UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO ÂNGELA MÁRCIA DE ANDRADE SILVA MERCADO DE RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO COMO INSTRUMENTO PARA INSERÇÃO DE ESPECIFICAÇÕES AMBIENTAIS: CAPTAÇÃO PREDIAL DE ÁGUA DE CHUVA Salvador 2010 ÂNGELA MÁRCIA DE ANDRADE SILVA MERCADO DE RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO COMO INSTRUMENTO PARA INSERÇÃO DE ESPECIFICAÇÕES AMBIENTAIS: CAPTAÇÃO PREDIAL DE ÁGUA DE CHUVA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologias Limpas. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok Salvador 2010 Orientador: Asher Kiperstok S586 Silva, Ângela Márcia de Andrade Mercado de residências de alto padrão como instrumento para inserção de especificações ambientais: captação predial de água de chuva. / Ângela Márcia de Andrade Silva. –Salvador-BA, 2011. 113 p.; il., color. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2011. 1.Água pluvial - Captação 2.Água - Consumo consciente 3.Abastecimento urbano de água I.Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. II.Kiperstok, Asher. III.Título. CDD: 628.1 À minha mãe, meu eterno exemplo de coragem. A meu pai, pela saudade, nas marcas e lembranças de amor que me deixou. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, professor Asher Kiperstok, pela confiança, pelo constante incentivo, pela presença decisiva em todos os momentos deste trabalho. Ao eng. Thales de Azevedo Filho, pelo incansável apoio e pela contribuição das valiosas opiniões que muito enriqueceram este trabalho. Ao prof. Célio Andrade, pelos importantes ensinamentos e conselhos. A todos os profissionais que participaram do grupo focal, emitindo opiniões, debatendo e contribuindo significativamente para este trabalho. À Construtora Santa Helena, onde iniciei, aprendi, e pude aumentar a cada dia, todo o interesse e prazer no trabalho em edificações. À Rede Bahia pelo apoio que viabilizou minha participação no curso. Ao dr. Felix de Almeida Mendonça, por todas as lições que me levaram a tanto amar a Engenharia. A Isaac Edington, pelo primeiro incentivo, firme e decisivo, para o meu interesse no mestrado nesta área. A toda a equipe do Teclim, pela oportunidade e todo o apoio necessário para esta jornada. À prof.ª Vera Britto e à eng.ª Ana Paula Garcia, pelas contribuições na revisão do texto e dos gráficos. A Luiz Humberto Carvalho, pela confiança e pela divulgação das idéias desta dissertação. A Valeria Gomes e Franklin Gomes, Ricardo Lyrio e Alex Cruz, pela atenção e pelo fornecimento dos projetos do edifício Fellini e do condomínio Villa Costeira, com as informações necessárias para a conclusão deste trabalho. A Ana Passos, Suzete Meneses e a Linda Bulhosa, pela presteza no atendimento de todas as minhas solicitações. A minha mãe, pela luta da sua vida, para construir a minha vida. A Gilson, Nelcy e Licia e Renata, que me trazem o prazer da família. Aos meus sobrinhos/filhos, Lucas, Mariana e Gabriela, por me mostrarem a continuidade da vida, inspirando o meu desejo de ir sempre em frente. Aos meus amigos, pela presença, ajuda, confiança e alegria, que possibilitam minha vida acontecer, fazendo com que todas as minhas dificuldades sejam superadas. Caminhos do coração (Gonzaguinha) [..................................................] E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente Toda pessoa sempre é as marcas Das lições diárias de outras tantas pessoas E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá E é tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho por mais que pense estar É tão bonito quando a gente pisa firme Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos É tão bonito quando a gente vai à vida Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração RESUMO É necessário repensar o atual modelo de gestão do abastecimento urbano de água, que considera como recurso hídrico apenas a que corre pelos rios e grandes aquíferos, distribuída através de redes planejadas sobre comportamentos históricos que se vêm alterando com as mudanças climáticas em curso. Como alternativa não convencional, surge a captação direta de água de chuva, praticada em vários países, que pode suplementar as redes de abastecimento, contribuindo para o atendimento das demandas de água não potável, além de se contrapor, através da descentralização, às dificuldades que a mudança no regime das chuvas sofrerá. Além desses benefícios, pode proporcionar redução no gasto energético, na rede urbana e na edificação, com o reservatório em posição elevada. Também pode contribuir para difundir a cultura da racionalização do uso da água, disseminando conceitos de preservação e iniciando processo de conscientização para essas tecnologias. Para a ampliação do uso da captação é preciso recorrer a uma estratégia que considere, além da análise de pay back, prática esta usual entre os incorporadores que nem sempre são moradores finais das unidades, os benefícios ambientais e financeiros provenientes das reduções na pós-ocupação e na manutenção do valor do imóvel ao longo do tempo. A partir de dados oriundos de pesquisa bibliográfica e dos que provieram do grupo focal, da observação direta, de pesquisas que comprovam uma conscientização maior em relação ao impacto ambiental e também na observação do momento atual, quando repercutem, inclusive na mídia, os riscos das mudanças climáticas, e de tantos outros danos causados ao meio ambiente, conclui-se, da leitura das oportunidades e ameaças deste cenário, que a disseminação dos princípios de sustentabilidade para a construção civil poderá iniciar-se através de empresa incorporadora de alto padrão, que associe a responsabilidade ambiental à sua estratégia de negócio, trazendo sinergia entre objetivos econômicos e socioambientais, conduzindo o produto e a empresa à diferenciação. A partir da influência desta empresa líder, e de acordo com teorias expostas, o segmento de alto padrão poderá reconfigurar-se e conduzir, pela influência que exerce, outros segmentos a imitá-lo, transformando as especificações ambientalmente mais corretas em desejo do consumidor, como acontece com tantas outras que vêm sendo inseridas na busca de diferenciar o imóvel. Através do contato com estes novos atributos e conceitos, o operariado será levado a um aprendizado que pode vir a ser aplicado no mercado informal em que produz habitações, à margem de regulamentações. Assim, na leitura do momento, com o conhecimento técnico e com o conhecimento social, os atributos ambientais poderão disseminar-se do mercado de alto luxo e chegar até o mercado informal. Palavras chave: Captação de água pluvial, planejamento estratégico, consumo consciente, viabilidade econômica. ABSTRACT It is necessary to rethink the current model of management of urban water supply, which considers as hydric resources only the water from the rivers and large aquifers, distributed through the networks that were designed according to historic behaviors and which have been modified with the present climatic changes. As a non-conventional alternative, there is a system, used in many countries, called trap rainwater that can help the networks of water supply, contributing to satisfy the demands of non-potable water, and also confronting, through the decentralization, with the difficulties caused by the change of rainfall patterns. Besides these benefits, this system can provide a reduction in energy expenditure in urban networks and in building construction, with the water tank disposed in high position. It also can contribute to diffuse the culture of rationalization of the use of water, disseminating concepts of preservation and initializing the process of becoming aware of these technologies. To spread the use of rainwater harvesting, it is necessary to have a strategy that considers, not only the analysis of pay back, an usual practice between the property developers, who not always are the final dwellers of the unities, but also the environmental and financial benefits originated from the reductions in post-occupancy and in maintenance the value of the real state throughout the time. By observing the data resulting from bibliographical research and from the focal group, by observing directly researches that confirm that there is a great awareness regarding the environmental impact and also by observing the present moment, when the risks of climatic changes and of many others damages suffered by the environment are widespread covered in the mass media, one concludes from the reading of the opportunities and the threats of this setting, that the dissemination of the principles of sustainability in the construction sector can begin through a high standard construction company, that links environmental responsibility to its business strategy, bringing synergy between economical and environmental and social objectives, leading the product and the company to differentiation. From the influence of this leader company and according to the exposed theories, the high standard segment can take a new shape and lead others segments to follow them, changing the environmentally friendly specifications into the consumer’s desire, as it happens to many others specifications which have been being introduced in order to differentiate the real state. Being in contact with these new attributes and concepts, the workforce will learn that these attributes can be used in the informal market, where they build housing outside regulations. Therefore, with technical and social knowledge, the environmental attributes can be disseminated from the market for high luxury to the informal market. LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Série comparativa de precipitações, 1911 a 2005, na Austrália 25 Figura 3.1 – Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini. 48 Figura 3.2 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini considerando como área de captação as fachadas 49 Figura 3.3 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim 51 Figura 3.4 – Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim 53 Figura 3.5 – O balanço hídrico urbano e a água de chuva 54 Figura 3.6 – Relação entre a densidade populacional e impermeabilização. 54 Figura 3.7 – Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador 57 Figura 5.1 Gráfico da possibilidade de interferência no custo total de um edifício (residencial ou comercial) durante sua vida útil. 85 Figura 5.2 – Gráfico do custo total de um edifício comercial durante sua vida útil 85 LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 3.1 – Demanda residencial de água não potável 44 Tabela 3.2 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini 46 Tabela 3.3 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini 47 Tabela 3.4 – Cálculo do benefício para o aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini em valores 47 Tabela 3.5 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini considerando como área de captação as fachadas 49 Tabela 3.6 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira 50 Tabela 3.7 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim 51 Tabela 3.8 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim 52 Tabela 3.9 População residente em Salvador e Região Metropolitana 55 Tabela 3.10 Dados adotados para simulação do potencial de aproveitamento de água de chuva em Salvador 56 Tabela 3.11 Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador 56 Tabela 3.12 Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador considerando a implantação para as novas construções no período entre 2000 e 2007. 58 Tabela 5.1 Comparação de custos convencionais e custos adicionais originados pelos tópicos de sustentabilidade 88 Tabela 5.2 Custo comparativo de operação em edifício residencial, 3 quartos, com 120 m2 89 Tabela 5.3 Custo comparativo de operação de edifício comercial 89 Tabela 5.4 – Alternativa de solução e seus impactos – edifícios residenciais 90 Quadro 6.1 – Matriz de análise situacional de empresas 96 Quadro 6.2 – Etapas do processo produtivo 98 SUMÁRIO 1 1.1 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 3 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.2.6 3.2.6.1 3.3 3.4 3.4.1 3.4.2 3.4.2.1 3.4.2.2 3.5 3.6 4 4.1 4.2 4.3 4.3.1 5 5.1 5.2 5.3 6 6.1 6.2 INTRODUÇÃO ESTRUTURA DO TRABALHO UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES CENÁRIO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA A IMPORTÂNCIA DA CAPTAÇÃO DIRETA DA ÁGUA DE CHUVA EDIFÍCIOS VERDES: EXEMPLOS NO MUNDO E TENDÊNCIAS NO BRASIL EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NO MUNDO EXEMPLOS DE CAPTAÇÃO NO BRASIL SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA HISTÓRICO DA CAPTAÇÃO DIRETA COMPONENTES DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO Superfície de captação Tubulações e calhas para distribuição da água Acessórios Bombeamento Manutenção do sistema e tratamento Reservatório Aplicação do modelo Teclim para dimensionamento do reservatório ALGUNS ESTUDOS SOBRE BENEFÍCIOS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO SIMULAÇÕES DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO Simulação em edificação vertical Simulação em condomínio horizontal Captação da água apenas para lavagem de veículos e regas de jardim Captação da água para vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA CIDADE DE SALVADOR: CAPTAÇÃO AMPLA A QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA E ACEITAÇÃO PELA POPULAÇÃO RENOVAÇÃO DOS IMÓVEIS DE ALTO PADRÃO: USO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES AMBIENTALMENTE MAIS CORRETAS A INSERÇÃO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES EM EMPREENDIMENTOS – BUSCA DA RENOVAÇÃO PARA DIFERENCIAÇÃO NO PRODUTO A DIVULGAÇÃO DA CAUSA AMBIENTAL: INFLUÊNCIA DA MÍDIA PESQUISAS SOBRE O CONSUMIDOR CONSCIENTE Existe de fato consumidor consciente? ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DA EMPRESA INCORPORADORA ASSOCIADA À CAUSA AMBIENTAL MODIFICAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO ATRAVÉS DE ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DE EMPRESA LÍDER O CUSTO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA VANTAGEM COMPETITIVA NA ASSOCIAÇÃO COM CAUSA AMBIENTAL AMPLIAÇÃO DO USO DA CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NAS EDIFICAÇÕES A MODIFICAÇÃO NO SETOR PARTINDO DE UMA EMPRESA LÍDER RECOMENDAÇÕES PARA AMPLIAÇÃO DO USO DE CAPTAÇÃO DIRETA E DE OUTROS ATRIBUTOS SUSTENTÁVEIS A REPERCUSSÃO NO MERCADO INFORMAL 6.3 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS 13 17 19 19 22 26 29 32 35 35 37 37 38 38 38 39 40 40 41 43 44 49 51 52 53 59 64 65 70 72 74 82 82 84 91 93 93 94 100 103 108 13 1 INTRODUÇÃO O significativo aumento da população nas áreas urbanas leva a grandes demandas de infraestrutura e de serviços de abastecimento. Como exemplo deste crescimento, tem-se a cidade de Salvador. Segundo o Censo de 2000 do IBGE, na década de 1990, a cidade recebeu 367.834 novos habitantes. Este número supera a população total da cidade de Vitória da Conquista, segunda em população no interior do Estado, com 308.204 habitantes estimados em outubro de 2007. Ainda de acordo com a estimativa do IBGE, no período de 2000 a 2007 houve, em Salvador, um incremento de 449.518 habitantes. Este número aproxima-se daquele relativo à população de Feira de Santana, a maior entre as cidades do interior do Estado, estimada em 571.997, também em outubro 2007 (BRASIL, 2007). Com o consequente aumento de área construída, para abrigar os novos contingentes populacionais, novas cidades vêm surgindo dentro das existentes, ampliando-se a área impermeável, o que, por sua vez, agrava as inundações. Esta tendência de crescimento das grandes cidades continuará, exigindo cada vez mais esforços, investimentos e recursos naturais, como a água, essencial para o ser humano. Espera-se, ainda um crescimento na pressão sobre o uso dos recursos naturais, como a água, decorrente não só do aumento da população urbana mundial, mas também dos hábitos de consumo. Haverá, portanto, maior demanda de sistemas de água, assim como aumentará o gasto energético das redes. De acordo com a Alliance to save energy (2002), estima-se que, tornando-se mais eficientes os sistemas de abastecimento, poderse-ia o gasto energético que representa percentual significativo dos orçamentos municipais no mundo desenvolvido. Além disto, o abastecimento com água tratada nos centros urbanos vem sendo feito para todos os usos, mesmo para aqueles que não requerem potabilidade. A água de 14 boa qualidade, para as finalidades que tenham essa demanda, é essencial à saúde, pois as doenças de veiculação hídrica seriam reduzidas com o abastecimento a todos, de forma adequada. Considera-se o Brasil como rico em água, por deter uma das maiores bacias hídricas do planeta, mas os grandes mananciais não se encontram nas regiões dos maiores centros urbanos. O elevado desperdício nas redes de abastecimento, assim como nas instalações prediais, que carecem não só de manutenção, mas também de modernização com novos equipamentos economizadores, e o mau uso, decorrente de hábitos inadequados, também agravam as demandas das grandes cidades e sobrecarregam as redes. A qualidade dos mananciais vem sendo cada vez mais comprometida, e fica evidente a necessidade de estudar alternativas para o desenvolvimento de um novo modelo de gestão do uso da água. Tal modelo deve considerar aspectos comportamentais, educativos, legais, econômicos, técnicos e a utilização de fontes alternativas, entre as quais está a captação direta de água de chuva, nas edificações urbanas, para os usos em que água potável não é imprescindível, como suplementar ao abastecimento público, reduzindo a demanda nas redes e seu gasto energético de distribuição. É indiscutível, também, o crescimento da importância dada aos assuntos ligados ao meio ambiente, assim como a conscientização da complexidade exigida para solucionar o passivo ambiental criado e o que se produz. O novo olhar sobre a finitude dos recursos naturais se evidencia nas discussões em vários ambientes, desde o escolar, passando pelo universitário, até as ações sociais que inserem a importância da preservação ambiental na formação cidadã, despertando a atenção do público em geral. Também a mídia expõe o tema, noticiando mudanças climáticas, energias alternativas, catástrofes, e explorando os temas ligados à ecologia, notadamente os ligados à necessidade de promover redução no consumo de água e energia. Os estudos sobre mudança climática têm recebido atenção de governos e instituições internacionais, com uma divulgação que atinge toda a população. A expectativa de mudanças nas precipitações desperta a preocupação com os atuais sistemas de abastecimento, construídos com base em séries históricas de precipitações que poderão se alterar, na área dos mananciais. Rever a gestão do abastecimento da água, contemplando fontes suplementares à rede urbana, como a captação direta de 15 águas de chuva, de forma descentralizada, ajudaria tanto na adaptação quanto na mitigação destas mudanças em curso. Em paralelo a toda a exposição que assuntos referentes ao meio ambiente têm recebido, pesquisas feitas demonstram que começa a formar-se o que se denomina consumo consciente, definido “como sendo o ato ou decisão de consumo (compra ou uso de serviços ou de bens industriais ou naturais) praticado por um indivíduo levando em conta o equilíbrio entre sua satisfação pessoal, as possibilidades ambientais e os efeitos sociais de sua decisão” (INSTITUTO AKATU, 2003). Observar as demandas do consumidor, frente à exposição dos temas ligados ao meio ambiente e às novas preocupações com os limites da natureza, poderá trazer ao mercado imobiliário um novo olhar sobre equipamentos que podem agregar valor às construções. As empresas podem, portanto, avaliar e antecipar-se às próximas demandas, oferecendo, nos seus produtos, novas soluções para o cliente e para a comunidade. Assim, podem ser aperfeiçoados modelos de negócio, aumentando valor e lucratividade em sintonia com o momento presente, que sinaliza preocupação com o impacto ambiental que vem sendo causado pela indústria e pela tecnologia criadas pelo homem. Os estudos sobre esse impacto reportam a importância que sobre ele têm o fenômeno do consumo, o crescimento populacional e as tecnologias da produção. Novos hábitos das populações têm gerado demanda cada vez maior por novos recursos, produtos e serviços, assim como a ampliação do uso dos existentes. Também se verifica a entrada, no mercado, de novos produtos que sequer eram imaginados: nascem nas empresas, passam a fazer parte do cotidiano das pessoas, muitos deles são transformados em necessidade, outros em objetos de desejo. Assim é que é a ampliação do uso da captação direta, associada, nas edificações, a outros equipamentos ambientalmente mais corretos, é analisada, e são avaliados os ganhos para o ambiente e o aumento da lucratividade que seriam obtidos se esta estratégia ambiental fosse associada à estratégia de negócio por empresa incorporadora de imóveis de alto luxo. Na avaliação financeira dos empreendimentos, os incorporadores muito questionam a inserção de especificações ambientalmente mais corretas, pois, não sendo moradores finais, não se beneficiam financeiramente, diretamente, dos resultados desta 16 inserção. Nessas análises, feitas geralmente para obter retorno do investimento em prazo curto, nem sempre os resultados obtidos são atraentes. Surgem então os desafios: a) Como reduzir o impacto da indústria da construção, em um mercado que sinaliza a necessidade do crescimento da atividade produtiva, para permitir o acesso de muitos a uma moradia? b) Como motivar e mobilizar os construtores do mercado formal a desenvolver e utilizar práticas sustentáveis, avaliando de forma ampla a relação custo x benefício? c) Como fazer repercutir essas práticas nas construções informais? Na busca de respostas para essas perguntas, a pesquisa buscou elementos que permitissem avaliar os benefícios que o incorporador poderá obter se, de acordo com os estudos de Michael Porter sobre diferenciação, associar a estratégia do negócio com a responsabilidade ambiental. Ainda segundo Porter, a estratégia de uma empresa poderá influenciar toda a indústria na qual ela se insere. Sensível às forças externas que podem provocar alterações, a empresa poderá direcionar esta força de forma adequada à sua posição no mercado, já construindo assim uma vantagem competitiva, por liderar a mudança do seu setor (PORTER, 1986). Para demonstrar a possível repercussão mais ampla, na indústria da construção, do uso de equipamentos ambientalmente mais corretos, a pesquisa também buscou identificar seguindo a teoria de Veblen (1983) , a influência dos hábitos e estilos das classes mais favorecidas nas menos favorecidas, comparando-se com exemplos de equipamentos que, nascendo nos prédios ditos de “alto padrão”, vão-se incorporando e transformando-se em demanda por parte dos potenciais compradores. No entendimento de que esta influência efetivamente existe, a pesquisa aqui relatada procurou comprovar se a adoção inicial de produtos que visam ao desenvolvimento sustentável em prédios de alto luxo poderá levá-los a se tornar objeto de desejo de muitos consumidores. Assim, poderão ser incluídos em outras edificações, traduzindo um conceito de modernidade e status. Por outro lado, é preciso considerar que o déficit de moradia não é atendido apenas pelo mercado formal. Assim, a partir da concepção de que uma repercussão ampla poderá ocorrer através do aprendizado do operariado, a pesquisa procurou localizar em que medida sua participação no processo produtivo, seu contato com essas inovações, assimilando suas práticas, poderá, dentro das possibilidades, conduzi-lo a 17 incorporá-las nas construções informais, quando atua como protagonista de edificações nas periferias, para si ou para outros. Assim, este trabalho busca avaliar se, através deles, poder-se-á atingir a outra parte da indústria da construção, aquela que supre o déficit habitacional não atendido pelo mercado imobiliário, submetido a legislações e normas. A pesquisa foi feita através de revisão bibliográfica, visitas técnicas e discussões em grupo focal, realizado em 2007, na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, gravado e transcrito na íntegra. Foram colhidos subsídios e foram debatidas as ideias de especialistas de diversas áreas, tais como arquiteto, estruturalista, projetista de instalações elétricas, de instalações hidráulicas, de ar condicionado, incorporadores, construtores, orçamentistas, corretores de imóveis, moradores de edificações residenciais de alto luxo, profissionais das áreas de educação, jurídica, marketing e jornalismo. Além disto, foram levantadas as recentes alterações das especificações dos imóveis e sua aceitação pelo mercado. Essas alterações serão objeto de comentários feitos na dissertação. 1.1 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está estruturado da maneira que se segue. Após esta introdução, tem-se o capítulo 2, que contextualiza o cenário atual da utilização da água nas edificações, o modelo de gestão urbano, os riscos de escassez e uma análise da importância de captar diretamente a água de chuva, salientando os benefícios. Comentam-se o surgimento dos prédios ambientalmente melhores e os modelos de certificação que enfatizam o aumento da eficiência do suprimento de água e energia, entre outras, e a disseminação crescente destes conceitos. Através de exemplos de práticas de captação no mundo e no Brasil, enfatiza-se a possibilidade de utilização desta alternativa, em consonância com a preocupação e com a exposição crescente dos temas relacionados com o impacto ambiental que vem sendo causado pelo homem. No capítulo 3, apresenta-se um modelo para a cidade de Salvador, simulando a captação em edificações verticais e condomínios horizontais, ilustrando-a com o possível retorno financeiro e a necessidade de avaliar os benefícios de forma mais 18 ampla. Simula-se o potencial de captação da cidade e também a importância da captação nas novas construções, considerando o crescimento da cidade. O capítulo 4 focaliza o modo como acontecem o surgimento e a renovação de marcas e produtos que se tornam sucesso, buscando, neste mecanismo, o entendimento de como estimular o uso de especificações ambientalmente mais corretas nos imóveis. Apresenta-se o modelo atual de inserção de novos equipamentos nos empreendimentos imobiliários, na busca das empresas pela diferenciação do seu produto. Também se apresenta a teoria de emulação social de Thorstein Veblen, com a influência do estilo de vida das classes mais favorecidas nas classes menos favorecidas. Considerando-se a existência de um consumidor consciente e a ampliação, na mídia, da exposição de temas ligados ao meio ambiente, apresentam-se os resultados de pesquisas sobre o consumo, traçando paralelo com ideias obtidas sobre captação direta de água de chuva, em grupo focal com diversos profissionais da área imobiliária e afins. No capítulo 5, de acordo com conceitos de Michael Porter, avalia-se a estratégia da diferenciação no imóvel, com a inclusão de especificações ambientalmente mais corretas, e a diferenciação da própria empresa, na associação da estratégia de negócio com a causa ambiental, avaliando custos e benefícios. No capítulo 6, prosseguindo com a utilização de conceitos de Porter, avalia-se a reconfiguração do setor de imóveis de alto padrão, partindo de empresa líder. De acordo com ThorsteinVeblen, avalia-se a influência desses prédios de alto padrão sobre os outros setores da produção de imóveis e a repercussão ampla no mercado informal, através do operariado. O levantamento de oportunidades e ameaças ao ambiente externo, em cruzamento com pontos fortes e fracos do ambiente interno (de acordo com observações da autora), permite que se ressaltem algumas ações para contrapor as ameaças e reforçar as oportunidades para a modificação do setor construtivo e a ampliação do uso da captação direta e outras especificações ambientalmente mais corretas. Apresentam-se, por fim, as recomendações e conclusões no capítulo 7. Estas recomendações apontam para a introdução de especificações que traduzam o cuidado ambiental, inicialmente em edificações de alto luxo e assim poderiam ser influenciados os outros segmentos do mercado formal. Através do aprendizado no canteiro de obras, os operários poderiam levar estes conceitos para o mercado informal, onde também atuam, em suas próprias residências ou para terceiros. 