Perfil Profissional PERFIL PROFISSIONAL PONTOS A ABORDAR • O Secretariado como Profissão • Tarefas • Competências • Deontologia OBJECTIVOS ESPECÍFICOS • Perceber, genericamente, como evoluiu a profissão no tempo. • Identificar funções e tarefas características da profissão. • Identificar competências pessoais e técnicas desejáveis para um profissional de secretariado. • Identificar em que áreas será útil a actualização de conhecimentos ou a aquisição de novas ferramentas de trabalho/competências. • Conhecer o Código Deontológico da Associação de Secretárias Profissionais Portuguesas. O Secretariado como profissão O termo secretário, associado originalmente à posição de um escriba 1 deriva da palavra em latim secernere, que significa distinguir ou destacar e está conotado com o conceito de privado ou confidencial. Um secretário era assim a pessoa que supervisionava um negócio, a mando de uma personalidade poderosa, como um Rei ou um Papa. Desde o Renascimento, e até aos finais do século xix, o termo designava homens encarregados da correspondência diária e de outras tarefas para pessoas importantes. O Secretariado é pois uma profissão de longa tradição, que desde há muito está conotada com um cargo de confiança, de responsabilidade e que exige discrição. Com a cada vez maior integração de mulheres no mercado de trabalho, esta profissão abriu-se também ao sexo feminino, tendo vindo a evoluir, desde a segunda metade do século xx, no sentido de uma crescente especialização e exigência, quer em termos de competências pessoais e técnicas, quer de responsabilidades. Ainda que, no final do milénio, tivesse surgido uma tendência pessimista profetizando que esta profissão seria gradualmente extinta e que as tarefas que o Secretariado assegura passariam a ser executadas por máquinas, tal não parece estar a acontecer. No entanto, é verdade que as organizações não procuram alguém que se limite a ser suficiente, a assegurar o atendimento, a tomar notas, a digitar e a arquivar, como vemos caricaturado no filme “Das Nove às Cinco” (Nine to Five2); querem-se pessoas pró-activas, versáteis, capazes de evoluir e de estar à altura dos desafios de um mercado global e altamente concorrencial. 1 Escrivão, copista. 2 Com Dolly Parton, Jane Fonda e Lily Tomlin. Secretariado: uma visão prática David H. Maister, um consultor americano, afirma perguntar com frequência sobre a definição de uma óptima secretária e os testemunhos vão de imediato no sentido de estas serem, invariavelmente, pessoas que: Se orgulham do seu trabalho e se empenham na orientação para a qualidade; Procuram a responsabilidade; Antecipam e não esperam por instruções – mostram iniciativa; Fazem tudo ao seu alcance para executar o seu trabalho; Se envolvem, não se resumindo ao papel que lhes foi atribuído; Estão sempre à procura de novas formas de simplificar a vida das suas chefias; Estão sempre interessadas em aprender tudo o que podem sobre a actividade da organização e sobre as responsabilidades das chefias que apoiam; Estão efectivamente atentas às necessidades das suas chefias; Aprendem a compreender e a pensar como as suas chefias, para poder representá-las adequadamente quando ausentes; Trabalham em equipa; Não divulgam as confidências que lhes são feitas; São honestas, confiáveis e leais; Estão abertas a críticas construtivas sobre como melhorar o seu desempenho. Traduzido pela autora a partir do livro “True Professionalism”. As pessoas que exercem estas funções são designadas, agora tendencialmente no feminino, como Secretária, Assessora ou Assistente, denominação complementada pelas palavras Executiva, Pessoal, de Direcção, de Administração, etc., cujas valências não se traduzem, tantas vezes, pela categoria atribuída; a evolução natural na carreira resulta sim, e em regra, das competências e experiência de que dão provas, independentemente da categoria que se lhes atribui. A carreira tenderá a iniciar-se com um período de formação em contexto real de trabalho, prosseguindo depois para os estádios 2 e 3: 1. Secretária(o) Estagiária(o) – estágio (curricular3 ou profissional) no início da actividade profissional; 2. Secretária(o) Júnior – tarefas com um grau de responsabilidade baixo/médio, normalmente de apoio a um secretariado sénior; 3. Secretária(o)/Assistente/Assessor(a) de Departamento/Direcção – tarefas