Área: A Universidade na Sociedade do Conhecimento A Universidade do Futuro na Sociedade do Conhecimento: O Ensino Superior a Distância Semipresencial Eloiza da Silva Gomes de Oliveira - [email protected] Cristina Pfeiffer - [email protected] Resumo: O artigo relata algumas estratégias que estão sendo utilizadas na gestão de cursos a distância de Ensino Superior na modalidade semipresencial, resultado de uma parceria entre a Fundação CECIERJ (Centro de Ciências e Educação Superior a Distância) / Consórcio CEDERJ (Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro) e seis universidades públicas sediadas no Estado do Rio. Como estudo de caso, são mostradas as estratégias utilizadas em um dos cursos, Licenciatura em Pedagogia para Séries Iniciais do Ensino Fundamental, oferecido em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Também são relatados alguns resultados obtidos na avaliação institucional deste curso, realizada no segundo semestre de 2006. Palavras-chave: Educação a Distância, Ambientes virtuais de aprendizagem, Estratégias Educacionais, Gestão do Conhecimento, e-Learning. Introdução A sociedade do conhecimento, gerada a partir dos avanços das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativas, está provocando uma grande mudança na relação das pessoas com o saber. São inúmeras as possibilidades para a construção coletiva do conhecimento e colaboração em rede, tornando possível a criação de ambientes que podem complementar os espaços reais de aprendizagem já conhecidos. Esses avanços também estão fazendo a modalidade de Educação a Distância (EAD) ganhar grande importância, em função de uma aproximação cada vez maior com as muitas formas de aprendizagem on-line. O artigo relata algumas estratégias que estão sendo utilizadas na gestão de cursos a distância pertencentes ao Ensino Superior, na modalidade semipresencial. Esses cursos estão sendo oferecidos pela parceria entre a Fundação CECIERJ (Centro de Ciências e Educação Superior a Distância) / Consórcio CEDERJ (Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro) e seis universidades públicas sediadas no Estado do Rio. O objetivo de se utilizar esta modalidade de ensino é oferecer programas flexíveis de ensino e aprendizagem, centrados no aprendiz, e fundamentados nos princípios da educação continuada e permanente. No entanto, para que isto aconteça, são indispensáveis alguns procedimentos, que são efetuados nos pólos de atendimento ao aluno e dizem respeito ao ensino universitário tradicional. Da mesma forma, é utilizada uma plataforma de e-Learning, que disponibiliza materiais didáticos e espaços de aprendizagem baseados na multimídia, para possibilitar uma maior autonomia ao aluno em seu processo de aprendizagem. No artigo também é apresentado um estudo de caso, relacionado com o curso de Licenciatura em Pedagogia para Séries Iniciais do Ensino Fundamental, que está sendo oferecido pelo Consórcio CEDERJ em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Neste estudo são relatados alguns resultados da avaliação institucional, realizada no segundo semestre de 2006 pelo consórcio CEDERJ, e que abordou questões relacionadas com a gestão das estratégias utilizadas em cursos de Ensino Superior a distância semipresenciais. O artigo está dividido em: fundamentação teórica com os principais conceitos utilizados na elaboração do artigo (II); o modelo de Ensino Superior a Distância utilizado pelo Consórcio CEDERJ e uma descrição do curso de Pedagogia para Séries Iniciais do Ensino Fundamental em parceria com a UERJ (III); relato de resultados obtidos por este curso na avaliação institucional de 2006(IV); conclusões (V) e referências bibliográficas. 1- Fundamentação teórica Os principais conceitos utilizados para a elaboração deste artigo são apresentados a seguir: 1.1- A importância da Sociedade do Conhecimento A história da produção e da difusão do conhecimento na sociedade constitui-se, segundo Thomas Kuhn (1987), em uma alternância de momentos de “normalidade” e de revolução científica, permitindo-nos afirmar que, em ambos, o homem buscou desenvolver a sua capacidade física e cognitiva, por meio de tecnologias que fizeram a mediação entre ele e a natureza. O futurólogo Alvin Toffler (1971, 1995) sistematizou esta relação através de três “ondas” de revoluções tecnológicas, políticas e culturais. A primeira, vivenciada no século XIX foi a revolução agrícola; a segunda, do século XX, a revolução industrial; a terceira, correspondente ao século XXI, a revolução do conhecimento. Esta, segundo ele, em países como o Brasil, pode resultar