Daniel Silveira de Almeida Barbosa Acrocomia intumescens e as demais plantas sagradas dos tambores do Maracatu Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de Engenharia Florestal VIÇOSA MINAS GERAIS-BRASIL JULHO - 2011 Daniel Silveira de Almeida Barbosa Acrocomia intumescens e as demais plantas sagradas dos tambores do Maracatu Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de Engenharia Florestal APROVADA em Julho de 2011 ________________________________ Prof. France Maria Gontijo Coelho (ORIENTADORA) ii BIOGRAFIA Daniel Silveira de Almeida Barbosa nasceu em janeiro de 1984, em Carmo do Paranaíba, Minas Gerais. Em 2002, concluiu o 2o grau no Colégio Pitágoras, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em 2004 iniciou o curso de Engenharia Florestal, na Universidade Federal de Viçosa. Durante o curso, o estudante teve uma formação acadêmica dentro das ciências agrárias, onde fez estágios em diversas áreas como Agroecologia, Levantamento de Solos e Educação no Campo. Paralelamente aprendeu, desenvolveu e coordenou atividades culturais, principalmente na área da música, de grupos que se encontraram na Universidade Federal de Viçosa, um ambiente ainda carente de atividade culturais. iii AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Deus em primeiro lugar, pois sem ele nada disso se concretizaria. Agradeço à todos os membros do Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife, em especial a Mestre Walter, Marcelo, Príncipe Tan, Rainha Marivalda, Tiago Rodrigo, Pitoco, Igor, Ítalo, João Vítor, Toco, Bruno, Anderson, Ricardo, Tatá, Cal do Rap, Daiana, Maga, Nataly, Jair, , Geni, , Idinho, Pelado, Genival, Rato, Caboclo e todos os outros que não citei aqui. Muito obrigado! Agradeço também à família maravilhosa que tenho, meus pais, Edi e Geraldo. Os meus avós maternos, Raimunda e Sinval (in memorian) e meus avós paternos, Mário (in memorian) e Mariana (in memorian). A todos meus irmãos Eldom, Herman, Mário e Mariana. À família de amigos e amigas que a vivencia em Viçosa me propiciou, em especial ao grupo percussivo O Bloco e ao Grupo de Capoeira Angoleiros do Mar. Muito obrigado por tudo! Aos grandes mestres populares que tive a oportunidade de conviver até hoje. O Capitão Carlinhos da Folia de Reis Mensageiros do Oriente, Martinho Sanfoneiro, Agenor, Mestre Antonio Boi da Banda de Congo José Lúcio Rocha, Agradeço pelos ensinamentos e espero que eles continuem. À minha orientadora France, pelos momentos que tivemos juntos, pela motivação, pela paciência e pelas orientações que foram de grande valia para meu aprendizado. Muito obrigado a todos! iv Sumário Resumo vi 1 Introdução 1 2 Revisão de literatura 2.1. Maracatu de Baque Virado ou Maracatu Nação 6 2.2 Etnobotânica e Etnoecologia; ciência e método 13 3 Objetivos 20 4 Material e métodos 21 5 Resultados e Discussão 5.1. Os instrumentos musicais da Nação Estrela Brilhante de Recife 24 5.2. Manejo botânico 27 5.3. O conhecimento tradicional e as técnicas 30 5.4. A transmissão do conhecimento 34 5.5. Os rituais 36 6 Conclusões e sugestões 40 7 Referências Bibliográficas 42 Anexos 45 v RESUMO BARBOSA, Daniel Silveira de Almeida.Universidade Federal de Viçosa, julho de 2011. Acrocomia intumescens e as demais plantas sagradas dos tambores do Maracatu. Orientadora: France Maria Gontijo Coelho. O presente trabalho teve como proposta um estudo etnobotânico sobre as plantas utilizadas para a confecção dos instrumentos musicais da manifestação cultural brasileira conhecida como Maracatu de Baque Virado. Para a realização do mesmo, foi feito um estudo de caso com a Nação Estrela Brilhante do Recife, fundada em 1906, que tem sede no bairro Alto José do Pinho, Recife – PE. Os artesãos que se ocupam da atividade de construir esses instrumentos musicais, demonstraram um profundo conhecimento sobre a utilização desses recursos naturais. Tais conhecimentos se mostraram importantes para a manutenção das atividades desse grupo, assim como a preservação das espécies utilizadas e a conservação dos biomas onde as mesmas se encontram. Assim, outros estudos relacionados a esses grupos culturais tão expressivos em nosso país, tanto de cunho ambiental quanto social, se mostraram necessários. Isso, tanto pelo contexto social que esses grupos se encontram, quanto pelo estado de devastação que se encontram alguns dos biomas presentes em nosso território. vi 1. Introdução Esta monografia apresenta o resultado de um estudo etnobotânico sobre as plantas utilizadas na produção de instrumentos por membros de um grupo de Maracatu em Pernambuco. O trabalho traz também a descrição das práticas de construção de instrumentos musicais dessa manifestação cultural pernambucana conhecida como Maracatu de Baque Virado, que também é chamada de Maracatu Nação. Como estudo de caso, o trabalho foi desenvolvido junto à tradicional Nação de Maracatu Estrela Brilhante do Recife, fundada em 1906. Como prática cultural de herança africana, o Maracatu reúne grupos sociais entorno da construção e preservação de conhecimentos e valores identitários importantes para a manutenção desses grupos. A perspectiva metodológica que a etnobotânica apresenta foi adequada para a identificação desses conhecimentos, na medida em que tem como ponto de partida o conhecimento popular acumulado. A pesquisa foi realizada na capital do estado de Pernambuco, Recife, localizada na região do nordeste do Brasil. O estado de Pernambuco apresenta uma cobertura vegetal marcada, na maioria dos resquícios florestais originais, pelos biomas Mata Atlântica (com seus ecossistemas associados: restinga, brejos de altitude e manguezais) e Caatinga e os seus ecótonos, ou seja, áreas de transição entre os diferentes tipos de vegetação. Contudo, no último levantamento realizado sobre a Mata Atlântica do estado de Pernambuco foi revelado um profundo estado de devastação desse 1 bioma, pois restam apenas 4,6% da cobertura original (Braga et AL, citado por Costa Lima, 1998). De acordo com Costa Lima (1998) o processo de devastação desse bioma vem do início dos tempos da colonização. Primeiramente como uma forma dos colonos portugueses se defenderem dos constantes ataques indígenas, o que não deixava de ser um tipo de estratégia militar. Já outra atividade que contribuiu de forma expressiva para a devastação desse ecossistema foi o ciclo de extração do pau-brasil (Caesalpinia echinata), espécie que praticamente foi extinta de seu ambiente natural, juntamente com outras espécies madeireiras valiosas. Seguida a essas formas de exploração veio a remoção desse bioma para a criação extensiva de gado. Juntamente com essas atividades, e como a principal causa desse processo de degradação, vem à substituição das florestas pela monocultura da cana-de-açúcar. Ainda de acordo com essa autora, esse processo se agravou com o programa pró-álccol em 1974. Essas condições ambientais motivaram também a realização deste trabalho, pois estas práticas culturais dependem dos recursos naturais para sua continuidade. A sede do Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife, desde o início da década de 90, localiza-se no bairro do Alto José do Pinho, que antigamente era parte do bairro Casa Amarela. Segundo GASPAR (2003), os primeiros registros dessa localidade datam de 1630, quando fizeram um forte para proteger Pernambuco dos ataques holandeses. Muito tempo depois o local ficou conhecido como Casa Amarela. O processo de ocupação dos morros dessa região data do fim da primeira metade do século XX. Em 1988, através da Lei Municipal nº 14.452, que criou os bairros atuais da cidade de Recife, Casa Amarela é desmembrada e são criados os bairros Morro da Conceição, Alto José Bonifácio e Alto José do Pinho. (Foto 1: Sede do Estrela Brilhante). Segundo MEDEIROS e OLIVEIRA, 2002, o Alto José do Pinho é um bairro da Zona Norte de Recife, da região dos morros ocupados, dos mais antigos na capital pernambucana. Caracteriza-se por ser uma comunidade de baixa renda, e com a peculiaridade de ser o bairro mais densamente habitado de Recife, sendo 289 habitantes/ha. Nesses morros de Recife concentram-se mais de um terço da população total da cidade. 