19 2 UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES Este capítulo contextualiza o modelo atual de abastecimento urbano e as dificuldades que enfrenta, diante do crescimento da demanda e das mudanças climáticas, por ser centralizado. Nesse contexto, a captação direta de água de chuva se apresenta como alternativa suplementar ao abastecimento, já havendo exemplos desta captação e de seus benefícios, assim como já surgem os edifícios chamados “verdes”, muitos dos quais buscando certificações ambientais. De acordo com a crescente ênfase conferida a esses novos modelos, que têm um olhar mais acurado sobre vários aspectos, reavaliam-se também as instalações para consumo de água. 2.1 CENÁRIO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA Mesmo considerando toda a dependência da água para o desenvolvimento econômico e para sua sobrevivência, as sociedades vêm degradando este recurso natural, de várias formas, nas suas múltiplas utilizações. A ampliação da demanda, principalmente nos grandes centros, e o lançamento de resíduos líquidos e sólidos em rios, lagos, represas, etc., vêm contribuindo para deteriorar a qualidade das reservas de água. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 2003, estimou que 18.000 km3/ano poderão se degradar se a poluição crescer tanto quanto a população (REBOUÇAS, 2004). Neste início de século, cresce a conscientização para a necessidade do desenvolvimento sustentável. Villiers (2002, apud MAY, 2004) assinala que apenas um terço da água que flui para o mar pode ser consumida pelo homem e, desta, mais da metade já está sendo utilizada. Segundo este autor, 20 [... a] Population Action International sustenta que o número de pessoas vivendo em estado crítico de falta de água era de 436 milhões em 1997, e segundo suas projeções, a porcentagem da população mundial vivendo em estado crítico de falta de água vai quintuplicar ate 2050 (VILLIERS, 2002, apud MAY, 2004). O fato é que a análise do volume total de água existente no mundo revela que apenas 2,7% representam a disponibilidade de água doce. Deste pequeno percentual, 77,20% encontram-se em estado sólido, outra parte está em forma de vapor, restando, portanto, uma pequena parte para consumo humano. No Brasil, existe forte desequilíbrio entre locais com grande oferta de água e a necessidade de consumo pela população. Com a urbanização crescente, a disparidade tende a elevar-se significativamente. Pode-se fazer uma estimativa dessa elevação quando se verifica a progressão do crescimento dos grandes centros populacionais: em 1940, a população das cidades representava 30% do total e, em 1996, 75% já viviam nas cidades (HERRMAN 1999, apud MAY, 2004). A perspectiva é a de que esta tendência de crescimento de grandes centros urbanos brasileiros continue se intensificando, pois os cidadãos, em busca de emprego, são atraídos, cada vez mais, pelas megalópoles e, mesmo não encontrando as facilidades esperadas nas grandes cidades, as migrações não se interrompem e o consumo dos recursos naturais cresce sem planejamento. Tanto a agricultura como as indústrias se ampliam para atender às novas demandas, alterando seus processos para ganhos de escala e, em paralelo, estão aumentando a geração de resíduos, efluentes industriais, rurais e urbanos. Além da urbanização sem planejamento, o desequilíbrio entre distribuição demográfica e concentração de águas, a elevada perda decorrente dos processos utilizados no abastecimento público, o desperdício característico dos hábitos da população, entre outros fatores, resultam nas dificuldades de abastecimento, na escassez e nos gastos elevados. A conclusão preliminar a que se chega é a de que precisa ser pensado um modelo de gestão de água compatível com os recursos do país e com as necessidades de preservação da saúde da população. Não é possível ignorar que Israel, com 470 m3/hab/ano, não sofre com a escassez de água como Pernambuco que tem 1270 m3/hab/ano. É evidente que existe um problema de gestão no Brasil (TOMAZ, 2001). Na Semana Internacional da Água, realizada em Estocolmo, em 2006, cujo tema central se intitulou Para além do rio – a partilha de benefícios e responsabilidades, o presidente do Instituto Internacional de Gestão da Água (IWMI), Prof. Asit Biswas, afirmou que 21 Os últimos 50 anos de práticas de gestão de água não servem de modelo para enfrentar a falta de água no futuro. Precisamos de mudanças radicais nas instituições e organizações responsáveis pela gestão dos recursos hídricos da Terra e um modo muito diferente de pensar sobre gestão da água. (Apud MÁ..., 2006). O Fundo Mundial da Natureza (WWF) também apontou, no mesmo evento, a má gestão dos recursos hídricos, como causa para a escassez e suas conseqüências (MÁ..., 2006). Repensar o modelo vigente de gestão da água exige uma mudança na forma de consumo desse recurso e a utilização de outras fontes. Mesmo no Brasil, que conta com 12% da água doce do planeta (TOMAZ, 2003) e possui aquíferos como o Guarani (maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo que se distribui entre os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a situação do abastecimento não é confortável e a falta de água não vai atingir apenas São Paulo e Recife (SILVA, 2003). Continua prevalecendo no país a tendência para as grandes obras de infraestrutura que geralmente beneficiam uma pequena parte da população, deixando para a outra parte os impactos ambientais e sociais resultantes. Desde a Segunda Guerra Mundial, cerca de 45 mil grandes barragens foram construídas, gerando 20% da eletricidade mundial e irrigando campos que produzem 10% do alimento mundial. No entanto estima-se que um número situado entre 40 a 80 milhões de pessoas que viviam desses rios foram profundamente afetadas (JOHNSTON, apud WOLF e outros, 2005, p. 105-106). Nesta lógica predominante, considera-se como recurso hídrico apenas a água que corre pelos rios e grandes aquíferos, com captação e distribuição feitas em obras caras. Acredita-se ainda que a solução dos problemas de distribuição virá do aumento da oferta de água em grandes obras. No entanto, açudes como o de Orós, no Ceará que, depois de construído, permaneceu 20 anos sem ter uma tomada de água. A cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, castigada com a seca, dista 43 km do açude Petrônio Portela, com 181 milhões de m3 (REBOUÇAS, 2004). O abastecimento urbano, pensado em termos de sistemas centralizados, precisa ser reavaliado, pois, nesse sistema, o custo é elevado, tanto nas obras de infraestrutura, de operação e de energia elétrica, como na distribuição e no tratamento da água, para a totalidade dos usos, sendo que muitos desses usos nem necessitam da água potável. Esses custos públicos retornam para a população, quando poderiam ser encontradas outras fontes para utilização em destinos não nobres. A captação de águas pluviais, nas cidades, traria economia na utilização da água distribuída, além de contribuir, de alguma forma, para a prevenção das inundações urbanas, que já acontecem nos grandes centros. 22 A possibilidade de localizar o reservatório de águas nos níveis mais altos da edificação traria uma redução adicional no consumo da energia elétrica. Cada metro cúbico de água não bombeado representa uma tonelada a menos no transporte vertical. A captação direta e adequação das instalações hidráulicas das edificações, traria a redução do consumo de água potável das redes, diminuindo a pressão sobre os mananciais. (COHIM, 2007). Além deste ganho, tem-se também, com sistemas descentralizados de abastecimento, o ganho energético da rede. 2.2 A IMPORTÂNCIA DA CAPTAÇÃO DIRETA DA ÁGUA DE CHUVA Verificando-se o que vem sendo feito, em outros países, em busca de melhor gestão dos recursos hídricos, encontra-se, entre outras soluções, a captação direta de água de chuva como fonte suplementar à provida pelas redes públicas, o que traria inúmeros benefícios como os que a seguir se descrevem.Os dois primeiros benefícios a ser mencionados são a vantagem coletiva da diminuição do consumo de água e energia do sistema público, nas operações de tratamento, bombeamento e distribuição das redes, seguida da possibilidade de redução do consumo de energia nas edificações, com o posicionamento do reservatório elevado e com a distribuição da água por gravidade. A importância da redução do consumo energético no sistema público, decorrente do abastecimento centralizado, não tem sido devidamente considerada. A descentralização do abastecimento urbano, com a captação direta para o consumo de água não potável, poderá significar grande redução no consumo não só de água das redes, mas também de energia. No livro Água e energia: aproveitando as oportunidades de eficientização de água e energia não exploradas nos sistemas de águas municipais, publicado pelo Institute of International Education (ALLIANCE TO SAVE ENERGY (ASE), 2002), apresenta-se o consumo energético mundial decorrente de bombeamento e tratamento de água, como sendo entre 2 a 3%. Os resultados desses dois benefícios, certamente, também irão refletir-se diretamente nas despesas mensais dos usuários, tanto pelo aproveitamento da água captada, como na redução do gasto da energia. Vale ressaltar que, no Brasil, considerar a redução de gastos mensais do usuário final, principalmente na habitação popular, pode ser significativo. Ao considerar os benefícios que podem ser incorporados nas edificações para a redução das taxas condominiais, Raphael Pileggi, secretário-executivo do Qualihab, o programa paulista de qualidade na habitação, com a Companhia Paulista de Desenvolvimento 23 Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), exemplifica, como incentivo, a implantação de atributos tecnológicos que favoreçam o controle dos consumos, buscando tornar as despesas compatíveis com a renda dos moradores e permitir que o adquirente da unidade habitacional possa permanecer nela (PILEGGI, 2006). Se o poder público avaliar melhor este último benefício, poderá contribuir para o surgimento de legislação, com ou sem incentivos ou subsídios. Reduzir o consumo de água e a inadimplência nos programas de habitação, certamente minimizará os custos para a sociedade, para o governo, para as instituições financeiras e para as seguradoras. Várias medidas que promovam redução de despesas ao longo da vida das construções precisam ser levadas em consideração, inclusive quando se avalia o custo de implantação do sistema de captação e sua taxa de retorno. Como grande parte dos responsáveis pelas construções não são os moradores finais das unidades, costuma-se avaliar apenas os custos iniciais. Nos imóveis construídos para vendas, é preciso que as empresas avaliem os custos das edificações ao longo do tempo, também observando a pós-ocupação, podendo, além de ressaltar o aspecto da redução de gastos, ser capitalizado o apelo ambiental como ganho de imagem e força de vendas. As obras públicas, planejadas e construídas para o usuário final, poderiam valer-se do uso destas tecnologias de racionalização de consumo. Assim, com o exemplo, seria expandido o conhecimento de soluções que visam o bem comum além do benefício decorrente das reduções de custo operacional. A indústria também poderia reduzir o custo de produção pelo aumento da escala no consumo. Aparece, em terceiro lugar, a possibilidade de contribuir para a redução das enchentes urbanas, necessidade que se revela, principalmente, em áreas muito adensadas, onde a impermeabilização das construções não permite escoamento rápido. O benefício no controle das inundações em centros urbanos é ponto importante. Em São Paulo, por exemplo, com a lei n. 13. 276 de 4 de janeiro de 2002, voltada para a drenagem urbana, verifica-se que as construções acima de 500 m2 são obrigadas a construir “piscininhas” para evitar alagamentos. Calcula-se a necessidade de um financiamento de US$ 9 bilhões para piscinões que acumulem água pluvial e possam liberá-la, controladamente, depois das enxurradas. A questão é que estes piscinões também resultam em novos problemas, uma vez que aqueles existentes já enfrentam problemas de lixo e lama (SICKERMANN, 2005). Incentivar, portanto, a captação direta é contribuir parcialmente para a solução do problema da macrodrenagem. 24 O quarto benefício, o de obter a preservação dos recursos hídricos da região onde se localiza a bacia, é particularmente importante para o Estado da Bahia, pois a captação poderá contribuir para preservar a bacia do Paraguaçu que abastece parcialmente a Cidade do Salvador. Se parte do abastecimento fosse suprida com a água captada na própria cidade, situada em região úmida, haveria considerável economia da água da barragem, situada em zona semiárida. A vantagem que a descentralização do abastecimento traz para a adaptação às mudanças climáticas em curso constitui o quinto benefício que se pode enumerar. O abastecimento centralizado depende, para atender ao consumo, das precipitações, na área de captação do manancial, pois é através delas que os mananciais são repostos. Esta precipitação vem sofrendo sérias mudanças, em vários aspectos, tais como intensidade, local, frequência, tempo de precipitação, volume, diferenças observadas nos períodos de secas e enchentes. As estruturas de abastecimento ora existentes foram planejadas com base em comportamentos históricos, que estão em mudança. Isto poderá levar o abastecimento urbano a dificuldades, vez que todo ele é estruturado sobre uma série histórica de precipitação, em alteração (MATTHEWS, 2008). Portanto, com estruturas de reservação espacialmente distribuídas e independentes, planejadas nas novas edificações que surgem nos centros urbanos em crescimento, pode-se contribuir para contrapor as dificuldades que a mudança no regime das chuvas sofrerá, sem histórico que possa lastrear previsões a respeito das precipitações. Assim promove-se a adaptação às mudanças climáticas e também a mitigação, reduzindo-se o peso ambiental com o gasto energético decorrente dos sistemas de abastecimento. Esta avaliação sobre a interferência da mudança climática no suprimento urbano de água torna-se cada vez mais preocupante, em face de estudos que descrevem as mudanças que estão ocorrendo nas precipitações. Avaliação desenvolvida na Austrália, pela Water Corporation of Western Austrália, apresentado em artigo intitulado Climate change and water supply, mostra uma série comparativa de precipitações de 1911 a 2005. No gráfico abaixo, observam-se as diferenças, considerando os períodos de 1911 a 1974, de 1975 a 1996 e o de 1997 a 2005 (PITTOCK, 2008). Assim, evidencia-se, em maior período de tempo, a diferença no ciclo das chuvas. 25 Figura 2.1 - Série comparativa de precipitações entre 1911 e 2005, na Austrália (PITTOCK, 2008, apud ALLEY, 2007 p.16). Por fim, mas não menos importante, aparece o benefício de contribuir com a sustentabilidade ambiental das edificações, criando e difundindo a cultura da racionalização do uso da água, que é um recurso natural finito. A utilização de tecnologia amigável com o ambiente, disseminando conceitos de preservação de recursos naturais, contribui para reforçar hábitos de preservação. Iniciar o processo de conscientização com essas tecnologias já disponíveis poderá levar a população a buscar outras oportunidades de aprender e implantar formas harmônicas de convivência entre o meio ambiente e as construções. Tudo isso aponta para a necessidade de encontrar estratégias que possam disseminar técnicas e métodos para captação direta e utilização da água de chuva, contribuindo assim com uma medida não convencional que trará excelentes resultados para o desempenho das redes de abastecimento. No entanto, mesmo com a divulgação de várias pesquisas e estudos mostrando tantos benefícios e com a existência de incipientes sinais de uma legislação em favor da otimização de processos de uso da água, não se verifica, ainda, no Brasil, aplicação significativa da captação direta das águas de chuva no meio urbano. O que favorece a prática da captação no Brasil é que 90% da área oferecem índices pluviométricos entre 1.000 e 3.000mm/ano. Chuvas escassas ocorrem em apenas 400.000 km2 do Nordeste (de 400 mm e 800 mm/ano). É desta região, com baixo índice pluviométrico, que se retira, hoje, água e energia para abastecer a Cidade do Salvador. 26 De acordo com a recomendação formulada pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (NU, 1985, apud REBOUÇAS, 2004) “a não ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas de qualidade inferior”. Este preceito determina uma avaliação sobre como é utilizada a água potável do abastecimento urbano para todos os tipos de consumo, inclusive lavagem de carros, rega de jardins e descargas em bacias sanitárias. Utilizar a água de chuva para esses usos não nobres, evidentemente, racionalizaria o uso das citadas redes urbanas. Também não pode ser desprezado o fato de que, em edificações com o sistema implantado, a água de chuva também pode ser captada da fachada. Além das paredes externas, a depender do destino que se pretende dar à água, podem ser consideradas as áreas referentes a playground descoberto, acessos de veículos, etc. A implantação efetiva desses sistemas de captação direta, que contribuem para a sustentabilidade das edificações, poderá acelerar a conscientização sobre o amplo impacto causado pela indústria da construção civil, despertando a população para novos hábitos e demandas nas construções. Seja por exigência de legislação futura ou decisão estratégica da empresa, é necessário adequar-se às novas demandas, pois as edificações consomem dois quintos da energia mundial e cerca de um sexto da água (LOVINS, 2007). É necessário, portanto, o desenvolvimento de práticas para uma mudança sistêmica, que inclua legislação, tecnologia, ética nas atividades empresariais e consumo (CAPRA, 2002). Novas formas de produzir e novas concepções estão sendo postas em prática em vários países, mas a tendência não é recente. Já na década de 1970, surgiram prédios em que se pratica a otimização do uso de água e de energia: são os chamados green buildings ou ‘construções mais sustentáveis’, concebidos para trazer menos impacto ambiental. 2.3 EDIFÍCIOS VERDES: EXEMPLOS NO MUNDO E TENDÊNCIAS NO BRASIL No Brasil, aumenta o uso de técnicas e materiais que tornam os edifícios ambientalmente mais corretos, também chamados green buildings. Medidas que promovem eficiência no consumo de água e energia já estão presentes no mercado, com demandas sinalizadas pelo governo, consumidores, ambientalistas, ações de responsabilidade social das 27 empresas. Tudo isto é incentivado por estratégia de marketing, consciência ecológica, ou obrigação legal (CAPELLO, 2006). Esta tendência pode ser também estimulada por exemplos internacionais. Nos Estados Unidos, a tendência de otimização do uso de energia e água iniciou-se, na década de 1970, com a construção dos green buildings, estimulados pela crise no petróleo e pelos incentivos governamentais, em várias escalas. Pode-se, de forma geral, dizer que o green building é uma edificação que busca aumento da sua eficiência em relação ao uso de recursos, com o objetivo de reduzir os impactos socioambientais, durante todo o ciclo de vida. São observados os aspectos referentes à localização, ao projeto, à construção, à operação, aos resíduos e à desconstrução (THE SOLAIRE, 2006). Alguns países europeus, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e o Japão desenvolveram sistemas próprios de avaliação do impacto ambiental gerado pelas suas edificações, tais como o sistema americano Leadership in energy and environmental design (Leed), criado pelo U. S. Green Building Council (USGBC), organização não governamental voltada para a sustentabilidade das edificações. Este sistema de avaliação foi apoiado por várias categorias da indústria da construção, o que favoreceu a sua implantação. Hoje, muitos prédios são certificados pelo Leed e demonstram interesse pelos vários aspectos dos cuidados com o meio ambiente. Tem-se como exemplo o The Solaire, (THE SOLAIRE, 2006), em Nova York, que contou, desde a fase de projeto, com cuidados envolvendo a utilização da água (reuso, captação e uso de equipamentos eficientes), a racionalização com o consumo de energia – que chega a um gasto de até 67% a menos nos horários de pico. Outros exemplos de certificação pelo Leed são os prédios que serão feitos na área anteriormente ocupada pelo World Trade Center, conforme informação passada pelo governo de Nova York, na apresentação dos projetos, em setembro de 2006 (McKEOUGH, 2006). Também a Academia de Ciências da Califórnia, que recebeu certificado Leed de Platina, capta em cobertura vegetal, que também contribui com o isolamento térmico. Este prédio consome 35% menos em energia do que o considerado nas leis da Califórnia. Vários outros exemplos de prédios que buscam mais ecoeficiência poderiam ser citados, com ou sem certificações ambientais. Ressalta-se a importância do uso dessas tecnologias para tornar as edificações mais amigáveis com o seu entorno e assim adequar soluções que proporcionem a demanda de crescimento das cidades de forma mais sustentável. 28 Como exemplo de outros sistemas de certificação, é preciso mencionar o Building establishment environmental assessment method (Breeam), do Reino Unido, que já tinha submetido à avaliação 30% dos prédios de escritórios do país (SILVA; SILVA; AGOPYAN, 2003) e o Aqua, método adaptado do modelo francês pela Fundação Vanzolini e USP para utilizá-lo em edificações brasileiras. Estas certificações, se bem acolhidas, poderão trazer o benefício de esquematizar o cuidado com vários aspectos, desde a origem dos insumos, passando pelos processos, pelo baixo impacto durante todo o ciclo de vida, chegando até a desconstrução (BRASIL..., 2008). O mundo assiste ao surgimento desta nova modalidade de prédios, concebidos para causar menos impacto sobre o meio ambiente e construídos com base em princípios e conceitos que orientam sobre a necessidade de preservação dos recursos naturais. Os responsáveis por essas edificações buscam adequá-las a exigências préestabelecidas, seguindo critérios que se escalonam desde a fase do projeto e que abrangem todo o seu ciclo de vida. Esses critérios contemplam a inovação no projeto e no processo construtivo, a escolha de materiais ecologicamente corretos, transportados de forma mais eficiente, o aumento da eficiência no uso dos recursos, como, por exemplo, água e energia, a qualidade do ambiente interno, da localização, a segurança ambiental dos processos de remoção dos resíduos e de remoção e renovação da edificação no final da sua vida útil. Em 2003, a revista Ambiente Construído, da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac), publicou o trabalho cujo título é Avaliação de edifícios no Brasil: da avaliação ambiental para avaliação da sustentabilidade, discorrendo sobre os sistemas internacionais de avaliação (SILVA; SILVA; AGOPYAN, 2003). Nele, é citada a integração do Brasil no Green Building Council (GBC), grupo que busca um protocolo único, internacionalmente pactuado, de avaliação de desempenho das edificações. Também são feitas considerações sobre a introdução de avaliação ambiental no Brasil. A partir daí, é cada vez maior o número de empreendimentos registrados no U.S. Green Building. O primeiro registro ocorreu no ano de 2004, seguido de três outros em 2005 e quatro, em 2006. Em 2007, registraram-se 39 prédios. Em 2008, 56 outros registros e, em 2009, até o mês de março, 20 novos prédios já foram registrados (GBC BRASIL, 2009). Em maio de 2007, a empresa Jones Lang Lasalle, que também atua no Brasil, no gerenciamento de edificações, declarou que “três anos atrás, os clientes queriam saber quanto o green building ia custar, e agora quanto ele decresce em custos” (WINSTON, 2008). Assim, pode-se verificar que o maior atrativo dos green buildings serão, cada vez mais, as reduções 29 de custo que essa modalidade de construção trará, considerando sua ocupação (WINSTON, 2008). Vale salientar que o desenvolvimento desses sistemas de certificação no país poderá representar um incentivo a pesquisas sobre o impacto das edificações, além de possibilitar o levantamento e a análise das práticas construtivas e a formulação de critérios adequados para as avaliações no país. Como o uso da água é um fator importante nessas avaliações, considera-se que a formalização dos sistemas avaliativos intensificaria a busca da otimização do consumo, contemplando novas fontes, dentre as quais a água de chuva. Este novo olhar sobre as edificações não contempla apenas o conforto para seus usuários, em termos de aparatos tecnológicos, mas, também, objetiva usar a tecnologia para fazer um melhor entrosamento entre a edificação e o seu entorno e utilizar os esses avanços para preservar os recursos naturais. 