UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JOICE CRISTINA DA SILVA Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL - COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA BRASILEIRA ITAJAÍ 2012 JOICE CRISTINA DA SILVA Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL - COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA BRASILEIRA Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadores: Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani e Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos ITAJAÍ 2012 2 Agradeço a minha família pelo amor, pela educação e por tudo que me proporcionou para alcançar meus objetivos. Agradeço meus amigos, os professores do curso de Comércio Exterior, meus orientadores Prof.ª MSc. Jacqueline M. F. Furlani e Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos e a Prof.ª MSc. Natalí Nascimento por todo apoio. “O valor da escolha de nossa comida é o que de mais poderoso e comunicativo temos à mão. A escolha do que adquirir e consumir, neste mundo em que conta sobretudo o lucro, é o primeiro ato político significativo que podemos fazer na vida.” (Carlo Petrini) EQUIPE TÉCNICA a) Nome do estagiário Joice Cristina da Silva b) Área de estágio Economia Brasileira e Internacional c) Orientador de conteúdo Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos d) Responsável pelo Estágio Prof.ª MSc. Natalí Nascimento RESUMO A atividade agropecuária é de grande importância para a economia brasileira e uma das primeiras áreas a serem desenvolvidas no país, que possui uma configuração climática favorável para esta atividade. Todavia, devem ser considerados os relevantes impactos negativos decorrentes tanto da agricultura convencional, quanto da pecuária que, dependendo do sistema de produção estão relacionados a impactos mais expressivos, em virtude das práticas e técnicas utilizadas. A grande utilização e degradação dos recursos naturais afeta, direta ou indiretamente, as atividades econômicas e sociais, a saúde e o bem-estar da população, bem como a própria sobrevivência humana. Ressalta-se, um grande desafio para o setor que, de um lado precisa continuar a produzir para gerar desenvolvimento econômico e suprir a demanda por alimentos e, de outro deve preservar o meio ambiente e proporcionar saúde e bem-estar. Neste contexto, a agricultura orgânica surge como uma alternativa. O Brasil, com grande potencial de expansão deste padrão de produção agrícola, vem acompanhando o crescimento do setor frente às exigências e normas rígidas do mercado internacional, principalmente Europa e Estados Unidos que são os maiores importadores de produtos orgânicos. O presente Trabalho de Iniciação Científica teve como objetivo traçar um panorama mundial da agricultura orgânica e as perspectivas de desenvolvimento dessa atividade no contexto brasileiro. O objetivo foi atingido com a apresentação de aspectos históricos da evolução do consumo e da demanda de produtos da agricultura orgânica e levantamento de dados estatísticos sobre a produção e a comercialização. Constatou-se por fim a relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira e a existência de efetivas oportunidades para o desenvolvimento do setor, mas não sem riscos, requerendo a participação constante dos governos e organismos relacionados em iniciativas a fim de dar subsídios, assistência e contribuir para a harmonização das normas internacionais para facilitar a comercialização entre os países. Palavras-chave: Agricultura Orgânica. Economia Brasileira. Mercado Internacional. LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Países com maior porcentagem de agricultura orgânica em relação a convencional em 2007 33 Gráfico 2 - Receitas em bilhões de dólares entre 1999 e 2007 do mercado global de orgânicos 34 Gráfico 3 – Vendas totais de produtos orgânicos no Brasil 42 Figura 1 – Principais selos de certificação 51 Gráfico 4 – Proporção dos estabelecimentos produtores de orgânicos certificados e não certificados no total de estabelecimentos orgânicos, por grupo de área – Brasil – 2006 56 Gráfico 5 – Porcentagem de produtores com agropecuária orgânica por região 57 7 LISTAS DE TABELAS Tabela 1 - Produtividade na indústria têxtil de algodão no Reino Unido 19 Tabela 2 – Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional 28 Tabela 3 – As 10 maiores empresas de agrotóxicos no mundo em 2007 29 Tabela 4 – Sementes Transgênicas: as empresas dominantes no mundo em 2000 30 Tabela 5 – Certificadoras nacionais e internacionais e sua creditação 42 Tabela 6 – Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006 46 Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009 60 Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010 62 Tabela 9 - Países de destino dos produtos orgânicos brasileiros exportados Agosto/2006 a Janeiro/2010 64 LISTAS DE SIGLAS AAO - Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo APEX-Brasil - Agência de Promoção de Exportadores do Brasil CNPq – Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FAO – Food and Agriculture Organization FEAB – Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil FEEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná FVO – Farm Verified Organic FOB – Free On Board IBD – Instituto Biodinâmico IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFOAM – International Federation of Organic Agriculture Movements IMO – Institute fur Marktoekologie IPD – Instituto de Promoção do Desenvolvimento MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior OCIA – The Organic Crop Improvement Association OIA – Organización Internacional Agropecuaria OGM – Organismo Geneticamente Modificado OPAC – Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade PCB – Polychlorinated Biphenyl PIB – Produto Interno Bruto UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development USDA - United States Department of Agriculture 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10 1.1 Objetivo geral ................................................................................................. 11 1.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 11 1.3 Justificativa ..................................................................................................... 11 1.4 Metodologia .................................................................................................... 12 1.4.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................ 12 1.4.2 Área de abrangência ................................................................................... 13 1.4.3 Coleta e tratamento dos dados ................................................................... 13 1.4.4 Análise e apresentação dos dados ............................................................. 14 2 AS ORIGENS DO CONSUMO DE PRODUTOS ORGÂNICOS ......................... 15 2.1 Antecedentes históricos a partir do surgimento do Sistema Feudal ............... 15 2.2 A Revolução Industrial do século XVIII ........................................................... 18 2.3 A globalização e o consumo em massa ......................................................... 21 2.4 A disseminação do consumo de produtos orgânicos ..................................... 22 2.4.1 O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes artificiais e os Organismos Geneticamente Modificados ...................................................................................... 26 3 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL .................. 31 3.1 O cenário mundial de produtos orgânicos ...................................................... 32 3.1.1 África ........................................................................................................... 35 3.1.2 América do Norte ........................................................................................ 36 3.1.3 América Latina ............................................................................................ 36 3.1.4 Ásia ............................................................................................................. 38 3.1.5 Europa ........................................................................................................ 39 3.1.6 Oceania....................................................................................................... 40 4 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO CONTEXTO BRASILEIRO ........................ 42 4.1 Relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira ..................... 44 4.1.1 Viabilidade de produção e entraves ............................................................ 45 4.1.2 Certificação de Produtos Orgânicos............................................................ 48 4.2 Regiões brasileiras com maior destaque na produção ................................... 53 4.3 Principais culturas produzidas no país ........................................................... 57 4.4 Exportações brasileiras de produtos orgânicos .............................................. 60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 66 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS ...................................................................... 73 10 1 INTRODUÇÃO A agropecuária brasileira contribui consideravelmente para o desenvolvimento econômico do país, conforme atestam os números divulgados pelos órgãos públicos e outras instituições especializadas. Contudo, a atual demanda por produtos de origem animal e as práticas agrícolas convencionais, que utilizam agrotóxicos de forma intensa, resultam em diversos impactos ao meio ambiente, promovendo a degradação dos ecossistemas globais e trazendo problemas à saúde humana. Por essas razões, tem-se a necessidade de uma transformação substancial nos padrões de consumo das pessoas. Por sua vez, embora ainda de forma tímida, é possível detectar na sociedade atual da produtividade e do consumo uma mudança de estado de consciência e, por conta disso, existe uma crescente demanda mundial por alimentos orgânicos. Trata-se de uma atividade que não apenas substitui o uso de agrotóxicos e adubos químicos por adubos orgânicos, mas de uma nova ideia que visa a produção agrícola em equilíbrio com a natureza. O Brasil tem considerável capacidade de produção agrícola e através de um planejamento consciente pode aderir aos princípios de agricultura sustentável e obter um fator de competitividade e sobrevivência em um mercado cada vez mais exigente. Há efetivamente, um grande potencial de expansão da produção orgânica que ainda tem grande parte destinada apenas a feiras locais. A produção de orgânicos em nosso país ainda é incipiente, mas tende ao crescimento, pois uma nova geração está sendo formada com visão ecológica e maior sensibilidade às questões que envolvem a saúde e o meio ambiente. De outra parte, o conceito de preservação da natureza é cada vez maior nos países desenvolvidos, o que possibilita inferir a potencialidade de adoção dessa alternativa de consumo. Este trabalho pretendeu demonstrar a importância e a viabilidade da Agricultura Orgânica, como também seu potencial no mercado interno e externo. Para isso utilizou-se a metodologia qualitativa baseada em dados bibliográficos como livros, revistas e meios eletrônicos especializados, artigos científicos e dados estatísticos que foram apresentados em forma de texto, tabelas e gráficos. 11 1.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho foi identificar as oportunidades da agricultura orgânica no mercado internacional com foco no desenvolvimento da agricultura orgânica brasileira. 1.2 Objetivos específicos • Apresentar os aspectos históricos do consumo de produtos orgânicos e os impactos causados pelo atual padrão de produção de alimentos. • Pesquisar sobre a produção e a comercialização de produtos orgânicos no mercado internacional. • 1.3 Verificar o cenário de produção orgânica brasileira e suas oportunidades. Justificativa Os meios de comunicação, as entidades de preservação ambiental e as pessoas conscientizadas constituem, atualmente, um contingente significativo a defender a natureza e as suas riquezas. A realização de estudos a respeito, quaisquer que sejam os aspectos abordados, tem relevância tanto social quanto econômica devido à atual preocupação mundial com o desenvolvimento sustentável. As empresas buscam atender os desejos e as necessidades de seus consumidores e têm preocupação em demonstrar que produzem sem comprometer o meio ambiente e as gerações futuras, porque entendem que a conscientização produz escolhas e que as escolhas decorrem de uma análise exigente. A importância do tema abordado cresce na medida em que se evidencia o conhecimento dos impactos negativos decorrentes das práticas agrícolas convencionais e da pecuária, que trazem efetivos danos e problemas ao meio 12 ambiente e à saúde humana. Por conta disso, a atenção está se voltando para os produtos orgânicos. Sendo uma alternativa sustentável e reconhecida por preservar o meio ambiente, ela atrai expressiva demanda mundial e propicia diversos benefícios, entre eles na economia de minifúndios e na qualidade de vida. É relevante, portanto, a extensão deste conhecimento para a comunidade e para os acadêmicos por ser um tema que contribui para a conscientização das pessoas e demonstra a necessidade de mudança nos processos de desenvolvimento econômico e no consumo de alimentos. A pesquisa desperta grande interesse por parte da acadêmica por reconhecer a importância em optar por alimentos mais saudáveis e que não causem danos ao meio ambiente. Ademais, trata-se de um estudo viável por abordar um assunto que causa preocupação global e vem ao encontro de interesses nacionais, empresariais e sociais. 1.4 Metodologia Este item apresenta a metodologia aplicada no desenvolvimento deste trabalho de iniciação científica, enfatizando os aspectos relacionados à caracterização da pesquisa, área de abrangência, bem como a coleta, tratamento, análise e apresentação de dados. 1.4.1 Caracterização da pesquisa O método utilizado nesta pesquisa foi qualitativo, com o propósito de apresentar as informações com clareza a fim de alcançar os objetivos do tema abordado. Dias et al. (2003, p. 376) consideram a pesquisa qualitativa “uma metodologia não estruturada, baseada em [...] amostras, a fim de proporcionar [...] uma compreensão do contexto do problema”. Richardson (1999) entende que ela, apesar de perder em termos de validade e confiabilidade comparada com a 13 metodologia quantitativa, possui um vínculo importante com as preocupações características do pensamento crítico, tal qual é este estudo. Quanto aos meios, a pesquisa teve caráter eminentemente bibliográfico, desenvolvida com base em materiais já publicados, constituídos principalmente de livros, meios eletrônicos e artigos científicos. (GIL, 1999). Trata-se, portanto, de uma pesquisa descritiva, na qual, segundo Dias et al. (2003, p. 371) “os problemas a serem investigados estão bem definidos [...]” e por decorrência, os dados levantados foram secundários. Envolve levantamento bibliográfico e análise dos exemplos que estimulem a compreensão da questão levantada. 1.4.2 Área de abrangência A pesquisa abrange a área de comércio exterior direcionada para as áreas de economia brasileira e economia internacional com ênfase na produção sustentável da agricultura orgânica. 1.4.3 Coleta e tratamento dos dados Os dados para a apresentação deste projeto foram coletados em materiais bibliográficos pertinentes como livros, revistas, artigos científicos, sítios especializados e dados estatísticos. Parte dos capítulos 3 e 4 limitou-se a poucas fontes coletadas em decorrência de escassez de dados, informações difusas e imprecisas divulgadas. 14 1.4.4 Análise e apresentação dos dados Os dados coletados foram analisados e abordados em forma de texto explicativo, comparativo e analítico, acompanhado, eventualmente, de tabelas e gráficos para melhor compreensão. 