1 INTERAÇÃO DO TRIPANOSSOMATÍDEO PHYTOMONAS SERPENS COM GLÂNDULAS SALIVARES DO HEMÍPTERO ONCOPELTUS FASCIATUS: IDENTIFICAÇÃO DO LIGANTE PRESENTE NAS GLÂNDULAS SALIVARES E CARACTERIZAÇÃO DAS ENZIMAS PROTEOLÍTICAS SECRETADAS PARA O MEIO DE INTERAÇÃO FELIPE DE ALMEIDA DIAS Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Microbiologia) Orientador: Angela Hampshire de Carvalho Santos RIO DE JANEIRO FEVEREIRO DE 2008 2 Ficha Catalográfica Dias, Felipe de Almeida Interação do tripanossomatídeo Phytomonas serpens com glândulas salivares do hemíptero Oncopeltus fasciatus: identificação do ligante presente nas glândulas salivares e caracterização das enzimas proteolíticas secretadas para o meio de interação/ Felipe de Almeida Dias. - Rio de Janeiro: UFRJ/IMPPG, 2008. xviii/190f.: il. Orientador: Angela Hampshire de Carvalho Santos Tese (Doutorado) - UFRJ/IMPPG/Programa de Pós-graduação em Ciências (Microbiologia), 2008. Referências Bibliográficas: f. 115-137. 1. Phytomonas serpens. 2. Oncopeltus fasciatus. 3. Interação. 4. Ligante. 5. Proteases. I. Lopes, Angela Hampshire de Carvalho Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, Programa de Pósgraduação em Ciências (Microbiologia). III. Interação do tripanossomatídeo Phytomonas serpens com glândulas salivares do hemíptero Oncopeltus fasciatus: identificação do ligante presente nas glândulas salivares e caracterização das enzimas proteolíticas secretadas para o meio de interação. 3 O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Bioquímica de Microrganismos do Departamento de Microbiologia Geral do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes (IMPPG), Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a orientação da Profa Dra. Angela Hampshire de Carvalho Santos Lopes. 4 “É na experiência da vida que o homem evolui.” (Harvey Spencer Lewis) 5 AGRADECIMENTOS 6 “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.” (Vinicius de Moraes) À minha mãe, Maria Luiza de Almeida Dias, pelo amor incondicional, por todo o esforço, pelo imenso carinho, por tanta dedicação e pela extrema paciência. Mãe, quase sempre me faltam palavras, mas espero que saiba que a minha admiração e o meu amor por você não têm tamanho. Você é, sem dúvida, o exemplo que eu quero continuar seguindo. Obrigado por TUDO. Ao meu pai, Renato do Santos Dias, que de uma forma, e também de outra, foi um grande exemplo na minha vida. Exemplo de que a vida é feita de escolhas. Escolhas que ditam o rumo de nossa vida. Obrigado por todo o amor, carinho e amizade. Obrigado por mostrar-se sempre orgulhoso em todas as minhas vitórias. Sei que, em algum lugar, estás com aquele sorrisinho singelo, aqueles olhos brilhando e muito orgulhoso com mais uma conquista. Ao meu grande amor, Renata Estebanez Vollú, pelo carinho, amizade, companheirismo e dedicação. Obrigado por me fazer feliz e por estar sempre ao meu lado, seja nos momentos de alegria seja nos de angústia e tristeza. Saiba que tudo que penso e que faço é por nós e que sem você nada tem valor. À minha irmã, Renata, e ao meu cunhado, Rodrigo, por me darem de presente, a solução mais potente contra o stress e o mau humor, o meu sobrinho Igor, que me faz lembrar, a cada momento, que a felicidade nasce com a gente, e que esta felicidade contagia e faz mais feliz a vida de outras pessoas. Ao meu sogrão, Drausio Vollú, à minha sogrona, Marineth Estebanez, à Deinha, ao Marcelo, à Laurinha, ao Rodrigo, à Samira e à Lorena, por me fazerem sentir como parte de sua família e pelo carinho com que me recebem e me tratam no lugarzinho mais revigorante que eu conheço, o Sítio Perua. 7 À minha orientadora, Dra. Angela Hampshire de Carvalho Santos Lopes, pelo exemplo de profissionalismo, ética e responsabilidade, pelo companheirismo, pela amizade e 8 dedicação, pela firmeza e benevolência e, principalmente, por não me poupar das críticas e elogios. Obrigado por acreditar e investir em mim e no meu trabalho. Ao Dr. Antônio Ferreira Pereira, pela grande amizade e carinho e pelos cafezinhos acompanhados de conversas descontraídas e de boas gargalhadas. Ao Dr. André Luis Souza dos Santos, pelo carinho, pela grande amizade, pelos conselhos, ensinamentos e incentivo constante. À Dra. Marta Branquinnha, pelo carinho, pelos inúmeros ensinamentos e palavras de incentivo e pela revisão desta tese. À Dra. Cláudia d’Ávila Levy, pela amizade e pelas palavras de conforto e incentivo. À Dra. Patrícia Maria Lourenço Dutra, por ter me ajudado a superar os primeiros obstáculos no mundo da ciência, contribuindo, desta forma, para que eu chegasse até aqui. À Dra. Elvira Saraiva, pelo incentivo constante, pelos ensinamentos e pela ajuda referentes aos experimentos de interação parasito-hospedeiro. À Dra. Thaïs Souto Padrón, pelos inúmeros ensinamentos principalmente referentes à microscopia eletrônica. À Dra. Márcia Attias, pela valiosa ajuda nos experimentos de microscopia eletrônica. 9 À Dra. Narcisa Leal da Cunha e Silva e aos seus alunos Celsinho e Dani por terem me ajudado com seus conhecimentos em todos os momentos que precisei. Ao Dr. Mário da Silva Neto e aos seus alunos Alan, Felipe e Raquel por estarem sempre dispostos a me ajudar. À Dra. Geórgia Correa Atella e ao seu grupo de alunos pela valiosa ajuda em inúmeras ocasiões. À Dra. Yara Maria Traub-Cseko, pelas inúmeras palavras de incentivo. À Dra. Eliana Barreto Bergter e à Dra. Rosangela Araújo Soares, por tamanho carinho e ajuda em inúmeras oportunidades. Ao Dr. Márcio Lourenço e ao Dr. Leonardo Nimrichter, pelos ensinamentos, conselhos e palavras de incentivo. Ao Dr. Paulo Bisch e à sua aluna Letícia Lery, pela ajuda nos experimentos de espectrometria de massa. Ao Dr. Jonas Perales e ao seu grupo, pelas inúmera tentativas de seqüênciar a nossa p130. Ao pessoal do meu laboratório, Cirilo, Fernando, Luciana, Maria Fernanda, Marta, Milena e Paulo, pela conversas descontraídas, e principalmente à Danielle, por segurar firme a barra de ser sempre a escolhida na hora da zoação. Às meninas do Laboratório de Estudos Integrados em Bioquímica Microbiana, Ana, Bianca, Camila, Débora, 10 Fabiane, Fernanda Fonseca, Fernanda Machado, Geralda, Mariana e Patrícia, pela amizade, pelo carinho e pela convivência maravilhosa que tivemos nestes últimos anos. Ao pessoal do Laboratório do Prof. Antonio Ferreira Pereira, Aline, Geralda, Luciana, Marcos e Patrícia pelas inúmeras gargalhadas e momentos de descontração. Ao pessoal do Laboratório de Genética de Microrganismos, Elisa, Diogo 1, Diogo 2, Jana, Joana, Marcinha, Silvia e Vanessa, pelas conversas descontraídas e pelos convites para as festinhas. À Shirlei e à Sheila, secretárias da Diretoria do Instituto, pelo carinho e pela ajuda contínua durante o desenvolvimento desta Tese. À Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ao Programa de Núcleos de Excelência (PRONEX). 11 Siglas e Abreviaturas Ac anti-beta-3 Anticorpo produzido contra cadeia beta-3 da laminina-5 humana ACN Acetonitrila ATP Adenosina trifosfato BSA Soroalbumina bovina CT-IOC Coleção de Tripanossomatídeos, Instituto Oswaldo Cruz ºC Graus Celsius DNA Ácido desoxirribonucléico dNTPs Desoxirribonucleotídeos trifosfatados DTT Ditiotreitol EDTA Ácido etileno-diamino tetracético EUA Estados Unidos da América g Gravidade h Hora HIV Vírus da imunodeficiência humana k-DNA DNA contido no cinetoplasto kb Quilobase kDa Quilodalton M Molar mA Miliampere MEV Microscopia eletrônica de varredura mg Miligrama µg Micrograma min - minuto mL Mililitro µL Microlitro mM Milimolar MO Microscopia óptica 12 p130 Proteína de 130 kDa da glândula salivar de Oncopeltus fasciatus pb Pares de base pH Potencial de hidrogêneo PBS Tampão fosfafato-salina PCR Reação de polimerização em cadeia PMSF Fluoreto de fenilmetanosufonil RNA Ácido ribonucléico SDS Dodecil sulfato de sódio SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS Solução salina NaCl a 0,9% Sulfo-NHS-LC-biotina Sulfosuccinimidil-6-(biotinamida) hexanoato TBS Tampão tris 10 mM, NaCl 190 mM TBS-tween Tampão tris 10 mM, NaCl 190 mM, tween 20 a 0,05% TE Tampão tris 10 mM, EDTA 1 mM TEB Tampão tris 890 mM, EDTA 25 mM, ácido bórico 890 mM TFA Ácido trifluoracético U Unidade V Volts V1, V2, V3 e V4 Ventrículos do intestino médio de Oncopeltus fasciatus 13 Resumo Algumas espécies de Phytomonas são capazes de causar doenças letais, enquanto outras causam menores danos à planta, pois infectam sítios restritos como os dutos laticíferos e frutos. Em qualquer uma das situações, estes tripanossomatídeos podem causar prejuízos em culturas de grande importância econômica. Sabendo que a invasão das glândulas salivares dos insetos vetores é certamente uma etapa importante dentro do ciclo biológico das espécies de Phytomonas e que o aumento do conhecimento a respeito deste processo pode permitir o desenvolvimento de estratégias para o controle de parasitoses causadas por estes tripanossomatídeos, no presente estudo estabelecemos uma colônia de hemípteros da espécie Oncopeltus fasciatus livre de tripanossomatídeos no intuito de estabelecer a infecção por Phytomonas serpens nestes insetos e, a partir de então, estudar os mecanismos biológicos e moleculares envolvidos na interação deste parasito com as glândulas salivares do inseto. Após a interação ex vivo e in vitro dos parasitos com as glândulas salivares do inseto, por meio de microscopia eletrônica de varredura observamos que P. serpens é capaz de aderir à membrana basal que reveste externamente as glândulas salivares de O. fasciatus, via flagelo ou corpo celular, e atravessar esta barreira via corpo celular. A adesão dos parasitos na glândula parece ocorrer através do reconhecimento de uma proteína de 130 kDa das glândulas salivares, a qual possui seqüência peptídica e antígenos similares à cadeia beta-3 da laminina-5 humana. O tratamento prévio das glândulas salivares com o anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina, assim como o tratamento prévio de P. serpens com a laminina-5 ou com a p130 foi capaz de inibir, de forma dosedependente, a interação deste parasito com as glândulas salivares do inseto, mostrando que a p130 pode ser a molécula-alvo para a ligação de P. serpens nas 14 glândulas salivares de O. fasciatus. Durante a interação com as glândulas salivares de O. fasciatus, P. serpens foi capaz de liberar para o meio de interação uma metalo-protease com massa molecular próxima de 63 kDa, que apresenta semelhanças bioquímicas com a metalo-protease gp63 expressa por diferentes espécies de Leishmania. Da mesma forma, na presença ou na ausência de P. serpens, as glândulas salivares de O. fasciatus liberam para o meio de incubação uma metalo-protease com massa molecular entre 14 e18 kDa, que foi degradada pela cruzipaína-like de P. serpens. A participação destas proteases no processo de interação foi discutida. 15 Abstract Some Phytomonas species may cause lethal diseases, while others cause minor injuries since they infect limited plant sites such as laticifer ducts and fruit. These trypanosomatids may be the cause of damage and economic losses in plantations. Considering that the invasion of the salivary glands of the vectors is one of the most important events for the life cycle of Phytomonas species, understanding this occurrence may allow the development of control strategies against Phytomonas-caused plant disease. In the present study we have established a trypanosomatid-free colony of the hemipteram insect Oncopeltus fasciatus aiming to infect them with the parasite Phytomonas serpens, in order to study the biological and molecular mechanisms involved in the parasitesalivary gland interaction. The scanning electron microscopy of O. fasciatus salivary glands incubated ex vivo and in vitro with the parasites showed that the binding of the parasite to the basal membrane that covers the external face of the glands seems to occur via flagellum and cellular body. On the other hand, the invasion of the basal membrane by the parasites seems to occur via parasite cellular body exclusively. The attachment of the parasites to the salivary glands seems to be mediated by recognition by the parasite of a 130 kDa salivary gland protein that shares similarities with the peptide sequence of human laminin-5 beta-3 chain. The pre-treatment of the salivary glands with anti-(human) laminin-5 beta-3 chain antibody as weel as the pre-treatment of P. serpens with laminin-5 or p130 was able to inhibit the parasite-salivary gland interaction in a dose-dependent fashion suggesting that the p130 protein may be the target molecule for the parasite attachment to the salivary glands of O. fasciatus. During the interaction with O. fasciatus salivary glands P. serpens parasites shed a metalloprotease to the interaction buffer. This protease of 63 kDa 16 apparent molecular mass presents biochemical similarities with the Leishmania metalloprotease named gp63. Regardless the presence of P. serpens in the interaction assay buffer, O. fasciatus salivary glands shed another metalloprotease, which presented a molecular mass between 14 and 18 kDa and was degraded by a cruzipain-like protease of P. serpens. The role of these proteases in the interaction between P. serpens and O. fasciatus salivary glands was discussed. 17 ÍNDICE INTRODUÇÃO 1-30 1) Importância médica e econômica dos tripanossomatídeos 2 2) Classificação taxonômica 2 3) Gêneros de tripanossomatídeos 3 4) Características gerais dos tripanossomatídeos 4 5) Tripanossomatídeos inferiores 10 6) Tripanossomatídeos parasitas de plantas 11 6.1) Phytomonas serpens 13 7) Tripanossomatídeos parasitas de plantas e seus insetos hospedeiros 15 8) Oncopeltus fasciatus 18 8.1) Características gerais 19 8.2) Trato intestinal 21 8.2) Glândulas salivares 23 9) Envolvimento de enzimas proteolíticas na interação tripanossomatídeo-hospedeiro 27 OBJETIVOS 31-33 METODOLOGIA 34-55 1) Insetos 35 2) Extração do trato intestinal e das glândulas salivares dos insetos 35 3) Parasitos 35 4) Microscopia óptica a fresco 36 5) Microscopia óptica de amostras coradas com solução de Giemsa 36 6) Microscopia eletrônica de varredura 36 7) SDS-PAGE 37 8) Transferência de proteínas para membranas de nitrocelulose 38 9) Estabelecimento de colônia de Oncopeltus fasciatus livre de tripanossomatídeos 38 9.1) A partir de ovos recolhidos na colônia parental 38 9.2) A partir de ovos recolhidos na colônia parental e tratados com hipoclorito de sódio 39 10) Infecção experimental de tomates para cultivo de Phytomonas serpens 40 11) Infecção experimental de Oncopeltus fasciatus com parasitos da espécie Phytomonas serpens 40 18 12) Interação in vitro de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus inseto, em condições ex vivo 13) Determinação do perfil de proteínas totais de Phytomonas serpens e das glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 41 41 14) Biotinilação de proteínas de superfície de Phytomonas serpens 42 15) Observação do perfil de proteínas de superfície de Phytomonas serpens 42 16) Interação de proteínas de superfície do parasito com proteínas das glândulas salivares do inseto por “ligand blotting” 43 16.1) Transferência de proteínas da glândula salivar para membranas de nitrocelulose 43 16.2) “Ligand Blotting” 43 17) Interação de parasitos vivos com proteínas das glândulas salivares 43 18) Eletroforese bidimensional do extrato protéico das glândulas salivares 44 19) Espectrometria de massa 45 20) “Imunoblotting” da proteína de 130 kDa, utilizando o anticorpo produzido contra a cadeia beta-3 da laminina-5 humana 46 21) Busca do gene da cadeia beta-3 da laminina-5 em Oncopeltus fasciatus 47 21.1) Extração do DNA total 47 21.2) Reação de polimerização em cadeia 21.3) Eletroforese em gel de agarose 22) Inibição da interação do parasito com as glândulas salivares do inseto 22.1) Inibição promovida pela p130 purificada a) Purificação da p130 48 49 49 50 50 22.2) Inibição promovida pela laminina-5 humana 51 22.3) Inibição promovida pelo anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina-5 humana 51 23) Enzimas proteolíticas extracelulares envolvidas na interação do parasito com as glândulas salivares do inseto 51 23.1) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pelo parasito no o meio de interação 53 23.2) Caracterização da atividade proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação 54 a) Modulação da expressão da protease da glândula salivar exercida pelos parasitos 54 b) Determinação do sítio de atividade da protease de 14-18 kDa da glândula salivar 54 c) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação 55 RESULTADOS 1) Obtenção de colônia de insetos livres de tripanossomatídeos 56-92 57 1.1) A partir de ovos recolhidos na colônia parental 57 1.2) A partir de ovos recolhidos na colônia parental e tratados com hipoclorito de sódio 62 2) Infecção experimental de tomates para cultivo de Phytomonas serpens 66 3) Infecção experimental de Oncopeltus fasciatus com parasitos da espécie Phytomonas serpens 68 4) Interação in vitro de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus inseto, em condições ex vivo 68 19 5) Pesquisa por molécula(s)-alvo para a ligação de Phytomonas serpens às glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 70 5.1) Perfil de proteínas totais da glândula salivar de Oncopeltus fasciatus 70 5.2) Perfil de proteínas totais de Phytomonas serpens 71 5.3) Perfil de proteínas de superfície de Phytomonas serpens 71 5.4) Interação de proteínas de superfície de Phytomonas serpens com proteínas das glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 71 5.5) Interação de parasitos vivos com proteínas das glândulas salivares 72 6) Identificação do ligante presente na glândula salivar 75 7) Similaridade antigênica da p130 com a cadeia beta-3 da laminina-5 humana 77 8) Busca do gene da cadeia beta-3 da laminina-5 em Oncopeltus fasciatus 78 9) Inibição da interação de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 80 9.1) Inibição promovida pela p130 purificada 80 9.2) Inibição promovida pela laminina-5 humana 81 9.3) Inibição promovida pelo anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina-5 humana 81 10) Envolvimento de enzimas proteolíticas na interação de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 83 10.1) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pelo parasito no o meio de interação 85 10.2) Possível envolvimento da cisteína-protease do parasito na interação com as glândulas salivares do inseto 87 10.3) Caracterização atividade proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação 88 a) Determinação do sítio de atividade da protease de 14-18 kDa da glândula salivar 89 b) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação 91 DISCUSSÃO 93-111 CONCLUSÕES 112-114 BIBLIOGRAFIA 115-137 ANEXOS 138-190 Anexo 1 139 Anexo 2 146 Anexo 3 155 Anexo 4 162 Anexo 5 171 Anexo 6 182 20 INTRODUÇÃO 21 1) Importância médica e econômica dos tripanossomatídeos A família Trypanosomatidae possui destacada importância na medicina humana e veterinária e no setor agropecuário, pois reune espécies de protozoários parasitas causadoras de doenças em humanos e em animais e plantas de interesse econômico (Mcghee & Cosgrove, 1980; Vickerman, 1994; Camargo, 1999). Além disso, alguns trabalhos têm demonstrado a importância dos tripanossomatídeos como patógenos oportunistas. Estes trabalhos relatam casos de infecções viscerais e cutâneas em indivíduos immunodeficientes causadas por alguns tripanossomatídeos classificados como não-patogênicos (revisto por Chicharro & Alvar, 2003). 2) Classificação taxonômica Os diferentes gêneros de tripanossomatídeos estão agrupados na família Trypanosomatidae que, de acordo com Levine e colaboradores (1980), possui a seguinte posição taxonômica: Reino: Protista Sub-Reino: Protozoa Filo: Sarcomastigophora Subfilo: Mastigophora Classe: Zoomastigophora Ordem: Kinetoplastida Subordem: Trypanosomatina Família: Trypanosomatidae 22 De acordo com Barnes (1984), o reino Protista agrupa os protozoários, seres unicelulares eucariotos que, quanto à forma de vida, podem ser divididos em comensais, simbiontes ou parasitas. Já o filo Sarcomastigophora reune os protozoários que se locomovem por meio de pseudópodes ou flagelos. Os protozoários flagelados compõem o subfilo Mastigophora. A ordem Kinetoplastida foi proposta por Honigberg (1963) para agrupar exclusivamente os protozoários flagelados, que possuem estrutura subcelular peculiar denominada cinetoplasto, região da mitocôndria onde se encontra todo o ácido desoxirribonucléico (DNA) mitocondrial (k-DNA) (Wallace, 1966). Essa ordem está dividida em duas subordens, Bodonina e Trypanosomatina, que agrupam, respectivamente, protozoários biflagelados e uniflagelados, de mitocôndria única e ramificada, que geralmente apresenta-se distribuída por todo o corpo celular (Vickerman, 1976; Schmidt & Roberts, 1989; Vickerman, 1990). A subordem Trypanosomatina é constituída exclusivamente pela família Trypanosomatidae. 