no aumento da desigualdade e do “fosso” da exclusão. Em entrevista à BBC Brasil1, o autor afirmou: No caso do Brasil, por exemplo, eu acredito que existam na verdade três países diferentes. Há o Brasil da primeira onda, em que as pessoas trabalham na terra da forma que seus ancestrais faziam há centenas de anos, produzindo só o necessário para sobreviver. O Brasil da segunda onda é visto em São Paulo e em várias outras regiões do país, com grande urbanização, muitas indústrias, engarrafamentos e poluição. E também é possível encontrar no Brasil, de uma forma ainda incipiente, uma parte da sociedade que já vive a terceira onda. São pessoas que estão na internet, usam computadores de forma rotineira e têm empregos que exigem um conhecimento cada vez mais sofisticado. O Brasil é um país heterogêneo, cultural e racialmente, e hoje também comporta três estruturas econômicas diferentes. A expressão sociedade do conhecimento passou a ser utilizada, nos últimos anos do século passado, como substituto para o conceito complexo de “sociedade pósindustrial” e como forma de transmitir o conteúdo específico deste “novo paradigma técnico-econômico”. A realidade que os conceitos das ciências sociais procuram expressar refere-se às transformações técnicas, organizacionais e administrativas que têm como “fator-chave” não mais a busca dos insumos baratos de energia (como na sociedade industrial), mas os insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações. Com o surgimento da sociedade do conhecimento, os modelos econômicos que vão reger esta nova sociedade precisam ser revistos, no sentido de incorporar conhecimento não apenas como mais um fator de produção, mas como o fator essencial do processo de produção e geração de riqueza. Peter Drucker, em Post-Capitalist Society (1993), enfatizava que o conhecimento tornou-se o “recurso essencial da economia” e que o fator de produção decisivo não é mais nem o capital nem o trabalho, mas o conhecimento. Isso não significa, no entanto, que os fatores clássicos de produção desapareceram, mas sim que tornaram-se secundários. Eles podem ser obtidos com alguma facilidade, desde que tenhamos posse do conhecimento, o novo fator de produção. Esta “revolução” traz, porém, a necessidade de novas formas de gerir o conhecimento, de obtê-lo e utilizá-lo. Traz, portanto, novos desafios para a Educação. Para Senge (1999, p. 487) grande parte da confusão e da frustração quanto à gestão do conhecimento vem da pouca clareza na distinção entre informação e 1 Disponível em http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2002/08/3ondanicaopoparaoBrasil.shtml. Acessada em 18/04/2007. conhecimento. “As pessoas investem em sistemas para captar, organizar e disseminar informações, e depois chamam isso de conhecimento”. Na sociedade do conhecimento, que tem por base o capital humano ou intelectual, a educação é universal e aponta para novas áreas de saber, que requerem mais treinamento e educação atualizada para sua aplicação. Profissionais universitários e especializados tornam-se o maior grupo empregado. No entanto, esta nova forma de capital sofre rápida defasagem com a rapidez com que o conhecimento e a tecnologia se tornam obsoletos. Desta forma, a educação contínua e a descoberta de novas formas de aprender e de pensar constituem um grande desafio para o capital humano. Voltando ao desafio que constitui, para países ainda em desenvolvimento, esta nova sociedade, vale a pena atentar para as palavras de Demo (2000), que alerta para a necessidade de uma preocupação “social” que acompanhe o vertiginoso desenvolvimento das tecnologias: Uma das marcas mais profundas da atual sociedade é a de ser “sociedade do conhecimento”. (...) o combate à pobreza e à exclusão precisa levar em consideração o desafio do conhecimento. (...) a sociedade do conhecimento confia mais na educação, porque está mais próxima da cidadania emancipatória, tendo no conhecimento seu instrumento principal. (...) Aos educadores compete cuidar que o conhecimento, além de não servir apenas ao mercado, se curve aos objetivos da educação, tendo em vista a necessidade de combater, mais do que a carência material, a pobreza política ou a ignorância historicamente produzida e mantida. Política social do conhecimento, se bem conduzida, pretende colocar o pobre como artífice central de seu destino, com base na aprendizagem reconstrutiva política. (Demo, 2000, p. 5). Para Belloni (2001) as características da sociedade do conhecimento que mais impactam a educação são: maior complexidade, mais tecnologia, compreensão das relações de espaço e tempo, trabalho mais responsabilizado, mais precário, com maior mobilidade, exigindo um trabalhador multicompetente, multiqualificado, capaz de gerir situações de grupo, de se adaptar a situações novas, sempre pronto a aprender. Enfim, um trabalhador mais informado e mais autônomo. É natural, então, que a Educação a Distância (EAD) surja como estratégia característica da sociedade do conhecimento. No Brasil ela é normatizada pelo Decreto Nº. 