afectas a um Departamento ou Direcção, com um grau de responsabilidade médio/alto; E sendo o topo da carreira provavelmente atingido em situações do tipo 4, 5, 6 e 7: 4. Coordenador(a) de Departamento – tarefas envolvendo a supervisão do trabalho da equipa afecta ao departamento ou pool (bolsa) de secretariado, com um grau de responsabilidade alto; 5. Secretária(o) de Gerência/Administração – tarefas de apoio ao órgão máximo de uma sociedade, com um grau de responsabilidade alto; 6. Office Manager – tarefas envolvendo a gestão do escritório, com um grau de responsabilidade alto; 7. Assessoria a personalidade pública – tarefas de apoio a pessoa ou órgão de grande visibilidade, público ou privado, com um grau de responsabilidade alto. Uma boa preparação, aliada a determinadas características pessoais, compreenderá sempre uma componente técnica específica e um conjunto variado de matérias que contribuirão para dotar estes profissionais da capacidade de encarar as organizações numa perspectiva integrada e para os preparar para assumir funções nos mais diversos tipos de instituições. 3 O estágio curricular está integrado no plano de estudos de um curso, correspondendo a um período de aprendizagem em contexto real de trabalho. Perfil Profissional Porque as tarefas e requisitos resultam de vários factores, verifica-se que existem saídas para todo o tipo de pessoas e ambições. De qualquer modo, quaisquer que sejam as tarefas e responsabilidades atribuídas a cada pessoa que exerça esta profissão, o facto é que quanto mais importante, exigente e visível for o cargo da(s) respectiva(s) chefia(s), o mesmo acontecerá a quem a(s) apoia – tal resulta numa maior possibilidade de progressão na carreira e na remuneração4, mas igualmente na extensão dos horários de trabalho e na assunção de responsabilidades. Presentes na maioria das organizações, e ainda que sem poder formal de decisão, estes profissionais têm contudo efectiva capacidade de influência, pelo que são por vezes designados como “poder invisível”, podendo frequentemente condicionar a opção por um determinado fornecedor ou produto, razão pela qual são tantas vezes adulados por aqueles que pretendem chegar às suas chefias ou ser contratados pela organização. Por este motivo, muitas instituições celebram o dia da Secretária5, organizando eventos que lhes são dedicados e dando-lhes pequenas ofertas. A RETER Embora englobando muitas rotinas, a profissão pode assumir distintas vertentes que proporcionem desafios estimulantes, progressão na carreira e remunerações interessantes. Tarefas O Secretariado engloba inúmeras tarefas e responsabilidades, que variam em função do tamanho e sector de actividade da organização, do departamento em que este profissional se vê inserido, das competências pessoais e técnicas evidenciadas e do estilo de gestão das chefias a que se dá apoio, entre outras condicionantes. Sector de actividade Departamento Personalidade Conhecimentos Experiência SECRETARIADO Tarefas e Funções Relação de confiança com a chefia Dimensão Tipo e Estrutura da Organização As tarefas serão tanto mais diversificadas quanto mais pequena for a instituição, já que as grandes organizações englobam departamentos que se ocupam de funções específicas que, numa PME (Pequena e Média Empresa6), caberão muito provavelmente ao Secretariado. 4 O s valores remuneratórios ilíquidos de base variavam, em 2008, aproximadamente entre os € 650,00 e os € 4.000,00, estando condicionados por factores como a dimensão e sector de actividade da organização, experiência, habilitações, antiguidade, isenção de horário de trabalho, etc. 5 Em Portugal, este dia comemora-se a 9 de Fevereiro, data da criação da ASP; no Brasil, comemora-se a 30 de Setembro e nos Estados Unidos, na última quarta-feira de Abril. 