3 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Licenciatura em Matemática Trabalho de Conclusão de Curso [Digite o título do documento] [Digite o subtítulo do PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO documento] TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO OBSTÁCULOS APRESENTADOS POR ALUNOS DO 6º ANO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Sherley DO CAMPO MULTIPLICATIVO Matemática Autor: Daniela Fernandes Cruciol CIFRA DE HILL Orientadora: Profa. MSc. Erondina Barbosa da Silva Autor: Elaine da Silva Mantovani Orientador: Sinval Braga de Freitas Brasília - DF 2012 4 DANIELA FERNANDES CRUCIOL OBSTÁCULOS APRESENTADOS POR ALUNOS DO 6º ANO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DO CAMPO MULTIPLICATIVO Artigo apresentado ao curso de graduação em Matemática da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciado em Matemática. Orientadora: Profa. MSc. Erondina Barbosa da Silva Brasília 2012 3 Artigo de autoria de Daniela Fernandes Cruciol, intitulado “OBSTÁCULOS APRESENTADOS POR ALUNOS DO 6º ANO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DO CAMPO MULTIPLICATIVO”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Matemática da Universidade Católica de Brasília, em 26 de novembro de 2012, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: _____________________________________________________ Professora Mestre Erondina Barbosa da Silva Orientadora Matemática – UCB _____________________________________________________ Professor Mestre Sinval Braga de Freitas Matemática - UCB _____________________________________________________ Professor Mestre Vilmondes Rocha Matemática – UCB Brasília 2012 3 OBSTÁCULOS APRESENTADOS POR ALUNOS DO 6º ANO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DO CAMPO MULTIPLICATIVO DANIELA FERNANDES CRUCIOL Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar o nível de aprendizagem dos alunos do 6º ano do ensino fundamental, em relação ao campo conceitual multiplicativo, principalmente no que diz respeito à resolução de problemas, por meio da análise das estratégias e obstáculos evidenciados na produção matemática de 12 alunos na resolução de 16 problemas que envolviam as operações de multiplicação e divisão. A pesquisa foi fundamentada na Teoria dos Campos Conceituais de Gerard Vergnaud (1990, 2009). Os dados da pesquisa foram coletados com doze alunos de uma escola pública de uma região administrativa do Distrito Federal. Na correção dos problemas, foram observadas a interpretação, a estratégia, a resolução e a resposta final. Com isso, percebeu-se que esses alunos estão concluindo o 6º ano com muitas dificuldades em interpretar um problema, executar uma estratégia que leve à resolução e também de validar ou de avaliar a estratégia e a solução obtida. Palavras-chave: Campo conceitual multiplicativo. Estratégias. Obstáculos. 1. INTRODUÇÃO As operações de multiplicação e divisão são amplamente utilizadas em nosso cotidiano. Isso significa que essas operações são usadas pelas pessoas para resolver problemas que encontram no dia-a-dia, como mostra o exemplo abaixo: Gabriel, Amanda e Pedro almoçaram em um restaurante e o valor da conta foi R$ 81,00. Os três combinaram de pagar igualmente. Quanto ficou para cada um pagar? Embora sejam operações muito usuais, as crianças e adolescentes têm muitas dificuldades em resolver problemas que envolvem a multiplicação e a divisão. Não raro se ouve de professores de matemática que os adolescentes não sabem multiplicar e nem dividir. Quando apresentamos um problema a um aluno, como deve ser sua resposta? Esse questionamento parece simples, mas não é nada trivial. Muitas vezes, os professores têm dúvidas de quais foram as estratégias utilizadas pelo aluno para chegar ao resultado. E nem sempre conseguem se debruçar sobre essas estratégias para analisar os obstáculos apresentados. Assim, esse trabalho de conclusão de curso teve como intenção investigar o que está na base das dificuldades dos alunos na resolução de problemas que envolvem as operações de multiplicação e divisão ou campo conceitual multiplicativo (VERGNAUD, 2009). As questões que motivaram a realização da pesquisa foram: quais são as estratégias utilizadas pelos alunos para chegar às respostas dos problemas? As estratégias revelam o tipo de obstáculo? Que mediações podem ser feitas para elevar a competência dos alunos na resolução de problemas dessas duas operações? 4 Nesse trabalho consideramos que não existe uma “receita” de como resolver os problemas que envolvem a multiplicação e a divisão, mas estamos considerando também que os obstáculos podem ser superados se o professor atuar como mediador da aprendizagem do aluno. Isso significa que é possível propor atividades para fazer os alunos avançarem na construção dos conceitos de multiplicação e divisão ou do campo conceitual multiplicativo. O interesse por esse tema surgiu a partir da experiência no projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), da Universidade Católica de Brasília, que está sendo realizado com alunos do 6º ano em uma cidade da periferia de Brasília. As observações preliminares mostram que esses alunos têm muita dificuldade em resolver exercícios propostos com as operações básicas, sobretudo as que envolvem multiplicação e divisão. Assim, o propósito deste trabalho foi avaliar o nível de aprendizagem dos alunos do 6º ano do ensino fundamental, em relação ao campo conceitual multiplicativo, principalmente no que diz respeito à resolução de problemas. A ideia foi analisar as estratégias e os obstáculos evidenciados na produção matemática dos alunos na resolução de problemas desse campo em atividades que pudessem mediar à construção desses conceitos pelos alunos. Como referencial teórico foi utilizada a Teoria dos Campos Conceituais, do psicólogo francês Gérard Vergnaud (1990). Segundo esse teórico, as operações de multiplicação e divisão compõem um único campo conceitual denominado campo conceitual multiplicativo. Também foram utilizadas as ideias de Dias e Silva (2008), que discutem a resolução de problemas em uma perspectiva metodológica. Os dados foram coletados por meio de uma pesquisa com a observação de 12 alunos do 6º ano do ensino fundamental, participantes do projeto. Esses alunos têm entre 12 e 13 anos e participam do Projeto Escola Integral do Governo do Distrito Federal, no qual o projeto PBID proporciona a esses alunos aula de reforço com experimentos, jogos e resolução de atividades, buscando melhorias no aprendizado. Espera-se que este estudo auxilie professores a compreenderem as dificuldades dos alunos na resolução de problemas do campo multiplicativo, para assim propor situações que possibilitem a superação dos obstáculos e elevem a competência de resolver problemas matemáticos. 