15 2 AS ORIGENS DO CONSUMO DE PRODUTOS ORGÂNICOS Diversos fatores contribuíram para o crescimento da demanda e do consumo de produtos orgânicos. A crise ecológica atual é um dos principais fatores e faz parte dos reflexos de eventos de grande impacto na sociedade, como a Revolução Industrial. Todos os avanços industriais e tecnológicos desde o surgimento da sociedade industrial geraram marcantes transformações na economia e no modo de vida das pessoas. São transformações irreprimíveis que trazem impactos tanto positivos quanto negativos, e estes se tornam mais evidentes com o passar do tempo tendo em vista o incontrolável crescimento industrial e o consumo em massa. Da Revolução Verde à Revolução Biotecnológica, as tecnologias e monoculturas sustentadas pelas multinacionais converteram a produção de pequena escala em produção de grande escala e representam um eminente perigo para o futuro da humanidade. Produziram poluição do ar, da água e do solo, e mais recentemente um tipo que pode chamar-se de poluição genética. Além dos custos ambientais, se forem levados em conta os custos sociais e os problemas à saúde humana, o sistema agroindustrial não aumentou a eficiência da produção, pois não reduziu a fome, apenas favoreceu multinacionais, prejudicou pequenos produtores e a qualidade dos alimentos. Este capítulo trata de demonstrar como os produtos orgânicos foram, ao longo do tempo, sendo considerados uma alternativa sustentável de produção de alimentos. Inclui um panorama histórico que se inicia muito antes da realidade atual, chega a um pico máximo de consumo sem regras, cujos males causados passam a exigir novas alternativas. 2.1 Antecedentes históricos a partir do surgimento do Sistema Feudal Entre os séculos V e X a Europa Ocidental passou por transformações que desencadearam um processo de ruralização das populações e retração das atividades comerciais. Tais transformações ocorreram durante a formação do 16 Feudalismo em decorrência da crise do Império Romano e da invasão dos Reinos Bárbaros marcada pelas lutas sociais. Uma série de mudanças envolvendo questões de ordem econômica, social e política marcaram esse período. A produção rural deixou de atender ao mercado passando a produzir para suas próprias necessidades, diversificando a produção de gêneros além da criação de animais e produção artesanal. Os grandes senhores passaram a morar em suas propriedades de campo concedidas pelo rei, que detinha toda a terra e obtinha em troca, apoio militar e financeiro. Os senhores feudais ainda dividiam as terras com parceiros menos poderosos, denominados meeiros, que tinham a obrigação de entregar parte do que produziam, sejam as colheitas ou os impostos. No nível hierárquico ainda mais baixo estavam os servos, que trabalhavam apenas para garantir sua subsistência (SILVA, 2002). Diante dessa organização, pode-se dizer que o Sistema Feudal era caracterizado por um poder político descentralizado, pois na prática o senhor feudal era superior ao rei que não tinha interferência direta sobre as imposições estabelecidas pelo senhor feudal no interior das propriedades. A sociedade feudal era formada por nobres, clero e servos. A camada dominante dos senhores feudais era constituída pela nobreza e pelo clero que tinham a posse legal do feudo e dos servos, estes presos à terra onde nasceram tendo como função o cultivo compulsório, sem possuir liberdade de abandonar a terra e também não podendo ser vendidos como eram os escravos. A Igreja Católica era dominante na Idade Média e detinha tanto o poder espiritual, influenciando no modo de pensar e nas formas de comportamento, quanto o poder econômico, pois possuía grande quantidade de terras. A base da economia na época era agrária caracterizada pela exploração do trabalho servil. Como complemento, outras atividades se desenvolviam em menor escala para suprir as necessidades da sociedade, entre elas a pecuária, a produção artesanal, a mineração e o restrito comércio. Segundo Anderson (2000, p.146): “[...] o modo de produção feudal foi o primeiro a permitir a esta produção um desenvolvimento autônomo em uma economia agrária natural.”, mesmo em um nível bem primitivo de desenvolvimento com um baixo nível de técnica e instrumentos simples de produção. No período de expansão do Feudalismo, onde a demanda e a ocupação de terras era cada vez maior, pode-se dizer que o equilíbrio ecológico já se 17 comprometia e interferia nas condições climáticas, pois muitas florestas foram destruídas devido a grande utilização da madeira que constituía a matéria-prima da construção e era praticamente o único combustível (IANNONE, 1992). A partir do século XIV o Feudalismo teve seu declínio devido à sua ineficiência como sistema de produção e às necessidades crescentes de renda por parte da classe dominante. Essa necessidade gerou uma pressão insuportável sobre o produtor que já tinha seu trabalho sobrecarregado, sem margem para o aumento da produtividade. O crescimento populacional e o surgimento de diferentes métodos de produção agrícola proporcionaram a retomada das atividades comerciais. Os centros urbanos ressurgiram e muitos camponeses oprimidos e exaustos fugiram da exploração em busca de melhores condições de vida, enquanto outros conseguiram recursos para comprar sua própria liberdade. Na medida em que o crescimento do mercado exerceu uma influência desintegradora sobre a estrutura do feudalismo, o surgimento das cidades na Idade Média como organizações corporativas passaram a possuir independência econômica e política. As terras de cultivo se diversificaram e houve o surgimento do sistema fabril. Os camponeses começaram a aprender novas habilidades de artesãos e passaram a trabalhar nas cidades como sapateiros, ferreiros, carpinteiros, entre outras especialidades, formando uma nova classe social. No século XX muitos servos libertados ainda emigravam do campo para as cidades, favorecendo a demanda de produtos e a oferta de mão-de-obra. Com o crescimento dos negócios, formavam-se organizações estruturadas. Neste cenário, surgiram as oportunidades para a expansão da indústria e aumento na produção de bens. De um modo geral, durante todo o período que antecede a Idade Moderna, diversos acontecimentos ocorreram emergindo novas instituições, hábitos e comportamentos que resultaram na ruptura definitiva da Idade Média e possibilitaram a transposição do homem em direção à Revolução Industrial. 18 2.2 A Revolução Industrial do século XVIII O final do século XVIII foi marcado pelo início de um complexo de inovações tecnológicas na Inglaterra que modificaram de forma brusca a vida das sociedades humanas tornando capaz a produção acelerada de mercadorias e de serviços, dando origem à atual sociedade industrial. Em meados do século XVIII a Inglaterra já era reconhecida como uma economia pré-industrial moderna dominando os mercados em que atuava e Londres se transformava em um grande centro de desenvolvimento. Na verdade, a Inglaterra era a grande líder mundial em todos os aspectos: financeiros, sociais, econômicos e de poder bélico. A expansão do comércio, a rivalidade comercial, o incremento da navegação, a disponibilidade de capital e o ritmo acelerado de crescimento aliados ao avanço científico, apontavam para o surgimento das fábricas. Em suma, a essência da Revolução Industrial foi o uso da máquina em substituição ao trabalho humano e animal. O aparecimento de máquinas que possuíam um mecanismo capaz de executar o mesmo trabalho desenvolvido pela mão-de-obra humana significativamente mais rápido, regular e preciso e a utilização do vapor como fonte de energia para acionar o motor da máquina denotam a passagem da economia agrária e artesanal para a economia industrial que impulsionou a melhoria na obtenção e no trabalho de novas matérias primas. Até então eram utilizadas apenas a energia muscular, a eólica e a hidráulica. Para Canedo (1994) um acontecimento marcante na Revolução Industrial foi a invenção do motor a vapor por James Watt em 1782 que possibilitou guiar qualquer maquinismo e executar diversas operações técnicas. Diante das fábricas providas de máquinas movidas a vapor e o mercado em expansão consolidavam-se novas formas de organização e administração do trabalho. O sistema industrial criou duas novas classes sociais: os empresários (capitalistas) que são os proprietários das fábricas, do capital, das máquinas e de todos os bens produzidos, e o proletariado, que são os trabalhadores que produzem as mercadorias em troca de salários. A divisão do trabalho era fundamental para maximizar o desempenho. Segundo Silva (2002, p. 101) “A mão-de-obra foi dividida e cada pessoa se especializava em alguma tarefa; peças de produtos precisaram se 19 tornar intercambiáveis para que a divisão da mão-de-obra levasse a um resultado comum.”. Os progressos de industrialização foram mais rápidos e consistentes na produção têxtil, que era a principal atividade britânica, sendo marcantes as invenções como a máquina de fiar, o tear para tricotar e fabricar fitas. Com as inovações, a produtividade aumentava cada vez mais necessitando um menor número de horas necessárias para obter a mesma, como se pode observar na Tabela 1. Tabela 1 – Produtividade na indústria têxtil de algodão no Reino Unido Período Horas Produção por trabalhador 1829-31 100 100 1844-46 87 372 1859-61 87 708 1880-82 82 948 Fonte: Adaptado de Rioux, J.P. A Revolução Industrial 1780-1880. São Paulo, Pioneira, 1975. O progresso logo alcançou outros setores como a metalurgia, e crescia a pesquisa para obtenção de novas fontes de energia. Para auxiliar a produção e o abastecimento das matérias primas, os setores de transporte e de comunicação também tiveram que se modernizar. Foram criados o barco a vapor, a locomotiva, o telégrago, o telefone, entre outros. Pode-se dizer que a Revolução Industrial divide-se em três períodos no processo de industrialização em escala mundial. O primeiro se estende de 1760 a 1850 e se restringe à liderança da Inglaterra no desenvolvimento técnico-científico com o surgimento da energia a vapor, da produção, do consumo e da evolução da produção têxtil. A Inglaterra contava com um regime de governo que favorecia o desenvolvimento do capitalismo com matérias-primas indispensáveis para a confecção das máquinas e geração de energia, além da disponibilidade de mão-deobra em decorrência ao êxodo rural ocorrido na Idade Média. O segundo período tem início em 1850, quando se percebe a expansão da industrialização pela Europa, América e Ásia, atingindo especialmente Bélgica, França, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Japão e Rússia. O desenvolvimento de outros setores da economia também se acelerou com a difusão do aço, a expansão das ferrovias, a modernização do sistema de comunicações e a descoberta de novas 20 fontes de energia como a eletricidade e o petróleo. Para Silva (2002, p. 102) o terceiro período se inicia em 1900 onde “[...] surgem grandes conglomerados industriais, com produção automatizada, produção em série, explosão da sociedade de consumo e expansão dos meios de comunicação; avançaram as indústrias: química e eletrônica, a engenharia genética [...]”, entre outros. O século XIX assistiu ao rompimento da corrente que impedia a livre circulação de mercadorias e o grande desenvolvimento do comércio internacional. Em 1860, a diplomacia das fronteiras foi substituída pelos tratados de comércio, que diminuiram as barreiras alfandegárias para intensificar as trocas de mercadorias. A era do progresso industrial permitiu uma grande transformação na produção de bens e serviços bem como nas estruturas institucionais, culturais, políticas, econômicas e sociais. Porém, avalia-se que o meio ambiente tem sido alterado intensamente pelas atividades humanas com a irracional ocupação dos espaços e uso dos recursos naturais não renováveis provocando uma série de problemas de aspectos sociais e ambientais. Com o surgimento da sociedade industrial, houve crescimento e concentração da população em áreas urbanas, que passaram a ocupar espaços em detrimento do ambiente natural, e as terras e florestas foram convertidas em mercadoria para atender à intensificação da produção e do consumo. Esse processo foi baseado na exploração do trabalho humano e no alto consumo de matérias-primas e fontes de energia não renováveis, que ao longo do processo produtivo geravam resíduos poluentes que contaminavam o ar, o solo e as águas num volume sem precedentes. E é nesse sentido que podemos afirmar que o modelo de desenvolvimento resultante da Revolução Industrial é o responsável pela atual crise ecológica. (DIAS, 2007, p. 2). A expansão industrial dos países, cada qual explorando as suas potencialidades, visa o desenvolvimento, porém, de maneira desordenada, utilizando os recursos de maneira inadequada, e ocasionando ameaças que prejudicam a própria espécie humana. Desta forma, tem-se a necessidade de criar meios para efetivação de um desenvolvimento sustentável que garanta o equilíbrio do meio ambiente. 21 2.3 A globalização e o consumo em massa A globalização é um fenômeno das sociedades contemporâneas que pode ter seu conceito disseminado recentemente, porém é possível considerar que sempre existiu, em menores proporções e que se desenvolveu a partir da Revolução Industrial do século XVIII, impulsionado pela evolução dos sistemas de transporte e de comunicação dos países. O processo de globalização acompanha a evolução do capitalismo desde o século XIX com o evento das duas grandes guerras mundiais e teve seu ápice de crescimento no período final da Guerra Fria. É possível observar que, desde a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos já se transformavam em uma grande potência consolidando sua hegemonia após a Segunda Guerra graças ao seu poderio econômico-militar e às formas como, em ambas, conseguiu usufruir das suas demandas. Economicamente, a globalização caracteriza-se pelos interesses financeiros e a desregulamentação dos mercados que permitiram o estreitamento das relações comerciais entre os países e a difusão das multinacionais que criaram redes de produção e de consumo no mundo inteiro e são detentoras de grande poder econômico e político. O sistema capitalista e as grandes empresas promovem a cultura do consumismo exacerbado, da competição e do desperdício em detrimento do bem-estar social que é um dos grandes problemas enfrentados pela sociedade contemporânea. Devido à busca pelo acúmulo de capital, de acordo com Dupas (2007, p. 8): “assiste-se a um sucateamento contínuo de produtos em escala global, gerando imenso desperdício de matérias-primas e recursos naturais ao custo imenso de degradação contínua do meio ambiente e de escassez de energia.”