DEISE BRESAN
TEMPO MÉDIO DE JEJUM EM CIRURGIAS ELETIVAS DE PEQUENO E MÉDIO
PORTE EM UM HOSPITAL DA CIDADE DE GUARAPUAVA, PR
Guarapuava
2009
DEISE BRESAN
TEMPO MÉDIO DE JEJUM EM CIRURGIAS ELETIVAS DE PEQUENO E MÉDIO
PORTE EM UM HOSPITAL DA CIDADE DE GUARAPUAVA, PR
Trabalho de Conclusão de Curso a ser
apresentado ao Departamento de
Nutrição da Universidade Estadual do
Centro-Oeste, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em
Nutrição.
Orientadora: Professora Ms. Silvana
Franco.
Guarapuava
2009
2
TEMPO MÉDIO DE JEJUM EM CIRURGIAS ELETIVAS DE PEQUENO E MÉDIO
PORTE EM UM HOSPITAL DA CIDADE DE GUARAPUAVA-PR
AVERAGE TIME OF FASTING IN SMALL AND MEDIUM SIZE ELECTIVE
SURGERIES IN A HOSPITAL IN THE CITY OF GUARAPUAVA-PR
Autoras: BRESAN, Deise1, FRANCO, Silvana2
RESUMO
Objetivo: Verificar o tempo médio de jejum ao qual são submetidos pacientes de um
hospital da cidade de Guarapuava-PR, em cirurgias eletivas, de pequeno e médio
porte. Metodologia: Participaram do estudo 27 pacientes com idade entre 20 e 59
anos, com cirurgia programada. O tempo de jejum foi estabelecido através de
consulta ao prontuário médico. A avaliação nutricional foi realizada através do
método antropométrico. A análise de dados foi feita pelo software Microsoft Excel®,
por meio de estatística descritiva para as variáveis contínuas. Para comparação de
médias paramétricas utilizou-se o teste T de Student, fixando-se como nível de
significância p<0,05. Resultados: O tempo médio de jejum encontrado foi de
27,88±9,83 horas, sendo 18,33±3,22 horas no período pré-operatório e 9,55±8,35
horas no pós-operatório. A justificativa médica para o jejum pré-operatório foi o risco
de aspiração pulmonar causado pela anestesia geral ou anestesia regional com
sedação. Os indivíduos submetidos às cirurgias do sistema osteomuscular
permaneceram 23,22±4,29 horas sem alimentação, os que realizaram cirurgias do
aparelho digestivo, órgãos anexos e parede abdominal ficaram 38,88±7,34 horas em
jejum, e os que fizeram cirurgias do aparelho circulatório permaneceram 23,3±8,3
horas sem receber alimentação. Conclusão: Apesar das diversas recomendações e
estudos que comprovam que a ingestão moderada de líquidos claros sem resíduos
até duas horas antes do procedimento cirúrgico não aumenta os riscos de aspiração
pulmonar, ainda persiste a prática de jejum prolongado via oral, desde o dia ou a
noite que antecede a cirurgia.
Palavras-chave: jejum, cirurgia, estado nutricional.
ABSTRACT
Objective: To verify the fasting average time which patients are submitted in a
hospital in the city of Guarapuava-PR, in small and medium size elective surgeries.
Methodology: 27 patients from 20 to 59 years old took part in the study with
programmed surgery. The fasting time was established through medical prontuary
1
Acadêmica do 4º ano do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste.
Nutricionista. Mestre em Enfermagem em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Professora do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste.
2
3
analysis. Nutritional evaluation was accomplished by the antropometric method. Data
analysis was done using Microsoft Excel® software, through descriptive statistic for
continuous variables. In order to compare of the parametric measurements, it was
used the Student’s T-test, establishing as significance p<0,05 level. Results: The
fasting average time was 27,88±9,83 hours, being 18,33±3,22 hours in the pre
operation period and 9,55±8,35 hours in the post operation. The medic justification
for the pre operation fasting was the risk of lung aspiration caused by the general or
partial anesthesia with sedation. The individuals undergone ostheomuscular surgery
remain 23,22±4,29 hours without eating, the ones who were operated on the
digestive system, attached organs and abdominal wall remained 38,88±7,34 hours
on fasting, and the ones who were operated on the circulatory system remained
23,3±8,3 without eating. Conclusion: In spite of several recommendations and
studies proving that the moderated ingestion of no residual liquids until two hours
before the surgery procedure does not increase the risks of lung aspiration, besides
that it endures the practice of extended oral fasting since the day or the night that
precedes the surgery.
