ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL ANÁLISE DA CONJUNTURA AGROPECUÁRIA SAFRA 2011/12 AGRICULTURA ORGÂNICA Engenheiro Agrônomo Carlos Alberto Salvador Outubro de 2011 1 INTRODUÇÃO Segundo a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, em seu artigo 1º – considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. De acordo com a Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM), a agricultura orgânica é baseada nos princípios da saúde, ecologia, equidade, ambiente e saúde: • saúde: deve manter e melhorar a saúde do solo, planta, animal, homem, e do planeta, como um só e indivisível; • Ecologia: deve ser baseada em sistemas vivos, ecológicos e ciclos e na sustentabilidade; 1 • equidade: deve basear-se em relacionamentos e garantir a equidade na relação com o ambiente comum e oportunidade de vida; • cuidado: deve ser gerido na forma da precaução e responsabilidade para proteger a saúde, o bem estar das gerações atuais, futuras e o meio ambiente. A procura por produtos orgânicos tem aumentado no mercado interno e no mercado externo. O Estado do Paraná e o Brasil vêm conquistando, nos últimos anos, posição privilegiada no cenário da produção orgânica de alimentos. O objetivo deste trabalho é apresentar, de uma forma breve, considerações, reflexões e dados relativos ao produto orgânico, demonstrando sua importância na economia agrícola nos aspectos da produção. 2 MUNDO (1) O sistema orgânico de produção1 já é praticado e registrado em mais de 150 países ao redor do mundo, sendo observada uma rápida expansão, sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul2. Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento de custos, problemas ambientais e de contaminação de alimentos causados pela agricultura convencional ou industrial. Paralelamente, a agricultura de base ecológica pode proporcionar benefícios para biodiversidade, meio ambiente e bem estar dos animais. Ademais, é crescente a exigência dos consumidores por produtos “limpos”, livres de substâncias químicas e/ou geneticamente modificadas. De acordo com a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM)1, atualmente no mundo pouco mais de 35 milhões de hectares são manejados organicamente num total de 1,4 milhão de propriedades, o que representa cerca de 1% do total das terras agrícolas do mundo. A maior parte destas áreas está localizada na Austrália (12,1 milhões de hectares, basicamente pastagens nativas), seguida da Europa (8,2 milhões de hectares) e América Latina 1 O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange diferentes denominações das agriculturas de base ecológica, como: agricultura ecológica, biodinâmica, natural, regenerativa, biológica, agroecológica, permacultura e outras que atendam os princípios estabelecidos pela Lei 10.831/2003. 2 Willer, Helga and Kilcher, Lukas, (Eds.) (2010) The World of Organic Agriculture - Statistics and Emerging Trends 2010. IFOAM, Bonn, and FiBL, Frick. 2 (8,1 milhões de hectares). Os países com a maior área em produção orgânica são, respectivamente, Austrália, Argentina, China, Estados Unidos e Brasil. O continente que possui a maior área com orgânicos é a Oceania (35%), seguido da Europa (23%), América Latina (23%), Ásia (9%), América do Norte (7%) e África (3%). Alguns países da Europa como: Áustria (15,9%), Suíça (11,1%) e Suécia (10,8%), apresentam a maior área percentual de orgânicos em relação ao total da agropecuária. Os países com o maior número de produtores são: a Índia (340 mil), Uganda (180 mil) e México (130 mil), majoritariamente voltados à agricultura familiar. As estatísticas mundiais mostram que, dos cerca de 150 países onde a produção é registrada, 69 nações já possuem uma regulamentação para o setor orgânico e 21 países estão trabalhando na construção da legislação. Cerca de 460 certificadoras atestam a qualidade dos produtos orgânicos no mundo. No Brasil são aproximadamente 20 certificadoras entre nacionais e estrangeiras2 . A maior parte do volume da produção orgânica mundial é proveniente de pequenas e médias propriedades familiares. Os estabelecimentos orgânicos concentram-se em países da África (34%), Ásia (29%), América Latina (19%), seguido da Europa (16%), América do Norte (1%) e Oceania (1%)2. O crescimento mundial das áreas em agricultura orgânica ocorreu de forma mais expressiva a partir da virada do milênio. Entre 2000 e 2008 houve um crescimento na área de aproximadamente 20 milhões de hectares, passando de 15 milhões para 35 milhões de hectares2 . Paralelamente, nesse período, observou-se um crescimento do mercado de alimentos orgânicos. Segundo Willer et. al. (2010), os Estados Unidos (15 milhões de euros), Canadá (1,3 milhões de euros) e a União Europeia (15,6 milhões de euros) representam os dois principais mercados, consumindo mais de 90% do que é produzido em alimentos orgânicos no mundo. 