. Seguindo o rumo da modernidade, as empresas cada vez mais participam da vida das pessoas, que se tornam dependentes do consumo proposto. O acesso à matéria-prima e à tecnologia facilita a produção em grande escala que busca tão somente obtenção de lucros e concentração do poder que se sobrepõem às preocupações globais. Hoje, as corporações são o poder dominante que dá forma às políticas sociais, econômicas e comerciais em todo o mundo. Ao mesmo tempo, decisões que venham a ser tomadas nos próximos anos com relação a tecnologias novas e poderosas, têm o potencial de afetar postos de 22 trabalho, justiça e ambiente em escala planetária. Apesar das implicações dessas tendências para a democracia e para os direitos humanos, não existe um órgão internacional para monitorar a atividade corporativa global, e nenhum organismo das Nações Unidas tem a capacidade para monitorar e avaliar as tecnologias globais. A atual emergência de alimentos e implosão da economia mundial atestam a imperiosa necessidade de monitoramento e supervisão das corporações. (GUAZZELLI; PEREZ, 2010, p. 62). A ascensão do consumo é a causa sem precendentes de problemas incluindo o declíneo da biodiversidade, a perda de terras cultiváveis e a produção de resíduos tóxicos e, portanto, não pode ser considerada como uma atitude normal da sociedade, mas sim, uma ação humana integralmente passível de mudança. A sociedade atual vive uma espécie de instantaneidade, onde se consome mais do que o planeta poderia oferecer sem alterar seu equilíbrio e deixando de observar os impactos que o consumo exacerbado pode causar às gerações futuras. Sob esse impulso frenético, os consumidores deixam de lado a procedência dos produtos e o conjunto de processos que trazem o alimento às suas mesas. Com a industrialização, o processo dos alimentos mudou drasticamente e passou a suprir as necessidades dos trabalhadores, que tinham cada vez menos tempo para preparar refeições. A partir dessa necessidade, surgiram os alimentos industrializados, processados e enlatados que reduziram o padrão alimentar das pessoas e dificultam ainda mais ao consumidor ter conhecimento sobre a origem das matérias-primas utilizadas e as condições de produção. Em observação ao pensamento “O homem é aquilo que come” de Ludwig Feuerbach (1830), o consumidor deve buscar conhecer a proveniência, os processos aplicados e as pessoas envolvidas na produção do alimento que consome, além das consequências de sua escolha, pois não consome apenas o produto que adquire: consome a terra, a água e o ar. 2.4 A disseminação do consumo de produtos orgânicos O atual padrão agroalimentar de produção surgiu com o paradigma da revolução verde, entre a década de 1940 e 1950, quando ocorreram a transformação e a modernização da agricultura, acarretadas pelo uso de 23 fertilizantes, implementos e máquinas agrícolas, além do uso de sementes modificadas e desenvolvidas em laboratórios. Tal transformação alterou a estrutura agrária e aumentou significativamente a produção. No entanto, passou a sofrer críticas em razão dos impactos causados que demonstram a insustentabilidade desse modelo, entre eles a erosão e degradação do solo, poluição do meio ambiente, a perda da biodiversidade, bem como a expulsão do pequeno produtor agrícola que não conseguiu se adaptar às novas técnicas de produção, nem atingir produtividade suficiente para manter-se na atividade agrária. Um século antes da revolução verde, já havia a introdução da química na produção agrícola difundida pelas descobertas de Liebig para o aumento da produção. Esse modelo originou uma corrente de pesquisadores que, preocupados com os impactos, desenvolveram propostas alternativas sustentáveis no sentido de aprimorar a agricultura organo-biológica, e então surgiram entre 1920 e 1940: a Agricultura Orgânica, Agricultura Biodinâmica, a Agricultura Biológica e Agricultura Natural. (TRIVELLATO; FREITAS, 2003). A Agricultura Orgânica tem suas raízes na agricultura tradicional de cultura milenar que reconhece o solo como organismo vivo e baseia-se em práticas de reciclagem de matéria orgânica e nutrientes bem como na rotação de culturas que mantém o controle de pragas. Suas características estão descritas na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, art. 1º: Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. o § 1 A finalidade de um sistema de produção orgânico é: I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo em longo prazo; VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis; 24 VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente; VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e comércio desses produtos; IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. É justamente por conta do recente reconhecimento dos malefícios relacionados ao meio ambiente e à saúde do homem causados pela agricultura convencional, que a agricultura orgânica vem ganhando força em todo o mundo. A conscientização da importância dos valores ambientais e a preocupação com a qualidade alimentar não aconteceram, contudo, de forma aleatória. Fatores como os supracitados e incidentes graves alertaram a população, tais como a doença da ‘vaca louca’, a febre aftosa, a contaminação de alimentos por dioxina, a relação dos agrotóxicos com outras doenças como o câncer, bem como as incertezas sobre os transgênicos (GUAZZELLI; PEREZ, 2010). Os consumidores conscientes, cada vez mais exigentes, demonstram sua preocupação com a qualidade de vida por meio de uma alimentação saudável, e suas oportunidades de escolha foram ampliadas pela maior disponibilidade de produtos. As informações referentes à segurança do produto como a origem, a tecnologia de produção utilizada e a certificação de que tal produto tenha sido produzido sem riscos de contaminação, são de suma importância para os consumidores que, cada vez mais, buscam contribuir com a preservação do meio ambiente, tendo em vista que a qualidade de vida é refletida nesse processo. O consumo de produtos orgânicos é motivado de acordo com o país, a cultura e a análise de produtos feita pelo consumidor. Pesquisas feitas em países como Alemanha, Inglaterra, Austrália, EUA, França, Dinamarca, Noruega, Polônia e Costa Rica assinalam que a procura pelos produtos orgânicos é motivada em primeiro lugar pelos benefícios relacionados à saúde; em segundo pela preocupação em preservar o meio ambiente; e por último devido à qualidade dos alimentos orgânicos, por serem mais saborosos e nutritivos (DAROLT, 2003). De certo modo, na visão do consumidor de produtos orgânicos ainda é um pouco ausente a consciência dos reais benefícios ambientais que traz esse sistema de produção. No Brasil, o perfil do consumidor de produtos orgânicos é de instrução superior, com idade entre 30 e 50 anos, predominantemente do sexo feminino e de classe média, 25 sendo seus principais fatores de motivação: a saúde pessoal e da família, a ausência de agrotóxicos, o alto valor biológico, a qualidade do sabor e aroma, e por último, a preocupação com o meio ambiente (BUAINAIN; BATALHA, 2007). A mudança nos hábitos alimentares dos consumidores tem proporcionado um crescimento anual de 30% na produção orgânica, de acordo com dados do Instituto Biodinâmico (IBD) de 2010. Algumas redes de supermecado têm se adaptado a esta tendência com a inclusão de produtos orgânicos como frutas, legumes e hortaliças em suas prateleiras. Porém, o que leva o consumo desses produtos ainda não ser tão difundido é o seu alto preço em relação aos produtos agrícolas convencionais. Apesar de renderem mais economicamente, utilizando menos energia, menos água e nenhum insumo químico, os produtos orgânicos chegam ao consumidor geralmente custando um pouco mais caro. De acordo com Rizzo (2010, Np) há uma explicação lógica para o alto preço dos produtos orgânicos que é a própria ‘Lei da Oferta e da Procura’: “Quando há uma oferta menor do que a demanda por algum produto o preço tende a subir e é isso que vem ocorrendo com os produtos orgânicos.” A mudança nesse cenário depende do próprio consumidor que, incentivando o consumo de produtos orgânicos, aumenta a sua produção e consequentemente obterá seu barateamento. Porém, somente a disposição do consumidor em pagar mais por um produto orgânico não reduzirá os preços significativamente pois a produção orgânica, apesar de garantir a produtividade do solo em longo prazo, geralmente é menor em escala e demanda mais mão-de-obra. O Estado deve apoiar e assumir esse sistema como oficial, fazendo com que a agricultura convencional passe a constituir-se num sistema em vias de extinção. Conforme uma pesquisa feita pelo Guia Exame 2008, 87% dos entrevistados se preocupam com as questões ambientais relacionadas com os produtos que compram, porém apenas 33% declaram que pagariam mais caro por produtos socioambientalmente corretos. Quanto ao consumo de orgânicos, 45% dos consumidores dá preferência para estes produtos e 5% ainda não conhece. A escolha é altamente influenciada pelo preço, porém esse elemento apenas não explica a opção do consumidor, o problema está na falta informação que faz com que a preocupação pela degradação ambiental ainda não seja um fator decisivo na hora da compra (LIMA, 2008). 26 2.4.1 O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes artificiais e os Organismos Geneticamente Modificados A ‘revolução verde’ possibilitou a produção de alimentos em grande escala, porém menos variada e que alimenta cada vez menos, pois o uso de insumos químicos eleva o volume de produção agrícola, mas causa um efeito conhecido como “efeito diluição”, que é a diluição de nutrientes, vitaminas e proteínas presentes nos alimentos, que pode ser observado na Tabela 2: Tabela 2 - Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional Produto Convencional (por 100g) Orgânico (por 100g) Diferença (%) Maçã (vitamina C) Tomate (vitamina C) Tomate (vitamina A) Cenoura (potássio) 19,3mg 21,6mg 11,9 18,0mg 21,8mg 21,1 3,5mg 4,7mg 34,3 217mg 269mg 24 Batata (frutose) 0,7mg 1,2mg 71,4 Batata (glicose) 1,2mg 2,0mg 66 Batata (ferro) 4,7mg 5,7mg 21,3 Batata (cálcio) 56,4mg 64,0mg 13,5 Batata (zinco) 1350µg 1810µg 34,1 Fonte: Associação Campden de Pesquisa em Alimentos e Bebidas, Grã-Bretanha (1990) Verifica-se na Tabela 2 que no caso da vitamina A presente no tomate há uma diferença nutricional de 34%, enquanto a batata perde praticamente 71,4% de frutose com a utilização de insumos químicos. Além da diminuição dos valores nutritivos, o uso de agrotóxicos tem ocasionado graves problemas ao meio ambiente e à saúde humana. A mudança nos processos agrícolas a partir da revolução verde tinha propósitos exclusivos e imediatistas que desconsideravam a dinâmica ecológica dos agroecossistemas e as consequências de curto e longo prazo, como a contaminação dos alimentos, a poluição dos rios, erosão do solo e a perda da biodiversidade. Ao implantar a agricultura derrubando matas nativas e reduzindo a diversidade, o homem causa desequilíbrios ecológicos, pois reduz a complexidade e a estabilidade da natureza. Ao cultivar plantas da mesma espécie em vasta área o agricultor favorece a reprodução de herbívoros que se transformam em pragas na 27 ausência de inimigos naturais, segundo Paschoal (1979). Com o uso de agrotóxicos, a resistência das pragas aumenta em função de mutações genéticas e da destruição de organismos úteis. Portanto, pode-se dizer que é ineficaz no controle, prejudica a produção e gera um círculo vicioso conhecido como o fenômeno da ressurgência, explanado por Ferrari (1985, p. 23): “quanto mais se usa, maiores são os desequilíbrios provocados e maior a necessidade de usos recorrentes, em doses mais intensas de formulações cada vez mais tóxicas.”. As consequências do consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos na saúde humana foram evidenciadas depois de décadas com a confirmação da nocividade de várias substâncias. Os agrotóxicos podem gerar várias enfermidades que vão de alergias alimentares e diminuição ou anulação dos efeitos dos antibióticos no organismo a efeitos mais graves, como problemas neurológicos, malformações de nascimento, infertilidade e câncer. No que diz respeito aos efeitos do uso de fertilizantes artificiais, deve-se atentar ao que alertam Reijntjes, Haverkort e Waters-Bayer (1999, p. 18), “Podem perturbar a vida do solo e seu equilíbrio. Aumentam a taxa de decomposição de matéria orgânica, levando à degradação da estrutura do solo, à maior vulnerabilidade à seca e a uma menor eficácia produtiva.”. Os fertilizantes artificiais satisfazem as necessidades de nutrientes das plantas em curto prazo, porém comprometem a fertilidade do solo em médio e longo prazo. Os efeitos sociais também são significativos: a agricultura moderna destruiu milhares de pequenas propriedades de agricultura familiar e favoreceu a concentração do comércio agroalimentar em poucas corporações transnacionais que monopolizam desde as sementes e os agrotóxicos até a distribuição e processamentos dos alimentos. O Estado beneficiou as empresas de agrotóxicos com incentivos, além de dispensar de qualquer controle o comércio e uso desses produtos. As gigantes dos agrotóxicos de hoje possuem um poder sem precedentes e têm constituído alianças que as tornam ainda mais fortes. De acordo com Guazzelli e Perez (2010, p. 16), “As 10 maiores companhias controlam 89% do mercado global de agrotóxicos, que teve um valor total de 38,6 bilhões de dólares em 2007. As seis maiores empresas somaram 75% de todo o mercado de agrotóxicos.”, conforme destaca a Tabela 3: 28 Tabela 3 - As 10 maiores empresas de agrotóxicos no mundo em 2007 Vendas de agrotóxicos (milhões de dólares) % de participação no mercado 1. Bayer (Alemanha) 7458 19% 2. Syngenta (Suiça) 7285 19% 3. BASF (Alemanha) 4297 11% 4. Dow AgroSciences (EUA) 3779 10% 5. Monsanto (EUA) 3599 9% 6. DuPont (EUA) 2369 6% Companhia 7. Makhteshim Agan (Israel) 1895 5% 8. Nufarm (Austrália) 1470 4% 9. Sumitomo Chemical (Japão) 1209 3% 10. Arysta Lifescience (Japão) 1035 3% Total 34396 89% Fonte: Agrow World Crop Protection News (2008) As seis maiores fabricantes de agrotóxicos destacadas na Tabela 3, também detêm a indústria de sementes, cujo líder mundial é a Monsanto, uma das empresas mais controversas e polêmicas que vêm acumulando processos em razão da toxicidade de seus produtos, da sua negligência com relação aos impactos ambientais e humanos, corrupção, manipulações, fraudes, entre outros pontos. A Monsanto tem apenas como objetivo obter lucro. A partir de alguns documentos secretos descobertos, destaca-se a avidez por resultados e sua ética negocial: a empresa orientava seus vendedores a ter cautela ao responder questionamentos de clientes sobre a periculosidade dos Polychlorinated Biphenyl (PCBs), alegando que qualquer informação poderia prejudicar os negócios. (ROBIN, 2008). Em 1973, houve a introdução dos transgênicos, ou melhor, Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), uma inovação agrícola em que muitos acreditavam ou defendiam ser a alternativa adequada para a solução para alguns dos problemas causados pelos agrotóxicos, por serem mais resistentes às pragas, reduzir o uso de agroquímicos e os custos de plantio ao agricultor, trazer melhoria na qualidade das sementes, entre outros possíveis benefícios. Ocorre que a direção e os objetivos dos transgênicos são controlados pelas mesmas grandes empresas de agroquímicos por meio da biotecnologia (vide Tabela 4), e têm como estratégia integrar os elos das cadeias produtivas de alimentos, aumentando ainda mais o controle do mercado. 29 Tabela 4 - Sementes Transgênicas: as empresas dominantes no mundo em 2000 Empresa Área plantada Monsanto 80% Aventis (AgrEvo/R.Poulenc) 7% Bayer 7% Syngenta (Novartis/AstraZeneca) 5% BASF (com Cyanamid) 5% DuPont (com Pioneer) 3% Fonte: RAFI Genotypes, 12 dezembro 2000, D. Hathaway Os benefícios dos OGMs são questionáveis. Em contraposição à ideia de que os OGMs causam menos impactos ambientais, aumentam a produtividade e reduzem os custos do agricultor, Guerrante (2003, p. 42) afirma: “existem alguns estudos que levantam a hipótese de que determinadas culturas geneticamente modificadas, quando plantadas sob condições edafoclimáticas específicas, necessitariam de maior quantidade de agroquímicos na sua proteção.”. Caso tais condições não sejam garantidas, o risco de perdas de safra e os impactos ambientais podem ser mais elevados do que no caso de seus similares. Outros riscos significativos do cultivo de OGMs ao meio ambiente são a perda da diversidade biológica e a geração de ‘superpragas’, pois a modificação genética tende a preservar sua estrutura rica e restringe a base genética de uma espécie, e a monocultura em grande escala cria um ambiente uniforme e previsível que são condições ideais para surtos de pragas ou doenças. A transferência horizontal de genes, que é a transferência de material genético entre espécies e genomas que não se relacionam naturalmente, pode causar riscos ao ser humano, pois permite transformar uma bactéria em patogênica, aumentar a sua resistência a antibióticos e provocar doenças graves como o câncer em casos de inserção de material genético estranho no genoma de células. (GUERRANTE, 2003). Tanto os agrotóxicos quanto os OGMs foram difundidos por políticas públicas a partir de premissas de que a agricultura, caso não utilizasse dessas tecnologias, não poderia ser economicamente viável e não acompanharia o aumento da população, podendo acarretar uma catástrofe, como a fome mundial. Na realidade, a fome no mundo não é consequência da escassez de alimentos e sim do sistema agroindustrial controlado pelo poder corporativo. Segundo Mooney (2002, apud MOTA 2009, p. 40) “é mais viável que a solução para a fome no mundo ocorra com o fortalecimento dos agricultores como cultivadores das plantas em sistemas 30 ecologicamente seguros, que em um sistema artificial e dependente de empresas transnacionais”. A produção excedente de grãos, por exemplo, não é repassada para os que têm fome, mas para a criação de animais, que também sustenta grandes empresas e provoca tantos riscos quanto à agricultura convencional. Estudos realizados demonstram que a produção orgânica de alimentos pode contribuir substancialmente para alimentar tanto a população atual quanto a população futura, pois seus métodos mantêm a fertilidade do solo e a gestão de pragas. Também sugerem que a intensificação da agricultura orgânica poderia não só produzir muito mais alimentos no mundo como também poderia aumentar a segurança alimentar em países em desenvolvimento. A produção é maior em pequenas propriedades tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, portanto, um aumento no número de pequenas propriedades poderia também aumentar a produção de alimentos. Além disso, muitos agricultores orgânicos fazem o uso de policulturas e multiplicam sistemas de cultivos, onde a produção e o controle de pragas são significativamente maiores do que em monoculturas. (BADGLEY et al., 2007, tradução livre). Muitos ainda defendem o pensamento arcaico de que o uso de insumos químicos é inevitável e imprescindível, e que a agricultura orgânica implicaria numa diminuição brutal da produção que provocaria a fome. Trata-se de uma afirmação muito conveniente para as empresas que dominam o seguimento. A agricultura orgânica vem ganhando força e demanda em todo mundo, e pode substituir o padrão agrícola atual com a união de pequenos produtos e a colaboração do Estado na infraestrutura de apoio e incentivos à atividade agrícola orgânica. 