3) Gêneros de tripanossomatídeos As espécies de tripanossomatídeos estão agrupadas em dez gêneros, de acordo, principalmente, com aspectos morfológicos e especificidade por hospedeiros (revisto por McGhee & Cosgrove, 1980), características que nem sempre refletem semelhanças filogenéticas entre estas espécies. Por este motivo, a necessidade de uma revisão taxonômica na família tem sido sugerida por alguns autores (Momen, 2001; Podlipaev, 2001; Podlipaev et al, 2004). Neste contexto, pelo menos três outros gêneros já tiveram a sua formação sugerida dentro da família Trypanosomatidae (Sousa e Corte-Real, 1991; Podlipaev & Rokitskaya, 1999; Brandão et al, 2000). Dos dez gêneros que formam a família, cinco são constituídos por parasitas monoxênicos e outros cinco por parasitas 23 heteroxênicos (Tabela 1). Enquanto os tripanossomatídeos monoxênicos desenvolvem todo o seu ciclo de vida em um único hospedeiro (invertebrado), os heteroxênicos, para completar seus ciclos, necessitam de um hospedeiro intermediário/vetor (hospedeiro invertebrado) e outro definitivo (hospedeiro vertebrado ou planta, dependendo do gênero) (Vickerman, 1994). Tabela 1 - Gêneros da Família Trypanosomatidae e seus respectivos hospedeiros. (*) Gêneros que tiveram a sua formação sugerida. Gênero Hospedeiro * Angomonas (Sousa & Corte-Real, 1991) Blastocrithidia (Laird, 1959) Crithidia (Léger, 1902) Monoxênicos Herpetomonas (Kent, 1880) Invertebrado Leptomonas (Kent, 1880) Rhynchoidomonas (Patton, 1910) * Strigomonas (Lwoff & Lwoff, 1931; Brandão et al, 2000) * Wallaceina (Podlipaev et al., 1999) Endotrypanum (Mesnil & Brimont, 1908) Leishmania (Laveran & Mesnil, 1903) Heteroxênicos Invertebrado / Vertebrado Sauroleishmania (Ranque, 1973) Trypanosoma (Grubby, 1843) Phytomonas (Donovan, 1909) Invertebrado / Planta 4) Características gerais dos tripanossomatídeos Os tripanossomatídeos são organismos unicelulares eucariotos e, portanto, possuem corpo celular, núcleo e organelas citoplasmáticas delimitadas por uma bicamada lipídica (Wallace, 1966; McGhee & Cosgrove, 1980). Características peculiares compartilhadas pelos diferentes gêneros de tripanossomatídeos fazem deste um grupo singular dentre todos os protozoários. Entre estas características destacam-se: 24 (i) A presença de uma mitocôndria única e ramificada por todo o corpo celular (Maslov & Simpson, 1995), cujo DNA possui um arranjo único na natureza e forma uma estrutura típica, denominada cinetoplasto, que fica localizado próximo aos cinetossomos do flagelo (revisto por Stuart & Feagin, 1992). O DNA do cinetoplasto (k-DNA) possui forma oval ou de bastão (Vickerman, 1990) e sua estrutura consiste de uma rede de cadeias circulares de DNA (maxi e minicírculos) concatenadas e arranjadas de forma compacta. Dependendo da espécie, são detectadas dezenas de maxicírculos (25-50), contendo de 20-38 kb e milhares de minicírculos (5.000-27.000), contendo de 0,46-2,5 kb (Vickerman, 1994). Os maxicírculos possuem homogeneidade na seqüência de nucleotídeos e têm função similar ao DNA mitocondrial de outros eucariotos superiores, pois possuem genes essenciais para a biogênese mitocondrial, genes que codificam para ácidos ribonucléicos (RNA) ribossomais mitocondriais e subunidades de algumas proteínas envolvidas no transporte de elétrons e na síntese de adenosina trifosfato (ATP) (Vickerman, 1994). Já os minicírculos são heterogêneos na seqüência de nucleotídeos e podem ser transcritos em pequenas moléculas de RNA (RNAs guias ou g-RNAs), que são utilizadas como moldes, orientando a inserção e deleção de resíduos de uridina em RNAs gerados na transcrição de maxicírculos, mecanismo de modificação pós-transcricional de DNA somente observado em tripanossomatídeos (Shapiro & Englund, 1995; Morris et al., 2001); (ii) A presença de flagelo único, composto basicamente por um axonema e um corpo paraxial. Nos tripanossomatídeos, o flagelo emerge da bolsa flagelar, localizada na região anterior do corpo celular, e encontra-se ancorado à célula pelos corpos basais, os quais estão fisicamente associados à mitocôndria (Webster & Russell, 1993). O flagelo possui função fundamental de locomoção, capacitando a célula a orientar seu movimento em resposta a um estímulo. No 25 entanto, pode ter outras atribuições, em algumas espécies, como a de adesão a tecidos de hospedeiros, por exemplo (Vickerman & Tetley, 1990; revisto por Vickerman, 1990); (iii) A presença de glicossoma, organela relacionada ao peroxissoma e exclusiva da ordem Kinetoplastida. Nesta organela ocorre a compartimentalização da via glicolítica, o que permite que o mecanismo de conversão de glicose em piruvato nos tripanopssomatídeos seja mais eficiente do que na maioria dos outros organismos eucariotos (revisto por Vickerman, 1994). No glicossoma estão presentes as enzimas iniciais necessárias à produção de fosfoglicerato, a partir de glicose ou glicerol. Como nos demais organismos eucariotos, a produção de piruvato, a partir de fosfoglicerato, ocorre no citoplasma. Esta organela coopera com a mitocôndria no metabolismo energético, mas possui também outras funções relacionadas à biossíntese de pirimidinas, recuperação de purinas, síntese de éter lipídios e β-oxidação de ácidos graxos (Opperdoes & Michels, 1993; revisto por Vickerman, 1994, e Michels, Hannaert & Bringaud, 2000); (iv) A presença de uma camada de microtúbulos subpeliculares, que se apresentam em associação à membrana plasmática, dando forma e sustentação à célula. O citoesqueleto atua, também, como barreira contra a exocitose e endocitose, que ocorrem somente na região da bolsa flagelar, região desprovida de microtúbulos subpeliculares (Vickerman & Preston, 1976; De Souza, 1984; revisto por Vickerman, 1994). Em alguns tripanossomatídeos de insetos e em certos estágios do ciclo de vida de alguns protozoários do gênero Trypanosoma, a ingestão de nutrientes pode ocorrer, também, através de uma estrutura adicional denominada de citóstomo, que fica localizada na porção posterior do corpo celular (revisto por Vickerman, 1990); 26 (v) A presença de acidocalcisoma, uma organela elétron-densa que apresenta alta concentração de polifosfatos, cálcio, magnésio, sódio e zinco em seu interior e uma variedade de bombas e proteínas trocadoras em sua membrana, o que ressalta a sua importância na regulação do pH intracelular e na osmorregulação, no armazenamento intracelular de energia e cálcio para inúmeros processos bioquímicos essenciais. Esta organela, que foi caracterizada primeiramente em tripanossomatídeos, já foi descrita em outros eucariontes e em procariontes (revisto por Docampo et al., 2005). Na figura 1 encontram-se esquematizados os componentes descritos acima. Estrutura flagelar Junção tipo desmossoma Microtúbulos da citofaringe “coated vesicles” Microtúbulos flagelares flagelo Corpo basal Vacúolo contratil citofaringe cinetoplasto Vesículas e túbulos mitocôndria golgi Retículo endoplasmático rugoso Retículo endoplasmático liso glicossoma acidocalcissoma núcleo Inclusão lipídica lisossoma Microtúbulos sub-peliculares Figura 1: Representação esquemática da morfologia e dos principais componetes celulares presentes nos tripanossomatídeos (adaptado de CLAYTON, HANSLER & BLATTER, 1995). Algumas espécies de tripanossomatídeos, tais como Blastocrithidia culicis, Crithidia deanei, Crithidia desouzai, Crithidia oncopelti e Herpetomonas 27 roitmani possuem em seu citoplasma endossimbiontes, os quais possuem dupla membrana, DNA com similaridade ao de bactérias e capacidade de se dividir sincronicamente com suas células hospedeiras (revisto por De Souza & Motta, 1999). A presença de endossimbionte acarreta mudanças bioquímicas e morfológicas no hospedeiro tripanossomatídeo. Entre as mudanças bioquímicas, está a aquisição de vias bioquímicas realizadas pelos endossimbiontes, as quais auxiliam o processo de nutrição da célula hospedeira (Chang, Chang & Sassa, 1975). Entre as mudanças morfológicas, podem ser citadas a forma incomum de arranjo espacial dos mirotúbulos, a ausência da estrutura paraxial do flagelo, a ramificação aumentada da mitocôndria e o arranjo frouxo do k-DNA. Estas mudanças não são revertidas após a remoção do endossimbionte (Freymüller & Camargo, 1981). Nos tripanossomatídeos, a reprodução ocorre de forma assexuada por divisão binária (MCGHEE & COSGROVE, 1980). No entanto, em algumas espécies vem sendo sugerida a troca de material genético entre células (Vickerman, 1990; Sousa, Pereira & Côrte-Real, 1997; Sousa et al., 1997; Santos et al., 2000; Gaunt et al., 2003). Durante o ciclo de vida, respondendo às mudanças ambientais, os tripanossomatídeos podem sofrer modificações morfo-fisiológicas, apresentando-se sob diferentes formas evolutivas (figura 2), as quais são caracterizadas pela morfologia do corpo celular, pela presença ou ausência de flagelo extracelular, local de emersão do flagelo e posição do complexo flagelobolsa flagelar-cinetoplasto em relação ao núcleo (Hoare & Wallace, 1966). As espécies de tripanossomatídeos pertencentes a diferentes gêneros apresentam diferentes combinações de formas evolutivas ao longo do ciclo de vida, por exemplo, enquanto as espécies do gênero Leishmania apresentam as formas promastigota e amastigota, as espécies do gênero Trypanosoma apresentam as formas epimastigota, tripomastigota e amastigota (MCGHEE & COSGROVE, 1980). 28 promastigota paramastigota opistomastigota epimastigota tripomastigota coanomastigota amastigota esferomastigota Figura 2 – Principais formas evolutivas encontradas nos gêneros da família Trypanosomatidae (adaptado de Sousa, 2000) Algumas espécies dos gêneros Blastocrithidia e Leptomonas, em resposta a escassez de nutrientes, baixa humidade, baixa concentração de oxigêneo e variações na temperatura e no pH, podem apresentar formas císticas, comportamento ainda não observado em espécies de outros gêneros da família Trypanosomatidae. Os cistos de tripanossomatídeos apresentam características peculiares, que os diferenciam dos cistos de outros protozoários, como a ausência de parede cística (Wallace, 1966). 29 5) Tripanossomatídeos inferiores Os gêneros de tripanossomatídeos monoxênicos, juntamente com o gênero Phytomonas, formam um grupo denominado informalmente de “tripanossomatídeos inferiores” (Wallace, 1966). Esta denominação foi atribuída, principalmente, devido à ausência de patogenicidade destes tripanossomatídeos para vertebrados, fato que vem sendo questionado devido à constatação de casos de doenças semelhantes a leishmanioses, causadas por representantes deste grupo em pacientes imunocomprometidos (revisto por Chicharro & Alvar, 2003). A ocorrência destes casos e o aumento crescente do número de indivíduos infectados pelo HIV podem, eventualmente, levar os tripanossomatídeos inferiores a figurar como importantes patógenos oportunistas em áreas de clima tropical, onde insetos hematófagos da ordem Diptera estão freqüentemente infectados por estes microrganismos (Dedet et al., 1995; Jiménez et al. 1996; revisto por Chicharro & Alvar, 2003). Provavelmente devido à ausência de importância médica, o estudo dos “tripanossomatídeos inferiores” permaneceu, por certo tempo, um tanto quanto negligenciado (revisto por Podlipaev, 2000). No entanto, devido à facilidade de manipulação em laboratórios, à manutenção em meios axênicos, ao baixo risco de causar infecções no homem e às semelhanças fisiológicas, bioquímicas e antigênicas em relação aos tripanossomatídeos dos gêneros Trypanosoma e Leishmania, os tripanossomatídeos inferiores vêm ganhando importância. Estudos recentes têm demonstrado que diferentes espécies de “tripanossomatídeos inferiores”, incluindo a espécie utilizada no presente estudo, Phytomonas serpens, possuem antígenos semelhantes aos presentes em espécies dos gêneros Leishmania (d’Avila-Levy et al, 2003; 2005; 2006a ANEXO 4; 2006b - ANEXO 3; Elias et al, 2006; Nogueira de Melo et al, 2006 - ANEXO 6; Santos et al, 2007) e Trypanosoma (Breganó et al, 2003; Santos et al., 2006 - ANEXO 5; Santos et al., 2007). Além disso, dados moleculares 30 mostram a proximidade, em termos filogenéticos, entre as espécies dos gêneros Phytomonas e Leishmania (Hollar & Maslov, 1997; revisto por Podlipaev, 2000). 6) Tripanossomatídeos parasitas de plantas Em 1909, Lafont descreveu, pela primeira vez, a presença de flagelados parasitando plantas. O parasita encontrado por Lafont na planta laticífera Euphorbia pilulifera foi caracterizado como pertencente à família Trypanosomatidae e alocado dentro do gênero Leptomonas, recebendo a especificação Leptomonas serpens. Ainda em 1909, Donovan sugeriu a formação do gênero Phytomonas, para agrupar todas as espécies de tripanossomatídeos isolados de plantas, as quais, por muito tempo, continuaram sendo agrupadas nos gêneros Leptomonas, Herpetomonas e Trypanosoma (revisto por Camargo, 1999). Somente em 1927, foi atribuído oficialmente o nome Phytomonas a um tripanossomatídeo de planta (Aragão, 1927). Tal nomenclatura só viria a ganhar aceitação plena após 1970 (revisto por Camargo, 1999). Em 1931, Stahel fez a primeira descrição de tripanossomatídeos parasitando plantas não-laticíferas. Este mesmo estudo demonstrou, pela primeira vez, a associação destes microrganismos com uma fitopatologia bem definida. Ao estudar plantações de café acometidas com uma doença letal, causada pela necrose do floema, Stahel encontrou flagelados nos vasos condutores de seiva e, desta forma, relacionou a doença do café com a presença do tripanossomatídeo, denominado de Phytomonas leptovasorum. Diversos estudos descrevendo patologias em palmeiras foram publicados na década de 70. Coqueiros e dedenzeiros, acometidos com uma doença fatal, foram estudados e a mesma espécie de tripanossomatídeo foi descrita como agente etiológica da patologia, Phytomonas staheli (revisto por Camargo, 1999). 31 Em 1986, Kitajima, Vainstein e Silveira associaram protozoários flagelados a uma doença em mandioca (Manihot esculenta), caracterizada pela atrofia das raízes. Sabe-se que tripanossomatídeos, incluindo os monoxênicos, são frequentemente isolados de frutos. No entanto, apenas duas espécies foram descritas, Phytomonas serpens (Gibbs, 1957), isolada de tomates (Lycopersicon esculentum), e Phytomonas mcgheei (Jankevicius et al, 1993), isolada de sementes de milho (Zea mays) (revisto por Camargo, 1999). Atualmente, sabe-se que diversas famílias de vegetais são susceptíveis à infecção (natural e/ou experimental) por parasitos da família Trypanosomatidae (revisto por Camargo, 1999). Estes microrganismos já foram detectados em diversas partes de plantas, como em vasos laticíferos (Aragão, 1931; Dollet, Cambrony & Gargani, 1982; Attias & De Souza, 1986; Vainstein & Roitman, 1986) e condutores de seiva (Attias et al., 1987), frutos, como tomate, jiló e pimenta (Gibbs, 1957; Jankevicius et al., 1989; Kastelein & Camargo, 1990; Fiorini et al., 1993; Camargo, 1999), tangerina, pêssego, goiaba, laranja e uva (revisto por Camargo, 1999), em sementes, como milho e feijão (Kastelein & Camargo, 1990; Jankevicius et al., 1993) e em flores (Fiorini et al., 1995). O parasitismo exercido pelos tripanossomatídeos em plantas pode ocorrer sem nenhuma patogenicidade aparente, mas também pode causar doenças, que geram prejuízos em culturas de grande importância econômica, tais como plantações de café, côco e dendê. Absolutamente nada se sabe em relação a patogenicidade dos tripanossomatídeos parasitas de frutos. Com isso, perguntas simples permanecem sem resposta. Por exemplo, ainda não se sabe se o parasitismo pode acelerar o apodrecimento do fruto ou se a atividade metabólica do parasito pode gerar produtos que alterem o sabor e a acidez dos frutos (revisto por Camargo, 1999). 32 6.1) Phytomonas serpens Em 1957, Gibbs, analisando frutos da planta Solanum lycopersicum (tomate), encontrou um parasito flagelado, o qual foi denominado de Leptomonas serpens. Posteriormente, Podlipaev (1986) se referiu ao parasito isolado por Gibbs denominando-o de Phytomonas serpens. Durante sua tese de Doutorado, Jankevicius (1992) pesquisando a presença de Phytomonas em plantas laticíferas, na cidade de Londrina (Estado do Paraná), observou que duas espécies de insetos (Phthia picta e Nezara viridula), que se alimentavam nestas plantas, também se alimentavam em tomates (Lycopersicon esculentum), nos quais se constatou a presença de flagelados apresentando as mesmas características descritas por Gibbs (1957). Em 1989, Jankevicius e colaboradores publicaram um estudo descrevendo dois prováveis hospedeiros naturais e o ciclo biológico deste tripanossomatídeo. Neste estudo, Jankevicius baseado em seus resultados e em dados da literatura (Camargo et al., 1987; Teixeira & Camargo, 1989) concorda com a referência de Podlipaev (1986) e adota a denominação Phytomonas serpens para o parasito estudado. Desde então, esta denominação vem sendo utilizada para tal tripanossomatídeo. Durante a pesquisa de Jankevicius (1992), P. serpens isolada tanto dos tomates, quanto do trato digestivo e glândulas salivares de Ph. picta e N. viridula, se desenvolveram em meio bifásico. Neste estudo ficou demonstrado que P. serpens possui pelo menos dois insetos vetores para tomates, Ph. picta e N. viridula e que estes insetos, da mesma forma que se contaminam com este parasito, quando se alimentam em tomates infectados, são capazes de transmitir os flagelados para tomates, quando se alimentam novamente (Figura 3). Ainda neste trabalho foi observado, em tomates, o aparecimento de manchas amareladas nos locais onde foram picados pelos insetos, manchas estas que foram atribuídas à atividade metabólica do tripanossomatídeo, já que tomates picados por insetos não infectados, criados em laboratório, não apresentaram tais 33 manchas ou as apresentavam em menor tamanho e com um amarelo menos intenso. Tomates ainda verdes, folhas, flores e caule não são infectados (FIORINI et al., 1993). Mais estudos são necessários para se determinar se frutos infectados por P. serpens apodrecem mais rapidamente do que os não infectados ou mesmo se apresentam as suas propriedades naturais alteradas. No entanto, somente o aparecimento de manchas causadas pela contaminação com este parasita já pode representar prejuízos aos produtores (Camargo, 1999). Figura 3 – Esquematização dos resultados obtidos por Jankevicius em sua tese de Doutorado (adaptado de Jankevicius, 1992). Pouco é sabido sobre a patogenicidade do tripanossomatídeo P. serpens (revisto por Camargo, 1999). De qualquer forma, este microrganismo pode ser utilizado como modelo para estudos que visem um conhecimento mais profundo sobre diferentes características, que possam, eventualmente, estar presentes em 34 representantes reconhecidamente patogênicos do seu gênero ou mesmo em tripanossomatídeos patogênicos para o homem. Estudos recentes mostraram que a espécie P. serpens apresenta moléculas semelhantes a dois importantes fatores de virulência presentes em diversas espécies de Leishmania e em Trypanosoma cruzi (Santos et al., 2007). Na superfície celular de P. serpens foi detectada uma molécula com similaridades antigênicas com uma glicoproteína de superfície conhecida como PSP (do inglês promastigote surface peptidase), MSP (do inglês major surface protease), leishmanolisina ou mais frequentemente gp63 (d’Avila-Levy, 2006b - ANEXO 3). Esta proteína, que está presente em diversas espécies de Leishmania, parece ter importância no processo de interação destes patógenos com macrófagos (revisto por Yao, Donelson & Wilson, 2003). Santos e colaboradores (2006) (ANEXO 5) demostraram que uma cisteína peptidase, que apresenta semelhanças antigênicas com a principal cisteína proteinase de T. cruzi, a cruzipaína (Cazzulo, Stoka & Turk, 2001; Santos et al., 2007), está presente na superfície celular de P. serpens e em frações de membranas liberadas pelo parasito para o meio extracelular. Neste estudo, Santos e colaboradores mostraram, assim como já foi visto para T. cruzi, que inibidores de cisteína peptidases podem interferir com o crescimento, com a ultraestrutura e com a interação entre P. serpens e um hospedeiro experimental (Dias, 2004), o hemíptero fitófago Oncopeltus fasciatus. 7) Tripanossomatídeos parasitas de plantas e seus insetos hospedeiros Com cerca de 30 milhões de espécies distribuídas por todo o planeta, os insetos possuem representantes adaptados a todo e qualquer tipo de ambiente, desde as regiões de clima mais ameno até as áreas com condições ambientais mais adversas, como e os desertos e os pólos (Borror, Triplehorn & Johnson, 1989). 35 Na natureza, os insetos se alimentam em animais, vegetais ou de matéria orgânica em decomposição, embora alguns sejam onívoros, a maioria tem algum tipo de especificidade em relação à origem de seu alimento (Chapman, 1971). Baseando-se nas especificidades alimentares, Brues (1946) dividiu os insetos em 4 grandes grupos: parasitas, herbívoros, predadores e saprófitas, considerando parasitas aqueles que se alimentam em animais, herbívoros aqueles que se alimentam de plantas (fitófagos) ou fungos (micetófagos), predadores aqueles que se alimentam de outros insetos e saprófitas aqueles que se alimentam de matéria em decomposição. Em lavouras, os insetos, além de serem polenizadores e controladores de pragas, podem também agir como vetores e disseminadores de doenças. Entre essas doenças estão as causadas por tripanossomatídeos do gênero Phytomonas, que têm insetos fitófagos como seus vetores (revisto por Camargo, 1999). A transmissão de tripanossomatídeos de plantas aos insetos hospedeiros, ocorre pela ingestão de fluidos da planta infectada, como a seiva e o látex (Wallace, 1966; Jankevicius, 1992), ou por coprofagia direta e indireta (Gibbs, 1950; Mcghee & Hanson, 1962). Isso torna possível a transmissão de tripanossomatídeos de inseto para inseto e permite que esses atuem não somente como vetores, mas também como reservatórios de doenças de plantas. Em outras palavras, é possível que flagelados de plantas circulem por longos períodos de tempo entre insetos da mesma espécie ou de espécies diferentes (revisto por Camargo, 1999). Nos insetos, parasitos do gênero Phytomonas colonizam sítios intestinais, onde ocorre a passagem para a hemolinfa, veículo de acesso até a face externa das glândulas salivares. Da hemolinfa, os flagelados passam ativamente para o lúmen das glândulas salivares (McGhee & Hanson, 1964; Jankevicius, 1992). A transmissão para vegetais ocorre quando o inseto, com as glândulas salivares infectadas, se alimenta em plantas. Antes ou durante a sucção de fluidos da planta, o inseto injeta saliva contendo os flagelados (Camargo e 36 Wallace, 1994; Jankevicius et al., 1989; Jankevicius, 1992). Um esquema simplificado do ciclo biológico das espécies de Phytomonas em seus insetos hospedeiros pode ser observado na figura 4. A dispersão dos tripanossomatídeos inferiores entre os insetos ocorre em diversas ordens. No entanto, as ordens Diptera e Hemiptera são as que agrupam o maior número de espécies hospedeiras e, portanto, são as mais investigadas. Entre os hemípteros, conhecidos popularmente como percevejos, estão agrupados insetos fitófagos, hematófagos e predadores. Na natureza, certos hematófagos estão freqüentemente infectados com espécies de Trypanosoma, Leishmania e Endotrypanum (Wallace, 1966; Vickerman, 1976). Até o presente momento, todos os insetos descritos como hospedeiros de espécies de Phytomonas pertencem à ordem Hemiptera e se distribuem pelas famílias Coreidae, Lygaeidae e Pentatomidae, todas agrupadas na subordem Heteroptera. Glândula Salivar PLANTA INSETO Hemolinfa Intestino Figura 4 – Esquema simplificado do ciclo biológico das espécies de Phytomonas. A família Lygaeidae, segunda maior família de hemípteros, possui cerca de duzentos e cinqhenta espécies descritas, sendo vinte e uma hospedeiras de tripanossomatídeos e dentre essas, nove hospedeiras de espécies de Phytomonas 37 (Wallace, 1966; Camargo & Wallace, 1994; revisto por Camargo, 1999). Pertencente à família Lygaeidae, o gênero Oncopeltus possui três espécies hospedeiras de tripanossomatídeos parasitas de plantas, são elas o Oncopeltus famelicus (Vickerman, 1962), Oncopeltus varicolor (Sbravate et al., 1989) e O. fasciatus (Holmes, 1925; McGhee & Hanson, 1964). 8) Oncopeltus fasciatus O O. fasciatus (figura 5), devido a sua facilidade de manutenção em colônias populosas e em laboratórios, vem sendo utilizado como modelo para estudos relacionados a interação de tripanossomatídeos com hospedeiros. Inespecífico quanto a infecção por estes protozoários, o O. fasciatus é descrito como hospedeiro natural da espécie Phytomonas elmasiani, que coloniza sítios intestinais e suas glândulas salivares (Holmes, 1925; McGhee & Hanson, 1964) e C. acanthocephali (Hanson & McGhee, 1961), Leptomonas oncopelti (Mcghee & Hanson, 1962) e Leptomonas wallacei (Romeiro et al., 2000), que colonizam, exclusivamente, sítios do seu trato intestinal, podendo também albergar, por meio de infecção experimetal, tripanossomatídeos isolados de outros insetos (Hanson & Mcghee, 1963). Figura 5 – Oncopeltus fasciatus na fase adulta. 