3 3 BRASIL (2) No Brasil, segundo os dados do Censo Agropecuário 20093, o número de produtores orgânicos representava 1,8% (ou 90.497) do total de estabelecimentos agropecuários. Dedicavam-se, principalmente, à pecuária e criação de outros animais (41,7%), às lavouras temporárias (33,5%), à lavoura permanente (10,4%), à horticultura/floricultura (9,9%) e à produção florestal (3,8%). De acordo com o IBGE, os quatro principais Estados em número de estabelecimentos que fazem uso da agricultura orgânica no Brasil são respectivamente: Bahia (15.194), Minas Gerais (12.910), Rio Grande do Sul (8.532) e Paraná (7.527). Dados internacionais mostram que o Brasil está entre os cinco países com maior área em produção orgânica, cerca de 1,7 milhões de hectares (Willer et. al., 2010). A maior parte das propriedades são pequenas e de origem familiar concentrando-se no Sul e Sudeste do país. Dados do MDIC/SECEX (2010) 4 mostram que do que é exportado pelo Brasil cerca de 70% segue para países da Comunidade Européia, com destaque para a Holanda que consome 28% do total de produtos orgânicos brasileiros. Apesar de a maior parte (80%)2 da produção orgânica proveniente de países em desenvolvimento ser destinada à exportação, há um grande potencial para expansão do mercado interno, como é o caso do Brasil, Argentina, Chile, Costa Rica e Uruguai. A venda em supermercados tem crescido substancialmente. Atualmente, podem ser facilmente encontrados produtos orgânicos em supermercados no Uruguai, Costa Rica, Honduras, Peru, Brasil e Argentina. Os produtos processados ainda são encontrados em menor escala, sendo um mercado promissor para a América Latina. A Argentina é o país com a maior produção de alimentos orgânicos industrializados (sucos concentrados, óleos, vinhos, chás, frutas secas, condimentos etc). 3 IBGE. Censo Agropecuário 2009. MDIC / SECEX. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio/ Secretaria de Comércio Exterior. Exportação de produtos orgânicos – agosto de 2006 a junho de 2010. Disponível em <http://www.mdic.gov.br> Acesso em agosto de 2010. 4 4 4 PARANÁ No Paraná, a agricultura orgânica é desenvolvida predominantemente em pequenas propriedades de caráter famíliar. De acordo com o Censo Agropecuário 2006 – IBGE, 82% do número total de estabelecimentos rurais e 28% da área são considerados como agricultura familiar. O caso dos produtores no Paraná é caracterizado pelo grande número de assentamentos rurais, reservas indígenas e comunidades de quilombolas, que buscam aplicar os princípios da agroecologia. Outra característica da atividade no Paraná é a organização da sociedade civil. Existem inúmeras ONGs que atuam nessa área reunidas em um Fórum Estadual. Além disso, recentemente o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (CEDRAF) instituiu a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica e Agroecologia, que, de forma paritária, congrega entidades governamentais e da sociedade civil organizada, e tem por finalidade propor ações voltadas ao desenvolvimento da agroecologia e da rede de produção orgânica, constituindo-se em um espaço de caráter multissetorial, de debate acerca das questões mais relevantes para o setor no Estado do Paraná. Figura 1 - Distribuição regional da produção orgânica no Paraná FONTES: SEAB/DERAL; EMATER 5 Devido à sua extensão territorial e topografia, o Paraná possui regiões com condições edafoclimáticas diferentes, o que permite uma produção bastante diversificada, que atende os anseios do segmento consumidor (figura 2). Todavia, ainda há a necessidade de um trabalho de logística visando maior integração entre as regiões. De acordo com o último levantamento de campo realizado por profissionais da SEAB/DERAL e EMATER, na última safra (2008/2009), o Paraná produziu cerca de 138 mil toneladas de produtos orgânicos (figura 3). Figura 2 - Evolução da Produção Orgânica no Parana (em mi ton.) 160 138 140 124 120 107 94 100 78 80 66 60 52 48 36 40 20 23 20 16 4 9 08 /0 8 20 /0 07 20 06 /0 7 6 20 05 /0 5 20 04 /0 4 20 03 /0 3 20 /0 02 20 01 /0 2 1 20 00 /0 0 20 99 /0 9 19 /9 98 19 /9 97 19 19 96 /9 7 8 0 Fonte: SEAB/DERAL;EMATER Houve um aumento de aproximadamente 11% em relação ao período anterior. A produção de hortaliças orgânicas apresenta o maior número de agricultores envolvidos e concentra-se em torno das grandes cidades, com destaque para Curitiba, Ponta Grossa, Toledo e União da Vitória. Observam-se pólos de produção de cana-de-açúcar nas regiões de Cascavel, Francisco Beltrão, Jacarezinho e Toledo. A região Norte se sobressai na produção de café orgânico, e o litoral na produção de frutas. O cultivo de soja orgânica é destaque nas regiões de Francisco Beltrão, Pato Branco e Toledo. A tecnologia de produção orgânica preconiza a rotação de culturas; no caso específico do milho, a produção está sendo alavancada 6 também pelo crescimento da produção animal, necessária à produção de esterco para compostagem. As maiores regiões produtoras de milho orgânico são: Irati, União da Vitória e Francisco Beltrão. O principal produto em área plantada é a soja, mas, em volume de produção, a mandioca assume esta posição. A produção de cana-de-açúcar também é expressiva e é transformada em açúcar mascavo e cachaça. O setor de alimentos orgânicos tende a se fortalecer. A agricultura orgânica, que surgiu como alternativa, hoje é considerada por muitos como uma necessidade. No Paraná, 86% das propriedades rurais têm área inferior a 50 hectares, por isso, é importante incentivar atividades que permitam obter maior rentabilidade por área. Neste aspecto, sistemas de produção que promovam a diversificação na propriedade familiar, como a olericultura, a fruticultura, a floricultura e a criação de pequenos animais, são opções de renda que podem ser potencializadas nos sistemas de base ecológica. Além disso, o sistema agroecológico se adapta bem a propriedades que buscam se integrar em circuitos de turismo rural, sendo uma opção ao cultivo tradicional de grãos, que exige grande escala de produção. A legislação ambiental também contribui a favor da agricultura orgânica. Em áreas de mananciais ou de proteção ambiental, a prática da agricultura convencional, que utiliza agrotóxico, é dificultada ou até proibida. A agricultura ecológica busca planejar o espaço rural e produzir alimentos de forma integrada com o ambiente, aproveitando todo seu potencial. Com isso, trabalha o planejamento da paisagem buscando manter florestas onde estas são necessárias, e movimentar o solo somente onde ele permite movimentação. Somado a isso, adota técnicas de produção orgânicas, sem o uso de agrotóxicos. Esses dois fatores fazem com que a agroecologia seja uma excelente alternativa para áreas de mananciais de abastecimento. As práticas agrícolas baseadas nos princípios da agroecologia têm grande potencial de crescimento, já que os consumidores vêm dando maior atenção à saúde, através do consumo de alimentos saudáveis. Além disso, as mudanças climáticas estão despertando o senso ecológico, o que garante apoio aos sistemas de produção agroecológicos, por terem menores impactos ambientais. Portanto, como é possível observar, há um crescimento da demanda por 7 parte dos consumidores, que tem impulsionado o crescimento da produção e dos canais e agentes de comercialização de produtos orgânicos, mostrando assim a importância de organização de um programa de governo para propor, articular e apoiar ações fundamentadas nos princípios da agroecologia, visando ao desenvolvimento de políticas públicas, socioambientais, econômicas e tecnológicas para a agricultura paranaense. 5 LEGISLAÇÃO De acordo com a Instrução Normativa, nº 19, de 28 de maio de 2009, o Ministério de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), aprova os mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica. Em seu artigo 2º, considera-se Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos: base de dados com informações relativas aos produtores orgânicos em conformidade com a regulamentação brasileira para a produção orgânica. Conforme art.17, cabe a Coordenação de Agroecologia (COAGRE), a responsabilidade por manter atualizado e disponível o Cadastro Nacional de Organismos de Avaliação da Conformidade Orgânica e do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. REFERÊNCIAS (1) e (2) Informações extraídas do Documento-Base para o Programa Paraná Agroecológico. 8