UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PERIODONTIA E PRÓTESE DENTÁRIA Avaliação in vitro da adesão e proliferação de células mesenquimais do ligamento periodontal humano em diferentes superfícies de titânio Rodrigo Alves Ribeiro Natal/RN 2011 1 Rodrigo Alves Ribeiro Avaliação in vitro da adesão e proliferação de células mesenquimais do ligamento periodontal humano em diferentes superfícies de titânio Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Odontologia do CCS/UFRN, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Odontologia, com área de concentração em Periodontia e Prótese Dentária. Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barboza Natal/RN 2011 2 Dedico este trabalho... À Deus, “Você se fez presente em todos os momentos, firmes ou trêmulos. E passo a passo, pude sentir suas mãos nas minhas, trasmitindo-me a segurança necessária para enfrentar meu caminho a seguir...” (Vinícuis de Moraes) À minha Família; Henry, Socorro e Camila, dedico à vocês, que estão ao meu lado e que me fazem sentir seguro a cada passo dado. Sem vocês não teria conseguido. 3 Agradecimento Especial À DEUS, por me permitir enxergar muito além daquilo que se postava em minha frente, por me dar forças quando eu julgava não mais as ter, pela saúde, pelos amigos e por, através dos obstáculos, mostrar-me a força, o potencial e a fé existentes em mim. Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barboza, meu profundo agradecimento pelos valiosos ensinamentos acadêmicos e de vida, por toda confiança depositada, apoio, paciência, estímulo e pelo exemplo de competência e simplicidade que representa em minha formação acadêmica. Que Deus o abençoe e ilumine. Ao Prof. Dr. José Sandro Pereira da Silva, pelas amostras de titânio, pela disposição constante em ajudar e por sua incansável vontade de aprimoramento deste trabalho, além dos muitos conhecimentos transmitidos e tempo dispensado. Muito obrigado! 4 Agradecimentos Ao Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na pessoa de seu chefe, Prof. Dr. Ricardo Calazans, da qual tenho orgulho de fazer parte da minha formação. Ao Laboratório de Processamento a Plasma (LabPlasma), em nome do seu coordenador, Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior, por ter oferecido todas as condições para as etapas laboratoriais desse estudo. Ao Prof. Dr. Hugo Rocha, pela cessão do laboratório de cultivo celular do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociências da UFRN e aos seus alunos Raniere e Ruth pela ajuda dispensada Ao meu Pai, Henry Rodrigues Ribeiro, por não ser somente um Pai, mas um amigo fiel, com quem eu sempre pude contar. E que ensinou, com seu exemplo, os princípios de honestidade, humildade e apoiou-me nas conquistas e dificuldades incondicionalmente, com muito amor e carinho. À minha mãe, Maria do Socorro Alves Soares, essencial alicerce, porto seguro onde encontro paz e muito amor, que transforma minhas angústias, agitações e tristezas, em segurança e força. Braço direito que esteve ao meu lado em todos os momentos em que o chão me faltou aos pés. À minha namorada Bárbara Vanessa de Brito Monteiro, por seu incentivo, apoio, compreensão e companheirismo, que tanto contribuiu para esta conquista, e por me dar forças quando essa tendia faltar. Obrigado pelo seu amor e carinho. À minha irmã, Camila Alves Ribeiro, pela amizade, apoio e incentivo durante toda esta jornada. 5 Ao Professor e amigo, Dr. Josué Alves, agradeço pela força e incentivo dado para o começo de uma carreira acadêmica. É um grande exemplo para minha vida profissional. Ao amigo Rodrigo Gadelha Vasconcelos, exemplo de humildade, bondade e esforço. Sua valiosa ajuda e dedicação foi fundamental no desenvolvimento dos experimentos laboratoriais deste trabalho. Meu sincero agradecimento! À aluna de iniciação científica, Fernanda Ginani, por compartilhar o conhecimento sobre cultura celular na fase experimental deste estudo. Ao amigo Alexandre da Cunha Diniz, pela solidariedade em todos os momentos, incentivo, amizade constante e alegria sempre presente durante nossa convivência diária. Obrigado por tudo e conte comigo, sempre. À amiga que com o tempo e as circunstâncias de convivência tornouse muito querida, Anna Paula Serêjo da Costa. Que todo o suporte e ombro-amigo que você me deu te retornem em bênçãos. Obrigado por toda paciência, compreensão, sincera amizade e carinho. Uma alegria compartilhada se transforma em dupla alegria; uma dor compartilhada, em meia dor. Obrigado por tudo. À todos os colegas do curso de mestrado por compartilharem suas experiências, em especial aos amigos Eudes Euller, Maria Regina, Jânio Rêgo, Gisele Chaves, Ângela Medeiros, Jaiane Ribeiro, Camila e Alberto Gurgel. Aprendi muito com vocês. Aos Professores da disciplina de Periodontia, Dr. Bruno Gurgel e Dra. Delane Rego pelos valiosos ensinamentos transmitidos, engrandecendo nossa formação. Aos Professores da disciplina de Prótese Dentária, Dra. Adriana da Fonte Porto Carreiro, Dr. Gustavo Augusto Seabra Barbosa, Dra. 6 Patrícia dos Santos Calderon e Dr. Ricardo Calazans pelo importante conhecimento científico que nos foi proporcionado. Ao Prof. Dr. Kênio Costa Lima, pela grande ajuda na realização da análise estatística deste trabalho. Aos Professores Dra. Ruthnéia Diógenes Alves Uchoa e Dr. José Sandro Pereira da Silva, pela participação na banca da qualificação, contribuindo para o aprimoramento deste trabalho de dissertação. À TODOS os professores do Programa de Pós-gaduação em Odontologia da UFRN, pela competência em ministrar as disciplinas do curso. Aos funcionários, Sandra e Lucas, meus agradecimentos pela eficiência, disponibilidade, paciência e colaboração. Ao Departamento de Energia Nuclear, na pessoa da Profa. Dra. Helen Jamal Khoury, pela colaboração na irradiação das amostras. À Profa. Dra. Christina Alves Peixoto, do CETENE (UFPE), pela realização da Microscopia Eletrônica de Varredura. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro na forma de bolsa de mestrado. À toda minha família e amigos, pelo estímulo no sucesso deste trabalho e pela compreensão em todos os momentos de ausência. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho, meu sincero agradecimento! 7 “Entrega o teu caminho ao Senhor, Confia Nele, e Ele o fará” Salmos 37:5 8 RESUMO Nos últimos anos, várias pesquisas científicas em Implantodontia têm buscado alternativas que proporcionem maior rapidez e qualidade no processo de osseointegração. Diferentes métodos de tratamento podem ser utilizados para modificar as propriedades topográficas e químicas da sua superfície do titânio, a fim de otimizar as reações tecido-implante através de uma resposta tecidual favorável. O presente trabalho teve como objetivo analisar a adesão e proliferação de células mesenquimais de ligamento periodontal humano a diferentes superfícies de titânio, através de técnicas de cultivo celular. Discos de titânio grau II receberam diferentes tratamentos de superfície, constituindo dois grupos distintos: polido e nitretado a plasma na configuração de gaiola catódica. Células mesenquimais obtidas do ligamento periodontal de dentes humanos hígidos foram cultivadas sobre os discos de titânio em placas de cultivo de 24 poços, na densidade de 2 x 104 células/poço, incluindo poços sem discos como controle positivo. Os dados obtidos das contagens das células aderidas às superfícies de titânio (grupo polido e grupo gaiola catódica) e à superfície plástica (grupo controle), nos intervalos de 24, 48 e 72 horas após o plaqueamento, foram utilizados para analisar a adesão e proliferação celular e obter a curva de crescimento celular nos diferentes grupos. Os dados foram submetidos a análises não paramétricas e as diferenças entre os grupos foram comparadas pelos testes estatísticos Kruskal-Wallis e Friedman. Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas nas contagens celulares entre os grupos estudados (p>0,05). Conclui-se que ambos os tratamentos produziram superfícies compatíveis com adesão e proliferação de células mesenquimais do ligamento periodontal humano. Palavras-chave: Células-tronco, Técnicas de cultura celular, Titânio. 9 ABSTRACT In the last years, many scientific researches in implantology have been focused on alternatives that would provide higher speed and quality in the process of osseointegration. Different treatment methods can be used to modify the topographic and chemical properties of titanium surface in order to optimize the tissue-implant reactions by a positive tissue response. This study aimed to evaluate the adhesion and proliferation of mesenchymal cells from human periodontal ligament on two different titanium surfaces, using cell culture techniques. Grade II titanium discs received different surface treatments, forming two distinct groups: polished and cathodic cage plasma nitriding. Human periodontal ligament mesenchymal cells were cultured on titanium discs in 24-well cell culture plates, at a density of 2 x 104 cells per well, including wells with no discs as positive control. Data obtained by counting the cells that adhered to the titanium surfaces (polished group and cathodic cage group) and to the plastic surface (control group), in the 24, 48 and 72-hour periods after plating, were used to analyze cell adhesion and proliferation and to obtain the cell growing curve in the different groups. The data were submitted to nonparametric analysis and the differences between groups were compared by Kruskal-Wallis and Friedman statistical tests. No statistically significant differences were found in the cells counts between the groups (p>0.05). It was concluded that both treatments produced surfaces compatible with the adhesion and proliferation of human periodontal ligament mesenchymal cells. Keywords: Stem cells, Cell culture techniques, Titanium. 10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ASTM Sociedade Americana para análise e padronização de Materiais ºC Graus Celsius CCC Cúbica de corpo centrado CD Marcador de superfície celular Cm Centímetro cm2 Centímetro quadrado CO2 Gás carbônico Dina/cm² Dinas por centímetro quadrado Dp Desvio-padrão da média DRX Difração de raio-X FBS Soro Fetal Bovino GN/m² Giganewton por metro quadrado g/cm³ Grama por centímetro cúbico HC Hexagonal compacta K Constante dielétrica kGy Quilogray kGy/h Quilogray por hora M Molar MEV Microscopia Eletrônica de Varredura mA Miliampére Mbar Milibar mg/L Miligramas por litro mg/mL Miligramas por mililitro ml Mililitro MPa Mega Pascal mm Milímetro mm2 Milímetro quadrado mM Milimolar µl Microlitro µm Micrômetros µg/ml Microgramas por mililitro 11 pH Potencial hidrogeniônico Ra Rugosidade média RPM Rotações por minuto Sccm Centímetro cúbico padrão por minuto SBF Fluido corpóreo simulado Ti Titânio Ti-cp Titânio comercialmente puro TiO Óxido de titânio TiO2 Dióxido de titânio Ti2O3 Trióxido de titânio Ti6Al4V Titânio-Alumínio-Vanádio TiN Nitreto de titânio Torr Unidade de pressão em mmHg U.I. Unidades internacionais UV Ultra-violeta V Volt Vo Potencial elétrico ∂ Alfa α-MEM Meio essencial mínimo tipo alfa ß Beta 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais propriedades do titânio. Tabela 2 – Concentrações máximas permitidas para as impurezas nas principais formas de Ti cp e ligas (% em peso). Tabela 3 – Variáveis estudadas. Tabela 4 – Parâmetros de tratamento com plasma de nitrogênio. Tabela 5 – Análise da adesão celular em 24 horas referente aos diferentes grupos de estudo. Tabela 6 – Análise da proliferação celular em 48 horas referente aos diferentes grupos de estudo. Tabela 7 – Análise da proliferação celular em 72 horas referente aos diferentes grupos de estudo. 13 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Esquema básico de um equipamento para nitretação iônica. Figura 2. Processo de nitretação em gaiola catódica mostrando que o “sputtering” atua diretamente na tela, arrancando átomos de titânio que, por sua vez, se combinam com o nitrogênio havendo deposição de nitreto de titânio na superfície da amostra. Figura 3. Discos de titânio embutidos em resina de poliéster. Figura 4. Discos de titânio após o polimento. Figura 5. Representação esquemática do processo de nitretação em gaiola catódica. Figura 6. Amostras de titânio sendo nitretadas em gaiola catódica. Figura 7. Remoção das células do ligamento periodontal dos terceiros molares. Figura 8. Digestão enzimática do extrato celular com dispase e colagenase. Figura 9. Desenho esquemático da placa de 24 poços e a distribuição dos discos para o cultivo das células nos diferentes grupos. Figura 10. Curva de crescimento das células em diferentes intervalos de tempo. 