38 8.1) Características gerais Este inseto, descrito como Lygaeus fasciatus por Dallas (1852) e, posteriormente, renomeado como O. fasciatus por Slater (1964) tem sido mantido em colônias artificiais e utilizado como modelo de estudo em diferentes áreas da pesquisa científica desde 1934. Andre (1934) foi quem descreveu pela primeira vez a utilização deste inseto como modelo, devido à facilidade de manutenção em laboratório durante todo o ano, devido ao curto ciclo de vida e ao tamanho ideal para a utilização em diversos procedimentos (revisto por Feir, 1974). O. fasciatus é um inseto de hábito migratório, que se distribui por uma ampla área geográfica, a qual se estende da região central e Sul dos Estados Unidos da América (EUA), passa pelo México e chega ao Brasil (revisto por Feir, 1974). Na natureza, diversas são as famílias de plantas onde O. fasciatus se alimenta. No entanto, este hemiptero é visto com maior freqüência se alimentando em plantas da família Asclepiadaceae (figura 6) (revisto por Feir, 1974). Em laboratório, diversos grupos tentaram estabelecer colônias utilizando variados tipos de alimentos como a avelã e a castanha do Pará, sementes de melancia e abóbora, frutas como o cajú e a uva e, até mesmo, hamburger e pasta de amendoim. No entanto, o único alimento que permite manter colônias populosas de forma estável e prolífera é a semente do girassol (revisto poir Feir, 1974). 39 A B C Figura 6 – Ninfas (A) e insetos adultos (B) da espécie Oncopeltus fasciatus alimentando-se em planta da espécie Asclepias syriaca (C). A impressionante capacidade do O. fasciatus de sobreviver a invernos rigorosos na região central dos EUA incentivou Saini e Chiang (1966) a testar os índices de sobrevivência deste inseto em temperaturas extremamente baixas. Neste estudo, ficou comprovado que mesmo após um período de 12 min congelados a -35oC, os insetos parecem não sofrer nenhum dano, apresentando todas as atividades metabólicas normais. Com este tratamento estendido a 48 h, a taxa de mortalidade é de 79%. Como todo hemíptero, O. fasciatus é um inseto hemimetábolo, isto é, após a eclosão do ovo, o inseto passa por cinco estágios de ninfa, até a mudança para a fase adulta (figura 7). Cada estágio de ninfa se estende, em média, por cinco dias e, já na fase adulta, o inseto vive em média cerca de trinta dias (revisto por Feir, 1974). No entanto, em nosso laboratótio, observamos que a longevidade na fase adulta pode ser muito maior, chegando perto do cem dias. Machos e fêmeas adultos medem cerca de 1,5 cm e são facilmente distinguidos, pois nos machos é observada na região ventral do abdome duas linhas negras contínuas, enquanto 40 que nas fêmeas uma das linhas é segmentada (Figura 7). Já por volta do quinto dia da fase adulta, os insetos iniciam a atividade reprodutiva. Quatro dias após a postura ocorre a eclosão dos ovos. Cada fêmea é capaz de ovipor cerca de trinta ovos por dia, chegando a um total de dois mil ovos durante o seu período fértil. Todos essas características foram observadas em temperatura média de 29,5 oC e em regime de 16 h na presença de luz para 8 h na ausência de de luz (revisto por Feir, 1974). B A Figura 7 – Fases de vida do inseto Oncopeltus fasciatus. (A) Da esquerda para direita: ovos com 1 e 3 dias após a oviposição, ninfas do 1o ao 5o estadios de ninfa e fase adulta (B) Macho à esquerda e fêmea à direita. 8.2) Trato Intestinal O canal alimentar nos hemípteros é um tubo alongado, que se estende da boca ao ânus, e apresenta-se dividido em 3 regiões principais: intestino anterior ou estomodeo, intestino médio ou mesentério e intestino posterior ou proctodeo (Figura 8) (Borror, Triplehorn & Johnson, 1989). O intestino anterior é formado por células epiteliais cubóides revestidas por uma fina camada de cutícula e pode ser dividido anatomicamente em 3 partes: faringe, esôfago, papo. Ao contrário da maioria dos insetos, os hemípteros não possuem proventrículo (Goodchild, 1966). O intestino médio, que possui função de digerir os alimentos e absorver água, é formado por células epiteliais colunares, que não são recobertas por cutícula, mas sim por um conjunto de membranas lipoprotéicas 41 denominadas de membranas perimicrovilares (Borror, Triplehorn & Johnson, 1989; Silva et al, 1995). Nos hemípetros fitófagos, o intestino médio é dividido em 4 ventrículos (V1, V2, V3 e V4), que apresentam anatomia e fisiologia distintas (Silva et al., 1995). O intestino posterior pode ser dividido em 3 regiões anatômicas: piloro, íleo e reto. Assim como o intestino anterior, é formado por células epiteliais cubóides que, no entanto, são resvestidas por uma camada de cutícula mais fina e permeável (Borror, Triplehorn & Johnson, 1989). No trato alimentar de O. fasciatus, enquanto os tripanossomatídeos monoxênicos colonizam os intestinos médio e posterior, a espécie P. elmassiani infecta apenas o intestino médio (McGhee & Hanson, 1962; Vickerman, 1962; McGhee & Hanson, 1964; Romeiro et al., 2003). in tes tin o a n terior esô fa g o fa rin g e in tes tin o m é d io papo in tes tin o p osterior p iloro ven trícu los reto ânus íleo p roven trícu lo Tú b u los d e M a lp ig h i b oca v1 v2 v3 v4 Figura 8 - Divisão anatômica do trato alimentar de hemípteros fitófagos (adaptado de Chapman, 1971 e Silva et al., 1995). V1, V2, V3 e V4 – ventrículos do intestino médio. 42 8.3) Glândulas Salivares O inseto O. fasciatus possui um par de glândulas salivares trilobulares pareadas lateralmente, em relação ao canal alimentar, na região entre o esôfago e o papo. Cada glândula mede cerca de 3 mm de comprimento por 1 mm de largura e está associada a uma glândula acessória. Os três lóbulos e a glândula acessória se conectam numa região denominada de hilus, de onde emerge o ducto salivar (Bronskill, Salkeld & Fiend, 1958) (figura 9). Os insetos da subordem Heteroptera da ordem Hemíptera, como é o caso do O. fasciatus, possuem glândulas salivares do tipo reservatório, pois são constituídas por células organizadas de tal modo, que formam uma espécie de vesícula, onde é armazenado todo o material secretado (revisto por Ribeiro, 1995). lóbulo lateral lóbulo posterior lóbulo anterior glândula acessória duto salivar hilus Figura 9 - Glândula salivar do Oncopeltus fasciatus. Adaptado de Miles (1960) e Bronskill, Salkeld & Friend (1958). 43 Diferentes tipos de material secretado estão associados aos diferentes lóbulos das glândulas de O. fasciatus. Nos lóbulos anterior e lateral é produzida uma substância viscosa que, ao se misturar a um agente oxidante produzido na glândula acessória, endurece formando uma espécie de revestimento no local da picada. A função deste revestimento é evitar o extravasamento de seiva e saliva. A substância viscosa, que não endurece no interior da glândula devido às condições redutoras, é liberada em resposta a uma maior ou menor resistência do tecido vegetal. Quanto maior a resistência, menor é a deposição da substância. No lóbulo posterior é produzida uma substância mais fluida, que é liberada na superfície do tecido vegetal e sugada novamente antes que ocorra a picada. Tal substância pode ser liberada dentro do tecido vegetal para aumentar a fluidez do alimento (Miles, 1960; Ribeiro, 1995). Nos hemípteros fitófagos, a saliva também atua como lubrificante das peças bucais e possui componentes importantes na prevenção das respostas de defesa da planta, que podem interromper a alimentação. Tais componentes são substâncias análogas àquelas presentes na saliva de hematófagos, as quais impedem a resposta disparada após a injúria do tecido animal (revisto por Ribeiro, 1995). Muitas doenças de interesse médico, agrário e veterinário são transmitidas via saliva de artrópodes. Tanto doenças de vertebrados, como a doença do sono ou tripanossomíase africana, quanto as doenças de plantas causadas por Phytomonas são transmitidas desta maneira. Sabe-se que componentes da saliva têm papel importante durante a alimentação dos vetores hematófagos (revisto por Ribeiro, 1995) e também no curso da resposta de hospedeiros vertebrados contra a infecção por diferentes espécies do gênero Leishmania (revisto por Kamhawi, 2000). Neste contexto, em 2007, nosso grupo juntamente com o grupo do Dr. José Marcos Ribeiro (National Institute of Allergy and Infectious disease, National Institute of Health, EUA) elucidamos o transcriptoma das glândulas salivares de O. fasciatus (Francischetti et al., 2007 - ANEXO 2) e 44 disponibilizamos importantes informações acerca da composição da saliva deste inseto. Neste estudo, ficou demonstrado que a saliva de O. fasaciatus é rica em substâncias semelhantes à mucinas, que sabidamente exercem importantes funções durante a alimentação de fitófagos, como a lubrificação das peças bucais e revestimento do canal formado no tecido vegetal (Miles, 1972). Além disso, foram descritas enzimas como lipases e serina proteases, com provável importância na digestão do alimento. Neste estudo, foi demonstrado que a saliva de O. fasciatus possui uma variedade de cistatinas, potentes inibidores de cisteína proteases. As cisteína proteases são enzimas que certamente podem causar dano ao epitélio intestinal dos insetos, pois estão presentes em grandes quantidades em sementes de leguminosas, que na natureza são frequentemente atacadas pelo O. fasciatus. A presença de inibidores de cisteína proteases tem particular importância para o nosso grupo, pois sabemos que inibidores de cisteína proteases interferem com o crescimento, com a ultraestrutura e com o processo de interação de P. serpens com o O. fasciatus (Santos et al., 2006 ANEXO 5). Tanto as glândulas principais, quanto as acessórias, de O. fasciatus são formadas por uma camada simples de células epiteliais cubóides, mas, ao contrário das glândulas acessórias, as glândulas principais têm seu epitélio montado sobre uma membrana basal (Bronskill, Salkeld & Fiend, 1958), que, além de oferecer suporte físico, pode modular o crescimento, a migração e a diferenciação das células, sendo importante para o desenvolvimento e o funcionamento do tecido (Yurchenco, & O`Rear, 1994; revisto por Quondamatteo, 2002). Evidências indicam que a estrutura da membrana basal do intestino de mosquitos do gênero Aedes é bastante similar à descrita para vertebrados (Rudim & Hecker, 1979; Houk, Chiles & Hardy, 1980). Pouco se sabe sobre a composição da membrana basal que reveste as glândulas salivares do inseto O. fasciatus. Sabe-se, no entanto, que a membrana basal de diferentes tecidos é frequentemente composta por glicoproteínas 45 (colágeno IV, lamininas e nidogêneos) e proteoglicanas, que formam uma malha molecular aparentemente composta por duas camadas, sendo uma mais rígida e formada por moléculas de colágeno IV ligadas covalentemente e a outra mais flexível e formada por polímeros de lamininas. Sabe-se que estas duas camadas são interligadas por diferentes moléculas, entre elas o nidogêneo (revisto por Quondamatteo, 2002). As lamininas pertencem a uma família de glicoproteínas montadas como heterotrímeros de cadeias α, β e γ (figura 10) (Beck, Hunter & Engel, 1990; Ohno, Ohno & Kefalides, 1991), que combinados entre si formam as quinze isoformas de laminina conhecidas até o presente momento (revisto por Quondamatteo, 2002). Diferentes cadeias de lamininas já foram descritas em insetos (Chi & Hui, 1989; Fessler & Fessler, 1989; revisto por Colognato & Yurchenco, 2000), incluindo vetores de protozoários (Vlachou et al., 2001), algumas delas mostrando homologia com as cadeias presentes em vertebrados (revisto por Colognato & Yurchenco, 2000). Muitos trabalhos descrevem a presença de receptores para laminina em diversos microrganismos, tais como bactérias (Switalski et al., 1984; Lopes, dos Reis & Brentani, 1985), fungos (Vicentini et al., 1994; Bouchara et al., 1990; Tronchin et al., 1997), helmintos (Zhang et al., 1997) e protozoários (Furtado, Cao & Joiner, 1992; Casta e Silva Filho, de Souza & Lopes, 1988), incluindo os tripanossomatídeos T. cruzi (Giordano et al., 1994) e L. donovani (Ghosh et al., 1996). Estes estudos mostram a importância das lamininas como alvo para a ligação de parasitos em tecidos hospedeiros. Para as espécies de Phytomonas nada se sabe sobre moléculas-alvo ou receptores para a ligação na face externa de glândulas salivares de insetos vetores. 46 Figura 10 - Representação esquemática da estrutura das lamininas. Laminina 5 - heterotrímero formado pelas cadeia α3 β3 γ2 (adaptado de Hisamatsu, 2003). 9. Envolvimento de enzimas proteolíticas na interação tripanossomatídeohospedeiro As proteases, peptidases ou peptídeo-hidrolases são enzimas encontradas em muitos organismos, desde os mais simples até os mais complexos, cuja função básica é catalisar a quebra de ligações peptídicas, tendo participação importante em inúmeros processos biológicos (Barret, Rawlings & O’Brien, 2001). As proteases são classificadas de acordo com seu sítio-alvo de clivagem na proteína e também de acordo com a natureza química de seu sítio catalítico. Em respeito ao primeiro critério, as proteases podem ser classificadas como exopeptidases, quando degradam os terminais das cadeias polipeptídicas ou endopeptidases, quando catalisam a clivagem de ligações internas. As exopeptidases hidrolisam aminoácidos na porção amino- ou carboxi-terminal de um polipeptídeo, podendo ser genericamente denominadas amino- ou carboxipeptidases. As endopeptidases são também denominadas de proteinases. De acordo com o segundo critério, as endopeptidases podem ser divididas entre as seis subclasses seguintes, serina-, cisteína-, aspártico-, metalo-, treonina- ou glutâmico-peptidases. Algumas peptidases têm seu mecanismo catalítico 47 desconhecido e, por isso, não se encaixam em nenhuma destas subclasses (Barret, Rawlings & O’Brien, 2001). As enzimas proteolíticas podem exercer papéis relevantes na patogênese de inúmeras doenças parasitárias, tendo participação especial durante a ligação e penetração de protozoários parasitas nos tecidos e nas células hospedeiras (McKerrow, 1989; McKerrow et al., 1993). A função de uma protease está diretamente relacionada com sua localização na célula. Recentes evidências sugerem que algumas proteases associadas à membrana são multifuncionais. Estas enzimas, além de catalisar processos proteolíticos, podem agir como receptores de membrana e, desta forma, desempenhar papel-chave na interação parasito-hospedeiro (Sedo, Mandys & Krepela, 1996). Certas proteases de tripanossomatídeos foram sugeridas como alvo potencial de novas drogas antiparasitárias e como reagentes para diagnóstico laboratorial (McKerrow et al., 1993; Selzer et al., 1999; Cazzulo; Stoka & Turk, 2001). Nestes microorganismos, as proteases desempenham funções importantes, que estão ligadas não somente a processos básicos, como a disponibilização de aminoácidos para a nutrição, mas também a processos bem mais complexos, como a degradação e invasão de tecidos, além da modulação e escape do sistema de defesa do hospedeiro (revisto por McKerrow et al, 1993; Sajid & McKerrow, 2002). Vários protozoários apresentam, em pelo menos um estágio dos seus ciclos de vida, alta atividade de cisteína proteases. Estas enzimas são localizadas principalmente em lisossomas e, geralmente, apresentam homologia com as catepsinas L ou B, embora possuam pesos moleculares geralmente maiores que as enzimas de mamíferos e plantas (revisto por North, Mottram & Coombs, 1990). Atividades de serina e treonina proteases foram detectadas em tripanossomatídeos (Burleigh et al, 1997; Paugam et al., 2003; Silva-Lopez & 48 Giovanni-De-Simone, 2004). No entanto, as classes das metalo e cisteína proteases têm recebido maior atenção (McKerrow et al, 1993; Cazzulo, Stoka & Turk, 1997; Santos et al, 2006 - ANEXO 5; Santos et al., 2007). Na espécie P. serpens, até o presente momento só foram descritas atividades de metalo e cisteína proteases (Branquinha et al, 1996; Vermelho et al, 2003; Santos et al, 2005; revisto por Santos et al., 2006 - ANEXO 5; Santos et al., 2007). A principal cisteína proteinase de Trypanosoma cruzi, denominada gp57/51 ou cruzipaína, é uma glicoproteína monomérica altamente imunogênica (Murta et al., 1990). A cruzipaína está presente em todas as cepas e clones até hoje testados, assim como em todas as formas evolutivas deste tripanossomatídeo, com os maiores níveis de atividade sendo detectados na forma epimastigota (Tomas & Kelly, 1996). Esta enzima possui homologia com a catepsina L de mamíferos e está associada principalmente ao sistema endocítico/lisossomal e reservossomas em epimastigotas (Murta et al., 1990; Souto-Padrón et al., 1990; Soares, Souto-Padrón & de Souza, 1992), podendo também estar presente na superfície de amastigotas e epimastigotas e na bolsa flagelar das três formas evolutivas (Souto-Padrón et al., 1990). Várias funções já foram atribuídas a esta enzima, como degradação protéica, participação na metaciclogênese in vitro (Bonaldo et al., 1991; Tomas, Miles & Kelly, 1997), invasão celular (SoutoPadrón et al., 1990; Meirelles et al., 1992; Harth et al., 1993, Scharfstein et al., 2000; Aparício, Scharfstein & Lima, 2004), multiplicação do parasito nas células do hospedeiro (Meirelles et al., 1992) e, provavelmente, no escape do sistema imune (Gruppi, Cerbán & Votter-Cima, 1997). Estudos recentes mostraram semelhanças antigênicas e funcionais de uma císteína protease de P. serpens com a cruzipaína de T. cruzi (Santos et al, 2006 - ANEXO 5; Santos et al., 2007). As metalopeptidases também são amplamente detectadas nos tripanossomatídeos. Destas, a mais estudada e melhor caracterizada é uma glicoproteína expressa em abundância na superfície celular das formas 49 promastigotas de diferentes espécies de Leishmania, denominada gp63 (revisto por Yao et al., 2002). Esta glicoproteína, ligada à membrana por uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI) (Bordier et al., 1986), é abundantemente expressa na superfície das formas promastigotas, tem sua expressão aumentada nas formas promastigotas metacíclicas, tendo um baixo, porém detectável nível de expressão nas formas amastigotas intracelulares (Medina-Acosta et al., 1989; Frommel et al., 1990; McGuire & Chang, 1994); entretanto, nem todas as espécies de Leishmania expressam a gp63 na forma amastigota (Schneider et al., 1992). Diversos estudos mostraram a importância da gp63 em diferentes processos envolvidos na interação com o hospedeiro vertebrado, incluindo a interação com macrófagos (Brittinghan et al., 1999) e a degradação de matriz extracelular de tecidos (McGwire, Chang & Engman, 2003). Em Leishmania amazonensis, Hajmová e colaboradores (2004) mostraram que a gp63 tem papel importante na colonização do trato intestinal do hospedeiro invertebrado. A espécie P. serpens apresenta um polipeptídeo com massa molecular de 60 kDa, que foi reconhecido por anticorpos produzidos contra a gp63 de L. amazonensis. Ao contrário da gp63, o polipeptídeo reconhecido em P. serpens não apresentou atividade proteásica detectável através de zimografia (d’Avila-Levy et al., 2006b ANEXO 3). No entanto, da mesma forma que a gp63, o poliptídeo de P. serpens está ligado à membrana celular por uma âncora de glicosilfosfatidilinositol e pode ser liberado para o meio extracelular (d’Avila-Levy et al., 2006b ANEXO 3). O envolvimento da gp63-like de P. serpens no processo de interação com o hospedeiro experimental O. fasciatus foi sugerida, já que os anticorpos produzidos contra a gp63 de Leishmania foram capazes de inibir a ligação deste parasito na face externa das glândulas salivares do inseto (d’AvilaLevy et al., 2006b - ANEXO 3; revisto por Santos et al., 2007). 50 OBJETIVOS 51 Enquanto algumas espécies de Phytomonas são capazes de causar doenças letais, outras causam menores danos à planta, pois infectam sítios restritos como os dutos laticíferos e frutos. Em qualquer uma das situações, estes tripanossomatídeos podem causar prejuízos em culturas de grande importância econômica. Sabendo que a invasão das glândulas salivares dos insetos vetores é, certamente, uma etapa importante dentro do ciclo biológico das espécies de Phytomonas e que o aumento do conhecimento a respeito deste processo pode permitir o desenvolvimento de estratégias para o controle de parasitoses causadas por estes tripanossomatídeos, no presente estudo tivemos como objetivos: 1) A partir de uma colônia de insetos da espécie O. fasciatus infectados com o tripanossomatídeo L. wallacei, estabelecer uma colônia de insetos livres de tripanossomatídeos; 2) Analisar a curva de crescimento de P. serpens nas variedades esculentum, pyriforme e cerasiforme de tomates da espécie L. esculentum; 3) Analisar, por meio de microscopia eletrônica de varredura, a interação in vitro de P. serpens com glândulas salivares de O. fasciatus, em condições ex vivo; 4) Identificar a(s) molécula(s)-alvo para a ligação de P. serpens às glândulas salivares de O. fasciatus; 5) Utilizar técnicas moleculares, assim como experimentos de inibição da interação entre P. serpens e glândulas salivares de O. fasciatus, para comprovar 52 a natureza da molécula alvo para a ligação deste parasito à glândula salivar do inseto; 6) Caracterizar as proteases secretadas, seja pelas glândulas salivares de O. fasciatus, seja por P. serpens, durante o processo de interação deste parasito com as glândulas do inseto. 53 METODOLOGIA 54 1) Insetos Neste trabalho foram utilizados insetos da espécie Oncopeltus fasciatus, naturalmente infectados com o tripanossomatídeo monoxênico da espécie Leptomonas wallacei (Romeiro et al., 2000). A partir de exemplares cedidos pelo Dr. Alexandre Romeiro (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ) conseguimos estabelecer uma nova colônia em nosso laboratório (colônia parental). Os insetos foram mantidos em potes plásticos em regime de 16 h na presença de luz para 8 h na ausência de luz, a 26oC, e alimentados com água mineral e sementes de girassol descascadas. 2) Extração do trato intestinal e das glândulas salivares dos insetos Ninfas ou insetos adultos, previamente anestesiados a 4oC, foram cuidadosamente dissecados e o trato intestinal e as glândulas salivares extraídas em banho de gelo e em tampão fosfato-salina (PBS) contendo fosfato 0,1 M (pH 7,2) e NaCl 1,5 M. 3) Parasitos Os parasitos da espécie Phytomonas serpens (isolado 9T, CT-IOC-189) foram mantidos em meio Warren modificado (infusão de cérebro e coração a 37 g/L, ácido fólico a 10 µg/L e hemina a 1mg/L), suplementado com 10% de soro fetal bovino, a 26oC. Os repiques das culturas foram realizados a cada 48 h, em tubos de rosca, contendo 5 mL de meio. A massa celular para os experimentos foi obtida, cultivando-se os parasitos, por 96 h, nas mesmas condições citadas anteriormente. Nos diferentes experimentos onde foram utilizados parasitos vivos, a viabilidade celular foi monitorada antes e após as incubações, através de 55 microscopia óptica, por visualização da motilidade. Nenhuma das condições utilizadas neste trabalho interferiu com a viabilidade dos parasitos. Regularmente, os parasitos recolhidos do meio de cultura foram lavados por três vezes em PBS (pH 7,2) a 4oC. A centrifugação dos parasitos foi feita a 1,500 × g por 5 min. 4) Microscopia óptica a fresco Em todos os experimentos que se fez necessária, a microscopia óptica (MO) a fresco foi feita observando-se a amostra em lâmina/lamínula ao microscópio Axioplan 2 (Zeiss, Germany). 