ENADE COMENTADO 2007
Enfermagem
Chanceler
Dom Dadeus Grings
Reitor
Joaquim Clotet
Vice-Reitor
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial
Ana Maria Lisboa de Mello
Elaine Turk Faria
Érico João Hammes
Gilberto Keller de Andrade
Helenita Rosa Franco
Jane Rita Caetano da Silveira
Jerônimo Carlos Santos Braga
Jorge Campos da Costa
Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente
José Antônio Poli de Figueiredo
Jurandir Malerba
Lauro Kopper Filho
Luciano Klöckner
Maria Lúcia Tiellet Nunes
Marília Costa Morosini
Marlise Araújo dos Santos
Renato Tetelbom Stein
René Ernaini Gertz
Ruth Maria Chittó Gauer
EDIPUCRS
Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor
Jorge Campos da Costa – Editor-chefe
Beatriz Sebben Ojeda
Andréia da Silva Gustavo
Beatriz Regina Lara dos Santos
Marion Creutzberg
Valéria Lamb Corbellini
(Organizadores)
ENADE COMENTADO 2007
Enfermagem
Porto Alegre
2010
© EDIPUCRS, 2010
CAPA Vinícius de Almeida Xavier
DIAGRAMAÇÃO Gabriela Viale Pereira
REVISÃO Rafael Saraiva
EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS
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Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900
Porto Alegre – RS – Brasil
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e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs
Questões retiradas da prova do ENADE 2007 da área de Enfermagem
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
E56
ENADE comentado 2007 : enfermagem [recurso eletrônico] / organizadores, Beatriz Sebben Ojeda ... [et al.]. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010.
103 p.
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader
Modo de Acesso:
<http://www.pucrs.br/edipucrs/enade/enfermagem2007.pdf>
ISBN 978-85-7430-984-2 (on-line)
1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes. 3. Enfermagem –
Ensino Superior. I. Ojeda, Beatriz Sebben.
CDD 378.81
Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................7
COMPONENTE ESPECÍFICO
QUESTÃO 11 ............................................................................................................10
Beatriz Sebben Ojeda e Olga Rosaria Eidt
QUESTÃO 12 ............................................................................................................14
Karin Viegas e Marion Creutzberg
QUESTÃO 13 ............................................................................................................17
Fátima Rejane Ayres Florentino e Simone Travi Canabarro
QUESTÃO 14 - ANULADA ........................................................................................20
QUESTÃO 15 ............................................................................................................21
Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Valéria Lamb Corbellini
QUESTÃO 16 ............................................................................................................23
Janete de Souza Urbanetto e Karin Viegas
QUESTÃO 17 ............................................................................................................25
Karin Viegas e Karen Ruschel
QUESTÃO 18 ............................................................................................................28
Karen Ruschel e Isabel Cristina Kern Soares
QUESTÃO 19 ............................................................................................................30
Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi Canabarro
QUESTÃO 20 ............................................................................................................32
Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi Canabarro
QUESTÃO 21 ............................................................................................................36
Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi Canabarro
QUESTÃO 22 ............................................................................................................40
Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi Canabarro
QUESTÃO 23 - ANULADA ........................................................................................44
QUESTÃO 24 ............................................................................................................46
Beatriz Regina Lara dos Santos e Olga Rosaria Eidt
QUESTÃO 25 ............................................................................................................49
Karen Ruschel e Fátima Rejane Ayres Florentino
QUESTÃO 26 ............................................................................................................54
Beatriz Sebben Ojeda e Vera Beatriz Delgado
QUESTÃO 27 ............................................................................................................56
Beatriz Regina Lara dos Santos e Vera Beatriz Delgado
QUESTÃO 28 ............................................................................................................59
Karen Ruschel e Beatriz Regina Lara dos Santos
QUESTÃO 29 - ANULADA ........................................................................................62
QUESTÃO 30 ............................................................................................................63
Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Fátima Rejane Ayres Florentino
QUESTÃO 31 ............................................................................................................67
Fátima Rejane Ayres Florentino e Isabel Cristina Kern Soares
QUESTÃO 32 ............................................................................................................69
Andréia da Silva Gustavo e Valéria Lamb Corbellini
QUESTÃO 33 ............................................................................................................73
Karin Viegas e Maria Cristina Lore Schilling
QUESTÃO 34 ............................................................................................................76
Beatriz Sebben Ojeda e Vera Beatriz Delgado
QUESTÃO 35 ............................................................................................................79
Andréia da Silva Gustavo e Maria Cristina Lore Schilling
QUESTÃO 36 - ANULADA ........................................................................................83
QUESTÃO 37 - DISCURSIVA ...................................................................................84
Maria Cristina Lore Schilling e Janete de Souza Urbanetto
QUESTÃO 38 - DISCURSIVA ...................................................................................89
Olga Rosaria Eidt e Marion Creutzberg
QUESTÃO 39 - DISCURSIVA ...................................................................................94
Heloisa Reckziegel Bello, Simone Travi Canabarro e Marisa Reginatto Vieira
QUESTÃO 40 - DISCURSIVA ...................................................................................98
Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Isabel Cristina Kern Soares
LISTA DE CONTRIBUINTES ..................................................................................102
APRESENTAÇÃO
A formação dos(as) profissionais da Saúde, em nível de Graduação, está
amparada pela Lei nº 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases, que fundamenta a
Educação Superior no Brasil, e nas Políticas de Saúde vigentes. Considerando os
desafios de formar profissionais/cidadãos com competências e habilidades para
dar conta da complexa realidade da saúde, nacional e mundial, a criação do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, Lei nº
10.861/2004 propõe parâmetros essenciais para a avaliação da Educação
Superior. O SINAES preconiza uma formação que atenda a princípios de
qualidade e relevância voltados para as necessidades de desenvolvimento do
país. Assim, a avaliação permanente de todos os processos formativos precisa
estar incorporada no cotidiano das instituições de ensino, aproximando-a da
realidade social de cada área.
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE – constituise em uma das etapas de avaliação do SINAES. Seu propósito é avaliar o
desempenho dos estudantes, identificando se as condições de ensino, o
conhecimento, as competências e as habilidades pretendidas e a metodologia
utilizada estão em conformidade com os princípios e orientações das Diretrizes
Curriculares do Curso em avaliação. As Diretrizes Curriculares da Área da Saúde
orientam para a formação de um novo profissional/cidadão, alinhando-a aos
princípios do Sistema Único de Saúde – SUS, para atender às demandas da
saúde, na sociedade contemporânea. Para isso, e também conforme as referidas
diretrizes, é necessária a formação generalista com o desenvolvimento de
competências comuns às profissões, bem como as específicas de cada uma
delas para que a saúde seja atendida de maneira integral. Portanto, a premissa
da interdisciplinaridade como forma de ser, de fazer, de conhecer e de conviver,
precisa estar incorporada na concepção dos profissionais, a qual também está
subjacente na avaliação da qualidade dos cursos nessa área.
O ENADE Comentado, do Curso de Graduação em Enfermagem, da
Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia – FAENFI – tem como
propósito discutir, com a comunidade acadêmica da Faculdade, as questões que
compuseram o ENADE 2007, promovendo e ampliando debates relativos às
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
7
práticas e ao cenário da Saúde no qual se insere a Enfermagem. Ao mesmo
tempo como instrumento de avaliação, oportuniza reflexões acerca do processo
pedagógico desenvolvido ao longo do Curso.
A prova do ENADE/2007 do Curso de Enfermagem é composta por 40
questões assim constituídas: 10 questões de formação geral, 30 questões de
conteúdo específico, sendo 26 com respostas objetivas e 4 questões discursivas.
Também integra a Prova do ENADE um questionário no qual o estudante refere
sua percepção acerca do curso e estrutura do mesmo, no contexto da
Universidade.
Nesta publicação são apresentadas e discutidas as 30 questões
específicas da área da Enfermagem do ENADE 2007. As discussões estão
fundamentadas em publicações e nas políticas de saúde vigentes, devidamente
referenciadas para que o leitor possa ampliar a reflexão acerca das temáticas
abordadas pelas questões. As referências foram inseridas conforme as
orientações de Vancouver, comumente utilizadas na documentação em Saúde.
Ressaltamos que a realização deste e-book só foi possível pelo
envolvimento do corpo docente do Curso de Enfermagem. Agradecemos de
maneira muito especial a toda equipe da FAENFI que assumiu com
responsabilidade e competência a elaboração do presente e-book.
Nosso agradecimento à Prof.ª Dr. Solange Medina Ketzer, Pró-Reitora de
Graduação/PUCRS, extensivo à sua equipe pelo apoio e estímulos permanentes.
Esta publicação eletrônica – ENADE Comentado 2007: Enfermagem –
FAENFI – insere-se na coleção da EDIPUCRS. Almejamos que o referido material
possa ser um instrumento de consulta para estudantes, docentes e profissionais
de saúde, bem como de revisão e reformulação de metodologias de ensino e de
aprendizagem.
Beatriz Sebben Ojeda
Diretora da Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia – FAENFI
8
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
COMPONENTE ESPECÍFICO
QUESTÃO 11
Considere o gráfico, a tabela e as afirmações abaixo:
No período, o percentual da população com acesso a rede geral de
abastecimento de água
I.
melhorou em todas as regiões do país. O acesso da população a esse
serviço, traduz-se na redução da incidência de doenças de transmissão
hídrica e, conseqüentemente, em menor número de óbitos no componente
tardio do CMI, que diminuiu de uma maneira geral em todo o país.
II.
aumentou 7% e 18%, respectivamente, nas regiões Norte e Sudeste. Na
região Sudeste, o CMI passou de 57,7 para 22,2. Os dados sugerem que o
acesso da população a esse serviço é um dos fatores que pode ser
associado à queda do Coeficiente de Mortalidade Infantil.
III. foi semelhante nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, porém a queda da
mortalidade infantil foi mais acentuada na região Nordeste. Os dados
indicam que o acesso da população a esse serviço não interfere na
mortalidade infantil.
IV. foi menor na região Sul e maior nas regiões Norte e Nordeste, comparado
com as outras regiões. Os dados revelam que o CMI está diretamente
relacionado com o acesso da população a esse serviço, porque o
Coeficiente decresceu nas três regiões.
Com relação aos dados apresentados, está correto APENAS o que se afirma em
(A)
IV.
(B)
III e IV.
(C) II.
(D) I e II.
(E)
10
I.
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Gabarito: D
Autoras: Beatriz Sebben Ojeda e Olga Rosaria Eidt
Comentário:
O Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) é um dos mais sensíveis
indicadores de saúde e, talvez o mais utilizado dentre os coeficientes de
mortalidade. A redução da mortalidade infantil, apesar do seu declínio observado
é ainda um grande desafio no País para os gestores, profissionais de saúde e a
sociedade como um todo. A organização da assistência à criança no primeiro ano
de vida requer uma rede de assistência integral, qualificada e humanizada em
benefício da criança e da família brasileira. “A redução média anual da Taxa de
Mortalidade Infantil (TMI) no País foi de 4,8% ao ano, entre 1990 e 2007” 1:9.
A questão 11- ENADE 2007 em pauta relaciona “a população com acesso
à rede geral de abastecimento de água por região do Brasil, no período de 1980,
1991 e 2000, com o Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) por mil nascidos
vivos por região, nos mesmos períodos”.
As afirmativas I e II estão corretas. Ambas afirmam, conforme apresenta o
gráfico, que o acesso a rede geral de abastecimento de água melhorou em todas
as regiões do país. A afirmativa I também aborda, que o acesso da população a
esse serviço se traduz na redução da incidência de doenças de transmissão
hídrica e, consequentemente, em menor número de óbitos no componente tardio
do CMI, o qual diminuiu de uma maneira geral em todo o país.
Segundo do Ministério da Saúde, o componente tardio do CMI, refere-se ao
período pós-neonatal que está relacionado aos óbitos em crianças de 28 dias até
um ano de idade e está fortemente ligado a fatores ambientais – causas externas,
cujas condições socioeconômicas desempenham importante papel. A Agenda de
Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade
Infantil e que orienta para atividades de todos os profissionais que cuidam da
criança, indica que o cuidado integral requer a “responsabilidade de disponibilizar
a atenção necessária em todos os níveis: da promoção à saúde ao nível mais
complexo de assistência, do lócus próprio da atenção à saúde aos demais setores
que têm interface estreita e fundamental com a saúde como moradia, água
tratada [...]”. 2:43
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
11
Também na Afirmativa II, segundo dados da Tabela, a região Sudeste
reduziu o CMI 57,7 para 22,2, sugerindo que o acesso da população a rede geral
de abastecimento de água é um dos fatores que pode ser associado à queda do
CMI. Em relação a esta afirmativa, conforme Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o abastecimento
de água é uma questão essencial para as populações. A ausência de
abastecimento ou o fornecimento inadequado traz grandes riscos à saúde pública,
e daí a necessidade de universalização destes serviços. Embora se identifique a
ampliação do abastecimento de água para a população em nível Nacional,
constata-se que ela se dá de forma desigual, o que compromete a saúde da
população daquelas regiões menos favorecidas3. Nesse sentido, o Ministério da
Saúde destaca que no período 1990 a 2007 projetos intersetoriais foram
estratégias importantes que contribuíram para a redução da TMI1.
As Afirmativas III e IV estão incorretas. A Afirmativa III refere que o
percentual da população com acesso a rede geral de abastecimento de água foi
semelhante nas regiões Centro-Oeste (de 40% em 1980 para 73% em 2000 que
corresponde a um acréscimo de 33%) e Nordeste (de 32% em 1980 para 65% em
2000, correspondendo a um acréscimo de 33%) o que está correto. Também
afirma que a queda da mortalidade infantil foi mais acentuada na região Nordeste
(de 97,1 em 1980 para 45,2 em 2000, correspondendo a 53,4% de redução), do
que na Região Centro-Oeste (de 47,9 em 1980 a 23,3 em 2000, correspondendo
a 51,3% de redução), o que também está correto. Entretanto, a afirmativa que diz:
“os dados indicam que o acesso da população a esse serviço não interfere na
mortalidade infantil” não corresponde ao que informa a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico, que o abastecimento de água é uma questão essencial para
as populações. A ausência de abastecimento ou o fornecimento inadequado traz
grandes riscos à saúde pública3.
Em uma análise mais detalhada observa-se que o CMI no Nordeste
permanece a mais elevada, entre as cinco grandes regiões brasileiras, como já
ocorria anteriormente na década de 80 e 90. Porém, pode-se inferir que o acesso
à rede geral de abastecimento de água foi um fator contributivo ao decréscimo da
mortalidade infantil, pois o percentual de redução desse coeficiente, numa leitura
12
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
retrospectiva, mostra que vem acontecendo gradativamente, como também nas
outras regiões.
A Afirmativa IV aborda que o percentual da população com acesso a rede
geral de abastecimento de água foi menor na região Sul e maior nas regiões
Norte e Nordeste comparado com as outras regiões. Tal afirmativa não está
correta, pois o menor acesso a rede geral de abastecimento de água em nível
Nacional foi a região Norte (de 40% em 1980 a 47% em 2000, correspondendo a
um acréscimo de apenas 7%) e não da Região Sul (de 49% em 1980 a 79% em
2000, correspondendo um acréscimo de 30%). Em relação à segunda parte da
afirmativa IV: “os dados revelam que o CMI está diretamente relacionado com o
acesso da população a esse serviço, porque o Coeficiente decresceu nas três
regiões” também está incorreta, pois o acesso ao abastecimento de água é um
dos indicativos para a redução da MI, mas não o único. Salienta-se que o
abastecimento de água nas três regiões foi desigual (o acréscimo de 30% na
Região Sul; 33% na Região Nordeste; e 7% na Região Norte) e que o percentual
de redução do CMI nas três regiões foi expressivo (55,4% na Região Sul; 53,4%
na Região Nordeste; e 49,3% na Região Norte) o que indica a influência de outros
fatores para a diminuição desse coeficiente, principalmente, considerando a
reduzida ampliação do abastecimento de água ocorrida na Região Norte.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância e Saúde. Departamento
de Ações Programáticas. Manual de Vigilância do óbito Infantil e Fetal.
Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
2.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de Compromissos para a saúde
integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília: Ministério da
Saúde; 2005.
3.
Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística-IBGE. Departamento de População e Indicadores
Sociais. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Rio de Janeiro, 2002.
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/pnsb.pdf
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
13
QUESTÃO 12
O gráfico apresenta a relação da variação do volume do parênquima pulmonar,
segundo a variação da pressão transpulmonar, em dois grupos de pacientes,
conforme descrito na legenda.
Considerando o gráfico e a atual Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, é
correto afirmar que a alteração funcional e a porta de entrada da atenção à saúde
do grupo de idosos são, respectivamente,
(A)
elasticidade pulmonar diminuída e serviços especializados de média
complexidade.
(B)
fragilidade e serviços especializados de alta complexidade.
(C) fibrose pulmonar e atenção básica/Saúde da Família.
(D) atelectasia pulmonar e serviços especializados de alta complexidade.
(E)
complacência pulmonar aumentada e atenção básica/Saúde da Família.
Gabarito: E
Autoras: Karin Viegas e Marion Creutzberg
Comentário:
Os pulmões são os principais órgãos do sistema respiratório e sofrem
mudanças significativas com o envelhecimento. Com a idade, as paredes dos
alvéolos tornam-se mais finas, o número de capilares diminui, os ductos dos
alvéolos tornam-se estocados, causando um alargamento e o rompimento dos
alvéolos. Essas mudanças na estrutura alveolar diminuem a área de superfície de
troca gasosa, embora o número de alvéolos permaneça relativamente o mesmo.
14
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Outra alteração são as cartilagens costais, que ficam enrijecidas e diminuem a
complacência, sendo necessária a utilização da musculatura acessória (músculos
do maxilar e pescoço e intercostais). A musculatura intercostal também se torna
enfraquecida, aumentando o esforço respiratório. O idoso expira de forma
incompleta e o volume residual aumenta. Esse aumento causa diminuição na
capacidade vital. Como apenas uma parte dos pulmões é ventilada, a troca de
gases para a circulação é mal feita, diminuindo a oxigenação do sangue
circulante. Com a idade os quimiorreceptores sofrem mudanças, não reagindo
adequadamente com os níveis de O2 e pH. Desse modo, as pessoas idosas são
mais vulneráveis a doenças que afetam a respiração, como pneumonias e
enfisemas1,2.
Os elementos essenciais para determinar a capacidade pulmonar total
(CPT), são a força muscular, a complacência do parênquima pulmonar e a
complacência da parede torácica. Quando existe fraqueza dos músculos, o
equilíbrio entre a força muscular e a distensão do sistema dá-se abaixo do
volume, reduzindo a pressão de retração elástica máxima. Quando houver maior
resistência elástica do parênquima pulmonar, isto é, diminuição da complacência,
o equilíbrio será atingido antes do volume pulmonar previsto, diminuindo a CPT,
mas com alta pressão de retração elástica máxima2.
Na resolução desta questão o conhecimento acerca de alterações
funcionais que ocorrem no envelhecimento, de antemão, auxiliaria o respondente
a descartar as alternativas B, C e D, pois estas se referem a doenças e/ou sinais
de patologias respiratórias. Assim, quanto à alteração funcional, poderiam ser
consideradas corretas as alternativas A e E. É, portanto, o conhecimento da
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que, num segundo momento, levaria
à definição da resposta correta.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa3 estabelece dois eixos
orientadores para as ações de saúde em todos os níveis de atenção: a) a
promoção da saúde e da integração social; b) o enfrentamento de fragilidades.
A situação descrita na questão 12 refere-se, como dito, a alterações do
envelhecimento que devem ser acompanhadas na Atenção Básica, na
perspectiva da manutenção da independência para a realização das atividades da
vida diária e autonomia. O desafio é, a despeito das alterações e possíveis
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
15
limitações delas decorrentes, que se possa buscar a máxima independência e
autonomia, com qualidade de vida. Esse é o paradigma de saúde proposto pela
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.
A Atenção Básica constitui acesso preferencial dos idosos ao sistema de
saúde e a finalidade desta deve ser a de buscar a maior resolutividade possível
nesse nível de atenção. Ações dirigidas aos idosos individualmente, bem como à
coletividade na comunidade e as atividades de grupo de idosos são recursos
bastante apropriados para atuação com esse grupo etário.
A capacitação das equipes de saúde da família e a implementação do uso
de instrumentos de avaliação para acompanhamento da saúde da pessoa idosa e
a detecção de fragilidades é fundamental. A criação da Caderneta de Saúde da
Pessoa Idosa é um instrumento valioso que pode auxiliar na identificação das
pessoas idosas frágeis ou em risco de fragilização.
Referências
1.
Barreto SSM. Volumes pulmonares. J Pneumol. 2002; 28 Supl: 83-94.
2.
Roach S. Introdução à Enfermagem Gerontológica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2003.
3.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília:
Ministério da Saúde; 2006.
16
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 13
Foi prescrita para uma criança 320 miligramas de Vancomicina® via intravenosa,
de 12/12 horas. Cada frasco-ampola contém 0,5 grama. Quais são os cuidados
de enfermagem que devem ser considerados para garantir a administração
segura dessa droga?