2 De acordo com Guimarães ET AL (citando o Censo Demográfico de 1991, IBGE), a partir dos indicadores referentes à condição de vida nos bairros de Recife, temos no Alto José do Pinho que 78% dos chefes de domicílio tem renda mensal menor que dois salários mínimos e 73% dos domicílios tem abastecimento adequado de água. Além disso, apenas 2,7% dos domicílios tem instalação sanitária adequada e 88% dos domicílios tem coleta direta de lixo. Nessa população, 16,9% que tem entre 10-14 anos é analfabeta. Dos chefes de domicílio, 40,4% tem de três anos ou menos de estudo. (Foto 2: escadaria do bairro Alto José do Pinho) Dentro desse contexto urbano, existem e resistem várias manifestações culturais, dentre elas o Maracatu de Baque Virado. A difusão dessa manifestação cultural foi impulsionada na década de noventa com o surgimento do movimento conhecido como Manguebeat, representado mais expressivamente pelas bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. Junto com isso, houve também nessa época o surgimento dos primeiros grupos parafolclóricos que representavam o Maracatu Nação. De acordo com Souza(2006), esses grupos surgiram com o anseio de “serem consumidos pela juventude que até então desconhecia ou discriminava esse folguedo”(p.5). Os primeiros grupos parafolclóricos de Maracatu Nação surgiram em Olinda, e passaram a ser muito valorizados nas festividades do carnaval pernambucano. Hoje existem grupos dessa modalidade distribuídos em vários estados brasileiros, e até em outros países. Segundo FONSECA (2005), o Manguebeat é um movimento de algumas bandas que alcançaram uma inédita projeção nacional e até internacional desde os anos noventa. A letra de uma música de Chico Science é inspiradora pois diz que: “Modernizar o passado é uma evolução musical...” – a Nação Zumbi ao utilizar em suas composições elementos rítmicos e instrumentos de manifestações tradicionais, misturados com as guitarras elétricas e os sintetizadores, estava a redescobrir e a fazer uma releitura contemporânea do Côco, do Maracatu e de outras manifestações regionais, criando um novo estilo musical. Aliado a essa mescla de elementos regionais e referências pop globais, as letras dessa banda continham poesias que tratavam de assuntos 3 como os movimentos culturais, os mestres populares, os catadores de caranguejos, os canais (rios contaminados pelo esgoto) e outras realidades. Assim o movimento mangue estava divulgando os trabalhos que aconteciam na periferia: “Havia esforços de vários lados que, porém, isolados, não conseguiam atingir o sucesso na grande mídia e com o público... Grupos que tocavam a muito tempo, mas não conseguiam sair de suas comunidades. A partir da movimentação em torno da cena mangue, a mídia em geral voltou-se mais para o que esses grupos marginalizados tinham a dizer.”(FONSECA, 2005: p.7) A música do Maracatu é praticada com uma orquestra de percussão, também chamada de bateria, e com o canto de toadas, nome que é dado às musicas do Maracatu. Assim, os instrumentos que compõe a bateria do Maracatu Nação são: os bombos (ou alfaias, ou tambores), os chocalhos (abe, mineiro e patangome), o gonguê, a caixa, o tarol e o apito. Como a maioria desses instrumentos são confeccionados pelos próprios membros das Nações de Maracatu e com a utilização de plantas, esses luthiers possuem o conhecimento sobre as espécies com características adequadas para a confecção de cada um desses instrumentos. Assim tornou-se interessante o registro desse conhecimento tradicional, tanto sobre as espécies utilizadas quanto dos processos de construção e preservação dos materiais utilizados. Acreditava-se que haveria interesse, também no próprio grupo, de preservar as espécies e os biomas onde elas se encontram, afim de que essas comunidades tradicionais pudessem reproduzir a sua identidade sócio-cultural, garantindo a continuidade de acesso a esses recursos naturais. A partir do registro do conhecimento popular sobre os usos desses recursos naturais, uma abordagem etnoecológica e a etnobotânica desses saberes, se mostrou estratégica, pois essas disciplinas podem 4 fundamentar a expectativa de um desenvolvimento sustentável, tão discutido pela nossa sociedade nos tempos atuais. 5 2. Revisão 2.1) Maracatu de Baque Virado ou Maracatu Nação: Como o presente trabalho tem como foco um levantamento Etnobotânico, essa revisão não pretende esgotar o tema do Maracatu, mas sim fornecer elementos que possibilitem compreender melhor do que se trata essa monografia. Assim será feita uma breve passagem pela origem do folguedo, a importância, os elementos que o compõe (corte real, escravos e batuqueiros), as toadas (cantigas do maracatu), os instrumentos usados e os toques utilizados. Como existem basicamente duas manifestações culturais que levam o nome de Maracatu, é importante esclarecer que esta monografia trata do Maracatu Nação e não do Maracatu de Orquestra. O primeiro tem origem da cidade de Recife, e já o segundo surgiu na zona canavieira do sertão pernambucano, no início do século XX. “Este tipo de maracatu se diferencia do nação principalmente pela composição do seu conjunto musical, constituído de um terno (gonguê de duas campânulas, porca - espécie de cuíca -, ganzá e bombo) e de instrumentos de sopro. Além disso, é emblemática do maracatu de orquestra a presença do caboclo de lança, muito conhecido na atualidade e eleito como símbolo da 6 cultura popular pernambucana. ” (GUILLEN e LIMA 2006: p.187) O Maracatu de Orquestra, também chamado de Maracatu Rural, que é representado pela figura do Caboclo-de-lança, ainda é caracterizado por cantigas improvisadas, o que difere completamente uma manifestação da outra. Os documentos existentes sobre os primeiros sinais dessa manifestação cultural, ou do que teria dado origem ao que hoje conhecemos como Maracatu Nação, não fornece subsídios que possibilitem datar precisamente seu surgimento. Autores diversos concordam que o Maracatu, em seu formato de cortejo real, seja resquícios ou reminiscências das festas de coroação de reis negros, que recebiam a denominação real por meio de eleições ou nomeações na Instituição do Rei do Congo. As notícias mais antigas que se tem sobre a Instituição dos Reis do Congo, em Pernambuco, são de 1711, em Olinda. Essa Instituição do Rei Congo era uma organização política, religiosa e festiva de negros escravos que tinha como sede Igrejas de Recife e Olinda, como exemplo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Recife. Os documentos existentes sobre os primeiros sinais dessa manifestação cultural, ou do que teria dado origem ao que hoje conhecemos como Maracatu Nação, não fornece subsídios que possibilitem datar precisamente seu surgimento. Segundo GUERRA PEIXE (1981), autores diversos, concordam que o Maracatu, em seu formato de cortejo real, seja resquícios ou reminiscências das festas de coroação de reis negros. As Instituições do Rei do Congo funcionavam assim: alguns negros recebiam a denominação real depois da eleições ou nomeações feitas pelos grupos de congadeiros. Ao que tudo indica tudo isso acontecia dentro de um contexto aculturação, controle e resignificação dessa cultura pelo corpo eclesiático da Igreja Católica e elites agrárias escravistas. As notícias mais antigas que se tem sobre a Instituição dos Reis do Congo, em Pernambuco, são de 1711, em Olinda. Essa Instituição do Rei Congo era uma organização política, religiosa e festiva de negros 7 escravos que tinha como sede Igrejas de Recife e Olinda, como exemplo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Recife. De acordo com GUERRA-PEIXE (1981), documentos encontrados na Igreja do Rosário, em Recife, revelam coroações de reis e rainhas negros já aconteciam antes de 1711. Algumas notas citadas por esse autor, de documentos encontrados na Igreja do Rosário do Recife, elucidam melhor essas coroações: “Eleições de reis e juízes e mais oficiais que hão de servir à (Igreja de) N. S. do Rosário dos Homens Pretos este ano de 1674 e acaba em 1675”. Estes reis e juízes seriam das instituições do Rei Congo, e em seguida ele ainda cita os nomes do rei e da rainha de “Angola”, e também dos “reis crioulos”. A partir dessa data de 1674, os documentos encontrados registram apenas as coroações, sem citar os nomes dos reis coroados, e estes também não se referem a estes acontecimentos como eleições, apenas como coroações (Guerra Peixe: p. 15 - 16). Pereira da Costa (citado por Guerra-Peixe, 1981), indica que as Instituições dos Reis do Congo não se prolongaram muito além de meados de 1800. Além disso, teria restado das referidas Instituições, em Recife, apenas a parte festiva como os “auto dos Congos”. Essas seriam “uma folgança dos africanos, geralmente escravos”. Parte principal dessa “folgança” era uma peça, que tinha o rei como protagonista que era acompanhado por sua corte. Havia também como acompanhamento da encenação, músicas e danças próprias. Esse autor ainda indica que, o “auto dos Congos”, seria um complemento festivo das Instituições dos Reis do Congo. Com o passar do tempo, o “auto” foi declinando, e em algum momento foi eliminada a parte teatral, restando apenas o cortejo com dança e a musica, que teria derivado para o Maracatu (GUERRA-PEIXE: p. 19). Assim, organizações de negros escravos que tiveram início no século XVII teriam evoluído e culminado no que hoje em dia conhecemos como Maracatu Nação. A maioria dessas documentações são oriundas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Recife, e o folguedo aqui tratado, seria um festejo de Nossa Senhora do Rosário, onde as coroações acontecem. 