2. TEORIA DO CAMPO CONCEITUAL A partir dos anos 1980, quando o Movimento Matemática Moderna perde espaço no mundo inteiro e surge o Movimento Educação Matemática (BRASIL, 1988), várias teorias, sobretudo ligadas ao que tem sido chamada de didática da matemática francesa entraram no Brasil. Dentre essas, há a Teoria dos Campos Conceituais de Gerard Vergnaud, diretor emérito de estudos do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), em Paris. Formado em Psicologia, Vergnaud foi orientando de doutorado de Jean Piaget. Mas engana-se quem pensa que a Teoria de Vergnaud é puramente piagetiana. Hoje ele é considerado um teórico com ideias próprias e sua teoria tem sido denominada de noepiagetiana, visto que esta amplia o legado de Piaget porque é uma teoria com fortes implicações pedagógicas, servindo, sobretudo, para compreender como as crianças constroem conceitos científicos. Muito embora ela não se refira apenas à matemática, tem sido muito utilizada para elucidar a construção de conceitos matemáticos. 5 Segundo Moreira (2002, p. 7) A teoria dos campos conceituais é uma teoria cognitivista neopiagetiana que pretende oferecer um referencial mais frutífero do que o piagetiano ao estudo do desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem de competências complexas, particularmente aquelas implicadas nas ciências e na técnica, levando em conta os próprios conteúdos do conhecimento e a análise conceitual de seu domínio. Como já foi dito, a Teoria dos Campos Conceituais é referencial importante para se compreender a construção de conceitos científicos. E é por isso que as produções matemáticas das crianças em atividades que envolvem a multiplicação e a divisão serão analisadas segundo essa teoria. De acordo com Vergnaud (1988, 1990), o campo conceitual das estruturas multiplicativas consiste de todas as situações que podem ser analisadas como problemas de proporções simples e múltiplas para os quais geralmente é necessária uma multiplicação, uma divisão ou uma combinação dessas operações. Para Vergnaud (1983a) o conceito de campo conceitual se dá pelas seguintes observações: 1) um conceito não se forma dentro de um só tipo de situações; 2) uma situação não se analisa com um só conceito; 3) a construção e apropriação de todas as propriedades de um conceito ou todos os aspectos de uma situação são um processo de muito fôlego que se estende ao longo dos anos, às vezes uma dezena de anos, com analogias e mal-entendidos entre situações, entre concepções, entre procedimentos, entre significantes. Como já foi dito, as situações propostas é que tornarão os conceitos claros e objetivos para os alunos. O conceito matemático não deveria, portanto, ser entendido apenas como uma descrição ou significação de um objeto, mas estar relacionado ao seu desenvolvimento em diferentes situações dadas. Vergnaud (1999) define o conceito como uma tríade formada pelas situações, pelas representações simbólicas e pelas invariantes operacionais. A expressão abaixo mostra esta tríade: C = S, R, I Onde, o S é “um conjunto de situações que dão sentido ao conceito”; I é “um conjunto de invariantes (objetos, propriedades e relações) sobre os quais repousa a operacionalidade do conceito” que são utilizados pelos sujeitos para analisar as situações a fim de dar-lhes solução; e R “é um conjunto de representações simbólicas (linguagem natural, gráficos, diagramas, sentenças formais, etc.)” também utilizadas pelos sujeitos e que o possibilitam representar tanto a situação como as invariantes operacionais. Para Moreira (2002, p. 10) Uma definição pragmática poderia considerar um conceito como um conjunto de invariantes utilizáveis na ação, mas esta definição implica também um conjunto de situações que constituem o referente e um conjunto de esquemas postos em ação pelos sujeitos nessas situações. Daí, o tripleto (S, R, I) onde, em termos psicológicos, S é a realidade e (I, R) a representação que pode ser considerada como dois aspectos interagentes do pensamento, o significado (I) e o significante (R). Desta forma, é impossível pensar nos conceitos de multiplicação e divisão apenas a partir de exercícios algorítmicos, apenas de exercícios de “arme e efetue”, de continhas soltas. Esses conceitos devem ser pensados a partir do conjunto de situações que dão sentido a eles, bem como dos invariantes operacionais e representações que os sujeitos utilizam nessas situações. Esses três componentes da tríade devem ser estudados simultaneamente se o objetivo é compreender como o sujeito constrói os conceitos relativos ao campo conceitual 6 multiplicativo, ou como o sujeito resolve problemas que envolvem os conceitos de multiplicação e divisão. 