6 Micro empresa – até 10 colaboradores; Pequena empresa – até 50 colaboradores; Média empresa – até 250 colaboradores; Grande empresa – mais de 250 colaboradores. Secretariado: uma visão prática Ainda assim, há tarefas de rotina que quase todo o Secretariado assegura, entre as quais: Registo e distribuição da correspondência entrada e saída Ainda que não se encarregue do registo, caber-lhe-á, pelo menos, a gestão da correspondência das suas chefias. Redacção e/ou digitação de comunicações escritas Redigindo a correspondência de rotina e digitando a que lhe for ditada ou minutada, quer se trate de comunicações internas ou externas, em língua portuguesa ou estrangeira. Arquivo Assegurando a classificação, ordenação e arquivo da informação do departamento ou das chefias que apoia. Atendimento telefónico e presencial Atendendo e efectuando chamadas telefónicas e acolhendo os visitantes, com ou sem hora marcada. Gestão da agenda Registando e gerindo os diversos compromissos das chefias que apoia. Organização de reuniões Encarregando-se de toda a logística de uma reunião, desde a convocação até ao seu follow-up7. Organização de viagens Encarregando-se de todos os preparativos de uma viagem, incluindo transporte, alojamento, marcação de reuniões, etc. Organização de eventos Encarregando-se de toda a logística de um evento, desde a concepção até ao seu acompanhamento e follow-up. Traduções e retroversões Elaborando traduções e retroversões de textos curtos e pouco técnicos. Quando o Secretariado estiver integrado num departamento específico ou numa micro empresa (ainda que esta contrate entidades externas, em regime de outsourcing, para assegurar algumas actividades), poderá ainda ter que assegurar tarefas relacionadas, por exemplo, com: Página web Compras e fornecimentos Encarregando-se das compras e fornecimentos de diversos tipos de bens, como consumíveis, equipamentos, etc. Recursos Humanos • Emitindo contratos de trabalho; • Criando e actualizando fichas; • Efectuando inscrições na Segurança Social; • Produzindo mapas de pessoal e de férias; • Contratando seguros; • Processando remunerações; • Etc. Serviços Financeiros • Gerindo o fundo de maneio; • Gerindo depósitos e levantamentos; • Efectuando pagamentos e cobranças; • Contratando seguros; • Adquirindo bens em regime de leasing ou de aluguer de longa duração (ALD); • Etc. Comunicação e Publicidade 7 Acções de seguimento/acompanhamento. 10 Actualizando a informação na página institucional. • Contratando anúncios; • Emitindo comunicados de imprensa; • Gerindo a produção de merchandising; • Etc. Perfil Profissional A RETER Embora a profissão esteja associada a um conjunto de tarefas de rotina, estas serão efectivamente definidas pelas competências de cada pessoa, características da organização e estilo de gestão das respectivas chefias. Competências Para que o Secretariado possa eficazmente assegurar as tarefas que lhe estão atribuídas, necessita deter determinadas competências pessoais e técnicas. As competências pessoais estão relacionadas com a personalidade, postura (saber-ser) e as técnicas com a aquisição de conhecimentos (saber-saber e saberfazer). Embora muitas competências pessoais sejam transversais e importantes em inúmeras profissões, outras são claramente indispensáveis ao Secretariado, tais como: Discrição Evitando comentar, com colegas, familiares ou amigos, questões de trabalho que poderão criar situações embaraçosas, ou mesmo problemáticas, à organização e/ou às chefias. Lealdade Pautando o seu comportamento pela dedicação e lealdade às chefias que apoia, mas, acima de tudo, à organização para a qual trabalha. Organização Mantendo o seu posto de trabalho arrumado e os assuntos organizados de forma transparente, de modo a que o trabalho não pare em caso de ausência repentina. Simpatia Empatia8 Interessando-se e pondo-se no lugar dos outros, melhorando a comunicação e estabelecendo relações cordiais com as várias pessoas e instituições que interagem com a organização. Cortesia Diplomacia Promovendo uma postura assertiva, gentil e tendo em consideração a forma como as suas acções serão encaradas pelos públicos da organização. Bom senso Serenidade Para fazer face, com coerência e auto-controlo, aos imprevistos do quotidiano. Determinação Disciplinando-se para actuar, quaisquer que sejam as circunstâncias, em prol do bem comum e na defesa dos interesses da organização. Proactividade Autonomia Sendo capaz de analisar racionalmente as situações e decidir, sensatamente, sobre tomar a iniciativa de propor ou fazer algo, quando for claro que é para benefício das chefias e/ou da organização. Dinamismo Disponibilidade Agindo com energia e dedicação, esforçando-se por contribuir para os objectivos definidos pela organização. Seriedade Rigor Dando provas, em todas as situações, de honestidade e mostrando estar à altura da confiança que lhe é