Keys Words: fasting, surgery, nutritional state.
INTRODUÇÃO
A palavra jejum deriva do latim jejunu, e significa estar sem comer. O jejum é
caracterizado pela ausência da ingestão de alimentos e nutrientes por mais de seis
horas. É utilizado frequentemente em pacientes hospitalizados no preparo para
exames diagnósticos e em períodos pré-operatórios, e voluntariamente, por motivos
religiosos ou greve de fome 1,2,3.
A prática do jejum pré-operatório se difundiu principalmente a partir de 1946,
quando Mandelson relacionou alimentação com aspiração pulmonar durante um
parto com anestesia geral. Desde então, a técnica do jejum pré-operatório passou a
ser amplamente utilizada e tomada como verdade. Nessa época, as técnicas
anestésicas eram rudimentares, o que aumentava a probabilidade de haver
aspiração 4,5.
O objetivo do jejum pré-cirúrgico é diminuir o grau de regurgitação do
conteúdo gástrico, prevenindo a aspiração pulmonar e suas conseqüências. Com o
passar dos anos os processos anestésicos foram se aperfeiçoando, e hoje contam
com avançada tecnologia. Assim, o jejum pré-operatório desde a noite que antecede
a cirurgia vem sendo questionado, uma vez que o tempo de esvaziamento gástrico
de líquidos claros é relativamente pequeno, e provavelmente haja necessidade de
um volume gástrico superior a 200 mililitros para que ocorra aspiração pulmonar
5,6
.
4
Além disso, o jejum prolongado pode levar à depleção do estoque de glicogênio.
Com isso, a glicemia passa a ser mantida somente pela gliconeogênese, o que
significa um custo metabólico importante, pois esta via está relacionada à perda
significativa de massa muscular e de tecido adiposo. Esse quadro pode ter grande
impacto no estado nutricional dos pacientes, principalmente em indivíduos que já
estão desnutridos. Dessa maneira, a orientação de jejum após a meia noite do dia
que antecede o procedimento cirúrgico, tem sido substituída por novas
recomendações 7,8,9.
A Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA)10, após revisão de diversos
estudos, elaborou um guia sobre o jejum pré-operatório, no qual recomenda:
- Jejum de 2 horas: líquidos claros sem álcool e com um pouco de açúcar;
- Jejum de 4 horas: leite materno para recém nascidos e lactentes;
- Jejum de 6 horas: dieta leve e leite não materno;
- Jejum de 8 horas: alimentos gordurosos, frituras e carnes.
A
Sociedade
Canadense
de
Anestesiologistas,
também
faz
essa
recomendação. No Brasil, a Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo
apenas difere na recomendação de jejum para o leite não materno, apontando para
8 horas de jejum pré-operatório 11,12.
Estudos realizados por Diks et al13 e Henriksen et al14 mostram que a ingestão
de líquidos sem resíduos, até duas horas antes da cirurgia, não apresenta maior
ocorrência de broncoaspiração. Além disso, esse procedimento diminui a resistência
hepática à insulina e as perdas de nitrogênio do primeiro ao terceiro dia pósoperatório.
Além do tempo de jejum pré-operatório, principalmente em cirurgias do trato
digestivo, o paciente permanece mais um longo período sem receber alimentação,
devido ao jejum pós-operatório, prescrito até que ocorra a eliminação de flatos ou
evacuações. Essa prática não apenas contribui para a piora do estado nutricional de
pacientes previamente desnutridos, mas também aumenta o tempo de permanência
hospitalar 15.
Estudo realizado por Aguilar-Nascimento et al16 mostrou que o retorno da
dieta no primeiro dia pós-operatório de operações abdominais eletivas, apresentou
com sucesso, e não foi prejudicial aos pacientes.
Neste contexto, o objetivo do presente estudo foi verificar o tempo médio de
jejum o qual são submetidos pacientes de um hospital da cidade de Guarapuava-
5
PR, em cirurgias eletivas, de pequeno e médio porte, no intuito de conhecer a
prática de jejum utilizada e promover maior qualidade de vida e bem estar aos
pacientes.