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o Artigo 80 da Lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O Artigo 1º do referido decreto estabelece um conceito de EAD: “Art. 1º. Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação”. Hargreaves (2004) apresenta análises interessantes sobre a Educação na sociedade do conhecimento que deve ser, segundo ele, aprendente, criativa e solidária, uma “sociedade de aprendizagem”. Em obra anterior, escrita com Michael Fullan (2000), o autor já falava em “escola total e professor total”, ambientes voltados para a cultura cooperativa, onde a interdependência forma o âmago das relações, fazendo com que cada um se sinta parte do grupo e de um trabalho em equipe. Utiliza como exemplo de “escola aprendente” aquela focada em novos resultados, voltada menos ao ensino tradicional e mais em termos do ensino para a compreensão e desempenho num mundo em transformação. Como manter as Instituições de Ensino Superior afastadas de questões tão importantes e de tamanho impacto na sociedade? Faz-se necessário, então, construir uma “Universidade do futuro” que, sem perder o viés crítico sobre a sociedade do conhecimento, possa atender às demandas de que falamos neste tópico. Todescat (2006), falando desta nova universidade, afirma: Compreende-se, portanto, ser de extrema pertinência estar buscando novos modelos organizacionais para a universidade, pois cabe a esta ser fornecedora de novos conhecimentos, processos e práticas para a sociedade. A contemporaneidade da EAD, a partir da utilização das novas TICs, seguramente, está instrumentalizada para criar um novo ambiente organizacional de universidade, fomentando as redes de cooperação e a criação e disseminação do conhecimento, matéria-prima desse “novo mundo”. 1.2- A Universidade do futuro Segundo Peters (2004), as novas abordagens para o Ensino Superior serão baseadas nas seguintes formas básicas de aprendizagem acadêmica: • auto-instrução orientada, através de trabalho interativo individual com CD-Roms e/ou DVDs, mídias que oferecem um grande número de novas oportunidades educacionais e a leituras independentes de bibliografia recomendada e de literatura especializada adicional; • estudo a partir de comunidades virtuais e grupos de trabalho em um ambiente informatizado de aprendizagem através de redes para obtenção de informações científicas para comunicação e colaboração; • interação social ou formas interativas e comunicativas de ensino, através de encontros presenciais em ambiente universitário tradicional. Isto deverá incluir debates acadêmicos livres em seminários, aulas ou laboratórios. A transmissão rápida de informações a qualquer momento e para toda parte, genuínas possibilidades para a aprendizagem autônoma, maior interatividade, mais orientação para os alunos, maior individualização, melhor qualidade dos programas e maior eficácia da aprendizagem são as principais características da Universidade do futuro. Dessa forma, o ensino e a aprendizagem na Universidade do futuro deverão ser orientados para os princípios da educação continuada e da educação permanente (Dohmen 1996, apud Peter 2004), ter um caráter igualitário e ser aberta assim como ser orientada para o estudante, para a prática e para o futuro. Neste contexto surge a Educação a Distância, uma modalidade de ensino baseada na aplicação da tecnologia à aprendizagem, sem limitação de lugar e tempo, permitindo uma maior flexibilidade de horários para estudo. O aluno passa a dirigir a maior parte de seu processo de aprendizagem, tornando-se mais livre e autônomo em relação àqueles alunos que estudam por serem obrigados pelo próprio regime e estrutura do ensino tradicional. A EAD está desafiando as instituições acadêmicas e corporativas a repensarem seus modelos pedagógicos que possibilitam o uso de novas metodologias educacionais para apoiar o processo de desenvolvimento cognitivo e social dos indivíduos. Apesar de cada instituição seguir o seu próprio modelo pedagógico, existem, segundo Santos (2000), 5 (cinco) componentes estratégicos comuns, listadas a seguir: - Os Conteúdos Na EAD o maior desafio está