UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica 2008 – UFU 30 anos PODER OU PESSOAS/SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS – UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO Isabela de Castro Mendonça1 Universidade Federal de Uberlândia, Avenida Engenheiro Diniz, 1178 – Caixa Postal 593 – CEP 38.400-902 – Uberlândia - Minas Gerais – Brasil. [email protected] Resumo: Este trabalho visa salientar a importância de um bom professor em uma sala de aula e dos alunos terem acesso às mais diversas áreas do conhecimento, com base em uma análise do capítulo 4 "Poder ou Pessoas: duas tendências em educação” do livro “Uma revolução silenciosa: o impacto da abordagem centrada-na-pessoa”, autor desconhecido, e do filme "Sociedade dos Poetas Mortos”, dirigido por Peter Weir. Tanto no texto como no filme, são apresentadas duas políticas educacionais: a tradicional, na qual o professor é a autoridade e o aluno não pode contesta-lo, e a nova, na qual a aprendizagem é centrada na pessoa. É necessário que se faça uma síntese entre esses dois sistemas educacionais e que se pegue apenas suas vantagens. Do sistema educacional tradicional, a figura do professor, uma autoridade que detém muito conhecimento sobre a matéria a ser ensinada e que deve, sim, passa-la aos alunos. Já do novo sistema educacional, a liberdade de participação e impugnação do aluno, sem repressões nem humilhações. Apesar da crescente facilidade de acesso a todo tipo de informação, principalmente pela Internet, é necessário que haja o ambiente sala de aula/professor e que, de certa forma, os alunos tenham submissão a ele, não para que sejam reprimidos, mas, pelo contrário, para se descobrirem. Palavras-chave: políticas educacionais, poder ou pessoas, sociedade dos poetas mortos. 1. INTRODUÇÃO No texto “Poder ou pessoas: duas tendências em educação”, o autor sugere um novo sistema educacional. Critica a política tradicional, afirmando que ela se sustenta, basicamente, por um professor sendo autoridade e detentor do poder e o aluno como aquele que obedece sem questionar, e defende uma nova política, que se baseia em uma aprendizagem centrada-na-pessoa, com a ajuda de um líder que compartilha suas experiências e seus alunos a seguirem seus próprios desejos. É uma idéia de faze-los pensarem por si mesmos e serem movidos por seus gostos. O autor nos dá dois exemplos de professores que ousaram em tentar por em prática essa proposta. Uma delas é uma professora de inglês, que aplicou o método e este teve os bons resultados esperados. A outra pessoa é Joann Lipshires2 que conduziu três seminários em escolas de ensino médio sobre Relações Humanas e teve muita dificuldade em lidar com o problema dos sentimentos negativos, mas, em suas próprias palavras: “Afinal, acho que deu certo, que meus esforços foram bem-sucedidos em propiciar aos jovens alguma coisa de que eles necessitam desesperadamente”.3 1 Acadêmica do curso de Filosofia J. Lipshires, “Human Relations Training in High School”, School of Education, Rider College, Trenton, N.J., 1974 (panfleto mimeografado). 3 “Poder ou Pessoas: duas tendências em educação”, pg. 89, 1º parágrafo, linhas 4, 5 e 6. 2 O filme “Sociedade dos poetas mortos” se passa basicamente no cenário na “Welton Academy”, uma escola dos anos 50, apenas para garotos, que prepara os alunos para a faculdade. O foco do filme é no novo professor, John Keating, ex-aluno da mesma escola, que trás uma proposta totalmente diferente da que os alunos estavam acostumados, o que causa um espanto para a conservadora direção do colégio. Ao invés de aulas monótonas e rigorosamente teóricas, John faz aulas dinâmicas sempre fiel à sua principal proposta “pense por si mesmo”, acompanhada pelo jargão de motivação “Carpe Diem”, frase em latim que significa colha o dia, ou seja, aproveite o dia. De fato, isso atingiu profundamente o modo de pensar de alguns alunos e fez com que eles descobrissem suas verdadeiras personalidades e fossem mais autênticos. Ao pesquisarem mais sobre o novo professor descobriram que ele, em sua época de estudante, fez parte de uma sociedade intitulada Sociedade dos Poetas Mortos, mas que já não existia mais. Empolgados com tal idéia, resolveram dar continuidade à sociedade e, para isso, se reuniam periodicamente para recitarem poemas de grandes escritores ou deles mesmos, seguindo a tradição das velhas reuniões na qual o professor participava. 