Língua Portuguesa Atividades para Estudos Autônomos GABARITO Colégio Santa Dorotéia Área de Códigos e Linguagens Disciplina: Língua Portuguesa a Série: 8 - Ensino Fundamental Professoras: Mônica e Priscila Data: 05 / 10 / 2015 o Aluno(a): ______________________________________________ N : _____ Turma: _____ Assuntos: 1) Interpretação de texto 2) Variedade padrão formal x informal 3) Funções sintáticas: sujeitos, predicados, aposto, adjunto adverbial, adjunto adnominal, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, predicação verbal, figuras de linguagem (livro de português, apostilas, anotações no caderno, download de atividades). TEXTO 1 Te De todas as coisas pequenas, estava ali a menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela sofresse dessas severas desnutrições africanas - embora passasse fome __, mas pelo que eu saberia dela depois. Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto, sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha três cômodos pequenos. Isso que chamei de sala não passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas. Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido. Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros. O choro da menina seguia atrapalhando a conversa. __ Ei, por que você está chorando? perguntei, enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não ouviu, largada no chão. __ Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente __ repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não se mexeu, ainda chorando. __ Como é o nome dela? __ perguntei à mulher. __ A gente chama ela de Te __ disse, banguela. __ Te? Mas qual o nome dela? __ insisti. __ A gente chama ela de Te, que ela ainda não foi batizada não. __ Como assim? Ela não tem nome? Não foi registrada no cartório? __ Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer. Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada. "Te" era antes da sílaba - era apenas um fonema, um murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome impressionava mais do que a falta de todo o resto. Te chorava de uma dor, de uma falta avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão, dessa solidão dos abandonados, dos que não contam para nada, dos que mal existem. Ela era o resultado concreto das políticas civilizadas (as econômicas, as sociais) e de todo o nosso comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos como os bichos egoístas que somos, enfim. Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer prélinguagem, em que nomear as coisas e as pessoas pouco importava. Rousseau diz que o homem préhistórico não precisava falar para se alimentar. Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem. "O fruto não desaparece de nossas mãos", explica. Por isso não era necessário denominá-lo. Colégio Santa Dorotéia 1 Língua Portuguesa As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração. "Só chamamos as coisas por seus verdadeiros nomes quando as vemos em suas formas verdadeiras." Só quando Te viu a coisa na minha mão se calou. __ Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar! Ela virou-se na minha direção. Fez-se um silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou, veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo lugar e recomeçou seu lamento. Nem a bala serviu de consolo. Era tudo amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação. MARILENE FELINTO, Folha de São Paulo, 30 jan. 2001 VOCABULÁRIO Taipa: construção feita de estacas, ripas, varas, entrecruzadas, e barro Avassaladora: destruidora, arrasadora Estrume: adubo feito de esterco e folhas apodrecidas QUESTÃO 1 É possível perceber que, segundo o narrador, a maior exclusão vivida por Te é a) familiar. b) emocional. c) cultural. d) social e) religiosa. QUESTÃO 2 EXPLIQUE o sentido do adjunto adverbial destacado no contexto. “Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-linguagem...” Resp.: “O estágio qualquer de pré-linguagem” refere-se às condições desumanas daquela família. É como se eles estivessem ainda no tempo das cavernas: sem nome, sem habitação adequada, sem alimento abundante, sem nada. QUESTÃO 3 LEIA novamente o 4o parágrafo do texto, observando as funções sintáticas destacadas. “Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros. O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.” 2 Colégio Santa Dorotéia Língua Portuguesa Agora, FAÇA a correspondência dos termos com suas funções sintáticas. 