3. CAMPO CONCEITUAL DAS ESTRUTURAS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS MULTIPLICATIVAS NOS Segundo Moreira (2002, p. 9) o campo conceitual proporciona uma estrutura e um conjunto de princípios que orientam o estudo do desenvolvimento da aprendizagem de conhecimentos complexos. “Para tal teoria o conhecimento está organizado em campos conceituais que o indivíduo aprende ao longo da vida”. Na mesma direção da teoria dos campos conceituais, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN apresentam quatro tipos de situações que dariam significado à multiplicação e divisão. Os PCN (BRASIL, 1998) indicam que a abordagem tradicional de associar a multiplicação a uma soma de parcelas é insuficiente para a construção do conceito, como mostra o exemplo a seguir apresentado nos parâmetros: Preciso tomar 2 comprimidos durante 6 dias. Quantos comprimidos serão necessários? 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 = 12 ou 6 × 2 = 12 Segundo o PCN (BRASIL, 1998), embora 6 × 2 = 2 × 6, apenas a escrita 6 x 2 é adequada ao problema e traduz a ideia presente. A escrita 2 × 6 indica que 6 comprimidos vão ser tomados em duas vezes ou em dois dias. Como foi dito, para desenvolver uma compreensão mais ampla da multiplicação é necessário trabalhar paralelamente multiplicação e divisão. Então, a multiplicação e divisão estão condicionadas por que apresentam esquemas próximos. Os PCN (1998) destacam quatro significados para as operações de multiplicação e divisão. Como mostram os exemplos a seguir, esses significados associam essas duas operações e nesse sentido aproximam-se da teoria dos campos conceituais. 3.1 MULTIPLICAÇÃO COMPARATIVA Nesse tipo de problema é trabalhada a relação de quantidades, conforme mostra o exemplo abaixo: Victor e Giovanna fazem aniversário no mesmo dia. Victor ganhou15 reais de presente do seu pai. Já Giovanna ganhou o triplo deste valor de presente da sua mãe. Quanto foi que Giovanna ganhou de presente de sua mãe? A partir deste exemplo, é possível formular um problema equivalente, mas que envolve a operação de divisão: Victor e Giovanna fazem aniversário no mesmo dia. Giovanna ganhou 45 reais de presente da sua mãe. Victor ganhou um terço deste valor do seu pai. Quanto Victor ganhou de presente? 7 3.2 MULTIPLICAÇÃO COM A IDEIA DE PROPORCIONALIDADE São problemas que envolvem a comparação das razões entre si, ou seja, a relação das quantidades. Segue exemplo: Uma barra de chocolate custa R$ 4,50. Quanto pagarei se comprar 8 barras de chocolate? Com isso, é possível construir situação semelhante, mas com a operação de divisão. Comprei 8 Barras de Chocolate de mesmo valor e paguei por elas R$ 36,00. Quanto custou cada Barra de Chocolate? 3.3 MULTIPLICAÇÃO COM A IDEIA DE CONFIGURAÇÃO RETANGULAR Esse significado está associado ao produto de duas medidas e evocam a ideia de área, pois em geral, é preciso relacionar comprimento com largura, linhas e colunas, etc. Patrícia dará uma festa de aniversário pelos seus 15 anos. Para isto, ela alugou um salão de festa que contém 5 fileiras de mesas e cada fileira possui 6 mesas. Cada mesa possui 4 cadeiras. Quantas cadeiras terão na festa? O problema a seguir mostra a mesma situação para a operação de divisão. Na festa de aniversário de 15 anos da Patrícia há 120 Cadeiras distribuídas em mesas com 4 cadeiras. Quantas mesas há no salão de festa alugado? 3.4 MULTIPLICAÇÃO COMBINATÓRIA Esse significado associa-se à ideia de determinar a quantidade de objetos de um conjunto organizado de determinada maneira. Envolve as primeiras noções dos princípios de contagem, como mostra o exemplo a seguir: Nicolas ganhou 3 bermudas, uma preta, uma azul e uma estampada, e 2 tênis, um branco e outro preto. De quantas maneiras ele pode se arrumar combinando uma bermuda com um tênis? Segue agora exemplo de uma situação similar que envolve a divisão: Nicolas ganhou algumas bermudas e dois tênis, um branco e um preto. Ele percebeu que poderia se arrumar de 6 maneiras diferentes, sem repetir nenhuma das peças. Quantas bermudas ele ganhou de presente? É importante que todos esses significados sejam trabalhados de forma interligada desde os anos iniciais. Os PCN (1998) recomendam que as ideias sejam exploradas em situações contextualizadas e significativas para as criança e adolescentes, a fim de que se 8 desenvolva a competência de resolver problemas multiplicativos, que envolvem muito mais do que o domínio de algoritmos. 4. A RESOLUÇÃO DE PROBLEMA COMO COMPETÊNCIA BÁSICA A SER DESENVOLVIDA NA MATEMÁTICA A resolução de problemas deve ser uma competência básica a ser desenvolvida pela escola. Muito embora o desenvolvimento dessa competência não seja responsabilidade apenas da matemática, é nessa área que ela encontra maior ressonância. Os PCN (1998, p. 39) “apontam a resolução de problemas como ponto da atividade matemática”. Desta forma, não é o exercício algorítmico, ou seja, não são as continhas soltas de multiplicação e divisão que devem dar início ao estudo do campo conceitual multiplicativo. É verdade que o domínio do algoritmo é fundamental para o desenvolvimento da competência de resolver problemas do campo multiplicativo, mas é preciso compreender, conforme postula Vergnaud (1999), que um conceito só adquire sentido dentro da situação e, portanto, dentro do problema. Ainda hoje, os problemas são tratados dentro da matemática apenas como aplicação de uma definição. O professor explica os conteúdos, dá exemplos e, em seguida, propõe problemas para serem resolvidos. Na perspectiva apontada pelos PCN (1998) o problema deve iniciar a construção de um conceito. A esse respeito Dias e Silva (2008) apontam a resolução de problemas como elemento disparador do conceito matemático e que pode anteceder a linguagem simbólica da matemática. Para essas autoras, a resolução de problemas é o caminho, é processo de construção do conceito e não produto. A generalização de um conceito ocorre a partir da resolução de problemas. Nesse sentido, é importante compreender as etapas da resolução de problemas para se compreender a ação do aluno. George Polya foi um matemático que, na década de 1940, observando os seus alunos a resolver problemas, indicou quatro etapas do processo de resolução de problemas. Para Polya (1995) na resolução de um problema o aluno passa por quatro etapas: ETAPAS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Etapa Descrição 1 Compreensão do problema É a etapa da interpretação da situação, quando o aluno vai ler o problema e identificar os dados do problema. 