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................... 19 2.1 Titânio................................................................................................. 19 2.2 Tratamento de superfície.................................................................. 23 2.3 Nitretação Iônica................................................................................ 30 2.4. Células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal..................................................................................................... 34 2.4.1 Respostas celulares ao tratamento de superfície...................... 37 3 PROPOSIÇÃO............................................................................................. 41 4 METODOLOGIA.......................................................................................... 42 4.1 Implicações éticas............................................................................. 42 4.2 Caracterização do estudo................................................................. 42 4.2.1 Tipo do estudo............................................................................. 42 4.2.2 Desenho do estudo..................................................................... 42 4.3 Desenho do estudo........................................................................... 42 4.4 Amostras............................................................................................ 43 4.4.1 Preparo das amostras.................................................................. 43 4.5 Protocolo de nitretação.................................................................... 44 4.6 Esterilização das amostras.............................................................. 45 4.7 Cultura de células............................................................................. 46 4.7.1 Obtenção dos elementos dentários.............................................. 46 4.7.2 Obtenção das células mesenquimais do ligamento periodontal.. 46 4.7.3 Cultivo das células mesenquimais do ligamento periodontal....... 47 4.8 Cultivo celular sobre discos de Titânio........................................... 48 4.8.1 Análise da adesão e proliferação celular..................................... 49 4.9 Análise estatística............................................................................. 49 5 RESULTADOS............................................................................................. 50 5.1 Adesão e Proliferação celular...................................................... 50 5.2 Curva de Crescimento.................................................................. 51 15 6 DISCUSSÂO................................................................................................ 53 7 CONCLUSÕES........................................................................................... 61 REFERÊNCIAS............................................................................................... 62 ANEXOS.......................................................................................................... 73 16 1 INTRODUÇÃO A partir do estabelecimento de critérios clínicos e experimentais para o alcance da osseointegração, tornou-se necessária a busca de alternativas que proporcionem maior qualidade e rapidez nesse processo. As pesquisas na área de Implantodontia têm se direcionado para a viabilização mais rápida dos implantes dentários para estabelecimento de função, na tentativa até mesmo de eliminar o período de cicatrização óssea livre de carga funcional, como recomendado nos protocolos iniciais de Bränemark (TEIXEIRA, 2001). A osseointegração requer a utilização de implantes confeccionados com material e superfície atrativas à deposição óssea. O titânio comercialmente puro é o material de escolha para a confecção dos implantes endósseos, pois exibe características peculiares: é um biomaterial que possibilita uma resposta tecidual favorável; apresenta estabilidade química dos seus componentes; estimula a atividade celular na formação da matriz óssea; tem elevada resistência à corrosão; e não provoca reações de hipersensibilidade ou imunológicas (JOLY, LIMA, 2003). A camada de óxido de titânio é responsável pela adaptação íntima – denominada osseointegração ou anquilose funcional entre o osso mineralizado e a superfície do implante (BRANEMARK et al., 1969; SCHROEDER et al., 1981). De acordo com Sul, Johansson, Albrektsson (2002), a cicatrização ao redor dos implantes usinados ocorre através de um gradual processo de mineralização do osso para o implante. As células em contato com a superfície permitem a mineralização óssea; além disso, o processo de cicatrização ocorre em vários dias e o processo de remodelação leva semanas ou anos. O tempo de cicatrização para implantes dentais sem tratamento de superfície é maior do que os que utilizam uma superfície tratada. O tratamento da superfície de titânio reduz o tempo de mineralização e acelera os mecanismos de adesão entre implante e osso. Com o tratamento de superfície, é possível modificar as características dos implantes dentais, tais como a composição química, a morfologia, a topografia e a rugosidade (RUPP et al., 2006). A utilização de culturas celulares, com o objetivo de avaliar o efeito do substrato sobre o comportamento dos osteoblastos durante o processo de 17 osseointegração, tem sido amplamente empregada na pesquisa em Implantodontia. Diversos eventos biológicos associados à cicatrização óssea sobre superfícies de implantes podem ser investigados com a utilização de culturas celulares apropriadas. Adesão, proliferação e diferenciação celular, assim como produção e mineralização de matriz extracelular, são alguns dos eventos que podem ser analisados isoladamente. Interpretações legítimas de experimentos in vitro devem ser discutidas em termos de limitações práticas, técnicas e biológicas referentes à utilização de culturas celulares. A utilização dessas culturas permite o acesso a informações celulares e moleculares que favorecem uma abordagem de engenharia nanoestrutural no desenho do implante e hipóteses significativas para serem testadas. Neste contexto, culturas celulares oferecem uma oportunidade única dentro do processo e fenômeno de osseointegração (COOPER et al., 1998). O titânio tem sido o material mais utilizado atualmente em implantodontia. As células do ligamento periodontal quando cultivadas sobre esse biomaterial mostraram ser capazes de formar tecidos semelhantes a um verdadeiro ligamento periodontal ao redor do titânio, através do processo de osseointegração (CHOI, 2000), fato este o que justifica o aprofundamento dos estudos relativos à integração entre estes componentes (titânio e células do ligamento periodontal). A busca por uma superfície de titânio que favoreça os eventos celulares que podem resultar em uma osseointegração mais rápida e eficiente foi o que motivou o presente estudo. Nesse sentido, busca-se avaliar a adesão e a proliferação de células mesenquimais obtidas do ligamento periodontal de terceiros molares hígidos de humanos em superfícies de titânio polidas e nitretadas por plasma. 18 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Titânio Segundo Williams (1999) um biomaterial é qualquer material, sintético ou natural, que pode ser usado como um sistema ou parte de um sistema que repare ou substitua algum tecido, órgão ou função do corpo. Já a biocompatibilidade de um dispositivo médico implantável por longo período compreende a capacidade de o dispositivo cumprir com sua função destinada, com o desejado grau de incorporação no hospedeiro, sem provocar efeitos locais ou sistêmicos indesejáveis. O metal titânio e suas ligas têm sido usados com sucesso como biomateriais, devido às suas propriedades mecânicas e químicas, excelente resistência à corrosão e biocompatibilidade (HAMADA et al., 2002). A alta resistência à corrosão sob condições normais resulta da formação de uma película natural da superfície. Embora a película de óxido tenha uma estrutura não densa, é estável e protege o metal contra a maioria dos ambientes. A nova camada passiva é formada em milisegundos pela reação com o ambiente local, mas íons metálicos são liberados no processo (AZADEH, ASHRAFIZADEH, 2009). Diversos biomateriais têm sido utilizados em cirurgias ortopédicas e odontológicas. Suas aplicações incluem dispositivos de fixação de vértebras, discos vertebrais, além de stents cardiovasculares. O titânio e as ligas à base de titânio possuem biocompatibilidade, resistência à corrosão, baixo módulo de elasticidade e baixa densidade. Devido a estas qualidades, o titânio é o material de escolha para as cirurgias de implantes odontológicos e ortopédicos. A forma do implante é outro fator importante a ser considerado para a substituição do tecido duro, pois havendo concentração de tensão, o fenômeno de reabsorção do osso natural pode acontecer, promovendo o enfraquecimento da interface osso-implante. Esta é a causa principal do insucesso da osseointegração (RACK, QAZI, 2006). O titânio apresenta-se como um elemento alotrópico, ou seja, ele existe em mais de uma forma cristalina. Em temperatura ambiente apresenta uma estrutura cristalina tipo hexagonal compacta (HC) que é a fase alfa (α). Esta 19 estrutura transforma-se em cúbica de corpo centrado (CCC), denominada de fase beta (ß), na temperatura de 882,5ºC (LIU; CHU; DING, 2004). A tabela 1 apresenta algumas das principais propriedades do titânio. Tabela 1 – Principais propriedades do titânio (DONACHIE, 1988). Propriedades químicas, físicas, físico-químicas e mecânicas Valores para o Titânio Puro Número atômico 22 Peso atômico 47,9 Estrutura cristalina 1 α - hexagonal compacta para temperaturas menores que 882,5 Cº ß – cúbica de corpo centrado para temperaturas acima de 882,5 Cº Estrutura cristalina 2 Cor Cinza escuro Ponto de fusão 1668 ± 10ºC Dureza HBR 70 a 74 Resistência à tração 520 Mpa Módulo de elasticidade 107 GN/m2 Densidade 4,51 g/cm3 Para a Sociedade Americana para Análise e Padronização de Materiais (ASTM), o titânio é classificado em 12 diferentes graus de pureza, sendo que os quatro primeiros seriam o que se convencionou chamar de titânio comercialmente puro (Ti cp) e as graduações restantes seriam ligas. Para a confecção de implantes odontológicos e ortopédicos deve ser utilizada uma composição química de titânio próxima da pureza absoluta, pois muitos componentes não possuem efeito totalmente conhecido sobre o organismo humano, especialmente quando em longo período de contato (TROTA FILHO, 2007). As diferentes concentrações dos elementos nitrogênio, carbono, hidrogênio, ferro, oxigênio e titânio, assim como suas propriedades mecânicas, distinguem os diferentes graus de pureza do titânio (tabela 2). 