1) APOSTO 2) ADJUNTO ADNOMINAL 3) ADJUNTO ADVERBIAL a) ( 3 ) “... num distrito de Sertânia...” b) ( 1 ) “...cidade a 350 km de Recife...” c) ( 2 ) “...de Pernambuco.” d) ( 1 )“...os visitantes estranhos. “ e) ( 1 ) “...carregador de estrume...” QUESTÃO 4 OBSERVE a última frase do texto. “Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação.” a) IDENTIFIQUE a figura de linguagem presente no trecho em destaque. Resp.: A figura de linguagem é antítese. b) EXPLIQUE o sentido dessa figura no contexto. Resp.: Morte em vida significa que aquelas pessoas foram esquecidas. Não tinham dignidade, viviam mais mortos que vivos pela falta de condições básicas de vida. QUESTÃO 5 RELEIA o trecho. “__ A gente chama ela de Te __ disse, banguela.” LEIA as afirmativas referentes a ele. I) Há duas orações no período acima. II) O sujeito da 1a oração é composto. III) “...de Te...” é predicativo do objeto. IV) “...banguela...” é predicativo do sujeito. V) A reescrita do trecho acima na variedade padrão formal é A gente lhe chama de te – disse, banguela. As afirmativas verdadeiras são a) I, II, V. b) I, III, IV. c) I, III, V. d) III, IV, V. e) II, III, IV. Colégio Santa Dorotéia 3 Língua Portuguesa QUESTÃO 6 LEIA um poema de Manuel Bandeira. O BICHO Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. ELABORE um parágrafo, explicitando a semelhança temática entre o texto 1 e o poema de Manuel Bandeira. Resp.: O texto 1 e o poema possuem a mesma temática. No texto 1, a garotinha Te não possui uma identidade, nem uma certidão, não possui nada: ela vive à margem da sociedade. No poema, o homem não tem moradia, alimento, higiene. Ele é confundido com um bicho que revira o lixo para sobreviver. Portanto, ambos os textos são uma denúncia à desumanização do homem. QUESTÃO 7 (ENEM – 2011) ENTRE IDEIA E TECNOLOGIA O grande conceito por trás do Museu de Língua Portuguesa é apresentar o idioma como algo vivo e fundamental para o entendimento do que é ser brasileiro. Se nada nos define com clareza, a forma como falamos o português nas mais diversas situações cotidianas é talvez a melhor expressão de brasilidade. SCARDOVELI, E. Revista Língua Portuguesa, São Paulo: Segmento, Ano II, no 6, 2006. O texto propõe uma reflexão acerca da língua portuguesa, ressaltando para o leitor a a) inauguração do museu e grande investimento na cultura do país. b) importância da língua para a construção da identidade nacional. c) afetividade tão comum ao brasileiro, retratada através da língua. d) relação entre o idioma e as políticas públicas na área de cultura. e) diversidade étnica e linguística existente no território nacional. 4 Colégio Santa Dorotéia Língua Portuguesa QUESTÃO 8 RELEIA O grande conceito por trás do Museu de Língua Portuguesa é apresentar o idioma como algo vivo e fundamental para o entendimento do que é ser brasileiro. Se nada nos define com clareza, a forma como falamos o português nas mais diversas situações cotidianas é talvez a melhor expressão de brasilidade. ASSINALE o único termo destacado que possui função sintática diferente dos demais. a) grande b) vivo c) diversas d) de Língua Portuguesa e) de brasilidade QUESTÃO 9 LEIA a tirinha. A partir da leitura da tirinha, só não é possível afirmar que a) pai e filha têm visões diferentes sobre a passagem do tempo. b) a menina demonstra com sua última fala que é preciso provar a vinda do próximo ano. c) o pai age com naturalidade diante da pergunta da filha no primeiro quadrinho. d) o pai acredita que o tempo passa naturalmente e certamente o próximo ano virá. e) a garota já ouviu falar de fatos que aconteceriam, mas não se concretizaram. Colégio Santa Dorotéia 5 Língua Portuguesa TEXTO PARA AS QUESTÕES 10, 11, 12 A INVEJA DOS OUTROS CONTARDO CALLIGARIS Anos atrás, decidi que, salvo necessidade absoluta, em voo internacional, eu não viajaria mais de classe econômica. Quando não posso pagar pela executiva, é simples: não viajo. A passagem de executiva dá direito ao uso de uma sala de espera confortável, que no Brasil é chamada de sala VIP (sigla de "very important person", pessoa muito importante). Há um quê de idiota na ideia de que alguém se torne importante por pagar uma passagem mais cara que os outros. Mas o que me interessa agora é o fato de que os passageiros de classe executiva, confortavelmente instalados na sala VIP, poderiam esperar até o fim do embarque da classe econômica; aí eles iriam ao portão já esvaziado e subiriam no avião. Não é o que acontece. Convidados