METODOLOGIA
O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Ofício nº 043/2009–
COMEP/UNICENTRO) (Anexo 1).
A pesquisa foi conduzida em um hospital da cidade de Guarapuava-PR,
durante os meses de junho e julho de 2009. Foram avaliados 27 pacientes adultos,
submetidos à cirurgia eletiva de pequeno e médio porte, internados pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
Para serem inclusos no estudo os pacientes deveriam ter cirurgia agendada
com no mínimo uma semana de antecedência, realizar a internação no dia anterior a
cirurgia, ter idade entre 20 e 59 anos, e concordar em participar do estudo por meio
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 1).
O instrumento utilizado para coleta de dados foi elaborado com base nas
informações necessárias para a execução do estudo (Apêndice 2).
Para conhecer o tempo de jejum ao qual o paciente submeteu-se, foi
consultado o prontuário médico. Este tempo foi também confirmado com o paciente.
O perfil nutricional dos pacientes foi traçado através da antropometria no
período anterior a cirurgia. Para tanto, utilizou-se balança digital da marca Britânia®,
com capacidade para 150 Kg e visor digital com escala de 100 g. A altura (m) e
circunferência do braço (CB) foram medidas com fita métrica flexível e inextensível
com variação em centímetros. A prega cutânea tricipital (PCT) foi aferida com
adipômetro clínico da marca Cescorf®, com variação em milímetros.
Por meio da CB e PCT calculou-se a circunferência muscular do braço (CMB).
Os resultados encontrados de CB, PCT e CMB foram comparados ao percentil 50,
de acordo com sexo e idade, conforme preconiza Frizancho17. Através do peso e
altura foi estabelecido o Índice de Massa Corporal (IMC) e classificado de acordo
com a Organização Mundial da Saúde18, em desnutrição (IMC <18,5 Kg/m²), eutrofia
(IMC entre 18,5 e 24,9 Kg/m²), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9 Kg/m²) e obesidade
(IMC >30 Kg/m²).
6
As cirurgias em que os indivíduos se submeteram foram classificadas de
acordo com o Ministério da Saúde19, em cirurgia do sistema osteomuscular, cirurgia
do aparelho digestivo, órgãos anexos e parede abdominal e cirurgia do aparelho
circulatório.
A análise de dados foi feita através do software Microsoft Excel®, por meio de
estatística descritiva para as variáveis contínuas, estabelecendo-se média, desviopadrão e freqüências relativas. Para comparação de médias paramétricas, utilizouse o teste T de Student, fixando-se como nível de significância p<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 27 pacientes dos quais 19 (70,37%) eram no sexo
feminino e 8 (29,62%) do sexo masculino. A média de idade entre as mulheres foi de
38,78±10,89 anos, e entre os homens 42,12±12,93 anos. A média de idade entre
todos os pacientes estudados foi de 39,77±11,38 anos (Tabela 1).
Tabela 1 – Caracterização dos pacientes estudados (N=27).
N
Idade (anos)
Feminino
Masculino
Total
19 (70,37%)
8 (29,62%)
27 (100%)
38,78 ± 10,89
42,12 ± 12,93
39,77 ± 11,38
Gráfico 1 – Tipos de cirurgias realizadas* (N=27).
10 (37,03%)
9 (33,33%)
8 (29,62%)
10
9
8
7
6
N 5
4
3
2
1
0
Sistema
Osteomuscular
Aparelho Digestivo,
Órgãos Anexos e
Parede Abdominal
Aparelho
Circulatório
* Conforme classificação da Tabela Unificada de Procedimentos, Medicamentos e Insumos
17
Estratégicos do SUS .
7
Do total de 27 cirurgias, 9 (33,33%) corresponderam à cirurgias do sistema
osteomuscular, 8 (29,62%) à cirurgias do aparelho digestivo, órgãos anexos e
parede abdominal, e 10 (37,03%) à operações do aparelho circulatório (Gráfico 1).
Com relação ao estado nutricional dos pacientes, avaliado pelo método
antropométrico, 51,85% dos indivíduos estavam eutróficos. Dos demais, 3 (11,11%)
pacientes estavam desnutridos, 3 (11,11%) apresentaram sobrepeso e 7 (25,93%)
estavam obesos (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Estado Nutricional dos indivíduos estudados (N=27).