8 Durante a pesquisa de GUERRA-PEIXE, que foi realizada no período de 1949-1952, o Maracatu Elefante, era um dos subsistentes nessa época e que melhor representava as tradições do cortejo, e, por isso, um dos mais procurados pelos estudiosos de manifestações populares. Esse maracatu nesse contexto, já como uma agremiação carnavalesca, era constituído pelos seguintes elementos: “Rainha, Rei, Princesa, Príncipe, três Damas de Honra, Duque, Duquesa, Conde, Condessa, quatro Vassalas, quatro Vassalos, três calungas, três damas-do-paço, Mestre-de-Sala, Porta-Estandarte, Escravo, o Tigre, o Elefante, Guarda-Coroa, Corneteiro, Baliza, Secretário, treze Lanceiros, Brasabundo, cerca de vinte caboclos e vinte caboclas e quinze batuqueiros” (Guerra Peixe, p. 35). O que somaria no total aproximadamente noventa e sete integrantes, sendo que as calungas são bonecas sagradas, que representam espíritos antepassados, essas são conduzidas pelas Damas-doPaço. Já o tigre e o elefante são os símbolos dessa agremiação, que recebe nome de Maracatu Elefante, que seguem como um “abre-alas” do grupo. (Foto 3: Rainha do Estrela Brilhante). Atualmente, os Maracatus mantêm essa mesma configuração, porém em número bem maior de participantes. Na Nação Estrela Brilhante do Recife, durante o trabalho de observação desta monografia, pode-se observar nos carnavais de 2010 e 2011, aproximadamente uma centena de batuqueiros e por volta de duzentas e cinqüenta pessoas compondo a corte (Foto 4: bateria do Estrela Brilhante). As cantigas do Maracatu recebem o nome de toadas, indicando o conjunto de texto e melodia que formam a composição do Maracatu. Nessas cantigas não há espaços para improvisos, sendo cantadas apenas letras préestabelecidas. Juntando o terceiro elemento, o toque, feito com os instrumentos de percussão, a música do Maracatu torna-se completa. Como temas mais comuns dessas toadas são referências no cortejo do Maracatu os instrumentos, carro abre-alas, bandeira, etc. Por exemplo: Rainha, Lanceiro, calungas, gonguê e tarol. Ainda como tema dessas músicas é comum de se encontrar Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, nomes de antigos batuqueiros (Costa Velha e Veludinho), mestres (Luiz de França) já 9 falecidos e entidades espirituais importantes para cada Nação. Como exemplo, segue uma toada do mestre do Estrela Brilhante, Walter Ferreira de França: “Foi na virgem do Rosário, que os nossos tambores zuou Foi na virgem do Rosário, que os nossos tambores zuou Canta minha nação, brilha o meu pavilhão, é no som dos tambor que o Estrela é Nação Nago Canta minha nação, brilha o meu pavilhão, é no som dos tambor que o Estrela é Nação Nago Zuou, zuoou, Marivada Rainha ela já se corou Zuou, zuoou, Marivada Rainha ela já se corou” A execução das toadas normalmente se inicia por uma voz solo que é em seguida acompanhada por um coro. Quando ouvimos gravações de áudio dos Maracatus, é comum esse coro ser formado apenas por mulheres. Porém nos momentos de apresentação todos os integrantes (corte e batuqueiros) respondem o referido coro. O último elemento musical a iniciar é a percussão. Sobre os instrumentos musicais que compõe a orquestra do Maracatu, encontramos algumas variações entre as Nações, e essas variações também foram encontradas por GUERRA PEIXE (1981). Segundo esse autor, no período de sua pesquisa em Recife, era comum se encontrar na orquestra do Maracatu os seguintes instrumentos de percussão: “gongué” (apenas um), “tarol”, “caixa de guerra”, “zabumbas” (ou bombos) e o “ganzá” (somente um e encontrado apenas na Nação Estrela Brilhante). As “zabumbas” recebem denominações diferentes de acordo com a sua função sonora, sendo chamadas de “repique”, “meião” e “marcante” (GUERRA-PEIXE, 1981: p. 57). Atualmente foram incluídos alguns outros instrumentos de percussão na orquestra de algumas Nações de Maracatu, como é o caso do Estrela Brilhante aqui estudado e que serão analisados nos resultados do presente trabalho. 10 Sobre a fabricação dos instrumentos do Maracatu, tema central dessa monografia, GUERRA-PEIXE, em sua pesquisa, cita assim a procedência de cada um deles: “Alguns instrumentos musicais do Maracatu são industrializados... A maioria, porém, ainda é de fabricação popular, condição que não dispensa a contribuição do trabalho de profissionais, como o ferreiro e o tanoeiro. Ambos aceitam as encomendas atentos às recomendações dos seus fregueses, e tais ajudas certamente não alteram a origem popular da obra”. (GUERRA-PEIXE:1981,61) “O gongué é inteiramente de construído pelo ferreiro, o qual deve observar a forma e as dimensões solicitadas pelos populares”. (p.61) “... o tarol e as caixas de guerra do Maracatu Elefante são industrializados, conseguidos nas bandas de música do Recife, grupos há que adotam somente os genuinamente populares. Mesmo nestas condições, tambores há em que entram partes de madeira e de metal”. (p.61) Ainda sobre a construção dos instrumentos, esse autor, ao se referir aos “zabumbas”, que hoje em dia são chamados de bombos e mais comumente de alfaias, afirma que sempre são construídos de madeira e sempre confeccionados pelos “populares”. Ainda acrescenta que cada instrumento é construído de forma a dar sonoridade adequada ao Maracatu. Assim, dizia o autor que “Os tambores em geral compõe-se de: bojo, arco, pele ou couro e cabinho, isto é a corda. O bojo, de madeira, é preparado pelo tanoeiro...”. (GUERRA-PEIXE, 1981: p.61 e 62). O único instrumento que ficou fora dessa descrição foi o ganzá, que na época era de uso exclusivo do Estrela Brilhante. 11 A respeito do material utilizado para a confecção dos tambores do Maracatu Elefante, da obra de GUERRA PEIXE ainda se pode identificar o uso das madeiras (QUADRO 1): Quadro 1: materiais levantados por GUERRA PEIXE. TAMBOR Tarol e Bojo Caixas de pinho ou metal Arcos Peles sucupira cabra Guerra Zabumba repique pinho sucupira bode Marcante e meião faia sucupira bezerro Como vimos anteriormente, o batuque do Maracatu é feito com alguns instrumentos de percussão. O toque (pulsação ou ritmo) de cada instrumento possui características individuais. Já a “polirritmia” resultante de todos instrumentos do Maracatu executados coletivamente, recebe o nome de “baque”. Cada Maracatu Nação tem seus toques característicos, e cada música tem seu toque específico, assim “o toque tem de acompanhar a música da toada”.(GUERRA-PEIXE,1981: p.48) O Maracatu de Baque Virado recebe esse nome, pois é executado utilizando-se no mínimo três “zabumbas”, os quais têm funções específicas. Como explicou Guerra Peixe, essas funções podem ser diferenciadas. Ao marcante, com sonoridade mais grave, cabe a função de sustentação rítmica. Ele é executado pelos músicos mais experientes e não há espaços para nenhuma variação. Já o meião, como o próprio nome diz, é o instrumento que tem uma sonoridade médio-grave e tem função similar à do marcante, porém sua execução é realizada com a presença de maior número de notas(batidas). Finalmente tem-se o repique, cuja sonoridade é mais aguda e tem a função de preencher os espaços vazios, dando a característica “dobrada” ou “virada” do “baque” do Maracatu. Os outros instrumentos utilizados no Maracatu possuem sonoridade aguda, e também possuem a função de sustentar o ritmo cheio de variações executado pelos “zabumbas”. 12 Esse conjunto de orquestra do Maracatu possui sonoridade de muito volume. Tanto é assim, que para os mais desavisados, poderiam entender que seus instrumentos são executados com “violência”. Contudo essa é uma característica do Maracatu, que também foi observada por GUERRA-PEIXE (1981): “...a orquestra do Maracatu alcança uma pujança –sonora e seca ao mesmo tempo– jamais atingida em outro conjunto de percussão dos que temos notícia”. (p.66) Os músicos que tocam nos Maracatus, por executarem instrumentos de percussão, podem ser chamados de percussionistas. Mas comumente utilizase a denominação de batuqueiro, independente do instrumento que se executa. Numa abordagem mais antropológica, a função desses músicos zabumbeiros foi até comparada aos escravos da corte real do Maracatu: “Parece haver-se fixado na ordem que hoje observamos, vindo na cauda o zabumba, cujos componentes, coisa curiosa, são os únicos participantes do maracatu para quem não há qualquer exigência especial de indumento. Nem especial, nem particular. São seres desconhecidos, desprezíveis, compondo como que uma senzala, situada em seu lugar próprio, perdida na sombra, porém, poderosamente presente pelo mesmo ruído que chegava às casas-grandes nos sábados patriarcais. O zabumba é, no maracatu, o anonimato, a servidão, o grande apoio de todos os tronos; vão à frente a Corte e seus dignatários, vão as baianas, vai a Dama do Paço...” (KATARINA REAL 2001: p. 9 – 10) 2.2. Etnobotânica e Etnoecologia: ciência e método Antes de esclarecermos o que é Etnobotânica e Etnoecologia faremos uma breve discussão sobre as várias formas do conhecimento e do processo de evolução do conhecimento na espécie humana. Feito isso, abordaremos de 13 maneira conceitual, do mais amplo para o mais restrito, a Etnociência, a Etnoecologia e a Etnobotânica. No ambiente acadêmico, o treinamento de estudantes e pesquisadores na área das ciências biológicas e agrárias pauta-se, normalmente, por concepção de método científico, que se fundamenta em procedimentos técnicos que tem em vista apenas o inventário de espécies e/ou a descoberta de sistemas de produção. As indagações sobre quais seriam os meios pelos quais grupos humanos se apropriam da natureza, comumente não são postas como questões que norteiam as ações desses estudantes ou pesquisadores. Assim, normalmente não se aprende a reconhecer a importância dos saberes que povoam as mentes de milhões de homens e mulheres, que em seu dia-a-dia trabalham a natureza. A ciência que normalmente se pratica desconsidera que exista um acúmulo de experiências com grande sabedoria. Essa forma de fazer ciência desvaloriza, ainda hoje, o fato de que, ao se dedicarem a “manejar” os ecossistemas complexos do planeta, como os de ambientes tropicais ou semi-áridos, muitos homens e mulheres acumulam conhecimentos importantes sobre a ecologia presente nesses ambientes. De acordo com TOLEDO E BARRERA-BRASSOLS (2010), cada cultura possui formas próprias de denominar o meio natural, seja ele composto de florestas ou bosques, com seus corpos de água, áreas de agricultura e criação animal. As investigações realizadas sobre essas denominações mostram que elas estão relacionadas com o ambiente que os agricultores ocupam e com as atividades por eles realizadas. Muitos desses conhecimentos fazem parte de procedimentos normais às estratégias tradicionais de uso dos recursos. Diante das estratégias tradicionais não se pode ter a expectativa de que elas sejam fruto de uma interpretação simplória e rasa da natureza. Alguns estudos revelam descrições detalhadas e muito complexas de sistemas naturais por comunidades tradicionais. Contudo, pode-se dizer que esta estratégia metodológica, de ter como ponto de partida o conhecimento popular existente entre populações tradicionais, é uma forma emergente de ciência entre a ciência normal praticada nas Ciências Agrárias e Biológicas. 