20 Tabela 2 - Concentrações máximas permitidas para as impurezas nas principais formas de Ti cp e ligas (% em peso) (ADAPTADO DE DONACHIE, 1988). Liga Elemento (% Impureza) N C H Fe O Al V Ti Ti grau I 0,03 0,10 0,015 0,02 0,18 - - Balanço Ti grau II 0,03 0,10 0,015 0,03 0,25 - - Balanço Ti grau III 0,05 0,10 0,015 0,03 0,35 - - Balanço Ti grau IV 0,05 0,10 0,015 0,05 0,40 - - Balanço Ti grau V 0,05 0,10 0,015 0,03 0,25 - - Balanço Ti grau VII 0,03 0,08 0,015 0,03 0,25 - - Balanço Ti6Al4V 0,05 0,08 0,012 0,25 0,13 5,5 – 6,5 3,5 – 4,5 Balanço Esse metal é bastante reativo e em contato com pequenas concentrações de oxigênio ou água (na faixa de parte por milhão) forma óxidos que podem ser TiO, Ti2O3 ou TiO2, sendo este último o mais comumente encontrado. Esta variedade ocorre em consequência de existirem diversas formas estáveis desse óxido e devido ao fato do oxigênio ser bastante reativo com o titânio. O óxido mais estável é o TiO2 uma vez que é termodinamicamente estável devido a sua energia livre de Gibbs altamente negativa em comparação com os outros óxidos de titânio (LIU; CHU; DING, 2004). As propriedades dessas ligas dependem da composição, da proporção relativa das fases α e ß, dos tratamentos térmicos e das condições de processamento termo-mecânicas. As ligas do tipo ß oferecem propriedades únicas, possuindo baixo módulo de elasticidade e alta resistência à corrosão (LIU; CHU; DING, 2004; RACK; QAZI, 2006). O titânio, todavia, sofre uma redução de suas propriedades depois que é exposto a um ambiente fisiológico. A sua modificação superficial é capaz de prevenir essas alterações e pode ser 21 usada para melhorar a resposta óssea e a eficácia do implante (BRAMA et al, 2007). O aumento do uso do titânio e suas ligas como biomateriais deve-se ao seu baixo módulo de elasticidade, superior biocompatibilidade e alta resistência à corrosão quando comparado ao aço inoxidável e ligas a base de cobalto que também possuem aplicações médicas e odontológicas (LIU; CHU; DING, 2004). Uma contribuição para a sua biocompatibilidade é a grande resistência à corrosão que é conferida por seu óxido, que forma uma película contínua e aderente (SILVA, 2006). A camada de Ti02, formada espontaneamente durante o processo de torneamento dos implantes, é semicondutora ou não condutora e previne a troca de elétrons e qualquer reação redox na superfície. Dessa forma, os produtos de corrosão nos tecidos não estão em forma de íon, mas como óxidos estáveis. Em meios fisiológicos a camada de óxido é altamente protetora prevenindo o contato entre o meio e o metal base, o que significa que não existe o contato direto entre o metal e seus tecidos hospedeiros, mas certamente entre o tecido e a superfície do óxido formado (KASEMO, 1998). Outra vantagem desse material é a sua constante dielétrica (k) alta (de 20 a 50) quando comparada com a de outros óxidos, propriedade essa que pode retardar o movimento celular sobre superfícies e causar menor desnaturação das proteínas (Branemark et al., 1985). Segundo Silva (2006), o TiO2 promove forças de Van der Waals maiores do que a dos outros óxidos, apresentando propriedades catalíticas em diversas reações químicas. A natureza, bem como a composição e espessura da camada do óxido depende das condições do meio circunvizinho. Geralmente, em meio aquoso, o óxido presente é o TiO2. No entanto, pode haver uma mistura de outros óxidos como Ti2O3 e TiO. Embora a camada de óxido seja termodinamicamente muito estável, reações com o fluido ou meio biológico podem ocorrer. Espécies contendo titânio são liberadas nos tecidos adjacentes e, ao mesmo tempo, espécies contendo oxigênio nos fluidos biológicos são adsorvidas, levando ao aumento na espessura da camada de óxido. Existe a possibilidade de dissolução da camada protetora de óxido, o processo químico, denominado corrosão, que 22 representa um problema sério para alguns materiais de implante, parece ser um processo muito lento com o titânio, provavelmente devido à alta estabilidade de seus óxidos (SILVA, 2009). A estabilidade de implantes dentais depende da integração do material artificial com o tecido ósseo. As propriedades físicas e químicas dos implantes podem influenciar a osseointegração; todavia, apesar de se reconhecer a importância desta interface, pouco se sabe sobre os fatores que promovem sua atuação no processo de osseointegração (CIRANO, 2007). Antes das aplicações os biomateriais são frequentemente analisados e testados in vitro e in vivo quanto às suas propriedades osteocondutivas e indutivas. Para a osteoindução é necessário haver células capazes de se diferenciarem em células formadoras de osso. O parâmetro mais confiável para a diferenciação final e formação óssea consiste na produção de células intermediárias controladas pela matriz extracelular calcificada. Os implantes removidos do organismo humano apresentam clara correlação entre a corrosão do metal e a resposta tecidual. Além disso, os íons liberados pela degradação da prótese podem afetar a resposta celular em locais sadios do corpo humano. O efeito da dissolução dos íons depende da taxa de difusão, através da camada de óxidos do metal e da dissolução dos óxidos (MARQUES, 2007). Apesar do sucesso obtido com o titânio, desde seu lançamento comercial, outras alternativas de tratamento de superfícies nunca deixaram de ser investigadas, sobretudo aquelas superfícies rugosas com grande potencial de ancoragem óssea. Ainda que o método de implantes osseointegrados já tenha se consolidado como uma possibilidade para a restauração das perdas dentais, uma confirmação de que determinadas superfícies possibilitam maior e mais rápido contato ósseo na fase de cicatrização e contato ósseo duradouro quando em função poderá seguramente colaborar para a otimização do procedimento. 2.2 Tratamento de superfície Albrektsson et al. (1981) propuseram seis fatores que tem sido geralmente aceitos como especialmente importantes para o estabelecimento de uma osseointegração de confiança: material do implante, desenho do 23 implante, condições da superfície, o estado do osso, técnica cirúrgica e condições de carga. A superfície do implante parece exercer influência nos processos biológicos da interface implante/osso que determinarão o sucesso ou falha da implantação. Na tentativa de aumentar o índice de sucesso dos implantes, temse adotado o controle das características da superfície dos implantes, principalmente em termos de topografia, composição química e energia superficial. Para alterar a morfologia dessa superfície são empregados diferentes tratamentos, tais como: jateamento com partículas abrasivas, ataque ácido, tratamento a plasma, tratamento com laser, etc. Os parâmetros adequados para uma superfície apropriada de implantes ainda não estão bem definidos na literatura. Assim, novas técnicas de modificação de superfícies vêm sendo estudadas. Estas técnicas produzem modificações físico-químicas e morfológicas. Os tratamentos podem ser classificados de duas maneiras: subtração e adição (SYCARAS et al., 2000). Os processos de subtração são aqueles que retiram uma camada da superfície, incluem o processo de jateamento de partículas, ataque químico e mais recentemente a modificação a laser (SILVA et al., 2006); já o processo de adição, por sua vez, é caracterizado pela deposição de uma camada sobre a superfície, podem produzir superfícies porosas e rugosas, características estas que influenciarão na camada de óxido a ser produzida. Nestes casos, um dos processos mais usados tem sido a aspersão térmica, através do processo de plasma spray, que serve para revestir implantes com titânio ou hidroxiapatita (LANCHETTA, GUEZENNEC, 2001). É unânime entre os pesquisadores que as propriedades físico-químicas das superfícies dos implantes exercem um papel fundamental no sucesso da osseointegração. As interações moleculares e celulares que norteiam o destino biológico dos implantes ocorrem nos estágios iniciais da cicatrização (AMARANTE, LIMA, 2001). In vivo, as superfícies ásperas induzem uma melhor fixação óssea do que superfícies usinadas, sugerindo que a rugosidade superficial poderia ter um efeito direto na adesão, proliferação e diferenciação dos osteoblastos (VEIS et al., 2004), processos estes que traduzem a resposta das células à superfície do material. 24 O objetivo das modificações mecânicas é obter uma superfície com topografia e rugosidade específicas, remover contaminações superficiais e/ou aumentar a aderência dos tratamentos que serão feitos posteriormente (LAUSMAA, 2001). Tratamentos químicos são utilizados para garantir aos implantes metálicos características tais como: limpeza e assepsia para o seu uso em cirurgias, eliminação de impurezas oriundas do processo de fabricação; rugosidade adequada da superfície visando o aumento de biocompatibilidade; obtenção de uma camada homogênea regular de óxido de espessura variável sobre a sua superfície (SENA, 2001). São baseados nas reações que ocorrem na interface do titânio e da solução, podendo ser ácidos ou alcalinos. Os alcalinos são tratamentos químicos superficiais aos quais são submetidos o titânio e suas ligas a fim de que se tornem bioativos. Os tratamentos ácidos são frequentemente usados para remover óxidos ou contaminações, objetivando obter-se uma superfície limpa e uniforme (SCHWARTZ et al., 1996; NANCI et al., 1998). Os processos físicos têm como característica a não ocorrência de reações químicas durante o processo de modificação da superfície. A formação de uma camada modificada, de filmes ou de revestimentos é atribuída à energia térmica, cinética e elétrica que são utilizadas nesses procedimentos, nos quais se incluem a deposição física de vapor e a aspersão térmica (VAZ, 2007). Desde que Bränemark et al. (1977) descreveram o mecanismo e os efeitos da osseointegração, há quase quatro décadas, diversas pesquisas biomédicas e de materiais têm procurado encontrar um desenho ideal da superfície de implante dentário capaz de garantir uma longa permanência de ancoragem ao tecido ósseo (VANZILLOTTA et al., 2006). O desenvolvimento da interface osso-implante depende das interações diretas dos osteoblastos com os biomateriais. A ligação celular parece ser muito sensível às variações na superfície de composição química e topografia (forma e rugosidade) do titânio comercialmente puro grau 4 (FENG et al., 2004). Características superficiais como: energia de superfície, rugosidade, topografia e aspectos químicos, como pH, são condições importantes para as interações do implante com o tecido ósseo do hospedeiro (NAYAB et al., 2005). 25 Alguns estudos mostram que a superfície rugosa pode direcionar o processo de osseointegração, influenciando mecanismos celulares importantes. Na verdade, o desenho microrrugoso do implante parece favorecer a adesão e diferenciação dos osteoblastos, além da produção da matriz extracelular mineralizada, in vitro (MARTIN et al., 1995) e in vivo (COCHRAN et al., 1998) . Os osteoblastos aderem à superfície de titânio e, frequentemente, cobrem a superfície restante com a proliferação celular. O fenótipo dos osteoblastos é mantido nas células cultivadas sobre o titânio. Estas células, porém, não respondem da mesma maneira em cultura sobre discos de titânio com diferentes rugosidades (CIRANO, 2007). O processo original de fabricação de implantes de titânio para implantação nos maxilares produz a superfície usinada com valores de rugosidade média (Ra) entre 0,5 e 1,0µm. Implantes com este tipo de superfície têm sido utilizados com sucesso no decorrer das ultimas décadas, embora estudos tenham demonstrado que a modificação da topografia tende a aumentar a área de contato osso-implante e a resistência da união na interface (WENNERBERG, 1999). A rugosidade superficial dos implantes pode ser analisada em três níveis de grandeza: macroscópica, microscópica e nanorugosidade. Cada tamanho de rugosidade propicia contatos diferentes com as células e biomoléculas e são responsáveis pela intensidade e tipos de ligações biológicas individuais. A macrorugosidade com ordem de grandeza de milímetro não influencia na osseointegração, mas afeta a distribuição das forças para o osso e na estabilidade do implante. As rugosidades entre 0,5 µm e 1,0 µm são encontradas nos implantes usinados e foram usadas na maioria dos implantes anteriores a 1995. No implantes usinados a ligação osso-implante ocorre devido à presença das ranhuras (ELIAS, LIMA, SANTOS, 2008). Há uma tendência atual de se obter superfícies híbridas, com morfologias com micro e nanorugosidade. Superfícies com valores de rugosidade média (Ra) menor ou igual a 1µm são consideradas lisas e aquelas acima de 1µm, rugosas. O modo como a superfície é produzida pode gerar topografias orientadas ou aleatórias. Por exemplo, em superfícies usinadas em tornos mecânicos, a direção e o fio da 26 ferramenta de corte originam sulcos periódicos de orientação paralela. Esta característica da topografia parece ter a capacidade de influenciar a orientação e a locomoção de tipos específicos de células e de diretamente afetar a forma e função celular (SYKARAS, 2000). O processo de crescimento de células sobre a superfície do implante se faz tão dependente da variação de rugosidade, que implantes com superfície no estado como usinada apresentam proliferação de células, preferencialmente, ao longo das marcas de