1 A ALTA FREQUÊNCIA NO ESTÍMULO DA CICATRIZAÇÃO: REVISÃO DE LITERATURA Emanuelle Ferreira da Silva 1 Taliane Steiner2 Felipe Lacerda3 Resumo: A alta frequência é um equipamento que possui propriedades bactericida, fungicida, antimicrobiana e cicatrizante. Tais efeitos são resultado da ação do ozônio liberado pelo equipamento e são de grande importância no processo cicatricial. Não há como evitar a formação de cicatrizes após uma cirurgia, porém é possível tentar amenizar seu aspecto com a realização de tratamentos estéticos, sendo a alta frequência uma opção de tratamento de baixo custo, fácil aplicação e indolor. Este estudo teve como objetivo reunir materiais que tenham relação direta com essas propriedades e uma melhora no resultado de cicatrização. A bibliografia na área da estética ainda é limitada, por este motivo foram utilizados artigos e livros de outras áreas da saúde, como fisioterapia e odontologia. Conclui-se com este estudo que os efeitos do equipamento de alta frequência encaixam-se perfeitamente nas necessidades de uma boa cicatrização. Portanto, este é um recurso eletroterapêutico que pode e deve ser utilizado com a função de aperfeiçoar o resultado de cicatrizes. Palavras-chaves: alta frequência, cicatrização, ozônio. 1 INTRODUÇÃO Na área da Estética, a prática clínica mostra a necessidade de estudos sobre um equipamento de fácil acesso, simples manuseio e menor custo que os procedimentos tradicionalmente empregados no tratamento de cicatrizes póscirúrgicas. Optou-se pelo estudo do equipamento de alta frequência pelo fato deste ser comumente encontrado nos estabelecimentos que oferecem tratamentos estéticos, utilizado geralmente em procedimentos estéticos faciais e que, apesar da bibliografia explanar seu benefício cicatrizante, ainda ser pouco empregado com esta finalidade. 1 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Orientador, Professor do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Os principais efeitos terapêuticos da alta frequência baseiam-se em suas propriedades antimicrobianas. Estas propriedades ocorrem através das faíscas de ozônio que são liberadas ao entrar em contato com o oxigênio do ambiente. É a ação oxidante deste ozônio em contato com a superfície da pele que proporciona estas características (BORGES, 2006). A interação da corrente elétrica de alta frequência com um gás especial, comumente o neon, contido em eletrodos de vidro, produz a formação do gás ozônio (O3), forma trivalente do oxigênio atmosférico, de efeito anti-séptico. Em função deste efeito a alta frequência é indispensável em todas as situações em que o processo de cicatrização seja necessário (PEREIRA, 2007). A utilização da alta frequência no tratamento de cicatrizes possibilita a atuação dos tecnólogos em cosmetologia e estética em uma condição clínica na qual complicações são comuns em função do processo infeccioso inerente. Os cuidados e a otimização de cicatrizes representam um nicho de mercado em constante ascensão. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Pele A pele é considerada um dos maiores órgãos do corpo humano, constituindo aproximadamente 20% do peso corporal, e está dividida em epiderme e derme. Ela reveste quase todo o corpo, com exceção dos orifícios genitais e alimentares, olhos e superfícies mucosas genitais que são formadas pela ectoderme (VAZ, 2008). Devido a sua complexa estrutura, a pele exerce diversas funções, como a manutenção da integridade do organismo pela proteção contra agressões de agentes externos, absorção e secreção de líquidos, controle da temperatura corporal, absorção da luz ultravioleta (protegendo o organismo dos seus efeitos nocivos), metabolismo da vitamina D, além das funções estéticas e sensoriais. Tais funções são a aparência, o toque, a maciez, a exalação de odores, a coloração e a sensibilidade, responsáveis pela atração física e social do individuo. Por esse motivo se considera que a saúde psicossocial do indivíduo depende de sua 3 aparência externa e da aceitação instintiva das características de sua pele pelos demais componentes de seu grupo social (HARRIS, 2005). 