14 De acordo com RODRIGUES e COELHO (2002), ao longo de seu processo histórico, o ser humano (Homo sapiens) se diferenciou como aquele ser dotado da capacidade de uso da razão, e seu conhecimento passou por fases ou estágios de desenvolvimento. Durante esse processo, o conhecimento adquiriu formas distintas que podem ser assim denominadas: reflexos primordiais, saber e conhecimento científico. Tais fases do conhecimento expressam um processo de complexificação e sofisticação nas formas de conhecer. O conhecimento como reflexo situa-se na esfera puramente biológica, e é o que acontece com microrganismos e animais de estrutura orgânica pouco complexa. Esses conhecimentos acontecem como reações em resposta a coisas e estímulos primários. Seguida a esta forma de conhecimento, desponta a capacidade de escolha como modo de atuar no sentido de se conhecer. Este tipo acontece no momento em que espécies animais já possuem uma representação do mundo mais organizada. Isso pôde ser identificado como resquícios entre primatas e mais explicitamente no homo sapiens. O conhecimento como saber surge com o “universo do pensamento”, o mecanismo da ideação, que implica num estado reflexivo (e não puro reflexo condicionado), que se inicia com o processo de produção dos meios de subsistência dos quais o homem necessita. Surgem assim os primeiros instrumentos e a capacidade de trabalho cumpre importante papel nesta transformação. Nesse momento o conhecimento recebe um caráter coletivo, social, e a aprendizagem não é mais individual, pois este sujeito do conhecimento, ao saber, procede a transmissão desse saber às novas gerações pela educação. O conhecimento é “agora constituído por progressiva acumulação histórica”, Vieira Pinto (citado por RODRIGUES e COELHO, 2002). Nesse momento, que pode ser chamado de fase do saber, esses autores destacam ainda que as: “Observações conscientes sobre a realidade fizeram com que o ser humano experimentasse as primeiras explicações sobre o universo, sobre a sociedade e sobre 15 a própria existência. Primeiramente com caráter mítico ou religioso e depois na forma de interpretações do universo. O processo de validação desses saberes baseia-se em uma longa experiência empírica, que produz aprofundado conhecimento sobre os mais diversos assuntos.” (p.8) A espontaneidade desse processo de produção e socialização de conhecimento não nos autoriza dizer que essa forma de conhecimento se produz por inverdades ou seus resultados são ineficientes para aqueles que dele fazem uso. Essa forma de saber domina o cotidiano das pessoas, dos grupos ou comunidades. A esse tipo de saber daremos aqui o nome de conhecimento ou saber cotidiano que difere do chamado conhecimento científico, um tipo de conhecimento que comporta outra sistemática em sua produção. Para esclarecermos o que é o conhecimento científico, primeiramente utilizaremos a definição ciência de Vieira Pinto (citado por RODRIGUES e COELHO, 2002): “a ciência é a investigação metódica, organizada da realidade, para descobrir a essência dos seres e dos fenômenos e as leis que os regem com o fim de aproveitar as propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem”(p.12). Sendo assim: “O que distingue o conhecimento enquanto saber do conhecimento como ciência é que, na primeira forma, falta a intenção de organizar metodicamente o conhecimento, de proceder à descoberta da verdade de acordo com algum projeto ou critérios metódicos e idealmente concebidos” (RODRIGUES e COELHO,2002:p.9). Diante dessa idéia de ciência enquanto possibilidade de conhecimento metódico e institucionalizado, mais recentemente vem se desenvolvendo a proposta de uma Etnociência, ou seja, um conhecimento que tem como ponto de partida, não mais somente o conhecimento acumulado pela academia, mas 16 o conhecimento do senso comum de determinados grupos sociais, sejam eles tradicionais ou não. De acordo com DUQUE-BRASIl (2010), a Etnociência pode ser encarada de duas formas distintas. Primeiramente, como o conjunto de saberes e práticas de grupos sociais, que pode ou não ser tomado pelas mãos do mundo científico. Essas “ciências” desses grupos humanos são próprias para os que se encontram em um determinado contexto social e cultural. Uma outra Etnociência vem a ser uma proposta metodológica de registro e valoração do conhecimento enquanto saber, que é também chamado de “conhecimento popular”, “conhecimento cotidiano” ou “conhecimento tradicional”. Nesse caso a Etnociência é uma área do conhecimento científico especializada em registrar e analisar esses saberes e práticas locais, com vistas na valorização e reconhecimento da importância dos saberes locais. Bem como no aprofundamento do sentido que pode ter o saber acadêmico. Diante dessas duas concepções, pode-se dizer que dependendo da forma como a Etnociência é concebida, ela pode implicar em práticas de construção, socialização ou pesquisa diferentes. Os saberes populares podem ser apenas estratégicos para conclusão de trabalhos na academia ou ser considerados o ponto de partida de uma forma (com)partilhada de produção de conhecimentos, que tornam-se importantes, tanto para a população detentora dos saberes quanto para o sistemático mundo científico. Como Etnociências estariam classificadas áreas específicas como Etnobiologia, Etnozoologia, Etnopedologia, Etnobotânica, Etnoecologia e outros. Segundo SILVA (2003), de maneira ampla, a Etnociência tem sido entendida como um campo de cruzamento ou uma interface entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais, estaria, então, entre a Biologia e a Antropologia. Assim, de acordo com Marques (citado por SILVA, 2003), a Etnoecologia, por exemplo, pode ser definida como: “(...) o campo de pesquisa (científica) transdisciplinar que estuda os pensamentos (conhecimentos e crenças), 17 sentimentos e comportamentos que intermedeiam as interações entre populações humanas que os possuem e os demais elementos dos ecossistemas que os incluem, bem como os impactos ambientais daí decorrentes”. (p.13) Para que a Etnoecologia cumpra seu papel enquanto disciplina aplicada ao desenvolvimento sustentável é importante que se tenha presente no pensamento da pesquisa como se dá a relação do grupo cultural estudado com diversos aspectos, quais sejam: “Legislação ambiental explorados; conservação vigente de para os recursos recursos naturais; conservação de recursos hídricos, fatores que influenciam a sustentabilidade local e regional; histórico do lugar; políticas públicas como um meio de aplicar os resultados das pesquisas”. (Silva, 2003: 15) Sobre a Etnobotânica, DUQUE-BRASIL (2010) propõe uma adaptação ao conceito de Etnoecologia de Marques (2002): “Etnobotânica é o campo de transdisciplinar que estuda (conhecimentos e crenças), pesquisa (científica) os pensamentos sentimentos e comportamentos que intermedeiam as interações entre as populações humanas que os possuem e as plantas dos ecossistemas que as incluem.” (p.7) Assim, a Etnobotânica vem a ser uma disciplina acadêmica que se ocupa em conhecer as relações entre populações e as plantas por elas utilizadas. Os trabalhos de Etnobotânica podem ter focos diversificados, ora assumindo um caráter quantitativo ora qualitativo. Dessa maneira a 18 Etnobotânica possibilita estudos sobre plantas de importância econômica, de subsistência, de uso medicinal, de uso ritual entre outros. Por isso, sabe-se que num trabalho de Etnobotânica, os conhecimentos de grupos tradicionais são muito ricos e, muitas vezes, podem poupar custos em pesquisa de muitos anos. Com vistas em uma postura ética diante dos grupos sociais a serem pesquisados, é necessário formalizar, de alguma maneira, o consentimento do grupo para a realização do registro desses conhecimentos. Além do mais, o compromisso de retorno dos resultados é uma conduta indispensável ao etnocientista. Esse compromisso é firmado desde os primeiros contatos e condiciona a possibilidade de realização da pesquisa. Do ponto de vista jurídico, se faz necessária a formalização de um termo de consentimento de uso do conhecimento cotidiano que é propriedade do grupo. Finalmente, outro cuidado importante nas pesquisas etnobotânicas é quanto à partição de benefícios, quando os resultados derem origem a produtos mercadológicos ou mercantilizáveis. 