5) Microscopia óptica de amostras coradas com solução de Giemsa Para a coloração de Giemsa as amostras foram fixadas por 5 min, em lâmina de vidro, com metanol absoluto, e coradas, por 1 h, em solução de Giemsa diluída 1:50 em PBS. A observação das lâminas coradas foi feita ao microscópio Axioplan 2 (Zeiss, Germany) e as imagens capturadas pela câmera digital ColorView SX e processadas pelo programa AnalySIS (Soft Image System). 6) Microscopia eletrônica de varredura Para a análise por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV), as amostras foram fixadas em solução contendo 2,5% de glutaraldeído, 4,0% de formaldeído, 3,7% de sacarose e 5 mM de CaCl2 em tampão cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2) por 2 h, a 26oC. Após a fixação, as amostras foram lavadas três vezes em tampão cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2), desidratadas em concentrações crescentes de etanol 56 (50, 70, 90 e 100%) e secas pelo método do ponto crítico com CO2 no aparelho Balzers CDP-20 (Balzers Union, Fürstentun Liechstenstein). Após a secagem, as amostras foram fixadas com fita dupla-face em cubos de alumínio e pulverizadas com ouro no aparelho Balzers modelo FC- 9646. As observações e micrografias foram realizadas em microscópio eletrônico Jeol JSM-5310. 7) SDS-PAGE Para os diferentes experimentos, os extratos protéicos tiveram as concentrações de proteínas dosadas, através do método descrito por Lowry e colaboradores (1951), utilizando a soroalbumina bovina (BSA) como proteína padrão. Para a análise de proteínas, alíquotas dos extratos foram adicionadas de tampão Tris-HCl 62 mM (pH 6,8), SDS 2%, glicerol 25%, azul de bromofenol 0,01% e 2-β-mercaptoetanol 1 mM, aquecidas a 95oC por 5 min, e submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida contendo dodecil sulfato de sódio (SDS) (SDS-PAGE), de acordo com Laemmli (1970). As concentrações de acrilamida nos SDS-PAGE variaram de acordo com cada experimento. A eletroforese foi processada em cuba miniVE (GE Healthcare Life Science) a 150V/60mA, a 4oC, e as proteínas reveladas através de coloração com 0,2% de Coomassie Btrilliant Blue R-250 em metanol:ácido acético:água (50:10:40) e descoradas em metanol:ácido acético:água (40:10:50). A massa molecular aparente das diferentes proteínas separadas no gel foi calculada, tendo-se como base as posições dos padrões de proteínas (Fermentas Life Science), aplicadas no mesmo gel. 57 8) Transferência de proteínas para membranas de nitrocelulose Em todos os experimentos que se fez necessária, a transferência de proteínas dos géis para membranas de nitrocelulose foi conduzida a 100V/300mA, por 2 h, a 4oC, em tampão tris-base 25 mM, contendo ácido aminoacético 200 mM e 20% de metanol. 9) Estabelecimento de colônia de Oncopeltus fasciatus livre de tripanossomatideos 9.1) A partir de ovos recolhidos da colônia parental Quatrocentos e cinqüenta ovos no mesmo estágio de maturação foram recolhidos da colônia parental, divididos em três grupos de cento e cinqüenta ovos e incubados até a eclosão em potes previamente tratados em hipoclorito de sódio a 2%. Após a eclosão dos ovos, os insetos foram alimentados com sementes de girassol autoclavadas e água mineral estéril. Todo o material utilizado para a manutenção desta colônia foi esterilizado por autoclavação. Nos dias 12 (ninfas de terceiro estágio), 17 (ninfas de quarto estágio), 22 (ninfas de quinto estágio) e 35 (insetos adultos), posteriores à eclosão dos ovos, trinta insetos foram recolhidos de cada um dos três grupos e dissecados para a extração do tubo digestivo. Após a extração, os tubos digestivos foram homogeneizados separadamente em tubos Eppendorf contendo PBS (pH 7,2) e o conteúdo de cada intestino foi analisado a fresco por MO, para a pesquisa de flagelados da espécie L. wallacei, conforme item 4. A visualização de pelo menos um parasito com mobilidade caracterizava a ninfa como infectada pela L. wallacei. 58 As fezes e ovos de insetos infectados foram analisados por MEV da forma descrita no item 6. 9.2) A partir de ovos recolhidos da colônia parental e tratados com hipoclorito de sódio Quatrocentos e cinqüenta ovos no mesmo estágio de maturação foram recolhidos da colônia parental, tratados em solução de hipoclorito de sódio a 2% durante 5 min, lavados em PBS estéril e secos em papel de filtro estéril. Após o tratamento, os ovos foram divididos em três grupos de cento e cinqüenta ovos e incubados até a eclosão em potes previamente tratados em hipoclorito de sódio a 2%. Após a eclosão dos ovos, os insetos foram alimentados com sementes de girassol autoclavadas e água mineral estéril. Todo o material utilizado para a manutenção desta colônia foi esterilizado por autoclavação. Nos dias 12 (ninfas de terceiro estágio), 17 (ninfas de quarto estágio), 22 (ninfas de quinto estágio) e 35 (insetos adultos), posteriores à eclosão dos ovos, trinta insetos foram recolhidos de cada um dos três grupos e dissecadas para a extração do tubo digestivo. Após a extração, os tubos digestivos foram homogeneizados separadamente em tubos Eppendorf contendo PBS (pH 7,2) e o conteúdo de cada intestino foi analisado a fresco por MO, para a pesquisa de flagelados da espécie L. wallacei, conforme item 4. A visualização de pelo menos um parasito com mobilidade caracterizava a ninfa como infectada pela L. wallacei. Os tubos digestivos dos insetos infectados e livres de tripanossomatídeos foram analisados por MEV da forma descrita no item 6. 59 10) Infecção experimental de tomates para cultivo de Phytomonas serpens Tomates da espécie L. esculentum variedades cerasiforme (tomate cereja), pyriforme (tomate italiano) e esculentum (tomate salada) foram inoculados em três diferentes pontos com 10 µl de suspensão contendo 1 x 105 parasitos e incubados a 22oC. Nos dias 7, 14, 21 e 28 posteriores a inoculação, três tomates de cada variedade foram dissecados e tiveram suas sementes removidas. O volume de sementes de cada tomate foi calculado e as sementes foram, então, lavadas em igual volume de solução de NaCl a 0,9% (solução salina). Após a lavagem, o número de parasitos foi contado em câmara de Neubauer. Paralelamente, alíquotas do lavado foram coradas com solução de Giemsa para a visualização dos parasitos por MO, conforme item 5. Tomates controle, ou seja, que não receberam o inóculo contendo parasitos, foram processados da mesma forma. Em nenhum dos tomates controle foram encontrados parasitos. 11) Infecção experimental de Oncopeltus fasciatus com parasitos da espécie Phytomonas serpens Para a infecção experimental dos insetos, os parasitos foram crescidos em tomates da variedade esculentum. No vigésimo primeiro dia após a inoculação dos parasitos, os tomates foram dissecados e suas sementes extraídas e lavadas em solução salina, como descrito no item anterior. O lavado das sementes foi, então, filtrado em papel Whatman e a concentração de parasitos acertada para 1 x 107 parasitos/mL de solução salina. Cinqüenta insetos adultos, recolhidos da colônia de insetos livres de tripanossomatídeos, foram mantidos na ausência de comida e água por 18 h e transferidos para potes plásticos contendo a suspensão de parasitos. Todos os insetos foram observados se alimentando da suspensão de parasitos. 60 Nos dias 2, 5, 10 e 25, posteriores à infecção dos insetos com os parasitos, grupos de cinco insetos foram dissecados para a pesquisa de parasitos no intestinos médio e posterior, nas fezes, na hemolinfa e nas glândulas salivares, por meio de MO, conforme itens 4 e 5. A hemolinfa dos insetos infectados foi colhida após o extravasamento causado por amputação parcial de uma das patas. 12) Interação in vitro de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus inseto, em condições ex vivo As glândulas salivares foram incubadas em 1 mL de PBS (pH 7,2), contendo 1% de BSA e 1 x 107 parasitos crescidos em meio de cultura. As incubações foram feitas em lâmina escavada e em câmara úmida, por 2 h, a 26ºC. Após a incubação, os parasitos não associados (aderidos ou internalizados) às glândulas foram eliminados durante três lavagens consecutivas das glândulas em placas de Petri com 15 mL de PBS, por 1 min . Após a lavagem, as glândulas foram processadas e a interação observada por MEV, como descrito no item 6. 13) Determinação do perfil de proteínas totais de Phytomonas serpens e das glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus As glândulas salivares e os parasitos foram adicionados de tampão TrisHCl 20 mM (pH 8,0), contendo ácido etileno-diamino tetracético (EDTA) 1 mM, fluoreto de fenilmetanosufonil (PMSF) 1 mM, leupeptina 100 µM, E-64 1 µM, bestatina 10 µM, 1,10-fenantrolina e SDS 1% e submetidos a três ciclos de congelamento/descongelamento. Em seguida, as glândulas, ao contrário dos parasitos, foram maceradas em tubo Eppendorf. O conteúdo dos tubos foi 61 agitado por três vezes em aparelho vórtex, por 1 min, sendo cada agitação intercalada por banho de gelo, durante 2 min. O homogenato foi centrifugado a 5000 × g, por 10 min, a 4oC, e o sobrenadante, contendo o extrato protéico, foi recolhido. Alíquotas do extrato protéico contendo 80 µg de proteína foram separadas em SDS-PAGE a 10%, como descrito no item 7. 14) Biotinilação de proteínas de superfície de Phytomonas serpens A biotinilação dos parasitos foi realizada de acordo com o método descrito por Altin & Pagler (1995). Uma suspensão de parasitos, contendo 108 céls/mL, foi tratada em PBS (pH 8,0) com 1 mg/mL de hexanoato de sulfo-succinimidil6-(biotinamida) (Sulfo-NHS-Lc-Biotina - Pierce Biotechnology), a 4oC, por 20 min. Em seguida, as células foram lavadas, como descrito no item 3. 15) Observação do perfil de proteínas de superfície de Phytomonas serpens Proteínas totais de parasitos biotinilados foram separadas em SDS-PAGE 10% e transferidas para membrana de nitrocelulose. Seguindo a transferência, a membrana foi bloqueada em tampão tris 10 mM, NaCl 190 mM (TBS), pH 7,2, contendo 0,05% de tween 20 (TBS-tween) e 2% de BSA, por 16 horas, a 4oC. A membrana foi, então, lavada três vezes, por 10 min, com TBS-tween e incubada com estreptoavidina conjugada à peroxidase (0,1 µg/mL de TBS-tween), por 1 hora, sob leve agitação. Após mais três lavagens em TBStween, por 10 min, as proteínas de membrana de P. serpens foram reveladas após a utilização do kit SuperSignal West Pico (Pierce Biotechnology) para desenvolvimento de quimioluminescência, seguida de exposição a filmes de raios-X T-MAT G/RA (Kodak). 62 16) Interação de proteínas de superfície do parasito com proteínas das glândulas salivares do inseto por “ligand blotting” 16.1) Transferência de proteínas da glândula salivar para membrana de nitrocelulose Alíquotas do extrato protéico total das glândulas salivares, equivalentes a 80 µg, foram separadas em SDS-PAGE a 10%, como descrito no item 7, e transferidas para membrana de nitrocelulose, como descrito no item 8. 16.2) “Ligand blotting” A membrana contendo proteínas da glândula foi bloqueada e lavada em TBS-tween, como no descrito no item 15. Em seguida, a membrana foi incubada em TBS-tween (pH 7,2), contendo 500 µg de proteínas totais de parasitos previamente biotinilados, por 1 h, a 26oC, sob leve agitação e, posteriormente, lavada três vezes em TBS-tween, por 10 min. Após esta etapa, a membrana foi incubada com estreptoavidina conjugada à peroxidase (0,1 µg/mL de TBStween), por 1 hora, sob leve agitação. Após mais três lavagens em TBS-tween, por 10 min, as proteínas de membrana de P. serpens, que reconheceram bandas de proteínas da glândula salivar, foram reveladas como descrito no item 15. 17) Interação de parasitos vivos com proteínas das glândulas salivares Este experimento foi realizado de acordo com o protocolo descrito por Dias e colaboradores (2007) (ANEXO 1). Resumidamente, membranas contendo proteínas das glândulas salivares separadas em SDS-PAGE ou em gel bidimensional (2D) foram bloqueadas e lavadas, como descrito no item 15. Em seguida, as membranas foram incubadas em TBS-tween (pH 7,2) contendo 1% 63 de BSA e parasitos previamente biotinilados, na concentração de 1x107 parasitos/mL, por 1 h, a 26oC, em câmara úmida, sob leve agitação. Após a incubação, as membranas foram lavadas três vezes (10 min cada) em TBS-tween (pH 7,2). Após esta etapa, as membranas foram incubadas com estreptoavidina conjugada à peroxidase (0,1 µg/mL de TBS-tween), por 1 hora, sob leve agitação. Após mais três lavagens em TBS-tween, por 10 min, a presença de parasitos aderidos às bandas de proteínas separadas em SDS-PAGE ou em “spots” de proteínas separadas em gel bidimensional (gel 2D) de proteínas foi revelada, como descrito no item 15. 18) Eletroforese bidimensional do extrato protéico das glândulas salivares Para a separação das proteínas em géis 2D, as glândulas foram extraídas, conforme item 2, e maceradas em tampão tris 50 mM (pH 7, 0), uréia 8 M, tiouréia 2 M, DTT 50 mM, pharmalyte 0,5 %, amidosulfobetaina-14 1% e triton X-100 2%. O extrato foi centrifugado a 5000 × g, por 15 min, e o sedimento desprezado. A concentração de proteína no extrato da glândula foi realizada com o kit 2D Quant (GE Healthcare Life Sciences). Para os diferentes experimentos, 125 µl do extrato protéico contendo 150 µg de proteínas totais da glândula, foram adicionados de azul de bromofenol (concentração final de 1%) e utilizados para reidratar tiras de 7 cm. A isoeletrofocalização das proteínas nas tiras, ou seja, a separação por ponto isoelétrico (pI) foi feita em aparelho Ettan IPG phor III (GE Healthcare Life Sciences), através dos seguintes ciclos: 30 volts por 12 h; 200 volts por 1 h; 500 volts por 1 h; 1000 volts por 1 h; 1500 volts por 3 h. Após a focalização das proteínas, as tiras foram equilibradas em tampão tris 50 mM (pH 8,8), uréia 6 M, glicerol 30%, SDS 30%, azul de bromofenol 2%, DTT 65 mM, por 15 min, a 26oC, e, em seguida, em tampão tris 50 mM (pH 64 8,8), uréia 6 M, glicerol 30%, SDS 30%, azul de bromofenol 2%, iodoacetamida 217 mM, por 15 min, a 26oC. A segunda dimensão, isto é, o SDS-PAGE das proteínas contidas no strip foi feita, conforme o item 7. 19) Espectrometria de massa O “spot” cortado do gel 2D foi descorado em solução contendo bicarbonato de amônio 25 mM e acetonitrila (ACN) 50%, por 12 h. A solução anterior foi trocada por solução de bicarbonato de amônio 25 mM, contendo ditiotreitol (DTT) 10 mM e o gel incubado, por 1 h, a 56ºC. Após esta etapa, a solução anterior foi substituída por solução de bicarbonato de amônio 25 mM, contendo iodoacetamida 55 mM e o gel incubado, por 45 min (reação no escuro), a 56oC. Toda esta solução foi retirada, o gel lavado com bicarbonato de amônio 25 mM, contendo ACN 50 % e desidratado em ACN 100 %. O gel seco foi reidratado com solução de bicarbonato de amônio 25 mM contendo 100 ng de tripsina (Promega, WI, USA) e incubado, por 20 h, a 37ºC, para a digestão tríptica. Após a digestão, os peptídeos foram extraídos com solução de ACN 50% e ácido trifluoracético (TFA) 5% e o volume reduzido para 10 µl em “speed vac” (GE Healthcare Biosciences). Deste concentrado, 1µl foi adicionado de 1µl de matriz formada por solução saturada de ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico em ACN 50%, TFA 1% e aplicado em placa de amostra para MALDI-TOF (Voyager-DE, Applied Biosystem, CA, USA) e secas a 26oC. Para a calibração do espectrômetro, como padrões internos, foram usados os peptídeos gerados pela autólise da tripsina e, como padrões externos, peptideos padrões comerciais (Sequazyme Peptide Mass Standard kit, PerSeptive Biosystems, CA, USA). Os peptídeos gerados foram analisados usando um programa de interface (Protein Prospector MS-Fit interface) (http://prospector.ucsf.edu), que faz busca, 65 em banco de dados, por sequências de proteínas onde os peptídeos gerados se encaixam. O banco de dados utilizados no presente trabalho foi o do NCBI (National Center for Biotechnologiacl Information). Os critérios utilizados para a identificação de proteínas com sequências homólogas foram: (i) “MOWSE score” acima de 104, (ii) diferença maior que 100 vezes entre o “MOWSE score” da primeira proteína candidata para a segunda, (iii) 20% de cobertura dos peptídeos gerados sobre a sequência da proteína homóloga e (iv) pelo menos 4 peptídeos encaixados na sequência da proteína homóloga. 20) “Imunoblotting” da proteína de 130 kDa, utilizando o anticorpo produzido contra a cadeia beta-3 da laminina-5 humana Para este experimento, 80 µg de proteínas totais das glândulas salivares extraídas, conforme item 13, foram separadas em SDS-PAGE a 12% e transferidas para membrana de nitrocelulose, conforme item 8. Em seguida, a membrana foi bloqueada em tampão TBS-tween, contendo 2% de BSA, por 16 horas, a 4oC. A membrana foi, então, lavada três vezes, por 10 min, com TBStween e incubada com anticorpo policlonal de cabra, produzido contra a cadeia beta-3 da laminina-5 humana (sc-7651, Santa Cruz Biotechnology) na diluição de 1:500 em TBS-tween, por 1 hora, a 26oC, sob leve agitação. Após mais três lavagens em TBS-tween, por 10 min, a membrana foi incubada com anticorpo secundário (conjugado à peroxidase), produzido em coelhos, contra IgG de cabra (A 4174, Sigma-Aldrich), por 1 hora, a 26oC, sob leve agitação. Este anticorpo secundário foi utilizado na diluição de 1:10000 em TBS-tween. Em um sistema controle, a membrana de nitrocelulose, contendo as proteínas das glândulas salivares, foi incubada somente com o anticorpo secundário, conforme descrito anteriormente. 66 Após a incubação com o anticorpo secundário, as membranas foram submetidas a mais três lavagens em TBS-tween, por 10 min, e reveladas conforme item 15. 21) Busca do gene da cadeia beta-3 da laminina-5 em Oncopeltus fasciatus Glândulas salivares extraídas conforme item 2 e ninfas de terceiro estágio previamente tratadas em hipoclorito de sódio, conforme item 9.2, foram utilizadas para a extração de DNA total. 21.1) Extração do DNA total Quarenta glândulas e três ninfas foram maceradas separadamente em dois tubos Eppendorf, contendo 1 ml de tampão tris 10 mM, EDTA 1 mM (TE), pH 7,8, e SDS 1%. As preparações foram agitadas no vortex por 30 segundos, incubadas a 65ºC por 1 h. Após esta incubação, as amostras foram adicionadas de 2 µl de RNase A (10 mg/ml) e incubadas, a 37ºC, por 10 min. Em seguida, 22 µl de pronase (10 mg/ml) foram adicionados e o material foi incubado a 37ºC por 2 h. O preparado foi centrifugado a 5000 × g, por 10 min, e o sobrenadante recolhido. Em cada um dos dois tubos Eppendorf, contendo 25 µl de acetato de sódio 3 M (pH 7,0) e 480 µl de etanol absoluto gelado, foram adicionados 800 µl do sobrenadante, contendo o DNA extraído da amostra. Em seguida, cada tubo foi agitado por inversão (50 vezes), incubado a -20ºC, por 1 h, e centrifugado a 5000 × g, por 10 min, a 4ºC. O precipitado foi, então, ressuspenso em 200 µl de TE, incubado a 4ºC, por 20 h, e adicionado de 100 µl de fenol. Em seguida, a amostra foi agitada em vórtex, por 1 min, e centrifugada a 5000 × g, por 10 min, a 26oC. A fase aquosa (fase superior) de cada tubo foi transferida para um novo 67 tubo Eppendorf, adicionada de volume equivalente de clorofórmio-álcool isoamílico (24:1), agitada no vórtex, por 1 min, e centrifugada novamente a 5000 × g, por 10 min a 26oC. Esta etapa de purificação com clorofórmio-álcool isoamílico foi repetida e, então, a fase aquosa superior de cada tubo foi transferida novamente para outro tubo Eppendorf e acrescida de acetato de sódio 3 M (pH 7,0), em volume correspondente a 1/10 do volume total da amostra. Em seguida, etanol absoluto a -20ºC foi acrescentado em quantidade equivalente a duas vezes o volume total de amostra. O preparado foi deixado a -20ºC, por 20 h, e centrifugado a 5000 × g, por 15 min, 4ºC. O precipitado de cada tubo foi lavado uma vez com 100 µl de etanol 70%, centrifugado a 5000 × g, por 5 min e ressuspenso em 200 µl de TE. Como controle para os experimentos, utilizamos DNA de sangue humano, extraído da mesma forma descrita acima. 21.2) Reação de polimerização em cadeia Para a reação de polimerização em cadeia (PCR) foi realizada uma reação de “nested-PCR”, com os dois pares de iniciadores comerciais desenhados especificamente para o gene da cadeia beta-3 da laminina-5 humana (sc-43151PR, Santa Cruz Biotechnology). A primeira reação de PCR foi realizada com o Par A de iniciadores e a segunda reação com o Par B. Cada tubo de reação continha Tris-HCl 10 mM (pH 9,0), KCl 50 mM, MgCl2 2,5 mM, dNTPs 200 µM, 2 µM do par de iniciadores e 2,5 U da enzima Taq polimerase (Invitrogen). Na primeira reação, foram usados 10 ng do DNA de cada amostra (DNA controle, DNA das ninfas ou DNA das glândulas) e na segunda reação foram usados 2 µl do produto da primeira reação como DNA molde. O ciclo aplicado nas duas reações foi o 68 mesmo: 1x (94°C por 3 min), 35x (94°C por 1 min e 30 seg; 48°C por 30 seg; 72°C por 2 min e 30 seg,); 1x (72°C por 6 min). 21.3) Eletroforese em gel de agarose Os produtos de PCR obtidos foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1,4%, preparado em tampão tris 890 mM, EDTA 25 mM, ácido bórico 890 mM (TEB), pH 7,8. As amostras de DNA foram misturadas com solução de glicerol, 50%, EDTA 20 mM, azul de bromofenol 0,05% e xilenocianol 0,05%, na proporção de 1/3 do volume total da mistura aplicada no gel. A eletroforese dos produtos de PCR foi realizada a 80 V, por 2 h, em tampão TEB. Após a eletroforese, os géis foram tratados por 20 min com brometo de etídio, na concentração de 2 µl/ml de água destilada. Os fragmentos de DNA foram observados em transiluminador com luz ultra-violeta de comprimento de onda de 300 nm. 22) Inibição da interação dos parasitos com as glândulas salivares do inseto Nestes experimentos, grupos de cinco glândulas salivares foram incubados em 1 mL de PBS (pH 7,2), contendo 1% de BSA e 1 x 107 parasitos crescidos em meio de cultura. As incubações foram feitas em lâmina escavada e em câmara úmida, por 2 h, a 26ºC. Para cada sistema (teste e controle), foram incubados, separadamente, dez grupos de cinco glândulas. Após a incubação, os parasitos não-associados (aderidos ou internalizados) às glândulas foram eliminados, durante três lavagens consecutivas das glândulas em placas de Petri contendo 15 mL de PBS. Após a remoção dos parasitos não-associados, os grupos de cinco glândulas foram levemente macerados, separadamente, em tubos Eppendorf contendo 50 µL de PBS. As contagens de parasitos associados às glândulas foram feitas em 69 câmara de Neubauer, de acordo com Pimenta e colaboradores (1994). Somente os parasitos apresentando motilidade foram consideradas nas contagens. A análise de variância do número de parasitos associados entre os grupos de glândulas de um mesmo sistema foi feita através do programa EPI-INFO 6.04 (Database and Statistics Program for Public Health). Os resultados obtidos para os diferentes sistemas foram considerados significantes, mostrando valores de P menores do que 0,05. 