2. UMA ANÁLISE CRÍTICA É necessário que se faça uma análise crítica tanto do texto quanto do filme, com o intuito de se ter a maior imparcialidade possível e não se deixar persuadir pela boa imagem que ou um ou outro podem querer passar. 2.1 Do Texto O autor expõe a política educacional tradicional e propõe uma nova. Ele mostra como a política das escolas tradicionais é vivenciada: com a grande diferença de status entre aluno e professor, o professor manda e o aluno obedece, regras autoritárias como a diretriz aceita na sala, o mínimo de confiança entre professor e aluno, os alunos em constante estado de medo, atualmente não pela punição física, mas pela crítica e pelo ridículo público. Em seguida ele nos mostra como é a aprendizagem centrada-na-pessoa: a responsabilidade pelo processo de aprendizagem é compartilhada com a pessoa facilitadora (o líder), com os outros alunos e com os pais, o facilitador proporciona os recursos de aprendizagem de sua própria experiência, o aluno desenvolve o seu próprio programa de aprendizagem, a aprendizagem é autodidata. Alguns aspectos analisados no texto são bem importantes. Um dos fatores que pode desequilibrar uma aula é a falta de competência do professor, tanto para avaliar como para ensinar, pois saber é diferente de saber ensinar. O texto também afirma que a imagem tradicional da educação é freqüente. Ainda hoje, ocorre muito um professor fazer críticas e submeter um certo aluno ao ridículo público, ora para fugir de uma questão que não sabe ou para calar o aluno que se expressa muito, ao fazer comparações irrisórias, o que distrai o restante dos alunos e muda o foco da discussão. Mesmo que sem perceber, alguns professores pensam ter políticas inovadoras, mas, se prestarmos atenção, não passam de tentativas falhas de aplica-las. O líder deve ser uma figura de autoridade de uma dada situação, seguro de si e confiante, e, mais importante, deve passar confiança para seus alunos, tanto em relação aos seus potenciais de pensarem por si só quanto na matéria a ser aprendida. 2 O texto mostra um exemplo de uma professora de inglês que resolveu aplicar o novo método depois de ter ouvido várias reclamações entre seus alunos, como “Por que será que nunca chegamos a ler alguma coisa boa... algo diferente... somente Shakespeare, Dickens, Hugo...”4 e “Por que será que nunca fazemos o que nós queremos?”5. Ela então sugeriu aos alunos que fizessem um plano individual de estudo e que poderiam estudar qualquer área, contando que incluísse leitura e escrita. De acordo com o seu depoimento, o método deu muito certo e os alunos se interessaram pela matéria e trabalharam nas mais diversas áreas. Um dos seus alunos se interessou em ler materiais sobre comunismo. Mas aonde esse aluno aprendeu sobre o comunismo? Com certeza ele teve aulas de história sobre o comunismo que deve ter despertado nele a preferência. Então, há diferenças que devem ser observadas. Em algumas matérias, como o inglês e o português, esse novo método pode dar muito certo, pois os alunos escolherão assuntos de seus interesses e um bom professor conseguirá aplicar a sua matéria àquilo. Já em uma aula de história, por exemplo, o professor deve impor a matéria a ser estudada. Ele não pode simplesmente chegar na aula e falar para os alunos: “tragam a matéria que vocês gostarem para estudarmos”, pois se eles não conhecem nada, ou quase nada, de história, como saberão o que gostam ou não? O professor, no final do trabalho, deve assegurar ao aluno de que ele aprendeu de maneira correta a matéria, dando-lhe confiança para continuar a próxima etapa. O grupo total pode ser responsável pela política geral, ou seja, ela pode depender de todo o grupo. Um professor não deve aplicar a mesma política todos os anos para diferentes alunos, ele deve se adaptar de acordo com as necessidades de cada classe, eis o grande desafio de um verdadeiro professor. Outro aspecto importante para se observar é que um livro ou a Internet não consegue avaliar um aluno, é necessário de um bom professor para isso. É de suma importância que exista a relação da sala de aula: aluno/professor para as mais diversas áreas do conhecimento, principalmente no Ensino Fundamental e Médio, e, para cada uma dessas matérias é necessário um professor que ensine, que tenha o seu programa de aula para aplicar a todos os alunos de acordo com as necessidades de cada um. Hoje existe a estupenda e perigosa internet, também há aqueles velhos e bons amigos, os livros. Mas é necessário um