19 3. Objetivos 3.1. Geral: - Fazer um levantamento etnobotânico sobre as plantas utilizadas na construção de instrumentos e realizar análise de algumas das propriedades dos materiais utilizados. 3.2. Específicos: - Realizar um levantamento etnobotânico sobre as plantas utilizadas. - Proceder à identificação botânica das espécies. - Identificar se existe manejo botânico por parte dos integrantes do maracatu. - Registrar o conhecimento tradicional sobre as técnicas para produção de instrumentos na Nação de Maracatu. - Registrar se existem relações ritualísticas entre os membros do maracatu, as plantas e os instrumentos. 20 4. Metodologia: O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa de Etnobotânica e Etnoecológica. Como se pode ver na revisão de literatura, os aspectos éticometodológicos para essa modalidade de pesquisa foram observados com as devidas adaptações. Como esse trabalho não teve a pretensão de gerar nenhum conhecimento ou produto comercializável por se tratar de um simples exercício de pesquisa para conclusão de curso, não houve necessidade de acordo quanto à partição de benefícios. Por isso, apenas foi solicitado junto à Nação de Maracatu, a autorização de realização da pesquisa (ANEXO 1) e estabelecido o compromisso de devolução de uma cópia do trabalho final. Este trabalho foi feito por etapas sendo que a primeira consistiu na realização de uma vivência do pesquisador junto ao grupo Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife. Essa vivência se deu durante os meses de janeiro, fevereiro e início de março de 2011. O pesquisador se inseriu nesse contexto local, como um batuqueiro dessa Nação de Maracatu. Nessa condição foi possível que se observasse e vivenciasse, com um “olhar mais de dentro” a cultura e o contexto local. A partir dessa aproximação estabelecida, foi possível criar uma relação amistosa e de confiança com as pessoas do grupo. Durante esse período, o pesquisador ficou hospedado na casa de um membro desse maracatu, muito respeitado pela comunidade, no bairro Bomba do Hemetério, vizinho ao bairro onde se localiza a sede do Estrela Brilhante. Nessa vivência foi feita 21 observação participante de todo o processo de organização social e de musicalização do grupo. Juntamente com a observação participante o estudante fez um caderno de campo, onde registrou trechos de conversas e depoimentos espontâneos sobre o assunto durante grande parte da vivência. No mês de janeiro estava acontecendo um ensaio por semana, e a partir de fevereiro começou o que chamam de “bateria de ensaios para o carnaval”, quando acontecem quatro ensaios semanais até o desfile do carnaval. Como no ano de 2010, o pesquisador já havia participado desse maracatu como batuqueiro, inclusive desfilando no carnaval com eles, esse segundo encontro foi muito natural, na medida em que já era conhecido por algumas pessoas do maracatu e da comunidade. Nesses dois meses e uma semana de estadia em Recife, o pesquisador esteve presente em todos os ensaios da bateria desse maracatu, e também em todas as apresentações realizadas. Além disso, realizou visitas esporádicas a ensaios de outros maracatus tradicionais, além de ter a oportunidade de assistir apresentações dos mesmos. A partir da vivência e dessas observações,registradas em caderno de campo, foi possível identificar o que aqui é considerado informantes chave, que são pessoas consideradas pelo grupo como profundas conhecedoras das plantas e do processo de construção dos instrumentos. Além de identificar essas pessoas que são referência nesse trabalho, o estudante pode conhecer suas oficinas e acompanhá-los em seus trabalhos. Assim pode vê-los com a “mão na massa”, tanto dando manutenção quanto fabricando seus instrumentos, coletando e comprando os materiais. Mais ao final da vivência, num momento oportuno foram realizadas entrevistas semi estruturadas (ANEXO 2) e turnês guiadas com esses dois informantes chave para coleta de espécies. Para melhor esclarecer os conceitos aqui utilizados remete-se aos conceitos esclarecidos por DUQUE-BRASIL(2010): Observação participante – Metodologia muito importante para os contatos iniciais do trabalho de pesquisa, que possibilita conhecer, vivenciar e se inserir 22 na realidade e no cotidiano local. Permitindo ao pesquisador uma análise “de dentro” da realidade cultural e social estudada, Albuquerque et al (citado por Duque Brasil, 2010: p.15). Diário de campo - O diário de campo constitui uma importante ferramenta de registro para a pesquisa etnobotânica. No diário o pesquisador registra reflexões, trechos de conversas e conclusões, ainda que sujeitas a mudanças, durante o trabalho de campo. Não há uma organização pré-estabelecida para o diário de campo, ficando a cargo de quem está realizando. É muito útil também para o amadurecimento do trabalho e para o auto-conhecimento do pesquisador. Entrevistas semi estruturadas – As entrevistas constituem um dos principais métodos em pesquisas etnobotânicas. As entrevistas semi estruturadas são realizadas com um roteiro que é elaborado previamente pelo pesquisador, que podem conter perguntas ou tópicos importantes. É uma metodologia interessante quando não se terá outra oportunidade para a realização de outra entrevista, e além disso permite um certa liberdade de se aprofundar em assuntos que surgem durante a entrevista. Turnês guiadas – São caminhadas pelas áreas de interesse da pesquisa, onde os informantes chave levaram o pesquisador até o locais onde fazem a coleta dos materiais para a construção dos instrumentos. As turnês guiadas podem ser realizadas com diversos objetivos, como por exemplo para a etnoclassificação de solos ou de fitofisionomias. No caso deste trabalho foram realizadas com o objetivo de coletar materiais botânicos para posterior identificação no herbário. Por essa metodologia se reconheceu as etnoespécies utilizadas. As entrevistas foram registradas com formato de relatoria, buscando-se registrar fielmente a fala dos entrevistados. Com o intuito de garantir o anonimato dessas pessoas e das que foram citadas durante a realização das entrevistas, na apresentação dos resultados, os nomes foram substituídos por letras maiúsculas (exemplo: A, B, C). 23 5. Resultados e Discussão Para melhor compreensão dos resultados desse trabalho eles serão apresentados em duas etapas. Na primeira, serão analisados cada instrumento e as respectivas matérias primas utilizadas, com sua classificação etnobotânica, seguida da identificação botânica. Na segunda parte, serão analisadas, em quatro partes, as informações obtidas dos músicos, com o intuito de responder aos objetivos propostos no trabalho. Nesta parte são transcritos trechos das entrevistas e passagens do diário de campo feitas pelo pesquisador. Esses quatro temas foram assim nomeadas: O manejo botânico; O conhecimento tradicional e as técnicas; A transmissão do conhecimento; Os rituais. 5.1. Os Instrumentos musicais da Nação Estrela Brilhante do Recife Gonguê O gonguê é um instrumento de percussão da categoria dos idiofones. De acordo com NOBRE (2010): “estes são os instrumentos musicais, cujo som, provocado por percussão, provém do material de que são feitos; há os de percussão pelo entrechoque de seixos, sementes ou chumbo no seu interior, bastando sacudi-los; há os de percussão indireta, por meio de baqueta ou bastão.” (Nobre: p.43) 24 Esse é um instrumento de som agudo, e se enquadra nos idiofones de “percussão indireta, por meio de baqueta”. É feito com chapas e vergalhões de ferro, assim não há utilização de plantas para a fabricação desse instrumento. O gonguê utilizado pelo Estrela Brilhante é feito por um serralheiro, que já foi batuqueiro desse maracatu, e tem sua oficina bem próxima à sede do mesmo, no bairro Alto José do Pinho. (NOBRE:p.43) Na bateria dos maracatus nação, normalmente não encontramos mais do que um gonguê, independente da quantidade dos outros instrumentos. Em alguns ensaios pode ser observado dois gonguês sendo tocados, o que não ocorre em apresentações. Segundo anotações feitas no diário de campo: “de acordo com o mestre, o gonguê é um dos principais instrumentos da bateria do maracatu, pois é ele que limpa os caminhos, é o ferro, que corta o mal olhado...”