usinagem. Trata-se de uma rugosidade com forte direcionalidade. Em contrapartida, nas superfícies submetidas ao tratamento para mudança da morfologia e rugosidade observouse uma menor direcionalidade quanto à rugosidade e, consequentemente uma melhor interação das células na superfície dos implantes. Outro aspecto a ser considerado em relação ao efeito da microestrutura superficial na adesão celular é o tipo de célula presente no micro-ambiente. Existem células com características de rugofilia, cujas superfícies rugosas são preferidas, como osteoblastos, macrófagos, células epiteliais e leucócitos, e células que são mais atraídas por superfícies lisas, como fibroblastos (ELIAS et al., 2004). Com base na identificação da rugosidade, as células iniciam diferentes reações e com diferentes velocidades. Nas superfícies de titânio lisas (rugosidades inferiores a 0,5 µm) há ligação de fibroblastos, enquanto nas superfícies com rugosidade entre 0,5 µm e a 1,5 µm há a adesão de osteoblastos. Ou seja, não basta que a célula identifique a presença do Ti cp para ocorrer a osseointegração, as reações que são desencadeadas na superfície dependem também da rugosidade superficial. Cada superfície provoca uma reação específica com várias fases que ocorrem simultaneamente (DAVIES, 1998; JOOS et al., 2006). Procura-se ter controle das características da superfície dos implantes para garantir adequada adsorção de proteínas, adesão, espalhamento, crescimento e ativação celular. O emprego do titânio na fabricação dos implantes dentários não é suficiente para garantir a osseointegração; para tanto, a rugosidade deve ter valores capazes de atrair células específicas que levam à deposição de matriz e sua mineralização. Assim, é importante que ocorra uma resposta especifica dos tecidos: na região em contato com tecidos duros a superfície do implante deve ter rugosidade para favorecer a atração e 27 adesão de osteoblastos, enquanto na região de contato com tecidos moles a superfície deve ser lisa para permitir a aderência de fibroblastos (ELIAS, LIMA, SANTOS, 2008). Outro fator de grande importância e que é alterado pelos tratamentos de superfície é a molhabilidade. Segundo Elias et al. (2004), a molhabilidade pode ser entendida como a energia livre superficial dos sólidos ou a capacidade do líquido molhar o sólido, e pode ser quantificada pela medida do ângulo de contato de um líquido com a superfície. Quando esse ângulo de contato é maior que 90 graus a superfície é hidrofóbica e quando é menor que 90 graus, a superfície é hidrofílica. Materiais com alta energia livre superficial adsorvem mais facilmente macromoléculas e possuem maior número de sítios favoráveis para permitir ligações das células. A regra geral é que materiais com tensão superficial entre 20 e 30 dinas/cm2 exibem baixa bioadesão e os materiais com valores de tensão superficial superiores a essa faixa apresentam melhores resultados para a osseointegração (BAIER, MEYER, 1988). A composição química da superfície determina a estabilidade e reatividade do implante, a qual deve ser constituída unicamente por óxido de titânio. Apesar de não existirem trabalhos conclusivos da influência das impurezas na superfície dos implantes, a superfície deve conter os menores níveis possíveis de contaminação. A energia de superfície e a existência de tensões residuais após o jateamento modificam a reatividade da superfície. A incorporação de revestimento, independendo do tipo e espessura da camada, modifica o comportamento das células e a cascata de reações (CARVALHO et al., 2009). Marques (2007) analisou quatro tipos de superfícies usadas comercialmente: usinada, superfície tratada com ácido, superfície anodizada e superfície tratada com flúor; e comparou a influência dos tratamentos superficiais do Ti cp na deposição de íons após a imersão em solução de fluído corpóreo simulado (SBF) durante 10, 20 e 30 dias. Os resultados mostraram que entre os três tratamentos superficiais, as superfícies com melhor resultado de deposição de íons da solução SBF foram às superfícies anodizada e a tratada com ácido. Guimarães (2010) avaliou a influência de diferentes tratamentos de superfície do titânio na adesão e proliferação de osteoblastos humanos, 28 através da análise quantitativa do número de células aderidas em diferentes períodos de cultura celular. Foram testadas as superfícies ácido-condicionadas, superfície com cobertura de hidroxiapatita e superfície com bisfosfonato imobilizado na cobertura de hidroxiapatita. Células osteoblásticas derivadas de osteossarcoma humano (SaOS-2) foram cultivadas sobre os discos e a contagem celular foi realizada em 3, 7 e 14 dias. O estudo concluiu que o tipo de tratamento de superfície do titânio e período de cultura celular, bem como a interação de ambos, afetam significativamente o crescimento celular e que a superfície de titânio, seja ela usinada ou ácido-condicionada, obteve melhores resultados de adesão e proliferação de células osteoblásticas quando comparada in vivo com superfícies de hidroxiapatita. Bucci-Sabattini et al. (2010), compararam uma superfície jateada com alumina e condicionada com ácido (grupo controle) com uma superfície de baixa impregnação de cálcio e fósforo (grupo experimental). A morfologia da superfície foi caracterizada através de microscopia eletrônica de varredura e de difração de raios-X (DRX). Adesão e proliferação celular e atividade da fosfatase alcalina foram avaliadas com osteoblastos humanos SaOS-2 e células mesenquimais do osso em condições de cultura não osteogênica. Os resultados mostraram que ambas as superfícies se apresentaram como um substrato adequado para adesão e crescimento de osteoblastos humanos SaOS-2 e nenhum sinal de citotoxidade foi detectado. Em relação à proliferação de células SaOS-2, as duas superícies não mostrarm diferenças estatísticas significantes. No grupo experimental, a atividade da fosfatase alcalina foi maior que no grupo controle. Para as células mesenquimais, a proliferação foi significante menor no grupo experimental em relação ao controle, embora a atividade da fosfatase alcalina tenha sido maior do grupo testado. Rosales-Leal et al. (2010), avaliaram o efeito da rugosidade, molhabilidade e morfologia de quatro tratamentos de superfície em titânio comercialmente puro na adesão de células osteoblásticas. Foram testados o condicionamento com ácido fluorídrico (eTi), o jateamento com óxido de alumina (bTi), a combinação de jateamento com óxido de alumina e condicionamento com ácido fluorídrico (beTi) e o titânio polido como grupo controle (pTi). A adesão celular (< 24h) foi maior nas superfícies bTi e beTi e 29 após 48 horas ocorreu uma aumento nas amostras do grupo eTi, seguidas pelo grupo beTi. O grupo titânio polido apresentou a superfície mais regular, seguido pelo grupo condicionamento ácido, que mostrou microporos de 1,5 a 2,5 µm de diâmetro. Na superfície jateada foram encontradas cavidades de 10 a 50 µm, sendo esta superfície a mais irregular. O grupo que teve a combinação do jateamento e do ataque ácido apresentou-se com características semelhantes ao grupo eTi. Em relação à molhabilidade, pTi obteve os menores valores, seguido por eTi, bTi e beTi. Os autores concluíram que para uma superfície com uma mesma composição química, o crescimento celular é dirigido pelas características topográficas da superfície; a adesão celular aumenta de acordo com a rugosidade da superfície, ou seja, quanto mais rugosa maior será a adesão celular; e que o grupo eTi teve melhores resultados porque gerou uma superfície com rugosidade de comprimento horizontal que se aproximava do tamanho da célula, facilitando sua acomodação. Macedo (2008) avaliou a influência da microestrutura produzida por diferentes tratamentos térmicos na resposta à proliferação de células osteoblásticas. Foram utilizados 21 discos de titânio de 15mm X 1,5mm (diâmetro X espessura) divididos em 7 grupos: têmpera (1100°C), têmpera e revenimento a 200°C, 300°C e 500°C, tratamento térm ico a 300°C e 500°C e controle (sem tratamento). Os discos foram colocados em placa de cultura celular de 24 poços e foram utilizadas células MC3T3-E1 (40.000 células por poço), mantidas em condições e cultura celular (5% de CO2 e 37°C) durante 24 horas. Pode-se concluir que a proliferação celular foi maior nos discos temperados e revenidos do que nos discos apenas com tratamento térmico e não tratados, ou seja, a proliferação foi maior nos discos que apresentavam maior tensão residual e não foi observada qualquer organização celular preferencial influenciada pela microestrutura. 2.3 Nitretação iônica A nitretação iônica (ion-nitriding) é um processo de tratamento termoquímico, usado para endurecimento superficial de metais ferrosos e um crescente número de materiais não ferrosos como ligas de titânio e alumínio (MICHEL et al.,1995), pela obtenção de uma camada de nitretos, que eleva a 30 resistência ao desgaste das superfícies tratadas (NICOLETO, TUCCI, ESPOSITO, 1996). O processo consiste em ionizar um gás ou mistura gasosa, contendo nitrogênio, através de uma descarga luminescente, gerada por uma diferença de potencial entre a amostra (cátodo) e o anodo, em uma atmosfera a baixa pressão. Os íons produzidos no plasma são acelerados em direção a amostra (cátodo), chocando-se com ela e fornecendo energia suficiente para aquecê-la até a temperatura de nitretação (O’BRIEN J.M.; GOODMAN D, 1991). A nitretação a plasma é um processo bem aceito industrialmente, porque apresenta várias vantagens em relação aos outros processos de nitretação (a gás e em banho de sais), tais como maior economia de gases e menor duração do processo, uma vez que a velocidade de difusão do nitrogênio é maior. É utilizada na melhoria das propriedades superficiais como dureza, resistências ao desgaste e à corrosão, com o objetivo de aumentar a vida útil das peças nitretadas (ALVES Jr., 2001). O termo “plasma” se aplica a um gás contendo espécies neutras e eletricamente carregadas como elétrons, íons positivos, íons negativos, átomos e moléculas. Na média, um plasma é eletricamente neutro porque qualquer desbalanceamento de carga resultará em campos elétricos que tendem a mover as cargas de modo a restabelecer o equilíbrio. Como resultado disso, a densidade de elétrons mais a densidade de íons negativos deve ser igual à densidade de íons positivos. As cargas livres no plasma podem mover-se em resposta a qualquer campo elétrico e neutralizá-lo. Se uma carga qualquer é inserida num plasma ou num campo é imposto, produzindo um potencial elétrico (Vo), as cargas livres, compostas de elétrons na grande maioria, se moverão formando uma blindagem elétrica, denominada blindagem de Debye (Alves Jr, 1995). Um equipamento típico de nitretação iônica é constituído basicamente de um sistema de vácuo, uma fonte de potência e um reator. O esquema de vácuo deve ser capaz de atingir em torno de 10–2 torr de pressão e possuir válvulas para controlar a vazão dos gases introduzidos para o tratamento. A fonte de potência possui uma saída CC, com voltagem máxima de aproximadamente 1500V, e uma corrente capaz de fornecer energia à peça, 31 para que ela seja aquecida a uma temperatura entre 300 e 700º C (Alves Jr, 1995). Figura 1. Esquema básico de um equipamento para nitretação iônica (ALVES Jr, 1995). O processo consiste em expor superfícies metálicas a um plasma nitretante, o qual é gerado devido a uma diferença de potencial entre dois eletrodos. Esses eletrodos estão contidos num reator hermeticamente fechado, onde é introduzida a atmosfera nitretante (tipicamente uma mistura de N2-H2, a uma pressão entre 1 e 10mbar. Os íons criados devido a essa diferença de potencial, em torno de 600V bombardeiam a superfície da peça presa ao catodo, aquecendo-a até a temperatura de trabalho. Nestas condições, o plasma já está revestindo completamente o catodo e a peça a ser nitretada. Os íons deste plasma estão sendo acelerados para a superfície do catodo onde diversos efeitos ocorrem, dentre eles o aquecimento da peça devido ao bombardeamento pelos íons. A partir daí, é contado o tempo de duração do processo. Após este tempo, a fonte é desligada e a peça é deixada para resfriar naturalmente (SILVA, 2009). No processo de nitretação iônica planar, o “sputtering” – que é definido como um processo de desarranjo e ejeção de átomos da superfície de um sólido devido a troca de momentum associado com o bombardeamento da superfície por partículas energéticas (HUDIS, 1973) – vai atuar diretamente na superfície das amostras, enquanto no processo em gaiola catódica o 32 “sputtering” atua na tela de titânio (gaiola), arrancando seus átomos que, por sua vez, se combinam com o nitrogênio da atmosfera e se condensam na superfície da amostra (LI, BELL, 2004). Na nitretação por gaiola catódica, as amostras isoladas eletricamente são envolvidas por uma tela, na qual um alto potencial catódico é aplicado. Dessa forma, o plasma atua na tela e não na superfície das amostras. Os componentes a serem tratados estão em um potencial flutuante ou sujeitos a uma baixa tensão de polarização, por exemplo -100 a - 200 V. Por esse motivo, configuração gaiola catódica reduz alguns danos causados pelo método de nitretação planar, como abertura de arco e efeito do cátodo oco (LI; BELL; DONG, 2002). Figura 2. Processo de nitretação em gaiola catódica mostrando que o “sputtering” atua diretamente na tela, arrancando átomos de titânio que, por sua vez, se combinam com o nitrogênio havendo deposição de nitreto de titânio na superfície da amostra. (ALVES Jr., 2005) A técnica de nitretação a plasma de metais é um método bem estabelecido com inúmeras aplicações industriais devido a resultados peculiares nas características físicas e químicas dos materiais, como o aumento na dureza, resistência ao desgaste e oxidação, além de comprovada biocompatibilidade (FIGUEROA, ALVAREZ, 2006). Guerra Neto, Silva, Alves Jr. (2009) estudaram a adesão e proliferação celular em superfícies de titânio nitretadas em plasma visando uma melhor osseointegração. Foram utilizadas 12 placas de titânio divididas em dois grupos com 6 amostras cada: grupo tratado com nitretação a plasma e grupo controle 33 sem tratamento. Foi utilizada a linhagem celular Osteo-1 com 1 X 104 células por poço que foram analisadas com 24, 48 e 72 horas. Tanto a adesão como a proliferação celular nas placas nitretadas foram superiores as placas sem tratamento. Além disso, a superfície nitretada apresentou melhores resultados no que se refere a molhabilidade e rugosidade que os implantes sem tratamento. Sá et al. (2009) modificou a superfície do titânio através do plasma por diferentes configurações e observou as alterações das propriedades relacionando-as com adesão e proliferação celular. Foram utilizadas as configurações de nitretação em gaiola catódica (G1); cátodo planar (G2); cátodo oco (G3); e oxidação em cátodo oco (G4). Das técnicas utilizadas, a nitretação por cátodo oco foi a que produziu melhores modificações nas propriedades da superfície para aplicações biomédicas (molhabilidade, microdureza, rugosidade e textura). Em relação a proliferação celular, foi mais acentuada nas amostras nitretadas em cátodo oco e na gaiola catódica, indicando que esses métodos de tratamento superficiais são viáveis e eficientes na avaliação in vitro da proliferação de células-tronco. 2.4 Células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal O ligamento periodontal é um tecido conjuntivo especializado, altamente vascularizado e rico em células, que desempenha um papel importante dando suporte ao dente, atuando na manutenção da homeostase e reparando danos teciduais causados pela doença periodontal ou por trauma mecânico (SHIMONO et al., 2003). Esse tecido contém uma população celular heterogênea, incluindo fibroblastos, cementoblastos, osteoblastos, células endoteliais e epitelias (LEKIC et al., 2001). O conceito de que células mesenquimais indiferenciadas podem estar presentes no ligamento periodontal foi inicialmente proposto por Melcher em 1976, o qual observou que estas células presentes no ligamento periodontal eram capazes de formarem fibroblastos, cementoblastos e osteoblastos. A partir de então, a capacidade regeneradora das células do ligamento 34 periodontal tem sido bastante pesquisada, conforme mostra a revisão realizada por Alves, Lins, Barboza (2010). As células-tronco são comumente definidas como células multipotentes, com capacidade de se diferenciarem em um ou mais tipos de células especializadas (COSTA, MIGUEL, ROSA, 2005). Há duas categorias de células-tronco: as células-tronco embriononárias pluripotentes, que são procedentes do embrioblasto durante a fase de blástula do embrião e que são capazes de dar origem a todas as linhagens celulares do corpo e a categoria de células unipotentes ou multipotentes, denominadas células-tronco adultas, que têm a capacidade de originar tipos celulares específicos (SOUZA et al., 2003). Existem várias fontes de células-tronco adultas, tais como: a medula óssea, o sangue, a córnea e a retina, o cordão umbilical, o fígado, a pele, o trato gastrointestinal e o pâncreas (SLACK, 2000). Há alguns anos, inúmeros estudos têm isolado células mesenquimais indiferenciadas derivadas dos tecidos orais, incluindo a polpa dentária (MIURA et al., 2003; SHI, GRONTHOS, 2003; SLOAN, SMITH, 2007) e o ligamento periodontal (AKIZUKI, 2005; CHEN et al., 2006; NAGATOMO, 2006). A maior vantagem do uso de células-tronco embrionárias é a sua capacidade de proliferação e de diferenciação em diversos tipos celulares. Contudo, existem desvantagens, como a sua instabilidade genética, a obrigatoriedade de sua transplantação para hospedeiros imunocomprometidos e o risco de formação de teratocarcinomas, além da questão ética (SOARES et al., 2007). As células-tronco adultas apresentam a vantagem de serem autogênicas, não incorrendo em limitações morais e responsivas aos fatores de crescimento inerentes ao hospedeiro. No entanto apresentam algumas desvantagens como o fato de não serem pluripotentes, a dificuldade de obtêlas, purificá-las e cultivá-las in vitro, além de sua presença em menor quantidade nos tecidos (RISBUD, SHAPIRO, 2005). Nagatomo et al. (2006) isolaram células do ligamento periodontal de prémolares e terceiros molares extraídos de humanos a fim de verificar as propriedades de renovação, multiplicação e expressão de marcadores dessas células. Análise de fluorescência ativada revelou que essas células 35 expressaram marcadores de células-tronco CD105, CD166, e STRO-1. Esses resultados sugerem que as células do ligamento periodontal incluem célulastronco mesenquimais juntamente com outras células progenitoras. Gay, Chen e Macdougall (2007) realizaram um estudo em que células do ligamento periodontal de humanos foram isoladas, marcadas para STRO-1 e separadas em meio de cultura com o objetivo de analisar sua capacidade de diferenciação em osso, cartilagem e tecido adiposo. Células da medula óssea foram usadas como controle nas mesmas condições de cultivo e indução. Os autores concluíram que as células do ligamento periodontal contêm células mesenquimais que têm o potencial de se diferenciarem em osteoblastos, condrócitos e adipócitos, semelhantes às células-tronco da medula óssea. Choi (2000), em um estudo piloto, cultivaram células do ligamento periodontal de cães e investigaram se essas células eram capazes de formar uma nova inserção do ligamento periodontal quando utilizadas sobre a superfície de implantes de titânio. Os implantes com as células cultivadas do ligamento periodontal foram colocados nas mandíbulas dos cães. Após 3 meses de cicatrização, o exame histológico revelou que em algumas superfícies do implante, uma camada com tecido semelhante ao cemento com inserção de fibras colágenas tinha sido alcançada. Estes resultados demonstraram que células cultivadas do ligamento periodontal podem formar tecidos semelhantes a um verdadeiro ligamento periodontal ao redor do titânio, o qual têm sido o biomaterial mais utilizado atualmente em implantodontia através do processo de osseointegração. A capacidade de expandir as células-tronco em cultura é um passo indispensável para medicina regenerativa, e um esforço considerável tem sido feito para avaliar as consequências do cultivo no comportamento das células-tronco e tem como objetivo recriar gradualmente in vitro todos os mecanismos e processos que a natureza utiliza durante a iniciação e morfogênese de um determinado órgão. Neste contexto, a pesquisa em células-tronco oferece um potencial singular para a homeostase corporal, reparação e regeneração (BLUTEAU, 2008). Na bioengenharia, é essencial uma tríade composta por: (1) célulastronco ou progenitoras; (2) uma matriz que funcione como arcabouço e (3) proteínas sinalizadoras, denominadas fatores de crescimento, que atuam 36 estimulando a proliferação e diferenciação celular (SOARES et al., 2007). As células-tronco mesenquimais proporcionam, ao menos teoricamente, essa inesgotável fonte celular que, a depender do tipo e do fator de crescimento envolvido, pode originar determinado tecido ou vários tecidos do corpo, tais como ósseo, cartilaginoso, adiposo, fibroso, muscular e medular. Os fatores de crescimento, por sua vez, desempenham papel fundamental no controle da proliferação e diferenciação desses tipos específicos de células (CANCEDDA et al., 2003). 2.4.1 Respostas celulares ao tratamento de superfície A osseointegração está associada às respostas celulares que contribuem para a formação de osso em superfícies aloplásticas. As reações iniciais entre os tecidos e a superfície dos implantes têm o papel de determinar os eventos seguintes que caracterizam a atividade biológica da superfície e a resposta celular. Essa resposta celular depende das propriedades da superfície, que vão influenciar na natureza da composição subsequente do filme de proteínas adsorvido na superfície do implante (ELLINGSEN, 2000; SCHEIDELER et al., 2003). Assim, imediatamente após a instalação, os implantes de titânio interagem com os fluidos biológicos e com tecidos, dando início à osseointegração. É nesta fase que as propriedades físicas (rugosidade, molhabilidade) e a composição química da superfície do implante têm importância primordial (ELIAS, LIMA, SANTOS, 2008). A fixação biológica do implante ao osso é influenciada por numerosos fatores, incluindo a composição química e a topografia da superfície (ALBREKTSSON, WENNERBERG, 2004; PULEO, THOMAS, 2006). Essas propriedades de superfície são cruciais durante a fase de cicatrização óssea na região periimplantar. Depois da implantação, a superfície do implante fica em contato com fluidos corporais e interagem com uma quantidade de proteínas e diferentes tipos celulares. O desafio na engenharia de superfícies de implantes é atrair, sobretudo, osteoblastos que produzem a matriz óssea extracelular, a qual irá garantir um alto contato implante-osso. Adesão celular é um dos estágios iniciais para subsequente proliferação e diferenciação de células osteoblásticas produtoras de tecido ósseo (ANSELME, 2000a). Embora alguns 37 experimentos in vitro estudem o comportamento de células sobre superfícies de titânio, as propriedades de superfície ideais para adesão, proliferação e diferenciação celular ainda não foram claramente definidas (MUSTAFA, 2001). Os estudos de biocompatibilidade de novas superfícies de titânio focam na avaliação da resposta celular à superfície do material. Essa resposta é traduzida pelo processo de adesão, proliferação e diferenciação das células, embora a multiplicidade de modelos experimentais torne difícil a interpretação dos resultados (SILVA, 2009). A adesão celular está envolvida em vários fenômenos naturais, tais como embriogênese, manutenção da estrutura dos tecidos, cicatrização de lesões, resposta imune, metástase, bem como a integração do biomaterial. A biocompatibilidade do material está intimamente relacionada com o comportamento celular no contato com esse material, e em particular, a adesão celular a sua superfície. Características de superfícies dos materiais como topografia, composição química ou energia de superfície desempenha um papel essencial na adesão dos osteoblastos, assim, a adesão e o espraiamento celular fazem parte da primeira fase da interação célula/material e a qualidade dessa primeira fase irá influenciar a capacidade da célula proliferar e se diferenciar quando em contato com o implante (ANSELME, 2000). O termo “adesão” ao biomaterial engloba diferentes fenômenos: a fase