MAURO LOUREIRO ALVES LIMA A GARANTIA DA QUALIDADE NA SEGURANÇA DE INSTALAÇÕES NUCLEARES DO PROSUB Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG (RM1) Pedro Fonseca Junior Rio de Janeiro 2014 C2014 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG __________________________________ Engº Tecnologia Militar Mauro Loureiro Alves Lima Biblioteca General Cordeiro de Farias Lima, Mauro Loureiro Alves. PROSUB: A Garantia da Qualidade na Segurança de Instalações Nucleares do PROSUB / Engenheiro de Tecnologia Militar Mauro Loureiro Alves Lima – Rio de Janeiro: ESG, 2014. 49 f.: il. Orientador: CMG (RM1-FN) Pedro Fonseca Junior. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2014. 1.Projetos complexos. 2.Gerenciamento de projetos. 3.Garantia da qualidade. 4.Segurança nuclear. 5.Licenciamento nuclear. 6.Gestão integrada. I.Título. DEDICATÓRIA Dedico esta pesquisa à minha querida família que me apóia e inspira a vencer os obstáculos e desafios da vida. Aos meus saudosos pais Elisa e Sérgio Alves Lima que me deram os meus princípios familiares e morais, amor e carinho, educação, cultura, instrução e apoio familiar em todos os momentos da minha vida; a minha carinhosa esposa Sylvia e aos nossos “filhotes” Mauro Sérgio (Maurinho) e Eduardo Arthur (Dudu), pela compreensão, amor, carinho e incentivo. Na fase final do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, a necessidade de ampliar a dedicação aos estudos torna-se uma prioridade, resultando em uma inevitável rotina de desgaste físico e emocional. Neste momento, o amor, a compreensão e o incentivo familiar fazem a diferença entre o sucesso e a desistência. No meu caso particular, agradeço ao “Papai do Céu” por ter me abençoado ao me dar uma família maravilhosa, que viabilizou o meu projeto de crescimento profissional e acadêmico! AGRADECIMENTOS Aos almirantes Max, Pinto Correia e Newton por terem autorizado a minha participação no processo de seleção para a concorrida vaga de estagiário civil da Marinha do Curso de Altos Estudos de Políticas e Estratégias da ESG. Ao comandante Pagani e aos almirantes Fragelli, Newton, Alan e Neves pelos incentivos e palavras amigas recebidas. Ao tenente Peixoto pelo importante apoio recebido. Ao comandante da ESG, ao diretor do CAEPE e membros do corpo permanente por não medirem esforços no sentido de posicionar e manter o curso do CAEPE 2014 em nível de excelência. Ao meu orientador e agora amigo, comandante Fonseca, pela atenção, incentivos e tempo despendido nas orientações por ocasião da elaboração deste trabalho. Aos professores e palestrantes do CAEPE 2014, pela valiosa contribuição no meu processo de crescimento acadêmico e pessoal, que me possibilitou realizar análises críticas mais consistentes, a partir do conhecimento adquirido sobre as expressões do Poder Nacional e as conjunturas externas e internas do Brasil. E aos estagiários da Turma “ESG – 65 anos pensando o Brasil” (CAEPE 2014), pela amizade, profissionalismo, espírito integrador e pelos diversos momentos de alegria que me proporcionaram. Com a ajuda deles, atender as orientações do almirante-de-esquadra Leal Ferreira, comandante da ESG, para ser feliz ao longo do nosso curso, ficou fácil e agradável. A todos vocês, o meu muito obrigado! RESUMO Este trabalho teve o objetivo de propor um modelo teórico de gestão para orientar a elaboração e implementação de um Programa de Garantia da Qualidade (PGQ) para a segurança das instalações nucleares do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB). Neste sentido foram investigados os requisitos explícitos e implícitos para este fim, assim como a necessidade de integração de processos complementares de gestão. Na pesquisa foram considerados: o momento conjuntural das expressões política, econômica, científica tecnológica, militar e psico-social do poder nacional favorável aos investimentos em infra-estrutura e tecnologia de ponta (desenvolvimento); o PROSUB (segurança, defesa e desenvolvimento); a crescente complexidade da governança de empreendimentos públicos (desenvolvimento); e os processos de licenciamentos nucleares (segurança). Na metodologia aplicada à pesquisa, foram utilizadas técnicas de uma pesquisa bibliográfica exploratória, qualitativa e aplicada, com o propósito de responder as questões e atender aos objetivos propostos. Como resultado da pesquisa, o autor disponibilizou um modelo teórico de gestão, corroborando com os processos de reflexão, conscientização e maturidade dos gestores de empreendimentos nucleares e demais partes interessadas. Palavras chave: Projetos complexos. Gerenciamento de projetos. Garantia da qualidade. Gestão integrada. Segurança nuclear. Licenciamento nuclear. ABSTRACT The study aims to propose a theoretical model of management to guide the development and implementation of a Quality Assurance Program (QAP) for the safety of nuclear installations of the Submarine Development Program (PROSUB). In this sense the explicit and implicit requirements for this purpose were investigated, as well as the need for integration of complementary management processes. In the survey, were considered: the conjuncture moment of political, economic, scientific, technological, military and psycho-social expressions of Brazilian’s National Power, favorable for investment in infrastructure and technology (development); the PROSUB (security, defense and development); the increasing complexity of the governance of public enterprises (development); and nuclear licensing processes (security). The methodology applied in the research included a qualitative and applied literature review in order to answer the questions and meet the proposed objectives. As a result of the research, the author has provided a theoretical management model, corroborating the processes of reflection, awareness and maturity of management of nuclear projects and stakeholders. Keywords: Complex projects. Project management. Quality assurance. Integrated management. Nuclear safety. Nuclear licensing. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: Localização da Amazônia Azul e áreas de atuação dos submarinos FIGURA 2: Capacidade de ocultação do submarino FIGURA 3: Apresentação do submarino de propulsão nuclear brasileiro FIGURA 4: UFEM; Estaleiros de Construção e de Manutenção (área sul); Complexo Radiológico, Cais e Diques (área sul); Base Naval de Submarinos (norte e sul). FIGURA 5: Modelo teórico para o Programa de Garantia da Qualidade para a segurança de instalações nucleares de empreendimentos FIGURA 6: Hierarquia proposta para a documentação do Sistema de Garantia da Qualidade do PGQ MASTER (requerente) FIGURA 7: Modelo Teórico da hierarquia dos níveis de verificação das conformidades FIGURA 8: Interfaces do Empreendimento EBN com o LABGENE, SNBR e SBR LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT AMRJ CAPES CBS CNEN CNO COGESN COGESNEBN CTMSP DCNS DCTIM DEN DGMM DOCM DSAM IBAMA EBN EMGEPRON GEM-18 GEM-19 GEM-20 GQT ICN ISO LABGENE MB MBA OSTI PAC PDCA PGQ PIT PMBOK PMI PMO PMP PNM PRM Associação Brasileira de Normas Técnicas Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Consórcio Baía de Sepetiba Comissão Nacional de Energia Nuclear Construtora Norberto Odebrecht Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear Empreendimento Modular para obtenção da infraestrutura EBN para construção e manutenção de submarinos da COGESN. Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo Direction des Constructions Navales Services Diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha Diretoria de Engenharia Naval Diretoria Geral de Material Diretoria de Obras Civis da Marinha Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha Instituto Brasileiro de Meio Ambiente Estaleiro e base naval Empresa Gerencial de Projetos Navais Gerência do Empreendimento Modular para obtenção da infraestrutura EBN para construção e manutenção de submarinos Gerência do Empreendimento Modular para obtenção do submarino de propulsão nuclear Gerência do Empreendimento Modular para obtenção dos submarinos convencionais Gestão da Qualidade Total Itaguaí Construções Navais International Standardization for Organization Laboratório de geração de energia núcleo elétrica Marinha do Brasil Master Business Administration Órgão de supervisão técnica independente Programa de aceleração do crescimento Plan (planejar) - Do (executar) - Check (controlar) - Act (agir/corrigir) Programa de Garantia da Qualidade Planos de inspeções e testes Project Management Body of Knowledge Project Management Institute Project Management Office Project Management Professional Programa nuclear da Marinha Programa de Re-aparelhamento dos Meios Navais da Marinha PRONAe PRONAnf PROSUB PROSUPER RPAS SGM SGQ UFEM Programa de obtenção de navios-aeródromo Programa de obtenção de navios anfíbios Programa de desenvolvimento de submarinos Programa de obtenção de meios de superfície Relatório preliminar de análise e segurança Secretaria Geral da Marinha Sistema de Garantia da Qualidade Unidade de fabricação de estruturas metálicas SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11 1.1 O MOMENTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO BRASIL ............. 11 1.1.1 O submarino de propulsão nuclear ........................................................ 13 1.1.2 Licenciamento de instalações nucleares .............................................. 15 1.2 A SITUAÇÃO-PROBLEMA DA PESQUISA ............................................... 16 1.3 OS OBJETIVOS ......................................................................................... 16 1.4 JUSTIFICATIVAS E RELEVÂNCIA DA PESQUISA .................................. 16 1.5 QUESTÕES DA PESQUISA ...................................................................... 17 1.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .................................................................... 18 1.7 ESTRUTURA ............................................................................................. 18 1.8 METODOLOGIA ........................................................................................ 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................... 20 2.1 GARANTIA DA QUALIDADE OU CONTROLE DE QUALIDADE? ............ 20 2.2 PROGRAMA DE GARANTIA DA QUALIDADE .......................................... 22 2.2.1 Organização - Governança de projetos complexos .............................. 23 2.2.2 Integração de processos complementares de gestão .......................... 25 2.2.3 Organização – Responsabilidades e autoridades ................................. 26 2.2.4 Organização – Seleção de pessoal ......................................................... 27 2.2.5 Organização – Treinamento de pessoal ................................................. 28 2.3 LICENCIAMENTO DE INSTALAÇÕES NUCLEARES ............................... 28 3 O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS ................ 30 3.1 A GOVERNANÇA DO PROSUB ............................................................... 31 3.1.1 A Governança da COGESN ................................................................... 31 3.1.1.1 Empreendimento Modular 18: Obtenção da infra-estrutura EBN para a construção e manutenção de submarinos ........................................... 32 3.1.1.1.1 Fases do Empreendimento Modular 18 – EBN ....................................... 32 3.1.1.2 Empreendimento Modular 20: Obtenção dos submarinos Convencionais ......................................................................................... 