. (diário de campo, 26/01/2011). As baquetas desse instrumento, muitas vezes são produzidas a partir da goiabeira. Chocalhos Três tipos de chocalhos são utilizados no Estrela Brilhante: o ganzá (ou mineiro), o abê (ou xequerê), e mais recentemente o patangome. Todos esses instrumentos são da categoria dos idiofones, “de percussão pelo entrechoque” de sementes ou miçangas. Para a construção do abê, foi identificada a etnoespécie conhecida como cabaça, da família Cucurbitaceae, com nome científico Lagenaria vulgaris. No caso dos abês construídos pelo luthier entrevistado, para serem usados no Maracatu, o instrumento é formado por um bojo, que é a cabaça, e por uma “saia” que é feita com cordão encerado e miçangas de plástico. (NOBRE: p.43) Já o ganzá e o patangome, são instrumentos que possuem o corpo construído com chapas de alumínio, que possui em seu interior sementes da etnoespécie piriquiti, da família Cannaceae, de nome cietífico Canna denudata. Vale aqui relatar um fato interessante, que é a inclusão do abê, que aconteceu no final da década de noventa (97 ou 98), e do patangome, mais recentemente, na percussão do Estrela Brilhante. Esses dois instrumentos, 25 tradicionalmente, não faziam parte da bateria dos maracatus, e atualmente, podemos encontrar o abê na maioria das nações. Fato que mostra a referência que o Estrela Brilhante é atualmente para outros maracatus nação. Caixa e tarol Tanto a caixa quanto o tarol, são instrumentos da categoria dos Membranofones, “estes são os instrumentos musicais cujo som provém de membrana distendida numa boca ou em ambas as bocas”. São executados com baquetas, e caracterizam-se por possuírem som agudo. De todos os instrumentos utilizados no Estrela Brilhante, esses são os únicos que são industrializados. Existem caixas e taróis artesanais, inclusive os dois artesãos entrevistados os fazem, porém para serem utilizados na bateria desse Maracatu, os industrializados são preferidos, pela sonoridade e pela facilidade de afinação. (NOBRE: p. 59) Alfaia A alfaia é o único instrumento de sonoridade grave utilizado no Maracatu, e também se enquadra na categoria dos Membranofones. “A alfaia é um tambor ícone no ritmo brasileiro maracatu”, e “é constituído por corpo de madeira”, também chamado de bojo, “peles animais nas duas bocas, aro e cordas para a afinação”. Embora existam maracatus que utilizam-se de alfaias com o bojo e os aros feitos de compensado, no Estrela Brilhante, nenhuma alfaia é feita com esse material. As peles utilizadas nesse instrumento, são oriundas de caprinos. Normalmente se utiliza uma pela mais fina na boca de baixo (chamada de resposta), e uma mais grossa na boca de cima (chamada de pergunta), região onde é percutida pelas baquetas. (NOBRE: p.60) O bojo das alfaias do Estrela Brilhante é feito utilizando-se a etnoespécie macaíba, da família Arecaceae, com nome científico Acrocomia intumescens (Foto 5). Já os aros, arquilhas e alma, atualmente são feitos com a etnoespécie jenipapo, da família Rubiaceae, com nome científico Genipa americana. 26 Também foi citada durante a turnê guiada, outra etnoespécie, que era utilizada para a construção dos aros, chamada de sucupira, porém essa não foi encontrada, e deixou de ser utilizada devido à escassez dessa espécie nas matas da região. Outra espécie utilizada é o sisal, da família Agavaceae, com nome científico Agave sisalense. É uma espécie originária do México, da qual se retira a fibra, que é utilizada para fazer a corda que tema função de afinar a alfaia. (Foto 6: alfaias do Estrela Brilhante) Ainda há na orquestra do maracatu o apito, instrumento utilizado pelo mestre do Maracatu para coordenar a percussão. O mestre do Estrela Brilhante, Walter Ferreira de França (60 anos), é o regente da orquestra desse Maracatu e também passa seus ensinamentos aos batuqueiros da Nação, compõe a maioria das toadas que canta e cria os arranjos da percussão. 5.2. O manejo botânico A partir desse trecho da monografia, haverá a citação de passagens registradas durantes as entrevistas. Como medida de preocupação ética e da necessidade de garantir o anonimato dos personagens, em razão do conteúdo dos depoimentos trazerem situações de conduta delicadas do ponto de vista legal, quando houver a presença de nomes nas passagens, esses serão substituídos por letras para não haver a exposição dessas pessoas. As situações de exclusão social e ilegalidade para obtenção de recursos naturais, antes de serem um impedimento para a pesquisa, foi entendida como um dos resultados relevantes que exigiu interpretação e sugestão de políticas públicas, como se poderá ler ao final dos resultados e conclusões. Um dos objetivos do trabalho era compreender, se havia alguma forma de manejo botânico por parte dos próprios luthiers do maracatu. Destaca-se aqui o fato do maracatu ser, hoje, uma manifestação caracteristicamente urbana. Sendo assim, é possível indagar de onde viria a matéria prima utilizada? Alguns dos materiais, principalmente os que são cultivados, ainda que em pequena escala, são comprados em mercados e lojas da cidade . Desses materiais que são comercializados, destacam-se as etnoespécies 27 cabaça, piriquiti e o sisal, que se caracterizam por serem espécies que são cultivadas: “A cabaça e a semente de piriquiti, a maioria eu compro no Mercado São José. Às vezes eu ganho de amigos, o que é bem melhor, pois o preço no mercado tá cada vez mais alto. A cabaça custa de 25 a 45 reais, dependendo do formato, e o piriquiti custa 15 reais o quilo.” (luthier, 35 anos) “Sobre o sizal, acho que você deveria fazer um trabalho à parte. A maioria desse material que chega aqui em Recife, vêm do sertão da Bahia, e tem uma série questões muito sérias envolvidas. Têm exploração de crianças, e até trabalho escravo no meio disso.” (luthier, 47 anos) Através das entrevistas e das turnês guiadas realizadas, ficou claro que os materiais madeireiros, provenientes de espécies de ciclo longo, não são fáceis de ser encontrados, e não há plantio dos mesmos. Esses são provenientes das mais variadas, e até, inusitadas fontes: “A primeira macaíba que colhi, foi serrada por uma motoserra, em Dois Irmãos. Onde aparece a macaíba a gente aproveita – loteamento que vai ser construído, na cidade, na mata.” “O primeiro jenipapo que cortei, ia ser derrubado para a construção de um prédio, daí A. ficou de papo com o guardinha, e eu e um amigo fomos lá e cortamos o jenipapo.” 28 “Quando A. assumiu o Estrela Brilhante e B. passou a ser o mestre, o estrela tinha somente uma alfaia. As primeiras alfaias do estrela, foram colhidas na rotatória do terminal macaxeira. Com esse material foram feitos 13 bombos por C., D. e E.” (luthier, 47 anos) Parte dos materiais são coletados pelos próprios luthiers, como ficou comprovado pelos trechos de entrevistas citados acima, e para alguns materiais já existe um comércio, inclusive com a presença de atravessadores. Nesse caso o manejo botânico não é realizado diretamente: “Atualmente a maioria do jenipapo que compro, vêm da Ilha de Itamaracá, da beira do mangue do litoral norte de Pernambuco. O jenipapo é cortado principalmente para fazer remo, e também para a construção das alfaias, daí já existe o comércio dessa espécie. O “cortador” leva a madeira até o porto, um outro leva do porto à serraria, e da serraria é distribuído.” (luthier, 47 anos) Durante a convivência com esses artesãos, um fato muito interessante que foi observado, é a consciência e a preocupação ecológica associada à utilização desses materiais, que fica bem explicitada pelo seguinte trecho da entrevista: “Mas gosto mesmo é de aproveitar a macaíba que já está morta, caída ou em pé, que a natureza me ofereceu. Tem macaíba que dá até 8 bombos. Isso tem à ver com a forma que a macaíba cai, se fica apoiada, se cai no chão...” (luthier, 47 anos) Pelas passagens acima, fica claro que existe um conhecimento sobre o manejo botânico por parte dos luthiers do maracatu. É interessante observar que já existe um mercado de algumas das espécies utilizadas, como é o caso 29 da cabaça e do piriquiti, esses provenientes de uma produção de caráter familiar, em pequena escala. Já o sisal é uma espécie cultivada em regiões semi-áridas, e segundo BARBOSA (2006), atualmente o Brasil responde por 61% do comércio internacional da fibra dessa espécie. A produção do sisal é marcada por sérios problemas, como incapacitação dos trabalhadores, em razão dos acidentes de trabalho, e pelo uso intensivo do trabalho infantil, como bem destacou um dos entrevistados. As duas etnoespécies que são encontradas exclusivamente em vegetação nativa, a macaíba e o jenipapo, são coletadas diretamente pelos luthiers ou são oriundas de mercados ilegais. Em razão dessa situação, é comum em algumas épocas faltar material para a construção dos instrumentos. Quadro 2: Lista de instrumentos com identificação de etnoespécies, nome científico e origem Instrumento Etnoespécie Nome científico Origem do material utilizado Gonguê - - - Ganzá Piriquiti Canna denudata Comércio/cultivada Abê Cabaça Lagenaria vulgaris Comércio/cultivada Patangome Piriquiti Canna denudata Comércio/cultivada Caixa e tarol - - - Alfaia Macaíba Acrocomia intumescens Vegetação nativa Jenipapo Genipa americana Vegetação nativa Sizal Agave sisalense Comércio/cultivada 5.3. O conhecimento tradicional e as técnicas Na medida em que os dois informantes chave se utilizam dessas matérias primas a mais de dez anos, a partir da observação e das experiências relatadas, pode-se dizer que eles são profundos conhecedores do comportamento dos materiais utilizados. Temas como a época de colheita, 30 “trabalhabilidade” e o processo de secagem foram destacados como aspectos importantes para não haver perda do material e para que se aumente a durabilidade dos instrumentos já que são difíceis de ser encontrados. Sobre essas habilidades e conhecimentos algumas passagens foram muito esclarecedoras e registradas ao longo dos diálogos das entrevistas: “A macaíba não pode ser colhida muito nova, é bom de ser colhida quando já perdeu os espinhos do tronco. É nessa época que a madeira dela tá boa, que não murcha.” (luthier, 35 anos) “O jenipapo bom é o do miolo do pé velho, mas ele é mais brabo também. Dizem que a madeira dura o mesmo tempo