31 3 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL Mesmo após a revolução verde, a agricultura sem o uso de insumos químicos ainda era realizada em diversos países por pequenos agricultores que não tinham o conhecimento das tecnologias baseadas no uso intensivo desses insumos ou não tinham condições econômicas pra adotar tais técnicas. A partir da década de 70, com os impactos ambientais e a contaminação dos alimentos em evidência, a agricultura orgânica se caracterizou na Europa como um movimento que partiu do consumidor. Paralelo aos movimentos, ampliou-se o mercado de produtos orgânicos e foram sistematizados os princípios técnicos da produção orgânica. Na década de 70 a agricultura orgânica foi institucionalizada ao mundo pela International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) a qual publicou normas que serviram de referência para a comercialização de produtos orgânicos no mundo até a década de 90 e para o estabelecimento de outras normas e regulamentos técnicos locais em diversos países. O primeiro país a se regulamentar foi a França e atualmente mais de 80 países possuem alguma regulamentação implantada ou em discussão (FONSECA et al; 2009). O comércio internacional de produtos da agricultura orgânica é ainda dificultado pela pouca flexibilização das normas internacionais por conta de regulamentos técnicos nacionais. A União Européia é uma grande importadora destes produtos e possui uma regulamentação que fornece padrões de produção e medidas de inspeção que devem ser implementados para assegurar a integridade do produto. Segundo Ormond et al. (2002, p. 11) “Para que um produto seja comercializado como orgânico na União Européia é necessário que ele seja certificado em algum país membro, o que permite a sua comercialização nos demais países da Comunidade.”. Por conta disso há uma grande preocupação por parte dos governos em estabelecer a harmonização e a equivalência das normas da agricultura orgânica buscando acordos de reconhecimento mútuo e respeitando as diversidades dos diferentes países. Em 2003, foi estabelecida na Feira Internacional de Negócios de 32 Produtos Orgânicos (Biofach)1 em Nuremberg, Alemanha, a Força Tarefa Internacional que une forças da Food and Agriculture Organization (FAO), IFOAM e United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD). De acordo com Neves (2003) foram estabelecidas nesta Conferência medidas como rever padrões, regulamentações e sistemas de conformidade, formular propostas para consideração dos governos, dos órgãos e das organizações relacionadas e aconselhar os órgãos decisórios. Os objetivos são: determinar os impactos no mercado internacional dos produtos orgânicos, a harmonização e equivalência internacional dos padrões, regulamentações e sistemas de determinação de conformidade; criar mecanismos para facilitar o acesso ao mercado destes produtos, principalmente dos países em desenvolvimento; e obter reconhecimento mútuo entre sistemas público e privado. Embora ainda incipiente no mercado de alimentos e com os grandes desafios impostos, a agricultura orgânica é uma grande proposta para o futuro pois suas práticas estão relacionadas com um funcionamento sustentável. Desde a década de 90 a agricultura orgânica é a atividade agrícola que mais cresce no mundo. 3.1 O cenário mundial de produtos orgânicos2 A Oceania é a região com a maior área sob manejo orgânico certificada do mundo com cerca de 12 milhões de hectares. A Europa e a América Latina ocupam o segundo e o terceiro lugar com cerca de 8 e 6,5 milhões de hectares. Entretanto, a Europa é a região onde a produção orgânica tem maior atenção, pois em Liechtenstein, Áustria e Suíça encontra-se a maior porção de área de produção 1 Vinculada à NürnbergMesse, a Biofach é a maior feira de produtos orgânicos do mundo e ocorre anualmente. Na Conferência Biofach apresentam-se temas sobre futuros acontecimentos, tendências e perspectivas do setor orgânico além da apresentação de produtos. 2 Dados divulgados pelo FiBL e IFOAM através do documento The World of Organic Agriculture: statistics and emerging trends 2009. Os dados referem-se apenas à produção orgânica certificada e em processo de conversão. O documento possui fontes de todo o mundo, sendo que os conceitos e as pesquisas são diferentes em cada país. Fonte: WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) The World of organic agriculture: statistics and emerging trends 2009. Bonn: IFOAM; Frick: FiBL, 2009. 33 orgânica com relação à produção convencional conforme Gráfico 1. Nesses países a porcentagem de área de produção orgânica é maior do que 10%, e em toda a União Européia a porcentagem é de 4%. Já nas demais regiões do mundo, com excessão da Oceania, a produção orgânica não chega a 1% de toda a área agrícola. Essa proporção demonstra que o mercado de orgânicos é fortalecido na Europa. Gráfico 1 – Países com maior porcentagem de agricultura orgânica em relação a convencional em 2007 Fonte: (WILLER; KILCHER, 2009, p. 30). Países em desenvolvimento têm destaque na produção de orgânicos e detêm aproximadamente um terço da área mundial. Argentina, Brasil, China, Índia e Uruguai, nessa ordem de importância, são os países em desenvolvimento com a maior extensão de área sob manejo orgânico. O Brasil, inclusive, é um dos três países que possuem maior área de colheita de outros tipos de frutas como berries 3, nozes e castanhas, plantas medicinais e aromáticas, apicultura entre outros, que não foram considerados nas informações contidas neste capítulo. Contudo, em relação à proporção, os países em desenvolvimento com maior área de produção orgânica são Samoa, Timor Leste, Uruguai, Vanuatu e São Tomé e Príncipe. Esse cenário pode ser atribuído às exportações e aos suportes à produção orgânica nesses países. As estatísticas também mostram que a proporção de pastagens e culturas permanentes sob manejo orgânico é relativamente alta em comparação com Europa 3 O termo berry é comumente usado para descrever algumas frutas como morango, uva, framboesa, amora preta, entre outras (National Berry Crops Initiative – NBCI, 2006). 34 e América do Norte, em decorrência das exportações de carne (principalmente da América Latina) e de culturas permanentes. Entretanto, fora os relacionados, poucos países em desenvolvimento possuem mais do que um por cento de área orgânica em relação a toda a área agrícola. Portanto, os países desenvolvidos detêm a maior área de agricultura orgânica. De toda a área mundial sob manejo orgânico, cerca de oito milhões são áreas cultivadas (terras aráveis e culturas permanentes). Dessas áreas, algumas culturas são relativamente mais cultivadas como o café e as azeitonas por exemplo, em que mais de 5% da produção é orgânica. Em alguns países, a proporção é ainda maior, como é o caso do México, em que 30% da área de produção de café é de manejo orgânico. Dentre os oito milhões de área agrícola orgânica, a maior parte dela localiza-se na Europa. Quanto às pastagens, são cerca de vinte milhões de hectares sob manejo orgânico, dos quais, mais da metade encontra-se na Austrália. As áreas de extrativismo de produtos eminentemente florestais e de apicultura sob manejo orgânico correspondem a cerca de 31 milhões de hectares que não estão inclusos nos dados reportados neste capítulo. Os países com a maior dessas áreas são Finlândia com 7,4 milhões de hectares, Brasil com 6,18 milhões de hectares e Zambia com 5,37 milhões de hectares. (WILLER; KILCHER, 2009). Gráfico 2 – Receitas em bilhões de dólares entre 1999 e 2007 do mercado global de orgânicos Fonte: (WILLER; KILCHER,, 2009, p. 59). O mercado mundial de orgânicos cresce significativamente a cada ano. Como pode ser observado no Gráfico 2, as vendas triplicaram entre 1999 e 2007, 35 crescendo em média 5 bilhões por ano. A demanda de consumo concentra-se na América do Norte e Europa, que são responsáveis por 97% das receitas globais. Ásia, América Latina e Austrália são importantes produtores e exportadores de alimentos orgânicos. A produção nessas regiões favorece o fornecimento de alimentos orgânicos de quase todos os setores da indústria alimentícia como frutas, verduras, legumes, bebidas, cereais, grãos, sementes, ervas e especiarias. (WILLER; KILCHER, 2009). Apesar das vendas alcançarem um saldo maior em 2007, a indústria de alimentos orgânicos ainda enfrentava escassez de oferta. Muitos agricultores não converteram a agricultura em decorrência da inflação no setor alimentício. Os produtos agrícolas atingiram recordes de preços devido ao aumento nos custos de combustíveis e à competição por terras para produção de biocombustíveis. 3.1.1 África A África detém aproximadamente 3% da área mundial sob manejo orgânico certificado. São 900 mil hectares e 530 mil produtores registrados. Uganda com 296 mil hectares, Tunísia com 154 mil hectares e Etiópia com 140 mil hectares são os países com maior área destinada à produção orgânica e são os únicos que possuem regulamentação. Com relação à agricultura convencional, os países que detêm a maior área sob manejo orgânico são São Tomé e Príncipe com mais de 5% de toda a área agrícola, Uganda com mais de 2% e Tunísia com quase 2%. As principais culturas são café e azeitonas e a maioria dos produtos é destinada à exportação sendo o principal comprador a Europa. (WILLER; KILCHER, 2009). O mercado de orgânicos na África ainda é bastante pequeno, porém passa a contar com iniciativas como conferências que iniciaram em 2009 para apoiar e criar oportunidades de crescimento para o setor. Além dos três países citados que possuem regulamentação, mais sete países estão em processo de elaboração de regulamento. 36 3.1.2 América do Norte A América do Norte possui menos de 1% da área mundial sob manejo orgânico com 2,2 milhões de hectares e 7% de toda a área agrícola orgânica mundial. Existem mais de 12 mil produtores registrados e quase toda a área encontra-se nos Estados Unidos com 1,6 milhões de hectares registrados em 2005. Maior parte das terras cultiváveis sob manejo orgânico são utilizadas para a produção de cereais. (WILLER; KILCHER, 2009). Mesmo sendo o país do fast food, há uma forte demanda nos Estados Unidos por produtos mais saudáveis e nutritivos, e o aumento na disponibilidade de alimentos orgânicos em mercearias e supermercados tem impulsionado o crescimento do consumo de orgânicos. Além da maior disponibilidade, a diferença de preço entre os produtos orgânicos e os produtos convencionais é cada vez menor devido à dependência da produção convencional em combustíveis fósseis e subsídios do governo, entre outros fatores. Registrou-se em 2007 mais de 20 bilhões de dólares nas vendas de orgânicos que representaram 45% de toda a receita mundial e há muitos investimentos no setor principalmente com suporte técnico e certificação para incentivar agricultores a converterem para a produção orgânica. (WILLER; KILCHER, 2009). O Canadá possui boas perspectivas para aumento desse mercado que até 2009 seguia sem o suporte de uma regulamentação. Além de um importante consumidor, tem apresentado um crescimento também na produção de alimentos orgânicos, mas que ainda não segue o mesmo ritmo da demanda. A região da América do Norte é o lar de algumas das maiores indústrias de alimentos orgânicos do mundo. 3.1.3 América Latina De acordo com dados registrados em 2007, a América Latina detém 20% da área mundial sob manejo orgânico sendo 6,4 milhões de hectares e 220 mil 37 produtores certificados. Quase toda a área concentra-se na Argentina, no Brasil e no Uruguai. A maior área de agricultura orgânica com relação à convencional encontra-se na República Dominicana e no Uruguai com mais de 6%, no México e na Argentina com mais de 2%. A maioria da produção orgânica é destinada à exportação e as vendas em mercados locais ocorrem principalmente em grandes cidades como Buenos Aires e São Paulo. Frutas tropicais, grãos e cereais, café, cacau e açúcar são cultivos de destaque na produção orgânica latino-americana. Muitos produtos são vendidos no mercado europeu, especialmente os que não são produzidos lá ou que estão fora da safra. (WILLER; KILCHER, 2009). Nos últimos anos, as importações de produtos que estão de acordo com o conceito de comércio justo aumentaram, e muitos produtos latino-americanos são vendidos com rótulo de orgânicos e de Comércio Justo4. Quanto aos mercados locais latino-americanos, muitos produtos orgânicos como legumes, verduras e frutas, leite e laticínios, mel, café, grãos e cereais são vendidos em supermercados. Existem também as lojas especializadas, que vendem alimentos saudáveis e produtos orgânicos de agricultores locais, e as feiras informais onde não há intermediários, para as quais geralmente os governos cedem espaços públicos semanalmente, dão suporte e publicidade aos produtores. Embora o impacto dessas feiras locais possa ser economicamente insignificante, elas são o sustento de muitos pequenos agricultores e representam um percentual importante do mercado de orgânicos. Quinze países da América Latina possuem legislação sobre agricultura orgânica e outros quatro estão desenvolvendo. Em decorrência da crescente importância do setor orgânico para a economia agrícola latino americana, os governos passaram a desempenhar um papel importante no desenvolvimento desse setor. Os países passaram a tomar medidas para desenvolver programas que promovam a agricultura orgânica e dar suporte de acesso ao mercado pelas agências de exportação. Em alguns países existe um apoio financeiro para custos com certificação durante o período de conversão. 4 Comércio Justo (CJ) é um movimento social e econômico que pretende construir uma alternativa ao comércio convencional. Ao contrário deste, que tem em conta apenas critérios econômicos, o CJ rege-se também por valores éticos que incluem aspectos sociais e ambientais, buscando o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e do mundo como um todo (CIDAC, 2003). 38 Com exceção de Argentina e Costa Rica, os produtores orgânicos latinoamericanos precisam ter certificação por algum órgão de certificação credenciado para entrar no mercado europeu. Entretanto, muitas companhias americanas e europeias certificam produtos exportados produzidos na América Latina, pois geralmente os compradores exigem a certificação. Organizações certificadoras como The Organic Crop Improvement Association (OCIA), e Farm Verified Organic (FVO) dos Estados Unidos e Naturland, BCS Oeko-Garantie e Institute fur Marktoekologie (IMO) da Europa são as principais na região. Outros são Ecocert, Control Union e Ceres. Alguns órgãos certificadores nacionais são muito bem reconhecidos como Argencert e Organización Internacional Agropecuaria (OIA) na Argentina, IBD no Brasil, Bolicert na Bolívia e Biolatina no Peru e em outros países. 