34 3.1.1.3 Empreendimento Modular 19: Obtenção dos submarinos nucleares .... 34 4 ANÁLISE CRÍTICA DA COLETA DE DADOS ...................................... 35 4.1 INTEGRAÇÃO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE DE EMPREENDIMENTOS COMPLEMENTARES ................................. 41 4.2 ÓBICES P/ A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE P/ A SEGURANÇA DE INSTALAÇÕES NUCLEARES. 42 5 CONCLUSÕES ...................................................................................... 44 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 46 11 1 INTRODUÇÃO Esta seção tem como propósito apresentar: a contextualização do tema; a situação-problema da pesquisa; os objetivos; a justificativa e relevância; as questões; as limitações; a estrutura; e a metodologia da pesquisa. 1.1 O MOMENTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL DO BRASIL No atual momento do país, no qual investir em ciência e tecnologia passou a ser sinônimo de desenvolvimento social (VELLOSO, 2007), foi lançado o “Programa de aceleração do crescimento” (PAC). Este programa, além de beneficiar e integrar socialmente as regiões brasileiras criou estímulos aos setores produtivos, propiciando um ambiente favorável para investimentos em empreendimentos de infra-estrutura e no desenvolvimento científico e tecnológico (PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO, 2014). Neste processo, observa-se que a maioria dos empreendimentos apresenta uma crescente complexidade, na qual são incluídas abordagens específicas para atender aos processos de licenciamentos ambientais e nucleares (quando aplicável). Neste sentido, a gestão de projetos vem se sofisticando na mesma proporção para atender às novas demandas. Ao longo do processo de ascensão da conjuntura sócio-econômica, o qual conduziu o país a uma posição de destaque no cenário internacional, a descoberta de novos recursos na plataforma continental, particularmente de petróleo e gás, despertou a atenção da nação e do mundo para a potencialidade econômica e energética da Amazônia Azul (figura 1). FIGURA 1: Localização da Amazônia Azul e áreas de atuação dos submarinos Fonte: Marinha do Brasil (2014). 12 Segundo esclarecimentos disponibilizados no site do Comando da Marinha do Brasil (2014), o espaço marítimo brasileiro atinge aproximadamente 3,5 milhões de km². Entretanto, o Brasil está pleiteando, junto à Comissão de limites da plataforma continental da convenção das nações unidas sobre o direito do mar, a extensão dos limites de sua plataforma continental, além das 200 milhas náuticas (370 km), correspondente a uma área de 963 mil km². Caso os argumentos brasileiros sejam aceitos, os espaços marítimos brasileiros poderão atingir aproximadamente 4,5 milhões de km². Neste contexto, ampliou-se a necessidade de vigilância e proteção sobre a Amazônia Azul, cabendo constitucionalmente à Marinha do Brasil, a tarefa de buscar meios que lhe permitam patrulhar e assegurar a integridade de tão valioso patrimônio. Neste cenário, o Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB1) foi incluído no PAC II em 2013, passando a ser um programa de Estado. Isto significa que as autoridades brasileiras estão plenamente convencidas de sua importância como meio dissuasório, tendo em vista que 95% do comércio brasileiro transitam pelo mar. Com o propósito de buscar os meios que lhe permitam patrulhar e assegurar a integridade do patrimônio Amazônia Azul, a Marinha do Brasil possui um Programa de reaparelhamento de meios navais, constituído por um grupo de seis subprogramas, que têm o propósito de expandir e modernizar a força naval, a saber: a) Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB); b) Programa de construção de corvetas classe “BARROSO”; c) Programa de obtenção de navios-patrulha de 500 toneladas; d) Programa de obtenção de meios de superfície (PROSUPER); e) Programa de obtenção de naviosaeródromo (PRONAe); e f) Programa de obtenção de navios anfíbios (PRONAnf) (BRASIL, 2014). 1 PROSUB - Programa de Desenvolvimento de Submarinos é o um dos principais instrumentos para o Desenvolvimento do Submarino de Propulsão Nuclear. A partir de contratos com a empresa francesa DCNS, Consórcio Baía de Sepetiba (CBS), empresa Itaguaí Construções Navais (ICN) e empresa Norberto Odebrecht, este programa tem como escopo: a) projetar e construir a infraestrutura para a construção, manutenção e operação de submarinos, composta por estaleiros e base naval; b) capacitar a Marinha a projetar e construir submarinos convencionais e nucleares, não havendo entretanto, transferência de tecnologia na área nuclear. e c) aquisição de torpedos e despistadores de torpedos. A responsabilidade do PROSUB é da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN). Disponível em: http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/pdf/temas/snbr2.pdf. Acesso em: 11/07/14. 13 1.1.1 O submarino de propulsão nuclear Na guerra naval, o submarino é o meio que apresenta a melhor razão custo/benefício. A propagação acústica no mar ocorre segundo determinados padrões, gerando grandes “zonas de sombra” (figura 2). Este fenômeno dificulta a detecção de submarinos por sonares, preservando a ocultação e o desequilíbrio em seu favor. Em termos bélicos, esta vantagem é determinante por significar surpresa, um dos grandes fatores de força em qualquer confronto. Neste sentido, torna-se necessário um conjunto de meios navais de superfície e aeronavais para se contrapor, com alguma chance, a um único submarino. O submarino de propulsão nuclear possibilita ampliar ainda mais esta vantagem bélica com sua maior capacidade de mobilidade e período de ocultação (MOURA NETO2, 2010). FIGURA 2: Capacidade de ocultação do submarino Fonte: PROSUB-EBN (2014). Segundo o almirante Alan3 (2014), o submarino com propulsão nuclear (figura 3) atualmente está na fase de detalhamento e integração dos projetos das seções da proa (frente), da propulsão do submarino nuclear, e da popa (seção traseira). Esta atividade está sendo desenvolvida por engenheiros civis e militares da Marinha do Brasil. ___________________________________________ 2 3 Almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, Comandante da Marinha. Contra-almirante (RM1-EN) Arthou Alan, Gerente do Empreendimento Modular para a Obtenção do submarino de propulsão nuclear. Entrevista não publicada, concedida ao autor desta pesquisa em 2012. 14 FIGURA 3: Apresentação do submarino de propulsão nuclear brasileiro Fonte: COGESN-EBN (2014). A complexidade da construção de um submarino com propulsão nuclear é altíssima. Com o propósito de facilitar o entendimento sobre a construção do submarino nuclear brasileiro, didaticamente, pode-se sintetizá-lo de uma forma simplória, como sendo a união de um submarino convencional, com uma seção contendo a planta da propulsão nuclear, em substituição à seção de propulsão eletro-diesel convencional. Tendo, entretanto, o diâmetro do casco resistente ampliado de 6 metros para 10 metros e a inclusão de equipamentos complementares para atender aos requisitos à segurança nuclear. Atualmente a Marinha do Brasil possui dois grandes programas sob a responsabilidade da Diretoria-Geral do Material da Marinha ligados diretamente à obtenção do submarino com propulsão nuclear, a saber: a) O Programa nuclear da Marinha (PNM4), de responsabilidade do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). Vinculado ao Programa nuclear Brasileiro, ele engloba tanto o domínio das tecnologias do ciclo de combustível nuclear, quanto o desenvolvimento de um Laboratório de geração de energia núcleo elétrica (LABGENE), que inclui o reator nuclear; e b) O Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB), sob a responsabilidade da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN). _____________________________ 4 PNM – Programa nuclear da Marinha” – tem como escopo: a) dominar as tecnologias de todas as etapas do ciclo de combustível nuclear; b) desenvolver um “Laboratório de geração de energia núcleo elétrica” (LABGENE) com referencia à propulsão do submarino nuclear; e desenvolver o a planta nuclear para o submarino de propulsão nuclear. O PNM é de responsabilidade do CTMSP. Disponível em: http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/pdf/temas/snbr2.pdf. Acesso em: 11/07/14. 15 Com a experiência que está sendo adquirida pela Marinha do Brasil na construção de quatro submarinos convencionais da classe “SBR”, de tecnologia francesa, está sendo possível agregar novos conhecimentos à expertise nacional em construir submarinos, adquirida a partir do final dos anos 80 com a construção de submarinos “IKL”, da classe “TUPI”, de tecnologia alemã. A expertise acumulada em construir submarinos convencionais, acrescida ao processo de transferência de tecnologia para projetar submarinos nucleares, está capacitando a Marinha para desenvolver e construir o primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear. Cabe esclarecer, entretanto, que o escopo da transferência de tecnologia francesa para a construção de submarinos exclui o desenvolvimento e fabricação da seção da propulsão nuclear, sob responsabilidade do CTMSP. Com a construção do submarino de propulsão nuclear, o Brasil dará um grande salto tecnológico, conduzindo-o a ser o 6º país no mundo a ingressar no seleto “clube” de países com capacidade de projetar e construir submarinos nucleares. Os atuais países a deter tal tecnologia são: os Estados Unidos da América, a França, a Inglaterra, a Rússia e a China. 1.1.2 Licenciamento de instalações nucleares Segundo a legislação vigente no Brasil, todas as instalações nucleares do país devem ser licenciadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Este processo é descrito pela norma CNEN-NE-1.04: Licenciamento de instalações nucleares (2002). O requerimento de licença de construção pelo requerente5 deve incluir informações sobre o cronograma preliminar da obra, o Plano preliminar de proteção física e um Relatório preliminar de análise e segurança (RPAS). Entre os diversos documentos que compõem o RPAS, se destaca o Programa de Garantia da Qualidade (PGQ) para a segurança de instalações nucleares, a ser aplicado às atividades de gerenciamento, projeto, fabricação, aquisição, construção civil e montagem eletromecânica de itens importantes à segurança da instalação. ________________________ 5 Requerente é pessoa jurídica, autorizada na forma da lei, que requer à CNEN a licença de construção e/ou autorização para operação da instalação (CNEN, 2002). 16 Eventuais restrições à proposta ou implementação dos Programas de Garantia da Qualidade pela CNEN, são suficientes para interromper as atividades dos empreendimentos a serem licenciados. 1.2 A SITUAÇÃO-PROBLEMA DA PESQUISA A conjuntura das expressões política, econômica, científica tecnológica, militar e psico-social do poder nacional favorável aos investimentos em infra-estrutura e tecnologia de ponta (desenvolvimento); o Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB), (segurança, defesa e desenvolvimento), e o licenciamento de instalações nucleares (segurança) são os principais elementos contextualizadores do problema da pesquisa, a saber: Como implementar um Programa de Garantia da Qualidade para instalações nucleares, que seja consistente e confiável para a segurança nuclear ? 