2 Estabelecimento de um Nessa etapa o aluno vai traçar uma estratégia de plano resolução. Para traçar esse plano, o aluno mobiliza conhecimentos anteriores e os associa aos dados encontrados na etapa anterior. 3 Execução do plano Etapa em que o aluno coloca em funcionamento o plano, ou seja, executa a estratégia pensada e chega a um resultado. 4 Retrospecto Nessa etapa o aluno valida a resolução, ele avalia se a solução obtida responde à situação, caso contrário retorna à etapa inicial. Essas etapas ocorrem de forma associada, mas é possível avaliar se os erros dos alunos foram de interpretação, de planejamento, de execução ou de avaliação. Nesse sentido, 9 compreender o processo de resolução de problemas do campo multiplicativo requer a compreensão das etapas de resolução de problemas. 5. RESULTADOS Para termos uma melhor compreensão dos resultados obtidos na pesquisa, foram propostos dezesseis problemas, sendo quatro questões de cada significado das operações de multiplicação e divisão, tendo como objetivo principal analisar as estratégias utilizadas pelos alunos, bem como as dificuldades e obstáculos apresentados diante dos problemas propostos. A aplicação dos problemas foi realizada com doze alunos do 6º ano do ensino fundamental, divididos em dois grupos. Cada grupo resolveu os problemas em dias diferentes. Durante a resolução os alunos não tiveram contato entre si. No primeiro dia foram escolhidos seis alunos do sexto ano. A escolha foi feita pelos próprios alunos, que manifestavam vontade de participar da pesquisa. Os alunos gastaram aproximadamente duas horas para resolver os 16 problemas. No segundo dia, o processo de escolha foi mantido e outros seis alunos levaram em torno de uma hora e meia para concluir os mesmos problemas. Durante a aplicação, observamos que os alunos tinham muitas dificuldades de interpretar o enunciado e com isso não chegavam a uma resposta correta, sendo que muitas vezes montavam a questão correta, mas não conseguiam chegar ao resultado correto ou deixavam a resolução pela metade. De cada um dos problemas foram escolhidos 3 protocolos representativos das estratégias utilizadas pelos alunos na resolução. 4.1 PROBLEMAS APRESENTADOS SOBRE MULTIPLICAÇÃO COMPARATIVA Foram apresentados quatro problemas envolvendo a idéia de multiplicação comparativa. A seguir será apresentado cada um dos problemas, bem como seus resultados. 1) O supermercado Moça Chique carrega em seu caminhão 17 caixas de tomate com 14 unidades em cada uma. O supermercado vendeu certa quantia e doou a quarta parte do total para um asilo próximo. Quantas unidades de tomates o supermercado vendeu? O gráfico a seguir, mostra o desempenho dos doze alunos no problema 1. Apenas um aluno chegou ao resultado, mas não registrou a resposta correta. Cinco alunos erraram integralmente o problema e seis conseguem efetuar a multiplicação de 17 por 14, mas não prosseguem na resolução. 10 6 4 Certo Errado 2 Parcial 0 Questão 3 Gráfico 1 - Desempenho dos Alunos no Problema 1 O problema relevou-se com certa complexidade para os alunos. Os alunos pesquisados tiveram grande dificuldade nesta questão, pois realizavam a multiplicação das caixas pelas unidades, mais não entendiam o que o problema proposto queria dizer quando falava da quarta parte. Apenas uma aluna optou por uma estratégia que levaria à resposta correta, conforme mostra figura 1a, a seguir. Ela chega a calcular a quarta parte, mas como não deu resultado exato, prossegue em outras estratégias, demonstrando não saber avaliar se o resultado estava correto ou não. A figura 1b mostra uma estratégia incompleta, ou seja, o aluno opta pela estratégia correta de multiplicar mais não prossegue. A figura 1c mostra a opção por uma estratégia incorreta. Após aplicação, verificou-se que havia uma incoerência no problema, pois o resultado era uma quantidade não inteira, o que pode ter dificultado a resolução do problema. Fig. 1a. Estratégia correta Fig. 1b. Estratégia parcial Fig. 1c. Estratégia errada Figura 1. Protocolos do problema 1 No problema 2, apresentado a seguir, percebemos uma grande ansiedade dos alunos, por não saberem que quantidade deveriam triplicar. A maioria conseguiu calcular o dobro da quantidade de bolinhas de gude de Gabriel para encontrar a quantidade de Victor, mas não conseguiu compreender que deveria triplicar a quantidade deste último para encontrar o número de bolinhas de gude do Nicolas. 2) Gabriel tem 23 bolinhas de gude. Victor tem o dobro de Gabriel, Nicolas tem o triplo de Victor. Quantas bolinhas de gude têm os três juntos? O gráfico a seguir, mostra o desempenho dos doze alunos no problema 2. Neste problema dois alunos conseguiram chegar ao resultado, quatro alunos erraram integralmente o problema e cinco conseguiram multiplicar a quantidade de bolinhas de gude do Gabriel, mas não chegaram à quantidade que Nicolas possuía, logo não chegaram a um resultado satisfatório. 11 5 4 Certo 3 Errado 2 Parcial 1 0 Questão 2 Gráfico 2 - Desempenho dos Alunos no Problema 2 Um fator que parece interferir na resolução de problemas é a vontade de concluir logo. Com isso, os alunos optam por uma estratégia, desenvolvem essa estratégia, mas não avaliam para ver se chegaram à resposta correta. E o que mostra a figura 2a: o aluno responde obrando e triplicando a quantidade de bolinhas do Gabriel, o que mostra um erro de interpretação. Na figura 2b, o aluno inicia corretamente a estratégia para encontrar o dobro e o triplo proposto pelo problema, porém erra na soma do total de bolinhas. Já a figura 2c, mostra a opção de uma estratégia correta que conduz a resolução do problema. Fig. 2a. Estratégia parcial Fig. 2b. Estratégia parcial Fig. 2c. Estratégia correta Figura 2. Protocolos do problema 2 No problema 3, apresentado a seguir, os alunos não conseguiram entender que estratégia deveria ser usada no problema. 