QUÍMICA Prof. Daniel Pires ACELERADOR DO CERN RECRIA SITUAÇÃO PÓS-BIG BANG. GENEBRA - Pela primeira vez, cientistas conseguiram nesta terça-feira fazer o maior colisor de partículas do mundo - o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) - funcionar e recriar uma situação similar aos instantes posteriores ao Big Bang, a grande explosão que deu origem ao universo. Big Bang na Terra A colisão foi alcançada nesta terça-feira após duas tentativas fracassadas Veja a cronologia do maior experimento do mundo A colisão de feixes de prótons, feita a uma energia de 7 TeV teraeletrovolts, foi alcançada após duas tentativas fracassadas. O LHC conseguiu colidir dois feixes de prótons a uma velocidade três vezes maior que o recorde anterior. Segundo os cientistas responsáveis pelo LHC, a energia de 7 TeV teraeletrovolts é recorde. Cientistas do Cern comemoram resultado de experiência O sucesso do experimento abre as portas para uma nova fase na física moderna, já que agora será possível dar respostas a inúmeras incógnitas sobre o universo e a matéria, segundo os cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern). "Isto é física em ação, o início de uma nova era, com colisões de 7 TeV (tera elétron volts)", explicou Paola Catapano, cientista e porta-voz do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), de Genebra, ao anunciar o experimento. "É um momento fantástico para a ciência", destacou o diretor-geral do Cern, Rolf Heuer, em uma videoconferência a partir do Japão, visivelmente emocionado. 1 Os pesquisadores na sala de controle do Cern aplaudiram quando as primeiras coalizões bem-sucedidas ocorreram. Vários cientistas pelo mundo acompanham os trabalhos. A nova etapa, chamada "Primeira Física", representa o começo de uma série de milhões de choques similares durante um período de 18 a 24 meses. "Com certeza repetiremos a façanha várias vezes na próxima semana e durante o ano", acrescentou o cientista, que comparou o experimento ao lançamento de duas agulhas de lados diferentes do Atlântico, esperando pelo choque. Projeto de US$ 10 bilhões, o LHC realiza as colisões de feixes de prótons como parte de uma ambiciosa experiência que busca revelar detalhes sobre micropartículas e microforças teóricas. A ideia é que esses testes ajudem a lançar luz sobre as origens do universo, além de responder a importantes questões da física. As colisões representam uma nova era na ciência para os pesquisadores que trabalham no LHC, que fica na fronteira entre Suíça e França e faz parte do Cern. O experimento foi lançado com pompas em 10 de setembro de 2008, mas apresentou problemas nove dias depois. Os reparos e as melhorias custaram US$ 40 milhões, até que o aparelho voltou a operar no fim de novembro. As colisões, porém, causaram receio em algumas pessoas, que temiam riscos para o planeta por causa da criação de pequenos buracos negros - versões subatômicas de estrelas que entram em colapso gravitacional -, cuja gravidade é tão forte que eles podem sugar planetas e outras estrelas. O Cern e muitos cientistas rejeitam qualquer ameaça à Terra ou às pessoas, afirmando que esses buracos negros seriam tão fracos que se desfariam quase logo após serem criados, sem causar problemas. Ainda há risco de fim de mundo, diz oponente do LHC. Em março de 2008, Wagner tentou judicialmente adiar o início das operações do acelerador de partículas, alegando falhas na documentação que atesta a segurança do complexo. O pedido foi indeferido pela Justiça do Havaí (onde Wagner morava na ocasião), já que a participação dos Estados Unidos no LHC não seria suficiente para haver jurisdição do país no projeto. O caso agora aguarda apelação. “Mesmo agora não podemos presumir que está tudo bem. Não sabemos ainda os resultados, vai demorar algum tempo até os dados serem analisados e divulgados,” ponderou em entrevista ao iG. “O objetivo do LHC é criar partículas que nunca foram detectadas, que só existem em teoria. Isso pode ter perigos reais,” acredita Wagner, que dá aulas de Ciências e Matemática em escolas secundárias em Utah, onde vive atualmente. Wagner cita um estudo grego que mostra que os micro buracos negros na verdade não se formariam a velocidades abaixo de 8 TeV (Tera Eletron-volts) – as velocidades alcançadas hoje de manhã (30) no colisor foram de 7 TeV. Segundo essa lógica, o perigo estaria quando o acelerador chegar à sua velocidade máxima de 14 TeV, o que não acontecerá tão cedo, já que o LHC deve funcionar ininterruptamente a 7 TeV por até dois anos, sofrer uma parada técnica de alguns meses, e só depois disso a operação retorna com a meta de chegar aos 14 TeV. Imagem ilustrativa mostrando as colisões de prótons a 7 TeV: Para Wagner, o desastre foi apenas adiado (Foto: CERN) Agora ele desvia sua atenção para as partículas quark, cujas experiências começam em alguns meses. “Elas vão acontecer em um volume bem maior que a colisão de prótons, e só temos teorias do que pode acontecer”. Enquanto isso, espera o resultado de sua apelação e prepara um artigo analisando os problemas de segurança do LHC, que espera publicar em uma revista científica de peso. 2 Complicações judiciais Eric E. Johnson, professor de Direito da Universidade de North Dakota, também apareceu no noticiário científico recentemente ao publicar um estudo sobre as implicações jurídicas do LHC. Nele, considera as dificuldades de processar o CERN, e como um júri leigo poderia avaliar a segurança do projeto. As poucas tentativas de se levar o projeto à Justiça por falta de segurança, em diferentes países, esbarraram na questão da jurisdição (o LHC fica numa região fronteiriça entre França e Suíça, e tem imunidade legal) e da insuficiência de fundamentos científicos para a interrupção de suas atividades. Ao iG, afirmou não estar pessoalmente preocupado com as atividades do acelerador de partículas. “Acho que não é o caso de entrarmos em pânico. Mas defendo o direito de cidadãos preocupados com sua segurança poderem questionar judicialmente o CERN e receberem as respostas que procuram.” 30/03 - iG São Paulo 3