1.3 OS OBJETIVOS O objetivo geral da pesquisa foi propor um modelo teórico de gestão para orientar a elaboração e implementação de um programa de garantia da qualidade para a segurança das instalações nucleares do PROSUB, à luz do referencial teórico e experiências profissionais. Neste sentido, os objetivos específicos da pesquisa foram: a) investigar os requisitos necessários para a elaboração de um programa de garantia da qualidade para a segurança de instalações nucleares; e b) investigar a necessidade de integração de processos complementares de gestão em um programa de garantia da qualidade para a segurança nuclear; 1.4 JUSTIFICATIVAS E RELEVÂNCIA DA PESQUISA: Com a crescente complexidade da gestão multidisciplinar na governança de empreendimentos contendo instalações nucleares, na qual passou a inserir as questões relacionadas aos licenciamentos nucleares e ambientais, a busca por práticas que facilitem o processo de implementação de um Programa de Garantia da Qualidade, que seja consistente e confiável quanto à segurança nuclear tornou-se uma prioridade. A escolha do Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB) apresenta as seguintes relevâncias: a) social: apresentar o PROSUB para a sociedade; b) acadêmica: apresentar o PROSUB como demonstração prática da 17 atuação do poder nacional no desenvolvimento, segurança e defesa nacional. Neste sentido, a relevância é disponibilizar à comunidade acadêmica, uma pesquisa aplicada e qualitativa sobre este relevante programa, com o seu pioneirismo, complexidade tecnológica, peculiaridades e abordagem multidisciplinar e integrada de gestão. A partir das experiências profissionais em gestão da qualidade em projetos (30 anos), entre as quais, atuando como gerente especializado em garantia da qualidade no PROSUB por 4 anos, o autor teve o propósito de corroborar com a redução da lacuna de informações científicas sobre tal programa. Desta forma, possibilita consolidar as linhas de pesquisa do desenvolvimento, segurança e defesa nacional do poder nacional; e c) pessoal: desenvolvimento do autor em seu processo de maturidade como pesquisador, com o propósito de satisfação pessoal e reconhecimento acadêmico/profissional. 1.5 QUESTÕES DA PESQUISA Com o propósito de orientar o processo de investigação da pesquisa, mantendo-a no escopo dos objetivos específicos e geral, foram levantadas as seguintes questões: a) Quais são os requisitos necessários para elaboração de um programa de qualidade para instalações nucleares?; b) Como é a governança da qualidade necessária para instalações nucleares?; e c) Quais são os principais óbices para a implementação de um programa de garantia da qualidade para a segurança de instalações nucleares? Para realizar a pesquisa foram elaboradas as seguintes perguntas de apoio: a) O que vem a ser um projeto complexo? b) Qual é a diferença entre garantia da qualidade e o controle de qualidade?; c) O que é um sistema de garantia da qualidade?; d) O que é um programa de garantia da qualidade para instalações nucleares?; e) O que é o licenciamento nuclear?; e f) Quais são os principais elementos de gestão na governança de um Programa de Garantia da Qualidade? 18 1.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA A investigação realizada nesta pesquisa foi limitada às informações, artigos e publicações de domínio público, assim como ao acervo técnico-administrativo do Programa do desenvolvimento de submarinos (PROSUB) e publicações da Marinha classificadas como sendo “ostensivas”, segundo a regulamentação normativa referente à classificação de sigilo e distribuição. Esta limitação possibilita que o conteúdo da pesquisa esteja em conformidade às restrições de confidencialidade e segurança nacional do programa. O Escopo desta pesquisa foi focado na governança da qualidade do Empreendimento Modular para a obtenção do estaleiro e base naval (EBN) do PROSUB. Neste sentido, torna-se pertinente esclarecer que as abordagens sobre as gestões ambientais, responsabilidades sociais, assim como da construção do submarino com propulsão nuclear quando citadas, tiveram um propósito ilustrativo, não sendo objetos desta pesquisa. Entretanto, o modelo de gestão proposto, após customizações adequadas, poderá ser aplicável à governança da qualidade para o Empreendimento Modular para a obtenção do submarino com propulsão nuclear. 1.7 ESTRUTURA Seção 1 – Introdução: elementos contextualizadores da situação problema; objetivos geral e específicos; justificativa e relevância da pesquisa; questões e perguntas da pesquisa; limitações da pesquisa; estrutura dos capítulos; e metodologia; Seção 2 – Referencial teórico (discussão teórica/marco teórico); Seção 3 – O PROSUB; Seção 4 – Análise crítica dos resultados (incluindo proposta de modelo de gestão); Seção 5 - Considerações finais e proposta para trabalhos futuros e Referências. 1.8 METODOLOGIA Na elaboração da pesquisa qualitativa e aplicada foram observadas as seguintes fases de delineamento: a) definição e planejamento; b) preparação e coleta das evidências; c) análise crítica; e d) conclusão. Na estratégia de investigação da pesquisa foram utilizadas as metodologias mescladas a saber: a) na contextualização da situação problema da pesquisa, foi adotada uma pesquisa documental com uma abordagem noticiosa baseada em documentos, sites da internet e revistas especializadas, com o propósito de torná-la 19 mais atraente para as partes interessadas; b) na construção do referencial teórico, foram utilizadas as técnicas das pesquisas bibliográficas e documentais (fontes primárias e secundárias), a partir de: livros e artigos científicos (selecionados em bases internacionais de dados e no portal de periódicos da CAPES); monografias e dissertações; e documentos legais (normas e legislações), com o propósito de definir os marcos teóricos. Com o propósito de obter fatos objetivos e evidências mais consistentes, foi utilizada a técnica de convergir às fontes investigadas. A análise crítica da interpretação dos dados coletados foi realizada à luz do referencial teórico e experiências profissionais. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO Esta seção teve o propósito de compilar os aspectos teóricos e práticos envolvidos nas melhores práticas de gestão para orientar a implementação de um Programa de Garantia da Qualidade para a segurança de instalações nucleares. Desta forma, tornam-se possível disponibilizar uma sustentação e fundamentação científica para a situação-problema, elementos contextualizadores, objetivos gerais e específicos, assim como, para o levantamento das questões, a partir de palavraschave (conceitos-chave) tais como: projetos complexos; gerenciamento de projetos; garantia da qualidade; gestão integrada; segurança nuclear; licenciamentos nucleares; 2.1 GARANTIA DA QUALIDADE OU CONTROLE DE QUALIDADE? Ao se falar sobre qualidade, é comum que alguns profissionais de outras áreas confundam a garantia da qualidade com o tradicional controle de qualidade das empresas. Neste sentido, torna-se pertinente defini-las conceitualmente, com o propósito de elucidar eventuais dúvidas. A Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN (2000) define a garantia da qualidade como sendo o conjunto de ações sistemáticas e planejadas, necessárias para proporcionar confiança adequada de que uma estrutura, sistema, componente ou instalação, funcionará satisfatoriamente em serviço. Segundo Vieira (2010), ela está relacionada ao risco potencial de ocorrência de falhas. Dentre as ferramentas e técnicas utilizadas, destacam-se as auditorias de qualidade. Já o controle da qualidade é definido pela CNEN como sendo as ações de garantia da qualidade que proporcionam meios para controlar e medir as características de um item, processo ou instalação de acordo com requisitos estabelecidos. Um Sistema de Garantia da Qualidade (SGQ) é o conjunto de medidas desenvolvidas por uma organização, no sentido de promover a integração dos elementos relacionados com: o planejamento estratégico, a estruturação organizacional, a definição de responsabilidades e atribuições de indivíduos ou grupos, a adoção de procedimentos administrativos e executivos requeridos, a utilização de métodos e processos apropriados e a alocação dos recursos materiais 21 e humanos, necessários para permitir uma implementação efetiva das ações de garantia da qualidade aplicáveis a um empreendimento, no seu todo, ou a cada um dos seus estágios. Já a segurança nuclear é definida como sendo o conjunto de medidas de caráter técnico, incluídas no projeto, na construção, na manutenção e na operação de uma instalação, visando a evitar a ocorrência de acidente ou minimizar as suas conseqüências (COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR, 2000); Vasques (2004) define a qualidade total como sendo uma forma de gestão que começa com o comprometimento da alta administração da organização, atinge e requer a participação de todos os seus componentes. Neste tipo de gestão, são utilizados o conhecimento e o aprimoramento contínuo dos processos de trabalho; incentiva-se o trabalho em equipe para atender às necessidades e expectativas dos clientes, observando sempre as ações da concorrência e do mercado. Para Juran (1995), a gestão pela qualidade total se assenta sobre as premissas da trilogia da melhoria da qualidade, do planejamento da qualidade e do controle da qualidade. Respaldado em suas pesquisas, ele coloca a melhoria da qualidade no topo das prioridades do gestor, seguido pelo planejamento e finalmente pelo controle de qualidade. A melhoria da qualidade é embasada no ciclo contínuo do PDCA (planejar – objetivos e métodos; executar – treinamento e execução; verificar comparar os objetivos e como os métodos são executados; e agir – soluções imediatas e aços futuras) de Deming. Segundo Kerzner (2010), esse ciclo encaixase plenamente nos princípios da gestão de projetos. Este entendimento conceitual é muito importante, principalmente quando a qualidade é aplicável a projetos complexos e/ou a área nuclear. Em um processo de licenciamento nuclear, os especialistas de qualidade da CNEN avaliam a consistência e a confiabilidade dos Programas de Garantia da Qualidade (PGQ) propostos pelo requerente, seus contratados principais e subcontratados, tendo como objetivo, a garantia da segurança das instalações nucleares. Este processo inclui análises críticas, visitas técnicas in loco e auditorias de qualidade nos programas propostos com o propósito de avaliar respectivas implementações. Dentre os requisitos implícitos mais relevantes, destaca-se a avaliação do grau de maturidade das culturas de qualidade e de segurança nuclear das empresas envolvidas. Neste processo está incluída a percepção e medição do comprometimento dos especialistas em garantia da qualidade, assim como dos demais profissionais envolvidos nos empreendimentos a serem licenciados. 