2.2 Cicatrização A cicatrização é um fenômeno fundamental para a sobrevivência do ser humano, já que representa um mecanismo sofisticado de defesa (HERSON, 2008). Na pele, ocorre continuamente a restauração tecidual do epitélio, o que permite a renovação celular e garante sua integridade morfológica e funcional. Diferentemente desse processo natural de regeneração, o processo de cicatrização, que envolve camadas mais profundas, resulta em alterações da morfologia original do tecido com conseqüente alteração da função, gerando uma cicatriz (HERSON, 2008). Quando ocorre grande destruição tecidual que ultrapassa os limites da regeneração ou perante a destruição de células permanentes, o processo de reparação é feito pelo tecido conjuntivo não especializado, formando um tecido fibroso (GOMES, 2009). A cicatrização de uma ferida depende do tipo de lesão sofrida pelo tecido agredido: quando há pequena perda de substância, como no caso das feridas incisivas ou cirúrgicas, cujas bordas são lisas e regulares e sua cicatrização é rápida por haver coaptação das margens com suturas, ocorre um aumento de fibras colágenas e a cicatriz apresenta um aspecto regular e fino (GOMES, 2009). Todas as fases do processo cicatricial estão inter-relacionadas, sendo que uma ferida jamais reagirá da mesma forma que outra. Uma mesma lesão pode se apresentar em vários estágios simultaneamente, podendo estar infectada, com tecido de granulação, e com tecido necrótico. Portanto é importante que se saiba o que esta acontecendo, para poder avaliar a indicação da melhor intervenção para esse processo extremamente complexo (PEREZ, 1999). A resolução de uma lesão implica a ocorrência de vários acontecimentos biológicos, que independem do agente causal e não seguem, necessariamente, uma ordem cronológica exata ou compartimentada – apenas as diferentes etapas ocorrerão com maior ou menor intensidade segundo a localização, o tipo de tecido envolvido e o nível da lesão (HERSON, 2008). 4 O processo de reparação tecidual inclui uma sequência de fases que se somam, e resultam na interação complexa entre as células da epiderme e da derme, proteínas da matriz e do plasma e angiogênese controlada (KEDE; SABATOVICH, 2009). A cicatrização ocorre através de três estágios: inflamação ou fase inflamatória, fibroplasia ou fase proliferativa, e maturação ou fase de remodelação. A fase inflamatória ocorre nas primeiras doze horas após a lesão. Quando um tecido mole precisa ser reparado, as plaquetas sanguíneas e os mastócitos do conjuntivo tornam-se ativos, liberando substâncias que iniciam o reparo. Estas substâncias incluem agentes quimiotáxicos que atraem os leucócitos polimorfonucleares e os monócitos para o sitio da lesão (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Segundo Kede e Sabatovich, 2009: “A fibroplasia é o nome dado à formação de tecido de granulação originado no fibroblasto. Ela é composta por macrófagos, fibroblastos, neomatriz e neovasculatura, que aparecem simultaneamente dentro da ferida, formando um tecido macio que dá suporte à neoepiderme e produz a neoderme.” A segunda fase dura cerca de três a quatro semanas. Essas células que estão em atividade começam a agir de forma combinada, tentando formar um novo tecido, que seja altamente vascularizado, e que esse, faça o preenchimento da ferida. A célula essencial para que possa ocorrer a cicatrização é o macrófago, é através da liberação de agentes quimiotáticos que ocorre a estimulação da atividade fibroblástica e a angiogênese. É através de novos vasos capilares que o sangue começa a fluir, oxigenando assim o tecido lesionado. E é através dos fibroblastos que aparecem novas fibras de colágeno, que ajudará no processo de cicatrização (LOW; REED, 1999). A fase de maturação ou remodelação pode durar meses, esta é considerada a fase mais lenta. É nessa fase que o tecido de granulação irá se tornar mais denso e menos vascularizado, tornando-se assim um tecido fibrosado, ou seja, forma-se a cicatriz. No início desse processo as fibras são aleatórias umas as outras, e é só subsequentemente que elas irão ficar reorganizadas (LOW; REED, 1999). Em feridas cutâneas, a profundidade e a amplitude da lesão determinarão em última instância a intensidade da resposta cicatricial (HERSON, 2008). 