de adsorção, a qual ocorre rapidamente e envolve pequenas ligações físicoquímicas entre as células e o material – tais como ligações iônicas e força de Van der Walls – e a fase de adesão, que ocorre lentamente envolvendo moléculas biológicas – tais como proteínas da matriz extracelular, proteínas de membrana celular e proteínas do citoesqueleto – as quais interagem juntas para induzir sinal de transdução, promovendo a ação dos fatores de transcrição e consequentemente regulando a expressão gênica. Esta fase é a mais importante da integração tecidual, pois a qualidade desta adesão influenciará na morfologia e na capacidade para proliferação e diferenciação das células (ANSELME, 2000). Características hidrofóbicas e hidrofílicas de um material são de grande importância para a adesão celular. A adesão celular é geralmente melhor em superfícies hidrofílicas. Quando inserido no meio biológico, o material é 38 condicionado pelos componentes do fluido biológico. O pH, composição iônica, energia de ligação, temperatura, grupo funcional de proteínas são fatores determinantes para adsorção protéica. A energia da superfície pode influenciar a adsorção protéica e o arranjo estrutural das proteínas no material, atraindo células precursoras ósseas. Quando ocorrem mudanças conformacionais destas células devido a superfícies hidrofóbicas e/ou baixa energia superficial, sua afinidade com o receptor da superfície para células ósseas é diminuída, atraindo fibroblastos e formando tecido fibroso em torno do material (ANSELME, 2000). Lee et al. (2009), tiveram como objetivo determinar a dimensão da microrrugosidade em superfícies de titânio que mostra a maior influência positiva sobre o comportamento e características celulares específicas. As amostras de titânio foram confeccionadas com rugosidades de profundidade padronizada (3,5 µm), variando a largura em 15 µm (TiD15), 30 µm (TiD30) e 60 µm (TiD60), fabricadas usando fotolitografia, além do grupo controle liso. Foram cultivados fibroblastos gengivais humanos sobre os discos e analisados quanto à adesão, proliferação e viabilidade celular. Os autores encontraram que TiD15 aumentou significantemente a viabilidade e proliferação em relação ao grupo controle após 72 horas da cultura celular e concluíram que a rugosidade superficial com profundidade de 3,5 µm e largura tanto de 15 µm quanto de 30 µm influenciou positivamente no comportamento dos fibroblastos. Uma vez que a função primária dos implantes dentais é a de promover suporte e estabilidade funcional para a substituição de elementos dentários perdidos, torna-se importante a compreensão dos eventos celulares envolvendo células mesenquimais indiferenciadas envolvidos na formação e remodelação do tecido ósseo ao redor dos implantes. O processo de osseointegração depende previamente de osteoindução e osteocondução, que são fenômenos inter-relacionados, mas não idênticos (ALBREKTSSON, JOHANSSON, 2001). A osteoindução ocorre quando células mesenquimais indiferenciadas são estimuladas e transformam-se em pré-osteoblastos e, em seguida, em osteoblastos, iniciando o processo de osteogênese. A osteogênese pode ocorrer sobre uma determinada superfície ou arcabouço, sendo este processo denominado osteocondução. Na fase de osteocondução, a reparação da ferida cirúrgica começa logo após a instalação do implante por 39 meio da formação do coágulo (DAVIES, 1998). A superfície do implante é condicionada por proteínas séricas, íons minerais, glicosaminoglicanas, lipídios e citocinas produzidas por células do sistema imunológico (RAGHAVENDRA,WOOD, TAYLOR, 2005). Por volta do 4º. Dia após a instalação do implante, as células mesenquimais indiferenciadas migram em direção à superfície do implante e enquanto não estiverem secretando matriz óssea estas células continuarão migrando e se diferenciando em osteoblastos. Ocorre também a formação de uma rede de fibrina que se adere à superfície do implante que permite a migração de células mesenquimais indiferenciadas, macrófagos, leucócitos polimorfonucleares e células linfóides. Durante a migração dessas células, a rede de fibrina se retrai acelerando o seu processo de diferenciação celular (DAVIES, 1998), seguindo com os eventos celulares e moleculares que proporcionam a neoformação e remodelação óssea. 40 3 PROPOSIÇÃO O estudo tem como objetivo avaliar comparativamente, através de experimentos in vitro utilizando cultura celular, a capacidade de adesão e proliferação de células mesenquimais procedentes do ligamento periodontal de humanos após contato com superfícies de titânio polidas e tratadas por plasma, nos intervalos de tempo de 24, 48 e 72 horas. 41 4 METODOLOGIA 4.1 Implicações éticas O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (parecer nº 080/2010, protocolo 018/10, CAEE/SISNEP 0021.0.051.000-10 - ANEXO I, Emenda ao projeto – Anexo II). Todos os voluntários da pesquisa receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - ANEXO III), explicando a realização do estudo, os objetivos, os riscos e os benefícios aos quais estariam expostos, de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras do Conselho Nacional de Saúde (Resolução n° 196/96). 4.2 Caracterização do estudo 4.2.1 Tipo do Estudo Tratou-se de um estudo experimental in vitro. 4.2.2 Desenho do Estudo Foi realizado um estudo do tipo longitudinal, prospectivo e controlado. 4.3 Desenho do estudo O estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira etapa foi realizado o preparo das amostras através do tratamento de superfície das placas de titânio no Labplasma (Departamento de Física da UFRN). Na segunda etapa realizouse um ensaio in vitro com células isoladas do ligamento periodontal de humanos e cultivadas sobre os discos de titânio tratados e a superfície controle (plástico). Esta etapa foi realizada no laboratório de cultura de células do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociências da UFRN. 42 4.4 Amostras Foram utilizados no experimento dois dentes humanos hígidos (terceiros molares inclusos), que seriam desprezados após a cirurgia, para a obtenção das células mesenquimais do ligamento periodontal. Os dentes foram extraídos de pacientes que apresentavam indicação cirúrgica prévia de remoção desses dentes por motivos ortodônticos e que não apresentavam doenças bucais e/ou doenças sistêmicas. Foram utilizados também 18 (dezoito) discos de titânio fornecidos pelo Departamento de Física/UFRN, para que as células obtidas fossem cultivadas sobre os mesmos. 4.4.1 Preparo das Amostras As amostras de titânio foram preparadas segundo o protocolo estabelecido no LabPlasma do Departamento de Física da UFRN (ALVES Jr., 1995). Dezoito discos de titânio grau II ASTM F86 nas dimensões de 15mm de diâmetro por 1,5mm de espessura, foram embutidos em resina poliéster (figura 3) e lixados gradualmente com lixas de SiC, de abrasividade 220, 360, 400, 600, 1200 e 2000 em água corrente e depois polidas (politriz AROTEC, modelo APL-2 e série 212560, BRASIL) com pano de polimento OP-CHEM, sílica coloidal com partículas de 0,1µm (ATM-GMBH, Alemanha) e água oxigenada (H2O2) 20 volumes até um acabamento final de 0,04µm. Em seguida, as amostras foram desembutidas (figura 4) e submetidas a um protocolo de limpeza com objetivo de remover contaminantes que pudessem interferir no processo de nitretação iônica, sendo limpas em banho de ultra-som durante 30 minutos. Esta limpeza foi dividida em três etapas de 10 minutos cada. A primeira foi feita com detergente enzimático (EndoZime AW Plus), a segunda com álcool absoluto e a por último usou-se água destilada As amostras foram secas em temperatura ambiente e acondicionadas em embalagem apropriada para uso posterior. 43 Figura 3. Discos de titânio embutidos em resina de poliéster. Figura 4. Discos de titânio após o polimento. 4.5 Protocolo de nitretação Após o polimento e limpeza, seis amostras por vez foram colocadas em uma câmara de aço inoxidável (reator), com 400 mm de diâmetro e 400 mm de comprimento, hermeticamente fechada para receber o tratamento de superfície. Utilizou-se configuração no reator de plasma para nitretação em gaiola catódica (figura 5). Figura 5. Representação esquemática do processo de nitretação em gaiola catódica (ALVES Jr., 2005). Internamente, a câmara possui um eletrodo em forma de disco, sobre o qual colocou-se a amostra. Inicialmente foi feito um vácuo no reator até uma 44 pressão de 10-1 mbar e então introduziu-se hidrogênio com um fluxo de 12sccm, como gás de arraste de impurezas, até uma pressão de 1,6 mbar por 20 minutos. Após esta etapa, o N2 a 3sccm foi introduzido até conseguir uma atmosfera de trabalho estável em torno de 680V, 0,5 miliampére (mA), temperatura de 450ºC e pressão de nitretação de 2,5mbar. Nestas condições as amostras foram nitretadas por 60 minutos (figura 6). Figura 6. Amostras de titânio sendo nitretadas em gaiola catódica As atmosferas do plasma foram configuradas obedecendo a um fluxo de gases de 15sccm (tabela 4). Tabela 4. Parâmetros de tratamento com plasma de nitrogênio. Grupo experimental Atmosfera do plasma Tempo de tratamento Pressão do plasma Temperatura do plasma Fluxo do gás total Polidas - - - - - Gaiola catódica N20%H80% 1h 2,5mbar 450°C/17.5mA 15sccm 4.6 Esterilização das amostras Em seguida, todas as amostras (nitretadas em gaiola catódica e polidas) foram acondicionadas em placas de cultura de 24 poços de 2cm2 de área e esterilizadas por radiação gama no DEN (Departamento de Energia Nuclear da 45 UFPE – Universidade Federal de Pernambuco). A dose total de radiação por amostra foi de 25 kGy, liberada a uma dose média de 8,993 kGy/h (2h 46minutos a uma distância de 50mm), em irradiador GAMMACELL 220 Excel (MDS Nordion, Ca). 4.7 Cultura de células 4.7.1 Obtenção dos Dentes Os dois dentes utilizados (terceiros molares retidos) foram extraídos de pacientes com indicação cirúrgica prévia, em sala de cirurgia apropriada, localizada no setor de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através de protocolo cirúrgico, utilizando técnicas cirúrgicas convencionais, obedecendo às rigorosas técnicas assépticas. Em seguida, os elementos dentários foram imediatamente armazenados em tubos tipo Falcon de 50 ml contendo 10 ml de meio de cultura alfa-MEM (Cultilab, Brasil). Os dentes foram submetidos a três lavagens de 15 minutos cada, com 10 ml de solução contendo meio alfa-MEM (Cultilab, Brasil) enriquecido com 10.000 U.I./ml de Penicilina (Gibco, USA), 10.000 µg/ml de Estreptomicina (Gibco, USA), 100 mg/ml de Gentamicina (Gibco, USA) e 250 µg/ml de Anfotericina B (Gibco, USA), objetivando eliminar possível contaminação. Este procedimento foi realizado em uma câmara de fluxo laminar. Depois de processados, os elementos dentários obtidos encontravam-se aptos para a obtenção e cultivo das células do ligamento periodontal. 4.7.2 Obtenção das Células Mesenquimais do Ligamento Periodontal Foi utilizado um protocolo adaptado de Akizuki et al. (2005). As células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal foram removidas através da raspagem delicada da superfície radicular com o uso de uma lâmina de bisturi (figura 7) e em seguida foram submetidas à digestão enzimática (figura 8) com 3 mg/mL de colagenase I (Gibco,USA) e 4mg/ml de dispase 46 (Gibco, USA), por 1 hora a 37°C. Em seguida a soluç ão foi aspirada e processada em filtro de 70 µm (BD Falcon, USA); a suspensão foi centrifugada a 1200 rpm durante 5 minutos e o sobrenadante retirado. As células precipitadas foram então ressuspensas e cultivadas. Figura 7. Remoção das células do ligamento periodontal dos terceiros molares. Figura 8. Digestão enzimática do extrato celular com dispase e colagenase. 4.7.3 Cultivo das Células Mesenquimais Indiferenciadas do Ligamento Periodontal As células mesenquimais do ligamento periodontal foram cultivadas em placas com área de crescimento de 25cm2 (TTP®, USA), com meio básico αMEM (Cultilab, Brasil) suplementado com 15% de soro fetal bovino – FBS (Cultilab, Brasil). As culturas foram mantidas a 37º C em 5% de CO2, com troca de meio a cada três dias, até atingirem 70 – 90% de confluência. 