22 2.2 PROGRAMA DE GARANTIA DA QUALIDADE Segundo a CNEN (2000), um Programa de Garantia da Qualidade (PGQ) é um documento, para fins de licenciamento, que descreve ou apresenta os compromissos para o estabelecimento do Sistema de Garantia da Qualidade de uma organização para atender aos requisitos e grau de segurança necessário para instalações nucleares. Esta autarquia federal disponibiliza aos requerentes ao licenciamento de instalações nucleares, a norma CNEN-NN-1.16: Garantia da Qualidade para a segurança de usinas nucleo-elétricas e outras instalações (2000). Seus objetivos são: a) determinar os requisitos a serem adotados pelo requerente, seus contratados principais e sub-contratados, no desenvolvimento e na implementação de seus respectivos PGQ aplicáveis aos empreendimentos a serem licenciados; e b) orientar a padronização de como os PGQ das empresas envolvidas, devem ser preparados e submetidos à CNEN. A norma CNEN-NN-1.16 (2000) é aplicável às atividades que influem na qualidade de itens importantes à segurança, desenvolvidas no gerenciamento do empreendimento em cada um dos seus diversos estágios (escolha de local, projeto, construção, comissionamento, operação e descomissionamento); e às organizações que executam estas atividades. Os Programas de Garantia da Qualidade para a segurança das instalações nucleares de cada uma das organizações envolvidas devem atender aos seguintes requisitos explícitos: a) organização (responsabilidades, autoridades e comunicações; interfaces organizacionais; e seleção e treinamento de pessoal); b) controle de documentos (preparação, análise e aprovação de documentos; liberação e distribuição de documentos; e controle de alterações em documentos); c) controle de projetos (medidas de controle de projeto; interfaces de projeto; verificação de projeto; e alterações de projeto); d) controle de aquisições (avaliação e seleção de fornecedores; e controle de itens e serviços adquiridos); e) controle de materiais (identificação e controle de materiais, peças e componentes; manuseio, armazenagem e embarque); f) controle de processos (que influem na qualidade, que não possam ser assegurada apenas pela inspeção dos itens. ex: soldagem, fundição, forjamento tratamento térmico, eletrodeposição, proteção contra corrosão, ensaios não destrutivos, análise química e ensaios mecânicos e de corrosão); g) controle de inspeção e testes (planos de inspeção e testes; calibração e controle de 23 equipamentos de teste e de medição; e situações das inspeções, testes e estado operacional de itens); h) controle de itens não-conformes (avaliação e destinação de itens não conformes); i) ações corretivas (estabelecer medidas para assegurar que condições adversas à qualidade; determinar a causa das condições adversas à qualidade se utilizando de métodos disciplinados de investigação de causas com o propósito de evitar repetição; registrar aos níveis apropriados de gerencia as condições significativas, adversas à qualidade, juntamente com as respectivas causas e ações corretivas adotadas); j) registros de garantia da qualidade (preparação dos registros; coleta, arquivo e preservação dos registros); e l) auditorias da qualidade (requisitos gerais; e programação). 2.2.1 Organização - Governança de projetos complexos Segundo Wideman (1991), um projeto complexo apresenta características específicas de regulamentações; raridade, restrições recursos (de humanos prazo; e de capital; materiais), legislações e multidisciplinaridade, complexidade tecnológica, administrativa e de objetivos das partes interessadas (stakeholders). Desta forma, torna-se necessário um gerenciamento integrado das disciplinas que facilite seu monitoramento e o processo de tomada de decisão dos gestores. Para Almeida (2011), a governança organizacional é responsável por estabelecer os limites de poder, regras de conduta e protocolos que as organizações usam para gerenciar o progresso das suas atividades em direção ao alcance dos seus objetivos estratégicos. Sendo assim, uma estrutura de governança é imprescindível para dar poder, priorizar, definir objetivos, fornecer diretrizes e dar suporte às iniciativas de gerenciamento de projetos dentro das empresas. Andrade e Rossetti (2006) e Xavier et al. (2010) definem as partes interessadas do projeto como sendo pessoas, grupos ou instituições, com interesses legítimos nas empresas, que afetam ou são afetados pelas diretrizes definidas, objetivos, ações praticadas e resultados alcançados no projeto. De acordo com Xavier et al. (2010), elas possuem diversos níveis de responsabilidade e autoridade, podendo entretanto mudar durante o ciclo de vida do projeto. Já Andrade e Rossetti (2006) destacam as dificuldades conceituais e metodológicas em delimitar a responsabilidade e a ação das organizações. 24 Segundo Slack et al. (2006), o ambiente de projetos é a soma de todos os fatores que podem afetar o projeto durante sua vida. Eles incluem os ambientes geográficos (geográficos e climáticos), social (cultural), político (governamentais e regulatórios), econômico, interno e comercial. Neste contexto, também estão inseridas as partes interessadas do projeto. Para Dinsmore (2010), atualmente os projetos estão considerando de maneira mais responsável as influências de seus resultados sobre as conseqüências ao meio ambiente, às pessoas e à economia da região afetada, trazendo soluções que causem um menor impacto. De acordo com Melo (2012), a governança em gerenciamento de projetos afeta todas as áreas da empresa que são relacionadas com as atividades de projetos. Neste sentido, as empresas devem focar e investir de forma integrada nos principais pilares do gerenciamento profissional de projetos, a saber: governança, tecnologia (ferramentas), metodologia (processos e metodologia) e pessoas capacitadas (técnica e comportamento). Somente desta maneira é possível aumentar a probabilidade de sucesso nos resultados efetivos do gerenciamento de projetos (ALMEIDA, 2011). O Guia dos conhecimentos em gerenciamento de projetos (Project Management Body of Knowledge) – PMBOK6 (2013) do Instituto de Gerenciamento de Projetos (Project Management Institute) – PMI7 define o gerenciamento de projetos como sendo a aplicação de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de atender aos seus requisitos. Para Kerzner (2010), a gestão de projetos é uma cultura, nunca um conjunto de normas e procedimentos. ______________________ 6 PMBOK - Guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Project Management Body of Knowledge) reflete a colaboração e o conhecimento de gerentes de projetos na ativa. Esse padrão com reconhecimento mundial fornece aos gerentes de projetos as ferramentas essenciais para exercer o gerenciamento de projetos e entregar resultados organizacionais. Disponível em: http://marketplace.pmi.org/Pages/ProductDetail.aspx?GMProduct=00101488301. Acesso em: 11 julho 2014. 7 PMI - Instituto de Gerenciamento de Projetos (Project Management Institute) - é a uma das maiores associações para profissionais de gerenciamento de projetos. Com mais de 700.000 membros, auxilia profissionais certificados e voluntários em praticamente todos os países do mundo a aumentar o sucesso das suas empresas, evoluírem em suas carreiras e tornar a profissão mais madura. Disponível em: http://brasil.pmi.org/brazil/AboutUS/WhatisPMI.aspx. Acesso em: 11 julho 2014. 25 A criação e colocação em prática de uma cultura de gerenciamento de projetos é um processo demorado, porém destruí-la e abandoná-la é algo que pode acontecer a qualquer momento (KERZNER, 2010). Segundo Possi et al. (2006) e Vargas (2008) a maturidade da organização em relação ao seu sistema de gerenciamento de projetos, sua cultura, seu estilo gerencial, sua estrutura organizacional e seu escritório de projetos são os principais aspectos dessas estruturas que influenciam o projeto. Algumas organizações chegam a desenvolver cultura e estilo únicos que refletem suas diretrizes de valor, suas normas internas, crenças e expectativas que são refletidas no seu conjunto de políticas, de relação com o poder, de relação hierárquica e outros fatores. Para Almeida (2011), um projeto com qualidade é aquele que é concluído em conformidade aos requisitos, especificações e adequação ao uso. Neste contexto, o gerenciamento da qualidade envolve os processos cujo objetivo é assegurar que o projeto será concluído dentro da qualidade desejada. O PMBOK (2013) declara que projetos de alta qualidade entregam o produto, serviço ou resultado solicitado dentro do escopo, no prazo e dentro do orçamento. A relação entre esses fatores ocorre de tal forma que se algum dos três fatores mudarem, pelo menos um dos outros fatores provavelmente será afetado, colocando em risco, ainda, a sua qualidade. Para Vieira (2010), os conceitos básicos relacionados ao gerenciamento da qualidade adotados pelo PMI são compatíveis com a abordagem adotada pela International Organization for Standardization (ISO). 2.2.2 Integração de processos complementares de gestão Segundo Kerzner (2010), as empresas que reconhecem a sinergia e a viabilidade de integrar o gerenciamento de projetos com os outros processos de gestão, são as que alcançam mais rapidamente a maturidade e a excelência em gestão. Elas adotam uma metodologia única, padrão, baseada em processos de gestão integrados. Sejam quais forem os processos selecionados, eles são alinhados e integrados à prática da gestão de projetos. Neste sentido, os princípios da engenharia simultânea8 facilitam esta integração. _____________________ 8 Engenharia simultânea é a execução paralela de diferentes tarefas de desenvolvimento, com equipes multidisciplinares, no intuito de atingir, ao tempo e custo mínimos, um produto ótimo em relação à funcionalidade, qualidade e produtividade (ROSTALDAS, 1995). 26 A única pré-condição é não tratar os novos processos como funções independentes. Empresas com metodologias diferentes para cada processo acabam duplicando o trabalho e os gastos, podendo inclusive, dobrar as suas estruturas organizacionais (KERZNER, 2010). Um planejamento da qualidade é fundamental para a gestão de projetos, não sendo surpresa alguma o fato de que as grandes empresas procurem a integração da gestão da qualidade com a gestão de projetos. Atualmente, as empresas com nível de excelência integram os cinco principais processos complementares de gestão (gestão de projetos, gestão da qualidade; engenharia simultânea; gestão de riscos; e gestão das mudanças). Entretanto, nenhum desses processos é novo; a novidade é a importância a eles atribuída (KERZNER, 2010). Para Kerzner (2010), dificilmente duas empresas irão gerenciar projetos da mesma forma, pois a implantação da gestão por projetos deve ter por base a cultura e particularidades das organizações e contratos. Desta maneira, a probabilidade dos gestores encontrarem um modelo de gestão pronto ou disponível em “prateleira”, que possa ser implementado, sem adaptações, é quase nula. Para Lima (2012), os modelos de gestão devem ser específicos e customizados para cada um dos Empreendimentos, a partir de suas características, cultura e particularidades das empresas e respectivos contratos. 2.2.3 Organização – Responsabilidades e autoridades Segundo a norma CNEN-NN-1.16 (2000), o requerente pode delegar a outras organizações a tarefa de estabelecer e implementar partes do Sistema de Garantia da Qualidade (SGQ) para o empreendimento a ser licenciado. Entretanto, ele continuará integralmente responsável, perante a CNEN, pela eficácia do mesmo, sem prejuízo das suas responsabilidades contratuais. No estabelecimento e implementação de qualquer SGQ, deve ser observado que a responsabilidade básica para a obtenção da qualidade na realização de determinada atividade é daqueles que executam essa atividade, sendo que os gerentes, os executores do trabalho e os verificadores do trabalho, são conjuntamente responsáveis por contribuir para que os padrões especificados sejam obtidos. 27 A alta-administração do empreendimento é responsável por proporcionar suporte adequado à efetiva implementação dos SGQ e por demonstrar o seu comprometimento com o sucesso dessa implementação. Nas interfaces de atividades das organizações participantes que influem na qualidade, devem ser cumpridos os seguintes requisitos: a) definir de forma clara as responsabilidades das organizações envolvidas; b) estabelecer medidas apropriadas para assegurar as interfaces e a coordenação entre as organizações; c) prover meios de comunicação entre as organizações envolvidas; d) estabelecer a comunicação de informações essenciais por meio de documentação apropriada; e e) identificar o tipo de documentos, fornecendo uma lista de distribuição. 