(A)
Reconstituir o medicamento em 5 mL de SF a 0,9%, aspirar 3,2 mL, rediluí-lo
em 50 mL de SG a 5%, infundi-lo a 50 mL/h. Não associá-lo com
aminoglicosídeo.
(B)
Reconstituir o medicamento em 5 mL de água destilada, aspirar 3,2 mL,
rediluí-lo em 80 mL de SF a 0,9%, infundi-lo a 40 mL/h. Associá-lo com antihistamínico.
(C) Reconstituir o medicamento em 9 mL de SF a 0,9%, aspirar 6,4 mL, rediluí-lo
em 50 mL de SF a 0,9%, infundi-lo a 25 mL/h. Associá-lo com penicilina.
(D) Reconstituir o medicamento em 10 mL de água destilada, aspirar 6,4 mL,
rediluí-lo em 100 ml de SG a 5%, infundi-lo a 100 mL/h. Não associá-lo com
aminoglicosídeo.
(E)
Reconstituir o medicamento em 10 mL de água destilada, aspirar 3,2 mL,
rediluí-lo em 100 mL de SG a 5%, infundi-lo a 150 mL/h. Não associá-lo com
Anfotericina-B.
Gabarito: D
Autoras: Fátima Rejane Ayres Florentino e Simone Travi Canabarro
Comentário:
A enfermagem tem a responsabilidade da administração de medicamentos
prescritos pelo médico, estar alerta, conhecer a ação das substâncias, das
dosagens seguras e das possíveis respostas do paciente pediátrico é
imprescindível na prática diária da (o) enfermeira (o).
Entende-se que a administração de medicamentos em crianças é um dos
aspectos mais desafiadores e críticos da enfermagem pediátrica, uma vez que,
sua administração necessita focalizar-se nas considerações de desenvolvimento
relacionadas
à
idade
e
peso,
porque
os
efeitos
farmacocinéticos
e
farmacodinâmicos das drogas são menos previsíveis nas crianças, e em particular
nos recém-nascidos pré-termos e lactentes1. Frente ao exposto considera-se de
suma importância salientar os cuidados de enfermagem antes e após a
administração da Vancomicina® que engloba: o preparo da solução e estabilidade
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
17
da mesma, a sua reconstituição, a sua concentração em miligramas, a dosagem a
ser administrada compatibilidade com outras soluções a sua ação nefrotóxica e
sua administração com outros fármacos aminoglicosídeos, bem como no que se
refere à inspeção do medicamento antes de administrar e rigoroso controle do
gotejo da mesma.
Preparo da solução e estabilidade: adicionar 10 ml de água estéril para
injeção no frasco-ampola. O frasco ampola assim reconstituído fornece uma
solução de 50 mg/ml. Após reconstituição, se obtém a solução de Vancomicina®
500mg/10ml. Nesse caso, para obtermos 320 mg aplica-se a regra de 3, sendo
que em 10ml da solução tem-se 500 mg , logo, em 6,4 ml ter-se-á 320 mg. O
restante da solução pode ser armazenada em geladeira por 14 dias sem perda
significante da potência.
Compatibilidade com soluções intravenosas: é necessária a diluição
posterior dos 6,4 ml com pelo menos 100 ml de diluente (soro glicosado 5% ou
soro fisiológico 0,9%)2. A dose desejada, diluída dessa maneira, é administrada
por infusão intravenosa intermitente por um período de pelo menos 60 minutos,
ou seja, 100 ml/hora ou 100 microgotas por minutos.
Ação nefrotóxica e sua administração com outros aminoglicosídeos: a
administração da Vancomicina® com aminoglicosídeos está contraindicada, pois a
mesma possui ação nefrotóxica, podendo potenciar esse efeito, uma vez que, os
aminoglicosídeos
apresentam
propriedades
nefrotóxicas2.
Exemplos
de
aminoglicosídeos: amicacina (Amicilon®), anfotericina B (Anforicin®), entre outros.
Portanto, faz-se necessário o controle de diurese rigoroso. O volume de diurese
esperado para crianças menores de 1 ano de idade é de 2m/K/h e maiores de 1
ano é de 1 ml/K/h3.
Inspeção do medicamento antes de administrar e controle do gotejo: a
solução parenteral deve ser inspecionada visualmente para a existência de
partículas e descoloração da solução antes da administração, quando o recipiente
permitir.
A administração de Vancomicina® (glicopeptídeo tricíclico) deve ser
exclusivamente endovenosa e lenta, uma vez que, se aplicada em gotejamento
rápido leva a hipotensão e choque. Por esse motivo, não deve ser infundida num
período inferior a 60 minutos2. Sua rediluição não deve ser inferior ao volume de
18
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
100ml. Com isso, conclui-se que cada dose deve ser administrada numa
velocidade de até10 mg/min ou num período de pelo menos 60 minutos. É
contraindicada a via intramuscular por ser irritante para os tecidos, podendo
causar necrose.2
Referências
1.
Bowden VR, Greenberg, CS. Procedimentos de enfermagem pediátrica.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
2.
Ministério da Saúde (Brasil), Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Bulário Eletrônico da ANVISA; [lançado em 17 de maio de 2005;
acesso em 22 de set. de 2009] Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/bularioeletronico/
3.
Florentino FRA, Bergmann MA. Atendimento no trauma pediátrico. In: Estran
NVB. Sala de emergência: emergências clínicas e traumáticas. Porto Alegre:
UFRGS; 2003. p. 143 -165.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
19
QUESTÃO 14
Mário, 40 anos, compareceu ao Pronto Socorro com queixa de cefaléia intensa e
fotofobia. Na avaliação inicial, o enfermeiro mediu a pressão arterial utilizando um
manguito com largura que correspondia a 40% da circunferência de seu braço e
bolsa inflável de comprimento que envolvia 90% do braço. Durante a deflação do
manguito o enfermeiro auscultou o primeiro som (Fase I de Korotkoff) no valor de
138 mmHg na escala do manômetro, porém os sons persistiram até o zero, com
abafamento no valor de 88 mmHg. Considerando as circunstâncias descritas e as
observações realizadas, qual o registro correto relacionado com os valores da
pressão arterial?
(A)
PA = 135/85 mmHg.
(B)
PA = 138/88 mmHg (manguito estreito em relação à circunferência do
braço).
(C) PA = 135/0 mmHg.
(D) PA = 135/85/0 mmHg (manguito estreito em relação à circunferência do
braço).
(E)
20
PA = 138/88/0 mmHg.
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 15
Ana, 55 anos, após herniorrafia inguinal, ficou cerca de 12 horas sem urinar e
começou a apresentar eliminação freqüente de pequena quantidade de urina,
além de bexiga palpável e sensação de desconforto em abdome inferior.
Considerando esse quadro clínico, a enfermeira da unidade cirúrgica prescreve:
I.
Favorecer a micção, permitindo a paciente urinar sentada.
II.
Estimular a micção por meio do barulho, visão da água corrente e irrigação
do períneo com água morna.
III.
Realizar cateterização vesical de alívio.
IV.
Manter uso contínuo de fralda.
No caso de Ana, a prescrição contida no item
(A)
I é contraindicada no 1º pós-operatório.
(B)
II não se aplica a esse quadro clínico.
(C) III deve ser precedida das prescrições contidas nos itens I e II.
(D) III deve ser realizada apenas por prescrição médica.
(E)
IV deve ser precedida da prescrição contida no item I.
Gabarito: C
Autoras: Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Valéria Lamb Corbellini
Comentário:
A questão aborda os cuidados no pós-operatórios de herniorrafia inguinal e
indicação de sondagem vesical de alívio.
As hérnias inguinais são devidas ao enfraquecimento da musculatura
abdominal por malformação congênita, lesão traumática, envelhecimento ou ainda
aumento da pressão intra-abdominal. A escolha do tratamento depende do tipo de
hérnia. A herniorrafia é o tratamento indicado para hérnia inguinal em pacientes
adultos, podendo ser realizada com anestesia geral ou raquidiana. Em casos
simples a cirurgia pode ser laparoscópica.1 Em relação à indicação de sondagem
de alívio a mesma deverá ser realizada, pelo enfermeiro, após as medidas de
estimulo à micção, por meio de técnicas não invasivas, não obterem resultados
efetivos.1,2
As opções apresentadas na questão são:
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
21
I. Favorecer a micção, permitindo a paciente urinar sentada.
Esse item ESTÁ CORRETO. Após a cirurgia, pode haver retenção urinária
por edema ou efeito anestésico. Caso seja necessário favorecer a micção, o
paciente deve ser orientado a urinar sentado, para não pressionar o abdome.1,2
II. Estimular a micção por meio do barulho, visão da água corrente e
irrigação do períneo com água morna.
Esse item ESTÁ CORRETO. Mesmo não ficando claro na questão o motivo
da retenção, normalmente, as intervenções de enfermagem preconizadas para
esta situação envolve o estimulo da diurese antes de proceder a cateterização
vesical.1,2
III. Realizar cateterização vesical de alívio.
Esse item ESTÁ CORRETO. Se os procedimentos não invasivos, descritos
nos itens I e II, não tiverem resultados efetivos, a enfermeira deverá realizar a
cateterização vesical de alívio. Salienta-se que esse procedimento técnico
somente deverá ser realizado, com prescrição médica ou por protocolos
assistenciais previamente definidos pela Instituição.
IV. Manter uso contínuo de fralda.
Esse item NÃO ESTÁ CORRETO, pois não é indicado o uso de fraldas
nessa paciente, por se tratar de uma situação temporária, decorrente do pós-operatório.
Portanto, a resposta C é a correta, porque a realização da cateterização
vesical de alívio deve ser precedida da prescrição de medidas não invasivas que
estimulem a micção.
Referências
1.
Smeltzer SC. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10ª. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
2.
Nettina SM. Prática de enfermagem, 8ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
22
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 16
Considere os fragmentos do discurso de um paciente: "... a caminho do centro
cirúrgico, a maca atravessa corredores gelados, porém o frio dentro de mim não
tem a ver com a temperatura do dia. Entre o apartamento e a mesa de operação
tenho um longo caminho... Luto contra cada instante, tenho que chegar intacto à
mesa. Preciso vencer alguns metros de corredores. Conto a possibilidade de vida
por metros. Não sinto dor, indisposição, náuseas, eu poderia ter caminhado, ir
batendo um papo...".
(Brandão apud Jouclas et al, 1998, p. 46)
Essa narrativa revela a assistência em grande parte dos hospitais no país. Mas,
existem iniciativas no âmbito da assistência humanizada que preconizam:
I.
Práticas mais flexíveis que atendam às necessidades dos pacientes,
possibilitando, por exemplo, que caminhem até o centro cirúrgico.
II.
Valorização da dimensão subjetiva da assistência, como o conforto, o
acolhimento e a escuta empática, possibilitando, por exemplo, várias opções
de transporte.
III.
Priorização do cuidado interativo, da energia criativa, emocional e intuitiva,
envolvendo, por exemplo, a inclusão da família no acompanhamento até a
sala cirúrgica, desconsiderando aspectos técnicos e científicos.
IV.
Articulação do cuidado técnico e científico, constituído pela enfermagem,
com o cuidado ético e relacional efetivo, explicando ao paciente os motivos
da obrigatoriedade desse tipo de transporte.
Considerando a assistência humanizada, está correto APENAS o que se afirma
em
(A)
I e II.
(B)
I e III.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E)
III e IV.
Gabarito: A
Autoras: Janete de Souza Urbanetto e Karin Viegas
Comentário:
A questão acima remete a refletir acerca de atuais temáticas no âmbito da
saúde: a humanização do atendimento, a segurança do paciente e a ação
unilateral das equipes de saúde.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
23
Com base em referenciais focados na técnica e no procedimento, as
equipes de saúde realizaram, por longa data, um cuidado que excluía totalmente
o paciente e sua família da tomada de decisão referente à condução do cuidado e
a terapêutica.
O procedimento cirúrgico é um bom exemplo. O zelo pela assepsia e
segurança acabou por projetar protocolos de preparo pré-operatório regrado por
horários e técnicas. O uso de medicamentos sedativos foi, talvez, o grande
motivador para a obrigatoriedade do transporte do paciente em macas/camas.
Contrapondo a isso, a Política Nacional de Humanização1 implica em
mudança na cultura de atenção aos usuários, estimulando a sua participação e de
sua família como protagonistas no sistema de saúde.
Estudo realizado2 ressalta a importância de mudanças, por levantar
questionamentos a respeito da necessidade de inovação dos conceitos sobre
assistência cirúrgica e implantar uma assistência cirúrgica humanizada, deixando
de buscar as características relacionadas a problemas burocráticos, estruturais e
técnicos, mas sim a uma questão que envolva atitudes, comportamentos, valores
e ética moral e profissional.
Dessa forma, considerando a realização de uma avaliação criteriosa das
condições do paciente, que garantam sua segurança quanto à exposição e queda
ao solo, principalmente, a opção A demonstra essa preocupação com a mudança
de cultura que valoriza a participação do paciente na adequação dos cuidados em
ambiente hospitalar.
Somente a integração das necessidades técnicas, sociais, interesses e
desejos de cada um dos componentes poderão tornar real a humanização da
atenção à saúde das pessoas, nesse caso, oportunizando uma ambientação e
chagada ao bloco cirúrgico de forma mais natural possível.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização: documento
base para Gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2008
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_gestores_trabalhadores
_sus_4ed.pdf.
2.
Bedin E, Ribeiro LBM, Barreto RASS – Humanização da assistência de
enfermagem em centro cirúrgico. Revista Eletrônica de Enfermagem,
2007(1):118–27. Disponível em http://www.fen.ufg.br
24
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 17
Na reunião da Liga de Diabetes, a discussão deste mês foi sobre o caso de
Paulo, de 18 anos. Ele apresenta diabetes mellitus tipo 1 e faz tratamento com o
esquema insulina NPH insulina ultra-rápida pré-prandial. Foi orientado a realizar
automonitorização da glicemia antes de cada refeição e ajustar a dose da insulina
ultra-rápida, conforme o valor da glicemia observado. Em consulta de retorno, os
resultados dos exames e as informações de Paulo indicaram que os objetivos do
tratamento foram alcançados, porém ele se queixou que está "cansado da rigidez
no controle da glicemia e de tantas picadas diárias". Frente ao relato, os alunos
de graduação em enfermagem sugeriram as seguintes intervenções:
I.
Confrontar o resultado da hemoglobina glicada com os resultados da
glicemia pré-prandial a fim de certificar-se da adesão de Paulo ao controle
orientado.
II.
Substituir a automonitorização da glicemia por testes de glicosúria antes das
refeições.
III.
Manter a automonitorização domiciliar das glicemias como uma parte
fundamental no tratamento.
IV.
Analisar, conjuntamente com Paulo, seu esquema de alimentação,
exercícios e medicação, visando a estabelecer uma forma alternativa de
automonitorização domiciliar das glicemias.
Estão corretas APENAS as intervenções
(A)
I e II.
(B)
I e III.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E)
III e IV.
Gabarito: E
Autoras: Karin Viegas e Karen Ruschel
Comentários:
O Diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica em que a
hiperglicemia é um achado comum, causado por uma secreção inadequada de
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
25
insulina, por alterações em sua ação ou por uma combinação de ambos os
mecanismos.1,2
O
DM1
resulta
da
destruição
das
células
beta
pancreáticas,
correspondendo de 5% a 10% do total dos casos e, ocorre frequentemente em
crianças e adolescentes, podendo também ocorrer em adultos. Na maioria dos
casos a forma autoimune é a causa da destruição das células beta pancreáticas.
Os marcadores de autoimunidade são os autoanticorpos (anti-insulina, antidescarboxilase do ácido glutâmico e anti-tirosina-fosfatase). Esses anticorpos
podem estar presentes muito tempo antes do diagnóstico e em até 90% dos
indivíduos quando a hiperglicemia é detectada. O DM1 idiopático caracteriza-se
pela ausência de marcadores de autoimunidade contra células beta e não
associado com haplótipos do sistema antígeno leucocitário humano (HLA). Os
indivíduos com essa forma são a minoria, mas podem desenvolver a cetoacidose
e apresentam graus variados de deficiência de insulina.2
O tratamento do diabetes inclui algumas estratégias modificáveis, tais
como mudança do estilo de vida, controle do peso, aumento da atividade física e
reorganização dos hábitos alimentares. Os pacientes diabéticos mantidos em
condições de controle clínico e metabólico apresentam retardo no aparecimento
e/ou na progressão de complicações crônicas.3,4
A monitorização da glicemia é considerada a base do tratamento da
diabetes. Os consensos recomendam a determinação da glicemia como método
de escolha para avaliar o controle glicêmico, sendo a determinação da glicosúria
recomendada apenas se o outro método não for possível. A automonitorização
facilita a vigilância frequente da glicemia, que pode ser feita pelo próprio doente,
permitindo que o paciente e os profissionais de saúde avaliem diretamente o
efeito da terapêutica, da dieta e da atividade física, fazendo os ajustes
necessários, inclusive da medicação, para alcançar o melhor controle glicêmico
possível.3,5
A insulina é a mais efetiva medicação hipoglicemiante conhecida e pode
reduzir a hemoglobina glicada (Hb) A1c aos níveis de controle desejáveis a partir
de quaisquer níveis de HbA1c iniciais, e é sempre necessária no tratamento do
DM1, devendo ser instituída assim que o diagnóstico for feito. O objetivo do
26
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
tratamento é manter uma glicemia plasmática de jejum abaixo de 110 mg/dl e em
140 mg/dl duas horas pós-prandial.1,4
As recomendações nutricionais para os pacientes diabéticos seguem com
o objetivo de atingir os índices glicêmicos recomendados e evitar a hipoglicemia.
Há evidências de que a quantidade de carboidratos ingeridos em uma refeição é
mais importante do que o seu tipo ou fonte. A contagem dos carboidratos em
cada refeição, flexibilizando o tratamento, reduz os problemas habituais de
irregularidade alimentar, principalmente nos indivíduos mais jovens.1,5
A Hemoglobina Glicada tem importante papel na avaliação do controle do
diabetes, sendo capaz de identificar se o controle glicêmico foi eficaz, ou não,
num período anterior há 60-90 dias. Dos tipos de hemoglobina glicada existentes,
o tipo A1c é o mais facilmente medido e com a menor probabilidade de ser
influenciado pelo que o paciente ingeriu no dia anterior. Recomenda-se fazer o
controle duas vezes ao ano.1,4
Referências
1.
The Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabetes
Mellitus. Report of Expert Committee on the Diagnosis and Classification of
Diabetes Mellitus. Follw-up report on the diagnosis of diabetes mellitus. Diabetes
Care. 2003;26(11):3.160-3.167.
2.
Kuhl C. Insulin secretion and insulin resistance in pregnancy and GDM:
implications for diagnosis and management. Diabetes. 1991;40 Suppl 2:18-24.
3.
Sociedade Brasileira de Diabetes. Tratamento e acompanhamento do
Diabetes Mellitus: diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Rio de Janeiro:
SBD; 2007.
4.
Sociedade Brasileira de Diabetes. Diabetes: consenso. Novo Guideline para
o Diabetes Tipo 2. 2007;14(2):22-23.
5.
Sociedade Brasileira de Diabetes. Atualização brasileira sobre diabetes.
Rio de Janeiro: Diagraphic; 2005. 140 p.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
27
QUESTÃO 18
Sara, 42 anos, foi submetida à craniotomia para clipagem de aneurisma cerebelar
esquerdo. Após a cirurgia, os sinais vitais estavam estáveis e ela se recuperava
bem da anestesia geral. No quarto dia, Sara apresentou um quadro de cefaléia,
confusão e perda de força em mão direita. Seu nível de consciência deteriorou de
forma acentuada e ela foi intubada e encaminhada à unidade de cuidados
intensivos. No momento encontra-se em ventilação mecânica, em jejum, SNG
aberta, sonda vesical e cateter central. Dentre as intervenções de enfermagem,
qual é a indicada para Sara?
(A)
Promover aspiração endotraqueal em horários fixos.
(B)
Manter a cabeceira elevada a 30° e alinhamento mento-esternal.
(C) Fechar SNG, se apresentar desequilíbrio hidroeletrolítico.
(D) Manter decúbito lateral com flexão de quadril superior a 90°.
(E)
Realizar limpeza da incisão cirúrgica com clorexidina.
Gabarito: B
Autoras: Karen Ruschel e Isabel Cristina Kern Soares
Comentário:
A etiologia dos aneurismas é incerta, entretanto, provavelmente é
resultante de uma combinação de fatores degenerativos e congênitos. O
aneurisma é uma consequência da debilidade da parede arterial, formando uma
dilatação de formato sacular e arredondada sobre a parede da artéria.1
A principal complicação decorrente do aneurisma é o sangramento por
ruptura (hemorragia subaracnoide-HSA) ou crescimento suficiente para exercer
uma pressão sobre as estruturas cerebrais. Dos indivíduos que sobrevivem ao
sangramento inicial, 35-40% sangram novamente caso permaneçam sem
tratamento, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 42%. Alguns
fatores contribuem para a ruptura do aneurisma, são eles: tabagismo, hipertensão
arterial, esforço físico e sexo feminino. As chances também aumentam com a
idade.2,3
A clipagem cirúrgica é considerada principalmente quando o aneurisma
está em uma área acessível e tem mais do que 4mm de diâmetro. Depois do
28
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
clampeamento o paciente deve ser mantido em um ambiente de cuidados críticos.