2.4 EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NO MUNDO Para exemplificar a captação direta da água de chuva é oportuno enumerar algumas experiências internacionais. Esta prática apresenta perspectivas de crescimento e aceitação cada vez maior, já tendo a indústria da construção desenvolvido produtos específicos para essa finalidade. Como exemplo de captação direta em centro urbano, pode ser citada a Kogarah Town Square, na Austrália. Esta área tem apenas 400 moradores, apesar de abrigar mais de 10.000 trabalhadores e 4.000 estudantes. É, portanto, um centro com intensa atividade diurna, mas vazio durante a noite e nos finais de semana. Nesta comunidade, foram desenvolvidas pelo poder público junto com a iniciativa privada, diretrizes para revitalizar a área dentro de conceitos de sustentabilidade, buscando oportunidades de crescimento cultural e desenvolvimento econômico. Para isso, considerou-se que existem três maneiras de racionalizar o consumo da água urbana, quais sejam: a) utilizando-se fontes alternativas para uso que não requer potabilidade; b) usando equipamentos eficientes, que requerem baixo consumo de água; c) usando menos água através de modificação dos hábitos. Com base nestas premissas, procedeu-se à captação, tanto da água dos telhados como nas superfícies pavimentadas (inclusive das ruas), de forma separada, mesmo com um índice 30 pluviométrico médio de 600 mm/ano. Aliando-se ao uso de equipamentos racionais de consumo, foi obtida, nesta comunidade, a redução de 58% no uso da água potável (KOGARAH TOWN SQUARE, 2006). O edifício The Solaire, em Nova York, representa um exemplo da prática de captação de água de chuva utilizada em conjunto com outras medidas, visando a reduzir o impacto ambiental das edificações (THE SOLAIRE, 2006). Outro país que oferece vários exemplos de captação é a Índia. A cidade de Bangalore, no Estado de Karnataka, com 6 milhões de habitantes e média anual de 846 mm de chuva, tornou obrigatória, em 2004, a captação de água de chuva em novas obras, especificando inclusive opções de sistema de captação para telhados, terraços e superfícies pavimentadas. Estima-se que, em 5 mil casas e 500 apartamentos, já sejam captados 900 milhões de litros de água por ano. Em 15 parques, 74 milhões de litros (VISNAWATH, 2005). Nos levantamentos efetuados em Bangalore, se for considerada somente a área metropolitana de 597 km2, já se obtém uma incidência de chuva de 1 383 milhões de litros por dia, mais do que 1 310 milhões que são bombeados por dia para a cidade. Para a concepção do modelo dessa cidade, foi definida uma estrutura conceitual, que sistematiza as etapas para implantação de um sistema de captação, considerando aspectos técnicos, comportamentais, educativos, legais e econômicos (VISNAWATH, 2005). Na França, onde existem projetos para edifícios de uso coletivo, como escolas, ginásios, estádios, shopping centers, já existe uma experiência em um conjunto de 12 edifícios de três pavimentos, com 15 reservatórios de 1m3 cada. Em caso de falta de água, os prédios podem ser atendidos por rede de abastecimento (GOUVELLO, 2003, apud CAMPOS, 2004). Na Suécia, obtém-se, com a utilização da água de chuva em descargas sanitárias, lavagem e jardins, uma redução de 45% do consumo de água potável residencial (VILLAREAL; DIXON 2004 apud COELHO FILHO; MOREIRA, 2005). No Reino Unido, usa-se água de chuva nas descargas de vasos sanitários, o que representa 30% do consumo residencial, segundo avaliação de modelo monitorado por 12 meses (FEWKES, 1998). Na Baviera, Alemanha, 93% da água consumida é captada. Estudo feito evidencia que, a depender do custo do sistema de captação, o abastecimento de água para uso doméstico, descentralizado, com captação no ponto de consumo, é muito mais vantajoso, em comparação com os custos de suprimento de água obtida em locais distante (HERRMANN; HASSE, 1997). 31 Também na Alemanha, outro estudo desenvolvido mostra a eficiência do sistema de captação para reduzir o consumo de água da rede de abastecimento. Este reporta o desenvolvimento, nos últimos dez anos, na produção de artefatos destinados à captação, contando o mercado, na época do estudo, com a concorrência de mais de 100 produtores, o que representa um crescimento econômico significativo. Segundo o líder de mercado dos reservatórios, citado no mesmo artigo, “durante os últimos 10 anos eles tinham instalado mais de 100 000 pontos de captação, o que ofereceria um estoque de mais de 600.000 m3”. Nas avaliações sobre uma possível redução de uso do abastecimento da rede urbana, com tanques de 4 m3 a 6 m3, chega-se, segundo o mesmo estudo, a índices de 30% a 60%, a depender dos hábitos de consumo e do tamanho da área de captação (HERMANN, SCHIMIDA, 2000). Um estudo de caso do Reino Unido, feito em supermercado com grande área de captação, confirma as expectativas de retorno do investimento com o sistema, embora tal retorno varie em função do tamanho da reservação e do local em que esta se situa, pois, sendo elevada, reduz também o consumo de energia (CHILTON et al., 2000). Estima-se que os Estados Unidos utilizarão, até 2010, 42% de água de chuva. Na Alemanha, onde os sistemas mais antigos datam de 20 anos, espera-se um percentual de 45%, até 2010 (INTERNATIONAL ENVIRONMMENTAL TECHNOLOGY CENTRE (IETC), apud TOMAZ, 2003). Neste último país, as leis favorecem a captação e o manejo para usos não potáveis, mas proíbem sua ingestão (GNADLINGER, 2005). Em Toronto, Canadá, o Toronto Healthy House é independente do sistema de saneamento municipal. A água potável vem da chuva e o esgoto tratado supre as outras demandas. Observa-se, em imagens do projeto disponíveis no site (CMHCS..., 2005), que nele ainda se bombeia toda a água proveniente da chuva, mesmo com a observância do princípio de preservar ao máximo os recursos naturais. A localização do reservatório de água no alto da edificação agregaria mais eficiência ao sistema. Na Austrália, usa-se a água de chuva para beber e existem normas detalhadas para todas as etapas, desde a captação, havendo também especificações sobre a qualidade da água (GNADLINGER, 2005). Segundo Campos (2004, p.25) a importância dada, no Japão, à captação de água de chuva pode ser vista em vários exemplos de obras executadas: a) na Prefeitura de Sumida, só em 1993, foram economizados 11 mil m3 de água, sendo 51,5% de água de chuva; b) no Ginásio de Tóquio, construído em 1983, com 46 755 m2, com capacidade de armazenamento de 1 000 m3, a água da chuva abastece as descargas de vasos sanitários; 32 c) no Ginásio de Fukuoka, construído em 1993, com 69 130 m2 e capacidade de armazenamento de 1 800 m3, abastece as descargas dos vasos e irrigação de jardins; d) no Ginásio de Nagoia, construído em 1997, com 69 mil m2 e com capacidade de armazenamento de 1 500 m3, a água pluvial abastece as descargas dos vasos e irrigação dos jardins; e) no edifício da Editora Toppan Ltda, em Sumida, apresentado na Conferência Mundial do Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992, com 13 270 m2 de área construída, um reservatório para águas pluviais, subterrâneo, de 356 m3, possuindo um sensor de chuva e neve que elimina automaticamente a chuva inicial, alimenta os vasos sanitários e, também com sistema de válvulas automático, fecha a entrada de águas pluviais, quando está cheio, e abre, também automaticamente, se necessário, para entrada de água da rede pública (FENDRICH, OLIYNIK, 2002); f) a Biblioteca da Universidade de Sophia, freqüentada por cerca de 5 mil pessoas por dia, com um telhado de 2 340 m2, implantou sistema de captação para utilização em vasos sanitários com investimento de U$$ 130 mil, retornável em oito anos (FENDRICH, OLIYNIK, 2002). O grupo Raindrops, que nasceu da Conferência Internacional para Aproveitamento da Água de Chuva em Tóquio, realizada em Sumida, em 1994, com 8 mil pessoas do Japão e de 26 outros países, afirma que, em Tóquio, o volume de água que cai como chuva é maior que o consumido pelo povo e, portanto, o grupo sugere a construção de milhares de minirrepresas (tanques de aproveitamento de água de chuva) ao invés de grandes represas que devastam (MURASE, 2002). Certamente a captação contribuirá para que o modelo atual de consumo dos recursos naturais nos prédios seja reavaliado, favorecendo um amadurecimento do senso critico sobre os impactos causados pela indústria da construção civil. Esta nova forma de planejar edificações, que está sendo desenvolvida em várias partes do mundo, precisa ser aprofundada cada vez mais. 2.5 EXEMPLOS DE CAPTAÇÃO NO BRASIL No Brasil, foram feitos estudos para avaliar o potencial de redução de utilização das redes com a utilização da água de chuva. Bressan e Martini (2005) avaliaram o potencial 33 médio de economia de água tratada, em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Como resultado deste trabalho, foi obtido um potencial de economia de 12% a 92% em cidades do Estado de São Paulo e 19% a 33% no Estado do Rio de Janeiro. Em São Paulo, por exemplo, 36,3% dos municípios tiveram potencial de economia de mais de 50%. Estes números avaliam a redução no sistema público, considerando-se a captação em todos os pontos de consumo. O mesmo tipo de estudo foi realizado por Ghisi (2005) para tentar avaliar o potencial máximo de reservação para residências no Brasil. Assim como fizeram Bressan e Martini (2005), foram usadas estimativas de áreas totais de telhados, por cada região do país. Esses trabalhos evidenciam a possibilidade de redução na utilização das redes públicas através da ação de sistemas de captação direta de água de chuvas, com análise detalhada do consumo, considerando o número de residências, a população e a estimativa de área de telhados. No entanto, a total ampliação da disponibilidade hídrica indicada pelo artigo não será alcançada, pois isto supõe que todos os telhados, em todos os pontos, funcionem como área de captação. Avalia-se, portanto, que não há condições de se chegar ao potencial de economia sinalizado, pois, na concepção dos citados trabalhos, todos os apartamentos e casas existentes, nas cidades em questão, estariam fazendo a captação. No entanto, com a ampliação e o aprofundamento dos estudos, e com a difusão da prática de captação, pode-se considerar que as novas construções, que nascem a cada dia, configurando a nova cidade, poderão oferecer racionalmente a utilização suplementar de água de chuva com ganhos para a rede de abastecimento urbana. O trabalho de Ghisi (2005), assim como o de Bressan e Martini (2005), servem para ilustrar o máximo potencial de economia que poderia existir com a captação, evidenciando que não se pode desprezar a água de chuva como fonte alternativa. Na Lavanderia da Paz, em São Paulo, coletam-se 500 mil l/mês de água, que são filtrados e utilizados na lavagem de roupas. Há 30 anos, o processo foi implantado. A área do telhado é de 1,4 mil m2 (MAY, 2004). O Ventura Corporate Towers, prédio de escritórios de alto padrão que está em construção no Rio de Janeiro, oferece sistema de retenção das águas pluviais (FIGUEROLA, 2007). Planeja-se, para 2014, com obra no estádio Maracanã, entre outras especificações, um reservatório de captação da água de chuva, para a irrigação. Em Vitória-ES, uma unidade da 34 Petrobras, também armazenará água pluvial, em lago, para utilização em irrigação. (HORTA, 2008). Em Salvador, o edifício. Solar da Cardeal, entregue em setembro de 2008, com 16 apartamentos de dois quartos e 48 apartamentos de um quarto, armazena, em reservatório inferior, 10 m3 de água de chuva, coletada em telhado de 411m2. A água coletada destina-se a irrigação e lavagem de pisos. Além deste, o Civil Business, também entregue em 2008, com 22 salas de 140 m2 e 22 salas de 115 m2, armazena 16 m3 de água captada, sendo 12 m3 em reservatório inferior, e 4 m3 em reservatório superior, destinando-a para os usos de irrigação, lavagem de pisos e vasos sanitários (AZEVEDO FILHO, 2008). Os exemplos e estudos citados neste capítulo salientam como a utilização da captação direta de água de chuva pode contribuir, suplementando as redes públicas, na preservação da água como recurso natural, sendo também um primeiro passo para implantação de práticas mais sustentáveis nas edificações, em consonância com o momento atual. A busca por essas práticas pode também ser vista nos exemplos dos novos edifícios que revelam, desde a sua concepção, a preocupação com o meio ambiente e nos modelos de certificação ambiental, que vem sendo aplicados em vários países. 35 3 SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA Neste capítulo, ao lado de um breve histórico dos sistemas de captação direta de água de chuva, descrevem-se os seus componentes e comentam-se alguns estudos sobre benefícios dessa prática. Em seguida, são sintetizados alguns relatos de pesquisas sobre o conhecimento e a aceitação da captação direta. Por fim, efetuam-se simulações de sistemas de captação, buscando avaliar as compensações em redução de uso da água potável das redes públicas. Tais simulações foram realizadas em edificação vertical, em condomínio horizontal, incluindo uma sobre qual seria o potencial total de captação que teria a Cidade do Salvador, se tivesse toda a sua área de telhado a serviço da reservação e outra sobre o potencial de captação que se atingiria se todos os novos domicílios a tivessem praticado a partir do ano 2000 até 2007. 3.1 HISTÓRICO DA CAPTAÇÃO DIRETA O homem capta água de chuva há muito tempo, e os registros de sistemas de captação indicam que há 2000 anos, no deserto de Negev, hoje Israel, a prática era comum. Existem outras evidências do uso da captação no período romano e, também na América Latina, a água era recolhida pelos incas, maias e astecas (PHILLIPI et al., 2006). Reservatórios escavados para acúmulo de água de chuva, na ilha de Creta, sinalizam que o uso de água de chuva remonta a 3000 a.C. (TOMAZ, 2003). A chegada das redes urbanas de abastecimento levou a população ao abandono da prática e à perda do saber de como captar e acumular a água em cisternas, deixando esta tecnologia para uso no meio rural (NOBREGA, 2005). Peter John Coombes, em 2002, na tese intitulada Rainwater tanks revisited: new opportunities for urban water cycle management apresenta a evolução do abastecimento na 36 Austrália, mostrando a resistência inicial da população ao sistema de abastecimento pago e a pressão dos poderes públicos para obter a adesão dos cidadãos a ele. O autor informa que o sistema de abastecimento público instalado trabalhava com sério déficit financeiro, decorrente dos gastos da operação. Por isso, a população, em 1890, foi obrigada a se conectar à rede pública e estimulou-se a prática de desfazer os reservatórios de captação. Coombes avalia que daí se originou a resistência ao uso da água de chuva na Austrália, pois a campanha de incentivo à adesão às redes públicas, feita pelo governo, visava a garantir a sobrevivência dos sistemas públicos, que surgiram muito em função dos problemas com incêndios frequentes. Assim, com taxas, legislação e críticas à captação, o governo reafirmava que a água do sistema era melhor que a obtida das chuvas (COOMBES, 2002). Hoje, com a sinalização de escassez da água, volta-se a buscar fontes alternativas para atender também ao meio urbano, complementando o abastecimento das redes. Entre essas fontes, está a água de chuva. Entretanto, não se trata de uma simples coleta. Há necessidade de avaliação e de adoção de um sistema eficiente, adequado às modernas edificações, considerando as singularidades das estruturas, a localização da área de reservação, a distribuição da água captada, a possibilidade de suplementação com a água potável, a redução do gasto em energia para bombeamento, a garantia da qualidade, o benefício financeiro para a edificação durante a fase de ocupação, o benefício para a cidade como um todo, considerando a suplementação às redes públicas e a contribuição na drenagem, etc. A correta escolha do sistema depende de cada projeto e da utilização que se pretende. A norma NBR 15 527 da ABNT, Água de chuva: aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis, em vigor a partir de 24 de outubro de 2007, menciona as circunstâncias e finalidades em que águas de chuva podem ser utilizadas, após tratamento adequado, como, por exemplo, em “descargas em bacias sanitárias, irrigação de gramados e plantas ornamentais, lavagem de veículos, limpeza de calçadas e ruas, limpeza de pátios, espelhos d'água e usos industriais” (ABNT/NBR 15 527, p. 5), remetendo o leitor para a observância das normas e regulamentação abaixo indicadas: a) Portaria n.18, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde (norma de qualidade de água para consumo humano); b) ABNT NBR 5626: 1998, Instalação predial de água fria; c) ABNT NBR 10844: 1989, Instalações prediais de águas pluviais; 37 d) ABNT NBR 1221 3:1992, Projeto de captação de água de superfície para abastecimento público; e) ABNT NBR 12214: 1992, Projeto de sistema de bombeamento de água para abastecimento público; f) ABNT NBR 12217:1994, Projeto de reservatório de distribuição de água para abastecimento público (ABNT/NBR 15 527, p. 5). 3.2 COMPONENTES DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO O funcionamento de qualquer sistema de captação de água pluvial depende de elementos variáveis que vão determinar sua qualidade. São eles: superfície de captação, tubulações para distribuição da água, acessórios, bombeamento, procedimentos de manutenção e tratamento, tipo de reservatório com cobertura e dispositivos de esgotamento e inspeção. 3.2.1 Superfície de captação A captação de água pode ser feita em superfícies muito diferenciadas, como por exemplo, em: a) telhados de diversos materiais: telha cerâmica, fibrocimento, alumínio, orgânicos, lajes em concreto, etc., variando também o coeficiente de runoff, definido como o quociente entre volume de água que escoa na superfície e volume precipitado; b) áreas pavimentadas, pouco indicadas em virtude de a exposição a contaminantes ser maior; c) represas, que não serão estudadas neste trabalho, cujo foco é a edificação urbana. O tamanho da superfície de captação influi diretamente no volume que pode ser captado. É vulnerável à contaminação, por se tratar de superfície externa, exposta a animais, ambientes poluídos, etc. Estudos complementares poderão ser desenvolvidos avaliando-se a captação em fachadas, o que trará grande contribuição quando se trata de edificações verticais. 38 3.2.2 Tubulações e calhas para distribuição da água Toda a rede de distribuição deve estar obrigatoriamente identificada e não deve haver pontos de contato com a água potável. As mais utilizadas são aquelas feitas em PVC ou em metal (alumínio ou aço galvanizado). Todo o procedimento é definido na NBR 10 844 (ABNT, 1989). Detalhes sobre a coleta de águas pluviais em cidades, tais como em guias, sarjetas, rasgos, que podem ser adaptados para áreas descobertas das edificações podem ser vistos em Botelho (2004). 3.2.3 Acessórios Consideram-se como acessórios as telas, os filtros para remoção de materiais grosseiros desde o by pass inicial, que promovem a eliminação das primeiras chuvas para garantir a qualidade da água, com lavagem da área da captação. A automatização do by pass inicial poderá melhor garantir a qualidade do funcionamento do descarte inicial. Em edificações, considera-se imprescindível tal automatização para garantir o funcionamento do sistema, evitando que a água acumulada se perca em uma falha da administração do edifício. Este descarte pode ser efetuado com dispositivos de simples controle. São considerados também acessórios todos os equipamentos instalados no sistema que contribuem para a qualidade da água. 3.2.4 Bombeamento Habitualmente, a distribuição da água desde o ponto de coleta até o de uso é feita por um sistema de bombeamento. Entretanto, para assegurar o caráter sustentável da edificação, deve ser avaliada a possibilidade da colocação dos reservatórios em pontos elevados, para que a distribuição dispense o bombeamento, fazendo com o que o sistema melhore a eficiência energética da edificação. 39 3.2.5 Manutenção do sistema e tratamento Campos (2004) enumera alguns procedimentos adotados no edifício Paul Klee, tema do seu trabalho. Observe-se que nenhuma das sugestões acarreta custo elevado que venha a inviabilizar o sistema: a) limpeza das calhas, procedimento que já é necessário em qualquer edificação para evitar entupimentos e que deve ser mais frequente em áreas com árvores, de maneira que contribua para a qualidade da água armazenada; b) limpeza do filtro; c) limpeza do reservatório de acumulação, além de inspeção frequente para identificação de possíveis fissuras, procedimento que também já faz parte da rotina dos condomínios; d) manutenção e verificação nas bombas e acessórios do sistema; e) manutenção de sinalização indicativa “Água não potável”, próximo das torneiras externas existentes; f) inclusão das orientações da manutenção no Manual do proprietário, que já é um documento entregue aos proprietários de imóveis. Além desses, há a possibilidade de realização de tratamentos específicos que serão determinados em função da qualidade da água coletada e do seu destino final. A norma ABNT 15 527 sugere a freqüência de realização dos procedimentos de manutenção dos diversos componentes do sistema, no item 5, da tabela 2, como se segue: a) dispositivo de descarte de detritos: inspeção mensal, limpeza trimestral; b) dispositivo de descarte do escoamento inicial: limpeza mensal; c) calhas, condutores verticais e horizontais: manutenção semestral; d) dispositivos de desinfecção e bombas: manutenção mensal; e) reservatório: limpeza e desinfecção anual. 40 3.2.6 Reservatório O reservatório é componente de significativo custo do sistema de captação e, portanto, seu correto dimensionamento, especificação e localização constituem parte importante da viabilidade do sistema. Na determinação do volume, precisa ser também avaliado o componente custo. O volume ideal encontrado deve garantir o melhor desempenho no abastecimento, com o menor investimento. Também na determinação dos pontos que serão abastecidos, deverá ser feita criteriosa avaliação, comparando-se possibilidades de atendimento. Para o dimensionamento do reservatório, precisam ser considerados: a) superfície de captação: telhado, fachadas, terraços, etc., com a sua área de contribuição; b) coeficiente de runoff; c) quantidade necessária de água através de previsão de consumo; d) quantificação da população a que se destina; e) disponibilidade da água, através dos índices pluviométricos diários em uma série histórica; f) localização do reservatório na edificação, buscando a melhor distribuição da carga na estrutura, sobretudo porque, projetos novos, se o reservatório é colocado logo abaixo do telhado, pode ser evitado também o custo do bombeamento; g) o material de fabricação que pode ser em concreto moldado no local, préfabricado, fibra de vidro, e aço galvanizado, decisão que deve considerar localização, custo, volume necessário. Nas análises desenvolvidas nesta dissertação será utilizado o modelo Teclim de dimensionamento. 3.2.6.1 Aplicação do modelo Teclim para dimensionamento do reservatório O balanço hídrico diário modelo Teclim possibilita efetuar os cálculos sequenciais para vários volumes de reservatórios de água captada, buscando assim o dimensionamento mais econômico. Também oferece a correspondente redução na demanda de água potável da unidade em estudo. 41 O modelo foi apresentado no artigo Captação direta de água de chuva no meio urbano para usos não potáveis, apresentado no 24. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Neste artigo é explicado o método: [...] utilizando o software MS Excel permite ao usuário entrar com dados de consumo, serie de precipitação diária, área de captação e coeficiente de captação, tendo como resposta taxa de atendimento à demanda anual para diferentes volumes de reservatórios. A ferramenta permite ainda entrar com a capacidade de reservação e verificar o atendimento ao consumo a partir desta. È possível também acompanhar o balanço hídrico diário calculado a partir de gráficos. Simulações e comparações entre os resultados foram realizadas para diversas faixas de consumo e diferentes regimes pluviométricos” ( COHIM; KIPERSTOK, ALMEIDA, 2007, p. 9) Os dados necessários para entrada no sistema são: área de cobertura da edificação estudada, consumo diário de água per capita, total e não potável para possível substituição por água de chuva captada, série histórica da pluviometria diária, coeficiente de runoff. O volume do reservatório será adotado com base nas informações do sistema. Buscase o volume ideal, que pode ser definido como aquele que ofereça a melhor relação custobenefício. Acima do volume ideal, o ganho para o abastecimento deixa de ser significativo. 3.3 ALGUNS ESTUDOS SOBRE BENEFÍCIOS DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO As avaliações dos amplos benefícios e do retorno do investimento propiciados pela adoção de sistemas de captação dependem significativamente de muitas variáveis e oscilam a depender de cada projeto. Não se pode deixar de considerar que os serviços de fornecimento de água e energia, que dependem de recursos naturais, tendem a ter seu preço aumentado e que a legislação e as posturas municipais deverão estimular cada vez mais o uso racional dos recursos, tornando mais frequentes o uso de implementos ambientalmente mais corretos, principalmente no tocante ao consumo de água. Assim, as edificações que os utilizarem estarão mais aptas para isto em menor espaço de tempo. Para demonstrar as possibilidades da variação na relação custo-benefício da captação direta, apresentam-se, a seguir, sínteses de estudos de vários autores sobre os benefícios financeiros advindos do uso da água captada. São vários os resultados obtidos. Em todos, são reconhecidos os benefícios mais amplos, para o meio urbano, seja para a redução do custo das redes de abastecimento, seja para o meio ambiente, seja para a prevenção de inundações seja em relação aos ganhos energéticos. 