A TIPOGRAFIA NO CINEMA A tipografia é a arte e o processo de estruturar visualmente um texto, seja no papel ou nas telas. É algo que nós vemos quase todos os dias, mas algo onde poucos realmente prestam atenção aos detalhes. Está tão onipresente que é fácil de esquecer. + CURTA FROM PAPER TO SCREEN (02:28) + VÍDEO A Brief History of Title Design (02:33) Cada fonte possui detalhes bastante específicos em cada letra. A linha de base, que guia as letras em uma linha; o ascendente e descendente, pontos mais altos e mais baixos de uma letra; a serifa, os pequenos prolongamentos nas extremidades de cada letra; entre outros. A tipografia combina a fonte com certos estilos – negrito, itálico, light, condensado, entre outros – e com o uso de caixa alta (ou baixa). Mas não só: a forma como você organiza as palavras e usa os diferentes estilos faz parte da tipografia. Vocês já pararam para pensar o que faz com que você lembre de determinados filmes, séries ou shows? É claro que vocês dirão que é por conta das histórias. Mas e filmes como Vertigo, Goldfinger, Se7en e Snatch, Porcos e Diamantes? Qual é a primeira coisa que lhe vem a mente? Provavelmente a abertura com a sequência de títulos marcaram sua memória. + Opening Title Sequence, Vertigo (03:21) TÍTULOS NO CINEMA MUDO A palavra escrita e a caligrafia desempenharam um enorme papel na era do cinema mudo. Títulos apareceram logo nos primeiros filmes do cinema mudo, junto com os cartões de fala (ou intertítulos), que informavam o contexto. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Esses cartões eram responsabilidade do calígrafo ou ilustrador que colaborava com o roteirista e o diretor para dar continuidade às cenas. O título do filme era distinto dos intertítulos, e tinha particular importância para os produtores porque sustentava toda a estratégia de vendas, promoção, direitos autorais etc. TÍTULOS NO CINEMA MUDO O título principal do filme de D.W. Griffith’s Intolerance (Intolerância), de 1916. Muitos estudiosos e historiadores consideram um dos grandes do cinema mudo. Note que o nome do diretor aparece em cinco disposições diferentes. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Os títulos e intertítulos tinham que mostrar informações essenciais para o público. Uma forma de favorecer a legibilidade e facilitar a produção dos cartões era usar letras grossas ou caracteres com pequenas serifas. Letras manuscritas brancas em fundo preto também são outra característica do período, já que os títulos feitos nesse molde ganhavam um aspecto melhor nos projetores de filmes preto e branco. + CHARLES CHAPLIN – TEMPOS MODERNOS – MODERN TIMES, 1936 (01:23:09) TÍTULOS NO CINEMA MUDO Além de contratar designers de tipos, os grandes estúdios também começaram a contratar typesetters na produção dos cartões de filmes. Entre as faces tipográficas adotadas para títulos de filmes estão: Pastel (BB&S, 1892), National Old Style (ATF, 1916) e a Photoplay (Samuel Welo’s Studio, 1927). TÍTULOS NO CINEMA MUDO A versão norte-americana do título principal do clássico do expressionismo alemão O Cabinete do Dr. Calligari, de 1920, é muito menos expressiva que o título original, alemão. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Independente do modo de produção, o surgimento de uma tipografia mais expressiva, cujo objetivo era transmitir características da história visualmente. Títulos inspirados em movimentos artísticos como o art noveau, art deco e o expressionismo também eram frequentes. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Título principal na versão alemã original de Nosferatu; Cartaz de divulgação com estética art noveau da época; e o Título sem serifa de uma versão restaurada do clássico do horror. A face tipográfica do cartaz, foi criada pelo alemão Heinz Hoffman em 1904. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Efeitos de animação do tipo que vemos em rotoscopia começaram antes do filme. Mas o poder da filmagem era enorme e encantava milhares, inclusive os artistas que tentavam colocar as mãos no novo meio. TÍTULOS NO CINEMA MUDO As animações de título mais antigas são as encontradas no trabalho de Stuart Blackton. TÍTULOS NO CINEMA MUDO Humorous Phases of Funny Faces, de 1906 foi dirigido por J. Stuart Blackton, considerado por muitos o pai da animação norte-americana. Não é apenas um dos primeiros filmes de animação, mas também um dos primeiros a mostrar o título animado, tornando-se um precursor na linguagem de títulos. + Vídeo Humorous Phases of Funny Faces (03:03) TÍTULOS NO CINEMA MUDO Outros pioneiros importantes do cinema foram Emil Cohl e Winsor McCay, que dedicaram anos de suas vidas descobrindo o potencial dramático e prático das técnicas de animação. Mas o foco de Cohl e McCay era o desenvolvimento dramático do personagem, além da parte visual da história, e não os títulos isoladamente. Embora muito se anuncie nessa fase do cinema em relação a arte dos títulos, as grandes inovações desse campo só surgiram depois da Segunda Guerra Mundial. TÍTULOS NO CINEMA MUDO A tipografia do filme Metropolis, do ano de 1927, de Fritz Lang e a versão restaurada, que manteve a face tipográfica mas acrescentou cor. O SILÊNCIO É QUEBRADO Conforme o cinema se popularizou, produtores passaram a investir mais em seus filmes, inclusive na produção da abertura. Nessa época, Ralph Spence foi o ilustrador de tipos mais bem pago da indústria, chegando a ganhar US$ 10.000 por filme. Durante os anos 1920 e 1930 o cinema foi profundamente influenciado pelo modernismo, e sua estética foi levada aos Estados Unidos por cineastas que fugiam dos nazistas. O SILÊNCIO É QUEBRADO Enquanto isso, estúdios adoravam filmes em que os títulos poderiam ter uma tipografia vernacular, contando uma espécie de novela em um livro. Fontes do tipo blackletter eram usadas para filmes de terror, fitas e letras floridas sugeriam amor, e a face tipográfica de cartazes do estilo ‘Procura-se’ conotava filmes do velho oeste. Still do título do mais antigo longa metragem de animação, chamado As aventuras do Príncipe Achmed, (Die Abenteuer des Prinzen Achmed) do animador alemão Lotte Reiniger Título do filme western Outlaws of Boulder Pass. Primeiro desenho animado de Mickey Mouse (Still/1929). Com o tempo, a própria aparência do lettering tradicional utilizando título branco sobre preto tornou-se um tropo visual. O aclamado Woody Allen por exemplo, criou uma “assinatura” nas sequencias de abertura e encerramento, mantendo fundo preto com tipografia branca e Allen usa a fonte Windsor para a maioria de seus filmes. “Annie Hall” (1977). O SILÊNCIO É QUEBRADO A incorporação do áudio nos filmes não revolucionou a forma como os títulos eram feitos, mas um animador e pintor vanguardista de origem alemã chamado Oskar Fischinger, fez experimentos muito interessantes que relcionavam efeitos visuais e música. A técnica de Fischinger de sincronizar o ritmo da música com ritmo visual da imagem foi copiada e continua sendo usada até hoje. O SILÊNCIO É QUEBRADO O conceito de score visualization apareceu primeiro em um filme de Oskar Fischinger, Studies, que antecipa os efeitos criados por Saul Bass em The Man With the Golden Arm, de 1955, e depois por Susan Bradley em Monstros S.A., de 2001. O NASCIMENTO DA SEQUÊNCIA DE TÍTULOS Ideias revolucionárias em títulos, como sincronizar a tipografia para interagir com imagens vieram de pessoas de fora de Hollywood. Figuras como Saul Bass, Pablo Ferro, Maurice Binder e Richard Williams surgiram em cena nos anos 1950, época em que os estúdios estavam começando a investir na televisão. Maurice Binder trabalhou em 14 sequências dos títulos dos filmes de 007, incluindo o primeiro episódio de 1962, Dr. No. Binder criou a famosa sequência do barril de pólvora que se tornou uma assinatura das sequências de Bond. + 1962 – James Bond – Dr. No: title sequence (02:40) + 1963 – James Bond – From Russia with love: title sequence (02:45) O NASCIMENTO DA SEQUÊNCIA DE TÍTULOS Se existisse um hall da fama para o design de títulos de filme, a sequência de Stephen Frankfurt de 1962, para o filme O Sol para Todos teria um lugar de destaque. Cameron Crowe usou ela como referência na abertura do filme Quase Famosos, de 2000. Stills da sequência de títulos do filme O Sol é para Todos (To kill a mockingbird), de 1962. O NASCIMENTO DA SEQUÊNCIA DE TÍTULOS Com a experimentação de sequências de títulos no ápice, diretores perspicazes como Otto Preminger, Alfred Hitchcock, Blake Edwards e Stanley Donen adotaram essas inovações e em troca receberam o poder de surpreender o público desde os primeiros frames. Os filmes de James Bond, Pantera Cor de Rosa e Barbarella tinham sequências iniciais que se tornaram populares e adoradas. Na metade dos anos 1960, os designers de