que ela viveu. O jenipapo velho não racha, não trinca.” (luthier, 47 anos) “Quando se corta a macaíba, é bom deixá-la apodrecer um tempo na mata, pois quando se trabalha nela verde, ocando, ela resseca muito rápido e trinca mais fácil. Daí na mata eu fatio uns bojos grandes, que darão uns 3 bojos de alfaia.” (luthier, 47 anos) A Macaíba possui material lenhoso apenas na parte mais externa de seu tronco, sendo a parte interna do caule composto por um material, ainda que lignificado, bem mais frágil. De acordo com os depoimentos, esse tempo de apodrecimento suficiente apenas para a região mais interna se deteriorar. Assim “facilita o trabalho de ocar o bojo da macaíba”, que é feito de forma totalmente manual, com a utilização de um formão. Então, com esse tempo que o material fica na mata, além de facilitar o trabalho de ocar o bojo, propicia um processo de secagem mais lento ao material, e que também evita o aparecimento de trincas que podem inutilizá-lo. Ainda sobre esse mesmo assunto o luthier acrescenta: 31 “É necessário um tempo pra se trabalhar. Não pode tirar o material da natureza e querer montar o bombo. É bom deixar o aro de jenipapo assentar, pegar a forma do bojo, antes de ocar a macaíba, só amarrado em volta do bojo.” (luthier, 47 anos) No processo de construção das alfaias, uma das etapas mais complicadas é a preparação dos aros, arquilhas e da alma, pois as ripas de jenipapo podem quebrar nesse momento. A passagem que se refere à madeira do jenipapo mais velho como “brabo”, quer dizer que ele é mais duro e difícil de envergar. Isso por que a madeira deve ser envergada para adquirir a forma do bojo, que é normalmente circular ou ovalado. Assim, dependendo da situação que se encontra esse material madeireiro, algumas técnicas podem ser utilizadas: “O jenipapo, é bom ser virado assim que foi cortado, ainda verde deve ser virado. Se não puder fazer isso, deve-se colocar na água. Dependendo, se o jenipapo estiver muito ressecado, nem colocando na água soluciona, quando ele tá muito ressecado.” (luthier, 47 anos) “Quando o jenipapo não está querendo pegar a forma do bojo, a gente pode botar ele na água quente, pra que ele chegue no formato.” (luthier, 47 anos) “Geralmente só se aproveita o tronco da planta, e não pode ter nós, pois ele quebra quando envergar.” (luthier, 47 anos) “A ripa de jenipapo deve ter a mesma espessura, todinha por igual, pra não encurvar mais em alguns pontos, no caso, as partes mais finas.” (luthier, 47 anos) 32 A importância da “alma” e da água, agora para evitar problemas com trincas e aumentar a durabilidade do bojo de macaíba: “Já fiz arquilha de bambu, já fiz de cipó, de goiabeira e não colocava alma. Daí muitas alfaias quebravam naquelas trincas do bojo na hora de afinar. Depois comecei a colocar alma, embaixo e encima. Hoje em dia não faço tambor sem alma. Além disso, aprendi colocar água pra umedecer o bojo. A macaíba pede água. Por isso eu não gosto de usar cola. Pois é pior pra dar manutenção, por que não se pode molhar, pois a cola pode soltar.” (luthier, 47 anos) Sobre o acabamento das alfaias, há diferentes visões dos luthiers, que podem ser observadas nas seguintes passagens: “Normalmente se coloca resina ou verniz para proteger a macaíba. Eu acho que o verniz não combina com a alfaia, por isso só uso resina, que mantém mais as características da macaíba.” (luthier, 47 anos) “Eu trabalho com perfeição, então gosto de lixar, envernizar, e deixá-la bem bonita.” (luthier, 35 anos) Em um trecho registrado no diário de campo, tem uma passagem falando da visão do mestre do Estrela Brilhante sobre o acabamento: “Segundo disse I.(16 anos), batuqueiro do Estrela, o mestre Walter não gosta de alfaias com acabamento. Gosta da macaíba da mesma forma que ela foi encontrada na natureza, sem lixar e sem envernizar.”(diário de campo, 07/02/2011) Sobre aproveitamento dos materiais e o tamanho das alfaias: 33 “A altura do bojo: primeiro é levado em conta o aproveitamento do material, deve se conservar a forma da macaíba. As alturas de bojo mais usadas são, 25, 27, 30, 33, 36 e 40 cm. Deve se fazer um consenso entre o aproveitamento do material e a proporcionalidade entre altura e diâmetro.” (luthier, 47 anos) “Para comercialização e aproveitamento pelos maracatus tradicionais, os diâmetros melhores são entre 30 e 70 cm, sendo os mais comercias de 50 cm. Tem bombo mestre que tem mais de um metro de diâmetro, mas isso é exceção, pois precisam poucos desse na bateria.” (luthier, 47 anos) As ferramentas utilizadas: “Para fazer alfaia a gente usa: furadeira, sargento, serrote, plaina manual, serra tico-tico e formão. Pra se cortar o jenipapo usa a serra de fita, a plaina e se tiver o desengrosso, é bom também.” (luthier, 47 anos) Nesse trecho podemos constatar como há tecnologias apropriadas à fabricação e manutenção desses instrumentos. E que dentro desse mesmo grupo social, há diferentes visões sobre os acabamentos dos instrumentos. Esse conhecimentos e habilidades podem ser entendidos como etnotecnicas. 5.4. A transmissão do conhecimento Como há poucos registros escritos sobre conhecimentos aplicados à construção de instrumentos musicais e, no caso de uma manifestação tradicional, essa situação não seria diferente. Aqui, no contexto do Maracatu, o processo de transmissão e acumulação desse conhecimento é marcado pela 34 oralidade e por uma rede ou tipo de relações sociais. Assim esse trabalho vem como uma forma de registro e valorização desse saber popular acumulado. Apesar deste estudo ter sido feito com a Nação Estrela Brilhante do Recife, pode-se perceber uma rede de interações na qual há influencias de outros mestres e detentores desse conhecimento no processo: “O meu primeiro contato com o Maracatu foi com o mestre A., do Leão Coroado, pois queria construir uma alfaia. Isso aconteceu porque eu já tocava os instrumentos de percussão da capoeira e fabricava esses instrumentos – berimbau, caxixi, tambor de barro – isso eu aprendi num grupo de capoeira que freqüentei.” (luthier, 47 anos) “Em 98, fiz a minha primeira alfaia de macaíba, que ficou com um probleminha na arquilha. Depois disso, comecei a dar manutenção nas alfaias do Estrela. Isso é a melhor escola, pois você abre as alfaias, e vê todas as manhas de construir.” (luthier, 47 anos) “A., B., C., D, E. irmão de F. (seis jovens batuqueiros) também – ele ta preso pois se envolveu com craque – eles aprenderam a fazer alfaia na oficina em Casa Forte na minha casa. Mas por causa dos roubos do E., que apesar de ser uma ótima pessoa, começou a ter um comportamento compulsivo com o vício de craque, a oficina teve que ser fechada. Acho que foram uns dez roubos seguidos. Nessa época, teve um bombo mestre que teve 7 mãos fazendo, isso não deixa de ser uma oficina, cada um ocou um pouco.” (luthier, 47 anos) 35 “Ajudei também a fazer alfaias de outras nações e grupos também, inclusive do meu trabalho com as crianças. Tiveram crianças que aprenderam comigo, de 12 a 17 anos, principalmente homens, tanto aqui em aldeia, quanto em casa forte. E na escola eles me ajudaram a montar.” (Luthier, 47 anos) Ao analisar as passagens da entrevista, que traz um história de vida e vivências, fica claro que esse conhecimento está em constante transformação no sentido de ser aprimorado e vem daí seu caráter social. Outro fato a ser analisado é a passagem da entrevista que cita um jovem viciado. Nas observações em campo, pode-se evidenciar que as condições sociais nas quais esses grupos estão inseridos são marcadas por violência, vulnerabilidade e vários tipos de riscos. Essas observações permitem afirmar que há necessidade de estudos mais profundos sobre o papel de coesão social dessas agremiações nesses contextos. Essas agremiações abrem a possibilidade de uma vida comunitária e acolhimento de jovens da periferia, de forma a propiciar melhores perspectivas e condições de convívio, o que pode contribuir para redução da criminalidade e violência nessas comunidades. Durante a pesquisa foi possível ver também que a construção de instrumentos musicais, é também uma importante atividade geradora de renda e de possibilidade de trabalho nesse contexto dessas comunidades periféricas. 