na produção de conteúdos atraentes, que devem ser preparados para a auto-aprendizagem, com qualidade e em vários formatos, usando tecnologia de baixo custo. Isto exige técnicas eficientes de design instrucional. - Professores/Formadores ou tutores Os profissionais envolvidos devem apresentar competências científicas, pedagógicas e tecnológicas. - Sistemas de interação Esses sistemas facilitam a comunicação entre os atores do ambiente, podem ser informativos, de aconselhamento, de ajuda remota além de permitirem a participação dos alunos em fóruns de discussão. - Tecnologias Consistem de um meio para possibilitar o processo de ensino-aprendizagem. A idéia seria monitorar o funcionamento das ferramentas de EAD existentes. Vale citar aqui a plataforma de e-Learning do Consórcio CEDERJ, um CLMS (Content Learning Management System), onde são disponibilizados não os conteúdos de todos os cursos de graduação a distância semipresenciais oferecidos como também ferramentas que caracterizam um ambiente virtual de aprendizagem (item III). - Sistemas de Avaliação Esses sistemas devem ser rigorosos e transparentes para avaliar os alunos, as ações de formação, os sistemas de gestão e de comunicação, fazendo uso de Indicadores de Qualidade. No Brasil, a EAD ganhou um grande impulso após o decreto baixado pelo Executivo Federal, o de nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, de acordo com o qual permanece válida e com eficácia a Portaria nº 4.059, de l0 de dezembro de 2004. Essa portaria permite o uso de EAD em disciplinas ou conteúdos que correspondam a 20% da carga horária dos cursos de graduação, devidamente reconhecidos, no ensino superior federal e privado (Alves 2006). As perspectivas surgidas para a EAD em todo o país, principalmente com a criação desta portaria, geraram modelos que estão sendo adotados no Ensino Superior valendo destacar o Consórcio CEDERJ (http://www.cederj.edu.br/cecierj) da Fundação CECIERJ, descrito no item III. Outro modelo que vale ser citado é o Projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB) (http://www.uab.mec.gov.br/), criado pelo Ministério da Educação, em 2005 (BRASIL, 2006). 2- O modelo da Fundação CECIERJ / Consórcio CEDERJ – um pouco de história O Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), tomou a decisão política de utilizar a Educação a Distância para viabilizar a formação de pessoas que vêm sendo excluídas do processo educacional, por questões de localização ou por indisponibilidade de tempo nos horários tradicionais de aula. Um dos aspectos que influiu nessa decisão foi a dificuldade de deslocamento de alunos do interior do Estado para as grandes cidades. Boa parte desses alunos não retorna a seus municípios de origem, o que seria desejável, em razão da natural importância de uma melhor participação social no desenvolvimento das regiões do Estado. Dessa forma, a Educação a Distância contribui na medida em que permite formar profissionais sem deslocá-los de seus municípios. Em 1999, quando começaram as discussões que deram origem ao Consórcio, o setor público ofereceu 17.591 vagas em Cursos de Graduação, das quais apenas 685 foram alocadas fora da região do Grande Rio. Fica claramente configurada a concentração de oportunidades no âmbito restrito dos municípios que formam a área metropolitana do Estado. No mesmo ano, 322.760 candidatos prestaram vestibular em todo o Estado, demanda com perspectiva de forte crescimento. Levando-se em conta a crescente procura por profissionais capacitados no mercado de trabalho, faziam-se necessárias, portanto, medidas no sentido de oferecer à população do Estado do Rio de Janeiro mais um horizonte de qualificação. Finalmente, cabe mencionar a enorme carência de profissionais da área de educação para o ensino fundamental e médio da rede pública. Nesse contexto, a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) iniciou, em 1999, um trabalho com o objetivo de aumentar expressivamente as oportunidades de acesso ao ensino superior (principalmente no interior do Estado) utilizando a Educação a Distância, por meio do estabelecimento de um consórcio entre as universidades públicas sediadas no Estado: Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ; Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO; Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF; Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Universidade Federal Fluminense – UFF; Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ. Após um ano de trabalho conjunto, a SECTI e as Universidades celebraram o consórcio Centro de Ensino a Distância