1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Pedagogia Trabalho de Conclusão de Curso ENFRENTAMENTO DO PRECONCEITO RACIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Autora: Veronilma Andrade Silva Orientadora: Profª. Dr.ª Lêda Gonçalves de Freitas Brasília - DF 2014 2 VERONILMA ANDRADE SILVA ENFRENTAMENTO DO PRECONCEITO RACIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Artigo apresentado ao curso de graduação em Pedagogia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciada em Pedagogia. Orientadora: Profª. Dr.ª Lêda Gonçalves de Freitas. Brasília 2014 3 4 AGRADECIMENTOS Acima de tudo, agradeço ao meu grande e soberano Deus, pelas preparações dispensadas durante todo este percurso acadêmico. Ao meu querido esposo, assíduo acompanhado nesta trajetória, sempre me apoiando e incentivando, aos meus familiares e meus filhos. As (aos) amigas (os) da pedagogia pelos quais passamos por inúmeros obstáculos e aprovações para em fim, vencemos. Em especial a minha amiga e companheira de jornada, Josélia Cruz, presente durante todo curso nos trabalhos, estágios, provas e aflições. A minha orientadora Lêda Freitas, na qual tenho extrema admiração, quero externar a minha imensa gratidão pela paciência durante os semestres cursados em suas disciplinas, sendo inestimável o privilégio de tê-la como orientadora em meu projeto final. Sempre demonstrando a afetividade inerente aos grandes educadores e expondo com seriedade e serenidade profissionalismo. suas intervenções, sem perder sua postura e 5 ENFRENTAMENTO DO PRECONCEITO RACIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL VERONILMA ANDRADE SILVA Resumo: O artigo descreve as ações inerentes ao corpo profissional do centro de educação infantil pesquisado para o enfrentamento do preconceito racial no ambiente escolar. Resgatando todo um histórico temporal da vida, cultura e luta da raça negra desde os tempos da escravatura até os dias atuais, focando sempre o espaço educacional como centro de disseminação, como também de erradicação dessa mazela. Mais especificamente, busca identificar a prática dos educadores para trabalhar a temática acerca da minimização dos preconceitos de origem étnica. Traz o preconceito como reflexão principal, nas salas de aula da educação infantil, como tema gerador para todo ano letivo e não resumida aos dias comemorativos acerca dos negros, como o “Dia da consciência negra”. A bibliografia vem demonstrando a existência, mesmo após o centenário do fim da escravatura, que esse mal se perpetua mascarado em outras formas de discriminação. Grandes autores convergem em afirmar essa retórica de segregação por raça. O trabalho expõe as leis que pautam a discriminação no Brasil, sua real valência e aplicabilidade, além de toda evolução histórica social constituinte, os projetos ainda em discussão no congresso e as políticas públicas para a inserção na sociedade, cotas em faculdades e concursos. Destaca a importância da capacitação do docente e todos os agentes educacionais propondo discutir o papel da escola. Através de uma pesquisa de campo, direcionada por uma metodologia qualitativa com a introdução de questionários para averiguação dos pontos voltados ao tema sugerido e como os diferentes profissionais agem diante dessa problemática. Após análise dos dados foi constatado a existência da discriminação, mesmo que indiretamente, e mais agravante foi que o estado, representado pela escola, demonstra total incapacidade para lidar com o tema e muito menos disponibiliza capacitação para seus professores enfrentarem desse distúrbio social, Palavras-chave: Preconceito racial. Educação Infantil. Educadores 6 1- INTRODUÇÃO O projeto visa um estudo acerca da discriminação para o Enfrentamento do preconceito racial na educação infantil. Em uma vivência como auxiliar de sala em uma escola particular, observamos práticas de preconceito racial entre as crianças brancas com as negras. Isto nos traz uma preocupação ao presenciarmos crianças tão pequenas com atitudes racistas. E ao mesmo tempo nos causa uma frustração ao constatarmos o despreparo do educador e de toda a escola para lidar com a situação. A única medida tomada inicialmente pela professora regente, sobre esta questão, foi repassar o caso a coordenadora da escola, sendo que esta demonstrou total incapacidade e passividade em tomar qualquer providência concreta. Porém, a família do aluno negro veio questionar sobre a situação, junto à coordenação, pois seu filho não queria mais ir à escola em detrimento do ocorrido, porque o garoto branco estava tendo essa atitude discriminatória e o que a escola faria em relação ao problema. Após a manifestação da família, a professora da turma, chamou o aluno branco e questionou o porquê desse comportamento em relação ao seu colega, a resposta da criança foi direta: porque ele é negro e “sujo”. A mãe da criança negra é de pele bem clara, uma pessoa bem sucedida (advogada), o pai também uma figura importante engenheiro, porém negro, de origem Angolana. Os pais da outra criança também pessoas bem sucedidas (advogados) logo conscientes da legislação que pautam o tema racismo. No entanto avaliando os fatos percebemos que o preconceito racial é indiferente ao “status” do indivíduo, um problema que atinge todas as classes sociais, mais ou menos acentuados. Mediante o problema citado, a mãe da criança negra solicitou ajuda a professora da turma. Em resposta ela se comprometeu a conversar com os educando, buscando estratégias para introduzir o tema, pontuando as diferenças entre os indivíduos. _________________________ 1 Artigo apresentado por Veronilma Andrade Silva ao Curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Licenciado em Pedagogia. Artigo aprovado pela Profª Dr.ª Lêda Gonçalves de Freitas (orientadora) e o Profº. Drº. Ricardo Spindola Mariz (professor examinador). Taguatinga, 06 de junho de 2014. 