2.2.4 Organização – Seleção de pessoal A norma CNEN-NN-1.16 (2000) estabelece a necessidade de serem desenvolvidos planos para seleção e treinamento de pessoal para executar atividades que influem na qualidade. Para o PMI (2013), o gerenciamento dos recursos humanos é composto pelos seguintes processos: a) desenvolver o plano de recursos humanos; b) contratar ou mobilizar a equipe do projeto; c) desenvolver a equipe do projeto; e d) gerenciar a equipe de projetos. Segundo North (2010), freqüentemente os gestores utilizam os companheiros de trabalho e até amigos particulares na hora de definir as equipes de projetos. Muitas vezes, sem saber se, de fato, são os melhores profissionais para o projeto. A descrição clara e transparente das competências dos colaboradores é um importante recurso para nos capacitar na identificação e montagem da melhor equipe para um determinado projeto. Os especialistas se distinguem mediante o profundo conhecimento de suas áreas específicas e cooperação ativa. As atividades destes profissionais além de exigir conhecimentos específicos se modificam continuamente. Eles preferem problemas complexos, progressos e atualização profissional constante, liberdade na busca de novas soluções, bom equipamento e local de trabalho, laboratórios e o reconhecimento público para as suas realizações, entretanto, detestam regras que restringem sua liberdade, tarefas rotineiras e burocráticas. Segundo North (2010), é recomendável que os gerentes das médias gerências (especializadas), responsáveis pelas soluções dos projetos, sejam especialistas experientes. Os membros desse 28 grupo costumam ser desvalorizados, porém os conhecimentos que possuem são muito valiosos. 2.2.5 Organização – Treinamento de pessoal O pessoal responsável pela execução de atividades que influem na qualidade deve ser qualificado com base na escolaridade, experiência e proficiência necessárias para realizar as tarefas específicas que lhe forem atribuídas. Neste sentido, devem ser estabelecidos programas de treinamento e procedimentos para assegurar que a proficiência do pessoal seja obtida e mantida, com emissão dos respectivos certificados comprobatórios (COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR, 2000). North (2010) alerta que, é comum ver profissionais inscritos em seminários ou cursos que pouco ou nada tem a haver com o desenvolvimento individual ou do seu grupo de trabalho. A solução de tais problemas se localiza fundamentalmente na identificação das competências e das pessoas que as possuem. Quando conhecemos as competências de nossos colaboradores, somos capazes de identificar com presteza as lacunas de conhecimento, possibilitando prepararmos com antecedência treinamentos mais eficazes. A capacitação e a atualização de saberes específicos somente têm êxito quando existe uma clara relação entre as atividades de formação e os objetivos estratégicos da empresa. Entretanto, normalmente as empresas não sabem onde os funcionários altamente especializados e qualificados desempenham melhor as suas funções. Somente quando não contamos mais com eles tomamos consciência da nossa perda. A partir da descrição das competências, podemos oportunamente identificar quem é o especialista que possui os conhecimentos críticos de que a nova geração de profissionais necessita. (NORTH, 2010). 2.3 LICENCIAMENTO DE INSTALAÇÕES NUCLEARES A Comissão Nacional de Energia Nuclear (2000) define o licenciamento como sendo um processo através do qual ela, por meio de avaliações e verificações das condições de segurança de uma instalação, concede, modifica, limita, prorroga, suspende ou revoga uma licença ou autorização de construção, operação ou descomissionamento da instalação. 29 Como visto anteriormente, a legislação vigente no Brasil, estabelece que todas as instalações nucleares do país devem ser licenciadas pela CNEN. Este processo é descrito pela norma CNEN-NE-1.04: Licenciamento de instalações nucleares (2002) e envolve, necessariamente, a solicitação pelo requerente, e a emissão pela CNEN, dos seguintes atos: a) aprovação do local; b) licença de construção de instalações nucleares; c) autorização para utilização de materiais nucleares; d) autorização para operação inicial; e) autorização para operação permanente e f) cancelamento de autorização para operação. O requerimento de licença de construção deve incluir informações sobre o cronograma preliminar da obra contendo os prazos estimados para término da construção pretendida, e ser acompanhado dos seguintes documentos: “Plano preliminar de proteção física” e um “Relatório preliminar de análise e segurança” (RPAS). O RPAS deverá conter os Programas de Garantia da Qualidade para a segurança das instalações nucleares a serem licenciadas. O PGQ deve ser aplicado às atividades de gerenciamento, projeto, fabricação, aquisição, construção civil e montagem eletromecânica de itens importantes à segurança da instalação. Os demais documentos a serem incluídos no relatório RPAS são: a) qualificações técnicas do requerente e seus contratados principais; b) descrição e análise de segurança do local destinado à instalação; c) descrição e análise da instalação; d) projeto preliminar da instalação; e) análise preliminar e avaliação do projeto e desempenho de itens da instalação, com o objetivo de avaliar o risco para a saúde e segurança da população; f) descrição e justificativa da escolha das variáveis, condições ou outras características; g) planos preliminares de treinamento do pessoal a ser envolvido na operação e na condução das operações; h) caracterização dos itens da instalação que requeiram pesquisa e desenvolvimento; i) identificação dos riscos potenciais para funcionamento de itens importantes à segurança; j) planos preliminares para procedimentos em situações de emergência; l) descrição dos sistemas de controle de liberação de efluentes e rejeitos radioativos; e m) descrição do plano preliminar de proteção contra incêndio. Nos licenciamentos nucleares, os especialistas da qualidade da CNEN avaliam a consistência, a confiabilidade e a efetiva implementação dos “Programas de Garantia da Qualidade” propostos pelo requerente, contratados principais e subcontratados. Este processo inclui análises críticas, visitas técnicas in loco, e auditorias de qualidade nos programas propostos. 30 3 O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS (PROSUB) Segundo Corrêa (2009), foi no governo Geisel que se idealizou a construção do submarino de propulsão nuclear, a partir da idéia e fomentação da viabilidade da construção pelo almirante Othon. Entretanto, apenas no governo Figueiredo esse processo obteve os primeiros recursos e os primeiros resultados. Como visto anteriormente, atualmente a Marinha do Brasil (MB) possui dois grandes programas ligados diretamente à obtenção do submarino com propulsão nuclear: a) o Programa nuclear da Marinha (PNM), de responsabilidade do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), que engloba tanto o domínio das tecnologias do ciclo de combustível nuclear, quanto o desenvolvimento de um “Laboratório de geração de energia núcleo elétrica” (LABGENE), que inclui o reator nuclear; e b) o Programa de desenvolvimento de submarinos (PROSUB), sob a responsabilidade da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN). O “Programa de desenvolvimento de submarinos” (PROSUB), que está alavancando o desenvolvimento do submarino com propulsão nuclear, é o resultado de um acordo entre os governos brasileiro e francês, que possibilitou a assinatura de um conjunto de contratos entre a MB e a empresa francesa DCNS – Direction des Constructions Navales Services em dezembro de 2008. Nestes contratos, estão previstos a transferência de tecnologia e a prestação de serviços técnicos especializados desta empresa para a capacitação da Marinha para: a) desenvolver a concepção, detalhamento e construção de um estaleiro e base naval de submarinos; b) construir quatro submarinos convencionais (propulsão diesel-elétrico) no Brasil; c) desenvolver os projetos de concepção e detalhamento do projeto de um submarino de propulsão nuclear (exceto a planta nuclear, de responsabilidade da MB) a ser construído no Brasil; e fornecer torpedos para os submarinos a serem construídos. Torna-se pertinente esclarecer que nestes contratos não estão previstos a transferência de tecnologia para a construção de instalações nucleares nem para o desenvolvimento da propulsão para o submarino nuclear brasileiro. O PROSUB representa a demonstração prática da atuação do poder nacional no desenvolvimento, segurança e defesa nacional nas 5 expressões utilizadas pela doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG) a saber: política; econômica; científica tecnológica; psico-social e militar. 31 Segundo o Comandante da Marinha (2014), este programa não se limitará aos 4 submarinos convencionais e ao submarino de propulsão nuclear previstos no acordo com a empresa DCNS. A Marinha do Brasil trabalha com a expectativa de construir pelo menos 15 submarinos convencionais e 6 submarinos com propulsão nuclear. 3.1 A GOVERNANÇA DO PROSUB A Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) da Diretoria Geral de Material (DGMM) é responsável pela coordenação do Programa de desenvolvimento de submarinos – PROSUB. Ela foi criada em setembro de 2008 por uma portaria do Comandante da Marinha, tendo como atribuições: a) coordenar o projeto de construção do estaleiro naval; b) coordenar o projeto de construção da base naval de submarinos; c) coordenar o projeto de detalhamento do submarino convencional; d) coordenar o projeto da construção do submarino com propulsão nuclear. A Governança do PROSUB conta ainda com a participação da própria Diretoria Geral de Materiais (DGMM), da Secretaria Geral da Marinha (SGM), da Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) representando a Marinha do Brasil, do Consórcio Baía de Sepetiba (CBS), da empresa DCNS, da Construtora Norberto Odebrecht (CNO) e da Itaguaí Construções Navais (ICN). Na estrutura para a governança do PROSUB, as empresas atuam em comitês, a saber: comitê de acompanhamento do PROSUB; comitê de controle e fiscalização do PROSUB; e comitê especial ICN, no qual a EMGEPRON representa a Marinha com direito a “golden share”. 3.1.1 A Governança da COGESN A Coordenadoria Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarinos com Propulsão Nuclear (COGESN) faz parte da estrutura da Diretoria Geral do Material (DGMM), diretamente ligada ao Comando da Marinha. A governança da COGESN é definida por portarias da DGMM. Tais portarias atualizam o regimento interno da COGESN, no qual é definida a estrutura organizacional, as atribuições, autoridades e responsabilidades do coordenador geral e do coordenador executivo; das gerências dos Empreendimentos Modulares para a obtenção: a) da infraestrutura EBN para construção e manutenção de 32 submarinos (GEM-18); b) do submarino de propulsão nuclear (GEM-19); c) dos submarinos convencionais (GEM-20); e d) da gerência administrativo-financeira; assim como das suas respectivas estruturas, que de alguma forma influem na qualidade das atividades vinculadas aos empreendimentos do PROSUB. 