5 Em ferimentos nos quais o componente dérmico esteja envolvido, ocorrerá não somente o processo de reepitelização a partir das bordas da lesão e dos restos anexais, mas também uma reorganização na derme lesada e remodelação do leito da ferida. Será formada a cicatriz cujas características finais dependerão de fatores intrínsecos ou locais (como a quantidade e a profundidade do tecido inicialmente lesado, contaminação, etc.) e extrínsecos (doenças de base, deficiências nutricionais, etc.) (HERSON, 2008). Quando ocorre grande perda de tecido por necrose ou acidente, leva-se um tempo maior para a reparação, sendo produzido colágeno no centro da lesão em direção à sua extremidade, formando uma cicatriz fibrosa e desenvolvendo uma superfície irregular espessa e deformada. Quando a cicatriz possui grande quantidade de tecido fibroso com aspecto irregular e elevado há quelóide (GOMES, 2009). Quanto mais demorada ou complicada for a oclusão de uma ferida, maiores serão as chances de que evolua com uma cicatriz de pior qualidade funcional e estética (HERSON, 2008). A cicatriz final, secundária a um processo de reparação, é variável e nunca completamente previsível. Além do trauma, a cicatriz pode resultar de uma patologia, podendo apresentar-se hipertrófica, atrófica ou normotrófica (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Uma ferida não irá cicatrizar se estiver infectada, a presença de microrganismos provocará uma resposta inflamatória, portanto deve-se priorizar a destruição dos microrganismos presentes na mesma. Esses microrganismos retardam a cicatrização ao consumir os nutrientes e oxigênio que seriam utilizados no processo de reparação tecidual (MANDELBAUM et. al., 2003). 2.2.1 Classificação das cicatrizes As cicatrizes são o resultado inevitável de uma lesão, intencional ou acidental da pele, podendo ser planas, deprimidas ou elevadas, como o quelóide (GOMES, 2009). As cicatrizes hipertróficas ocorrem devido a um excesso de síntese de colágeno, esse excesso gera uma desorientação das fibras colágenas, ao invés de se orientarem ao longo das linhas de fenda, elas ganham forma de espiral na 6 superfície cutânea, acontecendo assim um desarranjo total das fibras colágenas, ficando emaranhadas. Essa desorientação deixa a epiderme com um aspecto estético problemático, e o seu tratamento pode ser de difícil correção (GUIRRO; GUIRRO, 2002). A cicatriz hipertrófica se limita à área do corte, possui aparência grossa e avermelhada, e pode involuir naturalmente em um a dois anos (BORELLI, 2004). Levando-se em consideração que elas obedecem as bordas da lesão, ao serem extirpadas elas não aparecem novamente, tomando a cor natural da pele (GUIRRO; GUIRRO, 2002). Cicatrizes hipertróficas aparecem comumente em lugares como tronco, mama, abdome e face. Isso pode ocorrer devido a alguns fatores como: fazer uma incisão com uma direção diferente às linhas de fenda, pela raça de cada indivíduo (levando-se em consideração que indivíduos negros e asiáticos têm maior predisposição a esse tipo de cicatriz) e à espessura da pele (quanto mais fina, maior probabilidade) (GUIRRO; GUIRRO, 2002). As cicatrizes queloideanas apresentam um aspecto rígido, irregular, firme e muito espesso. Ela ocorre por um defeito no processo de cicatrização, isso acontece devido à produção exacerbada de matriz extracelular (KEDE; SABATOVICH, 2009). A quelóide ultrapassa ostensivamente a área do corte, invadindo a pele ao redor, possui aspecto arredondado. Inicialmente róseo e mole, posteriormente se apresenta esbranquiçado, duro e sem elasticidade. Raramente involui espontaneamente e é extremamente doloroso (BORELLI, 2004). O aspecto da cicatriz depende do local, cor, comprimento, textura e profundidade. Algumas regiões do corpo possuem tendência a formar cicatrizes mais evidentes e inestéticas, normalmente em regiões de grande movimento, como os ombros e a mandíbula (GOMES, 2009). O processo de cicatrização é influenciado pela espessura da pele, sendo que as peles mais espessas possuem uma chance maior de terem cicatrizes mais evidentes, diferentemente das peles com estrias ou mais finas, pois essas possuem menos colágeno (CERATI, 2007). Alguns cuidados são fundamentais no processo cicatricial. Após uma cirurgia plástica, deve-se respeitar o período de cicatrização, pois a exposição solar 7 pode acelerar o processo de produção de melanina, deixando assim cicatrizes mais escuras e difíceis de serem tratadas, sendo que se houver a exposição, deve-se passar filtro solar e utilizar micropore sobre a cicatriz. Também é de grande importância obedecer o tempo de descanso indicado pelo médico, pois o excesso de esforço ou movimento pode prejudicar o resultado final da cicatriz (CERATI, 2007). 