2 Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Católica de Brasília (UCB). 7 A partir do problema apresentado, por iniciativa própria, sem um respaldo da coordenação ou direção, a educadora começou um trabalho específico a distinção das pessoas, raça, chamando as duas crianças a frente, junto com todos citou as diferenças físicas existentes entre eles, isto sem expor as crianças. Aos poucos foi demonstrando as inúmeras diferenças físicas existentes, desde o cabelo, pele, altura, coloração dos olhos. Depois desta experiência a professora abordou o assunto sempre de forma diferente, caracterizando sempre algo dentro do contexto que trabalhava em sala de aula naquele momento. Em uma determinada aula trouxe fotos de vários animais mostrando suas diferenças, desde a coloração do pêlo, tamanho, focinho maior ou menor, entre outras, concluindo que as diferenças fazem parte do natural, sendo a maior riqueza de um povo de um ecossistema. Segundo Cavalleiro (2012, p.36) apesar da dificuldade de obter informações com crianças muito pequenas destaca que, ao realizar pesquisas com profissionais da pré-escola, constatou que existem sim práticas de preconceito raciais nas relações interpessoais entre adultos/ adultos e adultos/ criança, porém não foi constatada nenhuma existência de discriminação entre crianças. O fato de a criança branca ignorar seu colega não caracteriza diretamente um ato discriminatório, pode está relacionado ao seu meio em que vive. A autora Aparecida (1996) também ao pesquisar crianças, de 5 a 6 anos, analisou que nesta faixa etária, fatos correlacionados as distintas etnias no seu contexto social, aponta como não perceptível à ocorrência de discriminação entre as mesmas. Ela julga as situações apresentadas relatando os diálogos entre as crianças negras e brancas e a existência de preconceitos apenas no que tange ao estereótipo físico em relação aos personagens históricos negros. Neste sentido a autora aponta que nesta fase as crianças, quando acentuam identificações ou descrições referem-se à cor da pele. Mas em outro contexto Cavalheiro (2012) aponta que apesar da dificuldade de identificar preconceito racial nesta idade ela indica que a resposta com ofensas transmitida na fala da criança, é um despertar de um pensamento preconceituoso existente. A realização de pesquisa com o objetivo de compreender a dinâmica das relações multiétnicas no âmbito da educação infantil representa um recurso de avanço no combate ao racismo brasileiro, visto que estudos dessa natureza revelam como se dão as relações interpessoais, seus benefícios, e seus prejuízos para os indivíduos que convivem na escola, bem como fornecem subsídios para a elaboração de novas 8 práticas educacionais, que seja na família, quer seja na escola Cavalleiro,(2012,p.37). A luta pelo direito a igualdade vem de uma longa trajetória. O preconceito racial tem sido objeto de estudos, analises e debates por vários estudiosos. Há muitos trabalhos apresentados pelo movimento negro social com a expectativa de combater o preconceito racial, porém mesmo assim a discriminação ainda repercute dentro das escolas e na sociedade em geral. O negro ainda é visto com desprezo, como pessoas menos capacitadas e instruídas. Nas escolas ocorrem com maior frequência, começando a partir da educação infantil, onde já podemos observar crianças pequenas com características preconceituosas, não aceitando o seu colega em detrimento de sua cor. Valente, (1995) aponta que há possível responsabilidade por parte da escola em omitir entre o problema étnico e dissemina preconceitos. Sedo a escola mediadora para a construção do cidadão, esta possivelmente deve manter sua conduta em transmitir conceitos necessários para a abordagem deste assunto. Neste sentido faz-se necessário um trabalho no intuito de possibilitar a reflexão sobre o preconceito racial, pois a criança negra assim como qualquer outra precisa ser valorizada e acima de tudo respeitada. Esta missão de reconhecimento e respeito a essa raça é de suma importância, é questão de justiça social, negligenciada durante centenas de anos, os educadores devem assumir seu papel de protagonista para a disseminação da ética, do respeito e da valorização da pessoa negra, tendo presente os valores étnico-raciais e contribuindo para a construção de uma sociedade mais igualitária e menos preconceituosa. Segundo Cavalleiro, (2012, p.17), “a experiência escolar amplia e intensifica a socialização da criança”. A autora ressalta que o contato com outras crianças de mesma idade, ou com outras pessoas que não são pertencentes ao seu grupo familiar, possibilita outros modos de enxergar o mundo, tornando possível a socialização por meio de experiências vividas, ocorrendo necessária interiorização das regras afirmadas pela sociedade. Muitas crianças sofrem no ambiente escolar, até mesmo porque já vêm de lares que possuem pessoas preconceituosas, demonstram características de rejeição, sentem-se inferiores, simplesmente por não ter alcançado sucesso na vida, ou então, mesmo bem sucedidas sentem-se inferiores, deixando evidente a falta da 9 autoestima, simplesmente por ser de cor. A estas devem ser feito um trabalho minucioso, aproximando delas conhecimentos e atitudes para prepará-los para compreender sua vivência dentro do contexto de mundo de uma sociedade. Nas escolas é notória a ausência de preparação dos docentes para lidar com esse preconceito. Muitas abordam o tema como simplesmente uma data a ser comemorada e lembrada, a exemplo do Dia da Consciência Negra, eximindo-se da responsabilidade de desenvolver o tema durante todo o ano letivo em todas as situações que direta ou indiretamente agucem a discriminação. A necessidade de um trabalho direcionado para a superação do preconceito principalmente na infância, nos primeiros anos escolares, fazendo as crianças aprenderem o sentido da palavra respeito, o entendimento das diferenças e da diversidade