Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015 Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015 PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS: ALTERNATIVA PARA UMA NOVA AGRICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL LAYSE CAROLNA PEREIRA MENDES1*, ERNESTO DA SILVA PIRES2, BEATRIZ REGINA DA SILVA3 , JOSÉ RICARDO XIMENDES DOS REIS4 WELLITON DE LIMA SENA5 1 Graduando em Agronomia, IFPA, Campus Castanhal-PA.Fone:(91)996131159, [email protected] 2 Graduando em Agronomia, IFPA Campus Castanhal-PA. Fone:(91)987610166,[email protected] 3 Graduando em Agronomia, IFPA, Campus Castanhal-PA.Fone:(91)996131159, [email protected] 4 Graduando em Agronomia, IFPA, Campus Castanhal-PA.Fone:(91)91259495, [email protected] 5 Dr. Agroecossistemas da Amazônia; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Campus Castanhal. Fone: (91) 981210349, [email protected] Apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015 15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil RESUMO: Este trabalho refere-se a uma pesquisa realizada no município de São Francisco do Pará, na comunidade de São Benedito, em um estabelecimento rural familiar. Com objetivo de analisar a produção orgânica de hortaliças a partir do enfoque agroecológico. Utilizando como metodologia, a observação, pesquisa descritiva, registro fotográfico e aplicação de questionário. O texto aborda várias estratégias utilizadas pela família para a garantia da manutenção das atividades em seu estabelecimento agrícola, destinado para o consumo interno e venda usando praticas agroecológicas, produzindo alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos, proporcionando segurança alimentar e uma alternativa de agricultura familiar sustentável. PALAVRAS-CHAVE: enfoque agroecológico, estabelecimento rural, alimentos saudáveis. PRODUCTION ORGANIC OF VEGETABLES: ALTERNATIVE FOR A NEW FAMILY AGRICULTURE SUSTAINABLE. ABSTRACT: This work refers to a study conducted in São Francisco do Pará, in the community of St. Benedict, in a rural family property. With objective of analyze the organic production of vegetables from the agroecological approach. Using such methodology, the observation, descriptive, photographic recording, and questionnaire. The text discusses various strategies used by the family to ensure the maintenance of agricultural activities on their property, intended for domestic consumption and sale using agroecological practices, producing healthy food free of pesticides, providing an alternative food security and sustainable family farming. KEY WORLDS: agroecological approach, rural setting, healthy foods. INTRODUÇÃO A agricultura familiar exerce um papel fundamental para a produção de alimentos no Brasil, segundo os dados do SEBRAE (2013) aproximadamente 87% da mandioca, 70% do feijão, 58 % do leite, 50 % das aves, 59% de suínos, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e outros, advém da agricultura com base familiar. A agricultura familiar tem controle sobre seus recursos utilizados na sua propriedade, incluindo terras e animais, construções tudo que faz parte, não tendo o lucro como prioridade e sim renda para melhorar a qualidade de vida, tendo no estabelecimento o local onde a família investe a maior parte da força de trabalho. Tornando o lugar o auto emprego e satisfaz as necessidades da família. É dele que os familiares proporcionam a maior parte ou a totalidade da renda e dos alimentos consumidos, tendo a qualidade o fator que diferenciado. (PLOEG, 2014). A região Amazônica segue o quadro nacional, os produtores familiares são responsáveis por oferecer parte dos alimentos para a região, os agricultores familiares na Amazônia se manifestam de forma bem característica, tendo como base a riqueza dos recursos naturais. Com a introdução de outras culturas, foi ampliada a participação no mercado. Os sistemas de produção baseados na exploração de culturas alimentares de forma extrativista