14 (51,85%)
14
12
10
7 (25,93%)
8
N
6
3 (11,11%)
3 (11,11%)
4
2
0
Desnutrição
Eutrofia
Sobrepeso
Obesidade
Estudo realizado por Mourão et al20 avaliou o estado nutricional de 100
pacientes por meio da antropometria, e verificou que 48% dos pacientes estavam
eutróficos, 7% deles estavam desnutridos, e
45% apresentavam sobrepeso ou
obesidade. Números parecidos aos encontrados neste estudo.
O tempo médio de jejum observado neste estudo foi de 27,88±9,83 horas, o
que corresponde a uma média de 18,33±3,22 horas de jejum pré-operatório e
9,55±8,35 horas de jejum no período pós-operatório (Tabela 2). Quando comparados
os
tempos
de
jejum
pré
e
pós-cirúrgico,
observa-se
que
há
diferença
estatisticamente significante entre esses períodos (p<0,01).
O tempo de jejum pré-operatório encontrado em um estudo realizado nos
Estados Unidos, com pacientes submetidos a cirurgias eletivas foi em média 11,7
horas. Desses pacientes, 67% permaneceram no mínimo 12 horas em jejum antes
da cirurgia, e 50% deles permaneceram mais de 14 horas sem alimentação21. Já os
pacientes avaliados neste estudo, 100% permaneceram mais de 14 horas em jejum
pré-operatório.
8
O motivo relatado pela equipe médica para o jejum pré-operatório foi o risco
de aspiração pulmonar causado pela anestesia geral ou anestesia regional com
sedação.
Tabela 2 – Tempo de médio de jejum (N=27).
Média (horas)
Desvio-padrão (DP)
Jejum pré-operatório
18,33
± 3,22
Jejum pós-operatório
9,55
± 8,35
Tempo total de jejum
27,88
± 9,83
O tempo médio de jejum pré-operatório encontrado no estudo foi
relativamente longo (18,33±3,22 horas), visto que a ASA, a CAS e a SAESP
recomendam um jejum de duas horas para líquidos claros sem álcool e com um
pouco de açúcar. Mesmo alimentos gordurosos e carnes, que levam um tempo
maior para serem digeridos, podem ser consumidos até 8 horas antes do
procedimento cirúrgico, de acordo com as recomendações 10,11,12.
Uma pesquisa de nível nacional realizada nos Estados Unidos com
anestesiologistas, mostrou que 62% deles orientavam seus pacientes a ingerir
líquidos claros duas ou três horas antes de cirurgias eletivas. Por outro lado, 35%
dos participantes relataram orientar os pacientes a fazer uma refeição leve seis
horas antes da cirurgia22.
Em um estudo realizado por Henriksen et al14 sobre os efeitos da
administração oral de carboidratos no pré-operatório, envolvendo 48 pacientes com
enfermidades gastrointestinais, mostrou que os pacientes que receberam a solução
de carboidratos apresentaram menor resistência hepática à insulina e diminuição
das perdas de nitrogênio, do primeiro ao terceiro dia pós-operatório.
Além disso, Diks et al13 mostram em um estudo sobre o jejum pré-operatório,
que a ingestão de líquidos sem resíduos, até duas horas antes da cirurgia, não
apresenta maior ocorrência de broncoaspiração.
A ingestão de nutrientes no pré-operatório imediato, principalmente de
carboidratos tem mostrado benefícios, como menor resistência hepática à insulina,
capaz de diminuir a resposta orgânica ao estresse 23.
9
O jejum pós-operatório não é regra, e varia de acordo com a cirurgia.
Pacientes submetidos a operações de grande porte do trato digestivo, geralmente
permanecem um longo período pós-cirúrgico em jejum, porém, a alimentação
precoce tem se mostrado segura, mesmo quando oferecida entre 4 e 12 horas após
a operação 24, 25, 15.
Visto isso, verificando o tempo médio de jejum pós-operatório das cirurgias
digestivas, órgãos anexos e parede abdominal (Tabela 3), foi constatado um jejum
de 18,25±5,97 horas, tempo relativamente longo, já que as cirurgias são apenas de
pequeno e médio porte.