47 No subcultivo, tivo, removeu-se removeu se o meio básico e então adicionou-se adicionou às garrafas 2 ml de tripsina/EDTA (0,25% de Tripsina contendo 1 mM de EDTA – Gibco/USA). A suspensão celular foi colocada em um tubo cônico com o mesmo volume de meio α-MEM MEM suplementado com 15% de FBS com o objetivo de inativar a tripsina. A suspensão foi centrifugada a 1200 rpm durante 5 minutos, retirou-se se o sobrenadante e as células foram ressuspensas em 1 ml de meio α-MEM. Uma ma alíquota dessa suspensão foi separada para a contagem na Câmara de Neubauer, utilizando o método da exclusão de células coradas pelo Azul de Trypan. 4.8 Cultivo celular sobre os discos de titânio Na terceira passagem (subcultivo), as células do ligamento periodontal foram cultivadas em três placas (uma para cada intervalo de tempo) t de 24 poços (TTP®, Swizterland), Swizterland) na densidade de 2 x 104 células por poço. poço Utilizouse 24 discos de titânio, sendo 12 de cada grupo (polido e gaiola catódica). A mesma densidade celular foi cultivada em poços sem disco, como controle positivo. A disposição posição dos discos nos poços está esquematizada na figura 9. Figura 9. Desenho esquemático da placa de 24 poços e a distribuição dos discos para o cultivo das células nos diferentes grupos. 48 4.8.1 Análise da Adesão e Proliferação Celular Para análise da adesão e proliferação celular e obtenção da curva de crescimento nos diferentes grupos foram utilizados os dados obtidos das contagens de células aderidas às superfícies de titânio (grupo polido e grupo gaiola catódica) e à superfície de plástico (grupo controle), nos intervalos de 24, 48 e 72 horas após o plaqueamento. O número de células colhidas de cada poço foi obtido pela contagem de células viáveis através do uso de hemocitômetro e o método da exclusão de células coradas pelo azul de trypan (FRESHNEY, 2000), obedecendo-se a seguinte equação matemática: Nº de céls. = ݊ú݉݁ܿ ݁݀ ݎé݈݅ݑ݈݅݀ ܺ ݏܽ݀ܽݐ݊ܿ ݏ݈ܽݑçã ܺ 10ସ ݊ú݉݁ ݀ ݏ݀ܽݎ݀ܽݑݍ ݁݀ ݎℎ݁ݐ݅ܿ݉ݎô݉݁݉݁݃ܽݐ݊ܿ ܽ݊ ݀ܽݏݑ ݎݐ 4.9 Análise estatística Os dados foram submetidos à análise não paramétrica. Cada dado das contagens corresponde à média ± dp (desvio padrão da média) das três amostras por grupo por intervalo de tempo (24, 48 e 72 horas). As diferenças entre os grupos foram comparadas pelos testes estatísticos Kruskal-Wallis, Mann Whitney e Friedman. A diferença estatística foi considerada quando p<0.05. 49 5 RESULTADOS 5.1 Adesão e proliferação celular As células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal humano comportaram-se de maneira particular quanto à topografia e composição química das superfícies expostas. Entre as diferentes superfícies do titânio a adesão foi mais pronunciada na superfície nitretada, indicando que a microarquitetura resultante deste processo favorece a acomodação celular, embora não tenha havido diferenças significativas para os valores de adesão celular em 24 horas entre as superfícies de titânio e o controle (tabela 5). Tabela 5. Análise do número de células (x104) em 24 horas referente aos diferentes grupos de estudo. 24 horas Média ± dp Média dos postos Grupo controle 5,66 ± 0,57 7,83 Grupo polido 3,33 ± 0,57 2,83 Grupo nitretado 4,00 ± 1,00 4,83 Valor de p* 0,061 p* Kruskal Wallis A proliferação celular em 48 horas foi diferente entre os grupos estudados. (tabela 6). Superfícies nitretadas favoreceram a proliferação celular em relação as superfícies polidas, enquanto o controle exibiu maiores valores. Tabela 6. Análise do número de células (x104) em 48 horas referente aos diferentes grupos de estudo. 48 horas Média ± dp Média dos postos Grupo controle 7,33 ± 0,57 8,00 Grupo polido 4,66 ± 0,57 2,67 Grupo nitretado 5,33 ± 0,57 4,33 Valor de p* 0,038 p* Kruskal Wallis 50 A proliferação celular progrediu quantitativamente em 72 horas no grupo controle e nas superfícies de titânio polidas, embora não tenham ocorrido diferenças estatísticas significativas entre a superfície polida e nitretada (tabela 7). Tabela 7. Análise do número de células (x104) em 72 horas referente aos diferentes grupos de estudo. 72 horas Média ± dp Média dos postos Grupo controle 9,33 ± 2,08 7,50 Grupo polido 7,33 ± 1,52 5,33 Grupo nitretado 4,66 ± 1,52 2,17 Valor de p* 0,054 p* Kruskal Wallis 5.2 Curva de crescimento Os resultados relativos à curva de crescimento das células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal são observados na figura 10: 10 p = 0,097* 9 8 p = 0,05* 7 6 Controle 5 p = 0,44* 4 Polido Nitretado 3 2 p* Friedman 1 0 24 h Figura 10. 48 h 72 h Curva de crescimento das células em diferentes intervalos de tempo. 51 O crescimento celular aumentou de modo linear no grupo controle nos períodos de avaliação. As células proliferaram de modo expressivo em 48 horas, com discreta diferença entre os grupos polido e nitretado. Os resultados indicam que a adesão sofre mais impacto das características físico-químicas das superfícies do titânio. 52 6 DISCUSSÃO O conceito básico de bioengenharia baseada em células-tronco consiste no isolamento e expansão celular, seguido pelo procedimento de reimplantação combinado com um arcabouço material. As células mesenquimais têm sido utilizadas através de experimentos in vitro nos estudos de bioengenharia como meta de entender os eventos biológicos que ocorrem na interação entre as células e as superfícies dos biomateriais empregados em cirurgias maxilofaciais e implantodontia (SHANTI et al., 2007). A biocompatibilidade de um material está relacionada não só à sua composição química, mas também ao tipo de superfície utilizada, o que reflete no comportamento das células quando em contato com a superfície. A adesão celular é provavelmente o aspecto mais importante desta interação célula/superfície, pois é pré-requisito para as outras etapas, tais como proliferação e diferenciação (ANSELME, 2000). Uma grande variedade de biomateriais tem sido testada, visando um melhor aproveitamento do potencial osteogênico das células tronco mesenquimais para a engenharia de tecido ósseo, dentre os quais, o titânio é o mais utilizado, devido às suas propriedades mecânicas, estabilidade química e biocompatibilidade (AMARANTE, LIMA, 2001) De acordo com Huré et al. (1996), os tipos básicos de materiais usados para implantes dentários são limitados. Três grupos têm sido descritos: o grupo dos metais e ligas metálicas, o grupo dos materiais cerâmicos, e o do carbono e polímeros sintéticos. Embora vários materiais sejam citados, comercialmente só são disponibilizados dois tipos para uso odontológico: as cerâmicas e o titânio. Durante as últimas décadas, implantes metálicos têm sido os mais frequentemente utilizados, sendo que o titânio, em sua forma comercial pura, se tornou o material de escolha para a fabricação de implantes em cirurgia oral e craniofacial. Haubenreich et al. (2005) relataram que os implantes cerâmicos possuem algumas características mais estéticas quando comparados com o titânio, porém problemas como fratura do implante, microfissuras, dor e perda da osseointegração parecem ser mais freqüentes quando comparados com implantes de titânio. 53 O titânio se tornou o material mais utilizado em implantes intraósseos, segundo Hansson et al. (1983), pois esse metal possui características físicas e químicas excepcionais que permitem a sua instalação nos tecidos vivos sem que haja incompatibilidade entre eles. Propriedades físicas como seu coeficiente elástico, de deformação e sua resistência à tração são diferentes do tecido ósseo, porém não influenciam no sucesso deste tipo de tratamento. Sua grande resistência à fratura possibilita resistir aos esforços necessários para uma boa função mastigatória. É sabido que a adesão celular na superfície do titânio é um fator primordial para a osseointegração. Os ensaios de biocompatibilidade em novas superfícies de titânio são realizados com diferentes tipos de células (primárias, clones, imortalizadas) que guardam propriedades específicas quanto ao grau de interação com o microambiente do material. Usualmente linhagens de células imortalizadas com o potencial de expressar características fenotípicas dos osteoblastos como SaoS-2, MG-63, L929, ROS17/2.8, MC3T3, são utilizadas para estudar as interações célula/material, essenciais no desenvolvimento de novos materiais (JAYAMARAN, 2004; FAGHIHI et al., 2006; ABDIZINA et al., 2007). As células do ligamento periodontal humano adulto têm sido utilizadas como uma fonte de células com potencial de diferenciação. Segundo Seo et al., (2004), o ligamento periodontal humano possui células com potencial de diferenciação em osteoblastos, condrócitos e adipócitos, podendo ser comparadas às células-tronco da medula óssea. Ainda, as células-tronco do ligamento periodontal podem ser utilizadas para regeneração do próprio ligamento e do cemento. A escolha do tipo celular adotado no presente estudo baseou-se no fato de células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal serem relatadas (NAGATOMO et al., 2006; GAY, CHEN, MACDOUGALL, 2007) como responsáveis tanto pela regeneração óssea alveolar, como pela osseointegração de implantes de titânio após instalação imediata após extração do dente do alvéolo. Têm sido dada muita ênfase ao papel das propriedades superficiais do titânio como o principal responsável pela adesão e proliferação de diferentes fenótipos celulares e a consequente formação de tecido mineralizado na 54 interface com o implante (MARTIN et al., 1995; ONG, 1996; CASTELLANI, 1999; LAVOS-VALERETO et al., 2002; SCHIMIDT et al., 2002; HUANG et al., 2004; NEBE et al., 2004) embora trabalhos demonstrem que superfícies com diferentes rugosidades respondam de maneira semelhante no que diz respeito a adesão e proliferação celular (MUSTAFA et al., 2001; ROSA, BELOTI, 2003; XAVIER et al., 2003; ANSELME, BIGERELE, 2006). As características de superfície do material apresentam um papel importante na adesão celular, pois estas dão condições de adesão das proteínas adsorverem e ajudarem no processo de adesão celular. Dentre quais, as mais importantes são a composição química da superfície, rugosidade e molhabilidade (ANSELME, 2000; SILVA, 2009). Contudo, atualmente existem várias técnicas de tratamento de superfície dos metais que buscam otimizar estas características, tais como a aspersão com plasma de titânio, jateamento com óxido de titânio, deposição a laser de carbeto de titânio, condicionamento ácido, e outros (LI, CHU, DING, 2004). Avaliou-se neste trabalho o efeito da modificação de superfícies de titânio puro grau II pela técnica de nitretação em plasma. Este método de tratamento foi introduzido na modificação de materiais para implante dentais e consiste na deposição de nitretos em superfícies metálicas quando inseridas em plasma de nitrogênio (ALVES Jr., 2005). A nitretação foi realizada na configuração em gaiola catódica, onde as amostras foram circundadas por uma gaiola de titânio com o objetivo de potencializar o efeito do plasma (ALVES Jr., 2006). A superfície plástica ou placa de cultura celular de poliestireno foi usada como controle positivo, pois é a superfície padrão no cultivo de células por apresentar excelentes características hidrofílicas (MAEDA et al., 2007). No presente trabalho, as células mesenquimais do ligamento periodontal reagiram de modo distinto em relação às superfícies expostas. A adesão celular foi mais pronunciada no grupo controle, comportamento semelhante ao observado em estudos de biocompatibilidade de superfícies (LINCKS et al., 1998; ANSELME et al., 2000a; LINEZ-BATAILON et al., 2002). A literatura mostra que a adesão celular parece ser favorecida em superfícies rugosas em comparação a polidas (MARTIN et al., 1995; LAMPIN et al., 1997; BÄCHLE, KOHAL, 2004). Entre as diferentes superfícies do titânio 55 do presente estudo, embora não tenha ocorrido diferença estatística significante, os valores numéricos mostram que a adesão foi mais pronunciada na superfície nitretada, sugerindo que a rugosidade obtida por esse tratamento na superfície do material favorece a acomodação celular. Estudos anteriores demonstraram que os discos tratados com nitretação na configuração de gaiola catódica apresentam superfície mais rugosa quando comparados a superfícies obtidas por nitretação a plasma em configuração planar (SÁ et al., 2009; SILVA, 2009) e tiveram mais células aderidas em 24 horas, achados semelhantes aos do presente estudo. Os resultados sugerem um efeito positivo