Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e substratos para produção de mudas de angico-preto (Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan) Karla Cinara Bezerra Melo1; Ieda Ribeiro Coelho1; Angelo Souto de Santana1,2; Maryluce Albuquerque da Silva Campos1; Fábio Sérgio Barbosa da Silva1 PALAVRAS-CHAVE: Adubação orgânica, Glomeromycota, Caatinga. Introdução O Nordeste brasileiro, em especial o bioma Caatinga, possui diversas espécies vegetais com potencial fitoterápico (Albuquerque et al. 2005; Silva & Albuquerque 2005). Dentre essas, o angico- preto (Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan) tem potencial medicinal (Florentino et al. 2007). Estudos vêm demonstrando que a simbiose entre plantas medicinais e FMA pode elevar a produção de substâncias com atividade medicinal (Freitas et al. 2006). Melhorias decorrentes da micorrização foram evidenciadas em várias culturas de importância econômica, como por exemplo, maracujazeiro amarelo - Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg (Cavalcante et al. 2002) e doce - Passiflora alata Curtis (Silva et al. 2004), mangabeira Hancornia speciosa Gomes (Costa et al. 2003), entre outras, porém não está esclarecido o papel desses fungos na promoção do crescimento de mudas de angico-preto. A atuação do componente micorrízico requer condições edáficas favoráveis ao estabelecimento da simbiose, usando adubos, em doses adequadas, primordial para fornecer nutrientes de forma balanceada, sem prejudicar a atividade do fungo no hospedeiro (Sainz et al. 1998). Os FMA favorecem o crescimento de vegetais em substratos com adubo orgânico, mas pouco se conhece sobre o papel que desempenham na atividade microbiana do solo (Wamberg et al. 2003), que pode ser alterada pela presença desses fungos (Duponois et al. 2005). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da 1 inoculação micorrízica sobre o crescimento de mudas de angico-preto. Material e Métodos Sementes de angico-preto (Anadenanthera colubrina) foram coletadas em área de Caatinga no Km 152, BR 428, em Petrolina-PE. Estas receberam um pequeno corte com tesoura e colocadas para germinar em bandejas com solo previamente esterilizado em autoclave (121ºC/30min./dois dias consecutivos). Plântulas com duas folhas definitivas foram transferidas para potes com 2 kg de solo ou solo + 10 % de vermicomposto e inoculadas na região das raízes com soloinóculo fornecendo 200 esporos/pote de Gigaspora albida Schenck & Smith ou Acaulospora longula Spain & Schenck. O delineamento experimental foi do tipo casualizado em seis tratamentos: 1)controle não adubado, 2)inoculado com G. albida em solo não adubado, 3) inoculado com A. longula em solo não adubado, 4)controle adubado, 5)inoculado com G. albida em solo adubado, 6) inoculado com A. longula em solo adubado, em quatro repetições, totalizando 24 parcelas experimentais. Após 15 dias, foi feito o transplantio para sacos pretos de polietileno contendo 2 Kg do respectivo substrato. Após 60 dias da inoculação foram avaliados: altura, nº de folhas e diâmetro do caule a 1 cm do solo. Os dados foram submetidos ANOVA e as médias comparadas pelo teste de tukey (p<0,05). Laboratório de Biotecnologia Ambiental, Universidade de Pernambuco, Campus Petrolina Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos, Universidade Federal de Pernambuco. *e-mail para correspondência: [email protected] Apoio financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). 