3.1.1.1 Empreendimento Modular para a obtenção da infra-estrutura EBN para a construção e manutenção de submarinos A infra-estrutura EBN (estaleiros e base naval) para a construção e manutenção de submarinos (figura 4) é composta pelas seguintes instalações convencionais: a) Unidade de fabricação de estruturas metálicas (UFEM); b) Estaleiros (construção e manutenção) da área sul; e c) base naval de submarinos (norte e sul). As áreas norte e sul são interligadas por um túnel. Estas instalações por serem convencionais, não são submetidas aos licenciamentos nucleares. Entretanto, na área sul, as instalações do complexo radiológico, diques e cais, por serem nucleares, são submetidas aos licenciamentos nucleares previstos pelas normas da CNEN (2002). Para conduzir a construção dos estaleiros e base naval, o gerente do Empreendimento Modular 18 - EBN, atualmente conta com o apoio técnicoadministrativo de 2 (dois) fiscais de contrato e 8 (oito) gerências especializadas. 3.1.1.1.1 Fases do Empreendimento Modular 18 - EBN Na construção das instalações convencionais e nucleares dos estaleiros e base naval, a gerência do Empreendimento Modular 18 (GEM-18) é responsável pela coordenação e fiscalização dos projetos desenvolvidos e executados pela sua contratada principal, a Construtora Norberto Odebrecht (CNO). a) Construção das instalações convencionais Para as tarefas de fiscalização da construção das instalações convencionais, a GEM-18 conta com o apoio técnico da Diretoria de Obras Civis da Marinha (DOCM), da Diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha (DCTIM) e demais organizações militares especializadas, quando aplicável; e b) Construção das instalações nucleares Para as tarefas de fiscalização da construção das instalações nucleares: complexo radiológico (abriga uma piscina de elementos combustíveis irradiados, sala de controle e uma unidade de tratamento de rejeitos), dois diques secos e três 33 cais nucleares, a GEM-18 conta com o apoio técnico do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e da Diretoria de Obras Civis da Marinha (DOCM) e demais organizações militares especializadas, quando aplicável. Como todas as instalações nucleares do país, elas são submetidas aos processos de licenciamentos previstos pela CNEN (2002). FIGURA 4: UFEM; estaleiros de construção e de manutenção (área sul); complexo radiológico, cais e diques (área sul); base naval de submarinos (norte e sul). Fonte: Programa de Garantia da Qualidade da COGESN-EBN (2013). A operação das instalações convencionais do EBN tem o propósito de construir os submarinos convencionais e nucleares (exceto a montagem e manutenção da propulsão nuclear realizado nas instalações nucleares). 34 3.1.1.2 Empreendimento Modular 20 : para a obtenção dos submarinos convencionais A Gerência do Empreendimento Modular 20 (GEM-20) é responsável pela coordenação e fiscalização da construção dos submarinos convencionais. As empresas DCNS e Itaguaí Construções Navais (ICN) são as contratadas principais responsáveis respectivamente pelo desenvolvimento e execução dos projetos dos submarinos. Para as tarefas de fiscalização da construção das instalações convencionais, a GEM-20 conta com o apoio técnico da Diretoria de Engenharia Naval (DEN), da Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM) e demais organizações militares especializadas, quando aplicável. Os processos operacionais das instalações convencionais não são submetidos aos licenciamentos nucleares da CNEN. 3.1.1.3 Empreendimento Modular 19: Obtenção dos submarinos nucleares A operação das instalações nucleares: Complexo radiológico, diques e cais do EBN ocorrem com o propósito de montar e realizar a manutenção da propulsão dos submarinos nucleares. A Gerência do Empreendimento Modular 19 (GEM-19) é responsável pela coordenação e fiscalização da construção dos submarinos nucleares. O desenvolvimento dos projetos do submarino nuclear e da sua propulsão nuclear é de responsabilidade da GEM-19 e CTMSP respectivamente. A empresa Itaguaí Construções Navais (ICN) é a contratada principal responsável pela construção dos submarinos nucleares. A GEM-19 conta com o apoio técnico do CTMSP para o desenvolvimento das atividades de projetos. 35 4 ANÁLISE CRÍTICA DA COLETA DE DADOS A partir da coleta de dados obtida nas pesquisas bibliográfica e documental, pode-se presumir que, com a crescente complexidade dos projetos e a diversidade das práticas de gerenciamento de projetos propostas por instituições e organizações, os gestores precisam realizar uma criteriosa avaliação sobre a compatibilidade de tais práticas com a cultura da empresa, características e particularidades contratuais dos empreendimentos, assim como desenvolver sistemas de gestão customizados e específicos para as respectivas necessidades. Para iniciar uma customização adequada, é importante interpretar e aplicar os conceitos apresentados no referencial teórico para a gestão de empreendimentos nucleares. Neste sentido, podemos analisar as seguintes situações: a) no licenciamento nuclear, entende-se que um projeto com qualidade desejada é atendido quando a CNEN autoriza a execução dos projetos propostos; b) o risco à qualidade está relacionado à segurança nuclear, um dos principais requisitos avaliados pela CNEN nos processos de licenciamentos nucleares; c) em uma análise crítica do PMBOK (2013) e da norma CNEN-NN-1.16 (2000), pode-se concluir que os conceitos de gestão de projetos do PMI, são compatíveis com os conceitos de garantia da qualidade adotados pela CNEN; e d) os processos de gerenciamento dos recursos humanos do PMI estão plenamente alinhados aos requisitos explícitos e implícitos da norma CNEN-NN-1.16 (2000). Com o propósito de corroborar com os gestores de empreendimentos de instalações nucleares, o autor apresenta na figura 5, um modelo teórico de gestão para orientar a implementação de Programas de Garantia da Qualidade, à luz do referencial teórico e experiências profissionais pessoais. Neste modelo de gestão, a governança de projetos complexos e a infra-estrutura gerencial são responsáveis pela integração dos elementos relacionados com: o planejamento estratégico; a estrutura organizacional; a definição de responsabilidades e atribuições; os procedimentos administrativos e executivos; os métodos e processos; e a alocação dos recursos materiais e humanos. O Programa de Garantia da Qualidade (PGQ) do empreendimento a ser licenciado é composto pelos seguintes documentos estratégicos (nível 1): a) PGQ do requerente (master); b) PGQ da contratada principal; e c) PGQ das sub-contratadas 36 (projetistas, fabricantes, montadoras empreiteiras, empresas especializadas, especialistas e fornecedores). O PGQ master do requerente além de definir as diretrizes internas para os seus macro-processos estabelece as diretrizes para a elaboração do PGQ da sua contratada principal e demais partes envolvidas. Já os PGQs da contratada principal e das subcontratadas, apesar de independentes, devem ser alinhados às diretrizes estabelecidas pelo PGQ master, estando sujeitos as auditorias de qualidade realizadas pelo requerente contratante. O PGQ master deverá definir: a) as responsabilidades e o escopo de cada uma das organizações envolvidas; b) as comunicações entre as partes envolvidas; c) as diretrizes para a elaboração dos seus procedimentos normativos internos (do próprio requerente); e d) as diretrizes para a elaboração do PGQ do contratado principal e subcontratados. As diretrizes para cada um dos requisitos explícitos estabelecidos pela CNEN devem ser detalhadas, pelo requerente, por meio de “instruções normativas” complementares (nível tático) ao PGQ master. A partir destes documentos, a contratada principal integradora, as subcontratadas, e as empresas verificadoras de conformidades (órgão de supervisão técnica independente – OSTI e/ou organizações especializadas) irão adequar os seus respectivos Sistemas de Garantia da Qualidade para atender as normas da CNEN, e as demandas do empreendimento do requerente contratante. Os Programas de Garantia da Qualidade (PGQ) das partes envolvidas devem descrever como os requisitos da norma CNEN-NN-1.16 (2000) serão atendidos quanto à: organização; controle de documentos; controle de projeto; controle de aquisições; controle de materiais; controle de processos; controle de inspeção e testes; controle de itens não-conformes; ações corretivas; registros de garantia da qualidade; e auditorias da qualidade. No modelo proposto, é importante destacar o papel da contratada principal como sendo responsável pela coordenação e integração das atividades das subcontratadas (projetistas, fabricantes, montadoras empreiteiras, empresas especializadas, especialistas e fornecedores). Desta forma, a contratada principal passa a ser denominada como sendo a contratada principal integradora. Neste conceito, a empresa integradora também é responsável pela seleção/qualificação 37 das subcontratadas, assim como pela identificação e mitigação de eventuais lacunas de serviços subcontratados. FIGURA 5: Modelo teórico para o Programa de Garantia da Qualidade para a segurança de instalações nucleares de empreendimentos Fonte: Próprio autor. Cabe alertar que, em projetos complexos e/ou nucleares, a utilização do conceito de empresa “âncora” como contratada principal, não atenderá as necessidades de integração dos empreendimentos. Neste conceito, não há responsabilidade explícita desta empresa sobre a coordenação e integração das atividades das empresas subcontratadas, resultando em um perigoso “gap” de responsabilidades. ______________________ 9 Empresa Âncora: é um conceito utilizado para designar empresas que desempenham papel de liderança para um grupo de pequenas e médias empresas fornecedoras de produtos e serviços para ela. As empresas-âncora são caracterizadas, entre outros aspectos, por: posicionamento estratégico no mercado, atitude dinâmica e proativa em relação à gestão e à inovação tecnológica, poder de barganha para estabelecimento de modos de governança mais eficientes em suas relações com clientes e fornecedores. Disponível em: http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/acao_transversal/documentos/FAQ%20%20parques%202010.pdf . Acesso em: 03/08/14. 38 As sub-contratadas são as empresas projetistas, fabricantes, montadoras empreiteiras, empresas especializadas, especialistas e fornecedores, previamente selecionadas e qualificadas pela contratada principal integradora, que tenham sido aceitas pelo requerente contratante. Para os projetos com risco à segurança nuclear, os serviços prestados pelas subcontratadas são submetidos à avaliação da CNEN para autorização, após previa aprovação pela contratada principal integradora e aceitação pelo requerente contratante. Já as empresas verificadoras de conformidades são os Órgãos de supervisão técnica independente (OSTI) e/ou organizações especializadas previamente autorizadas pela CNEN para realizar verificações independentes das conformidades de projetos e serviços prestados. A documentação dos Programas de Garantia da Qualidade das partes envolvidas deve ser complementada pelos seguintes documentos: a) táticos (nível 2): procedimentos normativos, planos de gerenciamento e instruções normativas; b) operacionais (nível 3): procedimentos operacionais e os planos de inspeções e testes (PIT); e c) operacional executivo (nível 4): registros da qualidade (figura 6). As instruções normativas (IN) elaboradas pelo requerente contratante têm como propósito detalhar as orientações estabelecidas no PGQ master, para as demais partes envolvidas. Sendo que os procedimentos normativos (PN) são de uso interno do requerente, não tendo aplicação para a contratada principal e suas subcontratadas. FIGURA 6: Hierarquia proposta para a documentação do Sistema de Garantia da Qualidade do PGQ master (requerente) Fonte: Próprio autor. 