A maior causa de morbimortalidade em pacientes com HSA é o vasoespasmo que
diminui o fluxo sanguíneo cerebral, privando o tecido de oxigênio, em geral ocorre
3 a 12 dias depois de uma HSA. Devemos sempre suspeitar quando um paciente
apresentar queda do nível de consciência e/ou novo déficit focal nos primeiros 15
dias após a HSA.2,4
A terapia dos “três Hs” é o padrão para prevenção e tratamento do
vasoespasmo, associado ao uso da nimodipina (bloqueador do canal de cálcio).
Ela objetiva a expansão hipervolêmica, hemodiluição e hipertensão induzida nos
pacientes pós-operatórios.1,2
O controle da Pressão Intracraniana (PIC) deve ser intensificado. A
cabeceira deve ser mantida elevada sem flexão do pescoço ou flexão do quadril
maior que 900 e sem rotação acentuada da cabeça. Se o paciente estiver em
ventilação mecânica invasiva e a aspiração endotraqueal for necessária, deverá
ser feita com a maior rapidez para que não ocorra dessaturação. O balanço
hídrico deve ser equilibrado, evitando-se a desidratação, bem como a hiperhidratação, o controle da agitação psicomotora com sedativos quando necessário
também é indicado.3-5
Referências
1.
Sutherland GR, Auer RN. Primary intracerebral haemorrhage. J Clin
Neurosci. 2006;13(5):511-517.
2.
Xi G, Keep RF, Hoff JT. Mechanisms of brain injury after intracerebral
haemorrhage. Lancet Neurol 2006; 5(1):53-63.
3.
Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São
Paulo: Atheneu; 2007.
4.
Morton PG, Fontaine DK, Hudak CM, Gallo BM. Cuidados críticos de
enfermagem–uma abordagem holística. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2007.
5.
Cintra EA, Nishide VM, Nunes, WA. Assistência de Enfermagem ao
Paciente Gravemente Enfermo. São Paulo: Atheneu; 2001.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
29
QUESTÃO 19
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher apresenta objetivos,
metas, ações e estratégias para atingir os princípios de humanização e de
qualidade da atenção. Dentre outros, pode-se citar: "a capacitação técnica dos
profissionais de saúde e funcionários dos serviços envolvidos nas ações de saúde
para uso da tecnologia adequada, acolhimento humanizado e práticas educativas
voltadas à usuária e à comunidade" (Brasil, 2004). É relevante para essa
capacitação considerar que:
I.
a redução da morbi-mortalidade pelo câncer de mama requer do enfermeiro
domínio da técnica do exame clínico e conhecimentos para incentivar a
realização do auto-exame pelas mulheres; ação de eficácia cientificamente
comprovada na prevenção primária da doença.
II.
a vulnerabilidade para o câncer de colo de útero pode ser representada pela
falta de conhecimento, portanto, não basta ao enfermeiro incrementar a
oferta de colpocitologia oncótica na rede básica, é preciso sensibilizar e
mobilizar a população feminina para a prática do autocuidado e do sexo
seguro.
III.
a assistência em planejamento familiar demanda fornecimento de
anticoncepcionais e acompanhamento das usuárias, além de promoção de
ações de educação em saúde e aconselhamento sobre concepção e
anticoncepção, visando à escolha livre e informada das opções disponíveis
tanto para os homens quanto para as mulheres.
IV.
a redução da vulnerabilidade aos agravos à saúde sexual e reprodutiva das
adolescentes requer desenvolvimento de ações educativas que abordem a
sexualidade na perspectiva de gênero, classe e diferença social, de modo
que a informação resulte em comportamento adolescente socialmente
desejável.
Está correto APENAS o que se afirma em
(A)
I e II.
(B)
I e IV.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E)
III e IV.
Gabarito: C
Autoras: Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi
Canabarro
30
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Comentário:
As afirmativas II e III estão corretas tendo em vista situações de
vulnerabilidade crescente que a mulher é exposta ao longo do seu ciclo vital,
traduzindo a necessidade de abordagem humanizada e de inclusão no processo
de educação para a saúde. Dados epidemiológicos demonstram a falta da
efetividade das estratégias de ações protetoras da Saúde da Mulher. Na Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher são oferecidos subsídios
norteadores para o desenvolvimento de ações estratégicas, visando capacitar a
equipe técnica (profissionais de saúde) para contribuir na redução da
morbimortalidade por câncer na população feminina e incentivo ao planejamento
familiar, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção
integral à saúde1.
A afirmativa I está incorreta, pois o autoexame de mamas não tem eficácia
cientificamente comprovada na prevenção do câncer de mamas.1,2
A afirmativa IV está incorreta, pois há consideração discriminativa referente
a condição de classe e diferença social, influenciando nas práticas educativas1.
Portanto, a assertiva correta é a C por não incluir as afirmativas I e IV.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à
saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília:
Ministério da Saúde; 2004.82 p.: il.
2.
Junior R.F. et al. Conhecimento e prática do autoexame da mama. Rev.
Assc. Méd. Bras.,v.52, n.5; 2006, p. 337-141.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
31
QUESTÃO 20
Paula, 16 anos, iniciou o atendimento pré-natal na Unidade Básica de Saúde
(UBS) após teste de gravidez positivo. Depois de algum tempo, a agente
comunitária, responsável pela área em que se situa a residência de Paula,
procurou a enfermeira da UBS dizendo que a adolescente "não havia realizado
nenhum dos exames solicitados; tinha tentado interromper a gestação e, apesar
de não estar passando bem, não procurou o hospital por medo de ser presa." A
enfermeira, então, decidiu realizar visita domiciliar, encontrando a gestante
descorada, sem perdas vaginais, com epistaxe e sangramento gengival, ambos
de moderada intensidade. Para a assistência à adolescente, a enfermeira
corretamente suspeita de
(A)
ameaça de abortamento, o que requer guia da UBS para o encaminhamento
de Paula a ambulatório médico especializado de referência na área da
saúde da mulher.
(B)
infecção polimicrobiana associada a abortamento infectado, o que requer
utilização do sistema regional de urgência e emergência para o
encaminhamento de Paula a hospital de média complexidade.
(C) processo inflamatório decorrente de abortamento completo, o que requer o
acompanhamento de Paula pela UBS e pelo serviço de referência para
educação em saúde de adolescentes.
(D) processo infeccioso decorrente de abortamento incompleto e inevitável, o
que requer guia da UBS para o encaminhamento de Paula a hospital de
referência para procedimentos de baixa complexidade.
(E)
distúrbio de coagulação associado a abortamento retido, o que requer
utilização do sistema regional de urgência e emergência para o
encaminhamento de Paula a hospital de média complexidade.
Gabarito: E
Autoras: Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi
Canabarro
Comentário:
A assertiva A está incorreta, pois mediante a sintomatologia apresentada
por Paula o quadro não é de ameaça de abortamento. Se fosse o caso, não
necessitaria de internação hospitalar, mas sim de atendimento ambulatorial
especializado e repouso domiciliar.
32
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
A assertiva B está incorreta, pois os sintomas manifestados por Paula não
condizem com abortamento infectado, pois, nesse caso, as manifestações
clínicas mais frequentes seriam: elevação da temperatura, sangramento genital
com odor fétido acompanhado de dores abdominais ou eliminação de pus através
do colo uterino. Se fosse o caso, necessitaria encaminhamento para serviço de
média complexidade.
A assertiva C está incorreta, pois os sintomas manifestados por Paula não
condizem com o quadro de abortamento completo, visto que Paula nega perdas
vaginais; se fosse o caso seria encaminhada para serviço de média
complexidade.
A assertiva D está incorreta, pois Paula nega perdas vaginais o que
caracterizaria
o
abortamento
em
curso.
No
caso
de
abortamento
incompleto/inevitável, Paula necessitaria de atendimento em serviço de média
complexidade.
Comentário referente a assertiva correta
Os sintomas observados pela enfermeira durante a visita domiciliar estão
descritos na literatura da área da saúde, como sugestivos de complicações de
abortamento retido ou abortamento infectado/séptico (provocado). Os mesmos
devem ser atendidos em ambiente hospitalar em caráter de emergência.
ABORTAMENTO RETIDO
Em geral, o abortamento retido cursa com regressão dos sintomas e sinais
da gestação, o colo uterino encontra-se fechado e não há perda sanguínea. O
exame de ultrassom revela ausência de sinais de vitalidade ou a presença de
saco gestacional sem embrião (ovo anembrionado). Pode ocorrer o abortamento
retido sem os sinais de ameaça. Pode ser tratado utilizando-se o misoprostol ou,
quando o tamanho uterino corresponder à gestação com menos de 12 semanas,
pode-se empregar a técnica de aspiração manual intrauterina (AMIU).1
ABORTAMENTO INFECTADO
Com muita frequência, está associado a manipulações da cavidade uterina
pelo uso de técnicas inadequadas e inseguras. Essas infecções são
polimicrobianas e provocadas, geralmente, por bactérias da flora vaginal. São
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
33
casos graves e devem ser tratados, independentemente da vitalidade do feto. As
manifestações
clínicas
mais
frequentes
são:
elevação
da
temperatura,
sangramento genital com odor fétido acompanhado de dores abdominais ou
eliminação de pus através do colo uterino. Na manipulação dos órgãos pélvicos,
pelo toque vaginal, a mulher pode referir bastante dor, e deve-se sempre pensar
na possibilidade de perfuração uterina. Os seguintes exames podem ser
necessários para melhor avaliação da mulher, bem como para seu seguimento:
hemograma com contagem de plaquetas; urina tipoI; coagulograma; hemocultura;
cultura da secreção vaginal e do material endometrial,também para anaeróbios;
raios-x do abdome; ultrassonografia pélvica ou de abdometotal; e tomografia,
principalmente para definir coleções intracavitárias. No tratamento, é fundamental
o restabelecimento das condições vitais com soluções parenterais ou com
sangue,
principalmente
se
a
hemoglobina
for
inferior
a
8g%.
Iniciar
antibioticoterapia, junto com as medidas de suporte, dando preferência aos
quimioterápicos de largo espectro. Pode ser utilizado um anaerobicida
(metronidazol 500mg-1g, IV, a cada 6 horas, por 7-10 dias, ou clindamicina 600900mg, IV, a cada 6-8 horas, por 7-10 dias), associado com um aminoglicosídeo
(gentamicina 1,5mg/Kg, dose IV ou IM, a cada 8 horas, por 7-10 dias, ou
amicacina 15mg/Kg/dia, IV ou IM, a cada 6-8 horas, por 7-10 dias). O
esvaziamento uterino, naqueles úteros com tamanho compatível com gestação de
até 12 semanas, deve ser realizado, preferencialmente, por aspiração manual
intrauterina (AMIU), por apresentar menores taxas de complicações, reduzida
necessidade de dilatação cervical e promover a aspiração do material infectado.
Na realização desse procedimento, atentar para o fato de que a perda do vácuo
pode significar perfuração uterina prévia. Na impossibilidade do uso da AMIU,
pode-se empregar a curetagem uterina; em ambas, o esvaziamento uterino deve
ser feito sob infusão de ocitocina. Nos casos mais graves, acompanhados de
peritonite e que demoram a dar resposta satisfatória, deve-se proceder a
laparotomia exploradora e, se necessário, realizar retirada de órgãos pélvicos. A
persistência de febre após os cuidados iniciais pode traduzir abscessos pélvicos
ou tromboflebite. Nesse caso, indica-se a utilização da heparina.1
34
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
ABORTAMENTO COMPLETO
Geralmente, ocorre em gestações com menos de oito semanas. A perda
sanguínea e as dores diminuem ou cessam após a expulsão do material ovular. O
colo uterino (orifício interno) pode estar aberto e o tamanho uterino mostra-se
menor que o esperado para a idade gestacional. No exame de ultrassom,
encontra-se cavidade uterina vazia ou com imagens sugestivas de coágulos. A
conduta, nesse caso, é de observação, com atenção ao sangramento e/ou à
infecção uterina. Quando persiste o sangramento, ou a mulher deseja interromper
a perda sanguínea, deve ser realizada aspiração manual intrauterina (AMIU) e, na
falta dessa, a curetagem uterina.
ABORTAMENTO INEVITÁVEL/INCOMPLETO
O sangramento é maior que na ameaça de abortamento, que diminui com a
saída de coágulos ou de restos ovulares, as dores costumam ser de maior
intensidade que na ameaça e o orifício cervical interno encontra-se aberto. O
exame de ultrassom confirma a hipótese diagnóstica, embora não seja
imprescindível.
Em gestações com menos de 12 semanas, pelo tamanho uterino, indica-se
a AMIU, por ser mais segura e permitir o esvaziamento mais rápido. Quando não
for possível empregar essa técnica, realiza-se a curetagem uterina. Em úteros
compatíveis com gestação superior a 12 semanas, emprega-se o misoprostol na
dose de 200mcg de 12 em 12 horas, via vaginal, em ciclos de 48 horas de
tratamento, com três a cinco dias de intervalo, podendo ser associado à indução
com ocitocina. Após a expulsão, estando o útero compatível com gestação com
menos de 12 semanas, faz-se a AMIU ou realiza-se a curetagem uterina.
Também é importante avaliar a perda sanguínea e, se extremamente necessário,
far-se-á transfusão sanguínea.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher.
Atenção Humanizada ao Abortamento: norma técnica/Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde; 2005.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
35
QUESTÃO 21
Joana, terceira filha de mãe fumante crônica, nasceu de parto cesariana, com
idade gestacional de 36 semanas, pesando 1800 gramas e com insuficiência
respiratória moderada. Segundo a Norma de Atenção Humanizada do RecémNascido (RN) de baixo peso: Método Mãe-Canguru (Portaria 693/2002), qual é a
conduta correta da enfermeira no seu plano de assistência?
(A)
Garantir a aplicação do método, após decisão consensual entre mãe,
familiares e profissionais de saúde; e capacitar a família para reconhecer
situações de risco do RN, nos primeiros 15 dias.
(B)
Ensinar à mãe e à família os cuidados com o RN e assegurar à puérpera
visita irrestrita no berçário; iniciar a segunda etapa do programa, caso a
criança atinja ganho ponderal de 10 gramas/dia.
(C) Incentivar contato pele a pele entre a mãe e a criança, imediatamente após o
parto, orientando a colocação do RN sobre o tórax da mãe para incentivar o
aleitamento materno e estreitar o vínculo afetivo.
(D) Orientar a mãe e a família sobre as condições de saúde do RN, estimular
livre e precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal e propiciar o contato tátil
sempre que possível, acompanhado pela equipe nos primeiros cinco dias.
(E)
Iniciar as medidas para estímulo à amamentação, os cuidados com as
mamas, a ordenha manual e a armanezagem e administração do leite ao
RN.
Gabarito: D
Autoras: Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi
Canabarro
Comentário:
A assertiva correta é a letra D, pois nela constam de forma adequada
orientações pertinentes que serão dadas à família durante o período de
adapatção a uma nova condição.
O "Método Canguru" é um tipo de assistência neonatal que implica o
contato pele a pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de baixo peso, de
forma crescente e pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente,
permitindo, dessa forma, uma maior participação dos pais no cuidado ao seu
recém-nascido. A posição canguru consiste em manter o recém-nascido de baixo
peso, ligeiramente vestido, em decúbito prono, na posição vertical, contra o peito
do adulto. Só serão considerados como "Método Canguru" aquelas unidades que
36
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
permitam o contato precoce, realizado de maneira orientada, por livre escolha da
família, de forma crescente, segura e acompanhado de suporte assistencial por
uma equipe de saúde adequadamente treinada.1
Considerando a enfermeira como membro da equipe de saúde que
participa da implementação do cuidado ao recém-nascido de baixo peso, em uma
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), no Método Canguru seu plano de
assistência
deve
atender
etapas
que
estão
descritas
em:
http://dtr2001.saude.gov.br/PORTARIA.
Na primeira etapa do Método Canguru, além da assertiva correta
contextualizada na questão 21, são cuidados especiais a serem seguidos:
Nessa etapa, deverão ser iniciadas as medidas para estímulo à
amamentação. Dessa forma, devem ser ensinados os cuidados com as mamas, a
ordenha manual e a respectiva armazenagem do leite. Deve ser implantada a
coparticipação da mãe no estímulo à sucção e na administração do leite
ordenhado, além dos adequados cuidados de higienização.
Nas situações que as condições clínicas da criança permitirem, deverá ser
iniciado o contato pele a pele direto, entre mãe e criança, progredindo até a
colocação do recém-nascido sobre o tórax da mãe ou do pai.
Na equipe multiprofissional que assiste o recém-nascido observa-se a
recomendação de cobertura de assistência do enfermeiro nas 24 horas.
Salienta-se que a e segunda etapa do Método Canguru será em enfermaria
conjunta e a terceira etapa prevê o acompanhamento ambulatorial.
No Manual de Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso:
Método Canguru, revisado em 2009, destaca-se o compromisso das equipes de
saúde na notificação de nascimento de bebês de baixo peso para a rede básica
de saúde e ESF, assim como promover encontros que permitam ampliar a rede
de apoio ao bebê e sua família2 o que representa um avanço na humanização da
assistência.
A assertiva A está incorreta, pois conforme descrito na Portaria 693/00
são necessários os primeiros cinco dias após o parto para prestar todos esses
ensinamentos à mãe e à família. Portanto, deve ser assegurado à puérpera a
permanência na unidade hospitalar, pelo menos durante esse período,
propiciando-a todo o suporte assistencial necessário.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
37
A assertiva B está incorreta quando relaciona o início da segunda etapa
do método ao ganho ponderal de 10g/dia; na Portaria, entre os critérios para a
implantação dessa etapa, a criança deve ter tido um ganho de peso médio de
15g/dia.
A assertiva C está incorreta, pois a implantação do Método deve ser de
forma crescente, respeitando as condições clínicas de um recém-nascido de
baixo peso; no caso do filho de Joana, além do baixo peso e idade gestacional
precoce ainda apresenta insuficiência respiratória, necessitando, portanto, de
assistência imediata (logo após o parto). As etapas de implantação terão início tão
logo o quadro clínico seja estável.
A assertiva E está incorreta, pois considerando o quadro clínico descrito
acima, a enfermeira corretamente deve priorizar no seu plano de assistência:
orientar a mãe e a família sobre condições de saúde do RN, estimular livre e
precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal e propiciar o contato tátil sempre
que possível, acompanhado pela equipe nos primeiros cinco dias. No entanto, o
início das medidas de estimulação, amamentação e demais cuidados, visando a
oferta de leite materno ao RN, representam igual importância sendo inclusive
descritas na 1ª Etapa do Método1.
OBSERVAÇÃO:
NO TEXTO ORIGINAL DA PROVA, na alternativa E a palavra
armazenagem está ortograficamente incorreta: armanezagem.
Na Portaria n°693 Artigo 1º, refere-se ao “Método Canguru” e não como
consta na questão 21 “Mãe-Canguru”.
A portaria encontrada que normatiza e orienta a implantação do Método
Canguru é a de nº693 de 5 de julho de 2000, e não de 2002.
Referências
1.
Portaria nº 693 de 5 de julho de 2000. Dispõe sobre a norma para a
implantação do Método Canguru, destinado a promover a atenção
humanizada ao recém-nascido de baixo peso. Diário Oficial da União, 5 de
julho de 2000.
2.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Área de Saúde
da Criança. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: Método
Canguru/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Área Técnica da
Saúde da Criança. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 238 p. (Série A. Normas e
Manuais Técnicos; n. 145)
38
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Instruções: As questões de números 22 e 23 contêm duas afirmações.
Assinale, no Cartão-Resposta, a alternativa correta de acordo
com a seguinte chave:
(A)
as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.
(B)
as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
(C) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda afirmação é falsa.
(D) a primeira afirmação é falsa e a segunda afirmação é verdadeira.
(E)
as duas afirmações são falsas.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
39
QUESTÃO 22
A enfermeira Tulipa orienta os auxiliares de enfermagem que prestam assistência
às gestantes de alto risco a verificar a pressão sangüínea braquial em posição
sentada, considerando que a pressão é mais baixa quando a gestante está
deitada
PORQUE
na posição supina ocorre aumento do débito cardíaco, do fluxo sangüíneo úteroplacentário, do fluxo sangüíneo renal e da excreção de água e sódio pela urina.
Gabarito: C
Autoras: Heloisa Reckziegel Bello, Marisa Reginatto Vieira e Simone Travi
Canabarro
Comentário:
A primeira afirmação está correta porque a tomada da pressão arterial
(PA) deve ser sempre na mesma posição, sentada ou decúbito lateral esquerdo
(DLE) e nunca em posição supina (deitada de costas).
Considera-se também que devido às alterações na medida da pressão
arterial em diferentes posições, atualmente recomenda-se que a medida da
pressão arterial em gestantes seja feita na posição sentada. A determinação da
pressão diastólica deverá ser considerada na fase V de Korotkoff. Eventualmente,
quando os batimentos arteriais permanecerem audíveis até o nível zero, deve-se
utilizar a fase IV para registro da pressão arterial diastólica.1
Quando a PA é verificada em gestantes, e torna-se necessária a medida na
posição deitada, deve-se utilizar o decúbito lateral esquerdo, evitando a
compressão dos grandes vasos abdominais, o que pode levar a desconforto e
alterações dos valores.