títulos eram celebridades em seu próprio meio. O still da sequência criada por Saul Bass para o filme North by Nothwest, seu primeiro projeto com o diretor Alfred Hitchcock. O NASCIMENTO DA SEQUÊNCIA DE TÍTULOS Grande desenhista e contador de histórias por meio de imagens, Saul Bass tinha conhecimento de diversas técnicas de sequência de títulos: montagem, stop motion, tipos em movimento, entre outros. Independente da técnica escolhida, Bass resumia o filme em uma metáfora criativa e coerente. Desde seus primeiros momentos o cinema apresentou elementos gráficos (tipografia, diagramas, sinais, etc.) Nas telas de cinema, a tipografia inicialmente tinha um propósito simples: exibir as falas de um filme mudo. Ela ganhava mais estilo nas aberturas e créditos do filme. Mas foi com Saul Bass que ela ganhou ainda mais relevância, através do que se chama de “design de animação”. Ele combinava design gráfico, tipografia e movimento para criar aberturas clássicas, como em PSICOSE, INTRIGA INTERNACIONAL e O HOMEM DO BRAÇO DE OURO. Depois disso, todo e qualquer filme ganhou uma abertura própria, com fonte e tipografia diferentes. + VÍDEO THE TITLE DESIGN OF SAUL BASS (01:45) A ERA DIGITAL A ERA DIGITAL Tudo foi afetado pelos computadores e especialmente a indústria de filmes. Para os designers, criar sequência de títulos significava participar da tradição de aprender na prática, fazendo o trabalho. Hoje, designers gráficos trabalham com filmes e profissionais do cinema acabam trabalhando com design gráfico. A sequência revolucionária de Se7en, de 1995, por Kyle Cooper, foi apontada pela revista New York Times como uma “das mais importantes inovações do design dos anos 1990.” A ERA DIGITAL O potencial do design de sequências de títulos chamou a atenção da Pixar e da Disney que passou a usar personagens animados para apresentar a história. Para a sequência final de Ratatouille, Susan Bradley desenhou a tipografia, inspirada pela face tipográfica Rockwell. Para a abertura, ela usou uma face manuscrita ‘que lembrasse Paris’ + CRÉDITOS FINAIS RATATOUILLE = THE END TITLE (02:18) A ERA DIGITAL A sequência de Obrigado por fumar, de 2005, usa embalagens de cigarro na abertura, ideia do diretor Jason Reitman realizada pelo Estúdio Shadowplay. A ERA DIGITAL A sequência de Obrigado por fumar, de 2005, usa embalagens de cigarro na abertura, ideia do diretor Jason Reitman realizada pelo Estúdio Shadowplay. A ERA DIGITAL A sequência de Obrigado por fumar, de 2005, usa embalagens de cigarro na abertura, ideia do diretor Jason Reitman realizada pelo Estúdio Shadowplay. A ERA DIGITAL Ao longo da história do cinema, títulos de filmes evoluíram com a indústria de filmes, movimentos sociais e moda. Mas os critérios para avaliar se uma sequência de títulos é boa agora continuam sendo os mesmos da era do cinema mudo. Independente da função que desempenham, títulos continuam sendo uma parte essencial do filme. A ERA DIGITAL Na sequência de títulos de Amor sem Escalas (Up in the Air), de 2009, os designers do Estúdio Shadowplay apostam na fotografia aérea. CINEMA E TIPOGRAFIA ANIMADA {Ou tipografia cinética = kinetic typography} A facilidade com que se cria uma animação em vídeo nos dias de hoje não tem precedentes. Softwares de edição e dispositivos abriram as portas para o 'cinegrafista' que existe em todos nós - à semelhança do que aconteceu com a fotografia. Essa facilidade, associada à popularidade de plataformas como o YouTube e Vimeo, levaram a uma explosão de produção de conteúdo nos últimos anos, desde o famigerado vídeo caseiro até aos mais elaborados, que conquistam a Internet e trafegam nas nossas timelines sem olhar a fronteiras geográficas ou barreiras linguísticas. O vídeo assegurou o seu devido lugar na preferência do Internauta no mundo, e a sua utilização no domínio da infografia e da visualização de dados também está longe de ser uma novidade - apenas se democratizou. Um tipo bem especifico de vídeo são as animações tipográficas, e em especial aquelas que se relacionam com cinema. Excertos de atuações marcantes, discursos e monólogos que nunca mais esquecemos, imortalizados na dança das palavras que motion designers produzem. Cenas famosas de filmes como Pulp Fiction, Kill Bill, Clube da Luta, e outros, são contados através de tipografia animada. + tipografias cinéticas (cinema como conceito) OS CARTAZES E AS TIPOGRAFIAS