3.1.4 Ásia Aproximadamente 3 milhões de hectares de área orgânica estão localizadas na Ásia, o que representa 9% da área mundial. Mais de 230 mil produtores foram registrados e os países com destaque são China com 1,6 milhões de hectares e Índia com 1 milhão de hectares. São produzidos principalmente cereais como o arroz, e algodão, do qual Índia e Síria são líderes na produção orgânica. (WILLER; KILCHER, 2009). O continente asiático é um dos maiores mercados do mundo e cenário de variados setores. Os orgânicos hoje são um conceito bem aceito e uma tendência política e de mercado. Os alimentos orgânicos processados vêm sendo produzidos na Ásia e ganhando espaço, embora a maioria da produção seja de alimentos frescos e de cultivos com processamento de baixo valor-agregado, tais como ingredientes crus secos ou processados. Embora a Ásia não possua uma vasta área de agricultura orgânica, a produção de alimentos cresce gradativamente, pois é orientada basicamente à exportação. Países como Índia, China, Tailândia e Malásia são importantes exportadores de frutas, cereais, grãos, feijão, ervas e especiarias e adotam padrões da Europa, Estados Unidos e/ou Japão. A demanda local concentra-se nos países 39 mais ricos como Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, mas ainda é moderada em parte por causa dos altos preços dos produtos orgânicos. Embora grande parte do setor seja impulsionado pelas exportações, também há um grande número de importações. Nos mercados locais, os preços dos orgânicos variam de 10 a 200 por cento sobre os preços dos alimentos convencionais, dependendo da localização, da qualidade e do tipo de produto. As normas e certificações de orgânicos são normalmente criadas em resposta às exigências dos principais mercados importadores que são os EUA e a Europa, sem considerar as condições de produção e processamento locais e o desenvolvimento do setor. Existem instituições certificadoras que aprovam e registram produtos orgânicos para o mercado local, para as importações e exportações, em países como China, Japão, Coréia, Israel, Filipinas e Taiwan. Na Índia há regulamentação aplicável apenas às exportações até o momento e, assim como Israel, tem acordo de reconhecimento estabelecido com os EUA e com o United States Department of Agriculture (USDA). O grande desafio do setor é o consenso entre o setor privado, sociedade civil e parcerias do setor público, devido ao conflito de interesses: de um lado existe uma corrente a favor da sustentabilidade e melhoria da renda rural e de outro uma corrente composta por grandes empresas entrando no mercado. 3.1.5 Europa Até o final de 2007 registrava-se que 24% da área orgânica mundial encontrava-se na Europa. São quase 8 milhões de hectares gerenciados por mais de 200 mil produtores, sendo mais de 180 mil na União Européia com 7,2 milhões de hectares. Os países com a maior área de produção orgânica são Itália (1.150.253 hectares), Espanha (988.323 hectares) e Alemanha (865.336 hectares). De toda a área agrícola da União Européia 4% são de manejo orgânico. Os países que detém o maior percentual de área de produção orgânica com relação à convencional são Liechtenstein com 29%, Áustria com 13% e Suíça com 11%. Em 2007, o mercado europeu de produtos orgânicos alcançou aproximadamente 16 bilhões de euros em 40 vendas, sendo o maior volume de negócios na Alemanha com mais de 5 bilhões de euros, no Reino Unido com quase 3 bilhões de euros, na França e Itália com quase 2 bilhões de euros. As terras aráveis sob manejo orgânico são utilizadas principalmente para a produção de cereais, e de cultivo permanente, as principais culturas são azeitonas, nozes, frutas em geral e uva. (WILLER; KILCHER, 2009). A União Européia desenvolve um papel importante em apoio à agricultura orgânica por meio de programas de desenvolvimento rural, proteção jurídica e diversos planos de ação. Há uma grande preocupação em promover a agricultura biológica e conscientizar as pessoas sobre os problemas globais que envolvem as mudanças climáticas e a segurança alimentar. Os Estados-membros têm lançado planos de ação a fim de impulsionar a pesquisa sobre agricultura orgânica. Pesquisas tecnológicas unem esforços da indústria e da sociedade civil e revelam o potencial da produção orgânica em face aos problemas globais e os desafios socioeconômicos nas áreas rurais. Os países que não fazem parte da União Européia possuem políticas similares. A Europa possui o maior mercado de orgânicos do mundo e representa 54% da demanda mundial. Em alguns países os produtos orgânicos chegam a mais de 5% das vendas de produtos alimentícios. Os maiores consumidores são Alemanha, Reino Unido, França e Itália pois são grandes mercados consumidores. No Reino Unido, os orgânicos são uma grande tendência no mercado varejista e chegam a representar 80% do total de vendas. Suécia e Dinamarca embora não sejam grandes mercados consumidores têm registrado um aumento no consumo de orgânicos. 3.1.6 Oceania A Oceania detém 38% da área orgânica mundial. São mais de 12 milhões de hectares certificados administrados por mais de 7 mil produtores. Embora concentre a maior extensão de área sob manejo orgânico, o mercado é muito pequeno. Quase toda a extensão de área concentra-se na Austrália onde 97% corresponde a 41 pastagens utilizadas para criação extensiva de animais. Além da carne, produtos como lã, kiwi, vinho, maçãs, peras, verduras e legumes são mais exportados. Há uma demanda de importação que impulsiona o aumento da indústria orgânica na Austrália, Nova Zelândia e Ilhas Pacifícas, porém ainda há uma deficiência na produção da Nova Zelândia em abastecer o mercado. O apoio dos governos também é recente, planos para o desenvolvimento da agricultura sustentável ainda estão em andamento. (WILLER; KILCHER, 2009). 42 4 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO CONTEXTO BRASILEIRO O movimento orgânico passou a ser visibilizado no Brasil entre a década de 70 e 80 com algumas iniciativas de produção e comercialização contrárias ao modelo proposto pela revolução verde e com a organização de encontros de Agricultura Alternativa que ocorreram em 1981, 1987 e 1989 coordenados pela Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (FEAB) e Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEEAB). Porém, somente na década de 90 o mercado de produtos orgânicos consolidou-se obtendo melhor estrutura de comercialização e investimentos. (JESUS, 1996). De acordo com informações divulgadas pelo USDA em 1999, foi publicado em 1984 pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) um relatório do USDA com recomendações que forneciam bases para projetos em Agricultura Orgânica nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, considerados como os estados mais ambientalmente corretos no momento. São Paulo e Paraná lideravam a produção orgânica no país. Em 1990, foi criado o IBD que iniciou uma expansão em termos comerciais. O Gráfico 3 demonstra o crescimento em milhões de dólares ocorrido de 1994 a 2001: Gráfico 3 – Vendas totais de produtos orgânicos no Brasil Fonte: (COELHO, 2001, p. 22). Observa-se no Gráfico 3 que em 1994 a comercialização de produtos orgânicos no Brasil ainda não atingia 20 milhões de dólares em vendas e, no 43 período seguinte, aumentou significativamente chegando próximo a 250 milhões de dólares em 2000, um crescimento superior a 10 vezes. Há cinco fatores que contribuem para o aumento da produção orgânica no Brasil: (1) O custo elevado dos insumos químicos. Uma grande parte deles é importada, em torno de 50%; (2) O reduzido custo de produção para alguns produtos orgânicos; (3) Um preço atrativo para produtores devido ao “prêmio” [preço extra] pago para estes produtos; (4) Crescente demanda de consumo por produtos saudáveis; (5) O aumento da consciência ambiental no Brasil. (USDA, 1999, p. 2, tradução livre). Os dados estatísticos referentes ao mercado de produtos orgânicos no Brasil ainda são relativamente escassos e é difícil discuti-los com segurança, pois nenhum órgão federal tem um controle sistemático, somente alguns estados como o Paraná têm iniciado esse controle, realizando levantamentos anualmente. De acordo com dados do IBD divulgados em 2010, o Brasil é o país com o maior consumo de alimentos orgânicos da América Latina, e em relação ao mercado nacional de alimentos o consumo é de 1,7%, devido à maioria dos consumidores ainda desconhecerem estes produtos. Por outro lado, o Brasil está se consolidando como um grande produtor e exportador de produtos orgânicos com mais de 7 mil produtores certificados ou em processo de conversão, e cerca de 13 mil que produzem orgânicos sem certificação, totalizando 20 mil produtores em 270 mil hectares, dos quais mais de 150 mil para o cultivo da agricultura. Desses produtores, cerca de 90% corresponde a pequenos e médios que atuam basicamente no mercado interno e os demais 10% são compostos por grandes produtores que têm sua produção voltada principalmente para a exportação. Aproximadamente 70% da produção é exportada e entre os principais produtos estão as commodities açúcar, soja e café. Os 30% equivalentes às vendas no mercado interno são basicamente frutas, verduras e legumes5. Os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina foram pioneiros na produção orgânica e ainda detêm cerca de 90% da produção. Os principais pontos de comercialização são as grandes redes de supermercados; em alguns casos o próprio produtor que distribui seus produtos sem a presença de intermediários, e as feiras livres que se 5 Dados divulgados pelo BNDS, IBD e <http://www.aao.org.br/noticias.asp?u_action=display&u_log=6> <http://www.ibd.com.br/News_Detalhe.aspx?idnews=242>. IBGE disponíveis em e 44 concentram principalmente nas regiões sul e sudeste e estimulam o 6 desenvolvimento dos mercados locais . 4.1 Relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira Apesar de tecnicamente gerar maior escala produtiva do que a agricultura orgânica, a agricultura convencional tem demontrado sua insustentabilidade por provocar grandes perdas de solo e água, ser altamente tóxica para a saúde humana e por deteriorar as condições que possibilitam a produção que alimenta a crescente população mundial, pois seus métodos ignoram a dinâmica ecológica dos agroecossistemas. Por otimizar o uso dos recursos produtivos, conservar a biodiversidade, recuperar a fertilidade do solo e o controle biológico natural de pragas e plantas invasoras, a agricultura orgânica possui grande relevância do ponto de vista ambiental e pode ser considerada como meio de conversão. A agricultura orgânica também possui um papel importante para o país em termos socioeconômicos, pois representa uma grande oportunidade para os pequenos produtores que valorizam as práticas tradicionais de cultivo e a rotação de culturas. A agricultura orgânica é mais viável em pequenas áreas pois uma de suas características é a policultura. Caso haja necessidade de aumento na quantidade de produtos disponibilizados no mercado, uma associação dos agricultores entre si garante maior capacidade de abastecimento. Além da valorização da agricultura de propriedade familiar, o sistema de produção orgânica contribui para a qualidade de vida, a saúde e a segurança do produtor ao eliminar a exposição dos trabalhadores rurais aos riscos de envenenamentos e intoxicações que podem levar a graves doenças e até a morte. Além disso, por exigir mais mão-de-obra, a agricultura orgânica tende a gerar mais empregos e fonte de renda, uma vez que exclui o uso de insumos químicos e máquinas. Opta–se por um manejo manual do cultivo que exige maior dedicação. 6 Dados divulgados pelo BNDS, IBD e <http://www.aao.org.br/noticias.asp?u_action=display&u_log=6> <http://www.ibd.com.br/News_Detalhe.aspx?idnews=242>. IBGE disponíveis em e 45 Segundo Mello (2003 apud VEIGA et al., 2004, p. 6) “Conservando o solo fértil, a agricultura orgânica prende o homem à comunidade rural à qual pertence. Garantindo sua sobrevivência e a de sua família, desestimula o êxodo rural e fortalece o vínculo do homem a terra.”. Devido ao mercado em expansão e à crescente demanda de países desenvolvidos por produtos orgânicos, grandes oportunidades se afirmam para a economia do país. Conforme acentua Coelho (2001, p. 10) “[...] na área internacional, o mercado de produtos orgânicos é um novo nicho de mercado, em grande expansão, onde o País tem as condições ideais para tirar proveito em vários segmentos como [...] frutas, legumes, alguns grãos e bebidas [...]”. O Brasil possui ótimas condições para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável com grandes possibilidades de conversão de sistemas convencionais para o sistema orgânico, principalmente nas áreas ainda não exploradas agregando valor às commodities agrícolas exportadas. Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados às suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no país. (MAPA, 2005, Np). Grande parte da economia brasileira depende do agronegócio brasileiro por ser uma atividade altamente rentável, ter significativa participação no Produto Interno Bruto (PIB) e nas exportações, geração de empregos e apresentar um crescimento expressivo com relação a outros países. 4.1.1 Viabilidade de produção e entraves Devido os sistemas orgânicos de produção apresentarem relativamente menor produtividade e terem custos mais elevados com mão-de-obra, em alguns casos podem gerar menor rentabilidade econômica que os sistemas convencionais, em outros, os custos podem ser compensados pela não utilização de insumos 46 químicos, diversidade e preço final valorizado ou até serem mais rentáveis para o agricultor. Porém, apesar de muitos produtores alegarem que a produtividade da agricultura orgânica é menor do que em outros sistemas agrícolas, essa afirmação ainda é inconclusiva conforme relatório da Universidade de Cornell. Após um estudo de 22 anos que comparava a agricultura orgânica com a agricultura convencional nos EUA, os pesquisadores concluiram que a agricultura orgânica tem efetivamente a mesma produtividade de milho e soja que a agricultura convencional, com a vantagem de utilizar 30% menos energia, menos água e nenhum pesticida, além de trazer diversos outros benefícios como manter a qualidade do solo (LANG, 2005). Uma característica importante da produção orgânica é a sazonalidade. Na agricultura convencional, tem-se a possibilidade de produção dos mesmos alimentos durante todo o ano, o que não é possível na agricultura orgânica, pois este modo de produção respeita a sazonalidade da lavoura, ou seja, se baseia nos ciclos naturais considerando as estações e a época de plantio de cada espécie. Com uma diversificação produtiva e o desenvolvimento de várias linhas de produção, tem-se a garantia de lucratividade durante o ano todo. A associação e/ou cooperativa é importante para o fortalecimento de pequenos produtores, pois conforme apresentado no 7º Encontro Mineiro Sobre Produção Orgânica (2004, p. 28) “[...] tem por finalidade tornar coletiva [sic] as necessidades e os benefícios, o que faz que o grupo de produtores tenha força, meios e credibilidade para propor a resolução de suas demandas.” Essa organização facilita as ações de marketing, a obtenção de selos de certificação, uma melhor gestão da produção e traz meios para inserção do pequeno agricultor nas redes nacionais e transnacionais de comercialização (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001). Para Campanhola e Valarini (2001) o pequeno produtor pode enfrentar diversos obstáculos. Dentre eles destacam-se: a produção em pequena escala que podem dificultar o estabelecimento de contratos vantajosos; escassez de pesquisas científicas limitando o produtor a tentativas empíricas; falta de assistência técnica da rede pública que pode aumentar os custos de produção; maior demanda de mão-deobra que causam sobrecarga aos pequenos produtores ou a recorrência a contratação externa, que muitas vezes não é viável; dificuldades no processo de conversão quanto aos recursos financeiros para a adaptação da infraestrutura; dificuldades de acesso a linhas de crédito bancário com maiores garantias; custos 47 com certificação; dificuldades para instalar estrutura de processamento que agregam valor ao produto; e possíveis efeitos ambientais negativos que podem ocorrer por meio do excesso de matéria orgânica no solo ou da utilização de esterco como forma de adubo podendo afetar as condições físicas e biológicas do solo e/ou transmitir doenças ao ser humano. Em suma, todos os aspectos negativos supracitados podem ser subtraídos ou superados: • A associação, cooperativa ou até mesmo grupos informais de pequenos produtores tornam capaz o abastecimento de grandes mercados e por meio de estudos no meio acadêmico e científico é possível o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem a produção em maior escala sem a utilização de insumos químicos. Essa realidade já é identificada em culturas como o café, cana-de-açúcar e morango; • A agricultura orgânica registra uma crescente expansão e grandes vantagens que despertam a atenção e o reconhecimento de vários estudiosos que podem contribuir significamente para uma reestruturação da política oficial e grande desenvolvimento do setor; • Na medida em que a atenção se volta para a produção orgânica, o governo tende a incentivar e dar maior assistência aos produtores; • A demanda de mão-de-obra gera empregos e estimula a migração das cidades para o campo causando um efeito contrário ao êxodo rural e concentração nas cidades, responsável pela crise ecológica; • Em longo prazo a conversão traz os grandes benefícios da produção orgânica; • A certificação, cada vez mais facilitada, é a garantia de acesso ao crédito bancário; • Quanto aos custos com certificação, há a alternativa da certificação participativa que garante a qualidade do produto ecológico sem ter que recorrer às empresas prestadoras de serviços; • A união dos pequenos produtores também viabiliza o processamento dos produtos; 48 • E por último, para os possíveis danos ambientais decorrentes do uso inadequado de matéria orgânica ou adubação com esterco, há a prevenção por meio de técnicas alternativas como a adubação verde. A agricultura orgânica ainda traz um importante benefício para o pequeno produtor que é a diversificação: A diversificação da produção confere ao pequeno agricultor a vantagem da estabilidade da renda durante o ano, diminuindo a sua sazonalidade ao mesmo tempo em que melhora a sua segurança, pois reduz o risco de quebras de renda devido à flutuação nos preços [a queda nos preços de alguns produtos pode ser compensada pela alta de outros] e a incidentes naturais, tais como a ocorrência de pragas e doenças e o efeito de geadas, chuvas de granizo e assim por diante, que, devido à sua limitação no tempo, somente afetam alguns cultivos em períodos específicos. (CAMPANHOLA e VALARINI, 2001, p. 77). • Apoiar o desenvolvimento da agricultura orgânica é fundamental considerando que seja uma oportunidade para agregação de renda, melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores e nos níveis de saúde alimentar da sociedade. Sua viabilidade torna-se evidente com o aumento crescente conforme atestam os dados estatísticos. 