Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXII Prêmio Expocom 2015 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação
“A Bela Morte”¹
Ana Laura Ferreira de SOUZA²
Henrique Gentil MARCUSSO³
Karen POMPEU4
Karen YOSHIZAVA5
Lidiane VOLPI6
Luan REIS7
Nayton BARBOSA8
Rawi SANTOS9
Wesley Siqueira BASTOS10
Débora BURINI11
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP
RESUMO
“A Bela Morte” é um curta-metragem ficcional que tem como temas principais a morte de
jovens artistas famosos que acabam suicidando-se aos vinte e sete anos de idade, e a
questão do “duplo”, no qual um mesmo personagem assume duas personalidades. Junto à
proposta narrativa procuramos utilizar elementos de outras linguagens, como o Teatro e a
Trilha Musical executada ao vivo para compor o filme, integrando essas vertentes artísticas
com o propósito de criar um espetáculo que explora a intertextualidade e procura
aproximação com alguns elementos experimentais.
PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Música; Intertextualidade; Curta-Metragem; Morte.
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Trabalho submetido ao XXII Prêmio Expocom 2015, na Categoria Cinema e Audiovisual, modalidade filme
de ficção.
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Aluna líder do grupo e Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email:
[email protected].
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
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Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Estudante do 8º. Semestre do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
Orientadora do trabalho. Professora do Curso Bacharelado em Imagem e Som, email: [email protected]
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INTRODUÇÃO
“A Bela Morte” é um produto audiovisual realizado em 2014 por alunos de
graduação do sexto período do curso de Imagem e Som da UFSCar – Universidade Federal
de São Carlos, produzido na disciplina Realização Audiovisual II, sob orientação da Profª.
Débora Burini, com intenção de utilizar recursos advindos de outras linguagens artísticas
junto à proposta audiovisual para compor a obra, no caso específico, a música e o teatro.
Essas duas vertentes apresentam-se na figura de um músico/ator que interpreta um
personagem e participa da diegese dentro do “espaço fílmico da tela” e fora dela. Dessa
forma, tal personagem pode percorrer, ao mesmo tempo, os dois espaços cênicos - o do
Teatro e do Cinema -, atuando e executando as músicas ao vivo, concomitante ao momento
em que as projeções do filme ocorrem.
Nesse sentido, questões como a própria estética escolhida para criação do curta
metragem que dialoga com outras artes, busca uma forma de apresentação em diversos
estratos, como se fossem camadas que interagem, conectados por uma narrativa que permite
um “transitar” do espectador entre os espaços propostos. O formato poderá possibilitar
reflexões a cerca de teorias cinematográficas, como por exemplo, a posição do sujeito¹², o
“olhar” do sujeito, ao mesmo tempo em que verifica proposições valiosas do teatro, como o
“distanciamento” brechtiano¹³. Outra esfera artística a ser explorada é a Música, pela qual
aspectos como o som dentro da concepção histórica do cinema e o improviso podem ser
observados.
Esses elementos que se transversalizam, talvez, levem o espectador a provar outro
tipo de sensação, num fluxo ágil, porém perceptível e inteligível entre uma linguagem e
outra, daquilo que o observador pode captar e que traz à tona o questionamento sobre o
lugar do sujeito que assiste. Para onde vai o olhar do espectador?
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¹² BORDWELL (1996) apud MACHADO, ARLINDO (2005) define esse sujeito não como um indivíduo
material, mas como uma instância abstrata que ele chama de categoria de conhecimento: “Para a maior parte
dessa teorização, o sujeito não é nem a pessoa individual nem um senso mais imediato de identidade ou de
ego. É, em vez disso, uma categoria de conhecimento, definida por sua relação com objetos e com outros
sujeitos”.
¹³ Segundo Brecht “distanciar um acontecimento ou um caráter significa antes de tudo retirar do
acontecimento ou do caráter aquilo que parece óbvio, o conhecido, o natural, e lançar sobre eles o espanto e a
curiosidade”. (Brecht apud Bornheim, 1992, p.243).