foram adicionados a sistemas mais complexos, possibilitando uma alternativa de renda mais estável ao produtor. (GALVÃO et al., 2006). Agricultura orgânica é caracterizada como uma forma de agricultura que busca atuar em equilíbrio com a natureza, é um sistema de produção agrícola de base agroecológica, onde não há utilização de produtos químicos agrotóxicos, usando basicamente no manejo do solo, compostagem, biofertilizantes, produzindo alimentos mais saudáveis, livres de agrotóxicos, e consequentemente diminuindo os impactos ambientais (SOUZA, 2012; DULLEY, 2003). A lei nacional nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, caracteriza o sistema orgânico de produção agropecuária, todo aquele em que se adotam técnicas especificas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis, respeitando á integridade cultural dos povos tradicionais, com intuito de a sustentabilidade econômica e ecológica, a diminuição da utilização de energia não renovável, utilizando métodos culturais, biológicos e mecânicos (BRASIL, 2003). Com base a essas questões, objetiva-se de analisar a produção orgânica de hortaliças em uma propriedade familiar rural como uma alternativa de sustentabilidade da agricultura familiar a partir do enfoque agroecológico. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma propriedade familiar rural, situada na comunidade de São Benedito, município de São Francisco do Pará. O município localiza-se a 85 km da Capital Belém, possuindo 15. 060 mil habitantes, pertencendo à região bragantina. (IBGE, 2010) A metodologia utilizada para a obtenção de dados realizou-se a pesquisa descritiva visando descrever a realidade e como esta se apresenta, observação participante, registro fotográfico, e a aplicação de um questionário composto por questões semiestruturadas subdivididas em duas partes: a primeira visava abordar as questões econômicas envolvidas no processo de produção, a segunda foi estruturada de forma a permitir o entendimento sobre a dinâmica e custos de produção, retornos sociais (melhoria da qualidade de vida dos produtores) e características ambientais a partir do uso da terra e utilização de agrotóxicos e fertilizantes agrícolas. A família é composta por quatro pessoas, o agricultor com 56 anos, sua esposa de 46 anos e uma filha de 21 anos e outra de 25 anos. A propriedade familiar rural pesquisada mede 25 hectares, onde moram há aproximadamente 28 anos, este estabelecimento foi adquirido através de compra com escritura particular. RESULTADOS E DISCUSSÃO. . O processo produtivo que era desenvolvido na propriedade familiar rural caracterizava por ser forma convencional, utilizando produtos químicos. Há aproximadamente 14 anos a propriedade passou por um processo de transição agroecológica, onde iniciaram a produção orgânica através do incentivo do seu irmão que é engenheiro agrônomo e naquela época era secretario de agricultura do município, e teve apoio da secretaria. Caporal et.al (2000) caracterizam essa transição ou conversão, como uma passagem do método de produção convencional para os métodos de produção mais complexos em relação à conservação e manejo dos recursos naturais, ou melhor, pode se dizer que é um processo social baseado na sustentabilidade, equidade, e consequentemente a qualidade de vida social e na atividade agrária, com isso, a conversão agroecológica é um processo baseado em diversas mudanças, através do tempo, usando novas formas de manejo dos agroecossistemas, incorporando princípios, métodos e tecnologia de bases ecológicas. Os primeiros passos de transição agroecológica usados na propriedade foram à transferência para uma nova área e a substituição do uso de produtos químicos e fertilizantes por produtos naturais como o biofertilizante, compostagem e adubos orgânicos. O sistema de produção é dividido em duas hortas, a primeira com aproximadamente 6.149 m², caracterizada por 46 canteiros sendo 23 medindo 25m x 1m e 23 de 16m x 1m, e a segunda