4.1.2 Certificação de Produtos Orgânicos A certificação de produtos orgânicos deve ser entendida como um processo que tem por finalidade diferenciar o produto e dar garantia a quem o adquire de que sua procedência esteja em conformidade com as normas regulamentadas pelas organizações certificadoras. É um processo fundamental de organização que, além de classificar e padronizar os produtos traz incentivo tanto ao consumidor, que tem a facilidade de acesso à informação e garantia de procedência, quanto ao produtor que obtém maior credibilidade para a venda. A certificação é reconhecida por um selo exibido no produto que representa a comprovação da sua qualidade. Para Darolt (2007, p. 9): A certificação é um processo de inspeção das propriedades agrícolas, realizado com periodicidade que varia de dois a seis meses, para verificar 49 se o alimento orgânico está sendo cultivado e processado de acordo com as normas de produção orgânica. O foco da inspeção não é o produto, mas a terra e o processo de produção. Assim, uma vez credenciada, a propriedade pode gerar vários produtos certificados, que irão receber um selo de qualidade. O desenvolvimento do mercado de orgânicos também depende da certificação por ser um instrumento que credencia os produtos orgânicos a alcançarem mercados não locais. A importância da certificação para consolidar a marca como produtora de orgânicos é ainda maior quando se trata de exportação, devido às exigências e normas dos países importadores. Existem outras vantagens expressivas da certificação como a diferenciação, que aumenta o valor das mercadorias, e a eficiência da produção em decorrência de um planejamento mais criterioso por parte do produtor. Como o produto orgânico não apresenta características identificáveis a olho nu que o diferenciem do produto convencional, a informação comprovada sobre os valores nutricionais e a ausência de toxicidade são os fatores que levam os consumidores exigentes a preferirem o produto orgânico certificado (ORMOND; PAULA; FAVERET FILHO; ROCHA, 2002). De certo ponto de vista, os produtos agrícolas convencionais deveriam ser mais passíveis de requerer certificação para que fossem identificados contaminações químicas e riscos dos produtos. O primeiro e mais importante organismo mundial desse movimento é a IFOAM que congrega diversos movimentos relacionados com a agricultura orgânica e credencia as entidades certificadoras internacionalmente assegurando maior transparência às práticas e os princípios utilizados na produção e favorecendo o mercado internacional dos produtos orgânicos. No Brasil, o IBD é um dos principais órgãos certificadores e é o único reconhecido internacionalmente. Outro órgão importante é a Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo (AAO), porém seu selo de certificação é reconhecido apenas nacionalmente. A certificação no Brasil originou-se de maneira informal através de organizações dos próprios produtores que viram a necessidade de padronização dos processos de produção. “A associação Harmonia Ambiental Coonatura (RJ) e a Coolméia [RS] – Cooperativa Ecológica – foram as pioneiras da agricultura orgânica no país, e começaram a comercializar (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001, p. 78). esses produtos em 1978/79.” 50 Além do IBD e da AAO, existem outras entidades certificadoras nacionais e internacionais no país. Na Tabela 5 podem ser visualizadas algumas delas e na sequência os principais selos de certificação na Figura 1. Tabela 5 – Certificadoras nacionais e internacionais e sua creditação Creditação Certificadoras IBD (Brasil) International Certification Services Inc. (EUA) Japan Organic & Natural (Japão) Acreditadas pela IOAS (International Organic Accreditation Services) - IFOAM Krav (Suécia) Naturland (Alemanha) Organic Crop Improvement Association - OCIA (EUA) Farm Verified Organic - FVO (EUA) OIA Brasil (Argentina) BSC (Alemanha) Internacionais não acreditadas pela IFOAM, mas com ISO 65 Ecocert Brasil (França) IMO (Suíça) SKAL (Holandesa) AAO (SP) ABIO (RJ) ANC (SP) APAN (SP) Certicadoras nacionais não acreditadas pela IFOAM ou ISO 65 CEPEMA (CE) CHÃO VIVO (ES) ECOVIDA (SC) FUNDEAGRO (SC) MINAS ORGÂNICA (MG) PESACRE (AC) SAPUCAÍ (MG) NOVO ENCANTO (BA) Fonte: STRINGHETA; MUNIZ. Alimentos Orgânicos: Produção, Tecnologia e Certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. 51 Figura 1 – Principais selos de certificação Fonte: (ARAÚJO; PAIVA; FILGUEIRA, 2007, p. 144) Dos selos apresentados na figura 1, apenas quatro deles são de certificadoras credenciadas por auditoria pelo Ministério da Agricultura, Pecurária e Abastecimento (MAPA): Insitituto de Tecnologia do Paraná – TECPAR, IBD Certificações, ECOCERT Brasil e IMO Control do Brasil. A explicação geral sobre certificação por auditoria é apresentado no sítio do MAPA (2011, Np). Neste mecanismo as certificadoras públicas ou privadas credenciadas pelo MAPA utilizam os procedimentos e critérios reconhecidos internacionalmente para organismos de avaliação da conformidade, acrescidos dos requisitos técnicos estabelecidos pela legislação brasileira para a agricultura orgânica. A certificação por auditoria exige que a avaliação da conformidade seja feita por uma certificadora independente, sem vínculo direto com quem produz ou com quem compra. A certificadora credenciada pelo MAPA, ao aprovar a certificação de um produtor, fica responsável por incluí-lo no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e a autorizá-lo a utilizar o selo do SisOrg. Além da certificação por auditoria ou formal, há alternativas como a certificação participativa que é reconhecida pelo MAPA. A certificação participativa pressupõe a participação efetiva dos próprios envolvidos como produtores e consumidores, que é o caso da rede Ecovida. Entretanto, conforme afirmam Campanhola e Valarini (2001, p. 80): “[...] o grupo deve estar de acordo com as 52 normas de produção definidas na Instrução Normativa nº 7, de 17/05/1999, do Ministério da Agricultura e Abastecimento, e com as normas de funcionamento da rede.”. Os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPAC) credenciados pelo MAPA são: Rede Ecovida de Agroecologia, Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região – ANC e Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro. A certificação participativa é definida pelo MAPA (2011, Np) como: Os Sistemas Participativos de Garantia – SPG caracterizam-se pela responsabilidade coletiva de seus membros, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e quem mais se interesse em fortalecer esses sistemas. Os métodos de geração de credibilidade são adequados a diferentes realidades sociais, culturais, políticas, territoriais, institucionais, organizacionais e econômicas. O SPG tem que possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – OPAC, legalmente constituído e credenciado pelo MAPA, cuja responsabilidade é avaliar a conformidade orgânica dos produtos, incluir os produtores orgânicos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e autorizá-los a utilizar o selo do SisOrg. Também há uma exceção na legislação brasileira quanto à obrigatoriedade de certificação: a certificação pode ser facultativa nos casos de venda direta dos agricultores familiares aos consumidores seguindo critérios de enquadramento conforme previsto na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, art. 3º, parágrafos 1 e 2. Para um produto receber o selo de certificação orgânico é necessário, a princípio, que o produto seja produzido sem a utilização de agrotóxicos ou qualquer insumo químico e que sua produção não traga nenhum risco ao meio ambiente. Também envolve a relação com os trabalhadores, sua remuneração justa e participação nos lucros. Uma vez filiado a uma agência certificadora, o produtor terá orientação e inspeção quanto à produção e comercialização dentro dos padrões técnicos para certificação. Segundo Neves (2007, p. 96), “A avaliação técnica irá definir o contrato para liberação do selo orgânico, ou necessidade de um período de transição de até 12 meses para hortaliças e anuais e de 18 a 24 meses para fruticultura e plantas perenes.”. Embora a agricultura orgânica favoreça a propriedade familiar, deve-se atentar ao que dizem Buainain e Batalha (2007, p. 91): “[...] o custo de certificação representa importante barreira à entrada para os pequenos produtores e também um entrave para sua permanência como produtor no setor.” Por esse lado, os custos 53 com certificação podem ser vistos como excludentes, pois podem dificultar a adequação desses pequenos produtores. Entende-se que a certificação é um elemento de suma importância para incentivar o consumo de produtos orgânicos e permitir a comercialização em diversos mercados. Por isso, ressalta-se a importância de uma redução nos custos de certificação reconhecida internacionalmente que possa viabilizar a iniciativa de pequenos produtores a se regularizarem e exportarem seus produtos. Com a certificação obteriam maior participação no mercado e tornariam o preço final do seu produto mais atraente aos olhos dos consumidores favorecendo, dessa maneira, um aumento no interesse pelo consumo desses produtos. 4.2 Regiões brasileiras com maior destaque na produção As iniciativas de produção e comercialização de produtos orgânicos no Brasil surgiram em 1978 no Rio Grande do Sul pela Cooperativa Ecológica Coolméia e em 1979 no Rio de Janeiro pela Associação Harmonia Ambiental Conatura. A Coolméia é uma cooperativa com sede em Porto Alegre, que assessora a elaboração e a implantação de projetos em propriedades rurais, organiza feiras em Porto Alegre e fornece certificação aos agricultores que fazem parte da cooperativa. A Coonatura é uma associação de quinze agricultores familiares co-arrendadores que possui alguns pontos de venda no Rio de Janeiro e faz entregas domiciliares. (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001). De acordo com um relatório da USDA (1999, Np), os estados de São Paulo e Paraná lideravam a produção no país. Uma usina de açúcar em São Paulo inclusive já exportava açúcar orgânico para 13 países diferentes desde 1997, entre eles Estados Unidos com a marca ‘Native’. A soja orgânica, um dos principais produtos exportados, certificada pelo IBD e produzida por uma parceria de aproximadamente 500 produtores do Paraná e Rio Grande era importada principalmente para a União Européia - especialmente a Alemanha - e Japão. Como os dados estatísticos referentes à produção orgânica no Brasil são escassos e muitos deles divulgados por entidades certificadoras, é difícil obter 54 informações concretas e concordantes. De acordo com dados da AAO, os maiores estados produtores são Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo que detêm aproximadamente 70% da produção nacional. (ARAÚJO; PAIVA; FILGUEIRA, 2007). A produção e o mercado de orgânicos são consolidados nas regiões sul e suldeste, porém a região do nordeste concentra um maior número de estabelecimentos, como pode ser identificado na tabela 6. Tabela 6 - Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006 Estabelecimentos Estabelecimentos Total de que fazem o uso que fazem o uso EstabelecimenGrandes de agricultura tos que não Total de estabelecimentos de agricultura Regiões e estabeleci- que fazem o uso orgânica e são orgânica e não fazem o uso de Unidades da mentos de agricultura certificados por são certificados agricultura Federação orgânica entidade por entidade orgânica credenciada credenciada Brasil 5.175.489 90.497 5.106 85.391 5.084.992 Norte 475.775 6.133 351 5.782 469.642 Rondônia 87.077 927 135 792 86.150 Acre 29.482 485 15 470 28.997 Amazonas 66.784 1.211 20 1.191 65.573 Roraima 10.310 64 1 63 10.246 Pará 222.028 2.362 136 2.226 219.666 Amapá 3.527 29 - 29 3.498 Tocantins 56.567 1.055 44 1.011 55.512 Nordeste 2.454.006 42.236 1.218 41.018 2.411.770 Maranhão 287.037 3.256 77 3.179 283.781 Piauí 245.378 3.712 79 3.633 241.666 Ceará 381.014 4.865 167 4.698 376.149 Rio Grande do Norte 83.052 2.266 95 2.171 80.786 Paraíba 167.272 3.362 58 3.304 163.910 Pernambuco 304.788 6.425 208 6.217 298.363 55 Tabela 6 - Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006 (Continuação) Grandes Regiões e Unidades da Federação Estabelecimentos Estabelecimentos Total de que fazem o uso que fazem o uso EstabelecimenTotal de estabelecimentos de agricultura de agricultura tos que não estabeleci- que fazem o uso orgânica e são orgânica e não fazem o uso de de agricultura certificados por são certificados agricultura mentos por entidade orgânica orgânica entidade credenciada credenciada Alagoas 123.331 2.117 40 2.077 121.214 Sergipe 100.606 1.039 41 998 99.567 Bahia 761.528 15.194 453 14.741 746.334 Sudeste 922.049 18.715 1.366 17.349 903.334 Minas Gerais 551.617 12.910 641 12.269 538.707 84.356 1.466 152 1.314 82.890 58.482 968 122 846 57.514 227.594 3.371 451 2.920 224.223 1.006.181 19.275 1.924 17.351 986.906 Paraná 371.051 7.527 909 6.618 363.524 Santa Catarina 193.663 3.216 353 2.863 190.447 Rio Grande do Sul 441.467 8.532 662 7.870 432.935 317.478 4.138 247 3.891 313.340 64.862 753 31 722 64.109 112.978 1.619 79 1.540 111.359 135.683 1.605 113 1.492 134.078 3.955 161 24 137 3.794 Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Sul CentroOeste Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. Observa-se na Tabela 6 que a região com maior número de estabelecimentos de produção orgânica, certificados ou não, é o Nordeste com 42.236 estabelecimentos sendo 15.194 somente na Bahia. Em segundo lugar a região sul com 19.275 sendo maior parte no Rio Grande do Sul que possui 8.532 56 estabelecimentos. E em terceiro, a região sudeste com 18.715 estabelecimentos sendo 12.910 localizados em Minas Gerais. A Tabela 6 confirma que a agricultura orgânica ainda é muito incipiente no Brasil com relação à agricultura convencional, pois menos de 2% das propriedades de agricultura no país utiliza o sistema orgânico de produção. O estado que mais possui estabelecimentos de agricultura orgânica com relação aos estabelecimentos de agricultura convencional é o Distrito Federal com mais de 4%. Quanto às regiões, sudeste com 2,03% e sul com 1,92% lideram as duas primeiras posições. Em todas as regiões e estados há um número muito maior de estabelecimentos que não possuem certificação, sendo 94% em todo o país. Nordeste possui o maior número de estabelecimentos, porém apenas 3% são certificados. Gráfico 4 – Proporção dos estabelecimentos produtores de orgânicos certificados e não certificados no total de estabelecimentos orgânicos, por grupo de área – Brasil – 2006 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. Pode-se verificar no Gráfico 4 que a certificação ocorre mais nos estabelecimentos maiores. Dos estabelecimentos com até 10 hectares, apenas um pouco mais de 4% são certificados com uma diferença significativa dos estabelecimentos de 10 a 50 hectares com mais de 7% certificados. Nas áreas com mais de 500 hectares, mais de 10% dos estabelecimentos são certificados. Com relação à produção, a região sul concentra grande parte da agricultura orgânica detendo 68% da produção nacional conforme Gráfico 5. Entretanto, a 57 maioria dos produtores é de propriedade familiar com a comercialização voltada para o mercado interno. Os produtos são basicamente frutas, hortaliças, legumes, cereais, grãos e mel. A região do sudeste possui menos de 20% das áreas de fruticultura e outras culturas como hortaliças, cereais e mel. O Nordeste vem se destacando com 42% da área nacional de fruticultura em cultivo orgânico. (DIAS, 2006). Apesar de possuir uma área menor de produção orgânica - cerca de 70,6 mil hectares – a região sudeste possui grande relevância no setor pelo fato de sua produção ser bastante difundida e algumas culturas específicas serem produzidas em larga escala e grande parte destinada a exportação, como é o caso do café produzido em Minas Gerais e a cana-de-açúcar em produzida em São Paulo. (SEMANA 2005 apud CAMARGO et al., 2006). Gráfico 5 – Porcentagem de produtores com agropecuária orgânica por região Fonte: (DIAS, 2006, não paginado). 