Os fisiologistas consideram que a PA de repouso equivale à pressão basal,
e deve ser obtida após um período de suspensão de estímulos físicos,
metabólicos, mentais e emocionais .
Um repouso de cinco minutos na posição de medida é recomendado, além
de orientar para não fumar, comer, e até mesmo falar.2
40
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
A segunda afirmativa está incorreta. Correto seria o oposto do afirmado,
ou seja, na posição supina acontece a diminuição do débito cardíaco, do fluxo
sanguíneo útero-placentário, do fluxo sanguíneo renal e da excreção de água e
sódio pela urina
Pressão arterial = a pressão que o sangue exerce dentro das artérias. Há
cinco fatores principais que normalmente conservam a pressão:
1.
A força de contração do coração
2.
A resistência periférica
3.
Volume do sangue circulante
4.
Viscosidade
5.
Elasticidade da parede dos vasos
A pressão de um indivíduo varia de hora em hora e de dia para dia, sendo
geralmente mais baixa durante o sono. Sofre geralmente elevações durante
exercícios e emoções.
A pressão arterial é mais baixa quando o indivíduo está deitado e mais alta
quando o indivíduo está sentado ou de pé.3
Débito cardíaco= quantidade de sangue que cada lado do coração
bombeia por minuto. O débito cardíaco se altera com a atividade4.
A medida da pressão arterial durante a gravidez deve ser feita em
condições de repouso, com a paciente na posição sentada ou em decúbito lateral
esquerdo, evitando assim, a compressão aortocava pelo útero aumentado5.
A compressão aortocava reduz o retorno venoso para o ventrículo direito,
reduzindo o débito cardíaco. Essa queda deve-se ao fato de estudos terem sido
realizados com gestantes em decúbito dorsal horizontal. Os autores ainda relatam
que estudos realizados com grávidas em decúbito lateral mostraram que tal
queda não ocorre.
O débito cardíaco é expresso pela fórmula DC= frequência cardíaca X
volume sistólico. O incremento do débito cardíaco na gestação ocorre, tanto pelo
aumento da frequência cardíaca como do volume sistólico. O volume sistólico
está aumentado pelo maior retorno venoso para o coração, que é ocasionado
pela elevação da volemia na gravidez. A frequência cardíaca sofre um acréscimo
na ordem de 10-16 batimentos por minuto e pode estar relacionada ao incremento
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
41
da força motriz condicionada pelo efeito inotrópico positivo dos estrógenos sobre
a fibra muscular cardíaca6.
O sistema cardiovascular se caracteriza na gravidez pela síndrome
hipercinética, com alterações expressivas, principalmente no débito cardíaco. Os
principais parâmetros a serem avaliados são:
a) O débito cardíaco começa a aumentar no primeiro trimestre, atingindo
sua sobrecarga em torno da 30ª a 32ª semana. Seu aumento se destina a garantir
um incremento do fluxo uteroplacentário. Pode estar relacionado com o aumento
do consumo de oxigênio e também a queda da resistência periférica. O volume
eritrocitário também aumenta. Como o aumento da volemia é superior ao seu
incremento, ocorre a hemodiluição, com a queda de hemoglobina no hematócrito.
Portanto, a gravidez impõe sobrecarga crescente e inexorável para o sistema
cardiorrespiratório materno cujo conhecimento é essencial na assistência à
gestante.
b) A pressão arterial sistêmica é produto do débito cardíaco pela
resistência periférica. Na gestante, embora ocorra o aumento do débito cardíaco,
determinado pelo incremento da volemia, a pressão arterial apresenta queda
significativa, principalmente no segundo trimestre. Na gravidez normal, o sistema
renine-angiotensina-aldosterona está ativado e mesmo com o aumento do débito
cardíaco e da angiotensina II, há surpreendente queda da resistência vascular
periférica. Esse fato ocorre em função, tanto da instalação do leito placentário,
quanto da ação da progesterona e de prostaglandinas vasodilatadoras.
Decorrente desse fato é frequente o encontro de níveis pressóricos baixos em
gestantes. Essa situação se reverte com o simples decúbito lateral6.
Modificações do Sistema Urinário no período gestacional
Anatômicas= desde o início da gestação, o aumento do corpo uterino
antevertido determina compressão dos ureteres ao nível do trígono vesical e
maior irritabilidade do detrussor, causando polaciúria. Com o progresso da
gestação, o útero atinge a cavidade abdominal, passando a comprimir os ureteres
ao nível da linha inominada, resultando em dilatação dos cálices, bacinetes e
ureteres. O lado direito é mais afetado devido à dextro-rotação do útero gravídico.
42
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Funcionais = O aumento do fluxo plasmático renal aumenta a taxa de
filtração glomerular, determinando clearences maiores em relação a mulher não
gestante. Esse fato associado a hemodiluição, determina diminuição nas taxas de
ureia, ácido úrico e creatinina. Durante a gestação normal ocorre uma retenção de
sódio. Entre os fatores que auxiliam na retenção estão a aldosterona, o hormônio
placentário, a prolactina, o cortisol e a postura ortostática e dorsal. Os fatores
excretores do sódio são a progesterona, o aumento da filtração glomerular, o
hormônio antidiurético e o decúbito lateral (principalmente o esquerdo). Essa
posição facilita o retorno venoso, aumenta o fluxo renal, revertendo quadros de
edema, além de melhorar o fluxo útero-placentário.6
Portanto, considerando a revisão da literatura explanada acima, a
afirmativa correta seria: na posição supina acontece a diminuição do débito
cardíaco, do fluxo sanguíneo útero-placentário, do fluxo sanguíneo renal e da
excreção de água e sódio pela urina. E essa posição deve ser evitada durante o
período gestacional, inclusive para verificação da pressão arterial.
Referências
1.
V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2007; 89(3):
e24-e79.
2.
Araujo T L de, Arcuri, EAM. Influência de fatores anátomo-fisiológicos na
medida indireta da pressão arterial: identificação do conhecimento dos
enfermeiros. Rev Latino Am Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 6, n. 4, outubro 1998,
p. 21-29.
3.
Veiga DA, Crossetti, MGO. Manual de técnicas de enfermagem. Porto
Alegre: DC Luzzatto; 1991 p. 52.
4.
Macey,R.I. Fisiologia Humana. São Paulo: Edgard Blucher; 1979.
5.
Freitas,F. et al. Rotinas em Obstetrícia. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993.
p. 145-146.
6.
Zugaib M e Sankovski M. O Pré-Natal. São Paulo: Atheneu; 1994. p. 55-59
e p. 563.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
43
QUESTÃO 23
Lucas, quatro anos, foi admitido no Pronto Socorro Pediátrico apresentando
freqüência respiratória de 55 incursões por minuto, temperatura de 38,8 °C, tosse
intermitente e queixa de dor torácica à direita agravada pela inspiração profunda e
que irradia para o abdome. Dentre os cuidados, a enfermeira colocou a criança
em decúbito lateral direito e instalou uma tenda com oxigênio fria
PORQUE
a imobilização do tórax afetado reduz o atrito pleural, minimizando o desconforto,
e a umidificação hidrata as vias aéreas, criando uma atmosfera que impede a
redução de temperatura.
44
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Instruções: Considere o caso para responder às questões de números 24 e
25.
Alice tem 28 anos e chegou ao Pronto Socorro com seu filho Mateus de um ano e
três meses, com história de duas internações hospitalares por pneumonia. A
criança freqüenta uma creche municipal e há dois dias apresenta diarréia, febre
intermitente, bradipnéia, vômito e perda de peso. Foi encaminhada pela Unidade
Básica de Saúde com tratamento do Plano C para desidratação, já tendo recebido
uma dose de antitérmico e recebendo soro de re-hidratação oral 15 mL/kg/hora
por sonda nasogástrica. Após alguns exames clínicos e laboratoriais, Alice foi
informada de que Mateus está com tuberculose pulmonar. Ao ser esclarecida de
que o diagnóstico havia sido confirmado pela identificação do Bacilo de Kock no
lavado gástrico, Alice mostrou-se convencida de que Mateus contraiu tuberculose
há uma semana, através do leite materno de uma conhecida que o amamentou
uma única vez. Alice foi orientada sobre a fisiopatologia, o tratamento e a
prevenção da doença de Mateus.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
45
QUESTÃO 24
Considerando o pensamento do educador Paulo Freire, essa ação educativa teve
qual abordagem e objetivo?
(A)
Biologicista, com informações a respeito do modo de transmissão da doença
para corrigir a convicção de Alice em relação ao meio pelo qual Mateus foi
infectado.
(B)
Dialógica, com a transformação dos saberes existentes, ajudando Alice a
compreender por si mesma o modo de transmissão da tuberculose.
(C) Higienista, com a instituição de medidas de precaução para interromper a
cadeia de transmissão da doença na família e na comunidade.
(D) Construtivista, com a demonstração à Alice de seu desconhecimento e a
este atribuindo como uma das causas do adoecimento de Mateus, visando
ao aprimoramento de sua conduta.
(E)
Paternalista, com a inclusão de Alice num programa de apoio econômico,
garantindo seus direitos e a construção de sua cidadania.
Gabarito: B
Autoras: Beatriz Regina Lara dos Santos e Olga Rosaria Eidt
Comentário:
Paulo Freire, educador brasileiro, precursor da Educação Popular, propõe a
humanização das relações e a libertação dos homens, destacando a educação
solidária, dialogada, sem arrogância e supremacia do educador. Defende a
educação, não como mera reposição de conteúdos, mas como a associação da
teoria e do vivido, de modo que o educando seja o sujeito de seu próprio
desenvolvimento, com liberdade e autonomia. Sua teoria se apoia em seis
pressupostos:
•
Toda ação educativa deve, necessariamente, estar precedida de reflexão
sobre o homem e de uma análise do meio de vida do educando;
•
A educação deve levar o educando a uma tomada de consciência e atitude
crítica no sentido de haver mudança da realidade;
•
Através da integração do homem com o seu contexto, haverá a reflexão, o
comprometimento, a construção de si mesmo e o ser sujeito;
46
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
•
À medida que o homem se integra às condições de seu contexto de vida,
realiza reflexão e obtém respostas aos desafios que se apresentam, criando
cultura;
•
O homem é criador de cultura, fazendo história, pois na medida em que ele
cria e decide, as fases vão se formando e reformando;
•
É necessário que a educação permita que o homem chegue a ser sujeito,
construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer relações de
reciprocidade, fazer cultura e história;1
•
Dos pressupostos emergiram alguns conceitos, entre eles destacam-se o de
problematização que supõe a ação transformadora, partindo de situações vividas
e implica um retorno crítico a essas; e o de diálogo, entendido como condição
básica para o conhecimento, pois acredita que o ato de conhecer se dá num
processo social, sendo mediado pelo processo dialógico.1
A educação em saúde pode e deve ser aplicada em qualquer ambiente
onde são executadas as atividades e ações de cuidado, constituindo uma
ferramenta de promoção da saúde. Os profissionais devem possuir uma visão
integral das necessidades de saúde do sujeito. Paulo Freire afirmava que o ato de
ensinar não é condizente com a transferência de conhecimentos, mas sim com a
possibilidade de produção e construção deste pelo sujeito. Portanto, a Educação
para a Saúde deve gerar possibilidades de conscientização, visando o
desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade no cuidado da saúde e
engendrando a transformação social, com vistas à qualidade de vida.2
A assertiva A está incorreta, pois a abordagem Biologicista é condizente
com o modelo de prática de Educação para a Saúde tradicional, historicamente
hegemônico, focalizando a doença e a intervenção curativa, preconizando a
mudança de atitudes e comportamentos individuais.3
A assertiva B está correta, pois a educação dialógica, conforme Paulo
Freire, é condição básica para a produção do conhecimento, visando o
desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos sujeitos no cuidado da
saúde, não pela imposição do saber técnico, mas sim pelo desenvolvimento da
reflexão e compreensão da situação de saúde 3, a partir do mundo vivido.
A assertiva C está incorreta, pois a abordagem Higienista refere-se ao
discurso sanitário brasileiro do século XIX, o qual se alicerçou em torno da
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
47
moralidade e disciplinamento higiênico, principalmente, nos hospitais, hospícios e
escolas.
A assertiva D está incorreta, pois o construtivismo pressupõe que
nenhum sujeito é uma “tábua rasa”, ou seja, que todos possuem um
conhecimento prévio. Quanto a culpabilização dos sujeitos, individualmente, pela
ocorrência de agravos à saúde, referida nesta alternativa, é uma característica da
abordagem biologicista e não da construtivista.
A assertiva E está incorreta, pois na abordagem tradicional é que a
comunicação entre profissionais e usuários se caracteriza pelo caráter informativo
e atitude paternalista, na qual os primeiros explicitam hábitos e comportamentos
que devem ser assumidos pelos usuários para manutenção da saúde.
Referências
1.
Miranda KCL, Barroso, MGT. A contribuição de Paulo Freire à prática e
educação crítica em enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem [on-line]. 2004,
v. 12, n. 4, p. 631-635.
2.
Silva JLL. Educação em saúde e promoção da saúde: a caminhada dupla
para a qualidade de vida do cliente. Informe-se em promoção da saúde, v.1, n.1,
jul-dez 2006. p.3.
3.
Alves VS. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da
Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial.
Interfase (Botucatu). 2005, v.9, n.16, p.39-52.
48
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 25
Considere as ações a serem recomendadas pelas enfermeiras que atenderam
Mateus no PS e na UBS:
I.
Puncionar veia periférica em Mateus para instalar a hidratação na fase de
expansão, colocar coletor de urina, iniciar balanço hídrico e inserir a mãe
como uma unidade de cuidado.
II.
Instalar cateter de oxigênio nasal FiO2 2 Litros/minuto, fazer controle da
saturação de oxigênio, manter Mateus em quarto com pressão negativa e
promover atividades para fortalecer vínculo mãe e criança.
III.
Notificar o caso à Vigilância Epidemiológica do município, identificar
sintomáticos respiratórios entre os comunicantes adultos e verificar a
situação vacinal das crianças da creche e da família de Mateus.
IV.
Realizar desinfecção da creche, manter o ambiente ventilado, restringir o
uso dos brinquedos de pano e de pelúcia e realizar visita domiciliar
supervisionando as condições de higiene e iluminação natural da casa de
Mateus.
Estão corretas APENAS as ações apresentadas em
(A)
I e III.
(B)
I e II.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E)
III e IV.
Gabarito: A
Autoras: Karen Ruschel e Fátima Rejane Ayres Florentino
Comentário:
Todos os anos, aproximadamente 2 milhões de crianças ao redor do
mundo morrem de diarreia. No Brasil a diarreia infantil ainda é uma das principais
causas de morte entre as crianças, principalmente por representar o principal fator
associado à desidratação.1,2
A desidratação caracteriza-se pela redução de líquido no espaço
extracelular resultante da baixa oferta de líquidos ou perda hidroeletrolítica. Pode
ser classificada de acordo com o nível sérico de sódio ou através dos sinais
clínicos apresentados. Na desidratação moderada (Quadro 1) a perda de peso
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
49
estimada é de 5-10% do peso corporal total, representando um déficit de 50100mL/Kg.3,4
O tratamento a ser instituído deve considerar o grau de desidratação, o
nível de sódio e a correção das perdas hidroelétrolíticas.
Quadro 1. Classificação clínica do grau de desidratação em crianças
Leve
Estado Geral
Moderada
Grave
Irritada, com sede,
dorme mal e pouco
Mais agitada, muita
sede, raramente dorme
Deprimida, comatosa,
não chora mais
Boca
Seca, lábios vermelhos,
língua seca e saburrosa
Muito seca, lábios às
vezes cianóticos
Lábios cianóticos
Olhos
Normais
Fundos
Muito fundos
Lágrimas
Presentes
Ausentes
Ausentes
Fontanela
Normal
Deprimida
Muito deprimida
Quente, seca,
elasticidade normal
Extremidades frias,
elasticidade diminuída.
Pele fria, acinzentada,
elasticidade muito
diminuída
Normais
Finos
Muito finos
Normal (até 3s)
Lentificado (3-10s)
Muito lentificado (>10s)
Perda de
peso
2,5 a 5%
5-10%
>10%
Déficit
estimado
25-50mL/Kg
50-100mL/Kg
>100mL/Kg
Pele
Pulsos
Enchimento
capilar
Fonte: Barbosa AP, Sztajnbok J, J Pediatria, 1999
Com relação à tuberculose a estimativa de prevalência está em torno de 50
milhões de infectados com o surgimento anual de 130.000 novos casos, o que a
configura como uma doença grave, e que reflete o estágio de desenvolvimento
social do país, onde os determinantes do estado de pobreza, e as limitações de
organização do sistema de saúde inibem a queda das doenças marcadas pelo
contexto social.5
O aspecto positivo está na probabilidade de cura em aproximadamente
100%
50
dos
casos
quando
os
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
princípios
do
tratamento
são
seguidos
adequadamente. A quimioterapia deve estar na dose correta, ser usada por
tempo suficiente e quando possível sob supervisão. De acordo com o Ministério
da Saúde esses são os meios para evitar a persistência bacteriana e o
desenvolvimento de resistência às drogas, assegurando assim a cura do
paciente. Em crianças, a tuberculose apresenta as manifestações clínicas mais
variadas, entretanto há predomínio da localização pulmonar. O principal sinal na
maioria dos casos é a febre, que geralmente apresenta-se moderada, persistente
por mais de 15 dias e frequentemente vespertina. Ainda são comuns sinais de
irritabilidade, tosse, perda de peso, sudorese noturna, às vezes profusa. A
hemoptise é rara. Em geral, a suspeita de tuberculose é feita em casos de
pneumonia que não apresentam melhora com o uso de antibióticos para germes
comuns.5-7
Fazer o diagnóstico e tratar o mais rápido possível a tuberculose é uma
importante medida prática para salvar vidas e recuperar a saúde dos infectados.
Antes da quimioterapia 50% dos doentes não tratados evoluíam ao óbito, 25%
dos doentes tornavam-se crônicos e os demais, curavam-se espontaneamente.
Hoje, o método de redução da tuberculose na sociedade é a busca de casos
novos e o tratamento/acompanhamento intensivo.5,7
A afirmativa I está correta, porque a necessidade de reposição por via
endovenosa esta relacionada com a perda de líquidos do espaço intravascular.
Essa fase é denominada de expansão e o principal objetivo do tratamento será
fornecer líquido a esse espaço na tentativa de restabelecer o equilíbrio
hidroelétrolítico. Para início da reidratação endovenosa é necessário a instalação
de acesso venoso periférico e o acompanhamento do estado hídrico deve ser
feito através do controle de diurese, monitoramento do peso diário e balanço
hídrico. 2,8
A monitorização da perfusão periférica, turgor, sinais vitais assim como os
sinais de sobrecarga também devem constar no plano de cuidados. Quando
indicado soluções criativas devem ser usadas para estimular a criança com a
ingestão de líquidos como: jogos, copos coloridos, mamadeiras próprias, etc. Para
os lactentes a amamentação deve ser incentivada.8,9
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
51
É importante salientar que a desidratação é multifatorial o que reforça a
necessidade da educação da família e da criança com vistas à prevenção de
novos episódios, sempre envolvendo a mãe no processo de cuidado.
A afirmativa II está incorreta, pois a criança não apresenta sinais de
insuficiência/comprometimento respiratório que justifiquem a suplementação de
oxigênio via cateter nasal.
A afirmativa III está correta, porque dentre as ações do enfermeiro na
atenção a tuberculose estão: identificação de sintomáticos respiratórios, inspeção
vacinal das crianças comunicantes (BCG) e comunicação à Vigilância
Epidemiológica que tem como objetivo o controle, a eliminação e a erradicação
das doenças transmissíveis.5
A tuberculose é uma doença que possui alta probabilidade social, uma vez
que, tem fortes componentes sociais e econômicos. Pessoas com baixa renda,
que vivem em comunidades urbanas densas, com precárias condições de
habitação e famílias numerosas, têm probabilidade de se infectar, adoecer e
morrer por tuberculose. Igualmente com alta probabilidade são as instituições
fechadas, entre elas as creches.5
Portanto, é importante fazer a busca entre contatos, que compreende todas
as pessoas que coabitam com um paciente com tuberculose. Os comunicantes de
doentes bacilíferos têm maior probabilidade de adoecer. Exames de baciloscopia
de escarro, prova tuberculínica nos contatos e exame radiológico são condutas
prioritárias. Um sistema de registro dos sintomáticos respiratórios deve ser
implantado para avaliação dos parâmetros da demanda, assim como a aplicação
da vacina BCG nas crianças quando indicado.7
A afirmativa IV está incorreta, pois as crianças comunicantes já foram
expostas ao bacilífero quando ele estava no ambiente. Realizar a desinfecção da
creche, manter o ambiente ventilado e restringir o uso dos brinquedos de pano e
de pelúcia são cuidados desnecessários uma vez que após o início do tratamento,
se seguido adequadamente, o risco de contágio é mínimo. Uma das ações do
enfermeiro é orientar pacientes e familiares quanto ao uso da medicação,
esclarecendo dúvidas e desmistificando tabus e estigmas que permeiam a
tuberculose. 7
52
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Referências
1.