com 9.075m² contendo 118 canteiros medindo 25mx 1,20 m. O espaçamento entre canteiros é de 80 cm. Sendo que na segunda horta o agricultor plantou entre alguns canteiros, banana (Musa spp) e mamão (Carica papaya L.). E nas pontas de algumas plantas que são caracterizadas como repelente, que são pimenta malagueta (Capsicum spp) e manjericão (Ocimum basilicum). Outra iniciativa de produção orgânica desenvolvida na propriedade é o sistema de cultivo diversificado, composto por um viveiro, onde ocorre a produção das mudas. Nas hortas possuem as seguintes espécies: hortaliças são: coentro (Coriandrum sativum L.), alface (Lactuca sativa L.), cebolinha (Allium schoenoprasum L.; Allium fistulosum L.), pepino (Cucumis sativus L.), couve (Brassica oleracea L.), cariru (Tallinum triangulare), salsa (Petroselinum crispum (Mill.)), rabanete (Raphanus sativus L.), beterraba (Beta vulgaris L.), cenoura (Daucus carota L.), agrião (Nasturtium officinale sp). Tomate (Lycopersicon esculentum Mill.), espinafre (Spinacea oleracea L.), maxixe (Cucumis anguria L.), milho verde (Zea mays L.) quiabo (Abelmoschus esculentus (L.)), repolho (Brassica oleracea L.), rúcula (Eruca sativa L.) berinjela (Solanum melongena L.), Chicória (Cichorium endivia L.). Plantas medicinais: manjericão (Ocimum basilicum), capim santo (Elionurus candidus). Plantas perenes: mamão (Carica papaya L.). Todas essas culturas são destinas para o autoconsumo e para venda externa. A diversificação e a rotação de culturas são fundamentais, pois colaboram no controle de pragas, doenças, plantas espontâneas, além de melhoras as características físicas e químicas do solo. A rotação de cultura é realizada com todas as espécies todas as vezes que o ciclo de uma cultura termina. Segundo Souza (2011) a rotação de culturas causa a redução da disponibilidade de alimento e abrigos para vários patógenos e herbívoros, diminuindo também o aparecimento de plantas espontâneas. A adubação é realizada apenas com produtos naturais, o esterco de frango que o agricultor compra a compostagem orgânica que ele próprio produz, feia a partir de restos culturais e esterco de aviário. A compostagem traz muitos benefícios para a agricultura, principalmente para o solo, a matéria orgânica mantém a umidade do solo e melhora as características físicas, químicas, e biológicas, com isso ocorre e diminuição da dependência de insumos externos, e a redução da utilização de adubos minerais e sintéticos, onde a utilização desses causam grandes danos ao solo, como por exemplo, a perda de nutrientes e a erosão. (SALES. 2011). Estando de acordo com Souza et.al (2011) que citam seriam consequências negativas causadas pelo uso de agroquímicos, dentre elas as principais são: compactação do solo, erosão, eliminação, inibição ou redução sensível da flora microbiana do solo, declínio de produtividade pela degradação do solo e perda de matéria orgânica, poluição alimentar e de todo o meio ambiente, surgimento de novas pragas. Para o controle de pragas e doenças é utilizado à calda bordalesa, biofertilizante, pimenta triturada. A utilização da calda bordalesa é permitida e bastante praticada em hortas orgânicas, e tem se mostrado eficiente no controle doenças caudas por fungos como ferrugem, requeima pinta preta, antracnose, manchas foliares, podridões, entre outras, é também é utilizado como repelente contra insetos. (EMBRAPA, 2008) O escoamento da produção é realizado diretamente para os consumidores em Belém em dois pontos comerciais, sendo um em uma feira livre, (Tavares Bastos, Belém-PA ) e o outro, na feira de produtos orgânicos do Pará em que são realizadas duas vezes por semana, todas as quartas-feiras e aos sábados, na praça Brasil e Praça Batista Campos em Belém-PA. A família relata que passar por essa transição foi um processo complicado, pois mudar todas as suas práticas é um processo difícil, mas que essa mudança trouxe vários benefícios, pois produz menos em relação a quando ele