Durante esse período de jejum geralmente os pacientes recebem hidratação
venosa sem aporte protéico e com um mínimo de calorias. Sendo assim, as
necessidades energéticas e protéicas aumentadas pelo trauma cirúrgico não são
atingidas, o que leva o indivíduo a apresentar balanço nitrogenado negativo. Este
quadro pode prejudicar a evolução do paciente, aumentando o tempo de
permanência hospitalar e os riscos de morbimortalidade
16
. Além disso, a
cicatrização adequada dos tecidos e a resistência às infecções dependem do
fornecimento adequado de macro e micronutrientes 26.
Um estudo realizado por Aguilar-Nascimento et al16 mostrou que o tempo
médio de jejum pré-operatório em cirurgias abdominais eletivas foi de 16 horas,
tempo inferior ao encontrado neste estudo, no qual o tempo médio de jejum préoperatório foi de 20,63 horas (Tabela 3) para cirurgias abdominais.
O jejum pré-operatório nas cirurgias do sistema osteomuscular e circulatório
foi em média 17 horas, não apresentando diferença estatisticamente significante
quando comparados entre si (p=0,47).
Tabela 3 – Tempo médio de jejum em cada grupo de cirurgia (N=27).
Jejum pré-
Jejum pós-
Tempo total
operatório
operatório
de jejum
Média (horas)
Média (horas)
Média (horas)
Sistema Osteomuscular (SOM)
17,33 ± 3,16
5,89 ± 3,72
23,22 ± 4,29
Aparelho Digestivo, Órgãos
20,63 ± 3,89
18,25 ± 5,97
38,88 ± 7,34
17,4 ± 1,65
5,9 ± 8,13
23,3 ± 8,3
Anexos e Parede Abdominal (AD)
Aparelho Circulatório (AC)
10
Porém, quando comparado o tempo de jejum pré-cirúrgico de cirurgias do
sistema osteomuscular com cirurgias do aparelho digestivo, a diferença foi
estatisticamente significante (p=0,03), assim como quando comparado as cirurgias
do aparelho circulatório com as cirurgias do aparelho digestivo (p=0,01) (Tabela 4).
O mesmo ocorre no jejum pós-operatório, não há diferença estatisticamente
significativa quando comparado às cirurgias do sistema osteomuscular e aparelho
circulatório (p=0,49), mas quando se compara as cirurgias do sistema osteomuscular
com o aparelho digestivo, e do aparelho circulatório com o aparelho digestivo, há
diferença estatisticamente significante (p<0,01; p<0,01) (Tabela 4).
Tabela 4 – Comparação entre os períodos de jejum em cada grupo de cirurgia.
Jejum pré-
Jejum pós-
Tempo total
operatório
operatório
de jejum
SOM X AD
p=0,03
p<0,01
p<0,01
SOM X AC
p=0,47
p=0,49
p=0,49
AC X AD
p=0,01
p<0,01
p<0,01
AD X SOM + AC
p<0,01
p<0,01
p<0,01
Dessa forma, percebe-se que o tempo de jejum nas cirurgias do aparelho
digestivo, órgãos anexos e parede abdominal é significativamente maior quando
comparado às cirurgias do sistema osteomuscular e aparelho circulatório.
Tabela 5 – Tempo médio de jejum de acordo com o estado nutricional.
Jejum pré-operatório
Jejum pós-operatório
Tempo total de jejum
Média (horas)
Média (horas)
Média (horas)
17 ± 1
2,33 ± 1,52
19,33 ± 2,08
Eutróficos
18,42 ± 3,08
8,64 ± 7,86
27,07 ± 9,53
Sobrepeso
20 ± 2,64
20,33 ± 6,35
40,33 ± 6,02
Obesos
18 ± 4,39
9,85 ± 8,25
27,85 ± 9,65
Desnutridos
A Tabela 5 mostra o tempo médio de jejum de acordo com o estado
nutricional. Os pacientes obesos permaneceram 27,85±9,65 horas em jejum e os
11
que apresentaram sobrepeso permaneceram 40,33±6,02 horas sem alimentação,
quando somados os períodos pré e pós-operatório.