2 Resultados e Discussão Referências Houve efeito dos tratamentos de inoculação e adubação sobre as variáveis estudadas (p<0,05). Ocorreu benefício da micorrização para o crescimento de mudas de angico-preto, porém a eficiência variou em função do tratamento de inoculação e da variável de crescimento considerada. Em solo não adubado, a inoculação com Gigaspora albida promoveu o crescimento de plantas com altura e diâmetro do caule diferenciados do tratamento controle (Tabela 1). Estudos realizados por Cavalcante et. al. (2002) mostraram que plantas de maracujazeiroamarelo inoculadas com G. albida apresentaram maior crescimento em relação às não inoculadas. Por outro lado, nos tratamentos com adubo orgânico, a aplicação de FMA não trouxe benefícios para o vegetal (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos por Silva et al. (2008) em mudas de gravioleira. Adicionalmente, é provável que o teor de fósforo no substrato adubado tenha inibido a atuação dos FMA, como sugerido por Moreira & Siqueira (2002). Plantas micorrizadas em solo sem adubo tiveram maior diâmetro do caule, em relação ao controle não inoculado; tal comportamento não foi registrado nos tratamentos adubados (Tabela 1). A aplicação conjunta de adubos orgânicos e FMA favorecem o crescimento vegetal por melhorar a qualidade física, química e microbiológica do solo (Silva, 2006), porém no presente trabalho, tal comportamento não foi registrado. Quando as plantas foram cultivadas com solo adubado, não foi evidenciado benefício da micorrização para a produção foliar; em contrapartida, em solo sem adubo a inoculação com G. albida ou A. longula favoreceu a produção de mudas com mais folhas em relação ao controle sem fungo (Tabela 1). Resultado semelhante foi encontrado por Carneiro et al. (2004) em mudas de embaúba, onde as plantas inoculadas com FMA apresentaram maior crescimento em relação ao controle. Conclui-se que a aplicação de FMA pode favorecer o crescimento de mudas de angico-preto, mas os benefícios variam com o tipo de substrato de cultivo. ALBUQUERQUE, U.P.; ANDRADE, L.H.C.; & SILVA, A.C.O. 2005. Use of plant resources in a seasonal dry forest (Northeastern Brazil). Acta Botanica Brasilica, 19: 27-38. CARNEIRO, M.A.C.; SIQUEIRA, J.O. & DAVIDE, A.C. 2004. Fósforo e inoculação com fungod micorrízicos arbusculares no estabelecimento de mudas de embaúba (Cercropia pachystachya Trec). Pesquisa Agropecuária Tropical, 34: 119-25. CAVALCANTE, U.M.T.; MAIA, L.C.; MELO, A.M.M. & SANTOS, V.F. 2002. Influência da densidade de fungos micorrízicos arbusculares na produção de mudas de maracujazeiro-doce. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 37: 643-649. COSTA, C.M.C.; CAVALCANTE, U.M.T.; LIMA, M.R. & MAIA, L.C. 2003. Inoculum density of arbuscular mycorrhizal fungi needed to promote growth of Hancornia speciosa Gomes seedlings. Fruits, 58: 247-254. DUPONNOIS, R.; COLOMBET, A.; HIEN, V. & THIOULOUSE, J. 2005. The mycorrhizal fungus Glomus intraradices and rock phosphate amendment influence plant growth and microbial activity in the rhizosphere of Acacia holoserica. Soil Biology and Biochemistry, 37: 1460-1468. FLORENTINO, A.T.N.; ARAÚJO, E.L. & ALBUQUERQUE, U.P. 2007. Contribuição de quintais agroflorestais na conservação de plantas da Caatinga, Município de Caruaru, PE, Brasil. Acta Botânica Brasílica, 21: 37-47. FREITAS, M.S.M.; MARTINS, M.A. & CARVALHO, A.J.C. 2006. 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Tratamentos Controle sem adubo G. albida sem adubo A. longula sem adubo Controle com adubo G. albida com adubo A. longula com adubo Altura (cm) 2,80 b 6,35 a 4,35 b 4,40 b 5,95 ab 5,87 ab Médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de Tukey (5%). Parâmetros Nº de folhas 3,50 c 7,25 a 4,75 bc 5,50 b 6,00 ab 5,75 ab Diâmetro do caule (cm) 0,15 b 0,66 a 0,61 a 0,57 a 0,67 a 0,46 ab