produzia de forma convencional, mas que o retorno financeiro é maior, pelo fato de que os produtos orgânicos são bastante valorizados, além de que estão produzindo de forma sustentável. A procura por produtos mais saudáveis, livres de agrotóxicos, para melhorar a qualidade de vida tem aumentado a demanda pelos produtos orgânicos, várias pesquisas têm sido realizadas a respeito disso, o mercado mundial de produtos orgânicos subiu para uma taxa de crescimento anual entorno de 10% a 30%. A venda interna com produtos orgânicos aqui no Brasil em 2010 foi de R$ 350 milhões, sendo superior em 40% que em 2009. (ORGÂNICS BRASIL, 2011). O proprietário é sócio da Associação de Produtos Orgânicos do Pará, que através disso conseguiu a certificação orgânica, pois a propriedade está de acordo com as normas para possuírem a certificação. O objetivo principal da propriedade é produzir alimentos saudáveis, utilizando apenas insumos orgânicos, livres de agrotóxicos, ocasionando a redução dos custos de produção, sem prejudicar o meio ambiente, preservando a biodiversidade. Dentre os principais problemas enfrentados pela família é que a família não possui transporte para realizar escoamento da produção, então eles e outros agricultores fretam um caminhão para poder escoar seus produtos. Com relação às potencialidades identificadas na propriedade, pode se destacar a determinação e foça de vontade da família em aumentar o cultivo, e o agricultor já possui seus pontos de venda fixos, e por se associado da associação de produtos orgânicos do Pará e já possuir certificação orgânica. CONCLUSÕES A produção orgânica trouxe muitos benefícios para a para a família condicionando segurança alimentar e sustentabilidade, neste sentido vale ressaltar que a produção orgânica possa torna-se importante para o estabelecimento agrícola familiar na questão de que além de agregar valores é capaz de gerar valores econômicos. É necessária a criação de uma associação ou cooperativa para obtenção de insumos, como maquinas implementos, como caminhão para o escoamento da produção, com intuito de trazer melhorias para a família. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Agrícola e Pecuário 2011-2012 / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Política Agrícola. – Brasília: Mapa/SPA, 2011. 92 p. CAPORAL, F.R. & COSTABEBER, J. A. Agroecologia e sustentabilidade. Base conceptual para uma nova extensão rural. X World Congresso f Rural Sociology, Rio de Janeiro, 2000 EMBRAPA. Anuário brasileiro de hortaliças 2013. – Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2013. 88 p.: il. ISSN 2178-0897. GALVÃO, E. U. P. et al. Análise da Renda e da mão-de-obra nas unidades agrícolas familiares da comunidade de Nova Colônia, Município de Capitão Poço, Pará. Revista de Ciências Agrárias (Belém), v.46, p.9-297, 2006. IBGE São Francisco do Pará Disponivel em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=150740> Acesso dia 23 de março de 2015 ORGANICS BRASIL. Mercado atual dos alimentos orgânicos. São Paulo 2011. Disponível em: <www.organicsbrasil.org> Acesso em 05 fevereiro de 2014. PLOEG J. D. Van der.: Dez qualidades da Agricultura Familiar ISSN: 1807-491X. Revista Agriculturas: experiências em agroecologia Número Extra. SEBRAECartilha selo da agricultura familiar. Disponível em:<http://www.sebrae.com.br/setor/carne/Cartilha%20Selo%20Agricultura.pdf>. Acesso em 14 de março de 2015. SALES, E. F. Compostagem orgânica: uma tecnologia ao alcance dos agricultores. P. 10. Incaper, Vitória, ES 2011. SOUSA, R. da P.; MICHELOTTI, F.; COSTA, G. Agricultura familiar: história, diversidade e autonomia. In: MEC/SECAD. (Org.). Cadernos pedagógicos do ProJovem campo - saberes da terra (Caderno pedagógico das educandas e educandos - Agricultura Familiar: cultura, identidade, gênero e etnia). 1 ed. Brasília: MEC/SECAD, 2008 SOUZA, J.L & RESENDE, P. Livro: Manual de horticultura orgânica. 2ª edição atualizada e ampliada. P. 20, Viçosa- MG, 2012