2.3. Alta frequência Oliveira e Perez (2008, p.22), descrevem alta frequência como: “Técnica que utiliza correntes alternadas de alta frequência, em que os gases argón, chenon ou neon, em contato com o oxigênio do ar transformam-se em ozônio. Os principais efeitos fisiológicos são: efeito térmico, vasodilatação e hiperemia, aumento da oxigenação celular, ação bactericida e antisséptica e melhora do trofismo dérmico.” A eletricidade é uma forma básica de energia que pode produzir efeitos significativos sobre os tecidos biológicos, pois a condução de carga elétrica através da matéria, de um ponto para outro, causa mudanças fisiológicas durante todo o processo de aplicação, por isso tem sido usada por centenas de anos como proposta terapêutica (ROBINSON, 2002). O equipamento de alta frequência auxilia na limpeza de pele, nos tratamentos capilares para ativação da circulação periférica do couro cabeludo, na cicatrização das lesões causadas por acnes, favorecendo o processo de reparação da pele, e na ionização indireta de substâncias como ampolas aquosas nutritivas a base de colágeno (SANTOS; GUIMARÃES, 2008). Assim como o laser, é conhecido o benefício da utilização do gerador de alta frequência na aceleração do processo de cicatrização, porém há poucos dados da literatura comprovando tais benefícios (SÁ et al., 2010). A alta frequência, de acordo com Borges (2006, p.76), “É um aparelho que trabalha com correntes alternadas de alta frequência, cujos parâmetros de frequência e tensão podem variar de acordo com o fabricante.” A corrente de alta frequência ao atravessar o eletrodo adquire diferentes tonalidades de acordo com o conteúdo do mesmo, no caso do vácuo à corrente adquire uma luminescência azulada, já na presença de gás neón, a corrente adquire uma tonalidade alaranjada (SORIANO et. al. 2002). 8 Os equipamentos tradicionais comportam um só porta eletrodo, os equipamentos recentes, com maior performance permitem a utilização de vários eletrodos simultaneamente, tais eletrodos são flexíveis por serem envoltos em silicones (HERNANDEZ; MERCIER-FRESNEL, 1999). A aplicação da alta frequência deixa sobre a pele certa quantidade de energia em forma de calor, apesar de pouco significativo esse aumento de temperatura é suficiente para acelerar o metabolismo, estimulando a circulação periférica com consequente ação vasodilatadora e hiperemiante, aumentando a oxigenação celular e a eliminação de anidrido carbônico (SORIANO et. al., 2002). A ação eletrosmótica é uma particularidade das correntes de alta frequência, permitindo que substâncias diversas, sem a associação molecular, penetrem nos tecidos por osmose (HERNANDEZ; MERCIER-FRESNEL, 1999). Através de pequenas faíscas produzidas pela corrente de alta frequência ocorre o favorecimento da mobilização dos produtos químicos cosméticos, e através deste, tem-se a penetração aumentada pela dilatação dos óstios, devido ao calor (PEREIRA, 2007). Em equipamentos de melhor desempenho foi bloqueada a produção de ozônio para que os princípios ativos possam permear nos tecidos sem sofrer modificação em sua estrutura, pois substâncias mais frágeis seriam destruídas pelo poder oxidante do ozônio (HERNANDEZ; MERCIER-FRESNEL, 1999). Sendo um recurso termoterápico, o equipamento de alta frequência acelera consideravelmente a divisão celular, o ozônio age como um bactericida, evitando o processo inflamatório na lesão, facilitando assim o desenvolvimento do tecido de granulação. A aplicação deste recurso contribui ainda para o processo de neoformação (SILVA & SILVA; DUARTE, 2010). Para Traina AA. (2008 apud SÁ et al., 2010) o ozônio, liberado pela alta frequência é um potente oxidante que, ao entrar em contato com fluídos orgânicos, vai promover a formação de moléculas ativas de oxigênio que agirão no metabolismo celular, proporcionando tanto benefícios à reparação tecidual, quanto tendo ação antimicrobiana. O ozônio é uma substância instável que se decompõe rapidamente em oxigênio molecular (O2) e em oxigênio ativo (O) o grande poder de desinfecção do ozônio é resultado da grande agressividade do oxigênio ativo nascente liberado 9 durante a decomposição do ozônio. Esse oxigênio ativo é um radical livre, sendo o oxidante mais agressivo depois do flúor (WINTER, [200-]). A ozonioterapia, por ser capaz de intervir no equilíbrio de óxido-redução, vem sendo bastante explorada como uma terapia alternativa no tratamento de doenças agudas e crônicas. O equipamento gerador de alta