do Estado do Rio de Janeiro – CEDERJ, assinado pelo Excelentíssimo Governador do Estado, pelo Ilustríssimo Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia e pelos Magníficos Reitores das universidades públicas sediadas no Estado do Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 2000. O Consórcio foi renovado em 15 de maio de 2005 e publicado no Diário Oficial do Estado do rio de Janeiro em 25 de maio de 2005. Os consorciados definiram que os objetivos do CEDERJ são: contribuir para a interiorização do ensino superior gratuito e de qualidade no Estado do Rio de Janeiro; contribuir para o acesso ao ensino superior daqueles que não podem estudar no horário tradicional; atuar na formação continuada a distância de profissionais do Estado, com atenção especial ao processo de atualização de professores da rede estadual de ensino médio; aumentar a oferta de vagas em cursos de graduação e pós-graduação no Estado do Rio de Janeiro. Para cumprir tais objetivos, a estratégia é a Educação a Distância (EAD), entendida como EDUCAÇÃO, e não como mero processo de ensino ou tecnologia de caráter instrucional, com a elaboração e o oferecimento de cursos nos mesmos padrões de qualidade de ensino das instituições consorciadas. Nessa estratégia, os alunos são construtores de conhecimento, participantes ativos de um processo organizado e sistêmico, e, neste processo, o CEDERJ lhes oferece os instrumentos de mediação, os recursos de tutoria e apropriação de conteúdos, habilidades e competências. O CEDERJ desenvolve seus cursos orientando-se pelos seguintes princípios: planejamento das ações pedagógicas e tecnológicas, considerando as necessidades de aprendizagem, o perfil cultural dos alunos, os ambientes a serem atendidos e as demandas locais por programas de formação, aperfeiçoamento ou atualização; estruturação de cada curso com base em um projeto pedagógico que direcione a elaboração e execução do currículo a partir de discussões coletivas; elaboração de currículos, segundo o perfil que se deseja para o aluno, considerando uma metodologia de ensino que privilegie a atitude de pesquisa como princípio educativo; acompanhamento tutorial e processo avaliativo nas formas presencial e a distância; articulação da teoria e da prática no percurso curricular, com predominância da formação sobre a informação e contemplando a indissociabilidade e a complementaridade entre ensino, pesquisa e extensão; formação do ser integral, capaz de atuação profissional ética e competente e de participação nas transformações da sociedade; manutenção de processos de avaliação contínua, considerando o desempenho dos alunos e a ação pedagógica, com vistas ao constante aperfeiçoamento dos currículos. A proposta do CEDERJ visa a suprir as Universidades Consorciadas com uma estrutura de produção de material didático e operacionalização da Educação a Distância. Uma vez que a experiência em ensino de graduação a distância em diversos países mostrou ser o processo enriquecido quando os alunos dispõem de pólos regionais de atendimento, o projeto prevê a instalação de pólos em todo o Estado do Rio de Janeiro. Estes servem como referência física aos alunos, que contarão com atendimento personalizado. A infra-estrutura e os serviços incluem: salas de estudo, microcomputadores conectados à Internet, multimeios, videoconferências, supervisão acadêmica, biblioteca, recursos audiovisuais, seminários presenciais e distribuição de material didático, contribuindo para o vínculo do aluno com o CEDERJ. Nos pólos serão realizados, ainda, os exames presenciais. No projeto do CEDERJ, a competência acadêmica está a cargo das Universidades, cabendo ao Governo do Estado a responsabilidade pela produção do material didático e gerenciamento do processo. Ao Estado compete, ainda, em conjunto com as prefeituras municipais, a montagem e a operacionalização dos pólos. Neste contexto, cabe às Universidades Consorciadas o registro acadêmico dos alunos, a definição dos currículos, a elaboração dos conteúdos do material didático, a realização da tutoria a distância, a orientação acadêmica, a avaliação dos alunos nas formas presencial e a distância e a emissão dos diplomas. São responsáveis, também, pelo treinamento dos tutores para os pólos regionais. O acesso aos cursos de graduação é feito a partir da aprovação em um concurso vestibular do consórcio Cederj. O estudante fará tanto o vestibular quanto todo o curso de graduação sem sair de sua cidade, através de um processo de ensino e aprendizagem semipresencial. O aluno do CEDERJ é, na realidade, um aluno regularmente matriculado