Victora Parte inferior do formulário CG. Diarrhea mortality: what can the
world learn from Brazil? J Pediatria 2009; 85(1): 3-5.
2.
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e sua família no hospital. São Paulo: Manole; 2008.
3.
Evora PRB, Reis Cl, Ferez MA, Conte DA, Garcia LV. Distúrbios do
equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio acidobásico – Uma revisão prática.
Med, Ribeirão Preto 1999; 32: 451-69.
4.
Barbosa AP, Sztajnbok J. Distúrbios hidroelétrolíticos. J Pediatria 1999;
75: 223-33.
5.
Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro de
Referência Professor Hélio Fraga. Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia. Controle da tuberculose: uma prposta de integração ensino-serviço.
5ª.ed. – Rio de Janeiro: FUNASA/ CRPHF/ABT, 2002.
6.
Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Plano Nacional do
Controle da Tuberculose. Brasilia: MS/FUNASA; 1999.
7.
Brasil. Ministério da saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose,
Hanseníase, Malária, Tracoma e Tuberculose. 2ª. ed – Brasília: MS, 2008.
8.
Winkelstein W, Hockenberry, MJ. Wong fundamentos de enfermagem
pediátrica. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
9.
Ministério da Saúde. Secretaria Municipal de Saúde. Serviço de Saúde
Comunitária do GHC. A Atenção à Saúde da Criança de Zero a Doze Anos de
Idade. Porto Alegre: SMS, 2009.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
53
QUESTÃO 26
No Pronto Socorro Municipal, a população que aguardava atendimento revoltouse ao perceber que um homem de 40 anos, casado e com quatro filhos, que
estava na sala de espera, aproximadamente há 4 horas, faleceu antes de ser
atendido. Este acontecimento foi noticiado pela mídia e mobilizou os
trabalhadores e o gestor do Pronto Socorro a discutirem propostas de melhoria do
atendimento. Considerando os princípios norteadores da Política Nacional de
Humanização, estiveram em pauta as seguintes ações:
I.
Acolhimento da demanda por meio de critérios de avaliação de risco.
II.
Garantia do acesso referenciado aos demais níveis de assistência.
III.
Organização da fila de espera, considerando a idade do usuário.
IV.
Definição de protocolos clínicos adequados.
Estão corretas APENAS as ações propostas em
(A)
I e IV.
(B)
I, II e III.
(C) I, II e IV.
(D) II, III e IV.
(E)
III e IV.
Gabarito: C
Autoras: Beatriz Sebben Ojeda e Vera Beatriz Delgado
Comentário:
A questão trata dos princípios norteadores da Política Nacional de
Humanização (PNH) na qual a Humanização torna-se o eixo norteador das
práticas da Atenção e Gestão em todas as instâncias do Sistema Único de Saúde
(SUS)1. Portanto, deve ser entendida como uma política transversal em toda a
rede do SUS, que orienta sobre os traduzindo “princípios e modos de operar no
conjunto das relações entre profissionais e usuários”, com vistas a alcançar a
“qualificação da atenção e da gestão em saúde no SUS”2:7. A questão centra-se
nas diretrizes específicas para implementação do PNH na Urgência e
54
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Emergência, nos pronto-socorros, nos pronto-atendimentos, na Assistência PréHospitalar e outros.
A Ação I, conforme consta nas diretrizes está correta, tendo em vista que o
SUS trabalha com o acolhimento da demanda por meio de critérios de avaliação
de risco.
A Ação II também está correta. Conforme o PNH os serviços de Urgência e
Emergência,
nos
Pronto-Socorros,
Pronto-Atendimentos,
Assistência
Pré-
-Hospitalar e outros deverão “comprometer-se com a referência e contra-referência aumentando a resolução da urgência e emergência, provendo o
acesso à estrutura hospitalar e a transferência segura conforme a necessidade
dos usuários”2:14.
A Ação III está incorreta. Com a implementação da PNH a proposta é
reduzir as filas e o tempo de espera com ampliação do acesso e atendimento
acolhedor e resolutivo baseados em critérios de risco. É propósito do SUS o
reconhecimento da diversidade do povo brasileiro e a todos oferecer a mesma
atenção à saúde, sem distinção de idade, etnia, origem, gênero e orientação
sexual.
A Ação IV está correta, pois conforme a PNH, os serviços deverão ter seus
protocolos clínicos, garantindo a eliminação das intervenções desnecessárias,
respeitando as diferenças e necessidades específicas de cada usuário.
Portanto, ações I, II e IV estão corretas, correspondendo à alternativa C da
questão.
Referências
1.
BRASIL Ministério da Saúde. Legislação do SUS. Lei n.8.080/90.
Disponível em: <http://www.saude.gov.br>.
2.
Brasil. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política Nacional de
Humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. (Série B. Textos Básicos de
Saúde) 20 p.– Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_2004.pdf>.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
55
QUESTÃO 27
O diretor do Distrito de Saúde "Salveiros", após avaliar o Sistema Único de
Saúde, concluiu que este não está atendendo satisfatoriamente o princípio básico
da integralidade e solicitou que os enfermeiros gerentes das unidades de saúde
da região apresentassem propostas para reversão dessa situação. Foram
apresentadas as seguintes propostas:
I.
A enfermeira do Pronto Socorro sugeriu que o PS tenha vacinas disponíveis
para atender vítimas de acidentes evitando, com isso, que esses pacientes
sejam encaminhados a outro serviço para receber esses cuidados
profiláticos.
II.
A enfermeira do Hospital Geral sugeriu a implantação da consulta de
enfermagem na alta hospitalar com protocolos próprios que garantam ao
paciente orientações sobre os cuidados necessários e a prevenção de novos
agravos no período de convalescença.
III.
A enfermeira da Unidade de Saúde da Família propôs a ampliação das
equipes do PSF com a inclusão de profissionais das especialidades médicas
mais procuradas pela população.
IV.
A enfermeira da Unidade Básica de Saúde propôs a anulação da delimitação
da área de abrangência, de modo que os pacientes procedentes de qualquer
parte do município, e até fora dele, pudessem se vincular a qualquer unidade
de sua escolha.
Estão corretamente articuladas com o conceito de integralidade do SUS APENAS
as propostas
(A)
I e II porque reduzem a dicotomia entre as ações curativas e preventivas nos
serviços de saúde.
(B)
III e IV porque oferecem mais serviços e a um maior número de pessoas.
(C) I e III porque os usuários atendidos por médicos especialistas na rede básica
necessitarão, cada vez menos, de Pronto Socorro.
(D) III e IV porque prevêem o atendimento da população holisticamente.
(E)
I e II porque não falam dos direitos do cidadão brasileiro e sim da ampliação
de serviços.
Gabarito: A
Autoras: Beatriz Regina Lara dos Santos e Vera Beatriz Delgado
Comentário:
As ações e serviços de saúde que integram o Sistema Único de Saúde
(SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas na Constituição
Federal e os princípios que constam na Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990,
56
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
que dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde,
a organização e o funcionamento dos serviços de saúde. O princípio da
integralidade da assistência refere-se ao conjunto articulado e contínuo das ações
e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso
em todos os níveis de complexidade do sistema.1
Atualmente, a questão da integralidade representa um dos maiores
desafios nas práticas em saúde, pois não é apenas uma diretriz do SUS definida
constitucionalmente, mas pode ser vista como uma imagem-objetivo, com vários
sentidos: uma crítica a atitude médica fragmentária, a um sistema que privilegia a
especialização e a segmentação; a dimensão das práticas, buscando
compreender o conjunto das necessidades de ações e serviços de saúde que um
paciente apresenta para além da atenção individual curativa, necessitando que
sejam incorporadas ações de promoção e prevenção na atenção à saúde, assim
como a articulação com ações curativas e reabilitadoras; o modo de organizar
as práticas, criticando a separação entre práticas de saúde pública e práticas
assistenciais, entre ações de saúde coletiva e atenção individual, entendendo a
integralidade como horizontalização dos programas; o modo de organizar o
processo de trabalho em saúde, buscando contínua ampliação da possibilidade
de apreensão e satisfação das necessidades de um grupo populacional,
articulando a atenção à demanda espontânea com a oferta programada de
atenção à saúde, proporcionando ampliação da eficiência; o acesso às técnicas
de diagnóstico e tratamento necessárias a cada caso quando necessário,
articulação a partir da atenção básica aos meios de diagnóstico e atenção
especializada quando necessário, de ampliação de acesso ao sistema de saúde e
de resolutividade da atenção; e articulação intra e intersetorial para a busca de
soluções para problemas e busca de qualidade de vida.2
Portanto, a questão da integralidade representa, hoje, o maior desafio nas
práticas em saúde, não como questão institucional ou política, mas como desafio
cultural, para romper com formas cristalizadas de se entenderem e realizarem
ações técnicas, identificadas com formas especializadas de desempenho técnico
e profissional, visando à cura.2 Ela A integralidade é uma “bandeira” de luta, um
enunciado de certas características do sistema de saúde, de suas instituições e
de suas práticas que são consideradas desejáveis. Ela tenta falar de um conjunto
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
57
de valores pelos quais vale lutar, pois se relacionam a um ideal de uma sociedade
mais justa e mais solidária.3
Os itens I e II estão corretos, pois pressupõe a horizontalização do
modo de organizar as práticas, evitando a separação entre ações de saúde
pública e assistenciais, ou seja, intervenções de cura e de prevenção de agravos
à saúde.2
O item III esta incorreto, pois a Política Nacional de Atenção Básica
determina consolidar e qualificar a estratégia de Saúde da Família como modelo
de Atenção Básica, constituindo a porta de entrada preferencial do SUS e sendo o
centro ordenador das redes de atenção à saúde do sistema. Para a implantação
das equipes de Saúde da Família é necessária a existência de uma equipe
multiprofissional composta no mínimo por médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico
de enfermagem e agentes comunitários de saúde.4 Portanto, nas equipes de
Saúde da Família não está prevista a inclusão de profissionais das especialidades
médicas, estes devem estar sediados nos serviços de referência.
O item IV está incorreto, pois a Política Nacional de Atenção Básica tem
como um de seus fundamentos possibilitar o acesso universal e contínuo a
serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de
entrada preferencial do sistema de saúde, com território adscrito de forma a
permitir o planejamento e a programação descentralizada, e em consonância com
o princípio da equidade.4
Compete às Secretarias Municipais de Saúde e ao Distrito Federal
organizar, executar e gerenciar os serviços e ações de Atenção Básica, de forma
universal, dentro do seu território, incluindo as unidades próprias e as cedidas
pelo estado e pela União.4
Referências
1.
Brasil. Presidência da república. LEI N° 8080, 19 DE SETEMBRO DE 1990.
Brasília: Casa Civil; 1990.
2.
Brasil. Ministério da Saúde. Integralidade da Atenção à Saúde. Brasília:
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica; 2003.
3.
Pinheiro R, Mattos RA. Os sentidos da integralidade na atenção e no
cuidado à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2001.
4.
Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília:
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica; 2006.
58
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 28
Após o cadastramento das famílias que compõem a área de abrangência de uma
unidade de Saúde da Família, as equipes se reuniram para definir as estratégias
de ação frente à problemática identificada: a elevada incidência de jovens
usuários de drogas e de pessoas com transtorno mental e história de internação
psiquiátrica. Diante dessa situação, a equipe decidiu realizar uma pesquisa para
conhecer as dificuldades das famílias em cuidar dos indivíduos com transtorno
mental. Do ponto de vista metodológico, o que deve ser considerado para a
execução dessa pesquisa?
(A)
Considerar o sexo e a idade dos sujeitos como variáveis dependentes do
estudo.
(B)
Enviar questionários às famílias para avaliar o grau de confiabilidade do
teste de hipótese.
(C) Implantar, antes da coleta de dados, um programa de capacitação das
famílias para que se instrumentalizem quanto às formas de atenção.
(D) Aplicar às pessoas com transtorno mental um teste que avalie o seu
desempenho cognitivo e categorize o tipo de atenção requerida.
(E)
Elaborar um projeto justificando o problema, determinando objetivos e a
trajetória metodológica.
Gabarito: E
Autoras: Karen Ruschel e Beatriz Regina Lara dos Santos
Comentário:
Nos últimos anos, a enfermagem tem aumentado o interesse em buscar
evidências científicas destinadas a resolver problemas complexos da prática
assistencial. Esse modelo tem sido denominado de prática baseada em evidência,
no qual pesquisa e prática clínica não estão mais dissociadas, elas integram a
experiência clínica individual à melhor evidência externa disponível oriunda da
pesquisa sistemática.1
A busca do conhecimento científico cada vez mais tem sido norteada por
orientações metodológicas que têm por objetivo fornecer diretrizes para a
execução e posterior análise de resultados.2 A análise rigorosa dos métodos
pelos quais as informações científicas são obtidas é definida como a metodologia
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
59
científica que, quando adequadamente aplicada, define o caminho possível para a
busca da melhor evidência.2,3
A metodologia científica embasa a elaboração dos projetos de pesquisa,
fornece estrutura para a busca da melhor evidência, possibilita a reprodução dos
resultados pelos próprios pesquisadores ou por outros grupos da comunidade.3,4
Na pesquisa científica, tudo tem início com a formulação do problema de
pesquisa, que se originou de uma leitura prévia, de uma dúvida no atendimento a
um paciente ou a uma comunidade, ou de uma sugestão para um projeto. A
objetividade e a simplicidade do problema são fatores de qualidade na elaboração
da pesquisa. Em qualquer caso a metodologia deve ser direcionada para a
obtenção da resposta.3,5
A alternativa A está incorreta, porque a variável dependente é a variável
que o pesquisador está interessado em compreender, explicar ou prever.6
Conforme o enunciado da questão o interesse da equipe é “conhecer as
dificuldades das famílias em cuidar dos indivíduos com transtorno mental”,
portanto a variável dependente seria a dificuldade das famílias em cuidar dos
indivíduos com transtorno mental. Sexo e idade dos sujeitos poderiam ser
variáveis independentes desse estudo, visto que a causa presumida é a variável
independente, enquanto o efeito presumido é denominado variável dependente.6
A alternativa B está incorreta, pois a confiabilidade é o principal critério
para a investigação da qualidade de um instrumento, ou seja, refere-se à
consistência com que o instrumento mede o atributo e não ao teste de hipóteses
estatísticas. No que se refere ao teste de hipóteses estatísticas, este proporciona
critérios objetivos para decidir se uma hipótese é aceita ou rejeitada como
verdadeira.6 Uma pesquisa com o objetivo de “conhecer as dificuldades das
famílias em cuidar dos indivíduos com transtorno mental” não prevê teste de
hipóteses estatísticas.
A alternativa C está incorreta, pois a coleta de dados de um estudo
prossegue de acordo com um plano preestabelecido, o qual contempla os
procedimentos para recrutamento da amostra, a obtenção dos consentimentos
necessários para realização da pesquisa e a capacitação dos pesquisadores para
a coleta de dados.6 As famílias constituem os sujeitos do estudo, portanto não
60
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
devem ser capacitadas em momento anterior a coleta de dados da pesquisa, pois
tal fato poderá interferir nos resultados obtidos.
A alternativa D está incorreta, porque o objetivo desta pesquisa
determina que o sujeitos do estudo são as famílias e não as pessoas com
transtorno mental.
A alternativa E está correta, porque todos os estudos partem de uma
questão de pesquisa, a meta é encontrar uma questão relevante que possa ser
desenvolvida em um plano de estudo factível e válido.4,5 Feita a pergunta, os
objetivos do trabalho devem ser estabelecidos e a trajetória metodológica
construída. Após a aprovação do projeto nas instâncias regulatórias pertinentes a
coleta de dados/ intervenção na população em estudo deve ser iniciada.
Referências
1.
Pereira AL, Bachion MM. Atualidades em revisão sistemática de
literatura, critérios de força e grau de recomendação de evidência. Rev
Gaúcha Enferm 2006 dez 27;(4):491-8.
2.
Reis FB, Lopes AD, Faloppa F, Ciconelli, RM. A importância da qualidade
dos estudos para a busca da melhor evidência. Rev Bras Ortop 2008
43;(6):209-16.
3.
Pearce N. A Short Introduction to Epidemiology. 2ª ed. Wellington: Centre
for Public Health Research;2005.
4.
Amatuzzi MLL, Amatuzzi MM, Leme LEQ. Metodologia científica: o desenho
da pesquisa Acta Ortop Brás 2003;11(1).
5.
Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D, Hearst N, Newman TB.
Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica. 2ª. ed. Porto
Alegre: Artmed; 2003.
6.
Polit DF, Cheryl TB, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em
enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5ª. ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
61
QUESTÃO 29
João, dependente de drogas e contaminado pelo vírus HIV, é atendido pela
enfermeira do ambulatório de saúde mental. Durante a consulta, revela que é
enfermeiro da terapia intensiva da instituição e freqüentemente injeta metade da
droga prescrita aos pacientes (opiácio) em si próprio. Considerando a situação
descrita e os aspectos éticos e legais, preconiza-se que a enfermeira
I.
esteja comprometida com a assistência de enfermagem a João, sem
discriminação de qualquer natureza, abstendo-se de revelar esses informes
confidenciais a pessoas que não estejam obrigadas ao sigilo.
II.
assuma a assistência a João, cidadão pleno de direitos e deveres, e reflita
que ele está sendo atendido como paciente e, como tal, independentemente
de sua patologia, tem direito ao sigilo de suas informações e de seu
diagnóstico.
III.
garanta a assistência a João e comunique o caso à diretoria de enfermagem,
considerando que ele pode cometer danos à própria vida, à de terceiros e ao
patrimônio da empresa, por integrar o quadro funcional do hospital.
IV.
comprometa-se com a assistência a João, mesmo sendo dilemática a
situação, porém o denuncie ao Conselho Regional de Enfermagem, visando
a cumprir os preceitos éticos e legais da profissão.
Está correto APENAS o que se afirma em
(A)
III e IV.
(B)
II e IV.
(C) II e III.
(D) I e II.
(E)
62
I e III.
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 30
Reginaldo, 46 anos, portador de doença renal crônica, vai iniciar hemodiálise três
vezes por semana enquanto aguarda a chamada para se submeter a transplante
renal. Ele foi encaminhado para receber o esquema de vacinação contra hepatite
B, na Unidade Básica de Saúde próxima de sua residência, onde recebeu a
primeira dose de 2 mL de vacina por via intramuscular profunda. A segunda dose
foi administrada após intervalo de 30 dias, tendo sido agendada a terceira dose
para 180 dias após a primeira, data em que Reginaldo se encontrava internado no
hospital devido a uma intercorrência gastrintestinal. Sessenta dias após a data
agendada compareceu à UBS e solicitou o reinício do esquema de vacinação
porque havia ultrapassado os prazos estipulados no calendário. Qual a conduta e
a orientação corretas a serem oferecidas a Reginaldo?
(A)
Reiniciar o esquema de três doses conforme solicitado pelo cliente porque a
interrupção do esquema anula os anticorpos anteriormente produzidos.
(B)
Dar continuidade ao esquema administrando a terceira dose e agendando a
quarta dose, prevista para pacientes de grupos de risco, porque os pacientes
nesta condição têm menor produção de anticorpos.
(C) Reiniciar o esquema e acrescentar uma quarta dose, seis meses após a
terceira, porque na repetição do esquema o organismo demora mais tempo
para desenvolver a memória celular contra a hepatite.
(D) Encerrar o esquema de vacinação administrando a terceira dose porque a
ampliação do intervalo entre as doses supre a necessidade da quarta dose,
se cumpridos os prazos iniciais.
(E)
Substituir a vacinação por imunoglobulina específica uma vez que o
esquema não pode ser reiniciado nem completado porque o paciente não é
mais virgem da estimulação pelo antígeno.
Gabarito: B
Autoras: Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Fátima Rejane Ayres Florentino
Comentário:
A hepatite B (HB) é uma infecção viral transmitida por via parenteral, ou
sexual, em que ocorre necrose de hepatócitos, com potencial evolução para
doença hepática crônica (cirrose) e desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.
Segundo Romão Jr. (2003), sua prevalência é de 3,2% entre pacientes
submetidos à hemodiálise (HD) no Brasil, estando em declínio. Várias medidas
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
63
foram responsáveis pela diminuição da prevalência de HB em HD, tais como: a
vacinação regular, a segregação dos portadores em salas separadas e o estrito
seguimento das medidas-padrão de isolamento. A vacinação para HB, a despeito
da eficácia em adultos imunocompetentes, frequentemente produz títulos
menores em renais crônicos sob tratamento substitutivo da função renal. A baixa
resposta dos pacientes em diálise à vacinação para HB é um problema que
necessita vigilância constante dos níveis de anticorpos contra o antígeno de
superfície do vírus B (Anti-HBs), bem como um protocolo de revacinação. Estudos
anteriores mostraram índice de soroconversão após a vacinação de 52,9%,
sugerindo que disfunção do sistema imune se associa à falência renal.3
Vários fatores podem contribuir para a baixa resposta imune do paciente
renal crônico. Dentre eles estão a uremia, a diminuição na produção de
eritropoietina (EPO), a desnutrição, a idade avançada, baixa densidade do
TCR/CD3, a exposição a agentes inflamatórios e os tipos de alelos do antígeno
leucocitário humano (HLA)3,4.
