55) Crônica de Título: GRANDIOSA MURALHA DA CHINA
Seria redundante afirmar que a Muralha é o cartão postal mais
famoso da China. Mas faz sentido: a Muralha é uma
impressionante estrutura originalmente de uso militar, foi
construída ao longo de dois milênios por seguidas dinastias que se
revezaram à frente do Império Chinês. Não se trata de uma
estrutura única! Suas diferentes partes cortam o país do Mar
Amarelo, litoral Nordeste do país, ao deserto de Gobi e à Mongólia,
a Noroeste. Em tempos olímpicos, a visita – obrigatória – à
Muralha da China ganha contornos de Torre de Babel. Sem
exagero, para exprimir o que é a Muralha da China faltam
adjetivações. Simplesmente ela é linda, impactante,
impressionante, fascinante e acima de tudo GRANDE. Está
rodeada por barreiras e a “aberta” China rejeita a pressão
internacional por abertura. Dia de sol com céu azul nos arredores
de Pequim por si só é um semimilagre. Para subir ao seu ponto
mais alto, tem que ser “macho”, como diria o ex-líder Mao Tsetung. Para saber das aventuras e desventuras de que a China se
reveste, veja-se as várias situações do valer: 1) vale cada degrau
irregular de pedra/arroz/tijolo/calcário, cada camelô desviado, cada
gota de suor; 2) valem as fotos “variações sobre o mesmo tema”
para todos os ângulos; 3) vale a água morna vendida como mineral
do Himalaia; 4) vale a imundície; 5) vale o festival de pedidos de
fotos para os vizinhos gringos branquelos lambuzados de filtro
solar; 6) vale cada empurrão dos chineses; 7) vale o cansaço; 8)
vale os chineses cantando de cor, salteado e em “chinglês”
mentiras sinceras que agradam à Agencia Oficial de Turismo do
Governo, a quem eles devem reverência (obediência semântica);
9) vale cada suspiro dado ao mirar o horizonte e lembrar o sonho
azul deslumbrante que realizamos indiretamente; 10) Vale. A
China é isso. Vale. O país tem “cabeça capitalista” mas “corpo”
ainda dominado pela lógica chinesa - comunista. E o símbolo
chinês para o país é formado por três linhas horizontais, cortadas
por uma vertical, cruzadas por uma diagonal da esquerda para a
direita (do meio para baixo) e cercadas por um quadrado. O
ideograma foi criado na dinastia Qin, há mais de dois mil anos,
quando o país foi unificado, ele se referia à mania de muros e
muralhas que o imperador criou para separar e proteger seu
reinado dos “bárbaros”. Os bárbaros abrandaram-se. As “muralhas
chinesas”, não. Principalmente no que se refere à política
intramuros para os intramuros. Não adianta os monges zen
tibetanos se inflamarem, os ocidentais se arregalarem, e meia
dúzia de simpatizantes dos Direitos Humanos e dos mutilados em
Dafur furarem o ferrenho bloqueio chinês antiagitação rebelde para
balançarem suas faixinhas em Pequim: os chefes atuais do Partido
Comunista Chinês sorriem amarelo nas entrevistas, cumprimentam
criancinhas, tiram fotos com os medalhistas (dourados) e seguem
persuadindo, com seu poderio econômico, os incomodados a se
calarem. O ano correu até o início dos Jogos com a expectativa da
repetição na China dos protestos que marcaram o “tour” da tocha
pelo mundo. Não aconteceu. Nem vai acontecer. A China – linda,
poderosa, pirotécnica e fervilhante economicamente – continua a
ser um Estado de um partido repressivo. Os meios de
comunicação são do Estado. As empresas que dão lucros
capitalistas impressionantes estão majoritariamente na mão do
“partidão”. O tal Departamento de Publicidade do Ministério da
Segurança Social não se intimida em mandar diretrizes de como
as notícias devem ser tratadas para ficarem de acordo com os
“valores constitucionais”. Qin Shi Huang Di foi o imperador que
reuniu os reinos que deram origem à China. Egocêntrico, tirano e
violento, governou no século II a.C. e foi responsável por dois dos
cartões postais mais famosos do país: os Guerreiros de Terracota,
em Xi’an, que mandou moldar para guardar seu mausoléu na
mesma cidade; e a Grande Muralha, construída no seu reinado
para proteger o chamado “Reino do Meio” dos rivais vizinhos
mongóis. Em 2003, o primeiro astronauta chinês Yang Liwei ficou
21 horas em órbita. “A Terra era muito bonita do espaço, mas eu
não vi nossa Grande Muralha” - disse frustrado. A falácia foi erro
da Nasa que “confundiu” a construção com o que é, na verdade,
um rio entre as montanhas. A muralha tem escada rolante e os
turistas se acotovelam para subir os degraus e o camelódromo do
monumento. Não faltam avisos como estes: 1) Não use seu celular
em caso de chuva forte; 2) Não pise nas laterais das escadas
rolantes; 3) Não se debruce no bondinho; 4) Cuidado com a forte
corrente elétrica. A Muralha da China, um dos cinco pontos
turísticos mais visitados do mundo, não foge à regra dos demais
“musts” chineses: camelódromo, restaurantes, fotos
posadas...Degradação do patrimônio, no caso específico, apenas o
patrimônio de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. O
cenário deslumbrante é mal preservado, sujo, pontuado por
pichações de turistas e sem nenhuma segurança. Isso no que
restou nos mais de seis mil km construídos, não simultaneamente.
Quase dois terços da Muralha original já virou pó (uma parte
engolida pelo deserto de Gobi e a outra depredada por invasores
vândalos e chineses que usaram o material em outras
construções). O ex-presidente, onipresente, Mao Tse-tung mandou
derrubar a muralha “feudal”. Seu pôster repousa na entrada da
Cidade Proibida (equivalente à Torre Eiffel, de Paris-FRA). O exlíder vira uma das Sete Maravilhas do Mundo como lembrança do
passado feudal do País e, por isso, mandou destruir alguns trechos
da Grande Muralha para construir estradas e reservatórios. Na
íngreme subida, perto da segunda entrada, conhecida como
Huanghua Cheng, há uma frase de autoria do ex-presidente que
diz: “Aquele que não sobe a Muralha não é homem de verdade”.
No mais, só vendo ao vivo a impressionante Muralha da China e
suas ladeiras. (L! 2008, agosto).
Escrita por: Martins Sebastião Kreusch
Autor de: Oh Morena! e Melhores e Piores Cronicas Dr. Kreusch
Idealizador do site: www.narrativasdabola.com.br
Download

55) Crônica de Título: GRANDIOSA MURALHA