em uma das universidades públicas consorciadas, dependendo do curso e do pólo regional a que está vinculado, recebendo diploma equivalente dos alunos presenciais. Cabe aos municípios onde estão localizados os pólos a manutenção de um espaço físico, aberto das 9 às 22 horas, com infra-estrutura organizacional que permita sua plena operação. Finalmente, ficou sob a responsabilidade do Estado a estruturação do Núcleo Gestor do CEDERJ, que criou, em colaboração com os consorciados, uma estrutura que propicia técnicas e tecnologias de Educação a Distância, produz o material didático e administra a vida acadêmica dos alunos. Também ficou a cargo do Núcleo Gestor a circulação do material didático, a interação de alunos e docentes no processo de tutoria, a viabilização da avaliação presencial e a distância e a administração dos pólos regionais, em parceria com os municípios. Para isto, foi criada a Fundação CECIERJ / Consórcio CEDERJ, com a união da autarquia Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro - CECIERJ e o Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro - CEDERJ. O Governador do Estado do Rio de Janeiro em 2002, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o que consta do artigo 4º, parágrafo único da Lei Complementar N.º103, de 18 de março de 2002, e ao que consta no Processo E-26/082/2002, divulgou o DECRETO N.º 31.114, que dispõe sobre a Fundação CECIERJ. 2.1- O curso de Pedagogia para Séries Iniciais Todos os cursos de graduação ministrados pelo Consórcio CEDERJ constam da plataforma de e-Learning especialmente desenvolvida para atender ao projeto de EAD. A esta os alunos têm acesso usando seus “logins” e senhas pessoais. Todos os materiais dos cursos ministrados pelo CEDERJ são apresentados em duas versões: impressa e virtual. A versão impressa constitui-se de cadernos didáticos organizados de acordo com a divisão modular de cada disciplina. No ambiente virtual os textos são enriquecidos com apresentações animadas, recursos visuais e sonoros diversos e muita interatividade. A Figura 1 mostra a tela de entrada do curso de Pedagogia para Séries Iniciais com os menus principais valendo destacar: Informações Acadêmicas (grade de curso, guia do curso, guia de disciplina, horários de tutorias e calendários das práticas); Material Didático (material impresso, exercícios e complementos, aulas na Web); Ferramentas (E-mail, Sala de Tutoria, Fórum, Bate-Papo). Observe que na tela da Figura 1 aparecem todas as disciplinas do curso nas quais o aluno está matriculado no semestre vigente, avisos destaque, notícias do curso e do pólo ao qual o aluno está associado. Disciplinas do curso Figura 1: Portal de acesso à Plataforma CEDERJ Fonte: CEDERJ. http://www.cederj.edu.br. Acesso em maio de 2007 Na Figura 1, ao clicar no título de cada disciplina aparecerá uma tela que corresponde a um espaço de aprendizagem onde são disponibilizadas informações associadas à disciplina tais como: material impresso, avaliações, exercícios e complementos, aula na web, guia de orientação, material complementar, ementa, sala de tutoria, os outros participantes da disciplina e alguns avisos. Outro recurso importante da tela da disciplina são as comunidades virtuais que incluem fóruns de discussão sobre temas relevantes definidos pelo coordenador desta disciplina e Bate-Papo. O processo-aprendizagem em que se baseia o curso compreende cinco etapas fundamentais: a reflexão sobre a prática, a articulação das quatro áreas do conhecimento (Fundamentos, Linguagens, Ciências Sociais, Ciências Exatas e da Natureza), a reformulação das práticas cotidianas, a formulação de um projeto político-pedagógico e a participação ativa na rede virtual de formação continuada. A carga horária mínima de 2.805 horas é distribuída em módulos de 30, 60 e 90 horas, em três anos. A grade curricular compõe-se de dois núcleos: o de formação específica (2.280 horas), formado de disciplinas /atividades acadêmicas obrigatórias e eletivas, e o de formação complementar (525 horas) formado de disciplinas /atividades que integram a formação em serviço. A avaliação no curso é formativa e envolve: exercícios programados (EPs) associadas às unidades didáticas que permitem ao aluno se auto-avaliar no acompanhamento de cada disciplina do curso; provas e tarefas a distância (ADs), que permitem uma maior interatividade do aluno com os docentes da UERJ e totalizam 20% da nota final do aluno em cada disciplina; e avaliações presenciais, que totalizam 80% da nota final e que ocorrem semestralmente no pólo ao qual o aluno está associado. 