic 2050 Scenario and Global Application, UNEP/DEWA Technical Report No 3 Nairobi, United Nations Environment Programme OECD (1999). Environmental Performance Reviews: Russian Federation. Paris, OECD Centre for Cooperation with Non-Members, Paris, 1999 ISBN 92 64 17145 2 Skvarca, P., Rack, W., Rott, H. and Donangelo, T.I.Y. (1999). Climate trend and the retreat and disintegration of ice shelves on the Antarctic Peninsula: An overview. Polar Research 18, 2, 151-157 Vaughan, D.G., Bamber, J.L., Giovinetto, M., Russel, J. and Cooper, A.P.R. (1999). Reassessment of net surface mass balance in Antarctica. Journal of Climate 12, 4, 933-946 TERRA 93 NOSSO MEIO AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO: Habila, região central do Sudão 30 de outubro de 1979 15 de setembro de 1987 21 de novembro de 1994 A região de Habila foi explorada para a agricultura mecanizada sem irrigação artificial pela primeira vez em 1968. A intenção era usar os férteis solos argilosos que não eram adequados para a agricultura tradicional com a finalidade de tratar os graves problemas da região com respeito ao abastecimento de alimentos e eventualmente produzir excedentes para exportação. O governo incentivou investimentos por parte do setor privado, e a terra foi dividida em feddans (cerca de 0,4 hectare), que eram então arrendados a empresas privadas. Os terrenos arrendados originalmente deveriam ser deixados em repouso após quatro anos e então seriam arrendados os terrenos em repouso adjacentes. Os controles do governo tinham o objetivo de assegurar a viabilidade e a produtividade contínuas dos solos argilosos. Até 1979, aproximadamente 147 mil hectares foram arrendados sob os regimes oficiais, e os solos provaram ser adequados para o sorgo. Na década de 1970, no entanto, o Sudão lançou um programa para tornar-se o celeiro do mundo árabe. A produção se expandiu amplamente, a proporção de terras em repouso diminuiu de forma drástica e houve uma expansão para terras “ilegais” não aprovadas. Em 1985, cerca de 45% da agricultura mecanizada localizava-se fora das áreas aprovadas. Os agricultores interessados em obter lucro rapidamente cultivavam a terra à exaustão, abandonavam-na e iam em busca de mais terras. Em meados da década de 1990, os períodos de seca persistente, as guerras internas, os métodos insustentáveis de uso da terra e o conseqüente flagelo da fome assolaram o país. O fracasso da política agrícola está apresentado claramente na imagem de 1994. Restam poucas provas das exuberantes terras de cultivo tão proeminentes em 1979. Imagens: Chuck Larson, USGS/EROS Data Center Compilação: UNEP GRID Sioux Falls