a embarcar antes dos outros, eles entram no avião sob o olhar dos passageiros de classe econômica e ocupam seus assentos espaçosos, situados na parte da frente da aeronave, de forma que os passageiros de econômica, a caminho de suas poltronas-suplício, são obrigados a contemplar o privilégio dos que já estão instalados na executiva. Por que essa irracionalidade? É que o passageiro de executiva não compra apenas um tratamento mais humano e um espaço compatível com as formas médias de um corpo: ele compra também a experiência (desejável, aparentemente) de ser objeto da inveja dos outros. [...] Circulando de madrugada, passo pela entrada de uma balada. Há uma longa fila de espera, há seguranças imponentes e há uma "hostess" que escolhe quem pode entrar. Em Nova York, entram até desconhecidos, se forem bizarros, interessantes e decorativos. Em São Paulo, parece que a lista de clientes VIPs é soberana. Os outros esperam noite adentro, tentando ganhar a simpatia da "hostess". Vale a pena? O que acontecerá se eles forem admitidos? Pois é, será uma noite sensacional: eles tirarão fotos que postarão no Facebook e no Instagram. [...] De fato, na balada, muitos, VIPs e mortais comuns, apenas esperam a ressaca de amanhã. Mas, no círculo vicioso da inveja, a experiência efetiva é irrelevante; não é com tal ou tal outra vida e história concretas que se sonha: sonha-se ser o que os outros sonham. A inveja é, por assim dizer, uma emoção abstrata: o privilégio não precisa dar acesso a um estilo especial da vida [...], ele só precisa gerar inveja. Ou seja, privilégio não é o que faço ou o que acontece de extraordinário em minha vida, mas o olhar invejoso dos outros. Nesse mundo, em que a inveja é um regulador social, as aparências são decisivas porque elas comandam a inveja dos outros. Por exemplo, o que conta não é "ser feliz", mas parecer invejavelmente feliz. Nesse mundo, o ter é mais importante do que o ser apenas porque, à diferença do ser, o ter pode ser mostrado facilmente. É simples mostrar o brilho de roupas e bugiganga aos olhos dos invejosos. Complicado seria lhes mostrar vestígios de vida interior e pedir que nos invejem por isso. O Facebook é o instrumento perfeito para um mundo em que a inveja é um regulador social. Nele, quase todos mentem, mas circula uma verdade de nossa cultura: o valor social de cada um se confunde com a inveja que ele consegue gerar. [...] Folha de São Paulo, 22 ago. 2013 . Texto adaptado. 6 Colégio Santa Dorotéia Língua Portuguesa QUESTÃO 10 Segundo o texto, o Facebook é um ótimo instrumento na sociedade em que há um predomínio da inveja, pois a) é o local onde se posta fotos das pessoas pelas quais se tem admiração. b) representa os privilégios que se pode alcançar. c) demonstra a felicidade de fato alcançada, o que gera inveja nas pessoas. d) apresenta a capacidade de gerar inveja nas pessoas. e) explicita a vida das pessoas além das aparências. QUESTÃO 11 Todas as funções sintáticas foram corretamente identificadas entre parênteses, EXCETO a) “De fato, na balada, muitos, VIPs e mortais comuns, apenas esperam a ressaca de amanhã.” (sujeito composto) b) “a inveja é um regulador social” (predicado nominal) c) “parece que a lista de clientes VIPs é soberana” (predicativo do sujeito) d) “A passagem de executiva dá direito ao uso de uma sala de espera confortável” (sujeito simples) e) “mas circula uma verdade de nossa cultura” (adjunto adnominal) QUESTÃO 12 ANALISE a predicação do verbo em destaque. “o passageiro de executiva não compra apenas um tratamento mais humano [...]” MARQUE a alternativa que contém um verbo com a mesma predicação do analisado anteriormente. a) “Não é o que acontece.” b) “o valor social de cada um se confunde com a inveja” c) “as aparências são decisivas” d) “e ocupam seus assentos espaçosos” e) “alguém se torne importante” QUESTÃO 13 LEIA a seguinte charge Disponível em: <www.ivancabral.com> Sabendo que a charge é um gênero textual que depende do contexto histórico-social para ser compreendido, é possível afirmar que o texto anterior a) ironiza a precariedade do ensino a distância e de outros serviços oferecidos nessa modalidade. b) informa o leitor sobre a realidade dos serviços públicos no Brasil. c) evidencia os problemas de saúde e educação da rede privada na sociedade brasileira. d) narra problemas vividos por cidadãos brasileiros. e) explicita uma crítica aos serviços públicos prestados à população brasileira. Colégio Santa Dorotéia 7