testemunhada. Flexibilidade Criatividade Não se reduzindo a posições intransigentes e esforçando-se por negociar vantajosamente para todas as partes envolvidas. Adaptando-se às circunstâncias, em função das necessidades das chefias e/ou da organização, e descortinando formas imaginativas de ultrapassar com sucesso situações difíceis ou de impasse. Aparência cuidada O Secretariado representa a organização e as chefias que apoia. Uma apresentação limpa, discreta e agradável, enquadrada no código de vestuário da instituição, é essencial para impressionar bem cada pessoa com que se cruza. Boa memória Uma das missões do Secretariado é relacionar pessoas, informação e acontecimentos. Uma boa memória servirá este propósito, possibilitando intervenções oportunas. 8 Capacidade de se identificar com outra pessoa. 11 Secretariado: uma visão prática Boa dicção Uma dicção correcta e pausada facilitará a comunicação, sobretudo telefónica, e contribuirá para uma imagem profissional do Secretariado, das chefias e da organização que se representa. Pontualidade Assegurando que existe, invariavelmente, um interlocutor disponível dentro do horário de expediente. Interesse pelo Mundo Numa sociedade global, cada pequeno evento pode provocar uma reacção em cadeia. Manter-se atento ao Mundo será providencial para se estar mais bem preparado para cada eventualidade. Gosto pela leitura A consulta regular de periódicos, publicações técnicas e obras em diversas áreas contribuirá para que o Secretariado se mantenha actualizado, expanda o seu vocabulário e optimize a expressão oral e escrita. Relativamente aos conhecimentos técnicos, é importante que o Secretariado esteja à vontade nas seguintes áreas: Excelentes conhecimentos, na óptica do utilizador, das seguintes aplicações: • Sistema operativo (Windows ou similar); • Processamento de texto (MS Word ou similar); • Folha de cálculo (MS Excel ou similar); • Apresentações (MS PowerPoint ou similar); • Bases de dados (MS Access ou similar); Informática • Gestão de correio electrónico e agenda (MS Outlook ou similar); • Navegadores/Browsers (Internet Explorer ou similar). Serão úteis conhecimentos de outras aplicações específicas, dependendo da função assegurada, tais como: • Gestão de projectos (MS Project ou similar); • Desenho de processos (MS Visio ou similar); • Facturação, gestão documental, processamento de remunerações, etc. (Primavera, SAP, FactuPlus, etc.). Língua materna Facilidade de verbalização e de redacção, sem erros de ortografia ou sintaxe, facilitando a comunicação e espelhando uma imagem irrepreensível da organização que se representa. Muito bons conhecimentos de, pelo menos, uma língua estrangeira, em regra o inglês, podendo ser necessária a utilização de uma terceira língua, como o Línguas estrangeiras espanhol, francês ou alemão, em função da actividade da organização e dos mercados com que esta trabalha. Conhecimento profundo das rotinas administrativas, o que contribuirá para uma Expediente geral de hierarquização eficiente das diversas tarefas diárias e para a optimização do tempo escritório disponível. Digitação Uma digitação proficiente, aliada a conhecimentos das diversas aplicações informáticas, permitirá executar trabalhos com rapidez e boa apresentação. Ser capaz de desenhar ou reformular eficientemente o circuito documental ou a Técnicas de arquivo gestão dos arquivos, no sentido de agilizar a disponibilização de informação útil a todos os interessados. 12 Perfil Profissional Protocolo O conhecimento das regras básicas do protocolo empresarial e oficial contribuirá para um exercício mais eficaz da função Relações Públicas, quer em termos de poder ultrapassar mais capazmente barreiras culturais no relacionamento com os públicos da organização, quer na capacidade de supervisão dos vários tipos de eventos que esta promova. Contabilidade Finanças Direito Poder interpretar um mapa de vendas, um balanço, um orçamento, uma demonstração de resultados; conhecer as obrigações fiscais e os seus prazos; saber gerir um fundo de maneio; perceber a lógica contabilística – todos são conhecimentos essenciais para compreender a organização integralmente. Estar actualizado sobre a legislação fiscal, laboral, comercial, etc., com impacto na organização, possibilita um apoio mais eficaz aos órgãos de gestão. O interesse e estudo de diversos