tropical chic Apaixonado pelo Brasil, onde viveu sua infância, e pelo design dos anos 1950 e 1960, o francês Serge Cajfinger, presidente e diretor artístico da grife Paule Ka, mesclou as duas inspirações no décor do seu apartamento em Ipanema Por Enric Pastor | Fotos Matthieu Salvaing Os janelões trazem a paisagem para a sala de estar, decorada com sofás vintage amarelos e laranja comprados em antiquários da cidade e mesas de centro laqueadas, feitas sob medida – a obra na parede é do artista Lauro Müller Mais amarelo na sala de jantar, no assento das Side Chairs (1952), de Harry Bertoia, da Knoll, e no cocar indígena, de uma tribo do Amazonas, emoldurado e convertido em obra de arte. Na pág. seguinte, no detalhe do living, mesa lateral e luminária vintage, bloco de ametista e tela de Arcangelo Ianelli E u buscava a todo custo um apartamento com uma vista deslumbrante”, lembra Serge Cajfinger, presidente e diretor artístico da grife francesa de moda Paule Ka e dono deste dúplex no Rio de Janeiro. E ele conseguiu: em frente ao seu terraço, a imensidão do Corcovado e a beleza da lagoa Rodrigo de Freitas mostram todos os seus verdes e azuis, sob o olhar atento do Cristo Redentor. “Isto é o Rio! Embora eu viva em Paris, fui criado no Brasil e comecei a desenhar moda em Búzios, nos anos 1970. Tenho muitos amigos aqui. Venho com frequência para recarregar as energias quando termino uma coleção e volto com a cabeça cheia de ideias. Com isso, garanto criatividade, indispensável para o meu trabalho”, diz o morador, que se mudou para Porto Alegre com os pais quando ainda era bebê e retornou à França na adolescência. Encontrar a vista perfeita para contemplar de suas janelas demorou dois anos. “Eu estava na cobertura deste edifício da década de 1960, localizado em Ipanema, quando exclamei ‘a luz aqui é incrível!’”, recorda ele, sobre o momento em que encontrou seu pied-à-terre na Cidade Maravilhosa. O apartamento era fiel ao estilo da época em que o prédio foi construído: tinha uma escada fechada com uma grade metálica e floreiras de formas orgânicas no terraço, que Serge fez questão de manter. “Só mudei as portas e janelas e mandei instalar o piso de mármore e pintar as paredes de branco para deixar imóvel com seu aspecto atual e valorizar sua claridade”, revela o proprietário, que se diz um arquiteto frustrado, mas cuidou sozinho do décor. Para alimentar o desejo de projetar, ele pensa as lojas da Paule Ka – que estão presentes em diversos países europeus, nos Estados Unidos, no Oriente Médio e na Ásia – junto aos arquitetos que contrata, supervisionando os mínimos detalhes. E faz o mesmo com as campanhas publicitárias, acompanhadas de perto. Por isso, não foi difícil planejar a ambientação do apartamento brasileiro, que tem as salas de estar e jantar e a cozinha no nível inferior, e duas suítes, ambas com acesso ao terraço, no superior. “Queria uma atmosfera genuinamente brasileira, cheia de cores e de alegria, que pudesse me recordar do período que vivi aqui. E, de alguma maneira, recriei minha visão de um Brasil utópico, surgido de minha imaginação”, afirma. Ele rastreou os antiquários da rua do Lavradio, na Lapa, e encontrou móveis executados à perfeição, assinados por gênios locais como Sergio Rodrigues ou Geraldo de Barros nos anos 1950 e 1960. Outras peças são anônimas, feitas de materiais como a madeira pau-santo ou o jacarandá. Serge os distribuiu no generoso espaço junto a fotos de paisagens cariocas e da construção de Brasília. “Dei à combinação um ar sessentista, mas com um ânimo contemporâneo”, diz o empresário, que quebrou o efeito white cube com as obras coloridas do artista plástico brasileiro Lauro Müller. “Como nas minhas coleções desenvolvidas para a Paule Ka, o resultado é minimalista, mas com um twist, obtido por meio de detalhes inesperados”, diz Serge. Mas, mais que twist, neste apartamento carioca os ritmos que tocam são samba e bossa nova. l 152 CASAVOGUE.COM.BR O terraço é colorido como o Brasil: cadeiras amarelas Hee, da Hay, sofá esmeralda, da coleção Dubai, da Franccino Giardini, e poltronas de antiquário com assento e encosto verdes – combinadas ao branco predominante, as peças sobressaem Os contornos orgânicos da arquitetura, como no recorte da laje e no desenho da floreira, tipicamente sessentista, encantaram o morador. Na pág. anterior, a vista obtida do quarto de Serge, com o Cristo Redentor ao fundo e a poltrona desenhada por Martin Eisler em primeiro plano CASAVOGUE.COM.BR 155 Retrato: Sonia Sieff/divulgação Tradução: Susie Fercik Staudt e Mércia Justum À dir., na entrada do quarto de hóspedes, a surpresa provocada pela obra Floresta Tropical, 1994-2006, acrílica sobre tela recortada, de Lauro Müller; e, acima, Serge Cajfinger, que usou sua criatividade de estilista no décor do apartamento. Na pág. seguinte, no alto, estantes de jacarandá e metal projetadas por Geraldo de Barros em 1952 e, à dir. destas, fotografia de Pierre Verger que mostra a praia de Botafogo; e, abaixo, o home office integrado ao quarto, com cadeira Anel (1969), de Ricardo Fasanello CASAVOGUE.COM.BR 157