3) Jéssica ganhou de sua avó 360 reais. Ela resolveu gastar a terça parte e depositar o restante na poupança. Qual foi o valor gasto por Jéssica? O gráfico a seguir mostra o desempenho dos doze alunos no problema 3. A resolução deste problema é aparentemente fácil, mas os alunos tiveram muita dificuldade em saber o que era a terça parte. Oito alunos erraram integralmente o problema, dois acharam a resolução correta do problema e dois alunos iniciaram a resolução com estratégia correta, mas não conseguiram êxito. 12 8 6 Certo 4 Errado Parcial 2 0 Questão 3 Gráfico 3 - Desempenho dos Alunos no Problema 3 Para os alunos chegarem à resposta correta do problema, precisavam saber calcular a terça parte. Na figura 3a, o aluno usou uma estratégia correta para achar a resposta, mas cometeu um erro de interpretação, de execução e avaliação, pois não percebeu que a primeira conta já dava o resultado correto do problema. A figura 3b mostra uma estratégia curiosa: ao invés de utilizar uma divisão ele utiliza uma multiplicação na primeira etapa da resolução. Esse aluno provavelmente utilizou um cálculo mental e na hora de transmitir o cálculo, transcreveu erroneamente, fazendo por meio de uma multiplicação (360 × 3 = 120), quando na verdade era uma divisão. Na sequência, ele cometeu um erro ao subtrair do valor encontrado o número que corresponde à proporção do problema. A figura 3c, mostra um aluno que interpreta, planeja e executa uma estratégia que leva ao resultado correto. Fig. 3a. Estratégia parcial Fig. 3b. Estratégia parcial Fig. 3c. Estratégia correta Figura 3. Protocolos do problema 3 No problema 4, a seguir, o aluno precisava multiplicar 124 por 4 para chegar à reposta correta. Embora muitos tenham falado que não sabiam o que era quádruplo, o resultado foi satisfatório. Foi questionado ao final, o porquê da multiplicação por quatro, alguns responderam que era o número que vinha a mente no momento que liam o enunciado. 4) João e Pedro colecionam selos. João tem 124 figurinhas e Pedro tem o quádruplo da quantidade que tem João. Quantas figurinhas Pedro têm? O gráfico a seguir, mostra o desempenho dos doze alunos no problema 4. A resolução deste problema teve um resultado satisfatório em relação aos demais problemas, pois dez alunos conseguiram chegar à resposta correta. Dois alunos não entenderam o que era quádruplo e erraram integralmente o problema. 13 10 8 Certo 6 Errado 4 Parcial 2 0 Questão 4 Gráfico 4 - Desempenho dos Alunos no Problema 4 A figura 4a mostra um aluno que encontrou duas estratégias que conduzia à resposta correta: ele multiplicou a quantidade de figurinhas por quatro e efetuou a soma do número 124 quatro vezes o que confirmou o seu resultado. A figura 4b mostra que o aluno utilizou a estratégia da soma de parcelas iguais chegando também à resposta, mas em seguida acrescenta 124 ao resultado, encontrando quantas figurinhas João e Pedro tinham juntos, o que não foi solicitado no problema. Isso revela um erro de interpretação. Na figura 4c, o aluno entendeu que quádruplo era somar os termos duas vezes não chegando à resposta correta. Fig. 4a. Estratégia correta Fig. 4b. Estratégia correta Fig. 4c. Estratégia errada Figura 4. Protocolos do problema 4 Muito embora os problemas de multiplicação comparativa sejam os mais simples para os alunos, a análise revela que eles têm dificuldades, sobretudo no que envolve o conceito de divisão. No momento da aplicação, vários alunos questionaram: “professora o que é terça parte” e “não sei o que é triplo”. Desta forma, o resultado indica a necessidade de se trabalhar esse significado, por meio da resolução de problemas, já que muitos demonstraram a compreensão do algoritmo. 4.2 PROBLEMAS APRESENTADOS SOBRE MULTIPLICAÇÃO COM A IDEIA DE PROPORCIONALIDADE Foram apresentados quatro problemas envolvendo a ideia de multiplicação com o significado de proporcionalidade. A seguir, será apresentado cada um dos problemas, bem como seus resultados. 14 No problema 5, apresentado a seguir, a questão pedia que o aluno multiplicasse o valor de uma torta que custava 28,00 por 80. Apesar de ser uma situação do dia-a-dia, muitos alunos não chegaram à resposta correta. 5) Nicolas tem uma confeitaria. Para fazer uma torta, ele gasta 28,00 reais, incluindo todos os materiais. Para produzir uma encomenda de 80 tortas, ele irá gastar quanto? O gráfico a seguir, mostra o desempenho dos doze alunos no problema 5. O problema apresenta uma situação rotineira, mas quatro alunos erraram integralmente o problema, cinco acertaram a estratégia, mas erraram a resolução e apenas três chegaram a uma resposta correta. 5 4 Certo 3 Errado 2 Parcial 1 0 Questão 5 Gráfico 5 - Desempenho dos Alunos no Problema 5 A figura 5a mostra um aluno que somou o valor da torta com a quantidade encomendada, chegando assim a um resultado incorreto. A figura 5b mostra que um aluno acerta a estratégia, mas erra o cálculo, demonstrando não dominar a operação da multiplicação. Na figura 5c, o aluno acertou a estratégia e o cálculo, obtendo o resultado correto. Fig. 5a. Estratégia errada Fig. 5b. Estratégia parcial Fig. 5c. Estratégia correta Figura 5. Protocolos do problema 5 No problema 6, a seguir, exige que o aluno efetue uma divisão de 640 por 128. 6) Paulo comprou uma passagem aérea no valor 640 reais, sem juros e sem entrada. Cada parcela foi 128 reais. Em quantas parcelas Paulo pagou a passagem? Conforme gráfico a seguir, cinco alunos acertaram o problema, seis erraram integralmente o problema e um aluno acertou a estratégia correta, mas errou no cálculo. 