Revista O Cruzeiro Revista Semanal Ilustrada 1928 – 1975 Origens da Revista no Brasil As revistas chegaram ao Brasil juntamente com a corte portuguesa no inicio do século XIX. A autorização para imprimir em território nacional veio com a liberação da imprensa régia, em 1908. No entanto a primeira revista não oficial do país que se tem conhecimento, surgiu em 1812 na cidade de Salvador e teve como título: As Variedades ou ensaios de Literatura . Padre Inácio José de Macedo Posteriormente surgiram revistas como: •O Patriota •Anais Fluminenses de Ciência •Artes e Literatura E a primeira revista destinada ao público feminino brasileiro: Espelho de Diamantino. Todas essas revistas, no entanto, possuem uma particularidade: tiveram existência muito curta, devido à falta de assinantes e de recursos. A fotografia começou a surgir na década de 1860, um nascimento sem pretensão fotojornalística, pois, usavase a fotografia de forma indireta, servindo apenas como base para ilustrar a informação. Já o fotojornalismo passa a ter lugar de destaque junto aos periódicos nacionais em 1900, quando surgiu A Revista da Semana. Dentro deste contexto, nascem inúmeros veículos que se transformariam em verdadeiros fenômenos de venda. O surgimento Na década de 20 dois movimentos caracterizaram a imprensa do Rio de Janeiro: o aparecimento de um jornalismo sensacionalista e o surgimento dos primeiros conglomerados de imprensa, representados pelos Diários Associados, grupo de Assis Chateubriand. Assim em 1928 Chateaubriand lança a revista Cruzeiro, dando ênfase ás grandes reportagens e destaque especial ao fotojornalismo, atingindo na década de 1950, a marca de 700 mil exemplares por semana. Antes do lançamento, Chateubriand e sua equipe divulgaram a revista à população do Rio. No fim do expediente das lojas e partições públicas foram jogados confetes, serpentinas e pedacinhos de papel do alto dos prédios e até de aviões que caíram sobre a Avenida Rio Branco. Também lançaram folhetos onde era possível ler: “comprem amanha O Cruzeiro, em todas as bancas. A revista contemporânea dos arranha-céus [...] que tudo sabe, tudo vê”. Baseado no chamado pensamento conservador. O grupo dos Diarios Associados lançaram a principal revista ilustrada brasileira do seculo XX : O Cruzeiro. As primeiras reportagens apresentavam um Brasil moderno, com os avanços tecnológicos em um mundo pós Primeira Guerra Mundial. Capa da Primeira Edição da Revista O Cruzeiro, publicada em 10 de novembro de 1928 Na primeira capa havia o logo tipo: Cruzeiro em vermelho, com um fundo azul. As estrelas da constelação do Cruzeiro do Sul sobrevoavam um rosto de uma mulher de boca e olhos pintados, enviando um beijo para o publico. A primeira personalidade a aparecer em uma capa foi o Rei Alberto da Bélgica, no número 2, e a primeira capa utilizando uma foto mostrava Santos Dumont. A revista era publicada semanalmente, aos sábados. Eram inúmeros os assuntos abordados pelo veículo: cinema, esportes e saúde, charges, política, culinária, moda, crônicas, coluna social. O Cruzeiro apresentava matérias jornalísticas, uma resenha do noticiário semanal nacional e internacional com muito material ilustrado, fotográfico , literatura, reportagens sobre locais exóticos e quase desconhecidos da flóra e fauna nacionais, colunas que abordavam um grande espectro de assuntos. Também trazia inovações gráficas e editoriais para a imprensa brasileira, como a indicação do tempo que seria gasto pelo leitor para a leitura de cada texto. A revista logo de saída cobre a Revolução de 30, na qual Chatô apóia Getúlio. Já na Revolução de 32, Chatô se volta contra Getúlio, reivindicando uma Constituição para o País, com o apoio de Luzardo, Bernardes, Raul Pilla e Borges de Medeiros. Com a Primeira Guerra Mundial a revista reflete as aspirações de um país que se preparava para uma nova era. As reportagens focavam o alcance da telefonia, a extensão do Correio Aéreo, o confronto do automóvel, as grandes construções,as estradas que facilitavam as comunicações entre os estados da Federação. Um dos problemas enfrentado pela revista já nos