temas na área comportamental, como a gestão de stress, de conflitos, de tempo, de trabalho em equipa, etc., permitirão: • Precaver e/ou gerir mais eficazmente situações de stress negativo; Área comportamental • Aumentar a capacidade negocial; • Melhorar o relacionamento com os diversos públicos; • Ganhar confiança na postura e discurso; • Optimizar o tempo disponível; • Etc. Cultura geral Quanto mais visível for o papel do Secretariado na organização, maior será a importância de uma boa cultura geral, facilitando intervenções selectivas e oportunas e o relacionamento com os vários públicos da organização. Conhecimentos específicos As especificidades das tarefas asseguradas poderão implicar a necessidade de conhecimentos concretos em determinadas áreas, como a da saúde, jurídica, etc. Ainda assim, a pessoa que não reunir todas estas características e na quantidade que se considerar desejável, não deverá por isso entender, à partida, que não estará apta para exercer a profissão, pois poderá recorrer a diversas estratégias para potenciar qualidades e/ou controlar dificuldades, entre as quais a formação profissional. Dado que o Secretariado apoia os topos de cada estrutura, reflectindo-se nestes e vice-versa, a formação contínua, a actualização e o aperfeiçoamento são fundamentais nesta profissão. “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que não souberem aprender, desaprender e reaprender.” In “Rethinking the Future”, Alvin Toffler9 Uma sociedade em mudança acelerada, altamente dependente da tecnologia, e um mercado de trabalho precário, condicionado pela situação da economia mundial, ditam a necessidade de actualização regular para além das 35 horas de formação que as organizações deverão actualmente proporcionar aos seus colaboradores. A vontade de aprender, a dúvida sistemática, a capacidade de conviver com a mudança e a aceitação do erro como uma forma de aprendizagem, serão, por si só, factores que determinarão as organizações de sucesso num mercado volúvel. Neste enquadramento, uma atitude humilde, no sentido de que é sempre possível aprender mais e fazer melhor, será o garante do crescimento profissional e de progressão na carreira. 9 Alvin Toffler é um futurologista americano, autor dos livros “Choque do Futuro” e “A Terceira Vaga”, em que se refere à sociedade do conhecimento – frase traduzida pela autora a partir de http://en.wikipedia.org/wiki/Alvin_Toffler, Setembro de 2009. 13 Secretariado: uma visão prática A leitura dos dois textos seguintes ilustra bem o que se espera do Secretariado e os desafios que se colocam a quem exerce esta profissão. Para além da “simples secretária” O que está a mudar no papel de secretária executiva Quem disse que servir cafés, encomendar flores para a mulher, inscrever os filhos no colégio e movimentar a conta pessoal do superior eram responsabilidades das secretárias executivas? Ninguém. O que é certo é que também ninguém põe em causa estas atribuições numa secretária que se preze. Tal como noutras profissões, o dia-a-dia destas profissionais ultrapassa largamente o que está previsto na descrição do seu cargo. O papel das secretárias executivas (de direcção e de administração) tem vindo a alterar-se ao longo do tempo, fruto da evolução tecnológica e da redução de custos através do downsizing. Hoje significa o mesmo falar de secretária executiva, assistente administrativa, assistente executiva, profissional administrativa, administradora de escritório, coordenadora de negócio, ou mesmo gestora de informação. A mudança de título reflecte a alteração funcional que este cargo tem vindo a sofrer. A “simples secretária”, que se limitava a atender o telefone, a redigir cartas no computador, a gerir a agenda e a organizar eventos, deve hoje, para além de tudo isto, planear reuniões, interagir com os clientes, com vendedores e com o público em geral, supervisionar o escritório e algum tipo de pessoal, tratar das compras… e até dar formação a outros colaboradores. A tendência é para que uma secretária trabalhe para mais de um gestor e que, em certos casos, se extinga esta função como resultado da redução de custos, do aumento da polivalência e do facto de os gestores serem auto-suficientes na realização de certas tarefas básicas, facilitadas pelas novas tecnologias de escritório. A requalificação é uma saída possível para