42 O Case study of a rainwater recovery system in a commercial building with a large roof (CHILTON, et al., 1999) relata um tempo de retorno de 12 anos para investimentos no sistema de captação. Esse tempo de retorno financeiro é discutido em função do tamanho de tanques e da superfície de captação, podendo, segundo os autores, chegar a quatro anos. Sobre tempo de retorno, os mesmos autores consideram que se, como benefício, apenas é considerada a redução do custo no consumo da água, o tempo de retorno do investimento pode parecer longo. No entanto, quando outros benefícios são considerados, tais como redução da demanda da água potável com a conseqüente redução na ampliação das redes, o investimento é interessante. No artigo Rainwater utilization in Germany: efficiency, dimensioning, hydraulic and environmental aspects Thilo HERRMANN e Uwe SHIMIDA (2000) reiteram a concepção de que as reduções de custo precisam ser avaliadas de forma mais ampla, pois se discute o custo comparativo entre estoques centralizados e descentralizados de água. Eles utilizam trabalhos de Herrmann e Hasse (1997) e de Deltau e Stratmann (1998) para reafirmar que o estoque de água descentralizado concorre economicamente com o centralizado, além de contribuir para a efetiva redução na inundação urbana. Neste mesmo artigo, afirma-se que o consumo que pode ser substituído no uso domestico é avaliado entre 30% a 60%, usando reservatórios de 4m3 a 6m3. O artigo A dual mode system for harnessing roofwater for non-potable uses (APPAN, 2000), avaliando a captação de água em Singapura, que tem índice pluviométrico médio anual de 2250mm e 84% da população vivendo em edifícios, conclui que a adoção do sistema proporciona uma redução de 12,4% no gasto mensal com água. No livro Uso racional da água em edificações encontra-se, no capítulo 3, Aproveitamento da água de chuva - PROSAB, a informação de que o consumo energético oscila entre 25% a 45% do custo total da operação do sistema de abastecimento. Sendo assim, este sistema descentralizado acumula os benefícios para o consumidor final, assim como para as redes urbanas de distribuição, além de contribuir para evitar enchentes (PHILIPPI et al., 2006). O Instituto Akatu, em boletim publicado em outubro de 2007, com o titulo Novidades para banheiros, avalia o benefício financeiro que teria uma família com a redução no gasto com água. Segundo esta avaliação, respaldada em dados do IBGE, uma família, no Brasil, gasta em média, no ano 2007, com água, R$ 166,20. Se esta família economizar 20% do consumo e aplicar mensalmente o valor correspondente, ao final de cinco anos vai economizar quase mil reais, considerando aplicação na poupança (INSTITUTO AKATU, 43 2007). Esta avaliação reforça a idéia da redução de gastos com água como um componente de sustentabilidade social. O artigo intitulado Aproveitamento de água pluvial para usos não potáveis em instituição de ensino: estudo de caso em Florianópolis econômica de SC, destaca a viabilidade sistema instalado no Senai/Florianópolis, que apresentou retorno de investimento em 4 anos e 10 meses, referente à economia mensal de água potável gerada e ao custo total de implantação do sistema. Além do ganho financeiro, os autores ressaltam os “benefícios ambientais imediatos por preservar os recursos hídricos da região” (MARINOSKI; GHISI, 2008, p. 83-84). A constatação de que os benefícios da captação não podem ser avaliados apenas em cálculo de pay-back no empreendimento, é o que ressaltam Cohim e Kiperstok (2007), utilizando dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS (BRASIL, 2006): “o índice de perdas na Embasa, de 1998 a 2004 ficou em torno de 40%. Segundo a mesma fonte, a tarifa média praticada por esta concessionária em 2004 foi de R$1,21/m³, porém a despesa total por m³ faturado foi de R$1,38, sendo que deste valor um pouco mais de 15% é gasto com energia elétrica.” Os autores prosseguem, com a previsão de que: [...] em função dos custos de implantação e operação de sistemas públicos de abastecimento de água, a utilização de fontes substitutivas representa também uma alternativa vantajosa às concessionárias, permitindo que o recurso economizado seja empregado na modernização e eficiência do sistema. Permitindo com isso que maior parte da população tenha acesso á água em quantidade e qualidade necessária aos diversos usos” (COHIM; KIPERSTOK; ALMEIDA, 2007, p.11). 3.4 SIMULAÇÕES DE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO Para uma avaliação dos benefícios da captação em edificações de alto padrão, serão analisados os resultados de alguns processos de simulação, como se segue: a) simulação de sistema em edificação residencial, vertical, situada na Vitória, em Salvador; b) simulação de sistema em condomínio horizontal de casas, situado na Alameda da Praia de Tramandaí, com Alameda Praia de Guaratuba, em Itapuã, Salvador; c) simulação de captação ampla na cidade de Salvador, considerando a área coberta de telhados da cidade como a área de captação, de forma total, buscando evidenciar o potencial benefício que poderia advir; 44 d) simulação de captação em área de telhado equivalente ao crescimento da cidade nos últimos 7 anos, buscando mostrar o benefício que poderia advir com a implantação nas novas construções face ao grande crescimento da cidade. Para o cálculo do consumo na edificação vertical, já completamente habitada, foram obtidos os dados e os projetos com usuários e projetista de instalações. Primeiro, foi feito o levantamento do número total da população residente, incluindo empregados, e dos valores referentes ao pagamento mensal à Embasa. Na coleta de dados, houve dificuldade para a obtenção da freqüência do uso dos equipamentos sanitários e, por isso, foi feita uma estimativa, baseada em literatura. A avaliação de freqüência de uso foi realizada a partir de adaptações efetuadas pela autora, segundo a realidade das edificações estudadas, que possibilitaram estimar o consumo do prédio. Na edificação horizontal, não completamente habitada, os dados foram levantados junto à empresa incorporadora e foram calculados a partir dos projetos recebidos. Tabela 3.1 - Demanda residencial de água não potável Demanda Interna Vaso sanitário, volume Vaso sanitário, frequência Máquina de lavar roupa - volume Máquina de lavar roupa - frequência Externa Rega de jardim, volume Rega de jardim, frequência Lavagem de carro, volume Lavagem de carro, frequência Faixa Unidade 6 a 15 4a6 100 a 200 0,2 a 0,3 L/descarga Descarga/hab/dia L/ciclo Carga/hab/dia 2 8 a 12 80 a 150 1a4 L/dia/m2 Rega/mês L/lavagem/carro Lavagem/mês Fonte: TOMAZ (2000) adaptado, apud PHILLIPI et al, (2006) 3.4.1Simulação em edificação vertical A edificação vertical de alto padrão em que se fez a simulação está situada na Vitória, em Salvador, Bahia: trata-se do edifício Fellini, com um apartamento de quatro suítes por andar, com 24 apartamentos-tipo e uma cobertura, quatro garagens por apartamento, totalizando cem vagas. Playground com guarita de segurança, piscina, salão de ginástica, 45 sauna, salão de festas, parque infantil, jardins, situados no nível da Vitória. Píer com bar e área para eventos situada no nível do mar. Área de jardins na ligação entre os dois níveis. Na avaliação gasto de água, foram considerados: a) consumo nas garagens com lavagem dos carros; b) consumo nos vasos nos sanitários dos empregados do prédio; c) consumo, nas áreas comuns, da água destinada à rega dos jardins; d) consumo nos vasos sanitários das áreas de lazer; e) consumo nos vasos sanitários dos apartamentos. 46 Tabela 3.2 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini Dados Total de apartamentos População residente ( moradores)¹ Consumo médio no prédio² Consumo total de água por morador, em 2007 Custo mensal com água no condomínio² Capacidade atual do reservatório inferior³ Capacidade atual do reservatório superior³ Área de telhado para captação³ Área de fachada sudoeste³ Área de fachada nordeste³ Demanda nas áreas comuns Empregados do prédio – diurnos¹ Empregados do prédio – noturnos¹ Consumo de água em litros por descarga sanitária, em cada uso 4 Acionamento de descargas, por empregado, por turno 4 Consumo dos empregados em descargas Área de jardins³ Consumo por metro quadrado de jardim/rega 4 Freqüência de regas mensais 4 Consumo para rega de jardins Quantidade de veículos no prédio Numero de lavagem por veículos, por mês¹ Consumo por lavagem por carro 4 Consumo na lavagem de carros Eventos no pier por mês 4 Visitantes por evento, media 4 Consumo dos visitantes do pier Total do consumo das áreas comuns Demanda da área privativa População de empregados dos aptos Consumo médio na área privativa do apartamento Consumo médio por apartamento, por dia Frequência de uso de descarga por morador 4 Consumo dos moradores em vaso sanitário Consumo dos empregados dos aptos. em vaso sanitário 4 Consumo total em descargas sanitárias na área privativa dos aptos. Potencial para aproveitamento de água de chuva Total de água potável a ser substituído por água de chuva Percentual máximo que poderia ser suprido com água de chuva Custo máximo que poderia ser economizado, usando % máximo de suprimento Quant. de água, por dia, que pode ser suprida com água de chuva Quant. de água, por morador que pode ser suprida com água de chuva Valor 25 100 1.036,00 340,60 3.078,33 84,00 48,20 220,00 1.377,00 1.985,00 unidades unidades pessoas m³/mês litros/pessoa.dia Reais m³ m³ m² m² m² 7 3 6,00 3 5,40 600,00 2,00 15 18,00 100 15 15,00 22,50 8 6 0,86 46,76 pessoas pessoas litros unidades m³/mês m² litros regas m³/mês unidades lavagens litros m³/mês unidades pessoas m³/mês m³/mês 25 39,57 263,80 6 108,00 27,00 135,00 pessoas m³/mês litros/dia unidades m³/mês m³/mês m³/mês 181,76 17,54 540,09 5.975,80 59,76 m³/mês % Reais/mês litros/dia litros/pessoa.dia ¹ Valor informado pelo condomínio ; ²Valor retirado da conta da Embasa; ³Valor retirado das plantas arquitetônicas do empreendimento; 4 Valor estimado. Dimensionamento do reservatório e cálculo do volume que pode ser suprido com a captação, usando o modelo Teclim de dimensionamento: 47 Tabela 3.3 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini 11¹ Dados Valores Entrada (input) População Área de captação Coef de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório Saída (output) Volume captado Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública Unidades 125,0 220,0 0,85 340,6 15.539,9 59,8 2.728,4 9,0 litros/pessoa.dia m³/ano litros/pessoa.dia m³/ano m³ 328,5 12 11,3 308,8 2,0 15.231,1 m³/ano % % m³/ano % m³/ano 1 pessoas m² 1Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. Tabela 3.4 – Cálculo do benefício para o aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini em valores Dados Consumo total Volume substituído Valor anual Percentual economizado Valor anual economizado Valores 15.539,9 308,8 36.939,96 2,48 917,56 Unidades m³/ano m³/ano Reais % Reais Em valor, tem-se anualmente uma economia prevista de R$ 917,56. Observa-se que, em decorrência da pequena área de telhado, a relação “produção x demanda” é baixa. O gráfico abaixo, reproduzido com a função de ilustrar um dos recursos deste modelo, apresenta a relação do volume com demanda atendida, oferecendo informações para a escolha do volume ideal. Como pode ser visto, acima de determinada capacidade de reservatório, o atendimento não cresce significativamente. O volume ideal pode ser definido como aquele volume acima do qual não há significativo aumento no atendimento da demanda. No exemplo em questão, a escolha recaiu sobre o índice de 9 m3. 48 Demanda atendida 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 Volume do Reservatório (m³) Demanda Atendida (M I) Demanda Atendida (M II) Atendimento Médio 100,00 120,00 Transbordo/Prod. Do Telhado (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II) Figura 3.1 – Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini Apenas como ilustração, simula-se a captação na área de fachadas do mesmo edifício, como sendo uma potencial área para captação , e admite-se, nesta simulação 50% do coeficiente de runoff utilizado para telhados, vez que não foram encontrados trabalhos que definam a relação entre volume de água que escoa em superfícies verticais, volume precipitado e posicionamento da fachada. Com esta simulação, pretende-se levantar a discussão sobre o potencial da captação em fachadas, que poderá ser objeto de trabalhos futuros, considerando o crescimento das altas edificações que vêm surgindo. A norma brasileira ABNT 15 527 não define a captação em superfície vertical, detendo-se apenas nos estudos sobre captação nas superfícies horizontais. Assim, define área de captação, no item 3.3, como “área, em metros quadrados, projetada na horizontal da superfície impermeável da cobertura onde a água é captada.” Utilizando-se o mesmo método de dimensionamento e considerando apenas o consumo das áreas comuns, no nível do playground e pier, obtém-se, com o mesmo volume de acumulação, no nível inferior, um atendimento equivalente a 6,3% do total da demanda de água potável (com a captação no telhado, encontrou-se 2,5%) e 47,4% da demanda por água não potável. 49 Tabela 3.5 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed. Fellini considerando como área de captação as fachadas Dados Valores Entrada (input) População Área de captação Coef de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório Saída (output) Volume captado¹ Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública Unidades 125,0 3.362,0 0,43 340,6 15.539,9 59,8 2.728,4 9,0 pessoas m² litros/pessoa.dia m³/ano litros/pessoa.dia m³/ano m³ 2.539,3 93,1 38,7 1.056,9 6,8 14.482,9 m³/ano % % m³/ano % m³/ano ¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. Demanda Atendida 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 Volume do Reservatório (m³) Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I) Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II) Atendimento Médio Figura 3.2 Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Ed Fellini considerando como área de captação as fachadas 3.4.2 Simulação em condomínio horizontal Nesta simulação, foi estudado o Condomínio Villa Costeira, situado na Alameda da Praia de Tramandaí, com Alameda Praia de Guaratuba, em Itapuã, Salvador Bahia. O condomínio foi parcialmente entregue em 2008. É constituído de 40 casas de quatro suítes, 50 com quatro opções de plantas. São casas de dois pavimentos e a cobertura é em telha cerâmica. Trata-se de condomínio de alto luxo, com grande área de jardins individualizados por lote. Também dispõe de clube e guarita de segurança, cuja captação não foi estudada. Esta simulação contempla a captação e reservação individualizada, por casa, segundo dois modelos: a) o que considera como uso apenas os consumos de área externa rega de jardins e lavagem de veículos , caso em que o reservatório pode permanecer no nível do terreno, sendo, portanto, mais econômica; b) o que considera como uso, além dos citados na alínea a), o consumo proveniente das descargas em vasos sanitários, caso em que parte do reservatório precisa estar acima do teto do primeiro pavimento. Tabela 3.6 – Dados adotados para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira Dados Total de unidades habitacionais População residente (moradores) Expectativa de empregados nas unidades Estimativa do consumo de água em descarga, por acionamento. Estimativa da frequência de uso diário das descargas por morador/empregado Consumo total em descarga Estimativa de eventos em cada casa, por mês Estimativa de visitantes por evento Consumo total de visitantes Área de jardins Estimativa de consumo por metro quadrado de jardim Estimativa de frequência de regas mensais Consumo na rega de jardins Estimativa da quantidade de veículos Estimativa de numero de lavagem por veículos, por mês Gasto por lavagem, por carro, com "mangueira” (medição simulada) Consumo total da lavagem de carros Consumo de jardins e garagens Consumo em descargas, na área privativa das unidades Demanda total poderá ser suprida com captação de água de chuva Valores Unidades 40 unidades 160 pessoas 40 pessoas 6 litros 5 unidades 180 m³/mês 2 6 8,64 unidades pessoas m³/mês 12.035,92 m² 2 litros 15 Rega/mês 361,08 m³/mês 102 15 45 68,85 unidades unidades litros m³/mês 429,93 188,64 618,57 m³/mês m³/mês m³/mês 51 3.4.2.1 Captação apenas para lavagem de veículos e regas de jardim Simula-se a seguir a captação para uso no andar térreo, em lavagem de veículos e jardins. Tabela 3.7 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim Dados Valores Entrada (input) População Área de captação Coef de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório Unidades 200 pessoas m² 9.063,0 0,85 350,0 litros/pessoa.dia 25.550,0 m³/ano 81,0 litros/pessoa.dia 5.913,00 m³/ano 120,0 m³ Saída (output) Volume captado¹ Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública 13.531,2 229 76,3 4.510,6 17,6 21.039,4 m³/ano % % m³/ano % m³/ano ¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. Demanda Atendida 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 Volume do Reservatório (m³) Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I) Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II) Atendimento Médio Figura 3.3 Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a lavagem de veículos e regas de jardim 52 Na situação anterior, optou-se por reservatório de 3m3 por casa, totalizando 120m3 no condomínio. Obteve-se um atendimento de 76,1% da demanda que pode ser suprida com água de chuva. Este número representa 17,6% do consumo total de água das casas. 3.4.2.2 Captação da água para vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim Ao realizar a simulação mantendo-se, nesta opção, a mesma área de reservação, obteve-se um atendimento de 67,4% da demanda de água não potável. Este resultado representa 21,6% do consumo total do condomínio, ou seja, apenas 4,0% acima da avaliação anterior. Observe-se que, nesta alternativa, faz-se necessário o reservatório elevado, aumentando o custo do sistema. Tabela 3.8 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim Dados Entrada (input) População Área de captação Coef de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório Saída (output) Volume captado¹ Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública Valores 200 Unidades pessoas m² 9.063,0 0,85 350,0 litros/pessoa.dia 25.550,0 m³/ano 112,0 litros/pessoa.dia 8.176,0 m³/ano 120,0 m³ 13.531,2 165,5 67,6 5.525,8 21,6 20.024,2 m³/ano % % m³/ano % m³/ano ¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. 53 Demanda Atendida 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 400,00 Volume do Reservatório (m³) Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I) Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II) Atendimento Médio Figura 3.4 Gráfico do volume do reservatório x atendimento da demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva no Condomínio Villa Costeira atendendo a vasos sanitários, lavagem de veículos e regas de jardim Neste ponto, é necessário ressaltar que os benefícios de potenciais reduções no consumo nos condomínios, apresentados nestes estudos referem-se apenas ao benefício financeiro direto do usuário da unidade habitacional, não contemplando outros ganhos como, por exemplo, o consumo de energia nas redes de abastecimento, a preservação da água nos mananciais, e possibilidade de contribuir positivamente nas inundações urbanas. 3.5 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA CIDADE DE SALVADOR: CAPTAÇÃO AMPLA Com o crescimento populacional dos grandes centros, a construção de novas unidades habitacionais tem incremento significativo, aumentando a área impermeabilizada das cidades. Em artigo que estuda a captação direta no âmbito urbano, demonstra-se esta diminuição das áreas permeáveis, relacionada com o aumento de população e volume de água para escoamento. São utilizadas por Cohim, Kiperstok e Almeida as duas figuras abaixo para ilustrar a situação. 54 Figura 3.5 O balanço hídrico urbano e a água de chuva. Fonte: adaptado de Urban water management in India: the role of rainwater harvesting por Cohim; Kiperstok; Almeida (2007, p. 4). 65 Impermeabilidade (%) 55 45 Tucci e t al 35 São Paulo 25 Curitiba Porto A legre 15 Curva Média 5 0 50 100 150 200 250 Densidade Populacional (hab/ha) Figura 3.6 Relação entre a densidade populacional e impermeabilização. Fonte: Campana, N. A., 1995, apud Cohim; Kiperstok; Almeida (2007, p.4) Deduz-se, desses dados, o aumento da demanda por infraestrutura de drenagem pluvial. Na tabela 3.9 pode ser observado o incremento de população na cidade de Salvador no período 1970-2000. 55 Tabela 3.9 – População residente em Salvador e Região Metropolitana Município, Região Metropolitana, colar, núcleo e área de expansão Salvador - BA Salvador (Região Metropolitana) Ano Habitantes 1970 1980 1991 2000 1970 1980 1991 2000 1.007.195 1.502.013 2.075.273 2.443.107 3.021.572 Fonte: BRASIL, IBGE (2007, tabela 200) Segundo o Censo de 2000, na década de 1990, a cidade recebeu 367 834 novos habitantes. Este número supera a população total da cidade de Vitória da Conquista, terceira no Estado em população, com 308 204 habitantes de população estimada em outubro de 2007 (BRASIL, IBGE, 2007). ). Também de acordo com estimativa divulgada em outubro de 2007, a população de Salvador era de 2 892 625 habitantes (BRASIL, IBGE, 2007). Este acréscimo já significa, em relação a 2000, um incremento de 449 518 habitantes. Este número aproxima-se da população de Feira de Santana, a segunda maior do Estado, estimada em 571 997, também em outubro 2007. Em estudo das cidades de Santa Catarina, foi obtida a média de redução possível no uso da água potável de 69%, variando em faixa de 34% a 92%. Citam-se também neste artigo (GHISI; MONTIBELLER; SCHMIDT, 2005) trabalhos feitos na Alemanha, por Herrmann e Schimida, com potencial de redução obtido variando de 30% a 60%, dependendo da área de telhado. Para a Austrália, agora mencionando pesquisa de Coombes (2002), os autores informam que foi obtido o percentual de 60% e, na Inglaterra, Fewkes (2006) chegou a 57%. Para ilustrar e demonstrar a importância e o potencial da captação na cidade de Salvador, simula-se a captação ampla na cidade, considerando-se um volume de reservatórios de 0,5m3 por unidade domiciliar. Obteve-se um atendimento com água de chuva de 22 910 604,00 m³/ano. Também para ilustrar a importância deste volume, calcula-se que, considerando um consumo de 200 litros por dia por habitante, este volume captado equivaleria, ao atendimento de uma cidade com 313 843 habitantes. 56 Tabela 3.10 – Dados adotados para simulação do potencial de aproveitamento de água de chuva em Salvador Dados População ¹ Numero total de pessoas em apartamentos e cômodos ¹ Numero total de pessoas em casas ¹ Numero de apartamentos e cômodos ¹ Numero de casas ¹ Numero de domicílios % casas¹ % apartamentos e cômodos ¹ Pessoa por unidade habitacional Área de telhado em casas ² Área de telhado em apartamentos ² Área de telhado por pessoa em apartamentos Área média de telhado/residencia ³ Área total de telhado 4 Valor 2.428.388 707.221 1.721.167 212.918 438.375 651.293 67,29 32,71 3,73 81,00 15,00 4,02 59,41 38.694.228,94 unidades habitantes habitantes habitantes unidades unidades unidades % % pessoas/resid. m² m² m²/morador m² m² ¹ Fonte: IBGE, Contagem da população 2007 e Estimativas da população 2007 ² Fonte: GHISI, 2004. p.4 ³ Área média de telhado considerada = % casas x 85m² + % aptos x 15m2 4 Área total de telhado = Área média de telhado x Numero de domicílios Tabela 3.11 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador Dados Valores Unidades Entrada (input) População Área de captação Coeficiente de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório (0,5m3/residência) 2.428.388 38.694.228 0,85 200,0 177.272.324 46,0 40.772.635 325.646,50 litros/pessoa.dia m³/ano litros/pessoa.dia m³/ano m³ Saída (output) Volume captado¹ Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública 57.771.011 141,7 56,2 22.910.604 12,9 154.361.720 m³/ano % % m³/ano % m³/ano pessoas m² ¹Produção: volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. 57 100% 80% a id d n e t 60% A a d n 40% a m e D 20% 0% 0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000 1600000 1800000 Volume do Reservatório (m³) Demanda Atendida (M I) Transbordo/Prod. Do Telhado (M I) Demanda Atendida (M II) Transbordo/Prod. Do Telhado (M II) Atendimento Médio Figura 3.7 Gráfico do volume do reservatório x demanda para água de chuva atendida resultante da simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador O cálculo acima mostra o potencial volume que pode ser captado diretamente, pois considera todas as residências atuais da cidade como ponto de captação e, portanto, tem difícil concretização. No entanto, ao avaliar com base no crescimento da cidade, é viável prever que o volume que pode ser suprido, nas novas edificações que surgem, é um demonstrativo de possível benefício que a introdução do uso da captação direta pode trazer às redes de abastecimento. Apresenta-se abaixo, também como ilustração, um resumo do volume de água que poderia ter sido substituído, se a captação tivesse sido implantada no ano de 2000, para as novas construções. Considerou-se o período de sete anos, entre 2000 e 2007. Nesse período, a Cidade do Salvador aumentou sua população em 449 518 habitantes. 58 Tabela 3.12 – Dados de entrada e saída do modelo para simulação do aproveitamento de água de chuva em Salvador considerando a implantação para as novas construções no período entre 2000 e 2007. Dados Valores Unidades Entrada (input) População Área de captação Coef de captação Consumo total per capita Consumo total Demanda per capita para água de chuva Demanda total para água de chuva Capacidade do reservatório (0,5 m³/residência) 449.518 7.159.749 0,85 200,0 32.814.814,0 46,0 7.547.407,2 60.057,00 litros/pessoa.dia m³/ano litros/pessoa.dia m³/ano m³ Saída (output) Volume captado¹ Relação produção¹/demanda para água de chuva Demanda para água de chuva atendida Volume médio substituído Demanda total substituída Volume a ser atendido pela rede pública 10.689.603 141,6 56,2 4.243.051,8 12,9 28.571.762,2 m³/ano % % m³/ano % m³/ano pessoas m² ¹ Produção: Volume de água de chuva possível de ser captado para a área de captação adotada. A simulação demonstra que essas novas residências, se efetuassem a captação, poderiam economizar 56,2% da água não potável ou 12,9% do consumo total, com um reservatório de apenas 0,5 m3 por unidade habitacional. O volume anual de água potável que poderia ser substituído seria de 4.243.051,8 m3/ano, que equivalem ao consumo total de uma cidade com 58 124 habitantes, estimando-se um consumo de 200 litros por dia, por habitante. Aqui, é preciso ressaltar a importância de ações paralelas de racionalização nos projetos, com modernos equipamentos de baixo consumo, tais como descargas de duplo comando, torneiras com fluxos controlados, etc., campanhas de conscientização para o bom uso e trabalhos para reduzir as perdas ao longo das redes, que favoreceriam ainda mais a redução da demanda por água potável. Assim, as empresas de saneamento, responsáveis pelo gerenciamento da água, contariam com esta fonte suplementar e poderiam ser reduzidos os investimentos para suprir as novas demandas, assim como a operação do sistema. 59 3.6 A QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA E ACEITAÇÃO PELA POPULAÇÃO Pesquisa intitulada Águas no Brasil: visão dos brasileiros, encomendada pela WWF, realizada em 2004, ouviu 1 000 pessoas, em todas as regiões. Entre os municípios pesquisados, 44% tinham mais que 100 000 habitantes (IBOPE, 2005). Questionados sobre a “possibilidade de problemas com o abastecimento de água, levando em conta a forma como a água é utilizada e a quantidade disponível”, 90% dos entrevistados, “concordam que o Brasil terá problemas com abastecimento de água”. Quando foi solicitada uma resposta espontânea, com até duas opções, para pergunta sobre os maiores problemas ambientais do Brasil, 52% citaram “poluição da água”. Entre os entrevistados com mais de 10 salários mínimos de renda, este percentual sobe para 70%. Quando foram questionados sobre “principal fator para agravamento do problema da água no país”, em questão espontânea, para várias opções de resposta, apenas 4% consideraram a “falta de política do governo para a água” e 1% citou “poucas fontes e reservas de água”. As demais respostas estão ligadas ao consumo, poluição, etc., mostrando pouca reflexão sobre a gestão da água e fontes alternativas. Na pergunta sobre “quais seriam os meios pelos quais se pode evitar o desperdício de água no domicílio”, em resposta espontânea, surgiram as seguintes alternativas: a) diminuir o tempo de banho – 31%; b) fechar a torneira ao escovar dentes e fazer barba – 26%; c) consertar vazamentos/torneira pingando – 16%; d) usar máquina de lavar com carga máxima – 15;%; e) não lavar calçada com mangueira/ usar vassoura – 15%; f) lavar louças em bacias -11%; g) aproveitar a água usada para outros fins ( lavar quintal, regar plantas, descargas, etc.) – 9%; h) não lavar carro com mangueira 8%; i) utilizar aparelhos que economizem água/ reaproveitem – 4%; j) aproveitar a água de chuva – 3%. Considerando que os primeiros itens têm sido recentemente divulgados em campanhas publicitárias e educativas, no intuito de reduzir desperdícios, oferecendo portanto benefício direto, os itens sinalizados, de reuso e captação, evidenciam conhecimento da população do uso da água de chuva como alternativa para redução do consumo das redes. 