A imunidade celular está comprometida, pois a resposta a antígenos
cutâneos está reduzida. Observa-se linfopenia e hipoplasia do timo em renais
crônicos, retardo da cicatrização de feridas cirúrgicas e diminuição da resposta
inflamatória. Existe uma situação imunológica paradoxal durante a uremia, onde a
resposta inflamatória sustentada contrasta com um sistema de defesa ineficaz. 4
As alterações na imunidade são partes responsáveis pelo aumento da
incidência de infecções que representam a segunda maior causa de mortalidade
em pacientes em diálise.5 A probabilidade de indivíduos em HD desenvolverem
títulos adequados de anticorpos por aplicação intramuscular (IM), com 40µg, no
esquema de administração em 0,1 e 2 meses da vacina, foi de 66% aos 6 meses
do início da vacinação. O esquema de vacinação contra HB preconizado pelo
Advisory Committee in Immunization Practices (ACIP) do Center of Disease
Control (CDC) para pacientes em HD é de 40 µg em 4 doses, nos intervalos de
zero, 1, 2 e 6 meses, por via IM (Protection against viral hepatitis.
Recommmendations of the Immunization Practices Advisory Committee (ACIP),
mesma recomendação é sugerida pela RDC 154 , que recomenda que o doente
renal crônico deve proceder a UBS para realização da imunização contra Hepatite
B de acordo com o Programa Nacional de Imunizações do MS no prazo de 30
64
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
dias após o início da terapia de substituição renal. Esquema, este, também
indicado por Daugirdas (1996). 6, 7,8
Após a vacinação IM, 44 a 83% dos pacientes em HD desenvolvem título
de Anti-HBs acima de 10 UI/ml.8
A alternativa A está incorreta, pois a interrupção do esquema vacinal não
anula os anticorpos produzidos anteriormente.9
A alternativa B é correta, pois os pacientes com insuficiência renal crônica
têm uma resposta a vacina mais baixa (50 a 80%), sendo esta atribuída a baixa
imunidade e desnutrição.9
A alternativa C está incorreta, pois não se reinicia esquema de vacinação e
o esquema vacinal é de três doses, com intervalo de um mês entre as doses, e
reforço aos 6 meses após a primeira dose (esquema 0,1, e 6 meses).9
A alternativa D está incorreta, pois não se encerra o esquema de vacina
para imunodeprimidos antes de completar quatro doses.9
A alternativa E está incorreta, pois a imunoglobulina humana anti-hepatite
B (IGHAHB) é indicada para pessoas não vacinadas após a exposição ao vírus da
hepatite B como: recém-nascido, cuja a mãe tem sorologia positiva PA HBsAG
(antígeno de superfície do vírus da hepatite B); acidente com ferimento de
membrana mucosa ou cutâneo por instrumento perfuro cortante contaminado com
sangue positivo para HBsAG; contato sexual com pessoa que tem sorologia
positiva para HBsAG; vítima de abuso sexual.9
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4.
Campos H, Abbud Filho M, Legendre C, Kreis H. Infecções em transplante
renal. In: Riella, MC. Princípios de Nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos.
4ª. ed. Rio de Janeiro Guanabara Koogan; 2003. p.974-987.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
65
5.
Bandeira, MF. Conseqüências hematológicas da uremia. In: Riella, MC.
Princípios de Nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª. ed. Rio de Janeiro
Guanabara & Koogan; 2003. p.691-704.
6.
Protection against viral hepatitis. Recommendations of the Immunization
Practices Advisory Committee (ACIP). MMWR Recomm Rep; 1990;39 (RR2):1-26.
7.
RDC 154. Brasília: Ministério da Saúde/ANVISA; 2005.
8.
Leehey D, Cannon JP, Lentino JR. Infections. In: Daugirdas JT, Blake P, Ing,
TS. Handbook of dialysis. 4ª. ed. Philadelphia: Lippincott, Williams &Wilkins;
2007.p. 542-574.
9.
Aranda, CMS. et al. Manual de procedimentos para vacinação. 4ªed.
Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde; 2001.
66
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 31
Antonio de Pádua, 25 anos de idade, foi levado à Unidade Básica de Saúde por
um colega. Antonio trabalha há 90 dias em uma construção civil, apresenta-se
hoje com febre e exantema maculopapular, acompanhado de linfadenopatia
retroauricular, não relata história de vacinação contra rubéola. Reside em
alojamento da empresa com outros 10 trabalhadores, visitou a esposa e as filhas
no município vizinho há 30 dias. O caso foi notificado como suspeita de rubéola. A
enfermeira da UBS fez algumas considerações para orientar as medidas de
controle e prevenção. Qual a alternativa que apresenta a justificativa e a decisão
corretas?
Justificativa
Decisão
A maioria dos casos de rubéola são
subclínicos, portanto, é pouco importante a Colher sangue para sorologia dos colegas de
A busca de fonte de infecção e a observação alojamento após 14 dias do início do caso índice,
dos contatos. O período de incubação da independentemente da presença de sintomas.
doença é de 14 dias.
Elaborar e encaminhar proposta de intervenção
A articulação entre os municípios é uma
específica para o caso ao serviço de vigilância
B atribuição da esfera estadual. As medidas epidemiológica estadual que solicitará ao
de controle dependem da intensidade dos
município vizinho a execução das ações de
sintomas apresentados.
proteção da família.
O Brasil tem como meta a eliminação da
C rubéola até o ano de 2010 e o Ministério
da Saúde planeja a campanha de
eliminação da rubéola para 2008.
Aproveitar a oportunidade e realizar campanha
educativa e vacinação indiscriminada com dupla
viral independentemente do seu estado vacinal e
da idade de todos os comunicantes.
Recomendar que Antonio evite contato com
O período de transmissibilidade da rubéola
pessoas sem a doença por 7 dias para reduzir o
D é de 5 a 7 dias antes e 7 dias após o início risco de transmissão viral, e iniciar ações de
do exantema. O modo de transmissão é
vigilância descartando a possibilidade de a
respiratório.
família ser a fonte de infecção.
A rubéola é benigna em homens. Acima
Recomendar a vacinação das filhas e da esposa
de dois casos notificados considera-se a
E existência de um surto, o que implica em até 72 horas e aguardar a ocorrência de mais
casos para desencadear a vacinação dos
maior risco de ocorrência da Síndrome da
colegas de alojamento.
Rubéola Congênita.
Gabarito: D
Autoras: Fátima Rejane Ayres Florentino e Isabel Cristina Kern Soares
Comentários:
A resposta é a letra D, pois o período de transmissibilidade, dessa doença
é de cinco a sete dias antes do início do exantema, aproximadamente, e pelo
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
67
menos de cinco a sete dias depois1, por isso da recomendação para que Sr.
Antonio evitasse contato com pessoas por sete dias.
A rubéola é uma doença exantemática aguda causada por vírus, muito
contagioso, que se transmite com extrema facilidade. Seu agente infeccioso é o
vírus que pertence ao gênero Rubirivus da família Togaviridae, tendo como
reservatório o homem. Sua transmissibilidade é de pessoa a pessoa, por meio de
contato direto com secreções da nasofaringe e de indivíduos infectados.2 Causa,
normalmente, febre baixa e exantemas, começando no pescoço, que depois se
alastra para o tronco, pernas e braços. Esses exantemas surgem com maior
intensidade do segundo até o sexto dia. Pode ocorrer também dor no corpo,
cefaleia, coriza e tosse. O período de incubação varia de 14 a 21 dias. A média é
de 17 dias.1
Ela pode ser assintomática, porém contagia pessoas suscetíveis. Os vírus
são transmitidos de uma pessoa infectada para outra quando esta entra em
contato direto com as gotículas de secreções que saem do nariz e da boca da
pessoa infectada ao tossir, falar ou espirrar.1
É uma doença de suscetibilidade universal. Quando há imunidade ativa
esta pode ocorrer de duas maneiras: por infecção natural ou pela vacinação com
a vacina tríplice viral que previne e dá imunidade contra outras duas doenças
além da rubéola, que são o sarampo e caxumba; idade mínima para aplicação é
de 12 meses e a idade máxima é de 11 anos completos. O local de administração
é deltoide esquerdo pela via subcutânea na dosagem de 0,5 ml. Ou pela vacina
dupla viral que dá imunidade contra a rubéola e o sarampo, sendo necessário ter
a idade mínima para aplicação de 12 anos e idade máxima de 49 anos. É
administrada uma dosagem de 0,5ml e nas campanhas. O local de administração
é o mesmo da tríplice viral. 2
Referências
1.
Brasil livre da rubéola [Internet]. Ministério da Saúde. Acesso em
10/9/2009 às 12h22, disponível em
http://www.brasillivredarubeola.com.br/rubeola.php#this.
2.
Aranda MS de S.; et al. Manual de procedimentos para vacinação. 4ª ed.
Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde; 2001. 303 p.
68
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 32
Nadir, enfermeira auditora da Secretaria Municipal de Saúde de Castro Alves,
analisou o consumo de hipoclorito de sódio 1% utilizado na desinfecção de artigos
de inaloterapia das Unidades Básicas de Saúde e apresentou em reunião técnica
o gráfico abaixo.
Considerando o gráfico e que não houve mudança na quantidade de inalações
realizadas no período de análise, é correto afirmar:
(A)
A média mensal de consumo foi inferior ao esperado, portanto, há risco de
disseminação de microrganismos patogênicos entre os usuários do serviço.
(B)
Os dados não podem ser utilizados isoladamente, sendo necessário verificar
a ocorrência de casos de doença respiratória nos usuários para estabelecer
o grau de risco decorrente da provável baixa concentração do cloro.
(C) A média mensal de consumo foi menor que o esperado, mas não oferece
risco de infecção respiratória aos usuários das unidades, porque nelas não
há circulação de microrganismos altamente patogênicos.
(D) Os traçados das duas médias de consumo de hipoclorito se mantêm
paralelos sugerindo que o padrão de desinfecção vem se mantendo sem o
comprometimento da biossegurança.
(E)
O consumo médio mensal de hipoclorito está abaixo do esperado porque
algumas unidades estariam utilizando concentrações de cloro menores,
compensando com a imersão do material por mais tempo, sem oferecer,
entretanto, risco aos usuários.
Gabarito: A
Autoras: Andréia da Silva Gustavo e Valéria Lamb Corbellini
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
69
Comentário:
Dentre os materiais mais utilizados em instituições de saúde, encontramos
os dispositivos para macro e micronebulização terapêutica a base de oxigênio
e/ou ar estéril medicinal, procedimento comumente denominado de inaloterapia
e/ou oxigenoterapia. Estes artigos são confeccionados em material plástico termo-sensível, sendo que, após o uso, são submetidos aos processos de limpeza e
desinfecção com a utilização de hipoclorito de sódio a 1% que são formulações
comercializadas na forma líquida. Devem ser utilizados nas seguintes
concentrações e tempo de contato1,2:
I.
Desinfecção/Descontaminação de Superfícies – 10.000ppm ou 1%
de Cloro ativo – 10 minutos de contato.
II.
Desinfecção de Lactários e utensílios de Serviço de Nutrição e
dietética (SND) – 200ppm ou 0,02% Cloro ativo – 60 minutos.
III.
Desinfecção de Artigos de Inaloterapia e Oxigenoterapia não
metálicos - 200ppm ou 0,02% a 0,5% de Cloro ativo - 60 minutos. Dispensando
enxágue.
IV.
Desinfecção de Artigos Semicríticos – 10.000ppm ou 1% de Cloro
ativo – 30 minutos2.
As opções apresentadas na questão são:
(A) A média mensal de consumo foi inferior ao esperado, portanto, há risco
de disseminação de microrganismos patogênicos entre os usuários do serviço.
Questão correta. Tendo em vista que não houve mudança na quantidade
de inalações realizadas no período de análise, se esperaria o mesmo consumo
mínimo mensal. Portanto, há risco de disseminação de microrganismos
patogênicos entre os usuários do serviço, não havendo adequação no processo
de desinfecção.
(B) Os dados não podem ser utilizados isoladamente, sendo necessário
verificar a ocorrência de casos de doença respiratória nos usuários para
estabelecer o grau de risco decorrente da provável baixa concentração do cloro.
70
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Questão Incorreta. Deve-se realizar desinfecção com a concentração
adequada em todo o material utilizado em inaloterapia, independente da análise
de ocorrência de casos de doença respiratória nos usuários.
(C) A média mensal de consumo foi menor que o esperado, mas não
oferece risco de infecção respiratória aos usuários das unidades, porque nelas
não há circulação de microrganismos altamente patogênicos.
Questão Incorreta. Os artigos hospitalares são definidos conforme o grau
de risco de aquisição de infecções: críticos, semicríticos e não críticos. 2:12-13
Artigos críticos são aqueles que entram em contato direto com tecidos ou tratos
estéreis; semicríticos, os que entram em contato com a pele não íntegra e
membranas mucosas; e não críticos aqueles que entram em contato com a pele
íntegra. Essa classificação norteia a escolha do processo de desinfecção ou
esterilização a ser utilizado. Portanto, os artigos críticos devem ser submetidos ao
processo de esterilização, os semicríticos no mínimo à desinfecção e os não
críticos, somente necessitam de desinfecção de médio ou baixo nível, quando
reutilizados em pacientes. Conforme quadro abaixo os inaladores são
classificados como artigos semicríticos, portanto deve-se realizar a desinfecção
de forma adequada.
FONTE: Brasil. Orientações Gerais para Central de Esterilização. Ministério da Saúde. Secretaria
de Assistência à Saúde. Série A Normas e Manuais Técnicos, n. 108. Brasília, 2001. Disponível
em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_gerais_central_esterilizacao_p1.pdf
Acesso em: 20/9/09.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
71
(D) Os traçados das duas médias de consumo de hipoclorito se mantêm
paralelos, sugerindo que o padrão de desinfecção vem se mantendo sem o
comprometimento da biossegurança.
Questão Incorreta. No momento em que se tem um consumo esperado de
hipoclorito, tendo em vista o número de inaloterapias realizadas no serviço e a
média mensal de consumo foi inferior, há inadequação no processo de
desinfecção comprometendo a biossegurança.
(E) O consumo médio mensal de hipoclorito está abaixo do esperado
porque algumas unidades estariam utilizando concentrações de cloro menores,
compensando com a imersão do material por mais tempo, sem oferecer,
entretanto, risco aos usuários.
Questão Incorreta. A concentração do hipoclorito e o tempo de contato é
padrão conforme o material que deva ser submetido ao processo de desinfecção.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. ANVISA. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/busca/busca.asp?palavrachave=hipoclorito+de+s%F3dio
+1%25+ Acesso em: 20/9/09.
2.
Brasil. Orientações Gerais para Central de Esterilização. Ministério da
Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Série A Normas e Manuais
Técnicos, n. 108. Brasília, 2001. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_gerais_central_esterilizac
ao_p1.pdf Acesso em: 20/9/09.
72
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 33
O enfermeiro da unidade de clínica médica do Hospital Cotinha necessita realizar
a previsão mensal dos materiais utilizados em sua unidade. Considerando que o
consumo de equipos de soro nos últimos 3 meses foi de 330 unidades e o
estoque de segurança de 20%, qual é a cota mensal adequada de equipos de
soro para prover essa demanda?
(A)
396
(B)
300
(C) 132
(D) 110
(E)
100
Gabarito: C
Autoras: Karin Viegas e Maria Cristina Lore Schilling
Comentário:
O aumento da competição no âmbito dos serviços de saúde, os preços
definidos pelo mercado, a inclusão de novas tecnologias e a busca pelo maior
controle das margens de comercialização dos serviços, apontam para a
necessidade de um refinado gerenciamento de custos pelas instituições
hospitalares.¹
A atuação do enfermeiro na administração de recursos materiais constitui
uma conquista no cenário da saúde e implica tomada de decisão, destacando a
importância de seu papel na dimensão técnico-administrativa inerente aos
processos de cuidar e gerenciar. O enfermeiro, ao assumir o gerenciamento das
unidades de atendimento e coordenar toda a atividade assistencial tem papel
significativo no que se refere à determinação do material necessário à
consecução da assistência, tanto nos aspectos quantitativos, como nos
qualitativos, incluindo definição de especificação técnica, análise da qualidade dos
materiais, participação no processo de compra, controle e avaliação.²
Assim, a participação do enfermeiro no processo de previsão de materiais
para as unidades de assistência constitui tarefa inerente à sua prática diária,
sendo, portanto que o enfermeiro deve ter domínio do conhecimento acerca da
administração de materiais.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
73
A previsão de materiais, ou seja, a quantidade a ser requisitada pelas
unidades ao almoxarifado é determinada pelo perfil de consumo de cada unidade,
estabelecendo-se uma cota de materiais que representa uma estimativa de
gastos por um determinado período.³ Então, a estimativa do material a ser
comprado depende do consumo mensal das unidades hospitalares, cujos valores
são calculados com base aritmética do consumo, podendo ser estimada pela
seguinte fórmula:²
CM = CMM +ES
onde:
CM = cota mensal
CMM = consumo médio mensal
ES = estoque de segurança
Para aplicação desta expressão matemática deve-se saber que o consumo
médio mensal (CMM) é a média dos valores do material utilizado nos últimos
meses, dividida pelo número de meses. A cota mensal baseada na média
aritmética móvel é o método mais usado no meio hospitalar, pois permite prever o
consumo para o próximo período, conforme o consumo médio do período
anterior.²
O período recomendado para se determinar o consumo médio é de no
mínimo três meses e em algumas situações, igual a 12 meses.³
O estoque de segurança (ES) ou estoque mínimo é a quantidade de cada
item que deve ser mantida como reserva para garantir a continuidade do
atendimento, caso haja aumento brusco do consumo ou atraso no suprimento.²
Para esse cálculo acrescenta-se 10 a 20% do CMM.²
Assim, para responder à questão, utilizando-se a fórmula citada acima,
temos:
CM= x equipos
CMM=110 equipos
ES= 22 equipos (20% de 110)
Então: CM= 110 + 22
CM=132 equipos
74
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Para a resolução desta questão pode-se, ainda, optar pela aplicação de
uma regra básica de três, em que:4,5
Equipos de soro em 3 meses = 330 unidades
Equipos de soro em 1 mês = 110 unidades
Estoque de segurança (20%) em 1 mês= 22 unidades
Cota mensal para promover a demanda = 110 unidades (1 mês) + 22
unidades (estoque de segurança - 20%)
Resposta: a cota mensal adequada de equipos de soro para prover
essa demanda é de 132 unidades.
Referências
1.
Silva SP, Augusto R. Gestão de custos. In: Couto RC, Pedrosa TMG.
Hospital: acreditação e gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabra Koogan;
2007.
2.
Castilho V, Gonçalves VLM. Gerenciamento de recursos materiais. In:
Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em Enfermagem. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2005.
3.
Castilho V, Leite MMJ. A administração de recursos materiais na
enfermagem. In: Kurcgant P. Administração em enfermagem. São Paulo: EPU;
1991.
4.
Filho OK, Fávaro S. Noções de lógica e matemática básica. Rio de
Janeiro: Ciência Moderna; 2005.
5.
Iezzi G, Murakami C. Fundamentos da matemática elementar: conjuntos,
funções. São Paulo: Atual; 2004.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
75
QUESTÃO 34
Os usuários da Unidade Básica de Saúde de Linha Rosa chegam às 5 horas para
serem atendidos pelo médico a partir das 8 horas da manhã. Formam uma fila em
frente ao posto e quem chega primeiro tem mais chance de ser consultado. Os
graduandos em enfermagem da Faculdade Nightingale, em estágio curricular na
Linha Rosa, questionaram a organização do atendimento e sugeriram à equipe de
saúde da Unidade que aplicasse os princípios da Política Nacional de
Humanização (PNH). Como tais princípios eram desconhecidos, a gerente da
Unidade solicitou aos graduandos que orientassem à equipe na implantação do
PNH. Usando os princípios da educação permanente, as ações educativas a
serem desenvolvidas devem priorizar a:
(A)
aprendizagem significativa, tendo em vista o conhecimento prévio dos
trabalhadores da Linha Rosa referente à organização do serviço.
(B)
transmissão vertical do conhecimento por meio de aulas expositivas sobre
os princípios básicos da PNH.
(C) participação de integrantes de serviços humanizados, possibilitando a
reprodução dessa experiência na Linha Rosa.
(D) memorização dos princípios básicos da PNH para posterior implantação
pelos trabalhadores da Linha Rosa.
(E)
explanação por especialistas que sintetize o conteúdo do PNH aos
trabalhadores da Linha Rosa, agilizando o processo de implantação.