as profissionais administrativas, uma vez que lhes é exigida a posse de novas competências. Maria da Graça Gomes, presidente da direcção da Associação de Secretárias Profissionais Portuguesas (ASP) e secretária de administração na General Cable (CelCat) - multinacional de fabrico e comercialização de cabos de energia para telecomunicações e dados -, não nega que as funções de secretariado tradicional têm sido postas em causa. Na sua opinião, “as funções da secretária executiva continuam a ser as de assistir em todas as tarefas o gestor. Se o gestor delega muito, pode tratarse de uma autêntica assessoria, e para isso é exigido à secretária conhecimentos de organização empresarial, marketing, recursos humanos e burótica”. A secretária moderna tem um papel cada vez mais activo, de pesquisa, apresentando ao seu chefe não os problemas, mas as soluções. Para Nuno Fradique Vieira, director de IT da SonaeCom, actualmente a frequentar o MBA da Universidade Nova de Lisboa, uma secretária de direcção moderna deve perceber o negócio e ter um papel activo na actividade da empresa. “Antigamente, esperava-se que uma secretária tivesse um papel passivo, de simples ‘executora de ordens’. Hoje, com o aumento do ritmo de trabalho nas empresas, o executivo tende a delegar o maior número possível de tarefas, de maneira a poder concentrar-se nas decisões de gestão mais importantes”, refere. Para Sónia Nunes, da Dynargie Portugal, “uma secretária eficaz deve agir pró-activamente, desafiando o status quo sempre que acredita que há formas mais eficazes de trabalhar, manifestando uma postura assertiva e confiante; deve saber gerir situações de conflito e lidar com interlocutores de perfis muito distintos, adaptando a sua linguagem e escolhendo o melhor meio de comunicação, e, como é muitas vezes o rosto e a voz da empresa, deve ter um cuidado especial com a imagem que passa para os outros, encontrando um equilíbrio entre o seu estilo próprio e aquilo que a empresa quer transmitir”. Extraído de “As Novas Secretárias”, Maria João Alexandre, Revista Executiva Digest, Outubro de 2003 14 Perfil Profissional 15 Secretariado: uma visão prática Extraído do Nº 2 da Revista Secretária Executiva, 2º trimestre de 2002 A RETER O exercício com sucesso desta profissão dependerá das competências técnicas detidas por cada pessoa, mas sobretudo das características pessoais e do empenho que cada um colocar naquilo que percepciona como a sua missão. Dada a diversidade de tarefas e sectores em que o Secretariado intervém, é particularmente importante que se mantenha actualizado nas várias áreas do conhecimento, tecnologias e equipamentos, fazendo destes instrumentos de trabalho preciosos. Deontologia Tal como em inúmeras outras profissões, o Secretariado em Portugal também se rege por um código de conduta, de carácter prescritivo, aprovado em 89 pela ASP – Associação de Secretárias Profissionais Portuguesas10 e que se transcreve a seguir, ainda que só vincule os membros desta instituição. 10 Texto aprovado em Novembro de 1988, em Tróia, no VIII Encontro da Associação de Secretárias Profissionais Portuguesas e ratificado em Assembleia Geral Extraordinária de 21 de Janeiro de 1989. 16 Perfil Profissional Código Deontológico da Secretária INTRODUÇÃO No comportamento profissional é fundamental a fidelidade aos “Princípios do ser e do conhecimento” e aos pontos essenciais da “Lei Natural”, nomeadamente: - Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto (Princípio da contradição). - Há que fazer o bem e há que evitar o mal (Princípio da razão prática). - Os homens e as mulheres são os únicos seres que têm a dignidade de pessoa, isto é, ser inteligente - com a verdade como objectivo -, ser livre - com o bem como objectivo -, e ser social - com o relacionamento com outras pessoas no respeito mútuo da dignidade. - A sociedade é o meio natural de levar ao seu pleno desenvolvimento as disposições e as aptidões de cada ser humano, ora dando, ora recebendo, devendo reconhecer-se, no entanto, a preeminência da pessoa sobre a sociedade. - A própria natureza da pessoa humana implica direitos e deveres inerentes, inalienáveis e invioláveis, de entre os quais se destacam aqui o direito à boa fama e ao respeito, e ao mesmo tempo os correspondentes deveres para com os outros. No nosso meio e no nosso tempo, consideram-se