como a riqueza de uma nação, da vida humana. Aparentemente como supracitado não é sabido a origem desta tendência preconceituosa, se a criança nasce preconceituosa ou se adquirem através de vivências familiares jugando que certas atitudes levam ao pensamento preconceituoso. Carvalleiro (2012) aponta que as atitudes e os comportamentos sociais não serão obrigatoriamente cópias fiéis das atitudes e dos comportamentos de seus mediadores. Porém conforme a autora, dizer isto não significar diminuir o papel dos mediadores, nem desconsiderar o fato de as crianças se identificarem com os seus familiares: pais, irmãos mais velhos e outros adultos, neste sentido elas podem copiar a conduta dos adultos exatamente da forma que elas veem a atuação do adulto em sua volta. Este trabalho faz uma reflexão sobre a importância dos trabalhos pedagógicos direcionados aos alunos da educação infantil, na tentativa de levar práticas que promovam o respeito à diversidade étnico-racial. Apesar de muitos movimentos realizados na tentativa de conseguir um espaço digno como ser humano, com direitos iguais, ainda vemos o preconceito racial prevalecendo dentro da nossa sociedade, os negros passam por sérios desafios no intuito de superação dos preconceitos. Assim sendo, o objetivo geral deste estudo é descrever as ações pertinentes ao grupo profissional do centro de educação infantil para enfrentar o preconceito racial. Especificamente, buscar-se-á identificar a prática dos professores para trabalhar a temática da igualdade racial; e destacar as políticas públicas que visem à igualdade racial. 10 REFERENCIAL TEÓRICO. 2.1 Uma breve reflexão sobre o racismo no Brasil: A história do Brasil é contada de diversas formas, sabemos que a história do Negro no nosso país, sempre foi de sofrimento e luta. Por se achar instalado no Brasil com um sistema que escravizava os povos (negros) vindouros da África, na intensão de manter a Burguesia de brancos da Europa. Os negros ao chegarem ao Brasil foram recebidos com repressão, opressão e trabalho escravo. NERI, (2010). Ao longo de toda história humana sabemos que os negros, têm enfrentado obstáculos para conseguir um espaço na sociedade, desde sua longa história de escravidão, onde os direitos de posse eram cedidos somente aos grandes senhores de engenho. Submetiam-se apenas a prestação de serviços aos seus senhores sem direito a uma vida digna. Mesmo quando veio a tão almejada libertação, a abolição da escravatura, estas pessoas ficaram sem residência, sem trabalho, sem direito a educação, eram taxados como preguiçosos. Muitas lutas e movimentos políticos são travados até os dias atuais. [...] a história da humanidade nos revela que os homens quando se organizaram em sociedade, o fizeram e ainda fazem, baseando-se em padrões e sistemas classificatórios e hierarquizantes das relações entre si, seja, por questões intelectuais, religiosas, econômicas ou raciais. Coqueiro (2008, p.6), Cavalleiro. (2012), a realidade vivida diariamente por negros não se constitui uma história recente. Em 13 de Maio de 1888, houve a libertação dos escravos no Brasil, tornando os africanos e afro-brasileiros iguais ao homem branco, perante a lei, iniciando uma “nova” sociedade. A pesar dos problemas citados pelos exescravos, a nação adotou solução para estes “problemas” fornecendo a chave do entendimento das relações raciais no Brasil. O Racismo no Brasil foi denominado “racismo cordial”, todavia a autora Cavalleiro (2012), denomina como imprópria, porque esta, marca a falência da democracia racial. Segundo ela, o aprofundamento da desigualdade econômica, com consequências sociais dos negros em relação aos brancos abalou o consenso sobre o caráter democrático das relações étnicas e a inexistência de racismo em 11 nossa sociedade. A autora aponta que atualmente no Brasil o racismo tem tomado proporções tão alarmantes que até mesmo o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, admitiu publicamente a existência de práticas racistas em nossa sociedade. O Brasil é considerado o país com a segunda maior população negra do mundo, atrás da Nigéria. Por meio de lutas incessantes, o movimento negro organizado denunciou as condições de vida da população negra brasileira, evidenciando que o acesso e a permanência dessas pessoas no sistema educacional são permeados por uma série de entraves. É com base nessas constatações que obrigaram o Estado a desenvolver políticas públicas de combate às desigualdades sociais e educacionais. ROMÃO, (2005). Segundo Jaccoud, (2009) “o racismo nasceu no Brasil associado à escravidão, mas é principalmente após a abolição que ele se estrutura como discurso”. Para ele o racismo é o princípio ativo do processo de colonização. Neste contexto podemos ver que a teoria racista encontra-se amplamente enraizada na sociedade brasileira, e o projeto de branqueamento permaneceu até os anos 30 do século XX, quando foi substituído pela chamada ideologia da discriminação racial. Entretanto o autor Jaccoud, (2009), destaca “que no Brasil, o inicio da República não foi marcado pela construção de uma dimensão política formuladora nas idéias de igualdade e homogeneidade do corpo social. Ao contrário, foi a teoria do branqueamento que pôde sustentar, durante algumas décadas um projeto neste sentido”. A ideia de que o progresso do país dependia não apenas do seu desenvolvimento econômico ou da implantação de instituições modernas, mas também do aprimoramento racial de seu povo, dominou a cena politica e influenciou decisões públicas das ultimas décadas do século XIX, contribuindo efetivamente para o aprofundamento das desigualdades no país, sobretudo, ao restringirem as possibilidades de integração da população de acedência Africana. Jaccoud, (2009, p.49). O autor Jaccoud, (2009), relata que o ideal do branqueamento consolidou-se em meados de 1920 e 1930. A forma que as elites nacionais percebiam a questão racial era mais positiva, para eles, o Brasil parecia branquear-se de maneira significativa, e os problemas raciais caminhando para uma solução. Mas em meados de 1940, a forma de interpretar o problema passou a sofrer transformações com a 12 disseminação da ideia da democracia racial como expressão da experiência brasileira. 