60 Pesquisa realizada na cidade de João Pessoa, na Paraíba, apresentada em dissertação de mestrado que estudou viabilidade técnica, econômica e social do aproveitamento da água de chuva, sinaliza sua aceitação pela população. De acordo com a pesquisa, [...] somando-se o percentual das pessoas que já utilizam águas pluviais com aquele relativo às pessoas que utilizariam águas pluviais em residências caso tivessem conhecimento da opção, a parcela de utilização aumentaria para quase dois terços, (65,63%) dentre a população pessoense, demonstrando um alto nível de aceitação da opção (DIAS, 2007, p. 96). Os que declararam rejeição ao uso da água, citaram como principal motivo a falta de incentivo, a dificuldade para captar e a falta de interesse com o processo técnico da captação. Esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com plano de amostragem, em 2006, em 800 domicílios. Entre os resultados obtidos, destacam-se alguns que podem ser considerados importantes para a linha de argumentação desta dissertação. Em primeiro lugar, 66,10% declaram conhecer a captação. Segmentando-se por escolaridade, os grupos que apresentaram o maior conhecimento da técnica, são aqueles cujos membros têm nível de escolaridade superior incompleto e os “sem instrução”. Segmentandose por idade, o maior conhecimento é entre pessoas de 30 a 40 anos, decrescendo o conhecimento para grupos de maior idade. Em segundo lugar, para os usuários da captação, o destino da água é maior para limpeza (93,08%), rega de jardim (59,17%), bacias sanitárias (48,44%), lavagem de carro (31,49%) e outros usos (4,15%) Sobre tratamentos da água captada, 69,52% declararam não fazer tratamentos. Parte justifica sua atitude por achar que, para os usos que realizam, a água não precisa do tratamento, outro grupo menor, por não ter conhecimento e apenas 0,8% do total declararam que não efetuam tratamentos para não onerar o sistema (DIAS, 2007) Com a evidência desta pesquisa, podemos inferir algum conhecimento da população sobre a captação direta? Quais os receios que poderiam advir da implantação da captação? Haveria algum conceito que poderia levar a população a rejeitar esta utilização? Na pesquisa de João Pessoa, foram citados como motivos para não utilizar, a falta de incentivos, a dificuldade na captação, a falta de interesse e o perigo de contaminação apenas para 1,67% do grupo, que representa 0,8% do total (DIAS, 2007). A respeito da qualidade da água de chuva, que supostamente poderia gerar receios e rejeição quanto ao seu uso, Tomaz (2003) indica que ela pode ser avaliada em quatro pontos: antes de chegar ao solo, após escorrer no telhado, no reservatório e no ponto de uso. 61 Os receios sobre a qualidade da água captada vêm sendo debatidos, e já existem estudos sobre esses quatro pontos. Pesquisas com sistemas experimentais no Centro de Técnicas de Construção Civil da Escola Politécnica da USP vêm mostrando resultados interessantes. Esse estudo, que aproveita a água de chuva para fins não potáveis, obtém amostras em coletores automáticos e sequenciais que são avaliadas pelo Instituto Adolfo Lutz. Nesta avaliação, são identificadas a acidez e também a presença de coliformes fecais em 50% das amostras. Esses coliformes são explicados por fezes de animais nos telhados (QUINTO, 2005). Essas análises pautam sugestões para o consumo não potável da água de chuva, sem prejuízo da saúde, prevendo-se para isto o descarte do primeiro milímetro de cada chuva (PHILLIPI et al., 2006). Este descarte, da primeira água coletada, é uma forma prática para prevenir contra a poeira e a fuligem que se acumulam em áreas de coleta como telhados, contaminando-a. As condições de limpeza da área de coleta e a qualidade do ar da região de captação devem ser consideradas no tocante às utilizações possíveis dessas águas. (FENDRICH; OLIYNIK, 2002). A ABNT (NBR 5626) determina a separação e a identificação das tubulações destinadas à água pluvial e à água potável, assim como os reservatórios próprios. Esta separação garante o não-cruzamento das instalações, reservando-se a água pluvial para os usos não potáveis para os quais ela se destinará. Já a NBR 15 527 Água de Chuva – aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis, oferece parâmetros de qualidade de água para o uso não potável. São vários os parâmetros que devem ser utilizados para a avaliação e para a análise da qualidade da água, tais como: a) físicos: turbidez, cor, odor, sólidos dissolvidos; b) químicos: pH, dureza, DBO; c) biológicos: bactérias heterotróficas, coliformes totais, coliformes fecais. Para a escolha dos parâmetros, segundo Rebello (2005), podem ser estabelecidos os critérios abaixo e, para limites, os índices das legislações: a) aceitação do usuário frente ao aspecto estético da água: a cor ou turbidez pode conferir aspecto desagradável e assim acarretar questionamento da qualidade; b) potencial risco à saúde do usuário: fungos e bactérias poderiam significar risco em uma ingestão acidental; 62 c) potencial risco às instalações: a dureza ou o pH, muito altos ou muito baixos podem causar prejuízos materiais. A resolução 274 do Conama (CONAMA, 2000) define o grau de contato do ser humano com água e, para a pluvial, as análises encontradas partem do entendimento de que este contato ocorrerá como “primário”. As principais fontes de contaminação dos sistemas de captação, tais como presença de matéria orgânica na superfície de captação ou calhas, fissuras nos componentes do sistema, acesso de animais, pessoas ou poluentes no reservatório, contato com esgotos, podem ser minoradas, quando não completamente evitadas, com a manutenção sistemática nas instalações. Nas cidades, em virtude da existência de poluentes atmosféricos, pode-se encontrar um pH ácido, porém ao entrar em contato com a superfície de captação, há a interação com as substâncias ali presentes, tendo como resultado o aumento do valor de pH, atingindo neutralização (MAY, 2004). A qualidade da água de chuva está associada à presença de poluentes atmosféricos e a substâncias e organismos presentes na superfície de captação. Próximo à costa, são encontrados elementos como sódio, potássio, magnésio, cloro e cálcio. Distante desta, os elementos presentes são de origem terrestre, como sílica, alumínio e ferro, e de origem biológica, como nitrogênio, fósforo e enxofre (TOMAZ, 2003). Em áreas urbanas, em virtude da presença de poluentes no ar, provenientes de veículos automotores e das indústrias, são detectadas, nas águas pluviais, substâncias como dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio, chumbo e zinco. Esta contaminação também pode ter origem de poeiras e fuligens depositadas nas áreas de coleta (TOMAZ, 2005). Este trabalho não pretende se aprofundar na qualidade da água de chuva captada diretamente, tema discutido em vários outros trabalhos. Discute-se a possibilidade de uso e aceitação por parte da população. Conclui-se, portanto, com as simulações apresentadas, que o sistema de captação, quando for devidamente planejado e executado, pode representar fonte alternativa suplementar para os consumos de água não potável, contribuindo para a redução da demanda sobre a rede urbana, permitindo que a água potável destine-se a consumos mais nobres e pode contribuir também, de alguma forma, para a prevenção das inundações urbanas. Apesar de a simulação de benefício financeiro da captação na área de telhado, em edificação vertical, não apontar compensação significativa, estudos podem ser desenvolvidos para que, nessas edificações, seja possível efetuar-se a captação nas áreas de fachada, que representam grandes superfícies. 63 Também deve ser considerado que, avaliando-se o benefício de forma mais ampla para a cidade, considerando-se o vertiginoso crescimento e demandas que virão, é evidente a grande contribuição que pode significar. Para estímulo à ampliação do uso da captação, nas edificações verticais, em que o benefício financeiro direto para o usuário não é significativo, será estudado o estímulo ao uso como estratégia de marketing da empresa, na próxima seção. Nos condomínios horizontais, com grandes áreas para rega de jardins e maior área de captação por usuário, a análise de pay-back se mostra mais atrativa, evidenciando, mais ainda, a viabilidade financeira de utilização da captação. Vale ressaltar que, segundo dados do IBGE, o percentual de domicílios tipo casa, chega a 67,29% em Salvador e a 72,06% quando se considera toda a Região Metropolitana. Neste caso, a compensação financeira poderá constituir-se como um estímulo ao uso, aliada também à estratégia de marketing da empresa, como será visto no capítulo seguinte. 64 4 RENOVAÇÃO DOS IMÓVEIS DE ALTO PADRÃO: USO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES AMBIENTALMENTE MAIS CORRETAS Discute-se, neste capítulo, se, além da análise de pay back, com bom prazo de retorno ou uma boa relação custo x benefício, outros fatores podem influenciar o uso ou não-uso de novas especificações ambientalmente mais corretas. Através da análise do mecanismo de renovação e do sucesso das marcas, procura-se identificar o tipo de estímulo que pode levar ao uso destas especificações nos imóveis, buscando os fatores que fazem com que determinados produtos, serviços ou atributos se transformem em objetos de desejo e, assim implantados, disseminar-se no mercado como um todo. Essa busca de inclusão ou renovação de marcas, seja por leitura de demanda, seja por criação de demanda, visam a evidenciar a possibilidade e a necessidade de saltos de qualidade, agregando valor aos produtos de sucesso já existentes e criando novos produtos que ainda podem ser pensados no mercado imobiliário. Por isso, foi feito um levantamento de alguns exemplos de novos atributos inseridos nas edificações, destacando-se algumas alterações já percebidas. Para ampliar o entendimento sobre o consumo e o consumidor, registra-se e comentase a influência que têm a mídia e algumas pesquisas sobre o consumidor mais consciente, fato que poderá valorar diferenciadamente o imóvel concebido com conceitos de sustentabilidade. 65 4.1 A INSERÇÃO DE NOVAS ESPECIFICAÇÕES EM EMPREENDIMENTOS PARA DIFERENCIAÇÃO NO PRODUTO – BUSCA DA RENOVAÇÃO Observar o setor da produção de forma ampla, leva-nos a uma percepção sobre novos hábitos e novas demandas que caracterizam o que se denomina “moda”: alguns produtos se transformam, sem que se possa explicar exatamente por que, em objetos de desejo do consumidor e sucesso de vendas para o produtor. Muitas vezes, esses produtos foram desenvolvidos em consonância com a leitura do momento, suas necessidades e lacunas, ainda que, no ato da sua criação, parecessem contraditórios com a lógica dos produtos concorrentes vigentes. Outras vezes, a preferência recai sobre produtos que foram concebidos sem que houvesse sinalização do mercado consumidor quanto ao desejo específico de possuí-los. Aparelhos como videocassete, celulares, biotecnologia, eram impensáveis 30 anos atrás (KIM; MAUBORGNE, 2005). Observa-se, em diferentes tipos de empreendimentos imobiliários, que a introdução de novas especificações, prática hoje já consolidada, busca diferenciação do produto, com a conseqüente aceitação pelo mercado e a criação da demanda dos novos itens inseridos, embora muitos deles sejam de alto custo para todos. Assim, é possível verificar como isso ocorre, analisando os resultados da inserção de algumas dessas especificações, como se faz a seguir, listando tanto as que atendem consumo de conforto, como medidas que melhoram o desempenho ambiental. Inserção de comandos eletrônicos em portões: colocados como equipamentos que aumentam a segurança e reduzem os custos com atendimento nas portarias, eles não suprimiram, nos edifícios de médio e alto padrão, a existência do porteiro, ou seja, não promoveram a redução do custo da administração do condomínio. Aumentaram o custo do construtor e os gastos do morador com mais um equipamento, depois de terem sido vistos como úteis e necessários. Hoje aparecem em todos os prédios, até naqueles em que o porteiro pode perfeitamente escutar o visitante e atendê-lo presencialmente, muitas vezes desprezando o equipamento. Os geradores de energia deveriam oferecer a possibilidade de ter elevadores funcionando e alguns pontos de iluminação nos apartamentos em momentos de falta da energia elétrica. Por esta razão, transformaram-se em demanda do comprador e fator influenciador de venda, mesmo com pouco uso e custo significativo de manutenção. 66 Medidores individuais de consumo de água: colocados como elemento redutor do custo da cota condominial, vêm sendo inseridos pelos construtores e exigidos pelos compradores de forma bem ampla. É um exemplo claro de equipamento que atrai o comprador e se transforma em apelo de vendas. Onera o custo do construtor e também não o beneficia economicamente de forma direta, vez que o retorno obtido será para o morador final. Neste caso, também observa-se a existência de legislação, seguindo uma tendência do mercado, pois, em algumas cidades, tal inserção já é obrigatória. “Bordas infinitas” em piscinas: trazendo o esmero de nova estética, vêm sendo inseridas em prédios de alto padrão, pois são consideradas como um bom apelo de vendas. Também trazem aumento de custo ao construtor e aumento de gastos para o comprador, vez que se trata de mais uma instalação para ser mantida pelo condomínio. Os salões de festas e ginástica também surgiram em prédios de alto padrão e hoje existem em quase todas as edificações residenciais, equipados com mais ou menos requinte, a depender do prédio. Grandes áreas de lazer: a incorporação de quadras para esportes, parques infantis, etc., surgidas também em prédios de alto padrão, hoje já estão inseridas em imóveis de diferentes padrões, até em conjuntos habitacionais populares e se transformaram em apelo de vendas. Observa-se que, em grande parte dos lançamentos do ano de 2008, a publicidade explora mais os vários equipamentos de lazer do que a planta do apartamento em si, como era praxe há alguns anos. Espaços gourmet: observando o momento atual, quando se considera o prazer gastronômico como um requinte, valorizando-se os grandes chefes de cozinha ou mesmo as “confrarias” – espécie de clube em que grupos de amigos se reúnem e preparam refeições especiais, com equipamentos sofisticados –, inseriu-se, nas edificações, este conceito de “espaço gourmet”, oferecendo aos moradores a possibilidade de receber convidados para preparar alimentos de forma diferenciada, associando requinte e conforto. Pode-se observar a diferença entre esses espaços e as copas e áreas de serviço existentes nos salões de festas mais antigos, nos quais o espaço apenas abrigava pessoal de serviço, garçons, etc. Iluminação de áreas comuns controladas por sensores de presença: aproveitando a demanda por redução de custo de energia, inseriu-se nos halls e áreas de passagem o controle por sensores, traduzindo o cuidado com o consumo, que atrai o comprador, sinalizando possível redução com os custos pós-ocupação. Pode-se supor que, em curto prazo, ter-se-á iluminação de áreas externas obtidas da energia solar ou da energia eólica, ainda não 67 disponíveis em larga escala, mas que, provavelmente, por imitação de modelos estrangeiros, não tardarão a chegar. A forma de aquecimento de água evoluiu, nos empreendimentos de alto padrão, de aquecedores elétricos individuais nos apartamentos, para caldeiras centrais nos condomínios e provavelmente tenderão para o uso de energia solar, ainda pouco difundido nos prédios em Salvador. A instalação para aparelhos de ar condicionado “tipo janela”: iniciou-se oferecendo apenas um ponto elétrico na suíte principal, evoluiu inserindo “caixa de concreto ou em fibra” para instalá-lo sem rasgos na fachada e hoje se prevê, durante a construção, a instalação dos aparelhos tipo split, que direcionam a unidade externa para área previamente preparada, sem o inconveniente de deixá-lo exposto, interferindo na estética externa. Os fabricantes, atentos às demandas, desenvolveram produtos que também se adaptam às caixas externas em edificações antigas. A previsão de sua instalação já é feita para todos os quartos e, mais recentemente, em salas, nos apartamentos de alto padrão. É outro exemplo de aumento no custo da construção, assumido no empreendimento e entendido como facilitador da venda. Também limita a escolha do futuro morador, pois já impossibilita a escolha do aparelho de janela, que tem preço reduzido. Este acréscimo de custo não foi impeditivo para sua implantação e difusão, vez que foi traduzido como modernidade. Observa-se, também, que as edificações antigas, tentando equiparar-se ao modelo das novas, rasgam suas fachadas, expondo tubulações e as unidades externas, para poder utilizar os novos equipamentos. Assim, comprometem muitas vezes a estética em prol de dispor da mesma tecnologia. Inúmeros outros itens começam a surgir, tais como: áreas comuns mobiliadas, brinquedotecas, lan-house, sala de projeção de filmes, aquecimento de piscinas, deck molhado, saunas, duchas, fitness center e salas para massagens com ambientação similar a spas urbanos, salas para estudos e bibliotecas, sistemas de circuito interno de TV digital, estacionamentos para visitantes, salões de festas infantis, juvenis e de adultos separados, pista para velotrol e para caminhadas, refeitório para funcionários, fornos para pizzas e churrasqueiras no espaço gourmet, serviço especializado para administração para o empreendimento, chamado de “gerenciamento de facilities”, controle de parte dos serviços no sistema de pay-per-use, tais como, lavanderia, babás, pet-shop, lavagem de carro, etc.. Acopladas a shopping centers, surgem grandes edificações residenciais e de escritórios, criando núcleos de habitação que conjugam moradia, trabalho, diversão e compras em grandes áreas fechadas, usando como atrativo a segurança contra a violência das cidades e conforto do deslocamento sem trânsito urbano. Esses espaços, chamados também de bairros 68 planejados, são “minicidades artificiais”, pois não oferecerão aos seus habitantes o uso do espaço público e nem a diversidade na convivência de pessoas de várias classes sociais e interesses. Poderiam ser citados muitos outros modelos de estruturas que se consolidaram. Vão-se sobrepondo, traduzindo o conceito de novo, até levando, muitas vezes, os indivíduos a tentar fazer a adequação dos seus imóveis ao novo modelo ou à troca dos imóveis por outros que apresentam este novo padrão e traduzem outro patamar de status. Esta inclusão, muitas vezes, oferece aumento de custo para o construtor e também para o morador final e, ainda assim, tornou-se de uso comum, em função do apelo com que foi colocada e da demanda que criou. Os diversos incorporadores, atentos aos produtos lançados pela concorrência, vão adaptando seus produtos a essas tendências e, assim, os imóveis vão se alterando no tempo, tendo inclusive seu valor atrelado ao que possui de implementos ditos “sofisticados” “modernos” ou “funcionais”. É evidente a diferença no valor de revenda entre os novos e os antigos imóveis, não somente associada a sua conservação, mas também ao que ele traduz em suntuosidade na aparência e adequação aos novos modelos. O tamanho dos apartamentos, sensivelmente maior nas construções mais antigas, deixou de ser um fator de determinante da atração para a compra, substituído, hoje, pelos equipamentos e pelos novos elementos inseridos, inclusive em áreas comuns. Estes exemplos buscam deixar claro que não é a rigorosa análise de pay back, com bom prazo de retorno ou uma boa relação custo x benefício que determinam a inserção, aceitação ou descarte de novas especificações e equipamentos. O uso de implementos, como agregador de valor ao imóvel, colocado corretamente no apelo de vendas, pode trazer o sucesso da sua implantação de forma mais ampla. Assim, trazem associação com a sofisticação, esmero estético ou conforto ou segurança ou inserção de novas tecnologias, traduzindo modernidade, atendendo ao desejo do comprador de associar sua moradia com luxo, status. Os exemplos citados de inserções de novas especificações são evidências claras de que o mercado imobiliário já busca a diferenciação do produto, através de itens que, no entendimento atual do incorporador, possam agregar valor ao imóvel, seja na aparência, seja quanto a seu desempenho. Para diferenciar-se na aparência, renovam-se materiais como revestimentos, pavimentações, cores das fachadas, esquadrias e vidros, mobiliário de áreas comuns, estilo arquitetônico, ferragens de portas, louças e metais sanitários, bancadas para cozinhas, etc. 69 Para diferenciar o desempenho da edificação, são inseridos novos equipamentos, e renovados alguns dos existentes, através de atualização tecnológica, como já foi mencionado nos exemplos deste capítulo. Muitos deles são inseridos nas áreas comuns, dotando o prédio de estrutura de lazer, que se amplia a cada dia, até na subdivisão de espaços que existiam, como vários salões de festas destinados a faixas etárias distintas, levando o adquirente ao entendimento de que, junto com seu apartamento ou casa, está recebendo toda uma ampla estrutura para seu deleite, com um padrão de sofisticação que ele deseja. Uma comparação do conceito de produto desenvolvido por Levitt, citado por Hooley e Saunders (1996), no livro Posicionamento competitivo, com as inovações recentemente introduzidas nos imóveis, evidencia que as mudanças, na sua maioria, representam alterações no “produto esperado”, levando ao cliente um novo padrão estético e alterações tecnológicas que atendem ao mesmo desejo. As modificações, por exemplo, criadas pelos revestimentos mais onerosos, como mármores diferenciados, adornados com bordas e diagramações especialmente detalhados, modelos novos para alisares, rodapés, ferragens e portas vêm ao encontro do desejo de sofisticação que traduz status. Louças e metais sanitários renovam o design com custo elevado em relação a modelos mais antigos e são utilizados como forma de diferenciar lavabos e suítes. Observa-se a inclusão da palavra mansão no nome dos prédios, que parece sugerir outra associação do luxo com o prédio. Várias outras especificações alteram-se, buscando este requinte na aparência. Considera-se que existe uma grande possibilidade de oferecer mais, alterando significativamente o desempenho do “produto potencial”, na sua pós-ocupação, através, inclusive, de uma nova relação do prédio com o seu entorno, abarcando novos aparatos que traduzirão conforto e modernidade, consolidando a marca, a reputação do incorporador, podendo levar ao destaque da empresa. Discorrendo sobre renovação nas marcas, Gilles Lipovetsky (2005, p. 82) aponta a contradição necessária: “perpetuar uma tradição e inovar, ser fiel a uma herança sendo moderna”. Assim, afirma a renovação necessária, com a utilização das técnicas aprendidas, valorização do passado e, ao lado disto, inovação, rejuvenescimento. Pode-se assim também supor que o mercado imobiliário pode rever as características dos seus lançamentos, observando as tendências do mundo atual. Uma dessas tendências, a preservação do meio ambiente já é clamada, inclusive pela mídia. 70 4.2 A DIVULGAÇÃO DA CAUSA AMBIENTAL: INFLUÊNCIA DA MÍDIA A necessidade de avaliação da influência da mídia sobre o tema é defendida no livro Ecológicas manhãs de sábado, de Thales de Andrade. Segundo o autor “o pensamento social necessitaria adentrar equipadamente nesse espaço de encontro entre ambiente e espetáculo, de maneira a detectar mais acuradamente os mecanismos e implicações dessas tendências”. (ANDRADE, 2003). Hoje em dia, as exigências de qualidade dos produtos, de proteção ao meio ambiente, e respeito aos direitos do consumidor são temas recorrentes em todos os veículos de comunicação. A causa ambiental tem destaque internacional, não apenas nas organizações não governamentais, mas, também, no alto escalão político de inúmeros países, inclusive das grandes potências mundiais, que renovam o assunto a cada encontro, buscando tratados, protocolos, compromissos. No Brasil, a chegada da TV por assinatura, paga, oferecendo canais cuja programação está voltada para assuntos ambientais, tais como o National Geografic Channel e o Animal Planet, têm levado às classes A e B programas sobre os limites do planeta, pondo o público em contato com esses temas de forma valorativa. O espaço dedicado pela mídia nacional triplicou o número de artigos com menções somadas de mudança climática, efeito estufa e aquecimento global em 2007 (INSTITUTO MARKET ANALYSIS, 2007). A mesma pesquisa evidencia que no tocante ao número de pessoas que atribuem muita gravidade aos problemas do meio ambiente, pula-se de 48%, no final dos anos 1990, para 74%, em 2003 e 84%, em 2007. A pesquisa considera, neste crescimento, a correlação de 98% com a evolução do número de artigos na mídia nacional (INSTITUTO MARKET ANALYSIS, 2007). Bourdieu (1996, p. 29-30), na sua avaliação sobre o poder dos meios de comunicação, especificamente sobre a televisão, considera que Caminha-se cada vez mais rumo a universo em que o mundo social é descritoprescrito pela televisão. A televisão se torna o árbitro do acesso à existência social e política. (...) é preciso cada vez mais produzir manifestações para a televisão, isto é manifestações que sejam de natureza a interessar às pessoas de televisão, dadas as suas categorias de percepção, e que retomadas, amplificadas por elas, obterão sua plena eficácia. Lipovetsky (2006) discute e afirma o poder da própria publicidade para despertar uma tomada de consciência dos cidadãos para os problemas. Segundo o autor, o “alerta midiático” influencia “normas e ideais aceitos por todos, mas pouco ou insuficientemente praticados [...] 71 explora o que está no germe, tornando-o mais atrativo para mais indivíduos” (LIPOVETSKY. 