professor que explique de maneira eficiente e clara a respectiva matéria, coisa que, de fato, não se acha disponível em nenhum livro ou site. Um livro não responde se alguém disser a ele que não entendeu o que ele quis dizer, ou seja, não há dialética, não há discussão, não há troca de idéias. Nada substitui uma sala de aula com um bom professor. Contradizendo o que diz no texto, um aluno não pode ser autodidata, escolher o que vai estudar e, sozinho, pesquisar sobre tudo. Se ele, por exemplo, quiser conhecer mais sobre o filósofo Martin Heidegger é impossível de se estudar e entender apenas lendo sua obra e trabalhando por si só, o aluno precisará se sentar em uma cadeira na sala de aula e ouvir um professor falar, ensinar e despejar seus conhecimentos no aluno, característica da tradicional política educacional, mas este, por sua vez, poderá refutar e discutir sobre o assunto, característica da nova política educacional. Outro problema seria que, em uma aula de geografia, como exemplo, se cada aluno levar o tema que quiser estudar para a sala, é uma tarefa muito difícil para o professor atender satisfatoriamente a todos os alunos, sendo que, ao atender a um, falará sobre determinado assunto no qual os outros alunos não se interessam. O professor terá que dar uma aula particular para cada aluno? É inviável, sem contar que o assunto de interesse do aluno pode ser muito chulo em relação a tudo que já foi descoberto na geografia e que ele pode descobrir em uma aula, pois uma aula de cinqüenta minutos, pode ser muito mais rica e produtiva do que um dia inteiro de estudo sozinho. 4 5 “Poder ou Pessoas: duas tendências em educação”, pg. 86, 4º parágrafo, linhas 3 e 4. “Poder ou Pessoas: duas tendências em educação”, pg. 86, 5º parágrafo, linha 2. 3 É de grande valor aprender as mais diversas áreas do conhecimento, para que, depois, se escolha por qual delas se deseja seguir. Para se entender a importância de um conhecimento difuso, e não apenas na área que lhe interessa, podemos citar a coreógrafa Deborah Colker, que deu entrevista para o “Programa do Jô” no dia 08/09/2008, a primeira mulher a dirigir um trabalho na história do “Cirque du Soleil”, que terá como tema “Insetos”. Ela citou os vários insetos que estão presentes na apresentação, dentre eles, ela colocará aranha. Aranha? Qualquer um que já assistiu uma aula chata de biologia sabe que aranha é um aracnídeo e não um inseto, e ambos pertencem ao filo dos artrópodes. Ao se interessar pelo teatro, ela ignorou as outras áreas do conhecimento e, se ninguém corrigir isso a tempo, um grande espetáculo que deveria ser fonte de cultura e conhecimento, não conseguirá cumprir com esta missão. O novo método é lindo, mas é necessário que haja muita cautela ao aplica-lo. Deve ser muito bem estudado para saber corretamente aonde usa-lo, com quem, como, quando e, principalmente, quem aplicará. Ele não pode ser usado em todo o ensino e com todas as matérias. Como citado no texto, o sistema educacional é, provavelmente, a mais influente de todas as instituições. Se esse método for aplicado de maneira errônea poderá ocasionar o efeito contrário do pretendido, que restringe o aluno apenas a uma área do conhecimento, a que ele se interessa, em detrimento das outras, que pode ocasionar graves erros ao longo de sua carreira. 2.2. Do Filme Figura 1: Sociedade dos Poetas Mortos (Capa), Peter Weir. O filme “Sociedade dos Poetas Mortos”(Figura 1), de Peter Weir, tem como cenário, no ano de 1951, basicamente, a escola “Welton Academy”, um colégio tradicional para garotos, que são preparados para entrarem na faculdade. Nela, os alunos são rigorosamente reprimidos, não podem expressar suas opiniões, não podem refutar os professores, estão sujeitos a sanções físicas e morais e à expulsão. Se esta última acontecer, depois de ter enfrentado a escola, terá de enfrentar também a família, que, em muitos casos, também é muito conservadora. Os alunos permanecem em estado de constante medo e repressão. 