frequência vem sendo amplamente utilizado no tratamento de afecções de pele, acelerando o processo de cicatrização de feridas cutâneas (SÁ et al., 2010). Ao estudar a atividade do ozônio sobre dois microrganismos presentes na pele humana, o Staphylococcus aureus e esporos de Bacillus subtilis foi possível constatar através de estudos preliminares que o ozônio é um agente esterilizante, capaz de destruir completamente os Bacillus subtilis em tempo inferior a 15 minutos e células de Staphylococcus aureus quando exposto ao ozônio por 10 minutos. Notou-se então que o ozônio representa uma opção bactericida de grande importância na abordagem fisioterapêutica dermato-funcional através do equipamento de alta frequência (SUMITA, et. al., 2000). O ozônio pode ser utilizado em todos os tipos de pele e é ampla a sua utilização como germicida ou bactericida. Este gás penetrante é considerado uma forma instável do oxigênio, possuindo as mesmas propriedades deste, porém muito mais energético (PEREIRA, 2007). A eficácia do ozônio contra patógenos é bem reconhecida, porém seu uso na medicina foi por muito tempo ignorado ou desprezado, principalmente porque ele foi mal utilizado ou utilizado sem o controle adequado. O ozônio pode apresentar efeitos biológicos relevantes e, tendo seu índice terapêutico definido, pode-se tornar um importante e confiável método para o tratamento de várias doenças (BOCCI, 1996). O ozônio tem efeito bactericida, fungicida e de inativação viral, por tal motivo é empregado tanto na desinfecção de lesões infectadas, como em algumas doenças causadas por bactérias ou vírus. É recomendado no tratamento de distúrbios circulatórios e também para uma revitalização do organismo devido a seus benéficos efeitos sobre a circulação sanguínea. Em baixas concentrações o ozônio pode ainda modificar e estimular a resposta imunológica (KONRAD, [19-?]). A ação direta antimicrobiana que o ozônio exerce contra bactérias, vírus e fungos ocorrem devido a esses microrganismos não possuírem um sistema de 10 tamponamento antioxidante, portanto o estresse causado pelo ozônio acaba tornando-os frágeis. Já a ação microbicida indireta do ozônio é resultante das mudanças metabólicas que este provoca (PEREIRA et. al., 2005). O tratamento médico com ozônio foi introduzido no Brasil em 1975, pelo médico paulista Dr. Heinz Konrad ([19-?]) e, segundo ele, “é preciso que se domine perfeitamente a técnica correta, e que se tenha noção exata das quantidades e das concentrações de ozônio a serem utilizadas, para que se possa obter os melhores resultados possíveis.” A alta frequência é utilizada após a extração, por conta de seu efeito bactericida, descongestionante e cicatrizante (OLIVEIRA; PEREZ, 2008). Outro importante efeito terapêutico é a melhora do trofismo dérmico, que está relacionado à ação bactericida da alta frequência, pois muitas vezes o trofismo da pele, tem relação direta com os processos de regeneração tecidual, sendo prejudicado pela ação de bactérias (BORGES, 2006). Os efeitos diretos do calor são mais importantes do que as alterações sanguíneas, pois eles se manifestam por um pronunciado aumento de fagocitose e leucocitose (PEREIRA, 2007). De acordo com Pereira (2007, p. 9), “As aplicações do calor local determinam um sensível aumento da circulação e, pelo exposto, o vapor ozonizado é fundamental nos tratamentos.” Em estudo sobre a aceleração do processo cicatricial com o uso da eletroterapia, Silva e Duarte (2010), apontam a ação da alta frequência na cicatrização: “os resultados das aplicações contribuíram com um processo de neoformação, com a aceleração de fibroblastos e organização do colágeno, com isso, um melhor estado estético em pacientes com lesão de primeira intenção.” No pós-operatório da abdominoplastia e da rinoplastia o uso de alta frequência é bem vindo para auxiliar a oxigenação do tecido e pelo seu efeito bactericida. Utiliza-se uma gaze sobre a pele durante a aplicação da alta frequência para facilitar o deslizamento e diminuir a incidência da corrente direta sobre a pele (MAUAD, 2003). A aplicação da alta frequência varia entre três a dez minutos. A intensidade adotada é aquela suficiente para gerar faiscamento, respeitando a sensibilidade do indivíduo. A desinfecção dos eletrodos após o uso é feita com algodão embebido 11 em álcool 70%. As principais contra indicações são: marca-passo cardíaco, gestantes, alterações de sensibilidade, pele com produtos inflamáveis e neoplasias (OLIVEIRA; PEREZ, 2008). Para as diversas aplicações de alta frequência são utilizados eletrodos constituídos por um tubo de vidro que podem assumir formatos variados, adaptando-se às diferentes regiões corporais nas quais serão aplicados (SORIANO et. al. 2002). 