2.2 A contribuição da escola no combate ao preconceito racial. A escola deve contribuir para que os princípios constitucionais de iguadade sejam respeitados, principalmente no que se refere às questões da diversidade cultural. O papel fundamental do educador no desenvolvimento das pessoas e da sociedades ampliam-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos, PCN (1998). Para Santos, (2001, p.103) “nos ultimos anos muitos olhares tem se voltado a questão das relações, dos contidianos, das situações surgidas em sala de aula, apontando o quanto ocorre de discriminação no espaço escolar”. A autora acrescenta, que as dificuldades de lidar com o preconceito racial, parte principalmente dos agentes educativos (professores, diretores, cordenadores pedagógicos, agentes escolares, equipe administrativa). Santos, (2001) ressalta que há um grande avanço na analise para escolhas dos livros didaticos a serem trabalhados nas escolas, sendo estes eficazes. Porém restam avançar na produção de materiais que trabalhem o “Etnocentrismo”, com metodologia para trabalhar a diversidade racial no âmbito escolar. Tratar da discriminação racial dentro do ambiente escolar, não significa ajudar a criança negra a ser forte para suportar o racismo, como se apenas ela tivesse problemas com sua identidade ou com sua auto estima. Faz - se necessário corromper a ordem dos curriculos escolares, que insistem em apresentar a produção cultural erocêntrica como o unico conhecimento válido. O restante vem das contribuições dos diferentes grupos que constituiram este país. Santos, (2001, p.106). Segundo Silva (2008), é na escola durante a socialização que as crianças passam a desenvolver sua identidade e autonomia na interação com os colegas, ampliando os laços afetivos, podendo contribuir no desenvolvimento do outro e para a compreensão das diferenças, sendo aproveitadas o reconhecimento de si próprias, é a partir desta faze que a criança percebe o que ocorre em seu pequeno espaço onde convive, diante destas percepções começa a ter uma visão de “mundo”, compreendendo as diferenças que o cercam. 13 Trabalhando as diferenças faz-se necessário que o professor desenvolva práticas pedagógicas relacionando as etnias, incluindo a comunidade negra. Suas raízes, sua diversidade, como povo, línguas, sotaques e culturas. O trabalho deve ser feito de forma prazerosa, onde os estudantes possam descobrir a importância de suas culturas, das manifestações artísticas, das crenças e dos rituais afrobrasileiras, procurando se apropriar delas construindo conhecimento para a própria luta social. Muitas vezes o trabalho pedagógico realizado dentro da escola favorece a discriminação, fortalecendo o preconceito, como citado por Santos (2001) e Valente (1995), em parágrafos anteriores. Parte desta conduta é quando professor escolhe somente metodologias com temas que favorecem somente as crianças brancas dando a elas interpretações de príncipes e princesas, e as negras, sempre os papéis menores como de escravos. A partir deste contexto o professor deve ter certo cuidado, pois o direito de iguadade é para todos. A criança negra também deve ser lembrada nos principais papéis, fazendo com que ela se sinta importante. O professorando em geral, não percebe as graves diferenças existentes nos resultados escolares de crianças negras e brancas. Não estabelece relações entre raça/etnia, gênero e desempenho escolar, e não percebe também como esta não percepção interfere na sua própria conduta. Entretanto, sabe-se que as representações determinam as relações, os comportamentos, as experctativas e as interações sociais. Silva (2001, p.66). Segundo pesquisa realizada pela UNICEF (2010) - (Fundo das Nações Unidas para a Infância), “o direito de aprender não tem cor, e das quinhentas e trinta mil crianças que estão fora da escola 62% são negras mesmo sendo 54% do país estas crianças são mais excluídas, estes números se refletem na vida contidiana destas crianças, este trabalho foi realizado na intenção de promover um alerta no cuidado das crianças negras”. As crianças que mais sofrem com a discriminação são as crianças negras e pobres, muitas fazem parte de um ambiente em que a família já vem passando por processo difícil, como fome, falta de abrigo, desemprego e marginalizadas pela própria sociedade. As crianças ao entrar na escola já trazem de casa ricas experiências aprendidas com seus familiares e comunidade em que vivem. Para Vygotsky (1991) 14 “o raciocínio prático da criança apresenta alguns pontos semelhantes com o pensamento adulto, diferindo em outros, além de enfatizarem o papel dominante da experiência social no desenvolvimento humano”. Rego (2000) acrescenta que a criança desde pequena tende a adquirir conceitos de práticas de imitações, e com a interação com o meio físico e social, elas passam a realizarem uma série de aprendizados. A autora ressalta que a criança como membro de um grupo social-cultural determinado, vivencia um conjunto de experiências operando sobre todo o material (conceitos, valores, idéias, objetos concretos e concepção de mundo). Sendo assim é muito comum que a mesma entre no espaço escolar com alguns costumes adquiridos pelos familiares. Com base neste, Silva (2001) destaca que o despreraro do professor é bem visível, a criança precisa de orientações para entender o conceito de vida, cabe ao professor ter um olhar diferenciado, observar e compreender o seu aluno, e não simplesmente virar as costas e fazer de conta que nada está ocorrendo, fazendo assim ele passa a contribuir para que o racismo se perpetue dentro do