15 6 5 4 Certo 3 Errado 2 Parcial 1 0 Questão 6 Gráfico 6 - Desempenho dos Alunos no Problema 6 A figura 6a mostra que um aluno usou a estratégia de divisão e confirmou o resultado realizando a “prova real”, pela soma das parcelas. A figura 6b mostra um aluno que usa a soma das parcelas até encontrar o valor total e assim achar o número de parcelas. Na figura 6c, a estratégia está incorreta, pois o aluno multiplicou o valor total pelo valor da parcela. Com isso, podemos afirmar que não conseguiu interpretar o problema. Fig. 6a. Estratégia correta Fig. 6b. Estratégia correta Fig. 6c. Estratégia Errada Figura 6. Protocolos do problema 6 No problema 7, a seguir, os alunos apresentaram muitas dificuldades em efetuar o cálculo. 7) Como minhas fotografias estão desorganizadas eu comprei 16 álbuns para organizá-las. Em cada álbum cabem 48 fotos. Quantas fotografias eu poderei colar se utilizar todos os álbuns? A situação exigia que o aluno soubesse que em cada álbum cabem 48 fotos e que como são 16 álbuns é preciso realizar uma multiplicação para chegar ao resultado correto. Conforme o gráfico abaixo, dos doze alunos que responderam a pesquisa, três alunos acertaram o problema, três alunos erraram integralmente o problema e seis escolheram a estratégia correta, mas erraram nos cálculos ou na execução. 16 6 5 4 3 2 Certo Errado Parcial 1 0 Questão 7 Gráfico 7 - Desempenho dos Alunos no Problema 7 A figura 7a mostra a estratégia incorreta do aluno que soma o número de álbuns com a quantidade de fotografias, demonstrando não interpretar corretamente a situação. A figura 7b e 7c mostram erros de execução. Os alunos interpretam corretamente, fazem opção por uma estratégia correta, mas erram nos cálculos, demonstrando não dominar a operação de multiplicação. Fig.7a. Estratégia Fig. 7b. Estratégia Fig. 7c. Estratégia Errada parcial parcial Figura 7. Protocolos do problema 7 No problema 8, apresentado a seguir, os alunos não conseguem entender que com 240 unidades de lápis de cor dividida por doze unidades em cada caixa, teremos um total de 20 caixas. 8) Péricles quer comprar 240 unidades de lápis de cor para seus alunos usarem na aula de artes. Ele foi até a papelaria e percebeu que a caixa com 12 unidades de lápis de cor custa 5 reais. Quanto Péricles irá gastar para comprar as 240 unidades? Conforme gráfico a seguir, dez alunos erraram integralmente o problema e dois alunos optaram pela estratégia correta, mas erraram nos cálculos. Nenhum aluno conseguiu acertar integralmente o problema. 10 8 6 Certo 4 Errado 2 Parcial 0 Questão 8 Gráfico 8 - Desempenho dos Alunos no Problema 8 A figura 8a mostra a estratégia de um aluno que não consegue interpretar o problema e apenas soma os dados encontrados. A figura 8b mostra também uma estratégia incorreta: o 17 aluno multiplicou a quantidade de lápis de uma caixa pelo preço da caixa, em seguida multiplicou o resultado encontrado pela quantidade total de lápis. Já a figura 8c mostra que o aluno opta por uma estratégia correta, mas comete um erro de execução, pois não multiplica a quantidade de caixas pelo valor unitário. Fig. 8a. Estratégia Errada Fig. 8b. Estratégia Errada Fig. 8c. Estratégia Parcial Figura 8. Protocolos do problema 8 As dificuldades dos alunos na resolução dos problemas desse grupo indicam a necessidade de não apenas trabalhar as situações, mas também a interpretação das operações de multiplicação e divisão. O domínio de interpretar o enunciado representou o maior obstáculo para a resolução dos problemas deste grupo. Assim, se faz necessário um trabalho concomitante de resolução de problemas e de acompanhamento dos alunos na execução das operações de multiplicação e divisão. 4.3 PROBLEMAS APRESENTADOS SOBRE MULTILICAÇAO COM A IDEIA DE CONFIGURAÇÃO RETANGULAR Foram apresentados quatro problemas envolvendo a ideia de multiplicação com o significado de configuração retangular. A seguir, serão apresentados os problemas, bem como seus resultados. No problema 9, apresentado a seguir, os alunos tiveram muita dificuldade em interpretar a situação. 9) Maria tem 3 estantes nas quais guarda as revistas em quadrinho que coleciona. Cada estante tem 4 prateleiras e em cada prateleira cabem 30 revistinhas. Quantas revistinhas ele pode guardar nas 3 estantes? A situação que envolvia duas multiplicações se revelou bastante difícil. Apenas quatro alunos escolheram uma estratégia correta que os conduziram à resposta. Um aluno acertou a estratégia, mas errou os cálculos e sete alunos erraram integralmente o problema. 8 6 Certo 4 Errado 2 Parcial 0 Questão 9 Gráfico 9 - Desempenho dos Alunos no Problema 9 18 A figura 9a mostra a estratégia de um aluno que provavelmente encontra o número de prateleiras por cálculo mental. Ele multiplica a quantidade de prateleiras pela quantidade de revistinhas chegando ao resultado correto. A figura 9b mostra uma estratégia diferente, mas que também conduz à resposta correta. A figura 9c mostra a estratégia de um aluno que não interpretou corretamente a situação. Ele apenas divide a quantidade de revistas pela quantidade de estantes. Fig. 9a. Estratégia Correta Fig. 9b. Estratégia Correta Fig. 9c. Estratégia Errada Figura 9. Protocolos do problema 9 O problema 10, apresentado a seguir, traz uma situação muito presente no cotidiano dos alunos. Muitos deles utilizam ônibus e talvez por isso, a decisão de qual estratégia deveria ser usada ficou mais clara. 10) O ônibus escolar cabe 48 estudantes sentados. Cada fileira do ônibus tem 4 poltronas. Quantas fileiras há nesse ônibus? Conforme o gráfico abaixo, seis alunos acertaram o problema, dois acertaram a estratégia e erraram no cálculo. Quatro erraram integralmente o problema. 6 5 4 Certo 3 2 Errado Parcial 1 0 Questão 10 Gráfico 10 - Desempenho dos Alunos no Problema 10 A figura 10a mostra que um aluno escolheu corretamente a estratégia, mas errou o cálculo. A figura 10b mostra uma estratégia correta, realizada com uma operação diferente da esperada que era a divisão, o que coaduna com a perspectiva de Vergnaud (1999) para quem as operações de multiplicação e divisão fazem parte de um mesmo campo conceitual. A figura 10c mostra que um aluno chega ao resultado correto, mas registra a resposta de forma incorreta, demonstrando não ter retornado ao enunciado do problema para avaliar a resposta. O correto seria responder que há 12 fileiras no ônibus. 