22.1) Inibição promovida pela p130 purificada Neste experimento, foi adicionada ao meio de interação a proteína de 130 kDa nas concentrações de 2 ou 20 µg/mL de meio de incubação. No sistema controle, a proteína de 130 kDa não foi adicionada. a) Purificação da proteína de 130 kDa Para purificar a proteína de 130 kDa, uma alíquota do extrato protéico total da glândula, equivalente a 1 mg de proteína, foi aplicada em SDS-PAGE a 8%. Após a eletroforese (condições no item 7), o gel foi incubado em solução de KCl 1 M, o que permitiu a visualização das bandas. A banda de 130 kDa foi, então, cortada e macerada em tubo Eppendorf, contendo solução de bicarbonato de amônio 50 mM e SDS 0,1% (pH 7,8). O macerado foi incubado a 37o C, por 1 h, e centrifugado a 5000 × g, por 10 min. O sobrenadante foi, então, adicionado de 4 volumes de acetona, resfriado até -20oC e centrifugado a 5000 × g, por 10 min, a 4oC. A proteína precipitada foi ressuspensa em PBS (pH 7,2) e a pureza avaliada em SDS-PAGE, corado com nitrato de prata, de acordo com Gonçalves, Nehme & Morel (1984). A concentração do produto da purificação foi medida como descrito no item 7. 70 22.2) Inibição promovida pela laminina-5 humana Neste experimento, foi adicionado ao meio de incubação a laminina-5 humana (Alpco Diagnostics), nas concentrações de 2 ou 20 µg/mL de meio de incubação. No sistema controle esta proteína não foi adicionada. 22.3) Inibição promovida pelo anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina-5 humana Neste experimento, as glândulas salivares foram tratadas com o anticorpo anti-cadeia beta-3 da lamina-5 humana (sc-7651, Santa Cruz Biotechnology) nas diluições de 1:100 (equivalente a 20 ng/mL) e 1:500 (equivalente a 4 ng/mL), em PBS, por 10 min, a 26oC, antes de serem adicionadas ao meio de interação. No sistema controle, as glândulas foram pré-incubadas apenas em PBS. 23) Enzimas proteolíticas extracelulares envolvidas na interação do parasito com as glândulas salivares do inseto Para pesquisar o envolvimento de proteases extracelulares no processo de interação foram montados três sistemas: (i) Sistema interação - incubamos 100 glândulas salivares em 200 µl de suspensão de parasitos, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. (ii) Sistema controle_glândulas - incubamos 100 glândulas salivares em 200 µl de PBS. (iii) Sistema controle_parasitos - incubamos 200 µl de suspensão de parasitos, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. 71 Alternativamente, para determinar a origem das proteases presentes no sobrenadante da interação, fizemos outro experimento, onde foram montados outros três sistemas: (i) Sistema parasito vivo x glândula viva - incubamos 100 glândulas salivares em 200 µl de suspensão de parasitos, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. (ii) Sistema parasito vivo x glândula fixada - incubamos 100 glândulas salivares, previamente fixadas em formaldeído a 4%, em 200 µl de suspensão de parasitos vivos, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. (iii) Sistema parasito fixado x glândula viva - incubamos 100 glândulas salivares vivas em 200 µl de suspensão de parasitos, previamente fixados em formaldeído a 4%, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. Os parasitos e as glândulas foram fixados em PBS (pH 7,2), contendo formaldeído a 4%, durante 10 min, a 4oC. Após a incubação, por 2 h, a 26oC, o sobrenadante dos sistemas foi recolhido e centrifugado a 1500 × g, por 10 min, a 4oC. Alíquotas de 40 µl do sobrenadante de cada sistema foram adicionadas de 10 µl de tampão de amostra (TA) contendo tris-HCl 62 mM (pH 6,8), SDS 2%, glicerol 25%, azul de bromofenol 0,01% e aplicadas, em triplicata de gel de poliacrilamida a 10%, contendo 0,1% de gelatina co-polimerizada. Após a eletroforese, os três géis foram lavados em solução de triton X-100 a 2,5% durante 1 h e, posteriormente, incubados em tampão glicina 50 mM (pH 10,0), tampão PBS (pH 7,2) ou tampão fosfato 50 mM (ph 5,5) suplementado com DTT 2 mM, por 48 h, a 37oC. Em seguida, os géis foram corados e 72 descorados, nas condições descritas no item 7, para a visualização de bandas de degradação. As massas moleculares das proteases foram estimadas através da comparação da migração destas enzimas com a dos padrões de proteínas (Fermentas Life Science). 23.1) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pelo parasito no meio de interação Para determinar a classe proteolítica da enzima liberada pelos parasitos, durante a interação com as glândulas salivares do inseto, incubamos 300 glândulas salivares em 600 µl de suspensão de parasitos, na concentração de 1 x 108 parasitos/mL de PBS. Após a incubação, por 2 h, a 26oC, o sobrenadante da interação foi recolhido e centrifugado a 1500 × g, por 10 min, a 4oC. Alíquotas de 40 µl do sobrenadante foram adicionadas de 10 µl de TA e aplicadas em gel de poliacrilamida a 10%, contendo 0,1% de gelatina co-polimerizada. Após a eletroforese, o gel foi lavado em solução de triton X-100 a 2,5% durante 1 h e, posteriromente, incubado em tampão glicina 50 mM (pH 10,0), por 48 h, a 37oC, na ausência (controle) ou na presença dos íons Zn2+ (ZnCl2 2 mM) e Ca2+ (CaCl2 5 mM), do quelante de íons EDTA (5 mM) e dos inibidores proteolíticos 1,10-Fenantrolina (10 mM), E-64 (10 µM) e PMSF (1 mM). Em seguida, o gel foi corado e descorado, nas condições descritas no item 7, para a visualização de bandas de degradação. 73 23.2) Caracterização da atividade proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação a) Modulação da expressão da protease da glândula salivar exercida pelos parasitos Para determinar se a presença dos parasitos influencia a expressão de proteases pelas glândulas salivares, incubamos 100 glândulas em 200 µl de PBS, na ausência ou na presença de 1 x 108 parasitos/mL. Após a incubação, por 2 h, a 26oC, o sobrenadante da interação foi recolhido e centrifugado a 1500 × g, por 10 min, a 4oC. Alíquotas de 40 µl do sobrenadante foram analisadas por zimografia, conforme item 24, e por SDSPAGE a 10%, conforme item 7. b) Determinação do sítio de atividade da protease de 14-18 kDa da glândula salivar Sabendo que as glândulas salivares liberam a protease de 14-18 kDa, na presença ou na ausência de parasitos, incubamos 100 glândulas salivares em 200 µl de PBS a 26oC, por 10 min ou 2 h. No final de cada período de incubação, recolhemos o sobrenadante e fizemos o extrato protéico total das glândulas salivares incubadas. Os sobrenadantes (40 µl) e os extratos protéicos (40 µl), equivalentes a 80 µg de proteína, foram adicionadas de 10 µl de TA e aplicados em gel de poliacrilamida a 10%, contendo 0,1% de gelatina co-polimerizada. Após a eletroforese, os géis foram lavados em solução de triton X-100 a 2,5% durante 1 h e, posteriormente, incubados em tampão glicina 50 mM (pH 10,0), por 48 h, a 37oC. Em seguida, os géis foram corados e descorados nas condições descritas no item 7, para a visualização de bandas de degradação. 74 c) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação Sabendo que as glândulas salivares liberam a protease de 14-18 kDa, na presença ou na ausência de parasitos, para determinar a classe proteolítica da enzima liberada pelas glândulas salivares, durante a interação com os parasitos, incubamos 300 glândulas salivares em 600 µl de PBS, por 2 h, a 26oC. Após a incubação, o sobrenadante da interação foi recolhido e centrifugado a 1500 × g, por 10 min, a 4oC. Alíquotas de 40 µl do sobrenadante foram adicionadas de 10 µl de TA e aplicadas em gel de poliacrilamida a 10% contendo 0,1% de gelatina co-polimerizada. Após a eletroforese, o gel foi lavado em solução de triton X-100 a 2,5% durante 1 h e, posteriromente, incubado em tampão glicina 50 mM (pH 10,0), por 48 h, a 37oC, na ausência (controle) ou na presença dos íons Zn2+ (ZnCl2 2 mM) e Ca2+ (CaCl2 5 mM), do quelante de íons EDTA (5 mM) e dos inibidores proteolíticos 1,10-Fenantrolina (10 mM), E-64 (10 µM) e PMSF (1 mM). Em seguida, o gel foi corado e descorado, nas condições descritas no item 7, para a visualização de bandas de degradação. 75 RESULTADOS 76 1) Obtenção de colônia de insetos livres de tripanossomatídeos 1.1) A partir de ovos recolhidos na colônia parental Na tentativa de obter uma colônia com insetos curados da infecção pela L. wallacei, quatrocentos e cinquenta ovos no mesmo estágio de maturação foram recolhidos da colônia parental, isto é, da colônia de insetos naturalmente infectados com tripanossomatídeos da espécie L. wallacei. Estes ovos foram separados em três grupos de cento e cinqüenta ovos e incubados até a eclosão em potes previamente tratados com hipoclorito de sódio. Após a eclosão dos ovos, foram adicionadas sementes de girassol autoclavadas e água mineral estéril. No entanto, nos dois primeiros dias após a eclosão, as ninfas foram observadas se alimentando exclusivamente nos ovos eclodidos. No décimo segundo dia após a eclosão dos ovos, quando as ninfas já se encontravam no terceiro estágio, trinta insetos de cada um dos três grupos foram recolhidos e dissecados, para a extração do tubo digestivo. Após a homogeneização dos tubos digestivos em PBS, o conteúdo intestinal foi analisado a fresco por MO, para a pesquisa de flagelados da espécie L. wallacei. O percentual de ninfas de terceiro estágio infectadas variou entre 26,7 e 56,7% nos três grupos analisados (Tabela 1). Tabela 1- Percentual de infecção por L. wallacei em ninfas de terceiro estágio. Ninfas analisadas Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 30 30 30 Número de ninfas infectadas não-infectadas 17 8 13 13 22 17 Percentual de ninfas infectadas 56,7% 26,7% 43,3% No décimo sétimo dia após a eclosão dos ovos, quando os insetos já estavam no quarto estágio de ninfa, outros trinta insetos de cada um dos três grupos foram recolhidos, dissecados e analisados como descrito anteriormente. O percentual de ninfas de quarto estágio infectadas variou entre 30 e 50%, nos 77 três grupos analisados (Tabela 2). O mesmo procedimento foi realizado no vigésimo segundo dia, quando os insetos já se encontravam no quinto estágio de ninfa. Neste estágio, o percentual de ninfas infectadas variou entre 36,7% e 43,3% (Tabela 3). Dessa forma, o percentual médio de ninfas infectadas variou entre 31,13% ± 5,09 e 47,8% ± 10,18 nos três grupos analisados (Tabela 4). Tabela 2- Percentual de infecção por L. wallacei em ninfas de quarto estágio. Ninfas analisadas 30 30 30 Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Número de ninfas infectadas não-infectadas 15 9 12 15 21 18 Percentual de ninfas infectadas 50,0% 30,0% 40,0% Tabela 3- Percentual de infecção por L. wallacei em ninfas de quinto estágio. Ninfas analisadas 30 30 30 Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Número de ninfas infectadas não-infectadas 11 11 13 19 19 17 Percentual de ninfas infectadas 36,7% 36,7% 43,3% Tabela 4- Percentual médio de ninfas inefctadas por L. wallacei. Percentual de ninfas infectadas 3 estágio 4o estágio 5o estágio o Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 56,7% 26,7% 43,3% 50,0% 30,0% 40,0% 36,7% 36,7% 43,3% Percentual médio de ninfas infectadas 47,8% ± 10,18 31,13% ± 5,09 42,20% ± 1,90 No trigésimo quinto dia após a eclosão dos ovos, quando os insetos já estavam na fase adulta, outros trinta insetos de cada um dos três grupos foram recolhidos e dissecados para a extração do tubo digestivo. Após a homogeneização dos tubos digestivos em PBS, o conteúdo intestinal foi analisado a fresco por MO para a pesquisa de L. wallacei. O percentual de infecção nos insetos analisados foi de 100% nos três grupos analisados (Tabela 5). Ninfas e adultos nascidos e crescidos na colônia parental mostram índice de infecção de 100% (Romeiro et al., 2000). 78 Tabela 5- Percentual de infecção por L. wallacei em insetos adultos. Insetos analisados Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 30 30 30 Número de insetos adultos infectados não-infectados 30 30 30 Percentual de insetos infectados 0 0 0 100% 100% 100% Diante destes resultados e sabendo que a espécie L. wallacei é capaz de produzir formas císticas, decidimos investigar a possibilidade dos ovos recolhidos na colônia parental conterem cistos de L. wallacei. Por meio de MEV, observamos que fezes frescas de O. fasciatus, colhidas na colônia parental, contêm formas promastigotas viáveis e cistos de L. wallacei (figura 1). Formas císticas, com textura e relevo normais de uma célula viável, foram observadas ainda ligadas à célula parental, a qual apresentou inúmeros poros em sua membrana celular. Analisando a superfície externa de ovos colhidos na colônia de O. fasciatus (Figura 2), observamos a presença de cistos característicos de L. wallacei (Romeiro et al, 2000; Romeiro, 2001), isto é, formas ovóides com cerca de 3 µm de comprimento ao longo do seu eixo longitudinal e invaginação característica de bolsa flagelar. No presente estudo não foi possível observar nos cistos visualizados o flagelo residual, observado por Romeiro e colaboradores (2000). 79 A B C Figura 1 - Microscopia eletrônica de varredura mostrando a presença de formas promastigotas e císticas de L. wallacei em fezes frescas do inseto O. fasciatus fixadas sobre lamínula de vidro. (A) Formas promastigotas aparentemente viáveis. Barra - 5 µm. (B) Forma cística aderida ao flagelo da célula parental aparentemente viável Barra - 1 µm. (C) Formas císticas aderidas ao flagelo da célula parental. Notar os poros presentes na membrana plasmática da célula parental. Barra - 1 µm. 80 A * * * * * B Figura 2 - Microscopia eletrônica de varredura da face externa de ovos de O. fasciatus recolhidos em colônia naturalmente infectada com L. wallacei. (A) Micrografia de ovos de O. fasciatus analisados em pequeno aumento. Barra - 500 µm. (B) Micrografia da parede externa dos ovos mostrando a presença de cistos (∗) característicos de L. wallacei, com cerca de 3 µm de comprimento ao longo do eixo longitudinal, e presença de invaginação característica da bolsa flagelar, indicada pela seta. Barra - 1 µm 81 1.2) A partir de ovos recolhidos da colônia parental e tratados com hipoclorito de sódio Percebendo a possibilidade de que as ninfas de O. fasciatus poderiam estar contraindo a infecção por L. wallacei a partir da ingestão de cistos, contidos na face externa dos ovos, decidimos promover a assepsia dos ovos, através do tratamento com hipoclorito de sódio. Após este tratamento, quatrocentos e cinqüenta ovos recolhidos na colônia infectada foram incubados até a eclosão, da mesma forma descrita no item anterior. Ninfas de terceiro, quarto e quinto estágios, assim como insetos adultos, foram dissecadas e o conteúdo dos seus tubos digestivos analisados para a pesquisa de L. wallacei, da mesma forma descrita anteriormente. Ao contrário do acontecido no experimento anterior, onde aproximadamente 50% das ninfas e 100% dos insetos adultos apresentaram-se infectados, quando os ovos foram tratados com hipoclorito de sódio, em nenhum dos tubos digestivos analisados a fresco por MO foi detectada a presença de flagelados (figura 3). A B Figura 3 - Microscopia óptica do conteúdo de tubos digestivos extraídos de ninfas de O. fasciatus no quinto estágio de desenvolvimento. Os conteúdos dos tubos digestivos foram corados através da coloração de Giemsa. Fotos em aumento de 100x. (A) Conteúdo de tubo digestivo de ninfa nascida de ovo coletado em colônia de insetos infectados com L. wallacei. A seta e a ponta de seta indicam, respectivamente, o cinetoplasto e o núcleo de um dos parasitos presentes na lâmina. (B) Ausência de parasitos no conteúdo de tubo digestivo de ninfa nascida de ovo tratado com hipoclorito de sódio. 82 No intuito de confirmar a ausência de parasitos nos tubos digestivos de insetos nascidos de ovos tratados com hipoclorito, decidimos analisar, por meio de MEV, os tubos digestivos destes insetos e comparar com os tubos digestivos de insetos recolhidos na colônia contaminada com L. wallacei. Ao analisar as micrografias do ventrículo 4 do intestino médio de insetos colhidos na colônia infectada, observamos a presença de grande número de parasitos aderidos na parede interna deste segmento (figura 4 A). O mesmo foi evidenciado nas micrografias do reto de insetos infectados, onde observamos uma quantidade maciça de parasitos aderidos às almofadas retais (figura 4 B). Em contrapartida, as micrografias de insetos nascidos de ovos tratados mostraram o lúmen do ventrículo 4 com intenso brotamento de membranas perimicrovilares e ausência de parasitos (figura 5 A). Da mesma forma, na micrografia do reto foi observado um acúmulo de membranas perimicrovilares e ausência de flagelados (figura 5 B). Os insetos nascidos dos ovos tratados com hipoclorito de sódio formaram uma nova colônia, constituída de insetos livres de tripanossomatídeos. 83 A AR B Figura 4 - Microscopia eletrônica de varredura mostrando a presença de parasitos da espécie L. wallacei no lúmen do ventrículo 4 e no reto de O. fasciatus. (A) A seta indica a presença de grande número de parasitos interagindo com a parede interna do ventrículo 4 do intestino médio do inseto. Barra - 10 µm. (B) As setas indicam a adesão de quantidade maciça de parasitos nas almofadas retais (AR) do inseto. Barra - 10 µm. 84 A B Figura 5 - Microscopia eletrônica de varredura mostrando o lúmen do ventrículo 4 e do reto de insetos da espécie O. fasciatus, nascidos de ovos tratados com hipoclorito de sódio. (A) Micrografia da parede interna do ventrículo 4, mostrando o brotamento de membranas perimicrovilares (seta) e ausência de parasitos flagelados. Barra - 10 µm. (B) Micrografia mostrando a ausência de parasitos e o acúmulo de membranas perimicrovilares na parede retal (setas). Barra - 10 µm. 85 2) Infecção experimental de tomates para cultivo de Phytromonas serpens Tomates da espécie L. esculentum variedades cerasiforme (tomate cereja), pyriforme (tomate italiano) e esculentum (tomate salada) foram infectados, através da inoculação de 10 µl de suspensão contendo 1x105 parasitos em três diferentes pontos. Os tomates foram incubados a 22oC e, semanalmente (dias 7, 14, 21 e 28, após a inoculação), três tomates de cada variedade foram dissecados e tiveram suas sementes removidas e lavadas. Os parasitos presentes no lavado das sementes foram contados e corados em solução de Giemsa, para observação por MO. As fotos presentes na figura 6 mostram que os flagelados crescidos nas três variedades de L. esculentum apresentam morfologia típica das formas promastigotas de P. serpens. Em todas as contagens, os tomates controle, ou seja, que não receberam o inóculo contendo parasitos, foram processados da forma descrita anteriormente. Em nenhum dos tomates controle foram encontrados parasitos flagelados (dados não mostrados). Os resultados das contagens mostram que no vigésimo primeiro dia de infecção a concentração de parasitos/mL chegou a 2,1 x 108/mL na variedade esculentum, enquanto nas variedades cerasiforme e pyriforme o número de parasitos foi significativamente menor, chegando a 1,1 x 108/mL e 1,1 x 107/mL, respectivamente (figura 7). Diante destes resultados, decidimos utilizar tomates da variedade esculentum para cultivar P. serpens, com o objetivo de infectar os insetos da espécie O. fasciatus. 86 A B C Figura 6 - Microscopia óptica de parasitos da espécie Phytomonas serpens crescidos em tomates da espécie Lycopersicon esculentum variedades esculentum (A), cerasiforme (B) e pyriforme (C), corados em lâmina de vidro através da coloração de Giemsa. Os parasitos crescidos nas três variedades apresentam morfologia típica das formas promastigotas de P. serpens. Fotos em aumento de 100x. 350 número de parasitas x 106 300 250 200 variedade pyriforme variedade cerasiforme variedade esculentum 150 100 50 0 0 5 10 15 20 25 30 dias após a infecção Figura 7 - Curva de crescimento de P. serpens em tomates da espécie Lycopersicon esculentum variedades pyriforme, cerasiforme e esculentum. Para a contagem de parasitos o volume total de sementes de cada tomate foi recolhido e o número de parasitos/ml do lavado contado em câmara de Neubauer. 87 3) Infecção experimental de Oncopeltus fasciatus com parasitos da espécie Phytomonas serpens Cinqüenta insetos adultos recolhidos da colônia de insetos livres de tripanossomatídeos foram mantidos na ausência de comida e água por 18 h e, posteriormente, transferidos para potes plásticos contendo suspensão de parasitos da espécie P. serpens, crescidos em tomates da variedade esculentum (1 x 107 parasitos/mL de solução salina). Todos os insetos foram observados se alimentando da suspensão de parasitos. Em seguida, nos dias 2, 5, 10 e 25 após a infecção com os parasitos, grupos de cinco insetos foram dissecados, para a pesquisa de parasitos nos intestinos médio e posterior, nas fezes, na hemolinfa e nas glândulas salivares. Por meio de MO, foi observada a presença de parasitos no ventrículo 4 do intestino médio de todos os insetos dissecados nos dias 2 e 5, fato confirmado por MEV (dados não mostrados). No entanto, nos dias posteriores não foram observados parasitos em nenhum dos outros sítios analisados (dados não mostrados). Este experimento foi repetido outras duas vezes, resultando nas mesmas observações. Percebendo que as condições utilizadas para a infecção experimental dos insetos não iriam permitir, em tempo hábil, o estudo da interação in vivo com os parasitos da espécie P. serpens, decidimos promover a interação in vitro dos parasitos com as glândulas salivares do inseto, em condições ex vivo. 4) Interação in vitro de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus inseto, em condições ex vivo A MEV de glândulas salivares de O. fasciatus incubadas em suspensão contendo 1 x 107 parasitos/mL de PBS, a 26oC, por 2 h, mostrou que os parasitos foram capazes de aderir à face externa das glândulas salivares e que esta adesão ocorreu tanto pelo corpo celular, quanto pelo flagelo do parasito 88 (figura 8 A). Além disso, foi observado que os parasitos foram capazes de atravessar, via corpo celular, a membrana basal que reveste externamente as glândulas salivares de O. fasciatus (figura 8 B-D), e que isto ocorreu por meio de orifícios, que são formados nesta membrana. Estes orifícios, ausentes em regiões livres de tripanossomatídeos, foram observados em grande número nos locais onde os parasitos estavam aderidos (figura 8 B-D). CC CC ∗ F F B A ∗ ∗ F CC F F C F D Figura 8 - Microscopia eletrônica de varredura de glândulas salivares de O. fasciatus incubadas em condições ex vivo na presença de parasitos da espécie P. serpens, in vitro. (A) Adesão do parasito via corpo celular (CC) e flagelo (F) à membrana basal que reveste a glândula salivar do inseto. Barra - 5 µm. (B) Parasito penetrando na membrana basal via corpo celular. Barra - 5 µm. (C) Micrografia mostrando os flagelos de um grupo de parasitos flagrados durante a invasão das glândulas salivares. Barra - 5 µm. (D) Parasito presente entre a membrana basal e o epitélio da glândula salivar. Barra - 1 µm. Notar nas figuras B, C e D que a penetração dos parasitos ocorre em regiões da glândula salivar onde a membrana basal apresenta orifícios (setas). Estes orifícios não foram observados em regiões livres de parasitos (∗). 