4 O professor John Keating é o personagem principal, interpretado pelo ator Robin Willians. Um docente que lança uma nova proposta para os alunos: pensarem por si só, inspirados na frase em latim “Carpe Diem”, ou aproveite o dia. Ele aplicou muito bem essa nova proposta, é um exemplo para todos os outros professores, mas só faltou um fio de conexão com a realidade. Ele fez certo ao encorajar um garoto que sonhava em ser ator a desafiar o seu pai e falar que não queria fazer medicina, mas faltou um pouco de inteligência das duas partes, professor e aluno, para perceberem que a questão não era tão simples assim. O pai do garoto era um adulto com idéias, de fato, conservadoras e desprezíveis, mas muito bem definidas e para ele aquilo era o certo a se fazer, é necessário entender a realidade do pai também, ele não era uma pessoa má, não agiu por maldade. O brilhante professor John Keating deveria ter avisado ao seu aluno que não seria uma tarefa fácil fazer seu pai aceitar o fato dele querer ser ator e que isso não aconteceria da noite para o dia. John também poderia ter falado ao menino que se não conseguisse conversar com o pai em um dia, tentasse no outro e que não precisava falar tudo de uma vez, poderia amadurecer a idéia aos poucos até arranjar um jeito de conseguir impor suas vontades. Ou se visse que não conseguiria convencer o pai por meio do diálogo, adotasse outras maneiras. “Carpe Diem” pode ser um lema muito bonito, mas a maioria das pessoas o confunde como se fosse “viva o dia como se fosse o último”, e essa idéia é insustentável. Ninguém vive o dia como se fosse o último, pois senão não estaríamos estudando, ou trabalhando, ou juntando dinheiro, ou tentando aprender algum instrumento ou alguma língua, ou fazendo uma dieta. A maioria das coisas que fazemos, e as que realmente valem a pena, é pensando no futuro. 3. UMA POSSÍVEL ALTERNATIVA Não se pode rejeitar a nova política, mas também não se pode rejeitar a velha. É necessário que se faça uma síntese entre esses dois sistemas educacionais e pegar apenas suas vantagens. Do tradicional, a figura do professor, uma autoridade que detém muito conhecimento sobre a matéria a ser ensinada e que deve, sim, passa-la aos alunos. Do novo, a liberdade de participação do aluno. É necessário saber conciliar esses dois aspectos. Uma aula de química se torna interessante ao se aprender que para gelar mais rápido uma cerveja, basta coloca-la em uma caixa de isopor com gelo, sal e álcool. Ao aproximar a matéria da realidade do aluno, o professor consegue fazer com que ele a aprenda mais prazerosamente. Alguns vão querer se aprofundar, outros não. Nas escolas, principalmente de ensino fundamental, os alunos devem experimentar as mais diversas áreas do conhecimento para que, depois, decidam qual seguir. Mesmo porque, se uma pessoa gosta de química, seus conhecimentos não devem se limitar a essa área, é necessário que ela saiba um pouco de tudo. Se um indivíduo não tem um conhecimento mínimo de matemática, pode ser vítima de calotes de pessoas desonestas. E se alguém não tiver uma boa noção da história do próprio país e do mundo, as mais importantes políticas e os mais destacados regimes, como dar continuidade à própria história? Sendo passivo a governos estúpidos? Cada curso, seja ele da área de exatas, humanas ou biológicas, de qualquer boa universidade, possui um diretório acadêmico, que discute as mais variadas questões dentro do curso. Os alunos não conseguirão um ônibus para irem a um Congresso fora da cidade se não redigirem um bom texto à Reitoria, com os objetivos, as justificativas, cronograma, etc. 5 Qualquer pessoa, em seu processo de crescimento até chegar a fase adulta, deve experimentar as mais diversas áreas do conhecimento. Para isso, é necessário uma escola que se ensine matérias como português, língua estrangeira, matemática, biologia, química, física, história, geografia, filosofia e sociologia. Um conhecimento básico em cada uma dessas áreas é essencial, pois elas não se encontram de maneira isolada na vida, um indivíduo pode escolher pelo teatro, mas a biologia e a matemática podem ser de suma importância. Um bom professor deve ter o seu programa de estudo a ser adaptado aos alunos de cada classe, para que estes fiquem bem informados de todas as áreas possíveis de se estudar. Não é possível fazer escolhas, se não se têm opções. Depois de estudar um pouco de tudo, o aluno vai ter diversas opções para escolher qual área que realmente se interessa e quer realmente seguir. 4. REFERÊNCIAS ______________. “Uma revolução silenciosa: o impacto da abordagem centrada-na-pessoa”, capítulo 4: “ Poder ou Pessoas: duas tendências em educação”; WEIR, Peter. Dead Poets Society (Sociedade dos Poetas Mortos), EUA, 1989; Geocities. http://www.geocities.com/~esabio/aranha/aranha_principal.htm 5. DIREITOS AUTORAIS “Programa do Jô”, direitos autorais de: Copyright 2008 – Globo comunicações e participações S.A. 6