5.5. Os rituais: São inúmeros os rituais religiosos que fazem parte do Maracatu, assim nessa passagem do trabalho, o objetivo é apenas dar a conhecer os rituais que envolvem os instrumentos e as plantas utilizadas. Os Maracatus Nação, como manifestações afro-descendentes, são ligados à religiões afro-brasileiras. Assim, todo Maracatu Nação tem suas divindades que “tomam conta”, ou que são responsáveis pelo lado religioso que possui a festa do Maracatu. É basicamente esse caráter religioso que difere um 36 grupo de Maracatu, que é apenas um grupo musical, de uma Nação de Maracatu. As duas linhas religiosas que fazem parte do Maracatu são o Candomblé Nagô, chamado também “Santo” ou de “Xangô”, e a Jurema Sagrada que também é chamada de “Catimbó”. No candomblé são cultuados os Orixás, e na Jurema Sagrada são cultuados os Mestres, Caboclos, Pomba Gira, etc. Na Nação Estrela Brilhante do Recife, três entidades espirituais têm papel central. São as duas Calungas que recebem o nome de Joventina e Erondina. A primeira é uma Rainha, representada pelo orixá Iansã, e a segunda, uma Princesa, representada pelo orixá Oxum. O terceiro elemento é um mestre da Jurema Sagrada, que recebe o nome de Mestre Cangarussu. Esse é considerado o mestre espiritual da percussão do Estrela Brilhante. Podemos observar nas músicas dessa Nação várias letras que reverenciam essas três entidades. É comum as alfaias serem “batizadas” com os mais diversos nomes. Pode ser o nome de uma entidade, de um batuqueiro antigo e outros. Há na percussão do Estrela Brilhante, uma alfaia que recebe o nome de Cangarussu, que não pode ser tocada por qualquer batuqueiro. Segundo informações obtidas com os batuqueiros é necessário estar preparado para executar esse instrumento. Só foi observado três integrantes do Maracatu tocando com esse instrumento, sendo dois deles contra-mestres do Estrela Brilhante, e o outro um dos melhores batuqueiros, que participa dos trabalhos religiosos da Nação. “O nome da alfaia. A. diz que se deve jogar os búzios perguntando se pode cortar, qual será o nome, qual será o dia e onde será, e os mestres respondem. Mas quando não se faz isso, com o tempo o instrumento vai absorvendo os axés das tocadas, dos terreiros, do mestre de maracatu, do maracatu. Sempre têm muito espírito envolvido. O certo é fazer esse procedimento, daí se têm as alfaias calçadas, mas quando não se faz é desse outro jeito.” (luthier, 47 anos) 37 “Um espírito toma conta do tambor, e ele pode tanto aproximar quanto afastar um dono – o tambor escolhe o dono. Ás vezes é numa confusão que isso acontece, ou numa tocada mais forte, um bombo acaba aparecendo pra você.” (luthier, 47 anos) “Antes do desfile do carnaval, as alfaias vão para o terreiro – a parte da percussão é da jurema sagrada, então ela ta ligada aos mestres (espíritos) – daí as pessoas que carregam as bonecas, as damas do paço, ficam de resguardo, e o tambores também. Livres da sujeira da rua, é uma limpeza que se faz nos tambores. É uma ligação do espiritual com o material. Se dá comida pros tambores, pros Santos, pros Mestres.” (luthier, 47 anos) Antes do desfile do carnaval, são feitas algumas preparações religiosas do Maracatu. O desfile normalmente acontece no domingo de carnaval, e nesse dia acontece o que chamam de “a saída das Bonecas”. Durante o ritual, os tambores ficam no centro do salão do terreiro, e ao final alguns batuqueiros juntamente com o mestre do Maracatu, Walter, cantam e tocam algumas toadas do Estrela Brilhante em reverência à Joventina, Erondina, Mestre Cangarussu e outras entidades. É um momento de muita emoção, onde podese perceber lágrimas correndo nos rosto da maioria dos presentes. Ao final desse ritual, o maracatu todo, com a corte, batuqueiros e carro abre-alas, se dirige à avenida onde acontece o desfile dos maracatus. A partir desse trecho dos resultados podemos perceber que os materiais utilizados e os instrumentos do Maracatu não são meros objetos ou matérias primas, mas que possuem um valor cultural e um significado ritualístico e religioso para os membros do Maracatu. Esses instrumentos musicais são 38 considerados sagrados, pois, mais que percussão e musicalidade, eles permitem o contato com divindades, proteção e alegria. 39 6. Conclusões e sugestões A característica exploratória deste trabalho fez com que ele terminasse sua exposição com novas questões e hipóteses. Isso porque, os estudos exploratórios têm a função de dar a conhecer, estabelecer novas questões e hipóteses. Assim, nesta pesquisa foi importante conhecer as especificidades da apropriação de recursos naturais por parte de grupos culturais como o Maracatu Nação, pois não há como negar que esses grupos dependem de recursos naturais para manutenção de suas atividades. Por ser grupo urbano, inicialmente fica a questão: como garantir o acesso aos recursos naturais sem que eles precisem se envolver em situações clandestinas, e sem que ameacem a preservação/conservação desses biomas e dessas espécies? Contudo, um dos grandes problemas identificados pelos luthiers é quanto ao registro da atividade profissional que exercem perante a prefeitura. Com esse registro medidas poderiam ser tomadas, no sentido de garantir o acesso aos materiais necessários juntamente com programas de conservação da natureza. Visto que duas das espécies levantadas, (Acrocomia instumescens e Genipa americana) têm papel central na produção desses artesãos e são proibidas por lei de serem cortadas, já que se encontram no bioma Mata Atlântica, há que se pensar em formas alternativas (por meio de cultivos) para acesso dos grupos culturais a esses recursos naturais. Diante desse desafio, como sugestões e complemento a esse trabalho, acredita-se que sejam necessários estudos sobre a propagação, a produção de mudas, a silvicultura e o manejo florestal dessas espécies. Esses trabalhos de 40 pesquisa podem estar associados à atividades de extensão universitária e educação ambiental e serem conduzidos por meio de uma perspectiva de pesquisa participativa, na qual pessoas dos grupos assumem função de coautores da pesquisa. Pela proximidade, tanto física, geográfica quanto cultural, acredita-se que a Universidade Federal Rural de Pernambuco, poderia implementar esse trabalho junto a comunidade do Alto José do Pinho. Ainda nesse sentido, seria interessante se pensar na proposição de editais para o Ministério da Cultura, que viabilizasse, na interface da pesquisa e extensão, para criação de Florestas Sociais, plantadas, a serem geridas por grupos de Maracatu com supervisão de órgãos ambientais e universidades. Nesse espaço poderiam acontecer cursos de capacitação para elaboração e gestão de projetos culturais que respeitassem os sentidos ritualísticos das práticas de Maracatu. Esse projetos são uma das principais fontes de recursos para esses grupos. Além disso, acredita-se que seriam bem vindos estudos sobre a cadeia econômica dessas agremiações, a importância dessas agremiações para a redução da violência 41 nas comunidades. 7. Referencias bibliográficas BELTRÃO DE SOUZA,K.F. O consumo do espetáculo: reflexões iniciais sobre parafolclóricos de maracatu-nação ou de baque-virado. Faculdade Metropolitana/IPESU, PE. UNIrevista – vol. 1, n.3, 2006. COSTA LIMA,M.L.F. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em Pernambuco – Situação atual, ações e perspectivas – Série estados e regiões da RBMA (Caderno n. 12). São Paulo: Conselho Nacional da Reserva do Bioma Mata Atlântica. 43 p.1998. DUQUE-BRASIL, R. Etnobotânica: Reflexões sobre conceitos e métodos de pesquisa. ETNOIKOS- Grupo de Estudos Transdisciplinares em Etnoecologia, UFV, 2010. FONSECA,N.A. O Manguebeat como Política de Representação. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UERJ. 2005. GASPAR, L. Casa Amarela (bairro, Recife). Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: 26/05/2011. 2003. GUERRA-PEIXE. Maracatus do Recife. Recife: co-edição Irmãos Vitale. 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Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. 2003. Anexos 45 Anexo I Roteiro de entrevista Nome: ________________________________ IDADE: ________________ dia: / 1)Local de moradia:___________________ 2) Aqui é considerado Zona urbana( ) ou rural ( ) 3)De onde o senhor(a) é? 4)E sua família? 5)Reside aqui a quanto tempo? 6) O senhor poderia dizer o que tem garantido a renda do Senhor(a)? 6) e de sua família? 7) O senhor trabalha na terra do senhor? Fale-me dela 8) Poderia me dizer o que significa o Maracatu pra o senhor(a)? 9)Desde quando o senhor(a) participa do Maracatu? 10)Qual sua função no Maracatu? 11)O que o senhor(a) mais gosta no Maracatu? 12)Quais instrumentos musicais são utilizados na sua Nação de Maracatu? 13) O senhor sabe fazer algum desses instrumentos? 14) Com quem o senhor aprendeu a fazer esses instrumentos? 15)Quais os materiais utilizados para a fabricação desses instrumentos? 16)De onde vêm esses materiais? 17)O senhor(a) só faz esses instrumentos para o seu Maracatu? 18) As mulheres também fazem esses instrumentos? Porque sim ou porque não? 19) E as crianças, como o senhor avalia: elas estão participando dessas atividades (fazer instrumentos ou tocar no maracatu?) 20) Quais seriam, na visão do senhor, os maiores problemas, hoje, na produção dos instrumentos? 21) Que tipo de coisas o senhor acha que a Universidade poderia estar pesquisando e que ajudaria o seu Maracatu? 46 Anexo II Termo de consentimento livre e esclarecido Eu,_____________________________________________________ , declaro que concordo em conceder entrevista à Daniel Silveira de Almeida Barbosa, estudante de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, orientado pela professora France Maria Gontijo Coelho, para que seja utilizado para trabalho de pesquisa sobre as plantas utilizadas na construção dos instrumentos musicais das Nações de Maracatu de Baque Virado. ________________ , de ________________ 2011. ________________________________________ Assinatura do entrevistado 47 Anexo III Memória fotográfica (Foto 1: Sede da Nação Estrela Brilhante do Recife) 48 (Foto 2: escadaria de acesso ao bairro Alto José do Pinho) (Foto 3: Marivalda, Rainha do Estrela Brilhante) 49 (Foto 4, de Fábio Maciel: Mestre Walter e a bateria do Estrela Brilhante) 50 (Foto 5, de Rodrigo Mago: Acrocomia intumescens) 51 (Foto 6, de João Reis: alfaias do Estrela Brilhante) 52