89 Levando-se em consideração que a interação de P. serpens com a face externa das glândulas salivares de O. fasciatus parecia ocorrer de forma específica, decidimos identificar quais moléculas participavam deste evento. 5) Pesquisa por molécula(s)-alvo para a ligação de Phytomonas serpens às glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus Sabendo que a interação de parasitos com células e tecidos hospedeiros pode ser mediada por proteínas de superfície, sejam elas do parasito ou do hospedeiro, decidimos promover a interação de proteínas de superfície de P. serpens com proteína presentes nas glândulas salivares de O. fasciatus. 5.1) Perfil de proteínas totais da glândula salivar de Oncopeltus fasciatus Nas condições utilizadas neste experimento, a eletroforese do extrato protéico total das glândulas salivares em SDS-PAGE a 10% revelou, após a coloração com Coomassie brilliant blue, um perfil de aproximadamente 20 bandas de proteínas, com massas moleculares entre 15 e 160 kDa (figura 9). Figura 9 - SDS-PAGE a 10% do extrato protéico total de glândulas salivares de O. fasciatus corado com Coomassie brilliant blue. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas expressas em quilodaltons. 90 5.2) Perfil de proteínas totais de Phytomonas serpens A eletroforese do extrato protéico total de P. serpens em SDS-PAGE a 10%, após coloração com Coomassie brilliant blue, revelou um perfil com cerca de 30 bandas de proteínas com massas moleculares variando entre 15 e 250 kDa (figura 10 A). 5.3) Perfil de proteínas de superfície de Phytomonas serpens Para a observação do perfil de proteínas de superfície de P. serpens, incubamos os parasitos com biotina, antes da extração de proteínas totais. Após a transferência das proteínas totais para membrana de nitrocelulose, esta membrana foi tratada com estreptoavidina conjugada à peroxidase e as proteínas de superfície foram reveladas com a utilização de kit comercial. A análise do filme exposto à membrana revelou a biotinilação de pelo menos 8 polipeptídeos, com massas moleculares variando entre 25 e 100 kDa, com predomínio de aproximadamente 5 polipeptídeos, com massas moleculares entre 30 e 55 kDa (figura 10 B). . 5.4) Interação de proteínas de superfície de Phytomonas serpens com proteínas das glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus No intuito de pesquisar a presença, nas glândulas salivares, de possíveis ligantes para proteínas de superfície de P. serpens, incubamos membranas de nitrocelulose, contendo proteínas totais das glândulas salivares, na presença de proteínas extraídas de parasitos previamente marcados com biotina. Em seguida, a membrana de nitrocelulose foi incubada com estreptoavidina conjugada à peroxidase e a presença de ligantes revelada como descrito no item anterior. A marcação de bandas na membrana revelou a presença de proteínas de superfície 91 do parasito, ligadas à banda de proteína da glândula. Desta forma, foi possível determinar que no extrato total de glândulas salivares existem pelo menos cinco polipeptídeos, que são reconhecidos por proteínas de superfície do parasito. Estes polipeptídeos apresentam massas moleculares aproximadas de 31, 32, 34, 36 e 130 kDa (figura 11 B). 250 160 105 75 50 35 30 15 A B Figura 10 - (A) SDS-PAGE 10% do extrato protéico total de P. serpens corado com Coomassie brilliant blue. (B) Perfil de proteínas de superfície de P. serpens. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas expressas em quilodaltons. 5.5) Interação de parasitos vivos com proteínas das glândulas salivares Numa tentativa de aproximar as condições experimentais das condições biológicas, decidimos utilizar parasitos vivos marcados em sua superfície com biotina, para a busca de ligantes presentes nas glândulas salivares. Para isso, membranas de nitrocelulose, contendo proteínas totais das glândulas salivares, foram incubadas com os parasitos biotinilados. Com isso, ao contrário do experimento anterior, foi possível perceber a marcação de uma única banda de proteína da glândula salivar, com massa molecular aproximada de 130 kDa 92 (p130) (figura 11 A). Este polipeptídeo, reconhecido pelos parasitos vivos, também foi reconhecido por proteínas de superfície do parasito (figura 11 B). a b c d Figura 11 - “Ligand blotting” mostrando a interação de proteínas de superfície de P.serpens e deste parasito vivo com proteínas das glândulas salivares de O. fasciatus. (A) Proteínas totais das glândulas salivares de O. fasciatus separadas em SDS-PAGE a 10% e coradas com Coomassie brilliant blue. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas, expressas em quilodaltons. (B) Bandas de proteínas das glândulas salivares reconhecidas por proteínas de superfície de P. serpens. As setas à direita indicam as bandas de proteína que reagiram mais fortemente com proteínas de superfície de P. serpens. Os números à direita referem-se as massas moleculares aproximadas das proteínas reativas da glândula salivar. (C) Banda de proteína das glândulas salivares reconhecida por parsitas vivos biotinilados. A seta à direita indica a banda de proteína de aproximadamente 130 kDa reconhecida pelos parasitos. (D) Sistema controle - membrana de nitrocelulose incubada na ausência de proteínas de superfície de P. serpens e de parasitos biotinilados. 93 Sabendo que as bandas de proteínas separadas através de SDS-PAGE podem ser compostas por mais de uma proteína, decidimos promover a interação de parasitos vivos biotinilados com proteínas das glândulas salivares separadas em gel 2D. Em um primeiro momento, separamos o extrato protéico total das glândulas salivares focalizando as proteínas em tiras com pI entre 3-10 (primeira dimensão). Em seguida, as proteínas foram separadas através de SDS-PAGE a 10% (segunda dimensão). Com isso, observamos que o extrato protéico das glândulas salivares possui pelo menos quatro polipeptídeos, com pI variando entre 3-10, na faixa de peso molecular próximo de 130 kDa (figura 12). 1 220 170 2 3 4 116 76 53 pI 3 pI 10 Figura 12 - SDS-PAGE 10% de proteínas totais de glândulas salivares de O. fasciatus, previamente separadas pelo ponto isoelétrico. Após a coloração das proteínas com Coomassie brilliant blue, observou-se a presença de “spots” de pelo menos quatro polipeptídeos (indicados pelos números), na faixa de massa molecular próxima de 130 kDa. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas expressas em quilodaltons. 94 Em um segundo momento, na tentativa de separar em diferentes géis os polipeptídeos com massa molecular próxima de 130 kDa, voltamos a separar o extrato protéico das glândulas, mas desta vez focalizando as proteínas em tiras com pI entre 3-6, 6-8 e 8-10. Seguindo a focalização nestas três diferentes tiras, as proteínas foram separadas por massa molecular em três diferentes géis (SDSPAGE) a 12% (dados não mostrados). Em um terceiro momento, as proteínas separadas nos três diferentes géis (SDS-PAGE) foram transferidas para membrana de nitrocelulose e estas membranas incubadas em suspensão de parasitos vivos biotinilados. Revelando as três diferentes membranas (dados não mostrados), observamos que os parasitos reconheceram apenas o polipeptídeo com pI entre 6-8 (figura 13). 6) Identificação do ligante presente na glândula salivar Após identificar o “spot” do ligante presente na glândula salivar, repetimos o gel 2D nas mesmas condições utilizadas no experimento onde os parasitos reconheceram a p130 (figura 13). O “spot” da proteína foi, então, cortado e digerido in gel com tripsina e submetido à análise por MALDI-TOF “fingerprint”. Fazendo a busca no banco de dados do NCBI, através do programa MS-Fit (http://prospector.ucsf.edu), a proteína da glândula salivar de O. fasciatus, apresentando pI de 7,1 e massa molecular de 129,5 kDa, foi identificada como uma proteína semelhante ao precursor da cadeia beta-3 da laminina-5 humana. Os peptídeos gerados pela tripsinização e analisados por “fingerprint” cobriram 23% da seqüência de aminoácidos do precursor da cadeia beta-3 da laminina-5 humana (figura 14). 95 170 116 76 53 A pI 6 pI 8 170 116 76 53 B pI 6 pI 8 Figura 13 - Interação de parasitos da espécie P. serpens com o “spot” de uma proteína de 130 kDa e pI entre 6-8 presente nas glândulas salivares de O. fasciatus. (A) SDS-PAGE 12% de proteínas das glândulas salivares de O. fasciatus, previamente separadas pelo ponto isoelétrico. Após a coloração das proteínas com Coomassie brilliant blue, observou-se a presença de um único “spot” (indicado pela seta) na faixa de massa molecular próxima de 130 kDa. (B) “Ligand blot” mostrando a interação de parasitos vivos biotinilados com o “spot” da proteína de 130 kDa da glândula salivar do inseto. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas expressas em quilodaltons. 96 MRPFFLLCFALPGLLHAQQACSRGACYPPVGDLLVGRTRFLRASSTCGLTKPETYCTQYGEWQMK CCKCDSRQPHNYYSHRVENVASSSGPMRWWQSQNDVNPVSLQLDLDRRFQLQEVMMEFQGPMP AGMLIERSSDFGKTWRVYQYLAADCTSTFPRVRQGRPQSWQDVRCQSLPQRPNARLNGGKVQLNL MDLVSGIPATQSQKIQEVGEITNLRVNFTRLAPVPQRGYHPPSAYYAVSQLRLQGSCFCHGHADRCA PKPGASAGPSTAVQVHDVCVCQHNTAGPNCERCAPFYNNRPWRPAEGQDAHECQRCDCNGHSET CHFDPAVFAASQGAYGGVCDNCRDHTEGKNCERCQLHYFRNRRPGASIQETCISCECDPDGAVPG APCDPVTGQCVCKEHVQGERCDLCKPGFTGLTYANPQGCHRCDCNILGSRRDMPCDEESGRCLCL PNVVGPKCDQCAPYHWKLASGQGCEPCACDPHNSLSPQCNQFTGQCPCREGFGGLMCSAAAIRQ CPDRTYGDVATGCRACDCDFRGTEGPGCDKASGRCLCRPGLTGPRCDQCQRGYCNRYPVCVACH PCFQTYDADLREQALRFGRLRNATASLWSGPGLEDRGLASRILDAKSKIEQIRAVLSSPAVTEQEVA QVASAILSLRRTLQGLQLDLPLEEETLSLPRDLESLDRSFNGLLTMYQRKREQFEKISSADPSGAFR MLSTAYEQSAQAAQQVSDSSRLLDQLRDSRREAERLVRQAGGGGGTGSPKLVALRLEMSSLPDLT PTFNKLCGNSRQMACTPISCPGELCPQDNGTACGSRCRGVLPRAGGAFLMAGQVAEQLRGFNAQL QRTRQMIRAAEESASQIQSSAQRLETQVSASRSQMEEDVRRTRLLIQQVRDFLTDPDTDAATIQEVS EAVLALWLPTDSATVLQKMNEIQAIAARLPNVDLVLSQTKQDIARARRLQAEAEEARSRAHAVEGQV EDVVGNLRQGTVALQEAQDTMQGTSRSLRLIQDRVAEVQQVLRPAEKLVTSMTKQLGDFWTRMEE LRHQARQQGAEAVQAQQLAEGASEQALSAQEGFERIKQKYAELKDRLGQSSMLGEQGARIQSVKT EAEELFGETMEMMDRMKDMELELLRGSQAIMLRSADLTGLEKRVEQIRDHINGRVLYYATCK. Figura 14. Enquadramento dos peptídeos gerados pela digestão tríptica da proteína de 130 kDa sobre a sequência de aminoácidos do precursor da cadeia beta-3 da laminina-5 humana. As letras em vermelho mostram a sequência de aminoácidos dos peptídeos da proteína da glândula salivar que foram enquadrados pelo programa MS-Fit (http://prospector.ucsf.edu), sobre a sequência de aminoácidos do precursor da cadeia beta-3 da laminina-5 humana. 7) Similaridade antigênica da p130 com a cadeia beta-3 da laminina-5 humana No intuito de pesquisar uma possível similaridade antigênica entre a p130 e a cadeia beta-3 da laminina-5 humana, foi realizado um “imunoblotting” das proteínas da glândula salivar de O. fasciatus, utilizando anticorpo policlonal produzido contra a cadeia beta-3 da laminina-5 humana (Ac anti-beta-3). Após a separação do extrato protéico total das glândulas salivares em SDSPAGE a 12%, as proteínas das glândulas foram transferidas para membrana de nitrocelulose. Esta membrana foi, então, bloqueada e incubada na presença do Ac anti-beta-3. A revelação da membrana mostrou que o anticorpo monoclonal utilizado reconheceu especificamente a p130, enquanto o anticorpo secundário reconheceu uma banda de aproximadamente 75 kDa (figura 15). 97 160 p130 105 75 50 35 30 A B C Figura 15 - “Inumoblotting” mostrando a marcação da proteína de 130 kDa da glândula salivar de O. fasciatus pelo anticorpo policlonal produzido contra a cadeia beta-3 da laminina5 humana. (A) SDS-PAGE 12% do extrato total das glândulas salivares corado com Coomassie brilliant blue. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas, expressas em quilodaltons. (B) “Inumoblotting” mostrando a marcação de duas bandas de proteínas da glândula salivar pelo anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina5 humana. (C) Controle do experimento onde apenas o anticorpo secundário foi utilizado no “Inumoblotting”. A seta vermelha indica a marcação da p130. A seta azul indica a marcação de outra banda apenas pelo anticorpo secundário. 8) Busca do gene da cadeia beta-3 da laminina-5 em Oncopeltus fasciatus No intuito de caracterizar a presença de regiões homólogas ao gene da cadeia beta-3 da laminina-5 humana no genoma do O. fasciatus, utilizamos iniciadores comercias desenhados especificamente para amplificar o gene da cadeia beta-3 em reações de PCR. Os resultados deste experimento mostram que os iniciadores foram capazes de amplificar fragmentos de DNA com aproximadamente 506 pb nos sistemas contendo (i) DNA extraído de glândulas salivares do O. fasciatus, (ii) DNA total de ninfas de terceiro estágio e (iii) DNA humano (controle positivo) (figura 16). 98 Fragmentos de 506 pb são indicados pelo fabricante como produtos da amplificação em reações iniciadas pelo “primer” utilizado. 1500 1000 750 ~ 506 pb 500 250 1 2 3 4 5 Figura 16 - Eletroforese em gel de agarose a 1,4% dos produtos de PCR obtidos após amplificação, utilizando iniciadores específicos para o gene da cadeia beta-3 da laminina-5 humana. O gel foi tratado durante 20 min em brometo de etídio e visualizado em transiluminador de luz ultra-violeta a 300 nm. 1- Padrão de peso molecular. Os números à esquerda referem-se aos tamanhos dos fragmentos padrões, expressas em pares de bases. 2DNA extraído de glândulas salivares de O. fasciatus. 3- DNA total extraído de ninfas de O. fasciatus no terceiro estágio de desenvolvimento. 4- DNA extraído de sangue humano. 5Controle negativo - Todos os componentes do meio de reação ensaiados na ausência de DNA. 99 9) Inibição da interação de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus 9.1) Inibição promovida pela p130 purificada Com o objetivo de avaliar o efeito da proteína p130 na interação dos parasitos com glândulas salivares do inseto, esta proteína foi purificada (figura 17) e adicionada ao meio de interação entre os parasitos e as glândulas salivares. Após a incubação, as glândulas foram maceradas em tubos Eppendorf e o número de parasitos associados (aderidos ou internalizados) às glândulas foi calculado, após a contagem de células móveis em câmara de Neubauer. 160 p130 105 75 50 35 30 A B Figura 17 - SDS-PAGE 8% mostrando o resultado da purificação da proteína de 130 kDa (seta vermelha) presente no extrato protéico total da glândula salivar de O. fasciatus. (A) Extrato protéico total das glândulas salivares. (B) Produto da purificação da p130. Os números à esquerda referem-se às massas moleculares dos padrões de proteínas, expressas em quilodaltons. As proteínas foram coradas com nitrato de prata. 100 Como mostra a figura 18 A, a p130 foi capaz de inibir de forma dosedependente a interação dos parasitos com as glândulas salivares do inseto. Enquanto na concentração de 2 µg/mL de meio de interação a p130 promoveu uma inibição de aproximadamente 26% na média de parasitos interagindo com a glândula, na concentração de 20 µg/mL a inibição chegou a 55%. 9.2) Inibição promovida pela laminina-5 humana Da mesma forma que a p130, a laminina-5 humana, presente no meio de incubação, foi capaz de inibir a interação entre os parasitos e as glândulas salivares de forma dose-dependente. Presente na concentração de 2 µg/mL de meio de incubação, a laminina-5 foi capaz de inibir a interação diminuindo em 27% a média de parasitos associados por glândula. Na concentração de 20 µg/mL a inibição foi de 48% (figura 18 B). 9.3) Inibição promovida pelo anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina-5 humana No intuito de avaliar o efeito do Ac anti-beta-3 na interação entre os parasitos e as glândulas salivares, as glândulas foram previamente tratadas com este anticorpo nas diluições de 1:100 e 1:500 e, então, adicionadas ao meio de incubação contendo os paraitos. Em relação ao sistema controle, no sistema contendo glândulas previamente tratadas com a diluição de 1:100, foi observada uma redução de 86% na média de parasitos associados às glândulas. Quando o tratamento prévio das glândulas foi feito com o Ac anti-beta-3 na diluição de 1:500, a inibição foi menos acentuada e induziu uma redução de 66% no número de parasitos que interagiram com as glândulas (figura 18 C). 101 20 µg 55% 2 µg 26% Controle 20 µg 48% 2 µg 27% Controle IgG controle 1:100 1:500 86% 66% Controle média do no de parasitas x 103 Figura 18 - Inibição da interação entre parasitos da espécie P. serpens e glândulas salivares 8 do inseto O. faciatus. As glândulas salivares foram incubadas com 10 parasitos, em PBS contendo 1% de BSA, na presença (A) da p130 purificada nas concentrações de 2 µg e 20 µg e (B) da laminina-5 humana nas concentrações de 2 µg e 20 µg. (C) Glândulas salivares previamente tratadas com o Ac anti-beta-3 nas diluições de 1:100 e 1:500 foram incubadas 8 com 10 parasitos, em PBS. As contagens representam a média ± devio padrão do número de parasitos associados às glândulas. 102 10) Envolvimento de enzimas proteolíticas na interação de Phytomonas serpens com glândulas salivares de Oncopeltus fasciatus Ao analisar as micrografias da interação entre os parasitos e a face externa das glândulas salivares do inseto, percebemos a formação de orifícios na superfície da glândula, justamente no local onde ocorreu a adesão e penetração dos parasitos (figura 8). Estes orifícios não foram observados em regiões da glândula livres de parasitos. Com base nesta observação e sabendo que a glândula salivar do O. fasciatus é revestida externamente por uma membrana basal e que a membrana basal de diferentes tecidos é formada majoritariamente por proteínas, decidimos pesquisar o envolvimento de proteases no processo de interação de P. serpens com as glândulas salivares de O. fasciatus. Para pesquisar o envolvimento de proteases extracelulares no processo de interação, incubamos as glândulas salivares em PBS, na presença dos parasitos. Após a incubação, o sobrenadante do meio de interação foi recolhido, centrifugado e a presença de atividade proteolítica avaliada por zimografia. Neste experimento, os sistemas controle continham (i) parasitos incubados na ausência das glândulas salivares e (ii) glândulas incubadas na ausência de parasitos. A análise dos géis nos permitiu observar que o sobrenadante da interação entre as glândulas e os parasitos apresentou duas bandas com atividade proteolítica. Estas bandas, com massas moleculares próximas de 63 kDa e atividade ótima em pH 10,0, não foram observadas nos sistemas controle, como mostra a figura 19. No intuito de determinar se estas enzimas proteolíticas estavam sendo secretadas pelos parasitos ou pelas glândulas salivares, repetimos o experimento anterior incubando (1) parasitos vivos com glândulas salivares vivas, (2) parasitos vivos com glândulas salivares previamente fixadas em formaldeido e (3) glândulas salivares vivas com parasitos previamente fixados em formaldeído. O resultado da zimografia, mostrado na figura 20, indica que as enzimas 103 proteolíticas com massas moleculares próximas de 63 kDa foram secretadas pelos parasitos, já que estas atividades foram observadas no sobrenadantes dos sistema (1) e (2) e não foram detectadas no sobrenadante do sistema (3). pH 10,0 pH 7,2 pH 5,5 66,2 45 35 18,4 14,4 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Figura 19. Zimograma mostrando as atividades proteolíticas presentes no sobrenadante da interação de P. serpens com glândulas salivares do inseto O. fasciatus. Após a incubação das glândulas na presença dos parasitos (1), glândulas na ausência de parasitos (2) e parasitos na ausência das glândulas (3), o sobrenadante do meio de incubação foi recolhido e aplicado em SDS-PAGE-gelatina. Os géis foram incubados em tampão glicina pH 10,0, tampão PBS pH 7,2 e tampão fosfato pH 5,5 suplementado com 2 mM de DTT, por 48 h a 37ºC. Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. As setas vermelhas indicam as enzimas detectadas apenas no sobrenadante da interação. As setas azuis indicam as enzimas secretadas pelas glândulas salivares na presença ou na ausência dos parasitos. 104 66,2 45 35 18,4 14,4 1 2 3 Figura 20. Zimograma mostrando as atividades proteolíticas presentes no sobrenadante da interação de P. serpens com glândulas salivares do inseto O. fasciatus. (1) Parasitos vivos incubados na presença das glândulas salivares vivas. (2) Glândulas salivares, previamente fixadas em formaldeído a 4%, incubadas na presença de parasitos vivos. (3) Parasitos, previamente fixados em formaldeido a 4%, incubados na presença de glândulas salivares vivas. O sobrenadante do meio de incubação foi recolhido e aplicado em SDS-PAGEgelatina. Os géis foram incubados em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC. Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. As setas vermelhas indicam as enzimas detectadas apenas no sobrenadante da interação. As setas azuis indicam as enzimas secretadas pelas glândulas salivares na presença de parasitos vivos ou previamente fixados. 10.1) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pelo parasito no meio de interação Para determinar a classe proteolítica da enzima liberada pelos parasitos durante a interação com as glândulas salivares do inseto, o sobrenadante do meio de interação foi aplicado em SDS-PAGE-gelatina e, posteriormente, incubado na presença dos íons Zn2+ e Ca2+, do quelante de íons EDTA e de inibidores proteolíticos 1,10-Fenantrolina, E-64 e PMSF (figura 21). A análise do resultado deste experimento nos permitiu constatar que as enzimas proteolíticas liberadas pelo parasito para o meio de interação são da classe das metalo-proteases, já que foram moduladas negativamente por um inibidor 105 específico desta classe (1,10-Fenantrolina) e por um quelante de íons metálicos (EDTA) e moduladas positivamente pelos íons Ca2+ e Zn2+. Além disso, a atividade proteolítica não foi influenciada pelos inibidores de cisteína- (E-64) e serina-proteases (PMSF). Como mostrado na figura 19, entre os valores de pH testados, o que permitiu uma atividade mais acentuada foi o pH 10,0. 66,2 SF PM E64 TA Fe na nt ro lin a ED Ca Cl 2 2 Zn Cl co nt ro le 45 Figura 21. Perfil de atividade da enzima proteolítica liberada por P. serpens durante a interação com as glândulas salivares de O. fasciatsu. O sobrenadante da interação foi aplicado em SDS-PAGE-gelatina e incubado em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC, na ausência (controle) e na presença dos íons Zn2+ (ZnCl2 2 mM) e Ca2+ (CaCl2 5 mM), do quelante de íons EDTA (5 mM) e dos inibidores proteolíticos 1,10-Fenantrolina (10 mM), E-64 (10 µM) e PMSF (1 mM). Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. 