ambiente escolar, favorecendo mais ainda o crescimento das práticas discriminatórias, produzindos e reproduzidos dentro da escola. É dentro deste espaço escolar que a criança passa a interagir com outras crianças e com os adultos, e através deste passa a aprender novas situações que irão fazer parte de suas vidas. Cabe, ainda, a esse espaço de educação cuidar do bem estar da criança, em seu desenvolvimento. Cuidar e educar nessa etapa da vida é dimensões inseparáveis e fundamentais para o pleno desenvolvimento e realização do ser humano, Rego (2000). . Na perspectiva Vygotskiana, embora os conceitos não sejam assimilados prontos, o ensino escolar desempenha um papel importante na formação de conceitos de um modo geral e dos científicos em particular. A escola propicia ás crianças um conhecimento sistemático sobre aspecto que não estão associados ao seu campo de visão ou vivencia direta (como no caso dos conceitos espontâneos). Possibilita que o individuo tenha acesso ao conhecimento cientifico construído e acumulado pela humanidade (REGO, 2000,p.79). Segundo Vygotsky (1991) “à medida que a criança cresce, não somente muda as atividades invocadoras da memória, como também o seu papel no sistema das funções psicológicas”. É com base neste sentido que o educador deve se 15 preparar com metodologias pedagógicas em que possam valorizar as crianças, não somente as brancas, mas as negras também. Um trabalho pedagógico que atinja a criança negra e branca, seu reconhecimento como ser, a valorização de si mesma, entendendo as diferenças e respeitando o espaço de cada uma. O educador deve trabalhar com uma prática pedagógica que auxilie e facilite o entendimento das diferenças de cor, fazendo com que cada criança possa conhecer sua real identidade. Exemplo, por que não começar com as diferenças existentes na natureza? Citemos os animais mostrando as variedades de espécies... as plantas temos tantas variedades, observemos as flores, entre tantas outras subclasses e famílias da nossa biodiversidade. O professor pode sugerir aos alunos que levem para sala de aula flores de cores diferentes, e a partir deste contexto trabalhar o preconceito racial, sobre uma ótica de diversidade e diferenças, este trabalho fará com que a crianças passem a conhecer um mundo real de valores, aprendendo a respeitar o seu próximo. Hoje, sabemos que há trabalhos diversificados para se evidenciar o preconceito racial na educação infantil, os brinquedos de cores negras já existentes, os livros didáticos que apontam histórias com crianças negras. O professor é o principal agente provedor dessas didáticas de promoção da diversidade e respeito social, podendo provar que não existe diferença de uma criança negra em relação a uma criança branca. O que vemos mesmo é a falta de interesse por parte, não só do professor, como também por todo o contexto escolar. Nesta questão há na verdade a legislação que permeia esse tema, mas esta lei não é aprimorada e nem há fiscalização para saber se estes contextos estão sendo aplicados de forma coerente. 2.3 Políticas Públicas para o enfrentamento da desigualdade racial Segundo Jaccoud, (2008) as políticas públicas nos últimos anos tem se intensificado a favor do combate a discriminação racial. A partir da década de 1980 passou a serem introduzidas diversas ações. Inicialmente as iniciativas têm se originado no âmbito dos governos estaduais e municipais, passando a serem desenvolvidas pela esfera federal. Porém a iniciativa ganhou força a partir de 2000, na esfera federal, estadual e municipal, de forma autônoma em algumas instituições públicas como as Universidades e o Ministério Público. 16 O autor cita alguns “programas como, o estabelecimento de cotas visando ampliar o acesso de estudantes negro ao Ensino Superior e o programa de combate ao racismo institucional. Ações no campo educacional e no mercado de trabalho que têm sido igualmente adotados”. Jaccoud, (2008, p. 132). Uma das politicas pública atual aprovada em 26 de Março pelo Plenário da Câmara dos Deputados por 314 votos a 36 e seis abstenções, e em 29/04 pela comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH) é o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 29/2014, reservando aos negros “vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”. Está aguarda analise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e do Plenário do Senado, se for aprovado será encaminhado para sanção da presidenta Dilma Rousseff. Brasil. Seppir-pr, (2003). Com base neste contexto podemos perceber as dificuldades apontadas na aprovação destas políticas públicas, sendo necessário muitas interversões cheias de expectativas. Apesar dos avanços há ainda muito entrave para a consolidação dos direitos reservados aos negros em nossa sociedade. 2.3.1 Estatuto da Igualdade Racial Lei 12.288. “Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003” Brasil (2010). A Lei 12.288, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em 20 de julho de 2010, no intuito de atender as reivindicações da população negra, instituiu o Estatuto da Igualdade Racial. Esse documento tem como objetivo garantir o direito de igualdade e proteção dos direitos sociais, culturais e políticos dos afrodescendentes. O Estatuto de Igualdade Racial é destinado à defesa dos direitos dos negros em todo contexto social. Na educação estabelece obrigatoriedade aos estudos da história geral da África e da história da população negra no brasil. Brasil (2010). 