Os indivíduos desnutridos ficaram em jejum durante 19,33±2,08 horas, e
pacientes eutróficos durante 27,07±9,53 horas (Tabela 5). Percebe-se que o tempo
de jejum não está relacionado ao estado nutricional do indivíduo, mas sim à cirurgia
que o mesmo realizou. Todos os pacientes com sobrepeso, que permaneceram o
maior tempo sem alimentação, realizaram cirurgias do aparelho digestivo, órgãos
anexos e parede abdominal. O mesmo se observa nos indivíduos desnutridos, que
permaneceram o menor tempo em jejum, todos realizaram cirurgias do sistema
osteomuscular ou cirurgias do aparelho circulatório.
O jejum desde a noite que antecede a cirurgia contribui significativamente
para o aumento das complicações pós-operatórias, devido ao estado de catabolismo
induzido, podendo ocasionar alterações metabólicas e nutricionais, além de
contribuir para o aumento da desnutrição hospitalar 27,3.
A administração de suplementos orais no pré-operatório pode atenuar a perda
de peso no período pós-cirúrgico, o que seria benéfico aos pacientes que estão em
risco nutricional
28
. Além disso, o jejum pode ser bastante desconfortável a qualquer
paciente, independente do seu estado nutricional
29
. No hospital onde o estudo foi
realizado não havia a administração de suplementos no pré-operatório.
Quando o paciente é submetido ao jejum prolongado, predominando o
glucagon sobre a insulina, o organismo ativa a glicogenólise e o fígado passa a
exportar a glicose armazenada. Porém, essa reserva é limitada, e em algumas horas
seu estoque acaba, iniciando, portanto, a gliconeogenese. Quando a glicemia passa
a ser mantida apenas por esta via, há um elevado custo metabólico, pois, a síntese
de glicose na gliconeogenese tem como principais precursores os aminoácidos
advindos do músculo esquelético, glicerol advindo da mobilização de triglicerídeos
do tecido adiposo e lactato advindo das hemácias 8.
Esse quadro tem, portanto, impacto no estado nutricional dos indivíduos,
principalmente aqueles que já apresentam risco nutricional 7.
A hipótese de que a administração de carboidratos anterior à cirurgia interfira
nessa resposta orgânica pode ser vista em um estudo com ratos, no qual os animais
submetidos a jejum de 6 a 24 horas apresentaram capacidade inferior de tolerar o
trauma, quando comparados a ratos que receberam carboidratos 30.
12
Estudo realizado com 20 pacientes submetidos à colecistectomia mostrou que
aqueles que receberam, na noite anterior à cirurgia, 5mg/Kg/minuto de carboidrato
via endovenosa, tiveram redução de 50% na resistência periférica à insulina, quando
comparados a pacientes em jejum por 12 horas 31.
Em outro estudo, no qual houve ingestão via oral de solução de carboidratos
a 12,5% na noite anterior à operação e duas horas antes da indução anestésica,
também demonstrou-se diminuição da resistência periférica à insulina 23.
Essa diminuição da resistência periférica à insulina é fundamental, visto que a
hiperglicemia está associada ao aumento das complicações infecciosas em
pacientes cirúrgicos 32.
Novamente verifica-se que o tempo de jejum pré-operatório observado neste
estudo (18,33±3,22 horas) foi elevado quando comparado ao tempo de jejum
recomendado e benéfico aos pacientes.
A mudança das práticas de jejum prolongado requer atualização dos
profissionais e inserção de um novo protocolo para jejum em cirurgias na unidade
hospitalar.
CONCLUSÃO
O tempo de jejum para procedimentos cirúrgicos é um fator que pode interferir
na evolução dos pacientes, como mostram os estudos citados. Com esta pesquisa
pode-se perceber que, apesar das diversas recomendações das sociedades de
anestesiologia e dos estudos que apontam não haver maior risco de aspiração
pulmonar quando ingerido líquidos claros sem resíduos até duas horas antes da
operação, ainda há a prática de jejum prolongado, desde a noite ou dia que
antecede a operação.
Sabe-se que no jejum o indivíduo apresenta um estado de catabolismo
induzido, onde seu estado nutricional pode ser afetado, principalmente quando já se
encontra desnutrido, ou apresenta risco de desnutrição. Portanto, é necessário que
as recomendações de jejum para cirurgia sejam seguidas, no intuito de promover o
bem-estar do paciente, através de práticas seguras e confortáveis.