106 10.2) Possível envolvimento da cisteína-protease do parasito na interação com as glândulas salivares do inseto Em um dos experimentos, onde procurávamos estabelecer as condições ideais para determinar a procedência da metalo-protease liberada para o meio de interação, um fato curioso nos chamou atenção. Quando utilizamos parasitos inativados pelo congelamento num sistema de interação com glândulas vivas, percebemos que duas enzimas proteolíticas, que são secretadas pelas glândulas no meio de incubação, tiveram sua atividade completamente inibida em tampão glicina (pH 10,0). A duplicata do gel, que foi incubada em tampão fosfato (pH 5,5), revelou a atividade de uma cisteína-protease de P. serpens de aproximadamente 40 kDa, no mesmo sistema onde a atividade da protease da glândula havia sido inibida (figura 22). Neste experimento, foi possível observar, descorando o SDS-PAGE, que a cisteína-protease de P. serpens foi capaz de degradar as proteases secretadas pela glândula salivar (figura 22 C). Recentemente, foi sugerida a importância desta cisteína-protease de P. serpens no processo de interação com glândulas salivares de O. fasciatus (Santos et al., 2006 - ANEXO 5). 107 A B C 66,2 45 35 14,4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 Figura 22. Inibição de proteases da glândula salivar liberadas no meio de incubação promovida pela cisteína-protease de P. serpens. 1- Glândulas salivares incubadas na ausência de parasitos. 2- Glândulas salivares incubadas na presença de parasitos inativados pelo congelamento. 3- Glândulas salivares incubadas na presença de parasitos inativados a 60oC. 4- Glândulas salivares incubadas na presença de parasitos fixados com formaldeído a 4oC. (A) SDS-PAGE-gelatina incubado em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC. (B) SDS-PAGEgelatina incubado em tampão fosfato pH 5,5, por 48 h a 37ºC. (C) Mesmo gel do quadro B descorado para a visualização das bandas de proteínas. Notar, no sistema 2 do quadro C, a ausência das bandas referentes às proteases da glândula (setas azuis), que foram provavelmente degradadas pela cisteína-protease de P. serpens (seta vermelha). Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. 10.3) Caracterização da atividade proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação Como pode ser observado na figura 19, as glândulas salivares de O. fasciatus secretam para o meio de incubação, na presença ou na ausência de parasitos, pelo menos cinco proteases com atividade em pH 10,0. Durante os nossos experimentos, observamos que das cinco proteases observadas no zimograma da figura 19, duas com massas moleculares entre 14 e 18 kDa, podem ser a mesma enzima, com modificações que alteram a sua massa molecular como, por exemplo, a perda de um grupamento glicídico. Esta enzima de massa entre 14 e 18 kDa, dentre as cinco proteases detectadas no sobrenadante da glândula, foi a única detectada em todos os experimentos realizados por nós. Como já foi demonstrado, a liberação da protease de 14-18 kDa da glândula salivar para o meio de incubação ocorre na presença ou na ausência dos 108 parasitos. No entanto, observamos, que na presença dos parasitos, a liberação desta protease parece ser mais acentuada, como mostra a figura 23. 45 35 18,4 14,4 1 2 A 1 2 B Figura 23. Modulação da secreção da protease de 14-18 kDa da glândula salivar mediada por P. serpens. (A) SDS-PAGE a 10% do sobrenadante de glândulas salivares incubadas na ausência (1) e na presença de P. serpens (2) por 2 h em PBS. Glândulas salivares incubadas na ausência de parasitos. Notar a expressão mais acentuada de um polipeptídeo entre 14 e 18 kDa (seta azul) quando na presença dos parasitos. (B) Zimograma do sobrenadante de glândulas salivares incubadas na ausência (1) e na presença de P. serpens (2) por 2 h em PBS. Notar a atividade mais acentuada de um polipeptídeo entre 14 e 18 kDa (seta azul) quando na presença dos parasitos. O SDS-PAGE-gelatina a 10% foi incubado em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC. Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. a) Determinação do sítio de atividade da protease de 14-18 kDa da glândula salivar Sabendo que as glândulas salivares liberam a protease de 14-18 kDa na presença ou na ausência de parasitos, no intuito de determinar o sitio de atividade e o curso temporal da expressão desta protease, incubamos glândulas salivares em PBS, a 26oC, por 10 min ou 2 h. No final de cada período de 109 incubação, recolhemos o sobrenadante e fizemos o extrato protéico total das glândulas salivares incubadas. Os sobrenadantes e os extratos protéicos das glândulas incubadas nos dois diferentes períodos de tempo foram analisados por zimografia. A revelação do zimograma (figura 24) nos permitiu observar que a atividade da protease da glândula foi detectada exclusivamente no sobrenadante da incubação, não sendo observada no extrato protéico total das glândulas, que contém proteínas celulares e da saliva. Com isso, podemos observar que esta protease é secretada pelas células da glândula exclusivamente para o meio de incubação e não para a saliva. Neste experimento, observamos também que a expressão e liberação da protease para o meio de incubação ocorreram de forma tempo-dependente, já que sua atividade, ausente no sobrenadante de glândulas incubadas por 10 min, foi detectada no sobrenadante da incubação quando as glândulas foram incubadas por 2 h (figura 24). 110 45 35 18,4 14,4 1 2 3 4 Figura 24. Zimograma determinando o sítio de atividade e o curso temporal de expressão da protease de 14-18 kDa da glândula salivar de O. fasciatus. (1) Extrato protéico total de glândulas salivares incubadas em PBS, a 26oC, por 10 min. (2) Extrato protéico total de glândulas salivares incubadas em PBS, a 26oC, por 2 h. (3) Sobrenadante de glândulas salivares incubadas em PBS, a 26oC, por 10 min. (4) Sobrenadante de glândulas salivares incubadas em PBS, a 26oC, por por 2 h. Notar a atividade da protease de 14 e 18 kDa (seta azul) somente no sitema 4. O SDS-PAGE-gelatina a 10% foi incubado em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC. Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. b) Determinação da classe da enzima proteolítica liberada pela glândula salivar no meio de interação Sabendo que as glândulas salivares liberam a protease de 14-18 kDa na presença ou na ausência de parasitos e que esta enzima é secretada de forma tempo-dependente, incubamos glândulas salivares em PBS, a 26oC, por 2 h na ausência de parasitos. Para determinar a classe da enzima proteolítica liberada pelas glândulas salivares do inseto, o sobrenadante do meio de interação foi aplicado em SDS-PAGE-gelatina e, posteriormente, incubado na presença dos íons Zn2+ e Ca2+, do quelante de íons EDTA e de inibidores proteolíticos 1,10Fenantrolina, E-64 e PMSF (figura 25). A análise do resultado deste experimento nos permitiu constatar que a protease de 14-18 kDa, liberada pela glândula salivar para o meio de interação, é da classe das metalo-proteases, já 111 que foi modulada negativamente por um inibidor específico desta classe (1,10Fenantrolina) e por um quelante de íons metálicos (EDTA), além de modulada positivamente pelos íons Ca2+ e Zn2+. Além disso, a atividade proteolítica não foi influenciada pelos inibidores de cisteína- (E-64) e serina-proteases (PMSF). Como mostrado na figura 19, entre os valores de pH testados, o que permitiu uma atividade mais acentuada foi o pH 10,0. O aumento acentuado da atividade da protease da glândula na presença de íons Zn2+, em conjunto com a inibição exercida pelo quelante de íons e pela 1,10-Fenantrolina (inibidor de metalo-proteases), sugerem que esta enzima é uma metalo proteinase de membrana basal (MMP). 18,4 SF PM E64 tro lin a an TA ED Fe n Z Ca Cl nCl 2 2 + Zn Cl 2 Ca Cl 2 co nt ro le 14,4 Figura 25. Perfil de atividade da enzima proteolítica liberada pelas glândulas salivares de O. fasciatus durante a interação com P. serpens. O sobrenadante das glândulas salivares foi aplicado em SDS-PAGE-gelatina e incubado em tampão glicina pH 10,0, por 48 h a 37ºC, na ausência (controle) e na presença dos íons Ca2+ (CaCl2 5 mM) e Zn2+ (ZnCl2 2 mM), do quelante de íons EDTA (5 mM) e dos inibidores proteolíticos 1,10-Fenantrolina (10 mM), E64 (10 µM) e PMSF (1 mM). Os números à esquerda indicam a massa molecular dos padrões de proteínas. 112 DISCUSSÃO 113 Passados quase cem anos da descoberta de que tripanossomatídeos infectam plantas (Lafont, 1909), analisando a literatura científica, é notável observar que, enquanto a quantidade de estudos descrevendo o isolamento de espécies de Phytomonas e os danos causados às plantas é de certa forma abundante, os mecanismos envolvidos na interação destes parasitos com estes insetos ainda permanecem pouco estudados e, portanto, pouco entendidos. Dois dos raros exemplos de estudos bem descritivos acerca do ciclo biológico de tripanossomatídeos parasitas de plantas são aqueles publicados por McGhee e Hanson (1964) e Jankevicius e colaboradores (1989). Em 1964, McGhee e Hanson descreveram o ciclo de Phytomonas elmassiani em seu inseto vetor, o hemíptero fitófago Oncopeltus fasciatus, enquanto, em 1989, Jankevicius e colaboradores caracterizaram todo o ciclo biológico da Phytomonas serpens, um parasita de tomate transmitido pelos hemípteros Phthia picta e Nezara viridula. A invasão das glândulas salivares dos insetos vetores é, certamente, uma etapa importante dentro do ciclo biológico das espécies de Phytomonas. Assim, o aumento do conhecimento a respeito deste processo pode permitir o desenvolvimento de estratégias para o controle de parasitoses causadas por estes tripanossomatídeos. No início do nosso trabalho, tínhamos como meta estabelecer, de forma experimental, a infecção de insetos da espécie O. fasciatus com parasitos da espécie P. serpens, com o objetivo de estudar mais pontualmente a interação deste parasito com as glândulas salivares do inseto hospedeiro. A escolha do inseto O. fasciatus como hospedeiro experimental foi baseada (i) no fato de que este hemíptero é hospedeiro natural de diferentes espécies de tripanossomatídeos (Hanson & McGhee, 1961; Mcghee & Hanson, 1962; Romeiro et al., 2000), dentre elas P. elmassiani (Holmes, 1925; McGhee & Hanson, 1964) e (ii) na reconhecida capacidade deste hemíptero em contrair infecção experimental por tripanossomatídeos isolados de outros insetos (Hanson & Mcghee, 1963) 114 A partir de exemplares cedidos pelo Dr. Alexandre Romeiro (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ), estabelecemos uma nova colônia de insetos da espécie O. fasciatus em nosso laboratório (colônia parental). Sabendo que esta colônia era composta por insetos, em sua totalidade, infectados com tripanossomatídeos monoxênicos da espécie L. wallacei (Romeiro et al., 2000), procuramos obter uma colônia formada por insetos livres destes tripanossomatídeos. Com este intuito, colhemos ovos na colônia parental, que foram separados em três grupos e incubados até a eclosão em diferentes potes tratados em hipoclorito de sódio. Após a eclosão, nos primeiros dias de vida, as ninfas se alimentaram dos restos dos ovos eclodidos, mesmo na presença de sementes de girassol. Ao analisar o conteúdo intestinal das ninfas por meio de MO (figura 3) percebemos que, independentemente do grupo analisado, parte das ninfas encontravam-se infectadas por L. wallacei. Nos três grupos, a média de ninfas infectadas com L. wallacei variou entre 31,1 e 47,8% (Tabela 4). Curiosamente, a análise do conteúdo intestinal de insetos adultos mostrou que a totalidade dos insetos estava infectada com os parasitos (Tabela 4). Como observado por McGhee e Hanson (1962), ninfas de O. fasciatus no terceiro estágio já apresentam grande quantidade de parasitos da espécie L. oncopelti em seu trato intestinal, mas não os liberam através das fezes, ao contrário do que acontece nos insetos adultos. Sabendo que hemípteros fitófagos apresentam o hábito da coprofagia e que as fezes contendo formas promastigotas e císticas do parasito são certamente uma via de transmissão deste parasito entre os insetos, o comportamento diferenciado entre ninfas e adultos, observado por McGhee e Hanson (1962), pode ser uma explicação para o fato de que, nos três grupos, nem todas as ninfas encontravam-se infectadas (Tabela 4), enquanto que na fase adulta, todos os insetos pesquisados mostraram-se infectados (Tabela 5). O fato de encontrarmos parasitos da espécie L. wallacei em uma porcentagem das ninfas nascidas em potes plásticos, livres de microrganismos, 115 pelo tratamento com hipoclorito de sódio, nos surpreendeu. No entanto, a transmissão hereditária ou vertical de tripanossomatídeos do gênero Leptomonas em insetos hospedeiros, embora não muito aceita, foi postulada por Rodhain (1962). Diante destes resultados e sabendo que a espécie L. wallacei é capaz de produzir formas císticas, decidimos investigar a possibilidade dos ovos recolhidos na colônia parental conterem cistos de L. wallacei. Ao analisar, por meio de MEV, a superfície externa de ovos colhidos na colônia parental (Figura 2), observamos a presença de cistos característicos de L. wallacei mostrando forma ovóide, com cerca de 3 µm de comprimento ao longo do seu eixo longitudinal e invaginação característica de bolsa flagelar (Romeiro et al, 2000; Romeiro, 2001). Ao contrário do observado por Romeiro e colaboradores (2000), em nenhuma de nossas micrografias foi possível visualizar a presença de flagelo residual, apresentado por parte das formas císticas de L. wallacei. Na mesma amostra de fezes frescas de O. fasciatus colhidas na colônia parental foi possível observar por MEV a presença de formas promastigotas viáveis, formas promastigotas apresentando poros na membrana citoplasmática e formas císticas de L. wallacei (figura 1). Em uma das micrografias, foi possível observar a presença de formas císticas, com textura e relevo normais de uma célula viável, ainda ligadas à célula parental, a qual apresentou inúmeros poros em sua membrana celular (figura 1 C). Este fato sugere a importância dos cistos como forma de resistência contra a dessecação e nos levou a propor a hipótese de que, durante ou após a oviposição, ocorre a contaminação dos ovos com as formas císticas presentes nas fezes dos insetos, sendo os cistos, portanto, as fontes de infecção para ninfas recém eclodidas. Para comprovar a nossa hipótese, decidimos promover a assepsia dos ovos recolhidos na colônia parental, através do tratamento com hipoclorito de sódio. Seguindo este tratamento, os ovos incubados em potes plásticos, também submetidos ao tratamento com hipoclorito de sódio, deram origem a ninfas 116 livres de flagelados. Em nenhum dos insetos analisados (ninfas ou adultos) por MO foram observados flagelados parasitando os tubos digestivos (figura 3). Sabendo que os intestinos médio e posterior de O. fasciatus são os sítios de maior concentração de parasitos da espécie L. wallacei (Romeiro et al, 2003) e com o objetivo de confirmar a ausência de parasitos em insetos nascidos de ovos tratados com hipoclorito de sódio, decidimos analisar, por meio de MEV, os tubos digestivos destes insetos, comparando com os tubos digestivos de insetos recolhidos na colônia contaminada com L. wallacei. As micrografias dos intestinos médio e posterior dos insetos colhidos na colônia infectada mostraram a presença de grande número de parasitos aderidos na parede interna do V4 (figura 4 A) e nas almofadas retais (figura 4 B). Em contrapartida, as micrografias de insetos nascidos de ovos tratados mostraram ausência de parasitos, seja no intestino médio (figura 5 A), seja no intestino posterior (figura 5 B). Assim, demonstramos que a transmissão de L. wallacei pode ocorrer de forma vertical, através das formas císticas presentes nas fezes de insetos adultos, que contaminam a parede externa dos ovos. Nos primeiros dias de vida, quando as ninfas apresentam o hábito de se alimentar dos restos dos ovos eclodidos, ingerem os cistos, contraindo a infecção por este parasito. Os insetos nascidos dos ovos tratados com hipoclorito de sódio formaram uma nova colônia, que vem sendo mantida pelo nosso grupo. Periodicamente, alguns insetos são colhidos nesta colônia e analisados para a pesquisa de flagelados em seu conteúdo intestinal. Estando, atualmente, na vigésima quinta geração, em nenhum momento foi observada a presença de insetos parasitados nesta colônia. No intuito de infectar experimentalmente os insetos livres de tripanossomatídeos com parasitos da espécie P. serpens, alimentamos os insetos com suspensões de parasitos, por diversas vezes e de diversas formas, não obtendo êxito em nenhuma delas (dados não mostrados). 117 Com o objetivo de aproximar as condições utilizadas no nosso estudo daquelas descritas por Jankevicius e colaboradores (1989), quando observaram o ciclo biológico da P. serpens, decidimos cultivar os parasitos em tomates da espécie Lycopersicon esculentum, em uma tentativa de obter parasitos com capacidade de estabelecer a infecção em O. fasciatus. Em um primeiro momento, infectamos diferentes variedades de tomates da espécie L. esculentum, com a finalidade de analisar a curva de crescimento destes parasitos nos frutos e de determinar em qual das variedades obteríamos o maior número de parasitos, para a infecção dos insetos. Das variedades testadas (cerasiforme, pyriforme e esculentum), a que apresentou maior título de infecção foi a variedade esculentum, da qual conseguimos extrair, no vigésimo dia de infecção dos tomates, cerca de 2,1 x 108 parasitos/mL de sementes (figura 7). Este resultado sugere que P. serpens, caso tenha a capacidade de causar prejuízos a produtores de tomates, este prejuízo pode se apresentar em diferentes níveis, dependendo da espécie e da variedade de tomate cultivada. Diante dos resultados obtidos com a infecção dos tomates, decidimos utilizar tomates da variedade esculentum para cultivar P. serpens, com o objetivo de infectar os insetos da espécie O. fasciatus. Verificando que os insetos, mesmo em períodos prolongados de jejum, não se alimentavam em tomates infectados, na tentativa de infectar os insetos com P. serpens, extraímos estes parasitos de tomates da variedade esculentum no vigésimo dia de incubação. Em seguida, uma suspensão destes parasitos, na concentração de 1 x 107 células/mL de solução salina, foi oferecida a insetos mantidos na ausência de água e comida por 18 h. Todos os insetos foram observados se alimentando da suspensão de parasitos. Nos dias 2 e 5 após a alimentação dos insetos na suspensão de parasitos, alguns insetos foram dissecados, para pesquisar a presença de parasitos nos intestinos médio e posterior, nas fezes, hemolinfa e nas glândulas salivares. Nestes insetos, foi possível observar, por MO e MEV, a presença de flagelados 118 no V4 do intestino médio. No entanto, em todos os insetos dissecados nos dias posteriores não foi observada a presença de parasitos, seja nos intestinos médio ou posterior, nas fezes, hemolinfa ou nas glândulas salivares (dados não mostrados). A presença de P. serpens colonizando o V4 do intestino médio de O. fasciatus nos dias 2 e 5 posteriores à infecção nos deixou esperançosos, visto que este local foi descrito por McGhee e Hanson (1964) como único sítio intestinal onde ocorre a colonização por P. elmassiani no hospedeiro O. fasciatus. Nas condições utilizadas no presente estudo não obtivemos êxito na tentativa de estabelecer a infecção de O. faciatus com P. serpens. No entento, acreditamos ainda que este inseto possa ser um bom modelo para reproduzir o ciclo biológico de diferentes espécies de Phytomonas, em especial a P. serpens, já que os dados preliminares do nosso grupo indicam que este parasito, ao contrário da L. wallacei, não promove a ativação da resposta imunológica de O. fasciatus in vitro e quando injetado na hemocele deste inseto é capaz estabelecer a infecção (dados não mostrados). Percebendo que as condições utilizadas para a infecção experimental dos insetos não iriam permitir o estudo da interação in vivo com os parasitos da espécie P. serpens, decidimos promover a interação in vitro dos parasitos com as glândulas salivares do inseto O. fasciatus, em condições ex vivo. Para isso, glândulas salivares extraídas dos insetos foram incubadas na presença de suspensão de parasitos a 26oC, por 2 h. A MEV das glândulas incubadas na presença de P. serpens sugere que este parasito é capaz de aderir à membrana basal que reveste este órgão, tanto pelo corpo celular, quanto pelo flagelo (figura 8 A). Na interação de tripanossomatídeos com seus hospedeiros, quase sempre são observados mecanismos de adesão do flagelo com os tecidos do hospedeiros (Brooker, 1971; Schaub & Schnitker, 1988; Tieszen, Molyneux & Abdel-Hafez, 1989; 119 Jensen, Schaub & Molineux, 1990; Moraes et al., 1994). Em contrapartida, a adesão via corpo celular é raramente observada (Romeiro, 1997; Romerio et al., 2000). O perfil de interação de P. serpens com glândulas salivares de O. fasciatus mostrou-se muito semelhante ao observado por Meirelles e colaboradores (2005), para a interação entre Trypanosoma rangeli e glândulas salivares do hemíptero hematófago Rhodnius domesticus. No entanto, enquanto para T. rangeli foi descrito que a invasão da membrana basal ocorre via flagelo, no presente estudo foi observado que a invasão de P. serpens ocorre via corpo celular (figura 8 B). Na figura 8 (C e D) podemos observar que alguns parasitos foram detectados com o corpo celular já inserido no espaço entre a lâmina basal e o epitélio da glândula, embora ainda mantendo os flagelos livres no meio de incubação. Diversos estudos têm revelado a afinidade de moléculas presentes na superfície de tripanossomatideos por diferentes componentes de matriz extracelular de tecidos hospedeiros (Okolo et al., 1990; Love, Esko & Mosser, 1993; Lira, Rosales-Encina & Arguelo, 1997; Bandyopadhyay et al., 2003; Nde et al., 2006). A presença de receptores de superfície de P. serpens para moléculas da membrana basal de glândulas salivares pode conferir um tropismo específico para estes órgãos, o que teria grande importância para o estabelecimento da infecção das glândulas e a continuidade do ciclo biológico do parasito, uma vez que ao ultrapassar a parede intestinal de insetos, esse microrganismo usa como veículo de transporte a hemolinfa (McGhee & Hanson, 1964; Jankevicius, 1992), que banha as glândulas, mas, também, todos os outros órgãos do inseto. Na tentativa de identificar proteínas-alvo para a ligação de P. serpens nas glândulas salivares de O. fasciatus desenvolvemos e publicamos uma nova técnica na qual parasitos vivos, apresentando proteínas de superfície biotiniladas, são incubados na presença de membranas de nitrocelulose, 120 contendo proteínas do tecido hospedeiro, no intuito de se detectar entre estas proteínas quais são os possíveis ligantes para os parasitos (Dias et al., 2007 ANEXO 1). Seguindo o protocolo sugerido por Altin & Pagler (1995), observamos a biotinilação de cerca de oito proteínas de superfície de P. serpens, com massas moleculares variando entre 25 e 100 kDa (figura 10 A). Estas proteínas biotiniladas foram capazes de reconhecer, através de “ligand blotting”, cerca de cinco polipeptídeos apresentando massas moleculares aproximadas de 31, 32, 34, 36 e 130 kDa (figura 11 B). Seguindo a técnica por nós descrita (Dias et al., 2007 - ANEXO 1), observamos que os parasitos biotinilados reconheceram, entre as cinco bandas reconhecidas pelas proteínas de superfície (figura 11 B), apenas uma, com massa molecular aproximada de 130 kDa (figura 11 A). Para determinar se esta banda de 130 kDa era composta por uma ou mais proteínas da glândula salivar, separamos as proteínas totais das glândulas salivares em gel 2D. Desta forma, pudemos notar que a banda de 130 kDa, reconhecida pelos parasitos vivos, era composta por pelo menos quatro polipeptídeos distintos, com pIs variando entre 3-10 (figura 12). Restava, então, determinar qual dos quatro polipeptídeos era reconhecido pelos parasitos. Repetimos, então, o gel 2D e, após transferir os “spots” de proteína para membranas de nitrocelulose, incubamos estas membranas com parasitos biotinilados. Estes parasitos reconheceram o “spot” que apresentava pI entre 6 e 8, que foi recortado do gel 2D e utilizado para a espectrometria de massa, através de MALDI-TOF “fingerprint”, no intuito de identificar este possível ligante. Utilizando o programa MS-Fit, fizemos uma busca por proteínas semellhantes no banco de dados do NCBI e, desta forma, identificamos a p130 da glândula salivar como uma proteína semelhante à cadeia beta-3 da laminina-5 humana, já que o “MOWSE score” desta proteína candidata foi superior a 104 e 121 100 vezes maior que o “MOWSE score” da segunda proteína candidata. Além disso, os peptídeos gerados pela digestão tríptica da p130 e analisados por “fingerprint” cobriram 23% da seqüência de aminoácidos desta proteína (figura 14). Através de “imunobloting”, onde foram utilizados anticorpos epecíficos para a cadeia beta-3, foi demonstrado que a p130 apresentou similaridade antigênica com a cadeia beta-3 da laminina-5 humana (figura 15). Para pesquisar, em insetos da espécie O. fasciatus, a presença de seqüências de nucleotídeos análogas à seqüência do gene beta-3 da laminina-5 humana, extraímos DNA total de glândulas salivares e de ninfas de terceiro estágio e utilizamos este DNA como molde para reação de PCR, onde foram utilizados oligonucleotídeos iniciadores desenhados especificamente para o gene da cadeia beta-3 de humanos. Após a reação, os produtos foram separados em gel de agarose, que mostrou a presença de fragmentos de DNA, com aproximadamente 506 pb, tanto nos sistemas contendo DNA de O. fasciatus, quanto no sistema controle, onde foi utilizado DNA humano como molde para a reação de PCR (figura 16). Fragmentos de DNA com 506 pb são indicados pelo fabricante dos oligonucleotideos utilizados como do tamanho dos produtos amplificados por PCR. A cadeia beta-3 da laminina, que já recebeu a denominação de cadeia beta1k (Gerecke et al., 1994) e kalinina beta-1 (Utani et al., 1995), já foi identificada em humanos e em camundongos. Enquanto em humanos esta proteína mostra-se presente na junção entre a derme e a epiderme, mediando a adesão do epitélio à membrana basal (Rousselle et al., 1991), em camundongos, além de se mostrar presente neste mesmo sítio, também já é encontrada na membrana basal da mucosa oral, da orofaringe e dos brônquios (Utani et al., 1995). Tanto em humanos, quanto em camundongos, esta proteína, após ser secretada pelas células produtoras, reage com as proteínas que formam as cadeias alfa-3 e gama2, para formar a proteína trimérica, a laminina-5 (Rousselle et al., 1991; Utani et al., 1995; revisto por Colognato & Yurchenco, 2000). 