merecedores de destaque os seguintes “Padrões de comportamento”: - Respeito pela pessoa humana com a inerente dignidade, quer em relação a si próprio, quer em relação aos outros. - Actuação com justiça, exigindo para si próprio e concedendo aos outros o que é devido. - Relacionamento com amizade, componente inseparável da justiça nas relações humanas. - Procedimento com veracidade e com lealdade nas relações profissionais. - Exercício das funções com alegria, com liberdade e correspondente responsabilidade, com fortaleza de ânimo. - Vivência do sentido de solidariedade social a todos os níveis e em todos os campos. - Sentido da obrigação de competência e brio profissional. DEVERES DA SECRETÁRIA PROFISSIONAL CAPÍTULO I Em Relação a Si Própria e às Suas Funções Artigo 1º Avaliar a sua competência e limitações, recorrendo, sempre que necessário, a conselho e apoio apropriados e qualificados. Artigo 2º Aproveitar todas as oportunidades razoáveis para melhorar a sua capacidade, competência e comportamento profissionais, não descurando a cultura geral, o desenvolvimento da personalidade e o fortalecimento do carácter através de contactos e apoios apropriados e qualificados e do aproveitamento de acções de formação, reciclagem e aperfeiçoamento profissional. 17 Secretariado: uma visão prática Artigo 3º Não aceitar cargo ou tarefa que sinta não poder conscientemente assumir ou desempenhar. Artigo 4º Assumir integralmente a responsabilidade das suas decisões e acções, de modo a inspirar completa confiança a todos os membros da equipa em que se integra prestando contas dos seus actos em bases préestabelecidas e aceitando as suas consequências. Artigo 5º Utilizar devidamente, com discernimento e com legítimo sentido de produtividade, os seus conhecimentos, a sua experiência e os meios e recursos postos à sua disposição. Artigo 6º Tomar em consideração, na prossecução das suas legítimas ambições profissionais, os interesses dos outros, da Instituição ou Organismo e os da Sociedade em geral. Artigo 7º Comportar-se e pronunciar-se com veracidade e sensatez, não se envolvendo em actos que possam afectar a sua imagem pessoal ou a imagem da Secretária Profissional. Artigo 8º Manter o sigilo profissional em relação a todos os domínios considerados reservados ou confidenciais. Artigo 9º Privilegiar a lealdade à organização, o sigilo profissional, a assiduidade, a disciplina e a produtividade, como valores fundamentais para o estabelecimento e a manutenção de sãs relações no trabalho. Artigo 10º Não utilizar de forma abusiva ou em benefício próprio o poder inerente à sua posição na Instituição ou Organismo em que trabalha. CAPÍTULO II Em Relação aos Colegas de Trabalho Artigo 11º Contribuir para que todos os colegas de trabalho estejam conscientes dos seus direitos e deveres, em relação a si próprios, aos outros e à Instituição ou Organismo, promovendo o respeito pela dignidade da pessoa humana em todas as circunstâncias em que o possa fazer. Artigo 12º Encorajar e contribuir de forma activa para a valorização pessoal e profissional dos colegas de trabalho, prestando orientação, auxílio e conselho, sempre que pressinta audiência para tal e esteja ao seu alcance fazê-lo. Artigo 13º Transmitir activamente e em especial pelo exemplo as formas de comportamento e as técnicas de trabalho às colegas Secretárias principiantes. Artigo 14º Dedicar a atenção devida às condições e ao ambiente de trabalho que possam afectar a saúde, segurança, bem estar psicológico e fisiológico, e eficácia no trabalho. Artigo 15º Comunicar e transmitir com a maior clareza e objectividade em todos os sentidos: ascendente, descendente e horizontal. Promover boas relações de trabalho e actuar por forma a minimizar os mal entendidos. Artigo 16º Tomar em consideração, sempre que seja devido e lhe incumba, ideias, sugestões, problemas e necessidades dos outros. 