Gabarito: A
Autoras: Beatriz Sebben Ojeda e Vera Beatriz Delgado
Comentário:
Conforme orienta a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde,
o conceito de educação permanente está relacionado ao trabalho, às práticas de
formação e ao desenvolvimento profissional. Ou seja, “propõe que os processos
de educação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização do
processo de trabalho e considera que as necessidades de formação e
desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde
das pessoas e populações”.1:20 No âmbito da educação permanente, o ensinar e o
aprender tornam-se inerentes ao cotidiano das organizações e do trabalho a
aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar se incorporam ao
76
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
cotidiano das organizações e ao trabalho. Nessa perspectiva as unidades de
saúde precisam promover a cultura de uma gestão participativa aos seus
trabalhadores e usuários que se concretiza por meio de um processo de
educação permanente.
A Alternativa A está correta porque, como propõe a Política Nacional, a
Educação Permanente se baseia na aprendizagem significativa e na possibilidade
de transformação das práticas profissionais. ”Ela é feita a partir dos problemas
enfrentados na realidade e leva em consideração os conhecimentos e as
experiências que as pessoas já têm”.1:20 Os processos de educação permanente
em saúde propõem a transformação das práticas profissionais e da organização
do trabalho.
A Alternativa B está incorreta porque propõe “transmissão vertical do
conhecimento por meio de aulas expositivas” na lógica de um “modelo de
transmissão escolar”, com a expectativa de que os conhecimentos adquiridos
sejam aplicados na prática, o que não garante o alcance de tal resultado. Essa
modalidade de ensino não garante a aproximação do conhecimento com os
problemas práticos ou com os comportamentos presentes da realidade do cenário
de prática dos trabalhadores. Como abordado anteriormente essa estratégia se
distancia dos princípios da educação permanente que propõe que a educação se
dá no cotidiano trabalho, na reflexão permanente daquela realidade em busca da
solução dos problemas e das mudanças.
A Alternativa C está incorreta porque considerando que a educação
permanente busca a transformação daquela realidade todo o processo de
educação permanente proposto para a linha Rosa deverá estar voltado às
necessidades dos profissionais e da comunidade, bem como deverá ser
construído coletivamente, buscando alternativas para solução de problemas e o
envolvimento da equipe e dos gestores daquele serviço.
Conforme já discutido na Alternativa B e C, as Alternativas D e E também
estão incorretas, pois propõem um modelo de educação centrado na “transmissão
vertical do conhecimento”, com a expectativa de que os conhecimentos adquiridos
sejam aplicados na prática o que não garante o alcance de tal resultado, tendo
em vista que essa construção não possibilitou a participação dos atores
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
77
envolvidos, identificando necessidades desejos e interesses individuais e
coletivos.
Conforme descreve a Política Nacional de Educação Permanente, seus
critérios de educação estão pautados no próprio contexto social, sanitário e do
serviço, a partir dos problemas da prática na vida cotidiana das organizações; na
reflexão e participação voltada para a construção coletiva de soluções de
problemas uma vez que eles não existem sem sujeitos ativos que os criam; na
orientação para o desenvolvimento e a mudança institucional das equipes e dos
grupos sociais, o que supõe orientar para a transformação das práticas coletivas;
na estratégia de envolver múltiplos atores, como os trabalhadores dos serviços,
os grupos comunitários e os tomadores de decisão político-técnicos do sistema1.
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente
em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde 2009 Série B. Textos Básicos de Saúde
Série Pactos pela Saúde 2006, v. 9, p.59. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume9.pdf.
78
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 35
O Centro Dia de Convivência de Idosos Vida Feliz com capacidade para atender
20 idosos, em cada período, teve aumento de procura por parte dos familiares de
idosos que apresentam seqüelas de acidente vascular encefálico (AVE). A equipe
de saúde do Vida Feliz reuniu-se para planejar as ações necessárias para acolher
esta demanda e optou por utilizar como instrumento a metodologia do
Planejamento Estratégico Situacional (PES). Considerando o PES, está
corretamente correlacionado o momento com a respectiva ação a ser
implementada pela equipe em:
A
B
C
D
E
Momento
Reflexivo
Ativo
Estratégico
Tático-operacional
Ação
refletir sobre a dificuldade dos cuidadores
propor a intervenção nas seqüelas do AVE
possibilitar o estabelecimento de um plano de ação
implementar as ações que foram propostas
Explicativo
Normativo
Estratégico
Tático-operacional
explicar a realidade do aumento da demanda
conceber um plano de ação para intervir nas seqüelas do AVE
estabelecer o plano de ação
implementar as ações que foram propostas
Explicativo
Reflexivo
Ativo
Estratégico
explicar a realidade do aumento da demanda
refletir sobre a dificuldade dos cuidadores
propor a intervenção nas seqüelas do AVE
possibilitar o estabelecimento de um plano de ação
Ativo
Normativo
Estratégico
Ação
propor a intervenção nas seqüelas do AVE
conceber um plano de ação para intervir nas seqüelas do AVE
possibilitar o estabelecimento de um plano de ação
implementar as estratégias propostas
Reflexivo
Normativo
Estratégico
Ativo
refletir sobre a dificuldade dos cuidadores
conceber um plano de ação para intervir nas seqüelas do AVE
possibilitar o estabelecimento de um plano de ação
propor a intervenção nas seqüelas de AVE
Gabarito: B
Autoras: Andréia da Silva Gustavo e Maria Cristina Lore Schilling
Comentário:
O principal objetivo da prestação de serviços de saúde é a resolução das
necessidades e problemas da população, com o melhor aproveitamento da
infraestrutura e dos recursos humanos.¹ Para tanto, o planejamento constitui uma
das
ferramentas
essenciais,
cujo
referencial
teórico
aponta
diferentes
abordagens.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
79
O planejamento permeia as práticas de trabalho em três situações: como
instrumento
ou
atividade
dos
processos
de
gestão
das
organizações,
considerando as articulações necessárias para o desencadeamento dos
processos de trabalho nessas organizações; como impulsionador de práticas
sociais transformadoras, a partir do estabelecimento de novas relações sociais; e
como método de ação governamental, no que se refere à produção de políticas.²
Na esfera da saúde o Planejamento Estratégico Situacional (PES) surge a
partir da necessidade do reconhecimento da pluralidade de atores sociais em
conflito numa realidade complexa e dinâmica.³
Matus e Testa, como idealizadores dessa metodologia, entendem o
planejamento
como
uma
ferramenta
que
possibilita
o
exercício
da
governabilidade, considerando-se a projeção para o futuro e o poder dos atores
sociais envolvidos na situação. 4,5
A área da saúde está inserida em um cenário dinâmico, no qual as
situações
de
agravo
e
as
necessidades
modificam-se
constantemente,
aumentando a complexidade na resolução de problemas, bem como os desafios
dos atores envolvidos.
O PES é um método que foca o processamento dos problemas atuais e
dos problemas potenciais (ameaças e oportunidades) em diferentes esferas. E
processar problemas implica explicar a origem e o desenvolvimento de um
problema; estabelecer planos para atacar as causas do problema; analisar a
viabilidade política e/ou viabilizar sua execução; e atacar o problema na prática, o
que significa ter uma visão real dos problemas locais.³
Assim, quando colocado em prática, o PES é desdobrado em quatro
momentos, que se inter-relacionam: o explicativo, o normativo, o estratégico e o
tático-operacional.³
O momento explicativo propõe-se a explicar a realidade, mediante a
seleção de problemas relevantes, buscando-se a compreensão mais ampla
acerca da ocorrência do problema com vistas ao desenvolvimento de um plano de
ação para resolvê-lo.³,4,5 Essa etapa implica o estabelecimento de prioridades, por
meio da tomada de decisão, a partir da análise das opções disponíveis para
solução do problema.³
80
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Nesse
momento os atores envolvidos,
precisam
lançar mão de
conhecimentos e ferramentas que auxiliam no processo, tais como: domínio do
processo de avaliação de estrutura, processo e resultado, conhecimento dos
recursos epidemiológicos, do sistema de referência e contrarreferência, e do fluxo
dos usuários.³
O segundo momento do PES, denominado normativo, refere-se à
identificação das pessoas implicadas no problema e dos recursos disponíveis
para o processo de solução. Nessa etapa faz-se a projeção de cenários em que
são mapeadas as variáveis, considerando-se as melhores e as piores
possibilidades. Avalia-se a relação entre os poderes advindos da instância
política, do conhecimento técnico sobre o problema, da capacidade organizativa
dos envolvidos, e dos recursos financeiros para a viabilização das operações.³
Assim, nesse momento, avaliam-se as possibilidades de solução, definem-se as metas e prazos das operações, bem como os responsáveis pelo
desdobramento das ações para a solução do problema.
O terceiro momento é o estratégico, o qual permeia todos os momentos da
elaboração e execução do plano. Consiste na construção da viabilidade, por meio
da identificação de atores favoráveis à execução do plano e como estes dispõem
dos recursos para sua viabilização. É um momento caracterizado pela negociação
política, que tem como pilar a análise das intenções, do poder e dos recursos dos
atores envolvidos.4
O quarto momento consiste no tático-operacional, que representa a
implementação das ações propostas. É essencial, nesse momento, adequar a
execução do plano à realidade em que se está inserido, para tornar factível a
operação. Isto significa que a implementação das ações é parte do plano e não
uma ação isolada ou posterior. Essa etapa pressupõe constante reavaliação, para
ajustes das ações, considerando o contexto em que ocorre, o comportamento dos
atores envolvidos e os recursos disponíveis para a solução do problema.³
Analisando-se a questão da prova que traz a situação do Centro Dia de
Convivência de Idosos Vida Feliz, a resposta B apresenta os quatro momentos do
PES.
O momento explicativo, cuja ação é: explicar a realidade do aumento da
demanda está relacionado ao contexto no qual ocorre o problema. Nesta etapa os
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
81
gestores deverão tentar entender o problema a partir de uma análise situacional.
Para tanto, deverão conhecer o contexto de saúde local, as características da
comunidade, os hábitos de saúde e condições econômicas da população que
busca o “Centro Vida Feliz, a fim de estabelecerem as causas do aumento da
demanda de pacientes portadores de AVE”.
O momento normativo corresponde à ação: conceber um plano de ação
para intervir nas sequelas do AVE. A partir da análise situacional, é estimada a
necessidade de recursos humanos e físicos para a concepção do plano.
Considerando a demanda aumentada de pacientes com sequelas de AVE,
buscando o serviço, a estratégia seria estabelecer intervenções para minimizar as
sequelas desse agravo.
O momento estratégico é representado pela ação: estabelecer o plano de
ação. Nesse momento, busca-se identificar a viabilidade ou construir a viabilidade
do plano de ação, por meio do gerenciamento do conflito e negociação.
O momento tático-operacional corresponde à ação: implementar as ações
que foram propostas, o que significa colocar em prática a ação que trará a
solução para o problema, considerando as características do cenário e sua
viabilidade, mediante avaliação constante das ações.
Assim, percebe-se o PES como um método de permanente exercício de
diálogo e reflexão sobre os problemas que incidem em uma realidade, visando a
qualificação do gerenciamento dos processos em saúde.
Referências
1.
Martínez GDP. Aplicações da epidemiologia e avaliação econômica dos
resultados na gestão hospitalar. In: Malagón-Londoño G,Moreira, RG, Laverde
GP. Administração hospitalar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
2.
Mehry EE. Razão e planejamento. São Paulo: HUCITEC; 1994.
3.
Ciampone MH, Melleiro MM. O planejamento e o processo decisório como
instrumentos do processo de trabalho gerencial. In: Kurcgant P, coordenadora.
Gerenciamento em Enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
4.
Matus C. Política, planejamento e governo. Brasília: IPEA; 1996.
5.
Testa M. Pensamento estratégico e lógica de programação: o caso da
saúde. São Paulo: HUCITEC; 1995.
82
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 36
A indústria automobilística Aston-Brasil, com 3000 funcionários, produz veículos
automotores em quantidade para suprir o mercado crescente e com qualidade
para diferenciá-lo de seus competidores. No último trimestre, apresentou alto
índice de acidente de trabalho, acarretando preocupação à administração da
indústria. A assistência à saúde dos trabalhadores sempre foi provida por uma
equipe multiprofissional de saúde, que atua no ambulatório da indústria, cada
profissional atendendo de forma independente em um consultório, sem
interferências de uma área no trabalho da outra. O enfermeiro Nero foi designado,
pela administração, para avaliar a situação. Solicitou à equipe uma reunião para
propor a articulação das ações de saúde para os trabalhadores da indústria e a
integração dos profissionais na construção de planos de ações preventivas em
saúde, o que gerou muitos conflitos na equipe. A administração se dividiu
discutindo duas propostas: a primeira, proibir Nero de reunir a equipe
multiprofissional, pois cada profissional realiza de forma adequada seu trabalho
individualmente, e a segunda, estimular Nero a realizar novas reuniões,
entendendo que a manifestação de conflitos é saudável no trabalho em equipe.
Quais teorias de administração embasam, respectivamente, as propostas
discutidas?
(A)
das Relações Humanas e Científica.
(B)
dos Sistemas e Clássica.
(C) Clássica e Científica.
(D) Estruturalista e das Relações Humanas.
(E)
Científica e Estruturalista.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
83
QUESTÃO 37 - DISCURSIVA
O município Esperança recebeu da Secretaria de Estado da Saúde o Hospital
Casa, que possui 150 leitos ativos para atendimento de média complexidade, com
a proposição de ser submetido ao processo de Acreditação Hospitalar da
Organização Nacional de Acreditação (ONA), ligada ao Ministério da Saúde. A
enfermeira Florence Néri, gerente do Serviço de Enfermagem (SE), reuniu-se com
a equipe de enfermagem do hospital com a finalidade de estabelecer padrões de
qualidade para as unidades do SE. Para se adequarem aos parâmetros da
Acreditação
Hospitalar,
deverão
estabelecer
no
Hospital Casa
padrões
específicos para o serviço.
Apresente para o SE dois padrões de qualidade referentes a estrutura, dois
referentes a processo e dois referentes a resultado.
(valor: 10,0 pontos)
Padrão de resposta:
O graduando deverá descrever dois padrões referentes a estruturas/dois
referentes a processo/e dois referentes a resultado, dentre os abaixo
relacionados: (valor: 10,0 pontos)
Estrutura:
• O SE tem responsável técnico habilitado.
• Existe supervisão contínua e sistematizada por profissional habilitado, nas
diferentes áreas.
• A chefia do serviço de Enfermagem coordena a seleção e dimensionamento da
equipe de Enfermagem.
• Número de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem são adequados
às necessidades de serviço.
• A escala da equipe de enfermagem assegura a cobertura da assistência
prestada e a disponibilidade de pessoal nas 24 horas em atividades
descontinuadas.
• Há registros em prontuário dos procedimentos relativos à assistência de
enfermagem, prescrição médica e à controles pertinentes.
84
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
• Os registros de Enfermagem no prontuário do cliente/paciente são completos,
legíveis e assinados.
Processo:
• O(s)
manual(is)
de
normas,
rotinas
e
procedimentos
do
SE
são
documentado(s), atualizado(s) e disponível(is).
• Os Programas de Educação Permanente e Treinamento continuado são
realizados.
• Existem grupos de trabalho para a melhoria de processos, integração
institucional, análise crítica dos casos atendidos, melhoria da técnica, controle de
problemas, minimização de riscos e efeitos indesejáveis.
• Existem procedimentos voltados para a continuidade de cuidados ao
cliente/paciente e o seguimento de casos.
Resultado:
• Avaliação de procedimentos de Enfermagem e de seus resultados.
• Os Indicadores epidemiológicos são utilizados no planejamento e na definição
do modelo assistencial.
• É realizada a comparação de resultados com referenciais adequados e análise
do impacto gerado junto à comunidade.
• Existem sistemas de aferição da satisfação dos clientes internos e externos.
Autoras: Maria Cristina Lore Schilling e Janete de Souza Urbanetto
Comentário:
A área da saúde tem adotado modelos de gestão voltados para a
qualidade, considerando as constantes modificações no cenário e os desafios na
gestão dos serviços de saúde.
A implementação de programas, visando garantir a qualidade é uma
necessidade na busca da eficiência e um dever ético e moral com os usuários e
trabalhadores, pois toda instituição cuja missão essencial é assistir o ser humano,
deve preocupar-se com a melhoria constante do atendimento.¹
No Brasil, a intensificação dos movimentos para a implantação de sistemas
de qualidade na saúde se deu a partir da década de 90, por meio de um convênio
firmado entre a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Federação
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
85
Latino-Americana de Hospitais para a produção de um manual de Padrões para
Acreditação para a América Latina. Em 2001, foi criada pelo Ministério da Saúde
a Organização Nacional de Acreditação (ONA), como instituição competente e
autorizada a operacionalizar o desenvolvimento da acreditação hospitalar no
Brasil. O instrumento utilizado para o programa Brasileiro de Acreditação
Hospitalar (PBAH) é o Manual das Organizações Prestadoras de Serviços
Hospitalares, o qual define e descreve os padrões de qualidade para os diversos
setores de um hospital. Os padrões são estruturados em três níveis crescentes de
complexidade, os quais devem ser atendidos plenamente.²
O Nível 1 corresponde à estrutura e contempla o atendimento aos
requisitos básicos da qualidade na assistência prestada ao cliente, nas
especialidades e nos serviços da organização de saúde a ser avaliada, com os
recursos humanos compatíveis com a complexidade, a qualificação adequada
(habilitação)
dos
profissionais
e
responsável
técnico
com
habilitação
correspondente para as áreas de atuação profissional.²
O Nível 2 corresponde à processo e contempla evidências de adoção do
planejamento na organização da assistência, referentes à documentação, corpo
funcional (força de trabalho), treinamento, controle, estatísticas básicas para a
tomada de decisão clínica e gerencial e práticas de auditoria interna.²
O Nível 3 corresponde à resultado e contém evidências de políticas
institucionais de melhoria contínua em termos de: estrutura, novas tecnologias,
atualização técnico-profissional, ações assistenciais e procedimentos médico-sanitários, evidências objetivas de utilização da tecnologia de informação,
disseminação global e sistêmica de rotinas padronizadas e avaliadas com foco na
busca da excelência.³
Conforme o Manual das Organizações de Serviços Hospitalares, a equipe
de enfermagem é responsável pela assistência contínua ao paciente nas 24
horas, desde a internação até a alta e que compreende: previsão, organização e
administração de recursos para prestação de cuidados aos pacientes, de modo
sistematizado, respeitando os preceitos éticos e legais da profissão.³
Assim, respondendo à questão da prova, apresenta-se os padrões de
qualidade referentes à estrutura, a processo e a resultado, aplicados ao serviço
de enfermagem.
86
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
No que se refere à estrutura o manual apresenta os seguintes itens de
orientação:³
- Responsabilidade técnica conforme legislação.
- Corpo de Enfermagem, habilitado e/ou capacitado, dimensionado
adequadamente às necessidades do serviço.
- Supervisão contínua e esquematizada por profissional habilitado, nas
diferentes áreas.
- Chefia do serviço coordena a seleção e dimensionamento da equipe de
Enfermagem.
- Escala assegura a cobertura da assistência prestada e a disponibilidade
do pessoal nas 24 horas em atividades descontinuadas.
- Condições operacionais e de infraestrutura que atendem aos requisitos de
segurança para o cliente (interno e externo).
- Procedimentos voltados para a continuidade de cuidados ao paciente.
- Registros de enfermagem no prontuário, completos, legíveis e assinados,
que comprovem a realização da terapêutica medicamentosa, resultados de
intervenções da enfermagem, orientações e cuidados prestados.
- Identificação, gerenciamento e controle de riscos sanitários, ambientais,
ocupacionais e relacionados à responsabilidade civil, infecções e biossegurança.
No que se refere a processo o manual apresenta os seguintes itens de
orientação:³
- Identificação, definição, padronização e documentação dos processos.
- Identificação de fornecedores e clientes e sua interação sistêmica.
- Estabelecimento dos procedimentos.
- Documentação (procedimentos e registros) atualizada, disponível e
aplicada.
- Definição de indicadores para os processos identificados.
- Medição e avaliação dos resultados de processos.
- Programa de educação e treinamento continuado com evidências de
melhoria e impacto nos processos.
- Grupos de trabalho para a melhoria de processos e interação institucional.
No que se refere a resultado o manual apresenta os seguintes itens de
orientação:²
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
87
- Desenvolvimento de um sistema de indicadores de desempenho,
focalizando as perspectivas básicas, com informações íntegras a atualizadas,
incluindo referenciais externos pertinentes.
- Estabelecimento de uma relação causa e efeito entre os indicadores, que
permitam uma análise crítica do desempenho e a tomada de decisão.
- Análise de tendência com apresentação de um conjunto de, pelo menos
três resultados consecutivos.
- Identificação de oportunidades de melhoria de desempenho pelo
processo contínuo de comparação com outras práticas organizacionais, com
resultados positivos.
- Desenvolvimento de sistemas de planejamento e melhoria contínua em
termos de estrutura, novas tecnologias, atualização técnico-profissional e
procedimentos.
O processo de avaliação é voluntário e coordenado pela ONA, por
intermédio de instituições acreditadoras. Essas têm a responsabilidade de
proceder a avaliação e à certificação da qualidade. Ao final do processo de
avaliação, a organização hospitalar receberá a certificação de nível 1, como
Acreditado, de nível 2, como Acreditado Pleno ou de nível 3, como Acreditado
com Excelência.²
Referências
1.