39 Toda a documentação dos Programas de Garantia da Qualidade das partes envolvidas deve ser aprovada internamente por especialistas responsáveis pela preparação, análise e aprovação dos documentos. Somente os PGQs aprovados internamente poderão ser encaminhados para a avaliação das instâncias superiores, a saber: a) os PGQ das subcontratadas são submetidos à aprovação da contratada principal integradora. Os PGQs aprovados são encaminhados para a aceitação pelo requerente contratante; b) os PGQs da contratada principal integradora são submetidos à aceitação do requerente contratante. Os PGQs aceitos são encaminhados para avaliação da CNEN; e c) o PGQ do requerente é encaminhado para a CNEN para avaliação. O escopo do processo de avaliação e autorização dos Programas de Garantia da Qualidade pela CNEN abrange o desenvolvimento de projetos (conceitual, básico e executivo); a execução dos projetos (construções de instalações, fabricações e montagens de equipamentos); a operação das instalações licenciáveis e respectivos equipamentos; e o descomissionamento do empreendimento. Este processo não é restrito à avaliação das documentações pertinentes, estando também incluído, as avaliações in loco, seja por visitas ou por auditorias da qualidade, com o propósito de mensurar a maturidade e a efetiva implementação dos Sistemas de Gestão da Qualidade proposto pelas partes envolvidas. No processo de implementação do PGQ de um empreendimento, é necessário evidenciar objetivamente à CNEN o alinhamento e a integração dos programas de todas as partes envolvidas (figura 5). Entretanto, é imprescindível que esta integração preserve uma lógica que seja consistente quanto à segurança nuclear, disponibilizando redundâncias na verificação de conformidades (figura 7). Segundo os requisitos implícitos da CNEN, quanto mais redundâncias ocorrerem, mais segurança o SGQ do Empreendimento oferecerá. Neste sentido, o modelo de gestão proposto pelo autor na figura 7, possibilita de 4 a 5 níveis de verificação da conformidade para os projetos e serviços prestados, antes de serem apresentados à CNEN para avaliação e autorização. Esta variação de níveis de verificação está relacionada ao risco nuclear. Para os projetos e serviços classificados como sendo de alto risco à segurança nuclear, é acrescida uma avaliação técnica adicional de um órgão de supervisão técnica independente (OSTI) ou especializadas em verificação da conformidade de alta complexidade. de empresas 40 FIGURA 7: Modelo teórico da hierarquia dos níveis de verificação das conformidades Fonte: Próprio autor. Neste modelo de gestão, quando aplicável a fase de projetos, o primeiro nível de verificação é realizado internamente pelas sub-contratadas projetistas, por especialistas responsáveis pela preparação, análise e aprovação dos documentos de projeto. Já o segundo nível de verificação é realizado pela contratada principal integradora. Todos os projetos elaborados pelos sub-contratados projetistas deverão ser aprovados pela contratada principal projetista, antes de serem encaminhados para a aceitação do requerente. Nesta situação, a avaliação é realizada por especialistas e a aprovação técnica por seu gerente. O terceiro nível de verificação de conformidade é realizado por empresas verificadoras de conformidades, responsáveis pela avaliação e aceitação técnica dos documentos de projetos. A avaliação é realizada por especialistas e a aceitação técnica por seu gerente. No caso específico do Complexo radiológico, diques e cais do PROSUB, estas atividades são realizadas pelas organizações militares especializadas (Centro Tecnológico em São Paulo e Diretoria de Obras Civis da Marinha). Nos projetos classificados como sendo de elevado risco à segurança nuclear, o modelo prevê um nível complementar de verificação da conformidade. Nesta situação, a verificação é realizada por um órgão de supervisão técnica independente 41 (OSTI) credenciado, ou por empresas empresa especializadas independentes independente que sejam autorizadas pela CNEN. O último nível de verificação de conformidade (quarto ou quinto) é realizado realiz pelo próprio requerente, como contratante, coordenador geral e responsável legal pelo empreendimento. Neste nível de verificação, os especialistas da gerência ger da garantia da qualidade e da gerência ger da área nuclear, têm m o propósito de validar os relatórios das empresas verificadoras de conformidades e/ou da OSTI, podendo inclusive acrescentar, quando necessário, comentários adicionais. 4.1 .1 INTEGRAÇÃO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE DE EMPREENDIMENTOS COMPLEMENTARES COMPLEMENTA Na prática, a integração dos Programas de Garantia da Qualidade pode ser bem mais complexa do que apenas integrar as partes envolvidas nos projetos de um Empreendimento. No PGQ para o complexo radiológico, cais e diques do Empreendimento Modular para a obtenção do estaleiro e base ase naval (EBN) do PROSUB, além de ser necessário integrar as interfaces internas (entre as empresas envolvidas), torna-se se necessário integrar as interfaces externas com as dos empreendimentos complementares compl (figura 8).. São elas: o Empreendimento Modular da obtenção do submarino de propulsão nuclear (SNBR); o Laboratório aboratório de geração nucleo-elétrica (LABGENE), (LABGEN do Programa Nuclear da Marinha;; e até mesmo com o Empreendimento Modular de Obtenção de submarinos convencionais (SBR). PGQs COMPLEXO RADIOLÓGICO, DIQUES e CAIS (EBN) PGQs SUBMARINO NUCLEAR (SNBR) PGQs LABGENE PGQs SUBMARINOS CONVENCIONAIS (SBR) FIGURA 8: Interfaces do Empreendimento EBN com o LABGENE, SNBR e SBR Fonte: Próprio autor. 42 Tendo em vista que cada um destes empreendimentos possui características e particularidades contratuais específicas, inclusive quanto às partes envolvidas (requerentes, contratados principais, empresas verificadoras de conformidade e subcontratadas), torna-se necessário a implementação de Programas de Garantia da Qualidade específicos para cada um deles. Entretanto, cabe esclarecer que, apesar de possuírem Sistemas de Garantia de Qualidade independentes, os gestores de qualidade dos empreendimentos devem buscar em conjunto, um alinhamento entre os respectivos PGQ, pois além de suas interfaces, eles apresentam conhecimentos complementares que devem ser compartilhados entre si. Outro fator relevante a ser considerado neste processo, é a necessidade de adequar o SGQ do Empreendimento Modular para a obtenção dos submarinos convencionais aos requisitos da CNEN. Apesar dos submarinos convencionais não estarem sujeitos aos licenciamentos nucleares ou exigência contratual, é interessante prever esta adequação como treinamento para os profissionais envolvidos, pois muitos deles, também serão responsáveis pela construção do submarino de propulsão nuclear. 4.2 ÓBICES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE PARA A SEGURANÇA DE INSTALAÇÕES NUCLEARES Como visto anteriormente, os processos de implementação e aceitação pela CNEN dos Programas de Garantia da Qualidade é longo e complexo, envolvendo uma gestão multi-disciplinar e coordenada. Entre os diversos óbices para a implementação de Programas de Garantia da Qualidade destacam-se: a) a adequação das culturas organizacionais de empresas convencionais aos requisitos implícitos e explícitos das normas da CNEN, para o Sistema de Gestão da Qualidade e segurança nuclear; b) envolvimento e comprometimento da alta administração das empresas envolvidas nos processos de adequação das culturas organizacionais; c) seleção e manutenção de equipe composta por especialistas multidiciplinares (qualidade em projetos, segurança nuclear, desenvolvimento e execução de projetos de construção civil e equipamentos) ao longo de todas as etapas do empreendimento a ser licenciado; d) produção - captação e contratação de especialistas em construção de submarinos pela contratada principal integradora (empresa ICN). Atualmente as atividades produtivas da construção de submarinos são realizadas pelos engenheiros e 43 técnicos aposentados (carreira de tecnologia militar - MB), oriundos da construção dos submarinos IKL, classe “TUPI”. Com a falta de oxigenação de novos profissionais para a carreira de tecnologia militar (MB), esta empresa encontrará grandes dificuldades em contratar especialistas com expertise em construir submarinos. Cabe alertar que o processo de especialização de engenheiros e técnicos em áreas como a de sistemas de combate, dura no mínimo cinco anos, podendo em alguns casos, chegar a 10 anos; e) os licenciamentos nucleares são inéditos para as instalações nucleares do complexo radiológico, diques e cais; assim como para o submarinho de propulsão nuclear; f) manter o processo de licenciamento para a construção das instalações nucleares e do submarino de propulsão nuclear compatível com os cronogramas contratuais; g) projetos - pouca expertise nacional no processo de desenvolvimento de projetos de submarinos; h) projetos – escassez de projetistas especializados em submarinos; i) ausência do processo de transferência de tecnologia para o desenvolvimento dos projetos da propulsão nuclear; j) integração de concepção de projetos de origens diferentes (tecnologia da empresa DCNS para o desenvolvimento da plataforma e sistemas de combate com tecnologia de Aramar para a propulsão nuclear); e l) garantir para o PROSUB os recursos financeiros para o PROSUB compatíveis com as necessidades de um Programa inédito no país. 44 5 CONCLUSÕES Para os empreendimentos nos quais estão inseridas as questões nucleares, recomenda-se que os seus gestores integrem harmoniosamente, os processos de gestão da qualidade e de segurança nuclear à gestão de projetos. Tendo em vista o relacionamento das questões nucleares às questões ambientais, recomenda-se que os processos ambientais sejam integrados as ações de responsabilidade sociais, normalmente estabelecidas como condicionantes aos licenciamentos, estejam alinhados entre si, com o propósito de evitar conflitos de gestão. Nos contratos de empreendimentos nucleares, nos quais a responsabilidade da contratada principal não esteja explicitada como sendo de uma empresa integradora, recomenda-se aos seus gestores, iniciarem com urgência, negociações neste sentido. É importante deixar claro para a contratada principal, a incompatibilidade conceitual de segurança nuclear. O modelo de gestão no qual o requerente contratante, responsável pela fiscalização do empreendimento, acumula a responsabilidade de fiscalizar as suas próprias atividades como empresa integradora, oferece um grau de confiabilidade muito baixo quanto à segurança nuclear, contrariando o conceito de redundância preconizado pela CNEN. Neste sentido, será necessário contratar uma empresa integradora para coordenar e integrar as atividades das empresas sub-contratadas. Evidentemente, o ideal é que esta relevante lacuna contratual de responsabilidade seja negociada entre as partes, no sentido da própria contratada principal assumir a responsabilidade de empresa integradora. Com o propósito de evitar eventuais conflitos contratuais, recomenda-se que as negociações e entendimentos entre as partes sejam formalizados por meio de um termo aditivo aos contratos do Empreendimento. Torna-se pertinente alertar aos gestores de empreendimentos nucleares que o processo de avaliação e aceitação dos Programas de Garantia da Qualidade (PGQ) pela CNEN é longo, contínuo e complexo. Os especialistas desta autarquia federal avaliam a conformidade dos requisitos explícitos e implícitos dos processos envolvidos, tendo como foco as ações de garantia da qualidade quanto ao