2006, p. 195). Featherstone (1995, apud PORTILHO, 2005) afirma que os grupos aspirantes e aprendizes de novo consumo, de qualquer classe que sejam, são ensinados pelas revistas, jornais, livros e programas de TV, aperfeiçoando assim o estilo de vida para o novo estilo de consumo. Os profissionais que trabalham nos meios de comunicação, design, publicidade e TV, são chamados de “novos intermediários culturais”, pois produzem “novos bens simbólicos”. A respeito da repercussão do que é divulgado pelos meios de comunicação, transcreve-se aqui depoimento de profissional da área na reunião do grupo focal, confirmando esta percepção: [...] em determinado momento, um presidente do Brasil falou que nós tínhamos carroças ao invés de carro. Apesar de ser dito por quem foi dito, isso trouxe uma provocação nacional. O brasileiro talvez não se apercebesse de que ele dirigia carroças e não carros, ele não desejava aquilo que ele não conhecia, ele não tinha próximo a ele, então era muito longe tudo o que era possível, era muito distante da sua realidade. Quando o poder público entrou, ele abriu as possibilidades e que isso se tornou acessível e também a mídia, obviamente contribuiu para dar conhecimento a tudo isso, olha o tamanho do mercado automobilístico que o Brasil se tornou [...]. A tendência de que os meios de comunicação usem mais e mais temas voltados para a ecologia é evidente. Como foi afirmado por Bourdieu (1996, p. 39): “[...] Em suma, há objetos que são impostos aos telespectadores porque se impõem aos produtores; e se impõem aos produtores porque são impostos pela concorrência com outros produtores”. Seja porque todas as empresas concorrentes adotaram o meio ambiente nas suas pautas, seja por perceber, cada uma independentemente, a audiência que geram, o fato é que é evidente a proliferação de programas tipo documentário, as inserções em novelas e seriados, além das matérias jornalísticas tratando do assunto. O mesmo autor discorre ainda sobre o caráter potencializador dos meios de comunicação, que difundem, junto a vários tipos de público, os temas nela divulgados: [...] no caso de disciplinas aparentemente mais independentes, como a história ou a antropologia, ou a biologia, ou a física a arbitragem da mídia se torna cada vez mais importante na medida em que a obtenção de créditos pode depender de uma notoriedade da qual já não se sabe muito bem o que deve à consagração da mídia ou à reputação dos olhos dos pares. (BOURDIEU,1996, p. 86). Além da mídia, conteúdos ambientais, ministrados às crianças nas escolas, desenvolvem um novo tipo de consumidor, que interferirá no futuro, quando fizer as suas escolhas de compra. Já no presente, interferem no comportamento dos adultos, pois as crianças levam para suas moradias o conhecimento adquirido, pondo-o em prática nos simples cuidados do dia-a-dia, e manifestam sua preocupação, sensibilizando os adultos que não 72 receberam estes ensinamentos, surpreendendo a família com novos valores de respeito e cuidado com o meio ambiente. Observa-se, também, a inclusão de temas ligados à responsabilidade social e ambiental, em premiações e eventos. Em 2008, na Bahia, a Ademi-Ba incluiu o prêmio Responsabilidade social à empresa do setor imobiliário que desenvolveu projetos com colaboradores. Neste aspecto, vê-se o olhar também para a sustentabilidade social, que não pode ser deixada à margem do avanço tecnológico. Essa massificação dos apelos de conservação dos recursos poderá ser capitalizada por empresas que adotem práticas construtivas mais sustentáveis, desde que devidamente utilizadas como apelo de vendas ou institucional, atraindo um público sensibilizado pela repercussão destes temas. Para prosseguir na avaliação de criação de valor para o consumidor de imóveis com atributos ambientais, apresentar-se-á, ainda que resumidamente, algumas pesquisas sobre o consumidor consciente. 4.3 PESQUISAS SOBRE O CONSUMIDOR CONSCIENTE Para discutir o tema, serão comentadas pesquisas que se referem ao consumidor consciente, através de seus comportamentos e desejos sinalizados pelas escolhas que fazem. Em primeiro lugar, aparecem três pesquisas realizadas pelo Instituto Akatu entre os anos de 2003 e 2006. A primeira, intitulada Descobrindo o consumidor consciente, foi realizada em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, através de 1 000 entrevistas, dados colhidos em novembro 2003. A segunda – Consumidores conscientes: o que pensam e como agem (janeiro de 2005) – realizou-se com 600 consumidores de São Paulo, Porto Alegre e Recife. Não usou amostra representativa da população, apenas foi trabalhado o grupo dos mais comprometidos e dos conscientes, que representam, segundo a pesquisa anterior, 43% da população adulta brasileira das regiões metropolitanas. A terceira apresenta resultados de um trabalho de cooperação com a Faber Castell, voltado para identificar o estágio em que se encontrava o consumidor brasileiro rumo ao consumo consciente, avaliando a evolução deste comportamento, comparando-o com resultados das pesquisas de 2003 e 2005. Esta pesquisa, intitulada Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente, foi realizada em onze cidades principais das cinco 73 regiões do país, entrevistando 1 275 adultos de todas as classes sociais, buscando-se também os fatores motivacionais para o consumo consciente. Esta última, avaliando comportamentos, fundamenta-se na teoria de Maslow (1970). Segundo esta teoria, os indivíduos buscam inicialmente a satisfação das necessidades básicas de alimentação, subsistência biológica, física, segurança e, somente depois delas, procuram preencher aquelas relacionadas com aspectos coletivos e solidários, emblemáticos do consumo consciente. Este último é o perfil correspondente ao pós-materialista que, segundo a pesquisa, se for corretamente estimulado, poderá ter mais sensibilidade no seu ato de consumo. Adicionalmente, será considerada a análise qualitativa feita com 90 formadores de opinião, nas cinco regiões do país, coordenada por Samyra Crespo, em 1997, cujo título é O que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade (CRESPO et al., 1998). Serão também analisadas as observações de Elyette Roux sobre o estudo exploratório qualitativo, de abrangência internacional, realizado pelo Cofremca, instituto de pesquisas francês, para o Comitê Colbert, em 1992, intitulado Relatório sobre o luxo e evolução das mentalidades e sobre o estudo quantitativo intitulado Estudo de imagem, sobre as representações e os consumidores do luxo, realizado pelo Instituto Risc, que se iniciou em 1993 e foi renovado regularmente em 1995, 2000 e 2001 (ROUX, 2005). Por fim, serão considerados os dados obtidos através do grupo focal, realizado em 2007, com profissionais do mercado imobiliário de Salvador, com a finalidade de obter dados para esta dissertação de mestrado. A pesquisa levantou idéias de especialistas de diversas áreas, tais como arquiteto, estruturalista, projetistas de instalações elétricas, de hidráulica, de ar condicionado, incorporadores, construtores, orçamentistas, corretores de imóveis, moradores de edificações residenciais de alto luxo, profissionais das áreas de educação, jurídica, de marketing e de jornalismo. As entrevistas com o grupo foram gravadas e os depoimentos, transcritos na íntegra. A escolha dos profissionais foi feita segundo sua reputação profissional, sendo eleitos profissionais de destaque nas diversas áreas do mercado de Salvador, contemplando-se todas as áreas envolvidas nos projetos de alto padrão. Na sessão deste grupo, foi apresentado inicialmente o tema, captação direta de água de chuva. Em seguida, dois estudos comparativos: sobre um prédio existente em Salvador, com seu consumo atual e simulação da captação, com previsão de acréscimo de custos construtivos e redução de gastos se a captação 74 tivesse sido implantada e sobre uma situação hipotética, a da captação em toda a Cidade de Salvador, com volumes captados decorrentes. 4.3.1 Existe de fato consumidor consciente? Considera-se consumo consciente como sendo o ato ou decisão de consumo (compra ou uso de serviços ou de bens industriais ou naturais) praticado por um indivíduo, levando em conta o equilíbrio entre sua satisfação pessoal, as possibilidades ambientais e os efeitos sociais de sua decisão (INSTITUTO AKATU, 2003, p.7). O consumo assim praticado leva o consumidor a transformar-se no “novo ator social”, como afirma Portilho (2005, p. 165). Esta autora também nos fornece vários aportes sobre este novo consumo, tal como as que se transcrevem a seguir. “Parte da solução, de fato está em suas mãos [...] O consumidor verde já existe e já está tendo um tremendo impacto. [...] O consumidor poderia ter um papel significante enfrentando os problemas que mais o preocupam”. (ELKINGTON; HAILES, 1991, p. 214215, apud PORTILHO, 2005, p. 164). “Ao lado das grandes manifestações do movimento ecológico, acreditamos que está nascendo um novo ator social: o consumidor responsável” (FABIO FELDMANN, então Secretário do Meio Ambiente de São Paulo e MARCELO SODRÉ, então Coordenador do Programa Consumidor e Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. Extraído do texto produzido para apresentação brasileira de publicação da Consummers International, 1998, p. 10, apud PORTILHO, 2005, p. 164). “A entrada dos consumidores no cenário ambiental, como um novo ator desse processo, se traduziu em mudanças importantes sob o ponto de vista estratégico: eles começaram a pressionar e influenciar. As empresas ficaram sabendo que estavam sob observação, não só das comunidades e dos governos, mas também de seus clientes” (Depoimento de empresário entrevistado na pesquisa O que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade, apud CRESPO et al., 1998, p. 81). Essas afirmativas evidenciam que a prática de um consumo consciente dissemina-se e está se tornando familiar junto ao público, e a importância que este entendimento poderá trazer. Na pesquisa realizada junto ao grupo focal, destaca-se, em dois depoimentos, o surgimento de um comprador dotado de um senso crítico diferenciado, que poderia, através de 75 apelo correto, ser estimulado a dar mais valor a um produto que representasse a prática de um consumo sustentável. São eles: [...] existe uma demanda de audiência e um interesse do publico na TV aberta que caracteristicamente é uma TV para classes C, D e E. Cada vez mais essa demanda ela é crescente; se vocês recapitularem só da Globo: Globo Repórter, totalmente ambiental, Fantástico, quadros ambientais; e, você vai para Globo Ciência e Globo ecologia e aí você vai passeando na programação, cada vez mais. Não é assim, porque existe uma ideologia lá dentro, é uma empresa que é comercial e procura ter audiência e só tem audiência aquilo que interessa o interesse do público [...]. (Depoimento de profissional de mídia obtido na pesquisa realizada junto ao grupo focal). [...] Então, eu digo que hoje as crianças e os jovens eles não compram ainda, mas são filhos de adultos que compram e adultos responsáveis vão ouvir seus filhos, acredito eu.Talvez possa estar aqui uma visão, ainda um pouco, de educadora, uma visão tanto humanista, mas essa é a minha visão e eu acredito que hoje eles já tem esse poder de estarem argumentando, de estarem conciliando idéias com os pais e dentro de uma nova perspectiva pensar junto com esse pai - pai essa é a opção mais correta mesmo que seja mais cara nesse momento porque o mundo que vai ser deixado para mim precisa cuidar disso- Então eu penso que agente precisa entrar nessa vertente também, precisa cuidar de sair um pouco dessa visão mais mercadológica e pensar nessa vida mesmo, que esta ai que está posta com muito estresse. As crianças estão extremamente medrosas em relação a isso e essa é a minha visão de educadora [...] (Depoimento de profissional de educação de jovens, obtido na pesquisa realizada junto ao grupo focal). A pesquisa do Instituto Akatu (2003), efetuada para avaliação do consumo de forma geral, fornece uma visão sobre o “consumo consciente” do brasileiro, metropolitano, inclusive dos influenciadores de compras. Assim, suas conclusões podem delinear um perfil do consumidor de imóveis, assim como os influenciadores na concepção do produto, como projetistas, profissionais de venda, e outros. Os dados dessa pesquisa permitem considerar que, em comparação com os resultados obtidos nos estudos do ano anterior, tanto existe avanço da conscientização do consumidor quanto crescimento numérico do grupo. Segundo os dados da mesma pesquisa, observou-se, em 2003, fortalecimento dos conceitos de solidariedade, sustentabilidade e coletividade em comparação com a pesquisa de 2002, quando foi apontado como principal fator de mobilização a satisfação imediata das necessidades. Na pesquisa, foram selecionados 13 comportamentos e, em função do número de comportamentos que os questionados disseram “fazer sempre”, foram constituídos os grupos dos conscientes (6%), dos comprometidos (37%), dos iniciantes (54%) e dos indiferentes (3%). Esta mesma classificação será usada nas pesquisas posteriores do Instituto Akatu, que também serão comentadas. 76 Destacam-se abaixo alguns comportamentos, valores avaliados, afirmativas dos sujeitos abordados nas pesquisas e os do grupo focal, para entendimento da relação do consumidor com o meio ambiente, especialmente no tocante a água e a energia. A economia de água é considerada de forma positiva. Do total pesquisado, 94% sinalizam que “economizar energia e água é uma maneira de preservar o meio ambiente”. (INSTITUTO AKATU, 2003). “Um dos comportamentos mais consolidados é o uso racional da energia, o que é explicado, na pesquisa, pela experiência do “apagão” de 2001, com o racionamento do consumo, fartamente noticiado pela mídia.” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 40). De acordo com Elyette Roux (2005), o estudo do Instituto Risc já sinaliza a chegada significativa dos jovens com alto poder de consumo na Europa. Segundo o estudo, 37% dos clientes europeus ocasionais e 46% dos clientes regulares têm menos de 35 anos. Esses novos jovens, com certeza, chegaram à idade adulta trazendo na sua bagagem valores outros para embasar sua relação com o planeta. Tais valores, certamente, se traduzirão em comportamentos coerentes com os ideais da sustentabilidade do meio ambiente. Na pesquisa do Instituto Akatu (2003), foi testada a coerência entre os valores sinalizados e os comportamentos adotados no cotidiano pelos indivíduos, ou seja, entre o discurso e a prática. Observa-se, no geral, um percentual menor se comportando de acordo com os valores sinalizados. No grupo dos conscientes, como era de se esperar, existe maior coerência entre valores e atitudes. No grupo focal desenvolvido, na fala do corretor de imóveis, observa-se que já é percebida a existência de público consumidor com maior coerência entre o discurso e a prática no que se refere à escolha da moradia: [...]As pessoas que podem se dar o luxo de se mudar de Salvador para morar em Villas, no Litoral Norte, coisas desse tipo, que é a tendência, a depender da atividade dele, pode fazer isso então é um público que tem uma outra cabeça, digamos assim, não é aquele executivo que sai estressado. É um cara que tem uma atividade onde ele pode gerenciar melhor o tempo, pode se dar o luxo de levar o filho para escola, enfim, tem profissões que permitem esse romantismo, aí nessa hora essa pessoa também tem a cabeça preparada para solidariedade, porque essa pessoa tem a cabeça preparada para qualidade de vida,. É o tipo de moradia que ela quer, o próprio condomínio horizontal integra mais do que o condomínio vertical. O condomínio vertical conscientemente distancia as pessoas, quem busca o condomínio horizontal está buscando isso, àquela coisa da pracinha, de se encontrar com o amigo bater uma bola juntos, aquilo de cidade pequena que a gente se encontrava na pracinha, tem um saudosismo por trás dessa moradia de casa. Então se você pegar um público que já está com a cabeça preparada para esse tipo de economia, mesmo que ela não lhe dê um retorno muito de pronto, você vai aculturando [...]. 77 Os dados da pesquisa do Instituto Akatu (2003) também permitem a diferenciação entre os comportamentos testados, identificando em cada um a predominância de certos traços: a) eficiência - sua adoção resulta em benefício direto e de curto prazo para o consumidor. Ex.: fecha a torneira enquanto escova os dentes, usa o verso do papel já utilizado; b) reflexão – sua adoção resulta em benefícios em médio prazo para o consumidor. Ex: planeja a compra de alimentos; c) solidariedade – sua adoção não resulta em benefício direto ou imediato para o consumidor, mas trará para a coletividade e futuras gerações. Ex.: separa o lixo para reciclagem. É interessante avaliar o resultado do comportamento daqueles que “costumam usar o verso de folhas de papel já utilizadas”, pensado inicialmente como um comportamento vinculado ao conceito de “eficiência”. Afirma a pesquisa que, neste caso, [...]os grupos se apresentam mais alinhados com os comportamentos de reflexão [...]. Uma possível explicação reside na ambigüidade desse comportamento: embora se baseie em consumo racional, o benefício da adoção desse comportamento pelo consumidor é pouco expressivo. Por isso, exige uma reflexão que vai além do benefício em si, como a consideração de que o desperdício está associado a um diferencial de consciência que leva em conta a cadeia produtiva do papel, que inclui questões como o uso da água em grandes proporções na fabricação de papel e a preservação da madeira de reflorestamentos. De modo similar, pode-se pensar na captação de água pluvial em edificações verticais, em que a área de telhado não é significativa e, portanto, o benefício financeiro direto também não é. Ou seja, é preciso que o consumidor adote um comportamento de “reflexão” ou de “solidariedade”, para que o custo com a captação seja bem acolhido. O processo de captar estaria ligado a uma conscientização especial do consumidor. Seria necessária uma reflexão sobre a possibilidade de suplementar o abastecimento da rede urbana, uma contribuição para controle da inundação, a não-utilização de água potável para fins menos nobres. Segundo o Instituto Akatu (2003), os participantes concordaram que as empresas deveriam se preocupar mais com o meio ambiente. Este percentual foi de 94% entre os conscientes, 95% entre os comprometidos, 94% entre os iniciantes e 87% entre os indiferentes. Outro dado importante é a informação de que 72% dos entrevistados apontam como razão para pagar mais por um produto o fato de que a empresa tenha projetos em favor do meio ambiente. 78 Sobre a relação com o preço do produto, “um terço dos consumidores conscientes declara apreciar roupas de grife e está disposto a pagar mais caro por produto que simbolize maior status” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 40). A pesquisa avalia que “entre os “conscientes”, é grande o componente das classes A/B, em que o consumo é ligado a questões de riqueza e status” (INSTITUTO AKATU, 2003, p. 33). É significativo observar a vinculação do consumo com o status que pode agregar. Esta relação do consumo com o status leva a questionamento sobre os benefícios imediatos ao consumidor, na adoção dos comportamentos “eficientes”. No consumo associado à riqueza, o retorno parece ser transferido para o que é sentido como prazer, status, ostentação, refinamento, raridade. Pelo consumo ostentatório, faz-se exibição de riqueza e consome-se menos o produto em si que o estatuto social que ele traduz (VEBLEN, 1983). Com base neste conceito sobre consumo ostentatório, observa-se que nos imóveis vêm sendo acoplados novos implementos e tecnologias, que modificam o produto, buscando atender à demanda pelo status que o imóvel considerado de luxo traduz. No entanto como definir um atributo, produto ou serviço, como luxo, levando o consumidor a encontrar nele os benefícios emocionais e sensações que não encontra em outro similar? Como se pode, a partir dos conceitos de criação de marca, transpor este conhecimento e tornar atrativos os produtos ecologicamente mais corretos? Os dados das pesquisas e todas as afirmativas aqui transcritos buscam evidenciar que o momento é propício para o desenvolvimento de produtos com apelo ambiental, como os imóveis, que teriam, assim, na mídia, o apelo amplificado pelo tempo que os veículos de comunicação vêm destinando ao tema, podendo assim construir-se um novo valor simbólico para o imóvel ecologicamente mais correto. Da pesquisa realizada pelo Instituto Akatu em 2006, publicada em 2007, é relevante destacar mais alguns dados. Um em cada três, já demonstra “percepção dos impactos coletivos ou de longo prazo nas suas decisões de consumo, para além dos aspectos da economia ou benefícios pessoais imediatos” (INSTITUTO AKATU, 2006, p.13). Entre os brasileiros, cresceu em 69% o percentual de reconhecimento de selos de certificação, seja de produtos, seja de instituições, no período 2003 a 2006: passou de 19% para 32%. Fica evidenciada a diferença de adesão ao consumo consciente em função da classe social: “consumidores das classes sociais mais baixas – D/E – exibem uma probabilidade três 79 vezes menor de adesão ao consumo consciente. Ao contrário, nas classes altas, – A/B – triplicam as chances do consumo consciente” (INSTITUTO AKATU, 2006, p. 70). Em teoria sobre “emulação social”, desenvolvida e apresentada em primeira edição em 1899, Thorstein Veblen (1983) enumera as distinções usadas pelos indivíduos, desde os grupos primitivos até a constituição de classes, por ele chamadas classe ociosa e classe trabalhadora. O ócio, considerado uma espécie de atividade, se praticava sob a forma de exercício de talentos eruditos, a música doméstica, o cuidado com o vestuário e com as normas de cerimonial, que traziam respeitabilidade. Esses códigos de conduta eram ditados pelos indivíduos da classe mais rica que lhes deu a forma que servia para os de menor poder aquisitivo. Quando o ambiente em que viviam os indivíduos se ampliou, a forma de expor a distinção também se modificou, passando a incluir a exibição de bens, a fim de impressionar os muitos observadores efêmeros e satisfazer-se com a observação deles. Esta avaliação de Veblen, desenvolvida no final do século dezenove, pode ainda ser observada nas cópias de produtos considerados como “de grife”, exibidos como símbolos de status, que são consumidas nas classes de menor poder aquisitivo, seguindo a moda. Na pesquisa O que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade (CRESPO, 1998), obteve-se o seguinte depoimento de profissional da área médica, que também evidencia a influência entre as classes sociais e traça um paralelo com a tendência externa de separar regiões mais desenvolvidas e menos desenvolvidas: [...] O referencial do povo é sempre o de cima. Quando os ricos começarem a exigir qualidade ambiental, porque são a elite e têm mais informação, os outros vão querer também! Na Europa isso é impressionante. O que está acontecendo lá, daqui a três anos estará acontecendo aqui. É o mercado quem manda!” (CRESPO, 1998, p. 81). Além de apresentar a repercussão dos costumes e desejos das classes mais abastadas nas classes de menor poder aquisitivo, Veblen também tece comentários sobre a ampliação do consumo, avaliando que pode ser mais difícil diminuir escalas de gastos do que estendê-la e que alguns gastos, tidos como desperdício quando incorporados ao consumo, tornam-se parte da vida, proporcionando ganho espiritual e “podem se tornar mais indispensáveis do que muitos gastos que provêem apenas as necessidades “inferiores” do bem estar físico ou do sustento” (VEBLEN, 1983, p.49). Por fim, para encerrar os comentários sobre a pesquisa do Instituto Akatu 2006, merecem registro as diretrizes sugeridas para a disseminação do consumo consciente: “Aproveitar os motivadores de curto prazo. Manter atenção às oportunidades conjunturais e situações em que – a partir de eventos presentes nos meios de comunicação de massa – seja 80 possível uma sensibilização e mobilização para consumo consciente” (INSTITUTO AKATU, 2006, p. 72). Esta recomendação remete mais uma vez ao momento atual, quando os “motivadores de curto prazo” já estão em plena atuação. Com base nos resultados das pesquisas citadas, pode-se assegurar que o conceito do “consumo consciente” está consolidado, levando os indivíduos a comportamentos coerentes com seus valores? Segundo a mesma pesquisa, um fenômeno, para se tornar estável, atravessa cinco grandes fases, que se transcrevem abaixo, de forma resumida: “A primeira: surge o fenômeno, o público toma conhecimento e fica influenciado pela mídia e pelos agentes que o disseminam. A segunda: a depender da regularidade do assunto na mídia, o público se familiariza. Passivamente vai se identificando sem convergir comportamentos com princípios. A terceira: estabiliza-se a preferência e postura do público com o fenômeno. A quarta: é a maturidade da opinião pública, vem com a percepção das conseqüências pessoais. A quinta: consolida-se o fenômeno como conceito e os indivíduos adotam posturas estáveis no assunto.” (INSTITUTO AKATU, 2006, p. 48). O Instituto Akatu (2006) avalia que o consumo consciente encontra-se na transição da primeira para as duas subsequentes, explicando assim, as diferenças entre princípios e comportamentos. Considerando, portanto, o estágio em que se encontra o fenômeno “consumo consciente”, que, neste estágio, o público encontra-se influenciado pela mídia e pelos agentes disseminadores e o destaque que o tema tem obtido nos meios de comunicação, de forma contundente, pode-se imaginar que a utilização da captação direta, junto com outros atributos de apelo ambiental, associando-se à preservação de recursos naturais e também o benefício econômico na redução de gastos do condomínio, poderá tornar-se uma vantagem competitiva, tanto para a edificação quanto para o incorporador. Comparativamente, pode-se fazer alusão ao conceito de “oceano azul” ou seja, uma nova demanda que garante crescimento rentável, surgido tanto fora de setores existentes como em ampliação da fronteira de mercado já existente (KIM; MAUBORNE, 2005). Conclui-se que a viabilidade da inserção da captação direta nas edificações verticais não terá seu sucesso necessariamente dependente da “relação custo x benefício financeiro”. Poderá ser estimulada como renovação de especificações de imóveis que, tornando-os 81 ambientalmente mais corretos e ao mesmo tempo mais atraentes, poderão transformar estes atributos em desejo do consumidor, assim como são desejados materiais de acabamentos ou outros itens tidos como luxo. Considerando a teoria exposta e os dados das pesquisas, é lícito concluir que as classes mais abastadas têm a possibilidade de melhor acolher e reconhecer as especificações ambientalmente mais corretas e as demandas de preservação do meio ambiente, pois se encontram com suas necessidades básicas já atendidas. De acordo com Veblen e no entendimento de que as escolhas de classes mais abastadas influenciam as classes de menor poder aquisitivo, pode-se considerar que a adoção inicial de produtos oriundos de prática de desenvolvimento sustentável em prédios de alto luxo poderá levá-los a se tornar objeto de desejo de muitos consumidores. Assim, tais produtos poderão ser incluídos em outras edificações, traduzindo um conceito de modernidade e status. Com o aproveitamento do momento em que a mídia divulga e apoia as idéias em torno da sustentabilidade, a inclusão de especificações ambientalmente mais corretas em edificações de alto padrão poderá criar uma aura de desejo em torno do produto, como se observa quando se trata de objetos considerados de luxo, na associação do imóvel com a causa ambiental. 