Tronchin DMR, Melleiro MM, Takahashi RT. A qualidade e a avaliação dos
serviços de saúde e de enfermagem. In: Kurcgant P, coordenadora.
Gerenciamento em Enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
2.
Pedrosa TMG, Couto RC. Gestão hospitalar com garantia da qualidade II usando as normas de acreditação. In: Couto RC, Pedrosa TMG. Hospital:
acreditação e gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
3.
Organização Nacional de Acreditação. Manual Brasileiro de Acreditação Manual das Organizações Prestadoras dos Serviços de Saúde. Brasília; 2006.
88
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
QUESTÃO 38 - DISCURSIVA
Na reunião do conselho gestor da Unidade de Saúde da Família São Leopoldo de
um município de pequeno porte um representante dos usuários trouxe a seguinte
situação para discussão:
"Meu vizinho usa cadeiras de rodas há 10 anos. Pensava que boa parte de seus
problemas estavam resolvidos uma vez que, após muita luta, a prefeitura arrumou
transporte especial para deficientes físicos. Assim ele não dependeria tanto da
ajuda de seu filho para algumas atividades. Porém, tentou colher sangue na UBS
e quase não conseguiu por dois motivos:
−
os horários do transporte são poucos e não compatíveis com o horário da
coleta de sangue. Ele chegou atrasado 30 minutos, o que se repetirá todas as
vezes que ele e outros deficientes estiverem nessa situação; e
−
a porta da sala de coleta é muito estreita e a cadeira não passou. Só
conseguiu colher o sangue porque a auxiliar de enfermagem foi muito
atenciosa e colheu o sangue fora do horário e no corredor, recomendando
que da próxima vez ele chegue mais cedo. Ele agradece muito a auxilia,r mas
gostaria de uma solução mais definitiva para este e outros casos
semelhantes."
Um representante dos trabalhadores explicou que: "este não era um problema do
Conselho. O número de cadeirantes é muito pequeno na área e afinal o cliente já
havia sido atendido. Além disso, os exames são feitos em um laboratório regional
e o horário de coleta é definido pelo serviço encarregado de recolher o material
em várias unidades."
Outro usuário discorda afirmando que: "o Conselho tem sim muito a ver com isso,
porque foi criado no SUS para atender as reclamações da população. Não
podemos abrir mão dessa vitória, antes não tínhamos Conselho agora temos!"
a)
Tendo como base as competências de um conselho gestor, a afirmação "...
este não era um problema do Conselho" é correta? Justifique sua resposta.
(valor: 5,0 pontos)
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
89
b)
Apresente uma proposta de encaminhamento que a enfermeira da UBS
poderia adotar para atender a solicitação de "uma solução mais definitiva
para este e outros casos semelhantes". Justifique sua proposta, tomando
como referência as atuais políticas públicas de saúde e alicerçando-se em
um dos conceitos a seguir:
• intersetorialidade
• acessibilidade
(valor: 5,0 pontos)
Padrão de resposta:
O graduando deverá apresentar além da resposta (2 pontos) uma das
seguintes justificativas (3 pontos):
a) Resposta e Justificativa (valor: 5,0 pontos)
Resposta: Não
Justificativa:
É competência do Conselho Gestor:
• Acompanhar, avaliar e fiscalizar os serviços e as ações de saúde prestadas à
população.
• Propor e aprovar medidas para aperfeiçoar o planejamento, a organização, a
avaliação e o controle das ações e dos serviços de saúde.
• Examinar proposta, denúncias e queixas, encaminhadas por qualquer pessoa
ou entidades e a elas responder.
• Definir estratégias de ação, visando à integração do trabalho da Unidade aos
planos locais, regionais, municipal e estadual de saúde, assim como a planos,
programas e projetos intersetoriais.
O graduando deverá apresentar uma proposta (3 pontos) e uma justificativa
(2 pontos) dentre as relacionadas abaixo.
b) Proposta e Justificativa (valor: 5,0 pontos)
Propostas:
• Procurar o serviço municipal de transporte especial e discutir a possibilidade de
horários ou percursos alternativos de transporte.
90
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
• Buscar parcerias no município para efetivar a adequação da área física da
UBS.
• Identificar recursos da comunidade que são alternativos para transporte
solidário.
Justificativa:
• um dos princípios da promoção da saúde é a intersetorialidade entendida como
a articulação de saberes e experiências no planejamento, na realização e na
avaliação de ações, com o objetivo de alcançar resultados integrados em
situações complexas, visando um efeito sinérgico no desenvolvimento social.
• o setor saúde de forma isolada não tem competência para solucionar muitos
dos problemas apresentados pela comunidade por não dispor de instrumentos
próprios para isso.
Propostas:
• adaptação da área física: identificar os locais de acesso possíveis para os
cadeirantes e pessoas com outras deficiências de locomoção que possam ser
adaptados às atividades necessárias para os diferentes tipos de atividades que
esses usuários precisam.
• adaptação das rotinas da UBS - flexibilizar os horários de atendimento no setor
de coleta.
• adaptação das rotinas da UBS - discutir a questão com o laboratório regional.
• sensibilizar funcionários da UBS para a questão do acesso de deficientes na
UBS.
• adequação da área física à legislação pertinente: avaliar com a equipe e os
usuários da UBS a planta física da Unidade, identificar as dificuldades de acesso
de pessoas com diferentes tipos de deficiência e procurando meios de
encaminhamento de reforma do prédio.
Justificativa:
• independente do número de cadeirantes na região os serviços que atendem ao
público devem permitir o acesso de qualquer cidadão. É um direito de todo o
cidadão.
• propiciar a autonomia do indivíduo.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
91
• os serviços de saúde ainda não estão estruturados para atender às
necessidades de pessoas com deficiência, a legislação pertinente ainda não é
bem conhecida pelos trabalhadores da saúde.
Autoras: Olga Rosaria Eidt e Marion Creutzberg
Comentário:
O Conselho Gestor é uma das expressões da participação social previstas
na Lei 8.080/90 e é composto por representantes da comunidade e por
profissionais da equipe de saúde (composição tripartide). Suas competências
incluem planejar, avaliar e controlar a efetiva execução das políticas e das ações
de saúde, na sua área de abrangência, com base nos princípios da
universalidade, da integralidade e da equidade. Portanto, a afirmação do
conselheiro de que "... este não era um problema do Conselho", não é correta,
pois a possibilidade universal de acesso à atenção integral à saúde foi
desconsiderada e reforçada a exclusão desse cidadão1.
Um dos aspectos para a garantia da universalidade é a acessibilidade aos
serviços de saúde. Nesse caso, a acessibilidade por meio do transporte foi
conquistada, mas identifica-se, no relato, que a área física não está adequada à
legislação da acessibilidade. Portanto, há necessidade de que o Conselho Gestor,
por meio de suas competências, busque a solução do problema junto ao
município, para a adequação por meio de reforma. Independente de tal ação, o
estudo da área física pela equipe é indicado, para a identificação de locais que
garantam – ou que possam ser adaptados – à prestação dos serviços de saúde a
cadeirantes ou a pessoas com outras dificuldades de locomoção2.
Já a dificuldade relacionada ao horário do transporte significa um embate
adicional em prol da população que depende dos veículos que permitem a
acessibilidade e envolvem outro setor público – o dos transportes. Nesse caso,
ações intersetoriais, previstas na Lei Orgânica da Saúde, são imprescindíveis. A
intersetorialidade tem por finalidade a implementação de políticas e programas de
interesse da saúde, mas cuja execução é de responsabilidade de outras áreas
não compreendidas pelo SUS e, nesse caso, incluiria a discussão de horários ou
percursos alternativos.
92
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Também cabe nessa situação, na perspectiva do conceito de saúde da 8ª
Conferência, a parceria entre Conselho Gestor, equipe de saúde e a comunidade,
a identificação recursos para transporte solidário.
Referências
1.
Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
2.
Brasil. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
93
QUESTÃO 39 − DISCURSIVA
Lídia, uma estudante do ensino médio, engravidou sem ter planejado. O pai do
bebê, Tiago, tem 20 anos, não estuda e não tem residência fixa, pois foi colocado
para fora de casa quando seu pai descobriu que usava drogas. Os pais de Lídia
estão respaldando-a financeiramente e, por não aceitarem a situação, pediram à
jovem que fosse morar em uma pensão. Apesar de o namoro continuar e de
Tiago estar procurando um emprego, dizendo-se "limpo" das drogas, ele não
assume a paternidade, afirmando que Lídia "nunca foi muito confiável". Os
resultados dos exames laboratoriais de Lídia no primeiro trimestre da gestação
mostraram VDRL e FTA-abs positivos, além de colpocitologia oncótica com
microbiologia sugestiva de Chlamydia sp.
a)
Apresente três ações destinadas a monitorar o tratamento do casal.
(valor: 5,0 pontos)
b)
Lídia poderá amamentar o bebê? Fundamente sua resposta.
(valor: 5,0 pontos)
Padrão de resposta:
O graduando deverá apresentar:
a) Ações destinadas a monitorar o tratamento do casal e a prevenir a
transmissão vertical. (valor: 5,0 pontos)
• Enfatizar a adesão ao tratamento.
• Orientar para que concluam o tratamento (mesmo sem os sintomas ou se os
sintomas ou sinais tiverem desaparecido).
• Informar quanto à necessidade de interromper as relações sexuais até a
conclusão do tratamento e o desaparecimento dos sintomas.
• Oferecer preservativos, orientando sobre as técnicas de uso.
• Encorajar Lídia a comunicar a (os) seus/suas últimos/as parceiro/as sexuais
para que possam ser atendidos e tratados.
• Fornecer à Lídia cartões de convocação para os últimos parceiros (as)
devidamente preenchidos.
• Acompanhar resultados dos exames de controle de cura.
94
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
• Após a cura, usar preservativo em todas as relações sexuais.
• Realizar o controle de cura mensal por meio do VDRL, considerando resposta
adequada ao tratamento o declínio dos títulos (duas titulações em até 6 meses).
• Após o parto, manter o acompanhamento semestralmente em caso de
persistência da positividade, em títulos baixos.
• Avaliar o tratamento realizado, tratamento do parceiro e a presença de
coinfecção pelo HIV ou outras DST para a definição de condutas durante a
gestação.
• Reiniciar tratamento se houver elevação de títulos em quatro ou mais vezes
(ex.: de 1:2 para 1:8), mesmo na ausência de sinais ou sintomas específicos de
sífilis.
• Reiniciar o tratamento em caso de interrupção do tratamento ou em caso de
um intervalo maior do que sete dias entre as séries.
• Assegurar a realização de, no mínimo, seis consultas com atenção integral
qualificada.
• Documentar os resultados das sorologias e tratamento da sífilis na carteira da
gestante.
• Orientar o(s) parceiro(s) sobre a importância de não se candidatar (em) à
doação de sangue.
• Na admissão para parto realizar o VDRL independentemente dos resultados
dos exames realizados no pré-natal.
b) Resposta e Justificativa (valor: 5,0 pontos)
Resposta: Sim.
Justificativa: Não há transmissão da sífilis por meio do leite materno.
Autoras: Heloisa Reckziegel Bello, Simone Travi Canabarro e Marisa Reginatto
Vieira
Comentário:
a) Três ações destinadas a monitorar o tratamento do casal:
1. Inclusão no Programa Pré-Natal
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
95
O diagnóstico de sífilis na gestação requer intervenção imediata para que
se reduza ao máximo a possibilidade de transmissão vertical.1
Para o diagnóstico pré-natal da infecção materna, o rastreamento
sorológico é obrigatório para todas as gestantes. As reações sorológicas
utilizadas são o VDRL e FTA-abs, que são testes com base em antígenos
lipídicos e treponêmicos, sendo a combinação dos dois resultados o melhor
método para a detecção dos vários estágios da doença em gestantes tratadas e
não tratadas. No caso de Lídia, ambos os exames foram positivos, confirmando a
presença da doença.2
A adesão ao tratamento e ao pré-natal para prevenção da evolução da
doença e possibilidade de monitorização nas consultas subsequentes.
A sífilis congênita é um agravo de notificação compulsória, sendo
considerada como verdadeiro evento marcador da qualidade de assistência à
saúde materno-fetal, em razão da efetiva redução do risco de transmissão
transplacentária, sua relativa simplicidade diagnóstica e o fácil manejo
clínico/terapêutico.
Notificação compulsória preconizada, segundo a portaria n°33, de 14 de
julho de 2005 inclui Sífilis em gestante na lista de agravos de notificação
compulsória. (anexo VIII).3
Outras DST’s – Elas podem ocorrer em qualquer momento do período
gestacional. Atenção especial deve ser dirigida ao parceiro sexual, para
tratamento imediato ou encaminhamento para o SAE (serviço atenção
especializada), sempre que houver indicação.
Casos diagnosticados e tratados durante a gestação devem ser
reavaliados no puerpério para verificar a necessidade de rastreamento.
É necessário considerar a associação entre DST e a infecção pelo HIV.1
2. Monitorização durante consultas subsequentes
A realização do VDRL no início do terceiro trimestre permite que o
tratamento materno seja instituído e finalizado até 30 dias antes do parto,
intervalo mínimo necessário para que o recém-nascido seja considerado tratado
intraútero.
3. Adesão do parceiro ao tratamento
O(s) parceiro(s) deve(m) sempre ser testado(s) e tratado(s).
96
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
b) Lídia poderá amamentar o bebê?
Lídia poderá amamentar o bebê, pois não há transmissão da sífilis por
meio do leite materno, geralmente é adquirida por contato sexual, através de
sangue (transfusão) ou transplacentária (em qualquer idade gestacional).
Referências
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas Área técnica de saúde da mulher. Manual
Técnico Pré-Natal e Puerpério: atenção humanizada e qualificada. Brasília, DF:
2006.
2.
Barros, SMO. Enfermagem Obstétrica e Ginecológica: guia para a prática
assistencial. 2ª ed. São Paulo: ROCA, 2009.
3.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa
Nacional de DST e AIDS. Manual de Controle das Doenças Sexualmente
Transmissíveis. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Programa Nacional de DST e AIDS. Brasília: Ministério da Saúde. 2005.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
97
QUESTÃO 40 - DISCURSIVA
João, 23 anos, é motociclista e trabalha realizando entregas rápidas de
documentos. Hoje, quando conduzia sua motocicleta teve uma colisão e foi
ejetado do veículo em que viajava a 70 Km/hora. No momento dessa ocorrência,
ele usava capacete. Estava lúcido na cena, mas o nível de consciência declinou
até a chegada no hospital. O serviço de Atendimento Pré-hospitalar transportou
João até o hospital e na chegada ele já se encontrava com colar cervical, em
prancha longa, com acesso venoso recebendo solução salina isotônica e 3 L/min
de oxigênio por cateter nasal. Na avaliação primária da vítima, seguindo a ordem
de prioridades conhecida como ABCDE, a enfermeira do Pronto Socorro
identificou:
FR = 30 movimentos respiratórios/min;
PA = 96/58 mmHg;
FC = 130 batimentos/min;
Escore da Escala de Coma de Glasgow = 9.
Observou, também, tiragem, presença de restos alimentares na boca da vítima e
cianose de extremidades.
Diante desta situação, cite três condutas prioritárias que devem ser realizadas
imediatamente pelo enfermeiro.
(valor: 10,0 pontos)
Padrão de resposta:
O graduando deverá apresentar pelo menos três das seguintes condutas:
(valor: 10,0 pontos)
• Assegurar via aérea pérvia (aspiração de secreções da cavidade oral,
manobras de abertura de vias aéreas).
• Solicitar imediata avaliação médica.
• Elevar aporte de O2 (máscara facial com 10 a 12 L/min).
• Avaliar e se necessário ajustar a reposição volêmica realizada (volume
infundido, velocidade da infusão, permiabilidade do acesso venosa, manter duas
veias de grosso calibre).
• Monitorização cardíaca.
98
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Autoras: Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo e Isabel Cristina Kern Soares
Comentário:
Abordagem das vias aéreas (aspiração de secreções, manter a
permeabilidade das vias aéreas)
Controle da respiração e ventilação (ventilação com máscara, 10L/min)
Circulação com controle de hemorragia (controle rigoroso de pulso, cor
da pele, enchimento capilar, pressão arterial, sinais de sudorese).
O traumatizado deve ser considerado um paciente potencialmente grave,
por isso, o seu atendimento deve ser imediato considerando-se o ABCDE do
atendimento ao trauma. O paciente do caso descrito acima sofreu uma ejeção do
veículo em que estava, o que aumenta significativamente o padrão das lesões,
expondo o paciente a um maior risco de morte pela associação de um grande
número de mecanismos dessas lesões.1
A - Abordagem das vias aéreas, com imobilização de coluna cervical
(o paciente em questão apresentava colar cervical): a avaliação inicial deve
identificar rapidamente sinais sugestivos de obstrução de vias aéreas, através da
inspeção da cavidade oral e observação de alguns sinais que possam indicar
hipoxemia/hipóxia e obstrução de vias aéreas. Na presença de sinais de
obstrução deve-se proceder a aspiração das vias aéreas e cavidade oral. O
paciente acima já chegou com colar cervical o que indica que manobras de
aberturas das vias aéreas já foram realizadas. O paciente, conforme o caso
descrito acima apresentava tiragem, presença de restos alimentares na boca e
cianose de extremidades, indicando quadro de hipoxemia. Deve-se proceder ao
exame da integridade da coluna cervical, através do exame físico, neurológico e
sinais sugestivos de lesão nessa estrutura, pois alterações do nível de
consciência podem sugerir trauma cervical.1,2
Na chegada do paciente a emergência deve ser solicitada a presença da
avaliação médica para dar continuidade ao cuidado, mas não faz parte do ABCDE
do atendimento:
B - Controle da respiração e ventilação: devemos manter a
permeabilidade das vias aéreas, realizando aspiração de secreções desse
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
99
paciente e ventilar, com máscara e ambú com reservatório, com O2 10L/min, pois
o mesmo também apresenta Glasgow 9 (queda da PO2 ou lesão cervical).1
C - Circulação com controles de hemorragia: o paciente em questão
pode estar apresentando hipovolemia, o que pode justificar a PA = 96/58 mmHg
do paciente em questão. Devemos avaliar nesse caso: pulso, cor da pele,
enchimento capilar, pressão arterial, sinais de sudorese.1
Se necessário e de acordo com a prescrição médica o volume pode ser
administrado, como foi exposto acima outros indicativos de hipotensão devem ser
verificados. Frente à possibilidade de reposição volêmica questões relativas ao
acesso devem ser verificadas como: permeabilidade do acesso, calibre do
acesso, e necessidade de colocação de um outro acesso.
A monitorização cardíaca não faz parte da ABCDE do atendimento, mas
pode ser entendida como parte da avaliação circulatória do paciente, visto que
este encontra-se numa unidade de emergência.
Seguindo a ordem de prioridade do atendimento conhecida como o
ABCDE, os próximos cuidados envolvem:
D - Avaliação do estado neurológico: uma rápida avaliação do padrão
neurológico deve determinar o nível de consciência e a reatividade pupilar do
traumatizado. A escala de coma de Glasgow pode ser usada na cena do acidente
e em uma avaliação secundária. Na avaliação inicial usamos o método proposto
pelo ATLS: A-Alerta, V-Resposta ao estímulo verbal, D-Responde a estímulo
doloroso, I-Inconsciente.1
E - Exposição do paciente com controle de hipotermia: o paciente
traumatizado deve ser completamente despido de suas vestes para facilitar o
exame completo e a determinação de lesões que podem representar risco de
morte. A proteção do paciente contra hipotermia é de suma importância, pois
cerca de 43% dos pacientes desenvolvem este tipo de alteração durante a fase
de atendimento inicial, com redução de 1ºC a 3ºC, comprometendo o tratamento
por aumentar a perda de calor.1
A avaliação primária, realizada nesse primeiro momento, não exclui que
seja feita uma avaliação secundária após uma maior estabilização do quadro do
paciente, envolvendo história de saúde, exame físico completo, etc.2
100
Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
Referências
1.
Acidente automobilístico. Disponível em
http://www.bombeirosemergencia.com.br/acidentransito.htm acesso em 11/9/2009
às 20h18.
2.
Enfermagem de emergência. Série incrivelmente fácil. edo Lippincott, W &
Wilkins Rio de Janeiro:Guanabara Koogan; 2008.
3.
Bergeron, JD, Bizjak, G; Krause, G, Baudour, C. Primeiros Socorros. 2ª ed.
São Paulo: Atheneu, 2007.
ENADE Comentado 2007: Enfermagem
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LISTA DE CONTRIBUINTES
Ana Elizabeth Prado Lima Figueiredo
Andréia da Silva Gustavo
Beatriz Regina Lara dos Santos
Beatriz Sebben Ojeda
Fátima Rejane Ayres Florentino
Heloisa Reckziegel Bello
Isabel Cristina Kern Soares
Janete de Souza Urbanetto
Karen Ruschel
Karin Viegas
Maria Cristina Lore Schilling
Marion Creutzberg
Marisa Reginatto Vieira
Olga Rosaria Eidt
Simone Travi Canabarro
Valéria Lamb Corbellini
Vera Beatriz Delgado
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Beatriz Sebben Ojeda et al. (Orgs.)
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