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OBJETIVO
Utilizar outras linguagens artísticas para compor um produto audiovisual que tenha
alcance e projeção para o público a partir de um formato e contexto intertextual, de modo a
fomentar discussões sobre questões que consideramos importantes dentro das possibilidades
de criação.
As questões foram pontuadas a partir de algumas proposições pensadas não apenas
sob o ponto de vista das estratégias de execução e exibição, mas também sob uma
perspectiva reflexiva em torno das Artes, sendo elas:

Criar possibilidades de diálogo entre as artes de maneira a integrá-las num
novo universo cênico, extraindo dessas linguagens suas formas de apresentar e
materializar suas expressões, discursos e estéticas.

Inserir o ator/músico como personagem “vivo” e “presente” na sessão e,
dessa forma, provocar no expectador uma reflexão relacionada à discussão dos
formatos midiáticos, como o cinema, por exemplo, bem como da própria condição
do trabalho do artista e dos rumos do Espetáculo Musical, Teatro e Cinema
Contemporâneos.

Revisitar e reverenciar a época do cinema mudo em que as grandes
orquestras faziam o papel da Trilha Sonora ao vivo, porém, de uma forma
atualizada, enxuta (utilizando apenas um músico) e executável.
JUSTIFICATIVA
A proposta da intertextualidade sugere uma possibilidade de criação e
disponibilização de um produto cinematográfico não muito comum no mercado, que insere
o trabalho profissional do músico/ator nesse tipo de produção artística, promovendo novos
formatos de apresentação e outros espaços de exibição para além da sala de cinema.
O viés intertexutal poderá também propor aos espectadores uma reflexão sobre as
formas, significados, discursos da representação das artes audiovisuais, cênicas, musicais
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que dialogam explicitamente dentro do curta-metragem em questão.
Entendemos, assim, a intertextualidade como o modo pelo qual se
estabelecem o diálogo e a interatividade entre os textos em um
contexto único, neste caso específico, no contexto do cinema; nem
sempre textos puramente lingüísticos, mas também aqueles elaborados
com diferentes semióticas, ou seja, textos de diferentes linguagens.
(GONÇALVES; RENÓ, 2009, p.8)
Porém, vale dizer que a linguagem cinematográfica foi a propulsora na introdução
de outros elementos/linguagens na obra e que o filme foi pensado para ser exibido de
acordo com duas possibilidades: com a presença do músico no palco ou sem ela.
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
O filme em questão procurou trabalhar os elementos básicos da produção
audiovisual como a Roteirização, as etapas da Produção, as concepções de Direção,
Fotografia, Arte, Som e Montagem. Contudo, algumas considerações metodológicas e
técnicas dos elementos experimentais foram evidenciadas por se tratar de um produto que
agrupa várias linguagens artísticas.
No caso específico do Teatro, ele foi utilizado como espaço cênico, ambientador em
várias esferas. Primeiro que o Teatro foi a única locação do filme – o palco serviu de
cenário e locação para os 3 personagens: o escritório de Charles (jornalista), o apartamento
de Samantha (cantora) e o apartamento do vizinho de Samantha (saxofonista, duplo do
jornalista). Esses espaços foram “demarcados” por meio da iluminação, cada qual com um
feixe de luz incidindo sobre o cenário minimalista trabalhado pela Direção de Arte. A Arte
cuidou para que os poucos objetos em cena representassem a personalidade e as ações de
cada personagem, algumas vezes de forma simbólica. O mesmo palco serviu para as cenas
de flashbacks ou outras cenas que não foram ambientadas nos três cenários citados acima,
geralmente com a utilização da totalidade do palco. Intercalar as cenas com ambientações
diferentes, porém todas feitas nas dependências do Teatro criam a possibilidade de reflexão
sobre o espaço proposto. O espaço, as mudanças de cenário, a iluminação, é teatral ou
fílmica? Onde começa e onde termina a linha tênue entre uma linguagem e outra, se é que
existe alguma, nesse caso?