17 Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da história geral da África e da história da população o negra no Brasil, observado o disposto na Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996 o § 1 Os conteúdos referentes à história da população negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País. o § 2 O órgão competente do Poder Executivo fomentará a formação inicial e continuada de professores e a elaboração de material didático específico para o cumprimento do disposto no caput deste artigo. o § 3 Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos responsáveis pela educação incentivarão a participação de intelectuais e representantes do movimento negro para debater com os estudantes suas vivências relativas ao tema em o comemoração (Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Brasil, (2010). Com esse conjunto de preocupações cotidianas acerca do tema no contexto educacional, voltado para o desenvolvimento de direitos humanos a partir da História e Cultura Afro-Brasileira, estabelecendo um eixo fundamental na construção da democracia, pode-se analisar que apesar das preocupações governamentais em estabelecer essas Leis, não há uma prevenção do preconceito racial nas escolas, sendo possível perceber as dificuldades dos docentes em garantir o respeito às diferenças raciais, LDB (1996). Jaccoud, (2008). O autor também destaca que apesar de todos os esforços a maior parte destas iniciativas é considerada dispersa. Ele aponta que as dificuldades encontradas são diversas, impondo a consolidação da temática da desigualdade e à discriminação racial como objeto legítimo e necessário da intervenção pública. A manifestação de racismo – como uma ideologia que preconiza a hierarquização dos grupos em função de sua cor, raça ou etnia- e a discriminação racial direta- via injúrias ou cerceamento de acesso ou oportunidades são classificados no Brasil, desde o final de década de 1980, como crimes, e são passíveis de acusação e prisão. Jaccoud, (2008, p.134). O autor também menciona que a sociedade brasileira tem utilizado pouco, os recursos jurídicos, e quando usados não alcançaram retornos satisfatórios, em termos de punição. Porém “as causas apontadas para as dificuldades de aplicação do direito no campo racial são várias, sendo citadas, entre outras, a necessidade de que o acusado comprove a motivação racista do ato”. Jaccoud, (2008, p.134). 18 2.3.2 Lei nº 10. 639/2003 Com uma finalidade de promover justiça e igualdade numa escola pública de qualidade acessiva as populações historicamente rejeitadas de seu direito à educação foi aprovada em 9 de janeiro de 2003, com a Lei nº 10.639/03 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), instituindo a obrigatoriedade do ensino de história e culturas afro-brasileira. No ano seguinte, o Conselho Nacional de Educação aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana. o A Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, “passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos”. Art. 26 – “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. § 1º “O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas sociais econômicas e política pertinente à História do Brasil”. § “2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira”. Brasil.(2010). Considerada pelo movimento negro como uma importante conquista, a lei 10.639/03 apesar de estar em vigor a seis anos, tem encontrado dificuldades para ser efetivada, tanto na rede pública como na particular, não conseguindo dar início ao processo consistente de alteração da cultura da discriminação presente na maioria das escolas brasileira. Rocha (2009). Embora a Lei 10.639/03 esteja acompanhada de um razoável escopo legal (Parecer 03/04 do Conselho Nacional de Educação que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Ralações Étnicoraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, algumas deliberações aprovadas por Conselho Estaduais de Educação. Rocha (2009, p.48). O autor Rocha (2009), destaca que os reflexos da lei 10.639/03 com iniciativas do poder público para efetivação da mesma, dentro do ambiente escolar, têm preocupado o movimento social negro, intelectuais, educadores e gestores 19 envolvidos com a temática do preconceito racial e com a educação. Algumas razões foram citadas pelos educadores como justificativa para as dificuldades nas abordagens ao negro no currículo escolar: uma destas dificuldades foi a ausência dos conteúdos previstos na Lei 10.639/03 nos currículos de formação inicial dos professores, esclarecendo que os investimentos aplicados na formação continuada de educadores são insuficientes, sem falar na pequena disponibilidade de livros e materiais didáticos que retrata o tema. No entanto não resta dúvida que apesar das dificuldades encontradas, a Lei 10.639/03 é uma importante conquista para a sociedade brasileira, pois trouxe ao campo das políticas educacionais contemporâneas reflexões importantes efetuadas pelos movimentos sociais. Rocha (2008, p.57). 3 - MÉTODO Segundo Ludke (1986, p.45), “a abordagem qualitativa é a experiência mais direta com o fenômeno, porque ajuda a descobrir técnicas novas para soluções do determinado problema”. Esta abordagem permite contato direto com a realidade, o que contribui para maior acesso do tema a ser pesquisado o preconceito racial. Participantes: A pesquisa aconteceu em uma escola particular localizada em Águas Claras. Participaram da pesquisa dez professores, todos da educação infantil, no qual o público alvo atendido é de classe média. Os participantes são do sexo feminino. A faixa etária entre 26 e 37 anos, com tempo médio de atuação na docência de 2 a 14 anos. Todas graduadas em Pedagogia, sendo que 3 (três) tem especialização. As professoras lecionam em turmas com a faixa etária entre 3 e 5 anos. Instrumentos O instrumento utilizado foi o questionário que de acordo com Nascimento (2000) é caracterizado como um documento original que também é um meio de 20 comprovação de dados, a partir das informações coletadas. Foi elaborado com vistas a atender os objetivos da pesquisa (Ver Anexo I). Procedimentos de coletas de dados. Foi necessário solicitar a autorização da direção da escola, para aplicar o questionário aos professores. A conversa com os professores foi no horário de coordenação agendada pela coordenação