82 5 ESTRATEGIA DE NEGÓCIO DA EMPRESA INCORPORADORA ASSOCIADA À CAUSA AMBIENTAL O objetivo deste capítulo é discutir a elaboração de uma estratégia que amplie a prática de inclusão da captação direta da água de chuva em edificações de alto padrão, associada a outras especificações ambientalmente mais corretas, como forma de promover uma renovação do produto. O pressuposto da discussão é o de que, com a inserção dessas novas especificações, consolide-se uma diferenciação do produto e da empresa, trazendo-lhe vantagem competitiva e levando ao mercado o conceito de construções mais sustentáveis. Para realizar tal avaliação, além de ouvir profissionais da área, foram consultados estudos de custo dessa inclusão como fator influenciador na implantação da estratégia. 5.1 MODIFICAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO ATRAVÉS DE ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DE EMPRESA LÍDER O mercado imobiliário de alto padrão em Salvador é composto de muitas empresas concorrentes, sem liderança efetiva, e que não oferecem significativa diferenciação entre os produtos que são substancialmente similares. A inserção de um novo item na especificação técnica de um projeto, por uma empresa, rapidamente é copiada por outra e torna-se usual. Considera-se que uma estratégia eficaz em indústrias assim fragmentadas pode ser “aumentar o valor adicionado do negócio mediante prestação de mais serviços com a venda, envolvimento em alguma operação final de fabricação do produto” (PORTER, 1986, p. 201). Assim, a oferta de produtos que agregam a oportunidade de uma pós-ocupação mais racional, adequada ao momento atual, implementado com tecnologias que manterão seu valor de 83 revenda mais estável, poderá favorecer a estratégia da diferenciação, podendo destacar o produto e a empresa, possibilitando a ampliação do lucro. Os imóveis são produtos dotados de alta diferenciação no tocante a “parâmetros de design”, e as mudanças buscam atrair o gosto dos compradores. Buscar característica inovadora significativa é uma maneira efetiva de competir (KOTLER, 1996). Considera-se que é preciso buscar não apenas uma inovação tecnológica ou modificação de modelos arquitetônicos, mas criar um novo valor, dando um salto de qualidade para o comprador. Isso tornará o imóvel potencialmente diferenciado e se refletirá na imagem da empresa. Trata-se, portanto, de mais que agregar valor ao imóvel. É preciso que também se opte pela diferenciação da empresa, através da associação da imagem do incorporador com a responsabilidade ambiental, construindo uma imagem de valor diferente daquela das outras organizações. Para tanto, as especificações dos prédios, colaborando para tornar a estratégia ainda mais distintiva, receberiam novas tecnologias, produtos e serviços alinhados com a causa ambiental como, por exemplo, a captação direta de águas pluviais, que teve seus benefícios já descritos nesta dissertação. A associação de vários itens que traduzam uma preocupação ambiental na edificação foi levantada também no grupo focal desenvolvido para este trabalho, como pode ser visto no depoimento transcrito abaixo, de profissional ligada à área de desenvolvimento de incorporadores e construtores. Esta afirmativa enfatiza muito bem a importância da junção de vários atributos ambientais, criando um novo apelo para o imóvel e atratividade para a idéia: [...] Eu acho que esse entendimento da grife ambiental ele vem associado a uma série de ações ambientalmente corretas ligadas à captação de águas pluviais, ligadas ao aproveitamento de energias alternativas e aí resta saber, como seria este atributo estudado isoladamente ou agindo isoladamente ou um conjunto de atributos ambientais politicamente corretos atuando num empreendimento. Será que ele sozinho, ele montaria a grife ou ele daria a sustentação a esta grife, ou seria um conjunto de elementos que desse suporte a essa grife? Eu acho que pelo menos se deve estudar a interferência dessas outras tecnologias para o sucesso da implantação dessa estratégia. Até porque em alguns o ganho energético é bem maior do que o ganho com a água [...] eu acho que vale a pena registrar, para no mínimo avaliar como as outras poderiam favorecer essa estratégia [...]. O depoimento acima ratifica a idéia da introdução do apelo ambiental, respaldado em atributos vários que traduzam o respeito ao meio ambiente. O conceito de alto padrão em edificações também se tem consolidado em uma conjugação de características que aumentam o custo, mas, mesmo assim, vão sendo incorporadas e transformam-se em demanda. Muitas especificações se consolidaram nos prédios dessa mesma maneira. 84 A forma de diferenciar-se tem se alterado ao longo do tempo. Logo após a Revolução Industrial, padronizar e produzir em larga escala, em um mercado que apenas demandava emprego, era diferenciar. Depois, com um mercado mais exigente, passou-se a oferecer preço competitivo, qualidade e personalização, ou seja, a diferenciação continuava no produto. A partir da década de 1970, passa-se a diferenciação também para a empresa, com cobranças do mercado em relação à responsabilidade social e ambiental (SOUZA, 2006). A responsabilidade das empresas com o meio ambiente, quer seja pela obrigatoriedade de leis que vêm surgindo, quer seja para atender aos apelos da sociedade, é fato nos dias de hoje. A empresa que observar esta força e torná-la uma oportunidade poderá liderar o processo de mudança dentro da indústria da construção civil e, assim, conseguir uma exposição positiva e uma vantagem competitiva no setor. Observe-se que a construção dessa vantagem não necessariamente implica em investimentos elevados, mas apenas de reconhecimento de uma tendência e posicionamento favorável. 5.2 O CUSTO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA É na fase de idealização do empreendimento, que antecede o desenvolvimento dos projetos, que as especificações podem ser melhor definidas e sua implantação otimizada. Nessa fase, define-se o perfil do imóvel que será posteriormente projetado e avaliado em termos de custo. Faz-se necessário que, nessas análises dos custos, avalie-se a influência das especificações de materiais, equipamentos, instalações, detalhes arquitetônicos e construtivos, também na fase da operação do prédio, após a sua ocupação, quando se podem agregar resultados significativos, tanto em redução como em aumento de gastos para o morador final. Gráficos com a distribuição dos custos ao longo da vida útil de empreendimento comercial, e também a possibilidade de interferência nas edificações de forma geral, nas suas diversas fases, podem ser vistos nas imagens seguintes. 85 100% 80% 15% 5% 1 3 50 anos (Vida útil do Projeto) Figura 5.1 – Gráfico da possibilidade de interferência no custo total de um edifício (residencial ou comercial) durante sua vida útil. Fonte: CEOTTO, 2008 80% 14% < 0,2% 5% 0,8% 1 3 50 anos (Vida útil do Projeto) Figura 5.2 – Gráfico do custo total de um edifício comercial durante sua vida útil. Fonte: CEOTTO, 2008 É, portanto, na fase de idealização inicial, de baixo custo e de curta duração, que mais se pode interferir na qualidade das novas edificações. A integração da estratégia de negócio da incorporadora com a estratégia ambiental, mais facilmente evidenciará as especificações de natureza preservacionista que caracterizarão o novo empreendimento, pois já farão parte das diretrizes gerais da empresa, ratificando assim o seu compromisso com o meio ambiente. 86 Estudos detalhados e validados sobre essas comparações poderão ser desenvolvidos no futuro, comprovando-se efetivamente as atuais avaliações apresentadas. O gráfico da possibilidade de interferência no custo total de um edifício durante sua vida útil, apresenta percentuais e fases para todos os tipos de edificação, inclusive as comerciais ( CEOTTO, 2008). Em virtude do fato de que, no Brasil, a prática do uso de equipamentos ambientalmente mais corretos é recente, não foram encontrados trabalhos referenciados que comparem o custo desses implementos com o custo de construção convencional. Para ilustrar, apresentam-se informações de um estudo de custo na tabela 5.1, por tópicos, avaliados como agregadores de melhoria no desempenho ambiental (BIANCHI, 2008). Este estudo oferece um panorama de custo comparativo entre algumas especificações ambientalmente mais corretas, com o custo direto de construção convencional, totalizando 3,71% a mais, no total da construção para a inclusão das citadas características. Resumidamente, lista-se abaixo os tópicos de especificações e projetos estudados e alterados para o estudo apresentado: a) iluminação e ventilação natural; b) conceitos de instalação elétrica, e hidráulica, ambos disponíveis em dezenas de publicações; c) conceito “Meu estilo BKO” de economia para reuso da água de pré-aquecimento de chuveiro (10,9 l de água por dia por habitante – refere-se a captação de água fria, que normalmente é perdida, enquanto aguarda-se a água aquecida ); d) vegetação, área permeável acima de mínimos; e) brizes, piso elevado, área verde / terra na cobertura; f) programas em obra; g) treinamentos e campanhas; h) acréscimo de custo, com as interferências e programas feitos: R$ 980.924; i) custo absorvido em construção / incorporação R$ 490.000; j) 3,71 % do custo de construção será o investimento total; k) 1,86 % é o porcentual atribuído, neste estudo, à sustentabilidade (por determinação da empresa, 50% do custo das especificações ambientalmente mais corretas foi assumido como custo da construção e os 50% restantes atribuídos ao investimento com a sustentabilidade da edificação). Não foram encontrados outros estudos comparativos mais detalhados desses custos. Observe-se que o percentual apresentado compara o custo das novas especificações exclusivamente com o custo direto da construção convencional, não incluindo portanto as 87 despesas indiretas de construção, nem as despesas do empreendimento, o que, obviamente, reduziria o percentual calculado. Questionado na referida apresentação sobre os custos de produção de stands de vendas, que são descartados após o processo, o apresentador informou que planejam alterar este processo, utilizando centro de vendas único, não descartável, o que levaria a uma redução de custo da ordem de R$1.5milhão, contra o acréscimo de R$ 980.924,00 das especificações ambientalmente mais corretas. Este exemplo demonstra claramente que precisam e podem ser estudadas as inclusões das referidas especificações em paralelo com exclusões de outros itens, ratificando assim o que afirmam Kim e Mauborgne (2005). Estes autores desenvolveram ferramenta que permite que se elabore nova curva de valores em função do comprador, a “ferramenta das quatro ações”: eliminar, reduzir, aumentar e criar. Esta ferramenta se apóia em quatro perguntas: a) questões para avaliar como reduzir custo: - quais os fatores que o setor considera incorporados devem ser eliminados? - que fatores devem ser reduzidos com relação ao padrão do setor? b) questões para avaliar como aumentar o valor e criar demanda: - que fatores devem ser aumentados em relação ao padrão do setor? - que fatores não oferecidos pelo setor devem ser criados? 88 Tabela 5.1 – Comparação de custos convencionais e custos adicionais originados pelos tópicos de sustentabilidade CÓDIGO SERVIÇOS CUSTOS Convencionais 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 118 119 120 121 122 123 124 125 129 1 Preparação do terreno Fundações / contenções Supra- estrutura Alvenarias / fechamentos Esquadrias de madeira Esquadrias de ferro Esquadrias de alumínio Ferragens Vidros Coberturas Impermeabilização e tratamentos Revestimentos de paredes Revestimentos de forro Revestimentos de fachada Revestimentos de piso Pinturas Aparelhos, louças, metais e acessórios Mármores e granitos Instalações elétricas Instalações hidráulicas Instalações mecânicas Ar condicionado /exaustão / pressurização Complementação da obra Sistemas complementares Custo direto 386.972,12 1.881.306,66 6.836.093,95 1.360.128,34 551.479,70 147.361,20 2.747.559,18 231.047,19 302.234,43 6.430,00 793.717,62 1.630.722,80 311.906,20 977.793,23 1.396.620,37 603.704,50 347.295,05 377.346,81 1.827.517,00 1.944.894,10 709.188,65 179.274,00 808.071,04 47.499,70 26.406.163,82 Adicionais 32.550,00 11.500,00 82.150,00 15.500,00 85.000,00 ACRÉSCIMO (%) 8,41% 0,61% 1,93% 0,00% 2,81% 0,00% 3,82% 0,00% 24.567,00 7.680,00 0,00% 382,07% 0,97% 0,00% 0,00% 120.000,00 112.000,00 22,50% 15,18 % 0,00% 78.450,00 22,59% 0,00% 42.300,00 66.777,00 2,31% 3,43% 0,00% 0,00% 302.450,00 4,02% 0,00% 980.924,00 3,71% Fonte: BIANCHI, 2008. No mesmo fórum, apresentações de outras empresas reportavam um acréscimo de 5% a 7% sobre o custo convencional, nos itens que estudaram para tornar as construções ambientalmente mais corretas. Também como ilustração, vejam-se dados da Tishman Speyer Properties, levados ao mesmo Fórum. Foram reportados dados comparativos, medidos em pós-ocupação, por essa empresa, na operação das edificações que planeja e administra. Esses dados demonstram que o acréscimo inicial na construção, com especificações que a tornam ambientalmente mais correta, recompensa financeiramente o usuário na operação do edifício. 89 Tabela 5.2 – Custo comparativo de operação em edifício residencial, 3 quartos, com 120 m2 ADMINISTRAÇÃO CONVENCIONAL EDIFÍCIO VERDE R$ 5,0/m2 R$ 3,0/m2 R$ 8,0/m2 Condomínio Concessionárias Total R$ 3,0/m2 R$ 2,0/m2 R$ 5,0/m2 ECONOMIA R$ 2,0/m2 R$ 1,0/m2 R$ 3,0/m2 Fonte: CEOTTO, 2008 A redução no custo da operação do edifício com mais atributos ambientais, pode ser capitalizada no cálculo da valorização do imóvel que traga os atributos ambientalmente mais corretos. Para exemplificar, o estudo faz simulação utilizando os dados de acréscimo na construção e redução na operação. Considera-se que com o valor de R$ 426/m2, em aplicação financeira, com taxa de 0,7% ao mês, tem-se a diferença de $3,00/m2 para compensar a perda de valor no custo da operação. Sendo assim, se o preço do convencional é de R$ 3.000/m2, o edifício ambientalmente mais correto poderá custar R$ 3.426/m2, o que significa valorização de 14%. Ou seja, com investimento de 5% a 7%, decorrentes de um aumento no custo de construção, tem-se um aumento no preço de venda de 2,5% a 3,0%, segundo avaliação da Tishman, em obras executadas (CEOTTO, 2008). No entanto, o preço de venda pode valorizar em 14%. Tabela 5.3– Custo comparativo de operação de edifício comercial OPERAÇÃO CONVENCIONAL R$ 6,0/m2 R$ 4,0/m2 R$ 10,0/m2 Água/esgoto Energias Total EDIFÍCIO VERDE R$ 3,0/m2 R$ 2,5/m2 R$ 5,5/m2 ECONOMIA R$ 3,0/m2 R$ 1,5/m2 R$ 4,5/m2 Fonte: CEOTTO, 2008 Com a mesma forma de cálculo utilizada para o edifício residencial, considera-se que com o valor de R$ 710/m2, em aplicação financeira, com taxa de 0,7% ao mês, tem-se a diferença de $4,5/m2, para compensar a perda na operação. Considera-se também o aumento de 3% a 7% no custo de construção, que representa 1,5 a 4% no custo do projeto e que o valor médio de aluguel convencional é de R$ 60/m2. Tem-se, portanto que a redução de R$ 4,5/m2, na operação, representa valorização de 7,5%, com um investimento de 1,5 a 4% custo de projeto pode valorizar 7,5% no preço do aluguel (valor do projeto). 90 No que se refere à avaliação das novas especificações a serem implantadas, a Tishman Speyer Properties considera aquelas relacionadas à redução dos consumos de água e energia como de significativa importância para reduzir o impacto ambiental da edificação e contribuir para a redução do custo de operação. Apenas como ilustração, apresenta-se estudo da Tishman Speyer Properties em que são comparados o custo dos implementos que recompensam financeiramente a operação, com o gasto da sua implantação, situando a retenção e a reserva de águas de chuva como de baixo custo e alto impacto positivo no meio ambiente, nas edificações residenciais. Considera como médio custo e alto impacto positivo no meio ambiente o aproveitamento desta água. Tabela 5.4 – Alternativa de solução e seus impactos – edifícios residenciais Impacto positivo no meio ambiente Alto Impacto nos custos Alto Médio Baixo Tratamento total de esgoto Energia solar para aquecimento de água Aproveitamento de águas de chuva Metais sanitários de baixo consumo Medição individual de gás Medição individual de água Tratamento superficial no piso das garagens. Automatização da irrigação de áreas verdes Automação da iluminação nas áreas comuns Vidro laminado Retenção de água de chuva (sem aproveitamento) Lâmpadas de alta eficiência Peças sanitárias de baixa vazão Separação de lixo para reciclagem Fachadas de cores bem claras Cobertura vegetal no térreo Isolamento térmico de coberturas Uso de madeira reciclada nos móveis e revestimentos Revestimentos de pisos e paredes facilmente laváveis. Médio Reciclagem de água de banho e lavatório para uso em bacias sanitárias Baixo Isolação térmica de fachadas Uso de vidro insulado Automação de elevadores Fonte: CEOTTO, 2008 O Sistema francês de certificação ambiental, baseado no Le référentiel technique de certification bâtiments tertiaires - Démarche HQE®, elaborado por Certivea, adaptado para o Brasil no âmbito de um convênio de cooperação com a nomenclatura Certificação da construção sustentável - processo AQUA, pela Fundação Vanzolini, na categoria de avaliação número 5, que trata da gestão da água, apenas oferece o nível excelente a prédios que 91 otimizem o consumo da água potável, através de sistemas economizadores e inclusão da água não potável para usos que não requeiram potabilidade. Segundo o mesmo referencial, caso seja impossível o uso da água não potável, faz-se necessária a justificativa e a demonstração de “que o uso de água não potável foi compensado por outras ações mais importantes que visam a economia do recurso natural água” (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007, p. 107). 5.3 VANTAGEM COMPETITIVA NA ASSOCIAÇÃO COM CAUSA AMBIENTAL No entendimento de Michael Porter (1986), para construir uma vantagem competitiva, a empresa precisa buscar, uma competência que lhe seja peculiar e diferenciar-se nela. Não se trata apenas de aperfeiçoar o processo, o que certamente evidencia uma “eficácia operacional”, mas também criar uma posição competitiva única, que leve a um posicionamento vantajoso. Entende-se, portanto, que a estratégia de negócio da empresa, associada com a causa ambiental, evidenciada pela oferta de produtos ecologicamente mais corretos, através procedimentos na produção, atividades de apoio e especificações nos projetos, poderá gerar uma diferenciação, com uma proposição de valor diferente, desde que: a) a empresa assuma seu compromisso com a causa ambiental, tanto na linha de produção como no design do produto; b) permaneça atenta a novos atributos e atividades que reforcem o compromisso; c) haja continuidade da estratégia, com aperfeiçoamento constante. (PORTER, 2007). Para este autor, a associação da estratégia empresarial com a responsabilidade ambiental corporativa, pode trazer sinergia entre objetivos econômicos e socioambientais, conduzindo a empresa à diferenciação, consolidando benefícios para a competitividade e condições ambientais. Não se pretende detalhar aqui planejamento estratégico de incorporadoras, mas apenas evidenciar a possibilidade de relacionar as diretrizes do negócio com a responsabilidade socioambiental da empresa, potencializando resultados. Esta possibilidade de geração de vantagem competitiva através do plano de responsabilidade social e empresarial foi defendida por Porter e Kramer (2006). Souza Filho et al. (2007) demonstram esta possível associação, comparando as clássicas estratégias empresariais de Porter, ou seja, diferenciação, liderança por custos e 92 enfoque, com as estratégias sociais de Husted e Allen (2001), que podem ser usadas na busca de vantagem competitiva: diferenciação de produtos através da responsabilidade socioambiental, liderança em custo, utilizando tecnologia e processos inovadores para aproveitamento das oportunidades socioambientais e interação estratégica entre empresas e órgãos reguladores. Ressalta-se que o encaixe dos já citados atributos ambientais, desde que bem contextualizados em campanhas publicitárias, poderão levar a uma associação positiva, colocando-os em destaque, associando-os ao significado do cuidado com o meio ambiente, criando o desejo em torno deles e determinando o reforço da marca do incorporador. No próximo capítulo, serão apresentados elementos sobre a ampliação do uso de especificações ambientalmente mais corretas, e sobre a forma como isto pode repercutir no mercado imobiliário em geral, partindo da ‘empresa líder’. 93 6 AMPLIAÇÃO DO USO DA CAPTAÇÃO DIRETA DE ÁGUA DE CHUVA NAS EDIFICAÇÕES Ao longo desta dissertação, a partir do pressuposto de que, com a inserção de novas especificações vinculadas ao conceito de construção ambientalmente mais correta, vem sendo defendida a idéia de que as empresas podem construir uma diferenciação de seus produtos e de si mesmas de maneira a construir uma vantagem competitiva e ainda influenciar o mercado a trilhar o mesmo caminho. Nesta linha de raciocínio, este capítulo discutirá a maneira como é possível realizar-se a mudança no setor de construções partindo de uma empresa líder, de acordo com teoria de Michael Porter (PORTER, 1986; PORTER, 2007). Para uma empresa que adotar a estratégia de negócio aliada à causa ambiental, apresentam-se matrizes de oportunidades e ameaças (no ambiente externo à empresa), fragilidades e potencialidades (no seu ambiente interno), assim como é preciso planejar cuidadosamente as etapas do processo produtivo, porque elas precisam alinhar-se com a estratégia adotada com essa finalidade. Além das observações sobre a reconfiguração no que diz respeito ao mercado formal, também se abordam aspectos do mercado informal das construções, sobretudo seu histórico e suas tendências de que decorre a possibilidade de vir a ser também atingido pelas mudanças rumo a construções mais sustentáveis. 6.1 A MODIFICAÇÃO NO SETOR PARTINDO DE UMA EMPRESA LÍDER Pelo que se viu até aqui, a ampliação do uso de especificações ambientalmente mais corretas, mencionadas no capítulo anterior, por iniciativa da empresa líder, ainda não garante a totalidade das necessárias mudanças na filosofia de trabalho do setor da construção. Resta o desafio de, depois que forem adotadas essas práticas sustentáveis em empresa construtora do 94 segmento de alto padrão, fazer com que as práticas tenham repercussão sobre todo o setor, inclusive na produção informal. Segundo Porter (1986), a estratégia de uma empresa poderá influenciar toda a indústria na qual ela se insere, mudando paradigmas do setor. Para ele, a mudança da estrutura de uma indústria pode ser alavancada por uma empresa que, respondendo de pronto a forças externas, leve outras empresas a segui-la, já construindo para si uma vantagem competitiva. Assim, a leitura dessas forças e o pioneirismo nas reações representam a inovação e a mudança estrutural (PORTER,1986). Espera-se, assim, que o mercado possa reagir, buscando similaridade, configurando-se pelo seu exemplo, sendo levado pela empresa líder a um patamar diferente. É possível então supor que a adoção de sistemas de captação direta de água de chuva e outros equipamentos que visam atender a demandas ambientais, depois de assimilados por uma empresa do segmento de alto luxo, possam se expandir em outras edificações deste segmento. A associação de especificações ambientalmente mais corretas com o conceito de “alto padrão”, pode estimular o desejo dos compradores de possuir imóvel com características semelhantes. Isto pode fazer com que os incorporadores de outros segmentos da indústria da construção civil venham a incorporar essas especificações. Estudos sobre a influência das escolhas das classes mais abastadas nas classes menos favorecidas foram discutidos no capítulo 4, apontam para esta tendência. As considerações apresentadas ali permitem confirmar a hipótese de que a inclusão de produtos e recursos ambientalmente mais corretos teria vantagens se fosse iniciada em edificações de alto padrão, promovendo a reconfiguração deste segmento e sua expansão para outros tipos de edificação. Consolidada a demanda, esses equipamentos ambientais poderão ser transformados em objetos de desejo. 6. 2 RECOMENDAÇÕES PARA AMPLIAÇÃO DO USO DE CAPTAÇÃO DIRETA E OUTROS ATRIBUTOS SUSTENTÁVEIS Para evidenciar as vantagens que terá a empresa que adotar a associação da sua estratégia de negócio com a causa ambiental, apresenta-se uma análise situacional, de acordo com conceitos de Michael Porter, citados no livro Estratégia competitiva, levantando-se as possíveis ameaças e oportunidades do mercado, em cruzamento com potencialidades e 95 fragilidades, observadas em empresas-padrão do ramo incorporação de alto luxo (PORTER, 1986). A partir desse cruzamento, sugerem-se ações que podem reforçar as potencialidades e minimizar as fragilidades, apresentadas em forma de matriz, no quadro 6.1 a seguir. Os conceitos de oportunidades e ameaças ao negócio, no ambiente externo a empresa e as potencialidades e fragilidades, no seu ambiente interno, foram também definidos por Hooley e Saunders, no livro Posicionamento competitivo. Esses autores consideram que oportunidades surgem, muitas vezes, em mudanças no mercado, como por exemplo, com novas preocupações do mercado consumidor (HOOLEY; SAUNDERS, 1996). Philip Kotler, desenvolvendo o conceito de oportunidades e ameaças, no seu livro Administração de marketing, define ameaça como sendo um “desafio atribuído a uma tendência ou desenvolvimento desfavorável que levaria, na ausência de uma ação de marketing defensiva, deterioração das vendas ou dos lucros.” (KOTLER, 1996, p.84). Os autores definem potencialidades e fragilidades como sendo a competência, ou sua falta, que a empresa possui ou não, para aproveitamento da oportunidade e contraposição às ameaças, vindos dos vários atores que compõem o ambiente externo. As ameaças, oportunidades, potencialidades e fragilidades consideradas para o ambiente externo e interno da empresa, assim como as ações, foram levantadas com base no conhecimento da autora desta dissertação, que atuou em empresa incorporadora de imóveis de alto padrão por 25 anos e acompanha o setor, nos últimos 5 anos, através de vinculação gerencial com a mesma empresa. Além disto, no desenvolvimento deste trabalho, manteve contato permanente com incorporadores, projetistas e entidades de classe. Participou também de cursos e seminários da categoria, na Bahia, em São Paulo e Nova York, levantando dados, dificuldades e características de grandes empresas e escritórios de projetos e também sobre novos sistemas de certificações ambientais. Na matriz a seguir delineada, considerando que a ampliação do uso da captação direta de água de chuva poderá vir acompanhada da inserção de outros atributos ambientais, simulase uma análise situacional de empresa que ofereça o imóvel dotado de especificações ambientalmente mais corretas. 