desempenho operacional das instalações/equipamentos nucleares e principalmente, quanto à prevenção ou mitigação de eventuais riscos a acidentes nucleares. Os requisitos explícitos, declarados e regulamentados por normas e instruções, normalmente são mais factíveis de serem atingidos. Entretanto, o desafio dos PGQs 45 dos empreendimentos é atender satisfatoriamente aos requisitos implícitos (não declarados) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (2000) e principalmente aos requisitos relacionados à segurança nuclear, muitas vezes sem regulamentações devido ao ineditismo. Como a sensação de segurança normalmente está relacionada ao conhecimento e às percepções humanas, sua medição e atendimento são bem mais complexos. Neste sentido, os PGQs devem ser consistentes e confiáveis, não havendo espaço para improvisações de recursos materiais, muito menos de recursos humanos. Os profissionais que trabalham em projetos complexos devem acumular formação/qualificação acadêmica e experiências profissionais em suas respectivas áreas de atuação. Na área de Garantia da Qualidade, por exemplo, recomenda-se montar uma equipe composta por engenheiros que tenham: a) pós-graduação em Garantia da Qualidade e Gerenciamento de Projetos; e b) experiências profissionais anteriores em qualidade em projetos. Cabe alertar que tais programas estão diretamente relacionados ao risco à preservação de vidas humanas, e este fato é prioritário para a CNEN. A eventual reprovação de um desses programas por esta autarquia é suficiente para interromper todas as obras licenciáveis. Com o propósito de corroborar com os processos de reflexão, conscientização e maturidade dos gestores de empreendimentos nucleares, o autor atende ao seu propósito de: apresentar as melhores práticas utilizadas para facilitar a implementação de Programas de Garantia da Qualidade em instalações nucleares; e disponibilizar um modelo teórico de gestão para este fim, à luz do referencial teórico e de experiências profissionais pessoais. Entretanto, torna-se pertinente ressaltar que, por motivo das limitações de métodos e delimitações de escopo, esta pesquisa não esgota o tema. Sendo assim, recomenda-se um estudo mais aprofundado do modelo teórico proposto, assim como aferir na prática, em pesquisas de campo, as suas vantagens, desvantagens e viabilidade. Tendo em vista a amplitude e as diversas dimensões do tema, passíveis de novas investigações, sugerem-se como trabalhos futuros pesquisas sobre os benefícios das ferramentas de inteligência (Business Intelligence) para integrar e estruturar as informações e os conhecimentos envolvidos; e uma investigação aprofundada sobre normas de instituições internacionais sobre o tema abordado. 46 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Norberto de Oliveira. Gerenciamento de Portfólio: alinhando o gerenciamento de projetos à estratégia da empresa e definindo sucesso e métricas em projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2011. ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 10006: gestão da qualidade: diretrizes para a qualidade no gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro, 2006. ______. NBR ISO 10007: sistema de gestão da qualidade: diretrizes para gestão de configuração. Rio de Janeiro, 2005. BARCAUI, André B. Project Management Office: escritórios de projetos, programas e portfólio na prática. Rio de Janeiro: Brasport, 2012. BAUMOTTE, Ana Cláudia. In: DINSMORE, Paul Cavalieri. Como se tornar um profissional em gerenciamento de projetos. 3. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. BERGO, Marcio Tadeu Bettega. O pensamento estratégico e o desenvolvimento nacional: uma proposta de projeto para o Brasil. 2. ed. São Paulo: MP Editora, 2008. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Programa-de-reaparelhamento. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/programa-de-reaparelhamento. Acesso em 23 abr. 2014; ______. Amazônia azul: o patrimônio brasileiro do mar. Disponível em: www.mar.mil.br/menu_v/amazonia_azul.htm. Acesso em: 1 nov. 2010. ______. Programa de reaparelhamento da Marinha. PRM. Disponível em: http://www.mar.mil.br/menu_v/ccsm/temas_relevantes/reaparelhamento_mb.htm. Acesso em: 12 jun. 2010. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Secretaria-geral da Marinha. SGM105. Normas sobre documentação administrativa e arquivamento na Marinha. NODAM. 3. rev. , 2009. Ostensiva. CASTRO, Therezinha de. Geopolítica: princípios meios e fins. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1999 COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR - Norma CNEN-NE-1.04: licenciamento de instalações nucleares, 2002; ______. Norma CNEN-NN-1.16: garantia da qualidade para a segurança de usinas nucleoelétricas e outras instalações, 2000; CORRÊA, Fernanda das Graças. O Projeto do Submarino de Propulsão Nuclear na Visão de seus Protagonistas: uma análise histórica de Geisel a Lula (1974 2009). Dissertação (Mestrado em História Comparada) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, 2009. 47 CRUZ, Amaury Bordalho et al. Uma abordagem comparativa do gerenciamento da qualidade do projeto. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 26. Fortaleza, CE, 2006. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2006_TR470319_7487.pdf. Acesso em: 12 jun. 2011. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual básico. Rio de Janeiro, 2014. 4v. ______. Manual para elaboração do trabalho de conclusão de curso: monografia. Rio de Janeiro, 2012. DINSMORE, Paul C.; CAVALIERI, Adriane. Como se tornar um profissional em gerenciamento de projetos. 3. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. FORTULAN, Marcos Roberto; GONÇALVES FILHO, Eduardo Vila. Uma proposta de aplicação de business intelligence no chão-de-fábrica. Gestão & Produção, São Paulo, v.12, n.1, p.55-66, jan./abr. 2005. FRAGELLI, José Alberto Accioly. Ordem do dia, nº 1/2010. Pronunciamento. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, 2010. HERTOGH, Marcel; WESTERVELD, Eddy. Playing with complexity: management and organization of large infrastructure projects. [s.l.]: [s.n.], 2010. JURAN, Joseph M. A history of managing quality. Milwaukee: ASQC Quality Press, 1995. ______. Planejando para a qualidade. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1992. KERZNER, Harold. Gestão de projetos: as melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2010. KIBRIT, Eduardo. Análise de requisitos normativos para o desenvolvimento e a implementação de um sistema de gestão da qualidade em instalações e atividades nucleares brasileiras. Dissertação (Mestrado em Ciências na área de tecnologia nuclear) – Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2008. LIMA, Mauro Loureiro Alves. A gestão integrada na governança de projetos complexos: um estudo de caso no programa de desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) - Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, RJ, 2012. ______. O desafio de implementar um escritório de projetos na gestão da fiscalização de Empreendimentos públicos, no segmento de projetos militarnaval: um Estudo de Caso. Monografia (Especialização em Gerenciamento de Projetos) – Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, RJ, 2010. LIMA, Mauro Loureiro Alves; FARIAS FILHO, José Rodrigues de. As melhores práticas para integrar a gestão de projetos complexos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 32, 2012, Bento Gonçalves. Anais ... Bento Gonçalves. Rio Grande do Sul, 15 a 18 outubro 2012. Artigo TN_STP_164_957_21037. ______. A gestão integrada no gerenciamento de projetos complexos. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, 8, 2012, Niterói. Anais ... Niterói. RJ, 08 e 09 junho 2012. Artigo T12_0454_2538. 48 ______. O Escritório de Projetos na fiscalização de Empreendimentos públicos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 32, 2012, Bento Gonçalves. Anais ... Bento Gonçalves. Rio Grande do Sul, 15 a 18 outubro 2012. Artigo TN_STP_164_957_20700. MELO, Maury. Guia do estudo para o Project Management Professional Exam. 4. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2012. MOURA NETO, Paulo Soares de. Ordem do Dia, nº 2, de 1º de março de 2007. Discurso de posse na função de Comandante da Marinha do Brasil. Rio de Janeiro, Marinha do Brasil, 2007. ______. Mensagem de fim de ano. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, 2010. MULCAHY, Rita. Project Management Professional Exam Prep. [S.l.]: RMC Publications, Incorporated, 2001. NATIONAL AERONAUTICS AND SPACE ADMINISTRATION. Systems Engineering Handbook. NASA/SP-2007-6105 Rev. Washington, D.C., 2007. NORTH, Klaus. Gestão do conhecimento: um guia prático rumo à empresa inteligente. Trad. Marcos Cavalcanti. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO. Portal Brasil. Disponíveis em: http://www.brasil.gov.br/pac/medidas-institucionais-e-economicas. Acesso em: 7 jun. 2014. POSSI, Marcus et al. Gerenciamento de projetos, guia do profissional: abordagem geral e definição de escopo. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conjunto de conhecimentos em Gerenciamento de Projetos (PMBOK®). 4. ed. Pennsylvania: PMI, 2008. RODRIGUEZ y RODRIGUEZ, Martius V. Gestão empresarial: organizações que aprendem. 1. ed. São Paulo: Qualitymark, 2010. ROSTALDAS, A. Planning and control of concurrent engineering projects. International journal of production economics. New York, v. 38, n. 1, p. 3-13, 1995. SILVA, Alessandra Karine Figueiredo. Como as formas e ferramentas de transferência de conhecimento podem agregar valor na gestão de projetos: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) – Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, RJ, 2007. SIMÕES, Hermes Cupolillo; GUTIERREZ, Ruben Huamanchuno. Análise comparativa entre o programa seis sigma e o gerenciamento de projetos. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, 4, 2008, Niterói. Anais ... Niterói. RJ, 31 julho - 2 agosto 2008. SLACK, Nigel. et al. Gerenciamento de operações e de processos: princípios e práticas de impacto estratégico. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. TAN, Pang-Ning; STEINBACH, Michael; KUMAR, Vipin. Introdução ao data mining: mineração de dados. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009. VALERIANO, D. L. Gerenciamento estratégico e administração por projetos. São Paulo: Makron Books, 2001. 49 VARELLA, Lélio. Gerência da Qualidade em Projetos. In: DINSMORE, Paul, Cavalieri. Como se tornar um profissional em gerenciamento de projetos. 3.ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. VARGAS, Ricardo. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. 6. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2008. VASQUES, Richard José. Qualidade total: caminho para sobrevivência e competitividade. Disponível em: http://www.rhportal.com.br/artigos. Acesso em: 15 maio 2011. VELLOSO, João Paulo dos Reis; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. (Org.) Chegou a vez do Brasil? Oportunidade para a geração de brasileiros que nunca viu o país crescer. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007. VERZUH, E. MBA compacto, gestão de projetos. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. VIEIRA, Eduardo Newton. In: DINSMORE, Paul C.; CAVALIERI, Adriane. Como se tornar um profissional em gerenciamento de projetos. 3. ed. São Paulo: Qualitymark, 2010. WIDEMAN, R. Max. A framework for project and program management integration. Upper Darby: Project Managemente Institute, 1991. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.