19 Fig. 10a. Estratégia parcial Fig. 10b. Estratégia correta Fig. 10c. Estratégia correta Figura 10. Protocolos do problema 10 O problema 11 se revelou muito difícil, provavelmente porque exigia duas multiplicações e uma adição. 11) O grupo de dança da escola foi convidado para apresentar sua dança no auditório da Universidade Católica de Brasília. Chegando lá, perceberam que no auditório existiam 10 fileiras com 24 assentos no piso superior e no piso inferior 20 fileiras de 30 assentos. Quantas pessoas poderão assistir ao espetáculo sentadas? O gráfico a seguir mostra que dez alunos erraram integralmente o problema. Somente um aluno conseguiu achar o resultado solicitado e um acertou parcialmente o problema, pois não efetuou a soma dos termos. 10 8 Certo 6 Errado 4 Parcial 2 0 Questão 11 Gráfico 11 - Desempenho dos Alunos no Problema 11 A figura 11a mostra que um aluno acerta parcialmente o problema, pois efetua corretamente as duas multiplicações, mas não soma os resultados para chegar à resposta correta do problema. Já na figura 11b, o aluno acerta o resultado do problema. Na figura 11c o aluno soma todos os números apresentados no enunciado do problema chegando a um resultado incorreto. 20 Fig. 11a. Estratégia Parcial Fig. 11b. Estratégia Correta Fig. 11c. Estratégia Errada Figura 11. Protocolos do problema 11 No problema 12, a seguir, os alunos tiveram um resultado satisfatório. 12) O edifício Barcelona em Taguatinga ficou pronto e começaram a vender os apartamentos. O edifício tem 18 andares. Em cada andar há 8 apartamentos. Quantos apartamentos têm o edifício para vender? O gráfico a seguir mostra que quatro alunos resolveram corretamente o problema, cinco acertaram parcialmente e três erraram integralmente o problema. 5 4 Certo 3 2 Errado 1 Parcial 0 Questão 12 Gráfico 12 - Desempenho dos Alunos no Problema 12 Este problema foi um dos que teve maior índice de acerto. A figura 12a mostra que um aluno escolheu corretamente a estratégia que conduz à resposta correta. A figura 12b mostra que o aluno acerta na escolha da estratégia, mas erra na execução da operação. A figura 12c mostrou uma escolha incorreta da estratégia: o aluno divide a quantidade de andares pela quantidade de apartamentos. Fig. 12a. Estratégia Correta Fig. 12b. Estratégia Parcial Fig. 12c. Estratégia Errada Figura 12. Protocolos do problema 12 21 Os resultados indicam que muitos alunos que acertaram os problemas desse grupo resolveram utilizando a adição. Esses ainda não compreenderam que a operação de multiplicação trata de forma econômica a mesma situação. Os resultados ainda indicam que a habilidade de efetuar as operações de multiplicação e divisão são obstáculos à resolução de problemas. 4.2 PROBLEMAS APRESENTADOS SOBRE MULTIPLICAÇÃO COMBINATÓRIA Foram apresentados quatro problemas envolvendo a ideia de multiplicação combinatória. No problema 13, a seguir, o resultado foi insatisfatório. Durante a resolução, os alunos falaram que não tinham visto esse conteúdo em sala de aula. 13) Camila tem que trabalhar de saia e blusa de manga comprida. Durante 20 dias, ela não repetiu nenhuma das peças. Se ela tem 4 saias, quantas blusas ela tem? O gráfico abaixo mostra que apenas três conseguiram chegar ao resultado do problema e nove alunos erraram integralmente o problema 10 8 Certo 6 Errado 4 Parcial 2 0 Questão 13 Gráfico 13 - Desempenho dos Alunos no Problema 13 A figura 13a mostra que um aluno acerta a resolução dividindo o número de dias pela quantidade de saias, assim achando a quantidade de blusas. As figuras 13b e 13c mostram estratégias de adição e subtração que conduzem os alunos a respostas incorretas. Fig. 13a. Estratégia correta Fig. 13b. Estratégia errada Fig. 13c. Estratégia errada Figura 13. Protocolos do problema 13 No problema 14 os alunos apresentaram uma grande dificuldade. 22 14) Eduarda tem cinco camisetas, três calças e três pares de sapatos. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir sem repetir nenhuma peça? Conforme o seguinte gráfico, onze alunos erraram integralmente o problema e apenas um aluno chegou a usar uma estratégia aceita neste tipo de problema, mas não conseguiu encontrar a resposta correta. 12 10 8 Certo 6 Errado 4 Parcial 2 0 Questão 14 Gráfico 14 - Desempenho dos Alunos no Problema 14 A figura 14a mostra que o aluno tentou achar a resposta usando a estratégia de construção de uma árvore de possibilidades, mas na hora de fazer a distribuição não obteve êxito. Nas figuras 14b e 14c, os alunos usaram estratégias erradas para esse tipo de questão. Fig. 14a. Estratégia Parcial Fig. 14b. Fig. 14c. Estratégia Errada Estratégia Errada Figura 14. Protocolos do problema 14 No problema 15, a seguir, foi o que mais teve acerto desse grupo, talvez por se tratar de uma situação mais significativa para os alunos. 15) Mônica e Amanda resolveram ir à sorveteria e tomar um cascão com 3 bolas de sorvete. Chegando lá, a moça informou que tinha os seguintes sabores de sorvete morango, chocolate, sonho de valsa, maracujá, abacaxi e leite condensado. De quantas maneiras elas poderão escolher o sabor do seu cascão de sorvete, sem repetir nenhum sabor? Conforme gráfico abaixo, nove alunos erraram integralmente o problema, dois alunos acertaram o resultado do problema e um aluno acertou a estratégia parcialmente. 