96 Quadro 6.1 Ambiente Interno Fragilidades Não ter histórico de ganhos financeiros resultantes das inovações pós-ocupação Necessário investimento no processo produtivo para racionalizar o uso dos recursos naturais Aumento do custo do imóvel decorrente da inserção das novas especificações. Dificuldade no desenvolvimento dos projetos ambientalmente mais corretos face ao pouco conhecimento instalado no assunto Matriz de análise situacional de empresas Ambiente Externo Oportunidades Empresas líderes em outros estados, principalmente as incorporadoras que administram os imóveis começam a mapear resultados obtidos Ação: desenvolver avaliação comparativa inicial e posterior ao acompanhamento; buscar no mercado de outros estados números já obtidos Desenvolvimento de programas por parte de entidades de classe, universidades e instituições voltados para eficientização dos canteiros de obras Ação: inserir-se nos trabalhos oferecidos que buscam otimizar processos de produção, redução de resíduos, treinamentos, etc. Maior aceitação no mercado de dos produtos ambientalmente mais corretos. Ação: aprimorar o material de vendas para divulgação dos benefícios e treinamento do pessoal de vendas e corpo técnico que interage com o cliente. Cursos, treinamentos e exemplos vindos de outros países chegam ao país. Ação: promover o desenvolvimento do corpo técnico e buscar projetistas engajados com o tema. Ameaça Tarifas, como por exemplo, da água, são baixas não tornando o pay back muito favorável. Ação: utilizar outros recursos economizadores, potencializando os ganhos e efetuar mensurações conjuntas. Apresentar resultados conjuntos. Dificuldade de oferecer treinamentos ao operariado por conta do elevado turn over e terceirização. Ação: identificar no operariado alguns profissionais com conhecimento instalado e promover treinamentos internos – buscar articulação setorial Custo dos equipamentos e insumos atingindo o custo da obra Ação: avaliação criteriosa das especificações sobre o que deve ser incluído, substituído ou excluído, na busca do equilíbrio orçamentário. Instabilidade do mercado, que não permite tempo de maturação dos projetos, dificultando o planejamento. Ação: desenvolver premissas que possam nortear projetos, pautando exigências que auxiliarão no briefing do empreendimento 97 Ambiente Interno Potencialidades Poder ter o imóvel com características e apelo ecologico Existe conhecimento instalado e verbas para publicidade, divulgações. Grandes possibilidades de ações na linha de produção, com repercussão no mercado. Existe conhecimento instalado sobre evolução das especificações dos imóveis ao longo do tempo. Ambiente Externo Oportunidades Ameaça Com a valorização da ecologia, Desconhecimento por parte dos pessoas estão mais atentas a compradores sobre as novas produtos ambientalmente corretos. especificações que trazem efetivos ganhos ambientais e redução de despesas na pósocupação. Ação: busca contínua de Ação: treinamento do corpo de aprimoramento de especificações vendas e marketing, tanto sobre que traduzam no conceito de as novas especificações, como ambientalmente mais correto”, na importância do cuidado com prospectando novos produtos e o meio ambiente. tecnologias. A reverberação na mídia da O descrédito em relação a necessidade de cuidar do meio divulgação de produtos com ambiente, pode potencializar a especificações mais imagem do produto e empresa. sustentáveis, pelo uso equivocado do assunto por varias empresas Ação: associação da imagem da Ação: clareza na divulgação do empresa com causas programas produto, apresentando os ambientais que tenham benefícios de forma credibilidade. indiscutível, técnica, e diferenciada. Existe tendência de valorizar empresa Descrédito em selos ambientais, pelo socioambientalmente responsável, com histórico no pais de outras premiações selos, etc. certificações que não tiveram credibilidade Ação: assumir o compromisso com Ação: avaliar criteriosamente a a causa ambiental, reafirmando-o, adoção de selos para os tanto no produto, como na linha de produtos antes de firmar a produção imagem da marca no mercado A diferença de preços entre Desconhecimento dos compradores imóveis novos e usados demonstra sobre características dos imóveis que que ter imóveis com o manterão "atualizado" especificações atuais é importante. Ação: efetuar treinamento do Ação: evidenciar os atributos pessoal de vendas, com subsídios que manterão o imóvel de especificações que se atualizado, tanto no momento incorporaram e hoje são da venda como em material indispensáveis. publicitário. Para exemplificar as várias etapas do processo produtivo que precisam estar em consonância com a estratégia, apresenta-se, no quadro 6.2, o demonstrativo das atividades principais e de apoio que compõem a cadeia de valor, definido por Michel Porter, para o setor de construção de imóveis, englobando o processo da incorporação imobiliária (PORTER, 2007). Considera-se que todas as atividades, ou processos produtivos e administrativos, listados na cadeia de valor, devem ser adequados à estratégia empresarial, encaixando-se e 98 reforçando-se mutuamente, oferecendo uma proposição de valor exclusiva e continuamente aprimorada. Ainda de acordo com os conceitos de Porter, indicam-se, nesta cadeia de valores, algumas atividades que vinculam o empreendimento com a sociedade, podendo causar impactos socioambientais. A depender de como tais atividades são executadas, os impactos podem ser positivos ou negativos, podem acontecer em qualquer fase: no planejamento, durante a obra, no uso e operação da edificação, nas reformas e, finalmente, na descontrução. Além das atividades no canteiro de obras, também os fornecedores, prestadores de serviço e projetistas contribuem, positiva ou negativamente para os impactos causados. Na adequação de todas as atividades empresariais com a racionalização do uso de recursos naturais, poderá ser consolidado o aprendizado do operariado no tocante aos conceitos de sustentabilidade, possibilitando o entendimento de novos valores e importância das especificações. Etapas do processo produtivo Infraestrutura da empresa (p.ex., financiamento, planejamento, relação com investidores) Gestão dos recursos humanos (p.ex., recrutamento, treinamento, sistema de remuneração Desenvolvimento tecnológico (p.ex.,desenvolvimento e design dos produtos, teste, design do processo, pesquisa de materiais e especificações, pesquisa de mercado) Compras institucionais (p.ex. componentes, maquinário, publicidade, serviços) Aquisição e Marketing e Serviço pósConstrução Fechamento ocupação vendas venda do solo Identificar Projeto, Geração de p.ex. p.ex. entrega mercados engenharia, leads, financiamento do imóvel, atraentes, cronograma maquetes, para cliente, garantias, conseguir e gestão do força de contrato, reclamações terrenos, processo de vendas, escritura dos clientes, obter construção personalização avaliações no direitos para cliente pós-ocupação, de posse e retroalimentação. alvarás, preparar local Margem Atividades principais Atividades de apoio Quadro 6.2 Valor aquilo que os compradores estão dispostos a pagar. Fonte: PORTER, 2007 Para exemplificação das possíveis atividades dentro da cadeia de valor, foram utilizados o Referencial técnico do processo Aqua de certificação, adaptado pela Fundação Vanzolini, conceitos de Michael Porter (2007), além da experiência da autora em edificações. 99 Exemplos de atividades que carecem de observação para avaliação dos impactos que geram: a) atividades de apoio: - infraestrutura da empresa: práticas de contabilidade, gestão da empresa, transparência, lobbying, controle de documentos, segurança na rastreabilidade. - gestão de recursos humanos: práticas de terceirização, saúde e segurança do trabalho, treinamento dos operários, planejamento x turn over, remuneração, políticas de contratação e recolhimento de encargos sociais, direitos trabalhistas, - desenvolvimento tecnológico: práticas de prospecção, desenvolvimento e aprimoramento dos produtos, relacionamento com centros de pesquisas, consultores, universidades, fornecedores, incentivo ao desenvolvimento interno dos processos, controles de qualidade, - compras institucionais: práticas de tomadas de preços e avaliação ampla dos fornecedores de produtos e serviços, prospecção de produtos com baixo impacto, processo transparente em compras e contratações; b) atividades principais: - aquisição e uso do solo: atendimento a exigências legais, análise econômica, - construção: nesta etapa, todos os processos podem causar efetivo impacto, desde a relação com o entorno, passando por planejamento, implantação, processos produtivos, geração dos resíduos, incômodos e poluição durante a obra e após a ocupação, uso de recursos naturais, até os confortos para o usuário, como higrotérmico, acústico, iluminação, olfativo, qualidade do ar interno, acessos a redes publicas, manutenções pós-ocupação, - marketing e vendas: anúncios claros e verídicos, práticas de preços, informações para consumidor, - fechamento: contratos claros, financiamentos para cliente, documentação para as unidades vendidas, - serviços pós-venda: garantia do imóvel, atendimento aos clientes. Na observação, no planejamento e no aprimoramento das atividades, a empresa poderá estar aumentando sua capacitação, em paralelo com o aprofundamento da sua estratégia. Associar, portanto, a estratégia de negócio de uma empresa incorporadora de alto padrão com a causa ambiental, poderá levá-la a uma distinção de produto, da imagem institucional e ao aumento da lucratividade. Se a empresa conseguir criar um imóvel capaz de gerar tendências, 100 poderá levar o mercado a reagir, reconfigurando o setor. Além desta transformação nas outras empresas, o operariado, no aprendizado direto, poderá levar a prática ao mercado informal. 6.3 A REPERCUSSÃO NO MERCADO INFORMAL Além da reprodução nas construções do mercado formal, pode-se considerar que o operariado, envolvido nas obras, entrará em contato com essas inovações, assimilando suas práticas, e poderá, dentro das suas possibilidades, incorporá-las nas habitações de baixa renda. É de conhecimento geral que este tipo de construção “informal” é conduzido sob a orientação de profissionais treinados no mercado formal. O déficit habitacional descrito por SOUZA (2000) como a “relação entre população e número de habitações existentes, difere da efetiva demanda, ou seja, a possível aquisição do imóvel, que requer intenção e possibilidade de obtenção da habitação” . Este déficit, em 93% dos casos, situa-se na faixa dos que ganham até 5 salários mínimos. Portanto, o benefício que poderá advir das interferências na legislação, através de suas várias instâncias, não atingirá, de imediato, o setor da construção civil como um todo (BERNASCONI, 2008). No programa de construção popular chamado Minha casa minha vida, não existe recomendação para uso de captação de água de chuval, demandando apenas, “medição individualizada de água e gás, e aquecimento solar nas unidades, certificado pelo Inmetro e Qualisol (CEF, 2010). No livro Limites do habitar, Ângela Gordilho Souza, discorrendo sobre formas de moradia e intervenções públicas no Brasil, citando Ribeiro, com dados sobre a difusão da propriedade privada, informa que a moradia dos brasileiros passou de 26,4% de domicílios próprios em 1940, para 54,5% em 1980. No entanto, como é comentado pela autora, “a privatização ocorreu prioritariamente por ocupações informais [...] mantendo-se como alternativa habitacional paralela aos circuitos do mercado formal, até os dias atuais (SOUZA, 2000, p. 40). Para ampliar o entendimento da informalidade que envolve a moradia, mencionam-se, em uma breve retrospectiva histórica das normas e formas de ocupação da cidade de Salvador, desenvolvida por Souza (2000), alguns problemas da segregação urbana e localizam-se as raízes da exclusão de muitos do mercado formal das construções. Nessa análise, encontra-se o surgimento do incorporador, que nasce após a Lei de Terras de 1850. Esta lei proporcionou o parcelamento e a vendas de áreas que se 101 transformaram em loteamentos, fazendo surgir o segmento de criação de produtos para o mercado imobiliário: a incorporação. Muitos desses produtos localizavam-se em subúrbios que se situavam fora do alcance das normas de uso e ocupação, diferentemente de outras regiões da cidade. Na sua análise, Souza apresenta a dificuldade de muitos em adquirir o seu lote, apesar da grande oferta, surgindo então a favela e o loteamento clandestino. Seguiram-se várias tentativas de produção de habitação social, através da intervenção do Estado, com programas que passaram dos Institutos de Aposentadoria e Previdência (IAP), nos anos trinta, para a Fundação da Casa Popular (FCP) em 1946, para o Banco Nacional da Habitação (BNH), com seus financiamentos para classes de renda mais alta, e para as Cooperativas Habitacionais (Cohabs), para aquelas de renda mais baixa. Na vigência do BNH, de 1964 a 1986, foram produzidas 4,5 milhões de unidades. Deste número, apenas 250 mil foram destinadas a faixas com renda de 1 a 3 salários mínimos (AZEVEDO, apud SOUZA, 2000). Os programas de tentativa formal de produção de habitação popular não obtiveram o sucesso necessário. A informalidade para construção das moradias que não obedecem a normas urbanísticas, assim como a ilegalidade das muitas que não possuem sequer os títulos de posse da terra (SOUZA, 2000), é uma realidade nas grandes cidades, inclusive em Salvador, foco deste trabalho. A evidente participação dos operários da indústria da construção civil na construção informal pode ser observada em depoimentos de favelados da zona oeste carioca: “Foi um pedreiro daqui que me ajudou, construindo um barraquinho pra mim. Foi onde vivi até hoje”. Em outro depoimento, observa-se: O lucro das feiras tem destino certo. Para a casa de dona Argentina, os gastos de R$ 2.330 foram com material de construção e mão-de-obra de pedreiro e ajudante. Fora as doações conseguidas com a realização de um bingo organizado pelo projeto. As casas de material de construção da região e outras pessoas interessadas em ajudar contribuíram com sacos de cimento, mais de um milheiro de tijolos; areia; pedra; canos; azulejo; portas, janela; louça sanitária. (MIGUEL; HOMERO, 2004). Em dissertação sobre construção de moradias na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Leitao (2004) reporta-se à utilização do operário na produção das unidades em que já se encontram pequenos prédios de alvenaria. Segundo o autor, já existe, além da autoconstrução, um mercado imobiliário informal, “um mercado que, ao mesmo tempo, se assemelha e se diferencia daquele praticado na cidade oficial” (LEITAO, 2004). Esses depoimentos evidenciam a atuação de operários da construção civil no mercado informal. Através deles, será possível atingir, assim, a outra parte da indústria da construção, 102 aquela que supre o déficit habitacional não atendido pelo mercado imobiliário formal, submetido a legislações e normas. Considera-se que a aplicação dos conceitos de sustentabilidade, de forma ampla, no ambiente construído, poderá ocorrer com o aprendizado do operariado das grandes obras, que levará para as construções que também executa, dentro da informalidade, quase sempre na periferia das cidades. Os operários executores das obras do mercado formal, absorvendo os conceitos e formas de execução poderão então inseri-los no contexto dos outros serviços que executam, ampliando definitivamente as boas práticas, por compreendê-los, e não por imposição efetiva, já que este nicho do mercado não se submete a nenhum tipo de aprovação ou formalidade legal. Conclui-se que, partindo de empresas líderes de mercado, muitos segmentos já se transformaram e poderá a construção civil também se renovar. Com a consolidação da vantagem competitiva da empresa e efetivada a similaridade pelas empresas concorrentes do mesmo padrão, espera-se que os outros segmentos da indústria da construção também se modifiquem, buscando incorporar os mesmos implementos ambientalmente mais corretos, ampliando a renovação para toda a indústria. Além disto, no preparo e no saber do operariado da construção civil, que também é responsável pelas construções informais e constitui grande parte das edificações da cidade, poderá estar sendo consolidada uma nova relação da indústria com o meio ambiente, trazendo benefícios para toda a sociedade. 103 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES A partir dos dados apresentados aqui, chega-se à conclusão de que precisa ser reavaliado o modelo de abastecimento urbano da água, feito por distribuição centralizada, através de grandes redes, que tem elevado custo, tanto na implantação, como na operação e distribuição da água tratada, para muitos usos que sequer necessitam da água potável. É preciso também rever a lógica predominante, pela qual se acredita que a solução dos problemas de distribuição virá unicamente através de grandes obras e que o recurso hídrico é apenas a água que corre pelos rios. O crescimento dos centros urbanos continua se intensificando e o consumo dos recursos naturais cresce sem planejamento. A captação direta de águas pluviais, nas cidades, como fonte suplementar às redes públicas, representa alternativa para uso em destinos não nobres e traz benefícios tais como: a) a vantagem coletiva da economia da quantidade de água potável distribuída e na energia do sistema de distribuição, reduzindo os gastos que recaem sobre a população; b) a possibilidade de redução do consumo de energia nas edificações, decorrente do posicionamento do reservatório elevado e da distribuição da água por gravidade; c) a possibilidade de contribuir com a sustentabilidade ambiental das edificações e, pela difusão da ideia, de representar um primeiro passo para implantação de outras práticas mais sustentáveis; d) a possibilidade de contribuir, de alguma forma, com a redução das enchentes urbanas, o que já acontece nos grandes centros; e) a vantagem da descentralização do abastecimento para adaptação às mudanças climáticas em curso, pois, com a captação direta de água de chuva, pode-se contribuir para facilitar o enfrentamento das dificuldades que a mudança no 104 regime das chuvas sofrerá, alterando o histórico pluviométrico que lastreou estudos das estruturas de captação. Considerando esses benefícios, o estudo procurou mostrar como difundir a prática da captação direta de água de chuva em edificações urbanas, tornando este sistema usual, em paralelo a tantos outros equipamentos e serviços que vêm sendo inseridos nas novas construções. Como ilustração do crescimento da demanda e do potencial benefício, avaliou-se, no período de 2000 a 2007, na cidade de Salvador, o que poderia ter ocorrido para as redes de abastecimento, se a captação direta tivesse se iniciado nas novas construções deste período. Nestes 7 anos, a cidade aumentou sua população em 449 518 habitantes. Este número aproxima-se da população de Feira de Santana, a maior do interior da Bahia, com população estimada em 571 997 habitantes, também em outubro de 2007. A simulação conclui que a cidade poderia ter economizado, com reservatório de apenas 0,5 m3 por unidade habitacional, o volume equivalente ao consumo de uma cidade de 58 124 habitantes, estimando-se um consumo de 200 litros por dia, por habitante. Através das pesquisas que comprovam o surgimento de uma conscientização maior em relação ao impacto ambiental e também da observação do momento atual, quando repercutem, inclusive na mídia, os riscos das mudanças climáticas, do efeito estufa e de tantos outros danos causados ao meio ambiente, conclui-se, da leitura das oportunidades e ameaças deste cenário, que a disseminação dos princípios de sustentabilidade para a construção civil poderá iniciar-se através de empresa incorporadora de alto padrão, que associe a responsabilidade ambiental a sua estratégia de negócio. Esta empresa, ao promover uma sinergia entre objetivos econômicos e socioambientais, será conduzida à diferenciação, consolidando benefícios para a competitividade e para as condições ambientais, além de influenciar o setor. Citam-se, como exemplos, nesta dissertação, muitas especificações que surgem nos imóveis e são rapidamente copiadas em vários empreendimentos, para demonstrar como novos atributos se transformam em objetos de desejo do consumidor e sucesso de vendas para o produtor. Estas inclusões, muitas vezes, oferecem aumento de custo para o construtor e também para o morador final e, ainda assim, tornam-se de uso comum, em função do apelo com que são colocadas e da demanda que criam. Assim, os imóveis vão se adaptando às novas tendências, alterando seu valor de acordo com os implementos ditos “sofisticados” “modernos” ou “funcionais” que possuem. 105 Estes exemplos deixam claro que não é a rigorosa análise de pay back, que determina a inserção, aceitação ou descarte de novas especificações e equipamentos. Os exemplos citados são também evidências claras de que o mercado imobiliário já busca a diferenciação do produto, através de itens que, no entendimento atual do incorporador, possam agregar valor ao imóvel, seja na aparência ou no desempenho. Assim, evidenciam-se outros fatores, além da análise de pay back, que podem influenciar o uso de novas especificações ambientalmente mais corretas. Em consonância com a leitura do momento, podem ser inseridas estas especificações, como, por exemplo, a captação direta de água de chuva, alterando o desempenho do “produto potencial”, na sua pós-ocupação, através, de novos aparatos que traduzirão conforto e modernidade, consolidando a marca, a reputação do incorporador, podendo levar ao destaque da empresa. As edificações de alto padrão, inserindo a captação direta de água de chuva e outras especificações ambientalmente mais corretas, podem exercer influência sobre a ampliação do uso dessas práticas, considerando, de acordo com as teorias expostas nesta dissertação, que este padrão cria um estilo que passa a ser seguido pelos outros segmentos da indústria da construção, como pode ser visto pelos atributos que inclui e que passam a ser usuais. Deste modo, haverá benefício para a empresa incorporadora que adote a associação da sua estratégia de negócio com a causa ambiental, ofertando produtos ambientalmente mais corretos, vez que o momento é propício, tanto pela repercussão, na mídia, dos assuntos ligados ao meio ambiente, como pela sinalização do crescimento do consumo consciente. Assim traduzirá uma estratégia que trará diferenciação, com uma proposição de valor diferente. A empresa poderá, revendo potencialidades e fragilidades, atividades principais e de apoio, descritas nesta dissertação, diferenciar-se no mercado, ganhando prestígio de imagem e vantagem competitiva. Com a imitação das empresas concorrentes, o segmento de alto padrão poderá reconfigurar-se, criar um estilo que se refletirá na indústria da construção como um todo. Por outro lado, através da exposição às novas práticas e aos novos conceitos nos predios, o operariado será levado a um aprendizado que pode vir a ser aplicado no mercado informal em que atua muitas vezes, produzindo unidades habitacionais feitas à margem de legislações e posturas municipais. Assim, na leitura do momento e das demandas atuais, na junção do conhecimento técnico com o conhecimento social, os atributos ambientais poderão disseminar-se a partir do mercado de alto luxo e chegar até a habitação de baixa renda. 106 Estudos devem ser realizados para captação direta da água de chuva em fachadas das edificações verticais em que os benefícios financeiros não são significativos. Estas edificações oferecem grandes superfícies de fachadas, em comparação à área de telhados, podendo, desta forma, melhorar a relação custo-benefício, já mais evidente em casas com maior área de cobertura. Estes estudos poderão ser desenvolvidos através de experimentos acompanhados, mensurando-se comparativamente o volume captado por área de telhado e fachada. Também podem ser desenvolvidos no acompanhamento de estudos de caso, em edificações urbanas, que instalem a captação em suas superfícies verticais, e possibilitem a mensuração dos volumes captados ao longo de um período. Também precisam ser acompanhados, apurados e estudados os custos relativos à inserção de especificações ambientalmente mais corretas nas edificações, assim como as despesas da edificação na pós-ocupação, para que se possam desenvolver melhor as avaliações dos benefícios financeiros desses atributos, comparando tais despesas com aquelas de outros prédios que não contemplem estes atributos. Este custo de inserção, de acordo com teoria e exemplos expostos nesta dissertação, deve ser avaliado comparativamente com especificações atuais que podem ser excluídas, ou alteradas, elaborando-se uma nova curva de valores, com levantamentos dos itens que devem ser eliminados ou reduzidos e os que podem ser inseridos, para adicionar valor ao imóvel e diferenciar a empresa, através da associação da sua imagem com a responsabilidade ambiental, construindo uma imagem diferente daquela das outras organizações. Também é necessária a difusão do conhecimento sobre os benefícios, inclusive financeiros na pós-ocupação, que as novas especificações ambientalmente mais corretas trazem aos imóveis, junto ao pessoal de vendas e ao de agências de publicidade, responsáveis por campanhas de divulgação, pois, como influenciadores de compra e formadores de opinião, contribuirão para o sucesso do produto e para o entendimento do consumidor quanto à diferença do produto oferecido. Finalmente, podem ser realizadas pesquisas junto aos moradores, na pós-ocupação, buscando avaliar a percepção que têm do imóvel adquirido, para identificar o que é sentido como benefício oriundo das especificações inseridas, monitorando a satisfação com o imóvel. Esta seria uma forma de conhecer e de compreender melhor o cliente e de obter subsídios para orientar os projetistas, incorporadores, profissionais de venda e agências de publicidade, no 107 momento da concepção de novos imóveis, quando as mudanças podem ser planejadas, com menor custo, conforme os levantamentos apresentados. Assim, poderia ser complementado o conhecimento de soluções que visam ao bem comum, além do benefício financeiro decorrente das reduções de custo operacional, ao longo do tempo, levando os empreendimentos imobiliários a causar menor impacto ambiental. 108 REFERÊNCIAS ALLEY, Richard et al. 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