4.3 Principais culturas produzidas no país O cenário brasileiro de produção orgânica é bastante diversificado possuindo áreas destinadas a produção de commodities até especiarias e produtos processados. Dentre as principais culturas orgânicas produzidas no país destacamse: soja, hortaliças, café, frutas e açúcar. 58 De acordo com o relatório The World of Organic Agriculture (2008), a maior parte das frutas e vegetais frescos produzidos no Brasil são destinados ao mercado interno sendo 45% vendidos em supermercados, 26% em feiras e 16% em lojas especializadas. Há também um aumento no número de alimentos processados por companhias e produtores familiares destinados ao mercado interno como: chás, café, geléias, azeites, cereias matinais e latícinios. Quanto à produção destinada à exportação tem-se um grande volume de café, banana, soja e milho não industrializados. Produtos como suco concentrados, açúcar e soja processados também estão começando a conquistar um espaço no mercado internacional assim como produtos têxteis e cosméticos apresentados na BioFach 2005. A soja orgânica produzida e exportada pelo Brasil tem grande importância para economia do país, tendo em vista o mercado em expansão e a grande rentabilidade proporcionada aos produtores rurais. A soja orgânica é produzida principalmente nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás, e tem mostrado cada vez mais rentabilidade do que a soja convencional ou transgênica devido à intensa procura pelo produto e disposição dos consumidores em pagarem até 50% a mais pelo fator qualidade. (PLANETA ORGÂNICO, 2005). De acordo com Nórcio (2004 apud ETHOS, 2005) foram produzidas no Paraná, principalmente nas regiões norte, oeste e sudoeste do estado, 16.276 toneladas de soja orgânica em 2001-2002 e 12 mil toneladas na safra de 2003-2004. Assim como a soja orgânica, o cultivo de café orgânico gera grande rentabilidade para os produtores devido à demanda mundial, exportando para países como Europa, EUA e Japão. Em 1990, surgiram as iniciativas de produção do café orgânico no sul de Minas, com a organização de produtores em associações e cooperativas primando a qualidade e diferenciação dos seus produtos. O município de Poço Fundo, em Minas Gerais, concentra atualmente a maior área de produção de café orgânico cultivado do país. O Brasil está apenas em 8ª colocação na produção mundial, porém possui a maior área plantada de café com cerca de 2,1 milhões de hectares, o que demonstra seu potencial de expansão e importância para o agronegócio brasileiro. (OLIVEIRA, 2010). O açúcar é um dos principais produtos orgânicos cultivados no país com a produção anual de 105 mil a 110 mil toneladas por ano. São quatro usinas que fabricam o produto que é principalmente direcionado ao mercado externo. (RODRIGUES, 2011). O açúcar orgânico é produzido principalmente em 59 Sertãozinho, em São Paulo, pela Usina São Francisco, dona da marca Native que é a maior exportadora de açúcar do mundo. Além do açúcar, a empresa também produz café, achocolatado, sucos, cookies, azeite e granola orgânicos. A maioria de seus produtos sempre foi comercializada no exterior em países da Europa, Estados Unidos, Coréia, Japão e Canadá, porém, a companhia tem como objetivo equilibrar as vendas destinando a metade ao mercado interno. (REVISTA CAFEICULTURA, 2010). As hortaliças são parte importante da produção orgânica nacional, porém ocupam menores áreas por serem principalmente produzidas por agricultores de propriedade familiar e destinadas ao mercado interno. O caso das hortaliças é consequência da adequação do sistema de produção orgânica às características de pequenas propriedades com gestão familiar, seja pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, seja pela menor dependência de recursos externos, com maior utilização de mão-de-obra e menor necessidade de capital. (ORMOND, 2002, p. 15) À medida que os países desenvolvidos buscam consumir produtos de maior qualidade como os orgânicos, aumentam as perspectivas de expansão das vendas dos produtos brasileiros. O Brasil é beneficiado, sobretudo com a fruticultura, pois possui excelentes condições edafoclimáticas7 para produzir todos os tipos de frutas tropicais. Além disso, há um aumento no consumo de frutas e hortaliças que são considerados alimentos indispensáveis para a qualidade de vida da população. No Brasil e no mundo a maior parte da produção de frutas, assim como de hortaliças, é destinada ao mercado interno devido às características desse mercado. Segundo o relatório Agrianual (2001 apud BORGES et al., 2003, p. 235) “Dentre as frutas orgânicas brasileiras exportadas, incluem-se a laranja (suco), a banana e a acerola.” A produção de cacau orgânico também é realidade e destaca-se na região sul da Bahia. Segundo Uzêda (2004, p. 107) “A Região Cacaueira da Bahia apresenta um contexto bastante favorável para a consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica Agroflorestal, considerando os aspectos da conservação da biodiversidade e produção familiar [...]”. 7 Relativo aos solos e ao clima. 60 4.4 Exportações brasileiras de produtos orgânicos Com uma procura cada vez maior por produtos orgânicos e a atenção de mecanismos do governo e iniciativa privada voltada para este setor através de apoio, suporte, investimentos e promoção, o contexto é favorável para o acesso dos pequenos agricultores aos nichos de mercado de exportação. A procura cresce mais rapidamente no mercado externo do que no mercado interno, pois a demanda é maior em países desenvolvidos por estes possuírem maior acesso a informação e mais oportunidades de escolha. Frente a mercados de exportação exigentes com normas rígidas de controle de qualidade dos produtos que ingressam em seus mercados, os produtos agrícolas orgânicos brasileiros são uma alternativa diferenciada, com grande potencial e que vêm conquistando grandes mercados como Estados Unidos, Europa e Japão. De acordo com o MAPA (2009, Np): De agosto de 2006 a setembro de 2008, o Brasil exportou 37 mil toneladas em produtos orgânicos, que equivalem a uma receita de US$ 26,7 milhões. Desse montante, destacam-se produtos como a soja, com mais de 8 mil toneladas, e o café, com 209 toneladas. Juntos registraram US$ 9,5 milhões em exportação. Os principais países de destino dos produtos foram Holanda, Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e França. Na Tabela 7 tem-se o volume e a receita de produtos orgânicos exportados no período de 2007 a 2009. Observa-se que o total exportado no período foi de quase 37 mil toneladas equivalente à receita de mais de US$ FOB 28 milhões, montante que equipara-se ao período supracitado – de 2006 a 2008. Entretanto os dados são decrescentes: o volume exportado em 2009 foi quase 80% menor do que em 2007 e há uma variação mensal significativa. Mês Jan Fev Mar Abr Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009 2007 2008 2009 US$ FOB US$ FOB US$ FOB Kg Kg 7235 Var. Var. Valor Valor Valor %(*) %(*) 1.201.052 612.817 696.210 550.747 854.054 -10,1 1.234.107 55,1 2.171.190 1.210.129 978.990 899.998 38.443 76.696 -25,6 -91,5 2.189.555 1.087.569 939.094 1.097.938 519.108 404.661 1,0 -63,1 2.324.294 1.230.151 873.940 919.791 784.886 598.991 -25,2 -34,9 61 Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009 (Continuação) 2007 2008 2009 US$ FOB US$ FOB US$ FOB Mês Kg Kg 7235 Var. Var. Valor Valor Valor %(*) %(*) 1.133.580 602.912 2.028.990 2.132.716 253,7 691.864 690.726 Mai -67,6 1.193.443 653.377 2.018.680 1.820.454 178,6 687.235 605.392 Jun -66,7 424.403 292.935 904.740 940.108 147.000 151.146 Jul 220,9 -83,9 1.379.785 788.947 1.060.010 1.100.235 39,5 1.694 12.934 Ago -98,8 1.724.438 986.018 526.291 486.389 110.965 89.408 Set -50,7 -81,6 1.929.638 1.065.390 996.445 778.024 20.000 17.814 Out -27,0 -97,7 2.484.131 1.738.219 1.334.609 1.046.500 -39,8 78.850 49.781 Nov -95,2 1.389.276 1.687.644 834.307 625.318 153.705 110.023 Dez -62,9 -82,4 1.891.313 1.727.224 Total 11.658.694 7.815.442 9.704.072 8.929.744 3,7 70,5 (*) Variação percentual de valor em relação a igual mês do ano anterior Fonte: MDIC/SECEX (2010) O maior estímulo às exportações de orgânicos é o preço diferenciado em relação aos produtos convencionais. Esse estímulo faz com que maior parte da produção seja voltada às exportações. A maioria da produção de frutas e hortaliças é direcionada ao consumo local em razão das características desse mercado. Dentre os produtos orgânicos exportados, além do café e da soja, produzidos principalmente em Minas Gerais e no Paraná, pode-se também destacar os seguintes produtos: cacau (Bahia), erva-mate (Paraná), açúcar mascavo (Paraná e São Paulo), suco de laranja e frutas secas (São Paulo), castanha de caju, óleo de dendê e frutas tropicais (Nordeste), óleo de palma e palmito (Pará), guaraná (Amazônia), arroz (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e frutas cítricas (Rio Grande do Sul). Os produtos orgânicos processados também têm destaque: mel, composta de frutas, café solúvel, moído e torrado, óleos essenciais, suco concentrado de laranja, extratos vegetais, barra de cereais e guaraná em pó. (ORMOND et al, 2002 apud MUNIZ et al, 2003). O segmento de cosméticos orgânicos também tem destaque. De acordo com Ming Liu (2010, p. 01) “[...] o crescimento foi na ordem de 25% comparando-se com 2009, com destaque para as marcas Surya Brasil e Ikove, que atualmente estão presentes, com suas marcas próprias, em mais de 12 países na Europa, Ásia e América do Sul.”. Dentre os produtos orgânicos brasileiros exportados entre agosto de 2006 e janeiro de 2010, a soja em geral tem destaque e equivale a 60% do total de produtos, conforme observa-se na Tabela 8. 62 Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010 NCM Descrição da NCM Kg 12010090 Outras espécies de soja mesmo triturada 23040090 12081000 Outros resíduos da extração do oléo de soja Outros Acucs. não citados ant. e sacarina quim./pura Farinha de soja 17011100 Açúcar de cana bruto s/ aromatiz. ou corante 17019900 15071000 Óleo de soja em bruto, mesmo degomado 09011110 Café não torrado, não descafeinado, em grão 23040010 Farinhas e "Pellets' da ext. do óleo de soja 08045020 Mangas frescas ou refrigeradas 18040000 Manteiga, gordura e óleo, de cacau 18050000 Cacau em pó, s/ açúcar ou outro edulcorante 18031000 Pasta de cacau não desengordurada Tapioca e sucedaneos floc., grum., grãos, etc. Cogumelos "Agaricus" secos, mmo., cortad., etc. Outros prod. de origem animal, improp. p/ alim. hum. Fécula de mandioca 19030000 07123100 05119999 11081400 10059010 03061399 05119990 03041919 03041019 Outras espécies de milho, em grão Outros camarões congelados exceto os inteiros Outros prod. de origem animal, improp. p/ alim. hum. Filé de outros peixes frescos refrigerado 08043000 Filé de outros peixes frescos refr. congelado Prep. Aliment. Obtido de proc. De cereais (flocos) Abacaxis (Ananases), frescos ou secos 18010000 Cacau inteiro ou partido bruto ou torrado 21011110 Café solúvel descafeinado 19042000 20079910 Geleias e "marmelades" 09019000 Casca, película de café, sucedaneos do café 08072000 Mamões (Papaias), frescos 18061000 08044000 Cacau em pó, c/ açúcar ou outro edulcorante "Ketchup" e outros molhos de tomate inf. A 1 Kg inc. Outros, incluindo o açúcar invertido c/ 50% frut. Outras frutas de casca rija, cons. De outros modos Abacates, frescos ou secos 08030000 Bananas, frescas ou secas 08011900 Outros cocos, frescos 08109000 Outras frutas frescas 07096000 Pimentões e pimentas, frescos ou refrig. 08059000 Outros cítricos, frescos ou secos 21032010 17029000 20081900 US$ 12.843.160 9.156.989 Valor 9.705.973 6.523.773 Part. % 29,45% 19,80% 9.907.525 3.567.760 4.075.869 1.515.250 280.097 1.283.622 1.542.027 143.950 174.000 56.100 4.702.839 2.204.411 1.995.299 1.576.262 1.315.571 1.262.878 1.131.905 1.029.760 370.640 258.675 14,27% 6,69% 6,06% 4,78% 3,99% 3,83% 3,43% 3,12% 1,12% 0,78% 160.350 207.823 0,63% 1.665 148.355 0,45% 240.000 189.000 185.570 141.600 110.841 69.511 0,43% 0,34% 0,21% 7.704 65.014 0,20% 72.000 2.374 2.170 39.600 15.690 14.340 0,12% 0,05% 0,04% 1.652 4.830 1.500 317 749 447 3.671 472 11.236 7.260 7.250 6.814 5.815 5.535 4.906 4.636 0,03% 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,01% 0,01% 496 3.533 0,01% 1.000 2.300 0,01% 224 501 198 122 82 59 17 1.364 647 286 192 108 81 25 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 63 Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010 (Continuação) NCM Descrição da NCM Kg 08011110 Cocos secos s/ casca mesmo ralados 3 Total 3 US$ Valor 4 4 Part. % 0,00% 0,00% Fonte: MDIC/SECEX (2010) O desenvolvimento da agricultura orgânica no Brasil é observado pela expansão de áreas cultivadas, o número de agricultores envolvidos e a diversidade de produtos com crescente oferta de processados e volume de vendas no mercado interno e principalmente no mercado externo. A boa posição do Brasil como exportador de orgânicos é resultado da regulamentação da lei, apoio do governo com certificação e a participação em eventos, feiras, exposições, projetos, cursos, seminários e congressos que despertam o interesse de consumidores e meios de comunicação que passam a divulgar ainda mais o mercado de orgânicos. Um projeto importante é o Organics Brasil desenvolvido pela Agência de Promoção de Exportadores do Brasil (APEX-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em parceria com o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) e com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). O projeto foi responsável pelo aumento de 60% nas exportações em 2010: “As exportações brasileiras de produtos orgânicos somaram US$ 108,2 milhões este ano [...]. As vendas partiram das 72 empresas do Projeto Organics Brasil, que exportaram para um total de 70 países [...]”