3 METODOLOGIA O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica exploratória qualitativa, podendo ser caracterizado da seguinte forma: Pesquisa bibliográfica: elaborada a partir de livros, artigos e material já publicado. É fundamental em estudos históricos, pois se torna mais fácil conhecer os acontecimentos passados através de uma pesquisa com base em dados secundários (GIL, 1999). Exploratória: tem por objetivo desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, visando solucionar problemas ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Para tanto é feito um levantamento bibliográfico e documental. Procedimentos de amostragem e técnicas de coleta de dados não são realizados neste tipo de pesquisa. Este tipo de estudo é feito especialmente quando um determinado assunto é pouco explorado, visando fazer uma investigação mais ampla. Ao final do processo de pesquisa o problema passa a ser mais bem esclarecido (GIL, 1994). Qualitativa: ocorre uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Não requer uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tem como focos principais de abordagem, analisar dados indutivamente (SILVA E MENEZES, 2001). A pesquisa a respeito do tema foi realizada através da análise sistemática de capítulos de livros-texto da área de Estética e de Eletroterapia que abordavam o assunto em questão. Foi também realizada busca nas seguintes bases de dados 12 de informação em saúde: Pubmed/Medline, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico utilizando como unitermos as seguintes palavras-chave: alta-frequência, ozonioterapia, pele, cicatrização, cicatrização+pele, alta frequência+bactericida, alta-frequência+cicatrização nas bases de dados em português e high frequency, wound healing e ozone therapy nas bases de dados em inglês sendo encontrados e estudados sistematicamente quatro artigos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabe-se que uma ferida infectada não cicatrizará satisfatoriamente, por isso é de grande importância a destruição dos microrganismos presentes na mesma. A aplicação da alta frequência promete acelerar o processo cicatricial devido a sua ação antimicrobiana. As propriedades do equipamento de alta frequência são resultado da liberação do gás O3, um potente oxidante que ao destruir as bactérias presentes na lesão evita a resposta inflamatória, facilitando assim a formação do tecido de granulação, contribuindo para o processo de neoformação, acelerando a produção de fibroblastos e a organização do colágeno, proporcionando uma cicatriz de melhor aparência. Outro importante efeito da corrente de alta frequência é a geração de calor, o que aumenta o fluxo sanguíneo, resultando em uma melhora do trofismo, da oxigenação e do metabolismo celular. Conclui-se com este estudo que os efeitos do equipamento de alta frequência encaixam-se perfeitamente nas necessidades de uma boa cicatrização. Portanto, este é um recurso eletroterapêutico que pode e deve ser utilizado com a função de aperfeiçoar o resultado de cicatrizes. Observando-se as contra indicações, as formas de aplicação, o tempo e a concentração adequada para cada caso, o tecnólogo em cosmetologia e estética pode ter na alta frequência uma opção para proporcionar um tratamento satisfatório, indolor e de baixo custo em cicatrizes de seus clientes. Este estudo teve o intuito de colaborar com estudos já realizados e pesquisas futuras na área da eletroterapia estética, sendo sugerida a realização de estudos práticos para a determinação de parâmetros ideais de utilização como o 13 tempo de aplicação, intensidade da corrente e a averiguação dos resultados estéticos no tratamento de cada tipo de cicatriz. 14 REFERÊNCIAS BOCCI, V.; Does ozone therapy normalize the cellular redox balance? Implications for therapy of human immunodeficiency virus infection and several other diseases. Med. Hypotheses, 1996. BORELLI, Shirlei. As idades da pele: orientação e prevenção. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2004. BORGES, F S. 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