pedagógica, onde esclarecemos a temática e os objetivos do artigo, sem induzir a resposta, dando lhes autonomia para compartilhar situações vivenciadas no seu contexto escolar em especial dentro da sala de aula. O questionário foi entregue aos professores e recolhido em data posterior, respeitando seu horário de coordenação, acarretando certa dificuldade com relação à espera para o preenchimento dos questionários. Análise dos Dados Este trabalho foi organizado em categorias e interpretado considerando os objetivos da pesquisa. As categorias: a) O Preconceito Racial em Sala de Aula; b) O Ensino das relações raciais na educação infantil; e c) A Escola e o enfrentamento do preconceito racial. As professoras serão identificadas por números, sendo Professora 01, Professora 02 e assim sucessivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO A priori serão apresentados os resultados da pesquisa, e, em seguida, destacar-se-á a discussão considerando a fundamentação teórica apresentada. a. O Preconceito Racial em Sala de Aula Neste estudo, 50% das professoras relataram situações de discriminação racial em sala de aula na educação infantil. Em geral, as professoras mencionaram que alunos brancos em várias atividades desenvolvidas na sala não quiseram realizá-las com os estudantes negros. Em vários relatos, as professoras destacaram 21 que na roda de conversa que acontece logo no início da aula, alunos brancos se recusam a sentar perto dos alunos negros. Conforme a Professora 01, em sua sala, um aluno branco evidenciou que não sentaria perto do colega negro porque “era sujo”. As Professoras 2, 3 e 4 pontuaram que ocorreu em suas salas situações em que algumas crianças não quiseram pegar na mão do colega negro, afirmando que era por causa da cor. A professora 05 destacou que uma de suas alunas recusou participar do ensaio da festa junina realizada na escola porque o seu parceiro era de cor. Mediante tais situações apresentadas acima, a naturalização das ofensas, levam estes fatos a contribuírem e manterem a prática do racismo e da discriminação dentro de sala, estas situações afetam a alto-estima do aluno agredido trazendo certa insegurança para sua vivência. Como citado em parágrafos anteriores Cavalleiro (2012) destaca que apesar da dificuldade de identificar o preconceito racial com as crianças pequenas, admite-se, que os confrontos e as respostas transmitidas por elas geram um comportamento idealizando um pensamento preconceituoso. Vygotsky (1991) aponta que a criança ao entrar na escola já traz de casa experiências aprendida com seus familiares e destaca que o raciocínio prático da criança apresenta pontos semelhantes com o pensamento adulto. Assim sendo, pode-se afirmar que o preconceito por parte de crianças tão novas é construído pelas suas relações familiares e, ainda, por toda a dinâmica social que apresenta práticas de racismo. Sabe-se que o racismo está introjetado na cultura brasileira, para vencê-lo será necessário uma grande mudança de mentalidade. b. Ensino das relações raciais na educação infantil Para o enfrentamento do preconceito racial dentro da escola faz necessário um trabalho conjunto, envolvendo, professores, gestores e diretor. Apesar da alteração da Lei nº10. 639/03 podemos ver que, há certa dificuldade em se trabalhar o contexto, os professores só utilizam a aplicação da lei no ensino das disciplinas de história e na circunstância da comemoração da consciência negra. Esquecendo de que este trabalho é voltado para a compreensão da defesa humana, de povos que veio de uma história de muito sofrimento, mas também de grandes conquistas. Deixando claro que não é porque a pele é negra que não se trata de seres humanos, 22 todos nós somos criações Divina. A ausência dos conteúdos previstos na Lei 10.639/03 nos currículos de formação inicial dos professores, esclarecendo que os investimentos aplicados na formação continuada de educadores são insuficientes, e que esta questão deveria ser averiguada, sem falar na pequena disponibilidade de livros e materiais didáticos que retrata a temática. As Práticas pedagógicas apontadas por todas as professoras que responderam o questionário com relação ao ensino das relações raciais e a Lei nº 10.639/03 foram: Conversar com os pequenos a respeito das diferenças de culturas, detalhando as diferenças de cabelos, olhos, a cor da pele branca ou negra, trabalhar com histórias que contém personagens negros, fazendo teatros com fantoches, conversas direcionadas as crianças que abordem o aspecto estético (alto, baixo, magro, gordo) porque estes também mostram uma variedade de diferenças, através de conversas chamando a atenção dos alunos enfatizando o respeito aos colegas, mostrando que todos são iguais perante Deus e o estado, trabalhar com música, dinâmicas, com bonecas de várias cores. E para se trabalhar a Lei 10.639/03 acrescentar trabalhos para mostrar as diversidades culturais do povo brasileiro, apresentando a importância de cada uma, partindo do tema Índio mostrando a importância da cultura e suas características. Trabalhos realizados com músicas, dinâmicas, vídeos e brincadeiras. O dia da consciência negra também foi citado por uma professora. Porém destacamos que mesmo diante destas práticas apresentadas, nenhuma atitude de trabalho relacionado a esta temática dentro da educação infantil foi realizada. A Lei 10.639/03 deixa clara a importância de se trabalhar com histórias da África com os alunos, explicando para estas crianças as raízes de origem, sua descendência, sua cultura, sendo um dos pré-requisitos para romper esta estrutura racista existente. O único trabalho direcionado para o enfrentamento do preconceito racial neste estabelecimento foi quando surgiu o problema com a criança negra, em que sua mãe pediu ajuda para lidar com a situação. Mesmo assim a atitude partiu da professora regente por vontade própria. Como foi citado anteriormente, cabe