. (ANBA, 2010, p. 01). O projeto que contava apenas com 12 empresas do estado do Paraná em 2005 contabiliza negócios cada vez maiores e mais importantes. Os mercados europeus e norte-americanos são de grande importância para o desenvolvimento da agricultura orgânica, pois representam 97% do total de receitas auferidas nesse setor. Em 2006, a Suíça era o maior país consumidor de orgânicos na Europa com o gasto médio de 102 euros per capita, seguido de perto por Áustria, com o gasto médio de 89 euros per capita. Especialistas estimam que o consumo de produtos orgânicos na Europa tenha um crescimento anual de 10%. (WILLER; KILCHER, 2010). Na Tabela 9, pode-se verificar que os países que mais importam produtos orgânicos do Brasil são países desenvolvidos como Holanda, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido e França. No período de agosto de 2006 a janeiro de 2010 64 estes países importaram quase 37 mil toneladas, o equivalente a uma receita de US$ FOB 25 mil. Tabela 9 - Países de destino dos produtos orgânicos brasileiros exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010 US$ País de Destino Kg Holanda Chile 13.894.587 8.640.420 6.820.199 3.188.250 4.298.350 1.669.640 473.212 1.283.622 472.565 1.600.629 1.562.000 252.000 68.403 312.000 322.117 172.000 106.000 91.300 66.528 64.500 21.000 23.000 19.200 1.000 1.000 Total 45.423.522 Suécia Estados Unidos Reino Unido França Bélgica Canadá Noruega Japão Dinamarca Alemanha Itália Austrália Tailândia Israel Equador Coréia do Sul Nova Zelândia Espanha Polônia Formosa (Taiwan) China Hong Kong Suíça Valor 9.569.347 6.276.148 4.081.042 2.625.439 2.445.608 1.692.166 1.467.459 1.262.878 853.500 810.552 757.390 198.102 192.500 181.200 166.026 96.320 71.815 61.554 49.003 34.323 30.518 11.385 10.176 6.000 2.300 32.952.751 Part. % 29,0% 19,0% 12,4% 8,0% 7,4% 5,1% 4,5% 3,8% 2,6% 2,5% 2,3% 0,6% 0,6% 0,5% 0,5% 0,3% 0,2% 0,2% 0,1% 0,1% 0,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% Fonte: MDIC/SECEX (2010) No geral, é difícil obter-se estatísticas oficiais sobre exportações brasileiras de produtos orgânicos. Os dados existentes indicam que o Brasil atualmente está entre os principais exportadores produzindo dentro de elevados padrões internacionais. O mercado externo está cada vez mais receptivo a produtos que estão relacionados com as preocupações sociais, ambientais e de saúde de seus consumidores. As tendências mundiais abrangem uma equiparação entre os preços de produtos orgânicos e convencionais em virtude de maiores quantidades 65 comercializadas, logística adequada e aumento das atividades em pesquisa em agricultura orgânica. 66 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo buscou compreender o processo de evolução do consumo dos produtos da agricultura orgânica, a importância desta atividade e relacionar as relevâncias e as oportunidades que este meio de produção pode oferecer à economia brasileira. O padrão de produção agrícola convencional baseado no uso de insumos químicos e no uso inadequado dos recursos naturais surgiu em decorrência da industrialização e do surgimento de novas tecnologias de produção quando demandava-se, pelo crescimento da população e do consumo, maior produtividade e redução de custos. A agricultura orgânica assume um papel importante sobretudo por tratar-se de antítese ao padrão agrícola convencional e passa a obter maior legitimidade com o significativo aumento na demanda de produtos orgânicos no mundo. Além dos aspectos ambientais associados a esta atividade, incluem-se valores como soliedariedade, processos participativos, a valorização da cidadania, segurança alimentar, desenvolvimento da agricultura familiar, organização social, geração de emprego e renda e a valorização de pequenos produtores. Os dados oficiais relativos à comercialização de produtos orgânicos no Brasil são escassos, porém foi possível verificar as perspectivas de desenvolvimento da agricultura orgânica. As estatísticas mostram que existe um grande potencial de expansão da produção orgânica no país que tem configuração climática e do solo favorável e há uma efetiva expansão das áreas cultivadas, crescente demanda. Ainda conta com a regulamentação da lei, apoio do governo e de associações com certificação e a participação do país em diversos eventos importantes. Há um efetivo interesse do governo e dos organismos associados na harmonização e na equivalência das normas internacionais que regulamentam e conduzem o comércio internacional de produtos orgânicos. A importância dessa resolução deve-se às exigências e barreiras impostas à entrada de produtos nos países importadores através de regulamentos técnicos. O agronegócio é o principal impulso da economia brasileira com uma significativa participação no PIB e nas exportações e com o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, o país tem as condições para agregar valor às commodities 67 agrícolas exportadas. As empresas que se adequam a esta nova realidade mundial mantem-se no mercado com um diferencial e contribuem para o desenvolvimento sustentável. Por estar inserida nas tendências atuais de sustentabilidade ambiental e os diversos aspectos relacionados, é que efetiva-se o crescimento para o mercado, interno e externo, de agricultura orgânica. As fontes de valorização desses produtos podem estar associadas à forma de relação com o mercado, com as relações institucionais estabelecidas e com as formas de condução e gestão das atividades produtivas. Entretanto deve-se ponderar sobre os diferentes fatores que podem contribuir para que essa atividade deixe de ser apenas uma ‘prática alternativa’, para consolidar-se um importante cultivo de orgânicos pois o crescimento econômico nem sempre está ligado com o desenvolvimento social. O desafio é o grande lobby da cultura agroindustrial. 68 REFERÊNCIAS ABREU, Rosamélia de. Brasil tem a 2ª maior área de agricultura orgânica no mundo. Rota Brasil Oeste. 2005. Disponível em <http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1424/agricultura-organica>. Acesso em 05 nov. 2010. AGROW. Agrow World Crop Protection News. [S.l.: s.n.], 2008. Disponível em <http://www.agrow.com/home/> Acesso em 05 abr 2010. ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. ARAÚJO, Daline F. S.; PAIVA, Maria do Socorro Diógenes; FILGUEIRA, João Maria. Orgânicos: expansão de mercado e certificação. [Natal]: Holos, v.3, n.23, 2007. Disponível em <http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/136/124> Acesso em 26 jun. 2011. ASSOCIAÇÃO CAMPDEN DE PESQUISA EM ALIMENTOS E BEBIDAS. Pesquisa feita com amostras em supermercados e lojas na Inglaterra. [S.n.]: Grã-Bretanha (1990). Disponível em <http://cultivehortaorganica.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html> Acesso em 01 abr 2010. BADGLEY, Catherine et al. Organic agriculture and the global food supply. Renewable Agriculture and Food Systems. Cambridge University Press, 2007. Disponível em <http://agr.wa.gov/FoodAnimal/Organic/Certificate/2008/NewsRelease/BadgleyRese archPaper.pdf>. Acesso em 05 nov 2010. BORGES, Ana Lúcia et al. Aspectos Gerais da Produção Orgânica de Frutas. In: ______. Alimentos orgânicos: produção, tecnologia e certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. cap. 6, p. 235. BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Brasília: Diário Oficial da União, 24 de dezembro de 2003. BUAINAIN, Antônio Márcio; BATALHA, Mário Otávio. Cadeia Produtiva de Orgânicos. Brasília: IICA: MAPA/SPA, v. 5, 2007. CAMARGO, Ana Maria Montragio Pires de et al. Área cultivada com agricultura orgânica no estado de São Paulo, 2004. São Paulo: Informações Econômicas, v.36, n.3, 2006. Disponível em < ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/tec3-0306.pdf Acesso em 27 jun. 2011. CAMPANHOLA, Clayton; VALARINI, Pedro José. A agricultura orgânica e seu potencial para o pequeno produtor. Brasília: Cadernos de Ciência & Tecnologia, 2001. Disponível em <http://www.ipcp.org.br/storage/EA/Alimenta%E7%E3o%20e%20Agricultura%20Org %E2nica/AGRICULTURA%20ORG%C2NICA%20E%20SEU%20POTENCIAL%20pa ra%20pequena%20produtores.pdf> Acesso em 25 jun. 2011. 69 CANEDO, Leticia Bicalho. A Revolução Industrial. 13 ed. rev. atual. – São Paulo: Atual, 1994. COELHO, Carlos Nayro. A expansão e o potencial do mercado mundial de produtos orgânicos. Revista de Política Agrícola. 2001. Disponível em <http://www.embrapa.br/publicacoes/tecnico/revistaAgricola/rpa-anos-anteriores1/de-2000-a-2004/Rev_Pol_Agr_v10_n2-2001.PDF>. Acesso em 23 jun. 2011. DAROLT, Moacir Roberto. A qualidade dos alimentos orgânicos. Planeta Orgânico. 2003. Disponível em <http://www.planetaorganico.com.br/daroltqualid.htm>. Acesso em: 27 out. 2010. ______. Alimentos orgânicos: um guia para o consumidor consciente. 2 ed. Londrina: IAPAR, 2007. DIAS, Reinaldo. Marketing Ambiental: Ética, Responsabilidade Social e Competitividade nos Negócios. São Paulo: Atlas, 2007. DIAS, Rogério Pereira. Situação da Produção Orgânica 2006. [S.l.] MAPA, 2006. Disponível em < http://pt.scribd.com/doc/2364926/Situacao-da-producao-organica2006-DIAS> Acesso em 27 jun. 2011. DIAS, Sergio (Coord.). Gestão de Marketing. São Paulo: Saraiva, 2003. DUPAS, Gilberto. O mito do progresso. Novos Estudos – CEBRAP. São Paulo, n. 77, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010133002007000100005&script=sci_arttext>. Acesso em 07 abr. 2011. ENCONTRO MINEIRO SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA, 7, 2004, Barbacena. Anais [do] 7º Encontro MineiroSobre Produção Orgânica. Viçosa, MG, 2004. ETHOS INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA. Diagnóstico e identificação de oportunidades de desenvolvimento na cadeia produtiva de soja orgânica no estado do Paraná. Curitiba: SEBRAE, 2005. EXPORTAÇÃO de orgânicos cresce 60%. [S.l.]: Agência de Nóticias Brasil-Árabe, 2010. Disponível em <http://anba.achanoticias.com.br/noticia_agronegocios.kmf?cod=11181610&indice=0 > Acesso em 28 ago. 2011. FERRARI, Antenor. Agrotóxicos: a praga da dominação. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985. FONSECA, Maria Fernanda de Albuquerque Costa et al. Agricultura Orgânica: Introdução das normas, regulamentos técnicos e critérios para acesso aos mercados dos produtos orgânicos no Brasil. Niterói: Pesagro – Rio, 2009. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ______. Métodos e técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GUAZZELLI, Maria José; PEREZ, Julian (Org). Concentração Corporativa: Transformando a vida em mercadoria. [S.l.]: Série Novas Tecnologias, ed. 6, 2010. GUERRANTE, Rafaela Di Sabato. Transgênicos: uma visão estratégica. Rio de Janeiro: Interciência, 2003. IANNONE, Roberto Antonio. A Revolução Industrial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 1992. 70 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006. Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/> Acesso em 20 ago 2011. JESUS, Eli Lino de. Histórico e Filosofia da Ciência do Solo: longa caminhada do Reducionismo ao Holismo. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1996. LANG. Susan. Organic Farming produces same corn and soybean yields as conventional farms, but consumes less energy and no pesticides, study finds. Cornell University News Service. Ithaca, NY. 2005. Disponível em <http://www.news.cornell.edu/stories/July05/organic.farm.vs.other.ssl.html> Acesso em 26 jun. 2011. LIMA, Aline. O problema é o preço. Guia Exame 2008. [S.l.] Abril, 2008. LIU, Ming. 2010 foi um ano bom para exportação de orgânicos. Organics Brasil. [S.l.]: 2010. Disponível em <www.organicsbrasil.org> Acesso em 28 ago. 2011. MINISTERIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agronegócio Brasileiro: Uma Oportunidade de Investimentos. 2005. Disponível em <http://www.agricultura.gov.br/portal/>. Acesso em 20 nov 2010. ______. Certificação por auditoria. Brasília: Prefira Orgânicos. Disponível em <http://www.prefiraorganicos.com.br/agrorganica/mecanismosdecontrole/explicacaog eral.aspx>. Acesso em 29 ago. 2011. ______. Ôrganicos beneficiaram mais de 13 mil produtores. Brasília: Prefira Orgânicos, 2009. Disponível em <http://www.prefiraorganicos.com.br/noticias/organicos-bebeficiaram-mais-de-13-milprodutores.aspx> Acesso em 20 ago. 2011. ______. Sistemas participativos de segurança. Brasília: Prefira Orgânicos. Disponível em <http://www.prefiraorganicos.com.br/agrorganica/mecanismosdecontrole/explicacaog eral.aspx>. Acesso em 29 ago. 2011. MOTA, Leandro de Martino. Agrotóxicos e Transgênicos: solução ou problema à saúde humana e ambiental? Duque de Caxias, Saúde & Ambiente, 2009. MUNIZ, José Norberto et al. Mercado de Produtos Orgânicos além do natural. In: ______. Alimentos orgânicos: produção, tecnologia e certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. cap. 8, p. 327. NATIVE lidera venda global de açúcar orgânico. Revista Cafeicultura, [S.l.], 21 mai. 2010. Agronegócios. Disponível em <http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=32515&native-lideravenda-global-de-acucar-organico-> Acesso em 03 jul.2011. NEVES, Marcos Fava (Coord.). Agronegócios e desenvolvimento sustentável: Uma agenda para a liderança mundial na produção de alimentos e bioenergia. São Paulo: Atlas, 2007. NEVES, Maria Cristina Prata. Harmonização e Equivalência no Comércio Mundial de Produtos Orgânicos. EMBRAPA AGROECOLOGIA: 2003. Disponível em <http://www.cnpab.embrapa.br/publicacoes/artigos/artigo_reuniao_onu_ao.html>. Acesso em 12 mai.2012. 71 OLIVEIRA, Camila Noronha de. Região competitiva e vulnerabilidade: a produção de café orgânico como uma alternativa à vulnerabilidade territorial do sul de Minas. Porto Alegre: Anais XVI Encontro Nacional dos Geográfos, 2010. ORMOND, José Geraldo Pacheco et al. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES, 2002. PASCHOAL, Adilson. Pragas, praguicidas e a crise ambiental: problemas e soluções. Rio de Janeiro: FGV, 1979. PLANETA ORGÂNICO. Soja orgânica: o tesouro da produção nacional. [S.l.: s.n.], 2005. Disponível em <http://www.planetaorganico.com.br/sojaorg.htm> Acesso em 28 jun. 2011. RAFI GENOTYPES. Sementes transgênicas: as empresas dominantes no mundo em 2000. [S.l.:s.n.], 2000. Disponível em <http://www.rafi.org> Acesso em 08 fev 2011. REIJNTJES, Coen; HAVERKORT, Bertus; WATERS-BAYER, Ann. Agricultura para o futuro: uma introdução à agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. 2 ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1999. (tradução de John Cunha Comeford RJ / Leusden, Holanda: ILEIA). RICHARDSON, Roberto. Pesquisa Social. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. RIOUX, Jean Pierre. A Revolução Industrial 1780-1880. São Paulo: Pioneira, 1975. RIZZO, Marçal Rogério. A volta às origens em um mercado que cresce. Produtos Orgânicos. Disponível em <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_25179/artigo_sobre_produtos_organic os_%E2%80%93_a_volta_as_origens_em_um_mercado_que_cresce>. Acesso em 02 nov. 2010. ROBIN, Marie-Monique. O mundo segundo a Monsanto. São Paulo: Radical Livros, 2008. RODRIGUES, João Carlos (E.). Encontro discute produção de açúcar orgânico. Agência Brasil, Rio de Janeiro, 2011. Nacional. Disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-06-22/encontro-discute-producao-deacucar-organico> Acesso em 03 jul. 2011. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. STRINGHETA; Muniz. Alimentos orgânicos: produção, tecnologia e certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. TRIVELLATO, Maria Dalva; FREITAS, Gilberto Bernardo de. Panorama da agricultura orgânica. In: ______. Alimentos orgânicos: produção, tecnologia e certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003. cap. 1, p. 10. UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Organic farming in Brazil. Foreign Agricultural Service, 1999. Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/2364913/Organic-Farming-in-Brazil-1999-USDA>. Acesso em 23 jun. 2011. UZÊDA, Mariella Camardelli (Org.). O desafio da agricultura sustentável: alternativas viáveis para o Sul da Bahia. Ilhéus: Editus, 2004. 72 VEIGA, Regina et al. A agricultura orgânica como fonte de emprego e renda: um estudo de caso da produção vitivinícola. Toledo, 2004. Disponível em <http://www.sober.org.br/palestra/5/221.pdf>. Acesso em 23 jun. 2011. WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) The World of organic agriculture: statistics and emerging trends 2009. Bonn: IFOAM; Frick: FiBL, 2009. WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) The World of organic agriculture: statistics and emerging trends 2010. Bonn: IFOAM; Frick: FiBL, 2010. 73 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS Nome do estagiário Joice Cristina da Silva Orientador de conteúdo Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos Responsável pelo Estágio Prof.ª MSc. Natalí Nascimento