3- Características e desafios na gestão da EAD: alguns resultados significativos A avaliação institucional realizada anualmente pelo Consórcio CEDERJ procura seguir o processo de avaliação preconizado pelo SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior que inclui: avaliação participativa, integração, rigor, eficácia informativa, flexibilidade e institucionalidade. Estes foram os critérios adotados pela coordenação do curso de Pedagogia para Séries Iniciais oferecido pela UERJ na avaliação realizada, no segundo semestre de 2006. Os resultados desta avaliação gerou um relatório com as respostas dos alunos ao questionário disponibilizado online12 na plataforma do CEDERJ. Neste questionário os alunos avaliaram: a infra-estrutura nos pólos; o desempenho da plataforma do CEDERJ; 1 O endereço do site onde os alunos respondem ao questionário avaliativo é http://www.cederj.edu.br/cecierj/ os materiais didáticos (impresso e na web); as tutorias (presencial e a distãncia) e as avaliações (presencial e a distância). Veja a seguir a tabulação com os principais comentários feitos pelos alunos nas respostas aos questionários: Infra-estrutura nos pólos Reivindicações: em cinco dos oito pólos que oferecem o curso pela UERJ, os alunos reivindicaram: adaptação das instalações do pólo para portadores de necessidades educativas especiais; aumento de número de funcionários; aquisição de equipamentos para o laboratório de informática e mobiliário mais confortável; horários mais flexíveis para o funcionamento do pólo durante a semana. A biblioteca também foi um reivindicação coletiva em todos os pólos. A Fundação CECIERJ já resolveu este problema com a aquisição do software Pergamum, em dezembro de 2006. Uso da Plataforma Problemas: falta de atualização do conteúdo; lentidão no acesso; dificuldade com o download de arquivos em PDF e no acesso ao fórum. Ponto positivo: os alunos elogiaram a eficiência no atendimento realizado pela equipe de funcionários em todos os pólos. Material didático impresso (MD) Fatos observados: atrasos na distribuição; quantidade insuficiente de MD; xerox de má qualidade e fragmentação (MD deveria se em um único volume); necessidade de revisão do MD (conteúdo adequado a quem não atua em sala de aula). Material didático na web Problemas: dificuldades de acesso (download); não acompanha a seqüência dos módulos do MD; precisa estar mais organizado (em pastas, por exemplo). Ponto positivo: apesar dos problemas apontados, os alunos elogiaram o MD e a respectiva importância. Ponto positivo: Os alunos adoram as aulas na web. Tutoria presencial Reivindicações: participação dos Coordenadores das disciplinas no processo de seleção dos tutores; todas as tutorias deveriam ser realizadas aos sábados sem a exigência de freqüência. Ponto positivo: os alunos destacaram a importância da tutoria presencial para o curso. Avaliação presencial (AP) Sugestões: os conteúdos abordados nas APs deveriam ser bem dosados com enunciados mais claros. As APs deveriam ser devolvidas aos alunos e a divulgação das notas deveria ser mais rápida. Tutoria a distância Problemas: dificuldades no acesso aos tutores através do 0800 e de e-mail. Ponto positivo: os alunos elogiaram os tutores a distância e as estratégias didáticas utilizadas pelos mesmos. Avaliação a distância (AD) Problemas: as ADs deveriam conter conteúdos diferentes das APs e disponibilizadas na plataforma do CEDERJ com maior antecedência. A divulgação das notas deveria ocorrer mais rapidamente. Ponto positivo: os alunos consideraram este tipo de avaliação muito importante. Outras sugestões Reformulação do material didático de Fundamentos; aumento no número de disciplinas eletivas no curso de Pedagogia; manutenção dos laboratórios de informática; maior flexibilidade do calendário; capacitação dos tutores; qualidade do projeto político-pedagógico do curso. 4- Conclusões O curso de Licenciatura em Pedagogia para Séries Iniciais do Ensino Fundamental, oferecido em parceria com a (UERJ) ambiciona ultrapassar os limites da modernidade, baseando-se em práticas tecnológicas que oferecem condições de construção dos conteúdos essenciais para o domínio das ciências básicas que orientam o processo pedagógico. Este processo tem origem na prática cotidiana, orientado-se para possibilitar ao profissional de Educação a consolidação dessa prática, através de aprofundamentos teóricos cuja função será aprimorá-la e promover o sucesso da aprendizagem significativa dos alunos. (Gama & Oliveira apud Silva 2006). Referências Bibliográficas ALVES, J. R. M.. 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