18 Perfil Profissional Artigo 17º Promover o exercício da liberdade com responsabilidade no trabalho, o desenvolvimento da personalidade, a formação do carácter, o sentido da eficiência e da auto-disciplina, nas relações de trabalho. CAPÍTULO III Em Relação à Instituição ou Organismo em que Trabalha Artigo 18º Empenhar lealmente o melhor da sua competência, experiência e capacidade na prossecução dos objectivos da Instituição ou Organismo e na promoção do seu desenvolvimento e da sua imagem, mediante uma actuação sensata, sistematizada e perseverante, de acordo com as políticas, orientações basilares e normas internas em vigor. Artigo 19º Não se envolver em qualquer tipo de actividade que possa pôr em risco o desempenho da sua acção profissional na Instituição ou Organismo, dando conhecimento à chefia de interesses pessoais que possam colidir explícita ou implicitamente com os interesses da Instituição ou Organismo. Artigo 20º Zelar pela correcta utilização e manutenção de instalações, equipamentos, materiais e processos à sua disposição e não utilizar esses meios ao serviço próprio a não ser de acordo com autorizações expressas. Artigo 21º Agir sempre com recta intenção e discernimento de julgamento, inclusivamente em eventuais situações de conflitos de interesses decorrentes do facto de ser membro de uma associação profissional, particularmente da ASP. Artigo 22º Ser fiel ao compromisso explícito ou implícito de manter sigilo profissional em relação a todos os domínios considerados reservados ou confidenciais pela Instituição ou Organismo em que trabalha. CAPÍTULO IV Em Relação aos Clientes e Fornecedores da Instituição ou Organismo Artigo 23º Privilegiar a clareza e a objectividade na comunicação, de modo a preservar uma permanente relação de respeito e confiança mútuos. Artigo 24º Proporcionar igualdade de tratamento e de oportunidades e rejeitar qualquer envolvimento pessoal em medidas ou actuações que possam afectar o princípio da livre concorrência. CAPÍTULO V Em Relação à Comunidade Artigo 25º Actuar de acordo com a consciência do sentido de responsabilidade e de solidariedade sociais da Instituição ou Organismo em que trabalha, tendo sempre presente a envolvente sócio-cultural que enquadra a actividade da Secretária Profissional. Artigo 26º Contribuir para que o processo de comunicação da Instituição ou Organismo com a Comunidade seja idóneo, transparente e contínuo. Artigo 27º Estar disponível para pôr ao serviço do Bem Comum a influência e os conhecimentos próprios da Secretária Profissional, promovendo o desenvolvimento na justiça e na solidariedade social. 19 Secretariado: uma visão prática Artigo 28º Cumprir esclarecidamente a Lei e respeitar a Moral, usos e costumes legítimos vigentes no local em que se situa a Instituição ou Organismo em que trabalha. CAPÍTULO VI Em Relação à ASP Artigo 29º Contribuir de todas as formas viáveis para o engrandecimento e o prestígio da ASP, correspondendo dentro das possibilidades às solicitações que sejam feitas pela Associação. In http://www.asp-secretarias.pt/CDeontologico.htm, Abril de 2009 A RETER Ainda que a actuação de cada um dependa dos seus próprios princípios e que o código deontológico aprovado pela ASP, efectivamente, só vincule aqueles que lhe estão associados, o facto é que contém um levantamento objectivo de direitos e deveres fundamentais, que têm por base, na sua maioria, valores humanistas e intemporais como a lealdade, responsabilidade, bom senso e respeito pelo próximo, podendo assim servir de receituário a quem exerce a profissão. SÍNTESE DO CAPÍTULO • Na transição da Sociedade de Informação para a do Conhecimento, para fazer face aos desafios que as organizações enfrentam actualmente, a profissão maturou no sentido de cada vez maior autonomia e responsabilidade. • A detenção de determinadas competências pessoais e técnicas consideradas desejáveis revela-se hoje insuficiente, sendo essencial uma reciclagem permanente e um contacto estreito com os mercados e o mundo em geral. • Um desempenho eficaz será ditado pelo orgulho no exercício da profissão e pelo brio que se coloca em cada tarefa assegurada. • A imagem do Secretariado está indissociavelmente ligada à das chefias que apoia e à da organização que integra. As rotinas diárias que assegura dependem intrinsecamente das suas capacidades individuais, da dimensão e características da organização e do estilo de gestão das respectivas chefias. • Sendo durante muito tempo considerado um ofício menor que não justificava um curso superior, esta profissão revela hoje um grande potencial de crescimento em termos de desafios, estímulo intelectual, condições atractivas e efectiva progressão na carreira. • A profissão é regida por um código deontológico específico e uma associação profissional própria. 20