13
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ANEXOS E APÊNDICES
Anexo 1 – Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Estadual do Centro-Oeste (COMEP)
Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome da pesquisa: Estado nutricional de pacientes adultos internados na clínica médica pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) com cirurgia programada, analisando os fatores que podem
influenciar no retardo da cicatrização e/ou recuperação pós-cirúrgica
Estaremos realizando uma pesquisa no Hospital de Caridade São Vicente de Paulo na cidade
de Guarapuava, PR, vinculada a Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, intitulada
“Estado nutricional de pacientes adultos internados na clínica médica pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) com cirurgia programada, analisando os fatores que podem influenciar no retardo da
cicatrização e/ou recuperação pós-cirúrgica”. O objetivo desta pesquisa é avaliar o estado nutricional
nos pacientes adultos internados na clínica médica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com cirurgia
programada, analisando os fatores que podem influenciar no retardo da cicatrização e/ou
recuperação pós-cirúrgica.
Se concordar com sua participação ou com a participação do(a) paciente que é responsável,
garantimos o sigilo das informações, isto é, não serão identificados o nome do paciente nem o da
pessoa responsável por ele, quando for este o caso. Os resultados da pesquisa serão divulgados por
meio de trabalho científico em revistas especializadas ou em Congressos na área da saúde, sempre
preservando a ética. Também não haverá gastos sendo que, poderá retirar sua concordância sem
que isso traga prejuízos ao senhor (a). Obrigada pela colaboração.
Pesquisadora Responsável: Profª.Ms. Silvana Franco Kmetiuk – Docente do Departamento de
Nutrição da UNICENTRO.
Endereço: Rua dos Girassóis, nº 17, Pérola do Oeste, Guarapuava – Pr.
___________________________________
Silvana Franco Kmetiuk – Pesquisadora Responsável
Guarapuava, _____ de ____________ de _______.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO
Nome da pesquisa: Estado nutricional de pacientes adultos internados na clínica médica pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) com cirurgia programada, analisando os fatores que podem
influenciar no retardo da cicatrização e/ou recuperação pós-cirúrgica
Eu, ________________________________________, concordo com minha participação ou
do paciente pelo qual sou responsável no estudo “Estado nutricional de pacientes adultos internados
na clínica médica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com cirurgia programada, analisando os
fatores que podem influenciar no retardo da cicatrização e/ou recuperação pós-cirúrgica”, estando
ciente de que estou livre para em qualquer momento desistir de colaborar sem nenhuma espécie de
prejuízo. Recebi uma cópia deste documento e tive a oportunidade de discuti-lo com a pesquisadora
responsável.
________________________________________________________
Assinatura do paciente ou seu responsável (no caso de incapacidade física e/ou mental do
paciente assinar).
Guarapuava, _____ de ____________ de _______.
Apêndice 2 – Ficha para coleta de dados
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE / UNICENTRO
SETOR DE CIENCIAS DA SAÚDE / SES / G
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO / DENUT / G
FICHA PARA COLETA DE DADOS
1 Nº ficha: _____
2 Data avaliação nutricional: ____/____/ ____ 3 Data cirurgia: ____/____/ ____
4 Nome do paciente: ________________________________ 5 Data nasc: ____/____/ ____
6 Data de admissão: ____/____/ ____ 7 Clínica: __________________ 8 Leito: ________
9 Diagnóstico clínico: ________________________________
10 Cirurgia realizada: ________________________________
11 Período pré-operatório:
Jejum:
( ) Sim
( ) Não
- Quanto tempo? ______________________
- Última refeição prévia ao jejum: _________________________
__________________________________________________________________________
12 Período pós-operatório:
Jejum: ( ) Sim
( ) Não
- Quanto tempo? ______________________
- Característica da primeira refeição pós-período de jejum:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
13. Motivo do Jejum pré-operatório:
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
14 Avaliação Antropométrica:
Peso atual:
Peso usual:
Peso ideal:
Altura:
IMC:
CB:
PCT:
CMB:
17 Diagnóstico Nutricional: ______________________________
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Tempo médio de jejum em cirurgias eletivas de pequeno e médio