Segundo, que o Teatro também é o local pelo qual os espectadores assistem ao filme
e ao Teatro ao mesmo tempo: é um espetáculo teatral que está acontecendo através do
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personagem representado pelo saxofonista que se encontra no palco, ao mesmo tempo em
que acontece um Teatro “dentro da tela”, que também é cinema. É um tipo de
escalonamento intrínseco entre os estratos, das linguagens que se misturam e dialogam na
narrativa.
A concepção do Som trabalhou com alguns poucos sons diegéticos para privilegiar/
evidenciar a questão da Trilha Musical, com a qual o personagem do saxofonista pode
executar as músicas da trilha ao vivo e de forma improvisada, certamente de acordo com
propósitos coerentes dentro da diegese. A música aqui também funciona como um “ponto
de escuta”, substituindo o “ponto de vista” do cinema, pois a única comunicação que existe
entre os personagens da cantora e do saxofonista, que são vizinhos de apartamento, é feita
por intermédio dos sons emitidos pelo saxofone, e não pelos diálogos ou olhares entre eles.
A concepção fotográfica de “Bela Morte” se baseia na estética do gênero noir,
consagrado na década de 1940 no cinema norte-americano com produções principalmente
dos estúdios Warner, tais como O Falcão Maltês (1941), cuja concepção visual serviu de
referência direta no nosso trabalho. Também podemos citar a Dama de Xangai (1948) e
Crepúsculo dos Deuses (1950). Na estética do filme noir, o preto e branco, o alto contraste,
a forte presença do contraluz e a iluminação baixa (low key) participam como elementos
que enfatizam a dramaticidade da trama muitas vezes intrincada em mistérios de polícia,
detetive, assassinato, roubo entre outros temas do submundo urbano.
Apropriando-se dessa estética, procuramos adequá-la à narrativa do curta-metragem.
Em termos práticos, usamos poucas fontes de luz e exploramos as possibilidades de
iluminação oferecidas pelo teatro. Essa aproximação com o teatro ocorreu tanto no nível de
dramaticidade das cenas quanto, mais especificamente na fotografia, em termos visuais e de
linguagem. Por exemplo, em determinada sequência em que a protagonista canta para um
público, que na diegese se supõe ausente, mas que em certa instância pode estar presente (se
ela está em um palco, pressupõe-se uma platéia), não hesitamos em mostrar a fonte de luz
que lhe dá o brilho de uma estrela. Também deixamos evidente, na mesma sequência, o
jogo de luz típico de apresentações ao vivo.
Nossa referência de composição e enquadramento parte do filme “Dogville” (2003)
e das possibilidades plásticas da imagem enquanto subtexto narrativo. O filme citado nos
serviu de orientação no processo de como posicionar a câmera e dialogar com uma cena
que, diferente da Hollywood clássica, não enquadra um cenário que procura mimetizar a
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realidade. Nosso desafio a todo o momento é enquadrar uma locação que ao mesmo tempo
é um teatro e remete a uma ideia de locação fora dele, sem que um anule o outro.
(Figura 1: Charles toca o sax enquanto dialoga com seu duplo em sequencia final)
(Figura 2: Samantha realiza os preparativos para seu 28º aniversário)
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(Figura 3: Sequencia final do aniversário de Samantha. Aqui existe diálogo com a fotografia still, para
ressaltar a ideia de instante eternizado em que não se sabe o que vem a seguir. As cortinas se fecham antes de
sabermos o que acontece entre Charles e Samantha)
(Figura 4: Samantha é vista em plongée falando ao telefone com Charles)
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(Figura 5) Os dois frames acima (Figura 4 e 5) são planos da cena em que Charles convida Samantha para sair
na capa de uma revista em comemoração aos seus quase 28 anos. De um lado, temos Samantha enquadrada da
perspectiva de Charles. A protagonista está como que cercada pelos elementos do universo do jornalista
(inclusive por sua própria fotografia, Figura 5). Por outro lado, ela é enquadrada em plongée, salientando sua
condição em uma possível emboscada, sadicamente observada pelo seu admirador obsessivo.
DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO
“A Bela Morte” é um curta metragem que parte, preponderantemente, de dois
gêneros: suspense e noir. Tem como temas principais a “Bela Morte” em que,
coincidentemente ou por um mito, jovens famosos acabam suicidando-se aos 27 anos de
idade e a questão do “duplo”, no qual um mesmo personagem assume duas personalidades.
O curta metragem em preto e branco, gravado no formato H2 64 é inteiramente
filmado no palco de um Teatro e em suas dependências, e conta a história de uma jovem
cantora de jazz, famosa e talentosa, que está prestes a completar 28 anos. Até o último dia
da meia-noite do seu aniversário, acontecimentos estranhos e inesperados rondam esse
momento da vida da artista. Seu amigo, um jornalista que escreve na coluna cultural de
revistas e jornais renomados, crítico de música, secretamente investiga a morte de jovens
artistas que morreram aos 27 anos, por não crer que a maioria daqueles talentos foram, de
fato, suicídios “espontâneos”. No caminho dos dois “amigos”, aparece a figura de um
estranho saxofonista.
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Perfil dos Personagens
- A Cantora: famosa, bonita e muito talentosa; prestes a completar 28 anos.
- O Jornalista: amigo da cantora, em torno de 40 anos, escreve críticas musicais em
colunas culturais de revistas e jornais renomados. Tem certa obsessão pelo tema dos “27
club” e decide investigar acontecimentos inusitados na vida dos jovens artistas suicidas.
- O Saxofonista: figura misteriosa que aparece na trama. Vizinho da cantora ele a
instiga com seus sons que vem do apartamento dele.
CONSIDERAÇÕES
“A Bela Morte” procurou realizar um trabalho audiovisual que se comunicasse com
outras Artes de modo efetivo, evidente, materializado em sua forma. Além dessa busca pela
materialidade objetivada no processo criativo e no resultado do produto, tentamos provocar
uma reflexão despretenciosa sobre algumas questões teóricas apreendidas nos conteúdos do
Curso de Imagem e Som, como algumas Teorias do Cinema e do Teatro.
Outra questão e última a ser considerada é reforçar a condição de que o filme foi
construído sobremaneira a não depender totalmente do músico/ator para ser exibido; foi
pensado e roteirizado dentro de um objeto ficcional capaz de ser reproduzido, também,
apenas na mídia audiovisual, com ou sem o artista presente no espetáculo. Mas é importante
deixar claro que existe a predileção e empenho da equipe em tornar possível a realização
das apresentações ao vivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUDRY, Jean Louis. Cinema: efeitos ideológicos produzidos pelo aparelho de base.
[1970] in XAVIER (ed.), A experiência do cinema, Rio de Janeiro, Graal, 1983.
BORDWELL, David. Estudos de cinema hoje e as vicissitudes da grande teoria. in
RAMOS (ed.), Teoria Contemporânea do Cinema, volume 1, São Paulo, Senac, 2005.
BORNHEIM, Gerd. Brecht. A estética do teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
MACHADO, Arlindo. O enigma de Kane, Ubiquidade e transcendência e A esquize do
olhar in O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. São Paulo,
Paulus, 2007.
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GONCALVES Elizabeth M.; RENO, Denis P. A montagem audiovisual como
ferramenta para a construção da intertextualidade no cinema. Razón y Palabra. , v.67,
p.1 - 18, 2009.
Filmografia
ALLEN, Woody. A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo). Produção de
Robert Greenhut, direção de Woody Allen. Distribuição Orion Pictures Corporation. EUA.
1985. 81 min.
TRIER, Las Von. Dogville. Distribuição Imovision. Dinamarca / Suécia / França /Noruega /
Holanda / Finlândia / Alemanha / Itália / Japão / Estados Unidos / Inglaterra. 2003.177 min.
WALIS, Hal B., HUSTON, John. O Falcão Maltês (The Maltese Falcon). Produção de Hal
B. Walis, direção de John Huston. Waner Bros. EUA. 1941, 1h26min. P&B, son.
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