da gaiola na capacidade de gerar superfícies texturizadas homogêneas, pela concentração de íons energizados próximos às amostras. Além disso, as amostras nitretadas em gaiola catódica podem ter a superfície com mais compostos de TiN devido a alta densidade de íons concentrada sobre as mesmas, de modo que a célula interage com uma superfície nos aspectos topográficos e químicos (SILVA, 2009). No presente estudo, a proliferação das células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal humano adulto aumentou de modo linear no grupo controle e o grupo polido nos períodos de avaliação. No controle essa proliferação foi mais exacerbada, enquanto que na superfície polida a proliferação aconteceu de forma discreta. Embora o grupo controle tenha apresentado maiores valores do que o grupo polido, esse resultado indica que essas células possuem uma boa interação com o material. No grupo nitretado, a proliferação celular progrediu quantitativamente no intervalo de tempo de 48 horas, o que não ocorreu em 72 horas. A diminuição no número de células pode corresponder ao início do processo de diferenciação celular, onde há redução na atividade proliferativa e o início da produção de matriz extracelular, embora a diferenciação celular não tenha sido avaliada nessas circunstâncias. Silva (2009) realizou um estudo utilizando células pré-osteoblásticas MC3T3 em superfícies de titânio nitretada na configuração de gaiola catódica e encontrou resultados similares ao presente estudo em relação à proliferação celular, ou seja, diferentes tipos celulares comportaram-se de forma semelhante em relação à superfície nitretada. De forma semelhante, Lincks et al. (1998) observaram que células osteoblásticas MG63 cultivadas sobre Ti comercialmente puro (Ti cp) ou liga Ti56 6Al-4V (Ti-A) com superfícies de diferentes rugosidades apresentaram queda no índice de proliferação e aumento na atividade da fosfatase alcalina sobre a superfície mais áspera. A síntese de matriz extracelular também foi afetada e as células nas superfícies mais rugosas apresentaram maior produção de osteocalcina, apoiando a hipótese de que as células expressavam um fenótipo mais diferenciado. Alves (2008) utilizou dois tipos celulares distintos – (a) células da medula óssea de camundongos e (b) células do ligamento periodontal de ratos – e observou diferentes comportamentos celulares em relação a superfícies nitretada e polida. A capacidade de adesão das células da medula óssea mostrou-se similar entre o grupo nitretado e o controle, não apresentando diferença estatística significativa, o que demonstra um bom resultado da superfície nitretada. Em contrapartida, as células do ligamento periodontal de ratos exibiu uma adesão semelhante nas superfícies polida e controle, e menores valores na superfície nitretada. Utilizando células mesenquimais indiferenciadas de ligamento periodontal humano, Heo et al. (2010) observaram um comportamento celular sensível as diferentes magnitudes de rugosidade, sendo a superfície rugosa mais propensa à adesão celular. Além disso, a medida que aumentou a rugosidade superficial nos discos de titânio também foi aumentada a produção de osteocalcina, o que sugere uma maior diferenciação desse tipo de células. Ball et al. (2008) observaram que osteoblatos cultivados em superfícies de titânio com magnitude de rugosidade semelhante e com um padrão ordenado ou desordenada gerou resultados diferentes. As células apresentaram aumento da adesão em superfícies ordenadas em comparação com aquelas que tinham uma descontinuidade aleatória. Isso sugere que a morfologia da superfície desempenha um papel importante para influenciar as respostas das células. Vários estudos têm indicado correlações com atividade celular e a rugosidade do substrato (MARTIN, 1995; HATANO et al., 1999; BOYAN et al., 2001; DELIGIANNI et al., 2001). No entanto, pesquisas indicam que a magnitude da rugosidade isolada pode não ser fator de influência (ANSELME et al., 2000b; ANSELME et al., 2002). Esses dados indicam que osteoblastos cultivados, in vitro, em superfícies com uma descontinuidade aleatória aderem menos e são menos ativos metabolicamente do que aqueles 57 cultivados em uma superfície mais regular ou até mesmo uma superfície plana (BALL et al., 2008). Experimentos in vitro demonstraram que células osteoblásticas humanas (NHOst) responderam à rugosidade da superfície com uma diminuição na atividade da fosfatase alcalina, assim como as células de calota craniana de ratos (LOHMANN et al., 2000) e células da cartilagem costocondral de ratos (SCHWARTZ et al., 1996) cultivadas sobre as mesmas superfícies. Em contraste, a expressão da fosfatase alcalina não é afetada em osteócitos de camundongos (MLO-Y4) (LOHMANN et al., 2000) por mudanças na rugosidade da superfície. O efeito diferencial da microtopografia da superfície pode refletir o fenótipo da população celular de resposta, bem como na atividade da fosfatase alcalina, produção de osteocalcina e nas diferenças no estado de maturação das células (LINCKS, 1998; LOHMANN et al., 2000). As diferenças na topografia de superfície, incluindo rugosidade e textura, afetam a adsorção de fibronectina e albumina in vitro (PARK, DAVIES, 2000; DELIGIANNI et al., 2001), influenciando na adesão celular (KELLER et al., 2003). Proliferação e diferenciação de células osteoblásticas são dois fatores sensíveis a alterações na microarquitetura da superfície (MARTIN et al., 1995; LOHMANN et al., 2002; LOSSDÖRFER et al., 2004; SCHWARTZ et al., 2006). Quando células osteoblásticas MG63 ou NHOst são cultivadas em superfícies de titânio com diferentes microtopografias, o número de células é reduzido, e a diferenciação, representada pela produção de osteocalcina, é aumentada na superfície rugosa (MARTIN et al., 1995; LOHMANN et al., 2002). Por outro lado, Balloni et al. (2009) não encontrou diferença na adesão de células-tronco mesenquimais humanas (hMSCs) em superfícies lisas e rugosas, porém na superfície rugosa as células apresentaram uma maior atividade da fosfatase alcalina e também uma maior produção de osteocalcina. Levando em consideração que as características da superfície influenciam no comportamento celular, foi encontrado em estudos anteriores (ALVES Jr., 2005; ALVES, 2008; GUERRA NETO, SILVA, ALVES Jr., 2009a; MACEDO, 2008; SÁ et al., 2009; SILVA, 2009) uma discreta diferença na morfologia celular, supostamente resultante de maiores valores de rugosidade média e de molhabilidade na superfície das amostras nitretadas em relação às amostras polidas. As células aderidas mostraram-se alongadas, com presença 58 de projeções dendríticas, representando pontos de adesão focal em resposta a rugosidade superficial. Na superfície nitretada as células exibiram uma morfologia mais achatada e lamelipódios. Na superfície polida foi observado um formato mais arredondado e presença de filopódios (GUERRA NETO, SILVA, ALVES Jr., 2009a; SILVA, 2009). Sá et al. (2009) utilizaram célulastronco mesenquimais de cordão umbilical e confirmou o aspecto poligonal das células-tronco em todas as amostras, com emissão de prolongamentos, um achado sugestivo de que existe biocompatibilidade entre essas células e o titânio. No caso do tratamento por plasma, os resultados confirmaram a viabilidade do uso da técnica e seu efeito positivo nos eventos celulares iniciais do processo de osseointegração. Este método foi capaz de produzir modificações na superfície do titânio mantendo as características de biocompatibilidade dessa nova superfície, conforme os nossos estudos e corroborando os resultados de SÁ et al. (2009) e SILVA, (2009). Escolheu-se a nitretação em plasma pelas excelentes propriedades mecânicas, estabilidade química e biocompatibilidade (PARK et al., 2003) quando aplicada ao titânio. Seu uso para implantes de quadril, joelho, ombro e tornozelo tem levado a uma crescente resistência à abrasão e colonização bacteriana reduzida, comparada a outras superfícies de implantes clinicamente utilizadas (BAIER, MEYER, 1988). Entretanto, uma limitação do uso da nitretação em implantes dentais está na alta temperatura do processo, entre 700 e 800ºC, podendo causar distorções no implante devido a sua geometria e precisão dimensional (MISHRA, 2003). Guerra Neto et al. (2009b) identificaram que a nitretação a plasma na técnica de descarga em cátodo oco produziu uma mudança significativa na textura superficial das placas e dos implantes, sem que houvesse distorção dos mesmos e ainda observou uma proliferação celular 2,5 vezes superior nas placas nitretadas em relação às placas controles. O torque de remoção dos implantes nitretados foram em média 2 vezes superior aos torques para remoção dos implantes controles. Portanto, os autores concluíram que a nitretação provou ser uma técnica eficiente para o tratamento de superfícies de biomateriais. 59 60 7 CONCLUSÕES A adesão e a proliferação celular não foram influenciadas pelos diferentes tipos de tratamento de superfície. Ambos os tratamentos produziram superfícies compatíveis com adesão e proliferação de células mesenquimais do ligamento periodontal humano. 61 REFERÊNCIAS ABDZINA, V.; DELILOGLU-GÜRHAN, I.; ÖZDAL-KURT, F.; SEN, B. H.; TERESHKO, I.; ELKIN, I.; BDAK, S.; MUNTELE, C.; ILA, D. Cell adhesion study of the titanium alloys exposed to glow discharge. Nucl. Instr. and Meth. in Phys. Res. v. 261, p. 624-626, 2007. AKIZUKI, T.; ODA, S.; KOMAKI, M.; TSUCHIOKA, H.; KAWAKATSU, N.; KIKUCHI, A. et al. Application of periodontal ligament cell sheet for periodontal regeneration: a pilot study in beagle dogs. J Periodontal Res. v. 40, n. 3, p. 245-51, 2005. ALBREKTSSON, T.; BRANEMARK, P-I.; HANSSON, HA.; LINDSTROM, J. 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A sua participação não trará nenhum risco previsível ou desconforto. Você não será submetido a nenhum procedimento (extra) além da cirurgia 77 conforme à indicação cirúrgica, assim os riscos envolvidos nesta pesquisa são mínimos, porém você deve autorizar os pesquisadores a examinarem os seus fragmentos teciduais (dentes removidos), que seriam tirados de sua boca e desprezados após a cirurgia. As informações confidenciais serão guardadas em local seguro e somente usadas com o propósito científico, sem divulgação do seu nome. Sua participação é voluntária, caso queira, você poderá desistir a qualquer momento, sem que isso lhe traga prejuízo ou penalidade, basta que retire o seu consentimento em participar. A pesquisa deverá contribuir para o aumento do conhecimento na área de engenharia de tecidos, que abrange um campo interdisciplinar onde princípios de engenharia e ciências biológicas são utilizados para o desenvolvimento de substitutos biológicos (Implantes dentários) capazes de recuperar a função do ser vivo. A importância desta pesquisa, portanto, está no fato da necessidade do desenvolvimento e aprimoramento, assim como, um melhor entendimento para facilitar na escolha de tratamentos mais eficazes em regeneração tecidual, trazendo assim, benefícios para a sociedade de um modo geral. Você não terá nenhum gasto financeiro por qualquer procedimento executado por essa pesquisa e terá direito a reembolso (ressarcimento) de qualquer gasto comprovadamente que você tenha feito para a realização desse estudo, bem como será indenizado em caso de dano comprovadamente ocorrido por sua participação na mesma. Você receberá uma cópia desse termo no seu endereço via correio com aviso de recebimento e qualquer dúvida a respeito da pesquisa poderá perguntar a Carlos Augusto Galvão Barboza, no Campus Universitário S/N no Departamento de Morfologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Lagoa Nova, Natal/RN fone (84) 3215-3431 celular (84-91156660) E-mail: [email protected] 78 Consentimento Livre e Esclarecido Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa “Avaliação in vitro da adesão, proliferação e diferenciação de células mesenquimais do ligamento periodontal humano em diferentes superfícies de titânio”. Assinatura ou impressão Digital do voluntário: _____________________________ Data:___/___/___ Assinatura do pesquisador: ________________________Data:___/___/___ Quanto à ética dessa pesquisa poderá ser questionada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo telefone 3215-3135. 79