122 Análogos da cadeia beta-3 ainda não foram descritos em insetos. No entanto, análogos de outras cadeias foram descritos em Drosophila melanogaster, onde fazem parte de membranas basais de diversos tecidos (revisto por Colognato & Yurchenco, 2000). Neste inseto, foi visto que uma proteína análoga da cadeia alfa-5 da laminina tem importante função na formação do sistema nervoso do embrião (Garcia-Alonso, Fetter & Goodman, 1996). Ainda neste díptero, proteínas análogas das cadeias alfa-1 e alfa-2 foram detectadas, respectivamente, nas membranas basais do epitélio intestinal e do tecido muscular (Martin et al., 1999). Uma série de estudos demonstraram a importância de uma proteína análoga à cadeia gama-1 da laminina na interação de protozoários parasitas do gênero Plasmodium com o intestino de insetos vetores do gênero Anopheles. Esta proteína, que compõe a membrana basal que reveste a face do intestino voltada para a hemocele, é reconhecida por diferentes proteínas presentes na superfície dos parasitos (Vlachou et al., 2001; Arrighi & Hurd, 2002; Dessens et al., 2003). O silenciamento do gene da cadeia gama-1 em Anopheles gambiae provocou uma drástica redução da invasão do intestino pelos protozoários da espécie Plasmodium berghei (Arrighi et al., 2005). Sabidamente, os tripanossomatídeos da espécie Trypanosoma cruzi (Giordano et al., 1994; 1999) e L. donovani (Ghosh et al., 1996; Bandyopadhyay et al., 2003) utilizam receptores específicos para laminina, presentes em sua membrana citoplasmática, para se ligar em células ou na matriz extracelular de tecidos hospedeiros. Em 1994, Giordano e colaboradores demonstraram que anticorpos anti-laminina podem inibir a invasão in vitro de T. cruzi em células de mamíferos, mostrando que a laminina é uma proteína com provável importância na interação deste parasito com o hospedeiro vertebrado. No presente estudo, já sabendo que a proteína da glândula salivar de O. fasciatus reconhecida por P. serpens possuía seqüência peptídica e antígenos semelhantes aos da cadeia beta-3 da laminina-5 humana (figura 14 e 15), 123 decidimos testar o efeito do tratamento prévio das glândulas salivares com anticorpos produzidos contra a cadeia beta-3 da laminina sobre o índice de associação de P. serpens com este órgão. Este tratamento das glândulas foi capaz de reduzir acentuadamente a média de parasitos associados às glândulas. Além disso, foi demonstrado que o perfil de inibição da interação deste parasito com as glândulas salivares, promovida pelas proteínas laminina-5 e p130, em concentrações equivalentes, é bastante semelhante e dose-dependente (figura 18). Desta forma, com base nas evidências descritas, podemos sugerir que a molécula-alvo para a ligação dos parasitos da espécie P. serpens às glândulas salivares do inseto O. fasciatus é a p130, uma proteína homóloga à cadeia beta-3 da laminina. Através da MEV das glândulas salivares de O. fasciatus, incubadas na presença de P. serpens, observamos que, seguindo a adesão do parasito na face externa deste órgão, ocorre a invasão da membrana basal que reveste o epitélio (figura 8). Ao analisar as micrografias da interação, percebemos a presença de orifícios na membrana basal, justamente no local onde ocorreu a adesão e penetração dos parasitos. Estes orifícios não foram observados em regiões da glândula livres de parasitos (figura 8 B e C). De forma semelhante, Meirelles e colaboradores (2005), estudando a interação de T. rangeli com glândulas salivares do hemíptero hematófago R. domesticus, observaram parasitos interagindo individualmente ou em grupos em regiões da membrana basal das glândulas salivares, que mostravam indícios de degradação, apresentando orifícios que não foram observados em regiões da membrana basal livres de tripanossomatídeos. Naquele estudo, Meirelles e colaboradores associaram a formação dos orifícios na membrana basal da glândula de R. domesticus com a liberação para o meio de interação de uma proteína formadora de poro ou perforina do T. rangeli, denominada de rangelisina. Sabendo que a membrana basal de diferentes tecidos é formada majoritariamente por proteínas (Yurchenco & O’Rear, 1994) e que muitos 124 parasitas, entre eles protozoários, utilizam-se de enzimas proteolíticas (secretadas e associadas à superfície celular) para a invasão de tecidos hospedeiros (McKerrow et al., 1993; Roose & Van Noorden, 1995), no presente estudo, pesquisamos se havia a presença de proteases, liberadas por P. serpens durante a interação com as glândulas salivares de O. fasciatus, no intuito de se avaliar a importância destas enzimas para a formação dos orifícios na membrana basal deste órgão. Em 2003, Vermelho e colaboradores mostraram, através de zimografia, que P. serpens é capaz de secretar para o meio de crescimento três proteases, com massas moleculares entre 70 e 94 kDa, que foram caracterizadas como pertencentes à classe das metalo-proteases, de acordo com o perfil de inibição, apresentado por inibidores específicos, utilizados pelos autores. Como discutido por Greig e Ashall (1990) e por Branquinha e colaboradores (1996), as proteases expressas em baixas concentrações podem não ser detectadas facilmente por zimografia. Isto deixa clara a possibilidade de existirem outras proteases secretadas por P. serpens que não foram detectadas por Vermelho e colaboradores (2003). No presente trabalho, detectamos através de zimografia, a presença de duas atividades proteolíticas no sobrenadante da interação entre P. serpens e as glândulas salivares de O. fasciatus, com massas moleculares muito próximas de 63 kDa (figura 19). De acordo com os resultados demonstrados, através da figura 20, nós sugerimos que essas enzimas são secretadas pelos parasitos, durante a interação com as glândulas salivares. No intuito de se determinar a classe proteolítica dessas enzimas, o sobrenadante do meio de interação foi aplicado em SDS-PAGE-gelatina e, posteriormente, incubado na presença de diferentes moduladores (figura 21). A análise do resultado deste experimento nos permitiu constatar que as enzimas proteolíticas, liberadas pelo parasito para o meio de interação, pertencem à classe das metalo-proteases, já que foram e moduladas positivamente pelos íons Ca2+ e Zn2+ e, negativamente, por um 125 inibidor específico desta classe (1,10-Fenantrolina) e por um quelante de íons metálicos (EDTA). Além disso, os inibidores específicos de cisteína- (E-64) e serina-proteases (PMSF) não foram capazes de modular negativamente a atividade proteolítica destas enzimas. Como mostrado na figura 19, entre os valores de pH testados, o que permitiu uma atividade mais acentuada foi o pH 10,0. Recentemente (d’Ávila-Levy et al., 2006b - ANEXO 3), utilizando diversas abordagens, em P. serpens, foi caracterizada uma proteína com massa molecular próxima de 63 kDa, semelhante à gp63, principal glicoproteína presente na superfície de espécies de Leishmania. Esta gp63, em adição, apresenta atividade de metalo-protease (revisto por Yao, Donelson & Wilson, 2003). A proteína semelhante à gp63, embora abundantemente expressa na membrana celular de P. serpens, também foi detectada no sobrenadante da cultura deste parasito. Além de ter sido reconhecida por anticorpos produzidos contra a gp63 de Leishmania amazonensis, assim como a proteína de Leishmania, a proteína semelhantre a gp63 de P. serpens parece ser ancorada à membrana celular deste parasito, via âncora de GPI. Os resultados apresentados por d’Ávila-Levy e colaboradores sugerem uma possível função da proteína semelhante à gp63 de P. serpens na interação com as glândulas salivares de O. fasciatus, uma vez que o tratamento prévio dos parasitos com anticorpo anti- gp63 inibiu significativamente a associação deste flagelado com as glândulas salivares. Ainda naquele trabalho, não foi possível detectar a atividade proteolítica catalisada pela proteína semelhante à gp63. No entanto, os autores não descartam a possibilidade deste fato ser reflexo da baixa acurácia das técnicas utilizadas. Analisando todos estes dados publicados por d’Ávila-Levy e colaboradores, nós sugerimos que as metalo-proteases extracelulares de P. serpens, detectadas no presente estudo, as quais apresentam massas moleculares próximas de 63 kDa (figura 19), são proteases semelhantes à gp63. Esta hipótese é reforçada pelos resultados obtidos através do uso dos moduladores de 126 atividade proteásica, que mostraram perfis de atividade sobre as proteases de P. serpens (figura 21) extremamente semelhantes aos descritos para a gp63 das espécies de Leishmania (revisto por Yao, Donelson & Wilson, 2003), com inibição total induzida pela 1,10-fenantrolina, parcial induzida pelo EDTA e modulação positiva exercida pelo íon Zn2+. Proteínas semelhantes à gp63 já foram descritas em outras espécies de tripanossomatídeos (revisto por Santos, Branquinha & d’Ávila-Levy, 2006). Da mesma forma observada nos estudos referentes às espécies de Leishmania (revisto por Yao, Donelson & Wilson, 2003), diferentes estudos sugerem uma possível função destes homólogos na interação entre tripanossomatídeos monoxênicos e seus insetos hospedeiros (d’Ávila-Levy, 2006a - ANEXO 4; Nogueira de Melo et al., 2006 - ANEXO 6; revisto por Santos, Branquinha & d’Ávila-Levy, 2006). No presente estudo, nós sugerimos que a metalo-protease semelhante à gp63 detectada no sobrenadante da interação de P. serpens com as glândulas salivares de O. fasciatus, pode ser a responsável pela formação dos orifícios na membrana basal, que servem como porta de entrada para a invasão das glândulas salivares pelo parasito. Logicamente, mais estudos serão necessários para comprovar essa suspeita. No entanto, nossa hipótese é reforçada pelos resultados apresentados em dois recentes estudos (McGwire et al. 2002; McGwire, Chang & Engeman, 2003), que mostram que a gp63 secretada por espécies de Leishmania está envolvida com a patogênese no hospedeiro vertebrado, pois participa da degradação de componentes da matriz extracelular de tecidos. O papel da gp63 das espécies do gênero Leishmania na interação com o hospedeiro invertebrado ainda não está bem estabelecido. No entanto, sabe-se que, além de ter uma possível função relacionada à nutrição (Schlein, 1993), 127 pode ser importante no estabelecimento e no desenvolvimento inicial da infecção em Lutzomia longipalpis (Hajmová et al. 2004). Nas espécies de Leishmania, a gp63 liberada para o meio extracelular pode se apresentar sob duas isoformas. Traduzida no retículo endoplasmático, esta proteína passa pelo complexo de Golgi e é levada, por meio de vesículas, até a bolsa flagelar. Estas vesículas, que contêm tanto a forma solúvel, quanto aquela que será ancorada à membrana celular, se fundem com a membrana da bolsa, liberando a forma solúvel para o meio extracelular e adicionando a forma ancorada na membrana plasmática. A forma ancorada pode ser liberada para o meio extracelular, fazendo parte de fragmentos da membrana plasmática e, por este motivo, no meio extracelular podem ser encontradas isoformas da gp63 com diferentes massas moleculares (McGwire et al. 2002; Yao, Donelson & Wilson, 2003). Esta pode ser uma explicação para o fato de termos observado, no presente estudo, a atividade de duas metalo-proteases, com massas moleculares distintas e muito próximas (figura 19), que responderam de forma idêntica à modulação exercida por diferentes substâncias (figura 21). Da mesma forma, d’Ávila-Levy e colaboradores (2006b - ANEXO 3) detectaram em P. serpens, por “imunoblotting”, proteínas semelhantes à gp63, com massas moleculares variando de acordo com a localização na célula e do tratamento prévio das proteínas. No presente estudo, além das metalo-proteases secretadas por P. serpens, detectamos no sobrenadante da interação, enzimas proteolíticas secretadas pelas glândulas salivares (figura 19). Das cinco enzimas secretadas pelas glândulas, somente duas, com massas moleculares entre 14 e 18 kDa, foram observadas na maioria dos experimento (figura 19, 20 e figuras 22-25). Estas duas proteases, provavelmente representam a mesma proteína e a diferença de massa pode ser reflexo de pequenas modificações, como a perda de algum domínio glicídico ou autólise, que não induzem a perda da atividade catalítica. 128 A protease secretada pelas glândulas salivares, da mesma forma que as secretadas pela P. serpens, foram caracterizadas, através do uso de moduladores de atividade proteásica, como pertencente à classe das metalo-proteases (figura 25). Esta protease, que é secretada de forma tempo-dependente, não foi encontrada na saliva das glândulas ou no extrato protéico deste tecido, indicando que a expressão ou a ativação desta protease é induzida por algum fator, ainda indeterminado (figura 24). Curiosamente, percebemos que a secreção desta protease ocorre na ausência ou na presença de P. serpens. No entanto, na presença deste parasito, parece ocorrer uma liberação mais acentuada e, consequentemente, uma atividade mais pronunciada no sobrenadante da interação (figura 23). Em 1999, Feder e colaboradores, estudando a interação de T. rangeli com R. prolixus, observaram na hemolinfa do inseto a expressão de uma metalo- protease de aproximadamente 39 kDa, induzida pelo parasito. Naquele estudo, não foi possível determinar a origem da produção desta metalo-protease. No entanto, foi descartada a possibilidade desta protease ter sido secretada pelo parasito. Da mesma forma que ocorre para as espécies de Phytomonas, no ciclo de vida de T. rangeli, a interação com a face externa das glândulas salivares do vetor é uma etapa crucial. Sabendo que P. serpens é capaz de modular a secreção de uma metalo-protease da glândula salivar de O. fasciatus, não surpreenderia o fato de que a metalo-protease detectada por Feder e colaboradores (1999) tivesse origem na glândula salivar de R. prolixus. Esta possibilidade não foi pesquisada pelos autores. É sabido que serina-proteases participam da ativação da cadeia da profenoloxidase (Ashida & Yamazaki, 1990), responsável em artrópodes pela resposta humoral contra microrganismos que parasitam a hemocele. Esta cadeia leva à melanização e encapsulamento dos parasitas (Raticliffe, 1991). Curiosamente, no estudo de Feder e colaboradores (1999), enquanto inibidores de serina-proteases reduziram em até 70% a melanização dos parasitas, 129 inibidores de metalo-protease bloquearam completamente a ativação da cadeia da profenoloxidase, mostrando que em R. prolixus a metalo-protease liberada na hemolinfa pode ter papel fundamental na ativação da resposta imune contra o T. rangeli. Curiosamente, no presente estudo, em um dos experimentos onde incubamos glândulas salivares de O. fasciatus na presença de um lisado de parasitos, observamos a degradação da metalo-protease, que é secretada pela glândula para o meio de interação (figura 22 A), catalisada por uma cisteínaprotease de P. serpens (figura 22 B e C), descrita por Branquinha e colaboradores (1996). Recentemente, foi mostrado que esta cisteína-protease de P. serpens apresenta similaridades bioquímicas e antigênicas com a principal cisteínaprotease expressa por T. cruzi (Santos et al., 2006 - ANEXO 5). Embora presente majoritariamente em sítios intracelulares, foi possível detectar a presença da proteína semelhante à cruzipaína na superfície P. serpens, fato que nos levou a testar a importância desta cisteína-protease de P. serpens no processo de interação com glândulas salivares de O. fasciatus. De fato, parasitos tratados previamente com diferentes inibidores de cisteína-protease, ou com anticorpos produzidos contra a cruzipaína, mostraram um índice de ligação à glândula salivar muito menos do que o observado em condições controle, sugerindo a participação da proteína semelhante à cruzipaína de P. serpens na interação com as glândulas salivares de O. fasciatus. A importância da cruzipaína na interação de T. cruzi com células e tecidos hospedeiros foi mostrada em uma série de estudos (Piras, Henríquez & Piras, 1985; Meirelles et al., 1992; Franke de Cazzulo et al., 1994). Sabendo que a proteína semelhante à cruzipaína de P. serpens está presente em sua superfície (Santos et al., 2006 - ANEXO 5) e pode degradar a metalo-protease secretada da glândula salivar de O. fasciatus (figura 22), e supondo que in vivo esta metalo-protease da glândula pode ter papel importante na ativação da resposta 130 imune do inseto (Feder et al., 1999) sugerimos, no presente estudo, uma provável participação da proteína semelhante à cruzipaína de P. serpens não só na interação com as glândulas salivares de O. fasciatus, mas também no escape dos sistema imune deste inseto. Esta última hipótese está sendo testada em outro trabalho do nosso grupo. A participação direta da proteína semelhante à cruzipaína de P. serpens na invasão das glândulas salivares de O. fasciatus não pode ser descartada, primeiro porque a cruzipaína de T. cruzi tem conhecido envolvimento no processo de invasão de células hospedeiras (Piras, Henríquez & Piras, 1985; Meirelles et al., 1992; Franke de Cazzulo et al., 1994) e segundo porque o tratamento prévio de P. serpens com anticorpos anti-cruzipaína ou com o E-64, um inibidor específico de cisteína-proteases, incapaz de atravessar a membrana plasmática, foi capaz de inibir acentuadamente a associação de P. serpens com glândulas salivares de O. fasciatus (Santos et al., 2006 - ANEXO 5). 131 CONCLUSÕES 132 - A transmissão de L. wallacei entre insetos da espécie O. fasciatus pode ocorrer de forma vertical, através das formas císticas presentes nas fezes de insetos adultos, que contaminam a parede externa dos ovos; - O crescimento de P. serpens em tomates pode apresentar diferentes perfis, dependendo da variedade da espécie de tomate L. esculentum infectada; - Nas condições utilizadas no presente trabalho não foi possível estabelecer a infecção in vivo de P. serpens em insetos da espécie O. fasciatus; - Em condições in vitro, P. serpens é capaz de aderir à membrana basal, que reveste externamente as glândulas salivares de O. fasciatus, via flagelo ou corpo celular, e atravessar esta barreira via corpo celular; - P. serpens é capaz de reconhecer uma proteína de 130 kDa, presente nas glândulas salivares de O. fasciatus, a qual possui seqüência peptídica e antígenos similares a cadeia beta-3 da lamina; - No DNA de O. fasciatus parece existir seqüência homóloga ao gene da cadeia beta-3 da lamina; - O tratamento prévio de glândulas salivares de O. fasciatus com anticorpo anti-cadeia beta-3 da laminina, assim como o tratamento prévio de P. serpens com a laminina-5 ou com a p130, foi capaz de inibir, de forma dose-dependente, a interação deste parasito com as glândulas salivares do inseto; - A p130 parece ser a molécula-alvo para a ligação de P. serpens às glândulas salivares de O. fasciatus; 133 - Durante a interação com as glândulas salivares de O. fasciatus, P. serpens é capaz de liberar para o meio de interação uma metalo-protease, com massa molecular próxima de 63 kDa, que apresenta semelhanças bioquímicas com a metalo-protease gp63 expressa por diferentes espécies de Leishmania; - A proteína semelhante à gp63, secretada por P. serpens, pode ter importante papel na invasão das glândulas salivares de O. fasciatus; - Na presença ou na ausência de P. serpens, as glândulas salivares de O. fasciatus liberam para o meio de incubação uma metalo-protease, com massa molecular entre 14 e18 kDa; - A proteína semelhante à cruzipaína de P. serpens é capaz de degradar a metalo-protease secretada pelas glândulas salivares de O. fasciatus, podendo desempenhar importante papel na interação com este órgão. 134 BIBLIOGRAFIA 135 ALTIN, J.G. & PAGLER, E.B. 1995. 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