prioritariamente ao professor ter um olhar apurado de observar o seu aluno, porque as crianças precisam de orientações para entender o conceito de vida, e não simplesmente virar as costas mediante o 23 problema. Com um trabalho bem direcionado o racismo pode ser enfrentado dentro da escola e na sociedade. Silva (2001). c. A Escola e o enfrentamento do preconceito Das 10 professoras entrevistadas 9 argumentam que a escola tem o dever de ensinar e mediar o respeito às diferenças utilizando o máximo de recursos possíveis, como palestras, atividades lúdicas, teatro, buscar criar um vínculo de ação conjuntamente com as famílias sem exposição das crianças, confecciona cartazes fomentando o respeito a diversidade cultural. Somente a professora 1 preferiu não citar. A escola como mediadora deve contribuir para que os princípios de igualdade sejam respeitados, principalmente com relação à diversidade. Santos (2001) aponta que no cotidiano educacional, situações preconceituosas e discriminatórias de cunho étnico têm surgido frequentemente nas aulas. Como no texto acima a autora esclarece que, as dificuldades de lidar com o preconceito racial parte principalmente dos agentes educativos (professores, diretores, cordenadores pedagógicos, agentes escolares, equipe administrativa). Tratando-se da escola pesquisada, observamos o total desinteresse, não percebemos informações nenhuma com relação aos cuidados para o enfrentamento do preconceito racial. Por se tratar de uma escola, com uma estrutura adequada, com muitos recursos disponíveis, poderia haver maior participação nas questões do enfrentamento do preconceito racial. Poderia a partir das sugestões apresentadas pelas professoras entrevistadas. É partindo destes argumentos que a autora Valente, (1995) afirma que há certa responsabilidade por parte da escola em omitir o problema étnico e por consequência reproduzir o preconceito. A escola deve assumir a tarefa de lutar contra o racismo, estabelecendo estratégias, criando práticas pedagógicas, que envolvam todos, dentro e fora do contexto escolar e não deixar o problema a margem ou apenas em dias pontuais ou comemorativos. Conforme já exposto, a escola deverá contribuir para que os princípios constitucionais de igualdade sejam respeitados, principalmente no que se refere às questões da diversidade cultural. O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar 24 do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. PCN (1998). 5 CONCLUSÃO O projeto buscou evidenciar o preconceito étnico existente dentro do mundo ecolar para o Enfrentamento do preconceito racial dentro da educação infatil e unanimamente foi constatado que essa mazela está introjetada na cultura escolar e que os agentes educacionais, desde o professor até coordenadores e diretores, não estão preparados para esse enfrentamento. A análise foi positiva trazendo a tona os preconceitos raciais direto ou indireto que persistem no ambiente da escola observada, e este ocorre independe do “status” do indivíduo. O corpo docente externou o problema, as suas dificuldades e a falta de “capacitação” para o enfrentamento. O preconceito racial ainda vive na cultura brasileira, para vencê-los, faz- se necessário uma grande mudança de mentalidade dentro da nossa sociedade como um todo. Este estudo trouxe uma das realidades vividas dentro da escola onde podemos ver que há conhecimento da existência do preconceito racial na educação infantil, com crianças tão pequenas, porém com atitudes de ofensas em relação à cor do seu colega. Através desta pesquisa podemos constatar que o preconceito não é inato, que as possibilidades da criança desenvolver esse sentimento segregativo é através de vivências aprendidas no meio em que vive, principalmente o familiar. Baseado neste contexto, que afirmamos que o professor deve assumir o papel de protagonista no enfrentamento do preconceito, seja ele de qual natureza for, ter um olhar apurado, uma sensibilidade desenvolvida, facilitando assim o evidenciamento desse mal e o seu combate, porque nesta fase, a criança depende de orientações para enteder o conceito de vida e sua diversidade. No caso da escola pesquisada apesar das professoras apresentarem suas práticas, por iniciativas próprias, e conscientes da legislação pertinente ao tema, dentro desta escola não foi presenciado nenhum processo educativo para o enfrentamento direto do preconceito racial, apenas algumas atitudes pontuais. A intervenções citadas pelos educadores desta escola podem sim, ajudar estas crianças a compreenderem as diferenças existentes, porém faz-se necessário 25 que estas práticas sejam aplicadas com responsabilidade e como um projeto anual. Partindo do envolvimento de todos, desde a escola, passando pela familia e todo o meio social. A escola como mediadora deve investir em estratégias que visem cooperar para o enfrentamento do preconceito, a partir de um processo educativo, ajudando a superar e eliminar a cultura racista existente, este trabalho ajudaria no rompimento de paradigmas que impedem o reconhecimento da igualdade humana. 26 REFERÊNCIAS: BRASIL. 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Escolaridade: Ensino Superior: Pós-Graduação: Doutorado ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Completo ( ) Especialização 5. Tempo de atuação na docência: _______ anos 6. Tempo de atuação na escola:_________ anos. 7. Descreva as suas atividades na escola? ( ) Viúvo ( ) Incompleto ( ) Mestrado ( ) ( ) 29 8. Você já presenciou em sala de aula o preconceito racial? Se sim, descreva como foi? 9. Descreva como trabalha as relações raciais na educação infantil. 10. A Lei nº 10.639/03 visa garantir o ensino da história e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Exponha como trabalha este conteúdo na Educação Infantil. 30 11. – Como a escola pode contribuir para o enfrentamento do preconceito racial? Muito obrigado por sua colaboração!