23 10 8 6 Certo 4 Errado 2 Parcial 0 Questão 15 Gráfico 15 - Desempenho dos Alunos no Problema 15 A figura 15a mostra que um aluno tentou chegar ao resultado utilizando uma árvore de possibilidades, mas não logrou êxito. A figura 15b mostra que um aluno acertou a resposta do problema usando a estratégia correta. A figura 15c, em uma estratégia errada, o aluno efetua a adição dos sabores do sorvete com a quantidade de bolas de sorvete. Fig. 15a. Estratégia Parcial Fig. 15b. Estratégia Correta Fig. 15c. Estratégia Errada Figura 15. Protocolos do problema 15 No problema 16, abaixo, nenhum aluno conseguiu resolver corretamente. Um aluno escolhe uma estratégia que poderia conduzi-lo à resposta correta, mas não dá continuidade. 16) Um restaurante serve 48 tipos de pratos de massas diferentes combinando macarrão, molho e queijo, sem repetir nenhum desses ingredientes. Se forem 4 tipos de macarrão e 3 tipos de molho, quantos tipos de queijo o restaurante possui? O gráfico abaixo mostra que onze alunos erraram integralmente o problema e apenas um escolhe uma estratégia que poderia levar à solução. 12 10 8 Certo 6 Errado 4 Parcial 2 0 Questão 16 Gráfico 16 - Desempenho dos Alunos no Problema 16 24 A figura 16a mostra que um aluno chegou a multiplicar os termos e encontrou a quantidade de pratos de macarrão com molhos diferentes, mas não conseguiu entender que para achar a quantidade de queijos precisava dividir 48 por 12. As figuras 16b e 16c mostram que os alunos tentaram chegar ao resultado somando as parcelas, o que mostra a escolha de uma estratégia incorreta. Fig. 16a. Estratégia Parcial Fig.16b. Estratégia Errada Fig. 16c. Estratégia Errada Figura 16. Protocolos do problema 16 O fraco desempenho dos alunos nas situações que envolvem a ideia de multiplicação combinatória é um indício de que de fato o conteúdo não foi trabalhado e, se foi, não foi apropriado pelos alunos. É preciso um trabalho que desenvolva essa habilidade e que mostre que a construção de árvores de possibilidades é uma estratégia válida que pode conduzir às respostas corretas. 4. CONCLUSÃO Ao iniciar a presente pesquisa tínhamos como objetivo avaliar o nível de aprendizagem dos alunos do 6º ano do ensino fundamental em relação ao campo conceitual multiplicativo e à resolução de problemas. A ideia básica foi analisar as estratégias e os obstáculos evidenciados na produção matemática dos alunos na resolução de problemas dos quatro grupos de significados apontados pelos PCN (1998). Os resultados mostram que o objetivo do trabalho foi alcançado, pois de fato foi possível avaliar o nível de aprendizagem dos alunos do 6º ano do ensino fundamental, em relação ao campo conceitual multiplicativo, principalmente no que diz respeito à resolução de problemas. A impressão que se tem é que os alunos do 6º ano vão concluir o período letivo sem terem construído habilidades básicas necessárias à resolução de problemas que envolvem a multiplicação e a divisão. A pesquisa de campo mostrou que os alunos apresentam um baixo desempenho na resolução de problemas que envolvem os quatros significados do campo conceitual multiplicativo. Nos problemas com significado de multiplicação comparativa os alunos demonstraram não dominar conceitos básicos como os de terça parte, triplo e quádruplo. Quanto ao significado de proporcionalidade, os alunos demonstram não ter o domínio dos algoritmos da multiplicação e da divisão, além de grandes dificuldades em interpretar o enunciado. 25 Os resultados dos problemas que envolviam o significado de configuração retangular mostram que alguns alunos resolveram utilizando a adição, não sabendo que a operação poderia usar. Nos problemas com significado de combinatória, o resultado mostrou um fraquíssimo desempenho dos alunos. Até mesmo o aluno que tenta resolver os problemas utilizando árvores de possibilidades não consegue lograr êxito. Se multiplicarmos os doze alunos da pesquisa pelos dezesseis problemas que cada um resolveu teremos cento e noventa e dois problemas resolvidos. Desse total, teremos 45 questões respondidas corretamente (23,44%), 108 questões respondidas erradas (56,25%) e 39 questões com estratégias escolhidas adequadamente, mas contendo erros de execução (20,31%). Tal resultado revela o baixo desempenho dos alunos na resolução de problemas que, como foi dito, é uma competência que pode e deve ser desenvolvida pela escola. Os resultados indicam que é preciso repensar a organização do trabalho pedagógico em matemática. No que se refere à resolução de problemas é preciso mostrar que não há um só jeito de resolver um problema. Como professores, temos que ser capazes de propor situações significativas para os alunos, estimular que eles interpretem, escolham estratégias, executem e avaliem essas estratégias. Temos que deixa-los pensar e devemos estimular que expressem seus pensamentos, a fim de socializar outras maneiras de resolver uma mesma situação. Por fim, pesquisas adicionais precisam ser feitas no sentido de devolver a resolução dos problemas para que os próprios alunos interpretem seus erros na resolução de problemas do campo multiplicativo e reconstruam seus caminhos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasilia: MEC/ Secretaria de Educação Fundamental, 1998. DIAS, Ana Lucia. SILVA, Erondina Barbosa. Salto para o futuro: Formação de Professores em Língua Portuguesa e Matemática. Pgm 2 – 2008 MENDES, Iran Abreu. Tendências metodológicas no ensino de matemática. volume 41. Pará, 2008. MOREIRA, Marco Antônio. A teoria dos campos conceituais de Vergnaud, o ensino de ciências e a pesquisa nesta área. Investigações em Ensino de Ciências (UFRGS), Porto Alegre, v. 7, n. 1, 2002. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID80/v7_n1_a2002.pdf> Acesso em: 02 set. 2012. POLYA, George. A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método matemático. Rio de Janeiro: Interciência, 1995. 26 VERGNAUD, G. (1993). Teoria dos campos conceituais. In Nasser, L. (Ed.) Anais do 1º Seminário Internacional de Educação Matemática do Rio de Janeiro. p. 1-26. VERGNAUD, G. (1983b). Multiplicative structures. In Lesh, R. and Landau, M. (Eds.) 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