WU BIN, FUNDADOR DO MARKET ACCESS E DIRETOR-GERAL DA ABYSS & HABIDECOR CHINA, RECOMENDA Empresas devem ver a China como um investimento de longo prazo O investimento de empresas portuguesas na China ainda “não é muito significativo”, admite Wu Bin. Em declarações à “Vida Económica”, o fundador do projeto Market Access e diretor-geral da Abyss & Habidecor China explica que tal sucede porque a maioria “não tem uma visão de investimento de longoprazo no mercado e prefere resultados rápidos, o que não é possível”. Os empresários portugueses defendem que, apesar das dificuldades existentes, se deve investir na China. FERNANDA SILVA TEIXEIRA [email protected] No ano em que Portugal e China celebram uma década de parceria estratégica, o investimento chinês no nosso país atravessa um período de forte crescimento, aproveitando as oportunidades que resultaram do programa de privatizações imposto pela “troika”. Porém, no sentido inverso, o investimento de empresas portuguesas na China continua a ser pouco significativo. Na verdade, apesar de ter registado um aumento de 18,8% em 2014, de exportações nacionais para aquele que será, em breve, a maior economia mundial foi de apenas 1,5 mil milhões de euros. Ainda assim, para Wu Bin, fundador do projeto Market Access e diretor-geral da Abyss & Habidecor China, “qualquer empresa portuguesa que tenha um bom produto e serviço, que tenha uma visão de longo-prazo, seja flexível e persistente pode ter sucesso neste mercado, independentemente do setor de atividade”. Em 2014, as exportações nacionais para a China atingiram “apenas” 1,5 mil milhões de euros A presença constante e a persistência são aspetos críticos em todos os processos de investimento num país como a China, salienta Wu Bin. Dimensão e capacidade financeira são essenciais Para o diretor comercial e de expansão da Impetus “não é fácil entrar neste mercado” e por isso as empresas nacionais precisam de “ter dimensão e capacidade financeira”. Qualidade e pensamento a longo prazo são assim palavras de ordem para se entrar neste mercado. “Os chineses investem muito tempo a negociar e a estudarem o seu parceiro de negócios. Tentam perceber a mais-valia em se associarem ao parceiro português, pelo que cada empresário deverá desde logo comunicar as vantagens competitivas da sua empresa, sejam elas, qualidade, inovação ou capacidade de resposta”, frisa Rui O seminário “O Mercado Chinês - Oportunidades e Desafios”, organizado pela Porto Business School, no âmbito da Pós-Graduação em Internacionalização, o consultor admite que “o investimento de empresas portuguesas na China ainda não é muito significativo” e lembra que “a presença constante e a persistência são aspetos críticos em todos os processos de investimento” neste país do Extremo Oriente. Considerando, “para além do produtivo”, todo o investimento na criação de subsidiárias comerciais, na promoção das suas marcas e na expansão dos pontos de venda, “nota-se que a maioria das empresas portuguesas não tem uma visão de investimento de longo-prazo no mercado e prefere resultados rápidos, o que Rodrigues. Igualmente presente no evento, Sérgio Alves, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, lembra que “ser facilitador e intermediário, que agiliza contatos de negócio, promove ativos e oportunidades, acelera a identificação de parceiros e clientes” são alguns dos papéis que a CCILC pode ter na dinamização das relações entre os dois países. Assim como “realizar eventos que promovem um networking de alto nível e que permite o acesso a uma rede de contatos de relevo”, remata. não é possível”, adverte o especialista. Para além deste, Wu Bin aponta ainda como erros estratégicos das marcas nacionais na abordagem ao mercado chinês o desconhecimento das caraterísticas essenciais do mercado e a ausência de uma presença física local. “Este é um mercado difícil, pois não é um só mercado, mas vários. É um país de escala continental, comparável à Europa nas suas diferenças internas”. Adicionalmente, “a maioria das empresas não tem uma presença local. Porém, é preciso ter alguém que seja os nossos olhos no mercado e dê respostas imediatas aos parceiros e clientes”. A terminar, Wu Bin deixa alguns conselhos às empresas portuguesas interessadas em abordar o mercado chinês: “de- vem ir ao mercado. Várias vezes. Identificar parceiros e clientes, promover os produtos, associar a marca à qualidade, mostrar e disponibilizar serviço. É ainda fundamental ter uma visão de longo-prazo e ser persistente”, remata. Chineses procuram o “Made in Europe” Presentes no evento para partilhar a sua experiência, Rui Rodrigues, diretor de exportação da Sonae MC, e Manuel Torres, diretor comercial e de expansão da Impetus, admitem que, apesar das relações político-diplomáticas entre os dois países atravessarem “um excelente período” o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) português na China ainda é “muito incipiente”. Ambos os gestores acreditam que “os empresários portugueses devem investir na China, porque este é um mercado fabuloso, com um crescimento económico brutal, e onde está o dinheiro”, mas lembram que a presença local “é fundamental para a dinamização de negócios com aquele mercado, pois só uma estratégia de médio e longo prazo assente numa relação de confiança conseguirá vincar”. Sobre o porquê de ser tão difícil a presença das empresas portuguesas no mercado chinês, Rui Rodrigues indica que “as empresas nacionais deverão ter acesso a informação de mercado, inclusive regional, de forma a segmentarem a oferta”, bem como “dispor de uma estratégia de entrada assente em promoção contínua. A imagem de Portugal como país produtor de excelência ainda se encontra pouco difundida no mercado e somente pelo meio da inovação, design e qualidade técnica se conseguirá atrair o consumidor e empresário chinês”. Ainda assim, o responsável da Sonae MC deixa um ‘aviso’: as empresas devem “estar bem preparadas para negociar com o seu interlocutor chinês” pois tal “é crucial”. “Deve-se ainda dispor de toda a informação útil para o efeito, em língua inglesa, e, idealmente, com materiais traduzidos também para chinês, como por exemplo a descrição do produto, a capacidade de produção, prazos de entrega, tabela de preços ou cotações”. Por sua vez, Manuel Torres afirmou que o “Made in China”, não tem credibilidade, e que os chineses sabem disso mesmo. Por esse motivo, eles precisam do “Made in Europe”, uma marca europeia com capacidade tecnológica, e com know-how”. “Os chineses procuram luxo, o estilo de vida europeu, as marcas e a qualidade”.