primeiros anos da década de 30 relacionava-se a produção nacional de papel para prevenir o país da escassez que o mundo estava enfrentando desde a primeira grande guerra. Uma década se passou e a em 1940 Vargas propôs a Chateaubriand que ele abrisse uma fabrica de papéis para atender ao jornalismo. Assis não aceitou, dizendo ao Presidente “meu negocio é imprimir papel e não fabricar.” A principal concorrente da revista na década de 40, era a revista Diretrizes constituída por nome como Jorge Amado, Rubens Braga e Joel Silveira. Composta por 64 páginas, a edição contava com muitos anúncios coloridos, vários deles ocupavam o espaço de páginas inteiras. A quantidade de anúncios aumentava a cada semana, chegando a ocupar até 35% das páginas da revista e suportando financeiramente o empreendimento. A Revista apresentava conteúdo rico em assuntos relacionados a Semana da Arte Moderna, divulgando os intelectuais da época . Muitos desses artistas famosos criaram capas para O Cruzeiro. Parte do quadro do cartunistas Di Cavalcanti, Anita Malfatti ,o chargista Carlos Estevão e a escritora Rachel de Queiroz e outros grandes nomes artísticos colaboraram eventualmente com a revista. O Cruzeiro criou as duplas de reportagem (um repórter e um fotografo). A mais conhecida e considerada a grande estrela da revista era formada por David Nasser, o repórter mais conhecido dos anos 50, e o fotógrafo francês Jean Manzon. Juntos arranjavam, produziam e ilustravam matérias impactantes. Que Além de informar, passou a interferir nos hábitos e costumes da sociedade, ou seja, passou a transforma - lá. Em outubro de 1943 até 1961 a revista publicou as histórias do Amigo da Onça, criadas pelo cartunista Péricles de Andrade Maranhão. Péricles e suas charges foram o carro chefe da revista O Cruzeiro nessa década. As historias continham piadas sarcásticas, desnecessariamente sacanas e politicamente incorretas do seu personagem principal O Carioca, fazendo críticas a muitas situações como o casamento, o exército e a hipocrisia social, que foi uns dos primeiros cotados com a linguagens dos HQ’s. Péricles de Andrade Maranhão A seção de Péricles, segundo pesquisas, era a sessão mais lida e mais adorada da revista. Crianças, adultos e idosos se divertiam com o personagem que foi encomendado para expressar na época a essência cotidiana do Rio de Janeiro para todo mundo, inclusive que não morasse lá. Péricles se suicidou em 1961, no último dia do ano, se trancou em casa e deixou o gás ligado. Modernidade Na década 40 temos a presença das colunas Pif-Paf de Millôr Fernandes e Raquel de Queiroz, na última página. O conteúdo da revista cada vez mais diversificado atraia não somente o público alvo a que se destinara a classe média. Geralmente as capas traziam modelos, atrizes e mulheres bonitas. Eram raras as capas políticas. Getúlio Vargas, JK, João Goulart e Jânio Quadros estão entre essas raridades. Millôr Fernandes Pif-Paf Marta Rocha Elizabeth Taylor Fotojornalismo O fotojornalismo de O Cruzeiro criou uma escola que tinha entre os seus princípios básicos a concepção do papel do fotógrafo como 'testemunha ocular' associada à idéia de que a imagem fotográfica podia elaborar uma narrativa sobre os fatos. Fotojornalismo Uma das marcas de O Cruzeiro era investir pesadamente na cobertura de acontecimentos distantes, no Brasil e fora dele. Em 1951, o fotógrafo Luciano Carneiro foi despachado para a frente da Guerra da Coréia. A imagem de um índio ajudando a tirar um avião de um atoleiro, usada na reportagem que acompanhou uma expedição da Aeronáutica para criar pistas de pouso no interior, faz parte da vasta cobertura que O Cruzeiro dedicou à Marcha para o Oeste, nos anos 1940. Dizia a legenda: “Fortes, amigos, eles não se negam a ajudar os civilizados em qualquer tipo de serviço. Já é tempo de aproveitar a inteligência e a capacidade dos indígenas em prol do progresso e da civilização desta nossa República”. Barreto Pinto recebeu Manzon e Nasser para uma entrevista em seu gabinete e foi convencido pelo fotógrafo de que não precisava vestir a calça, já que todas as fotos seriam da cintura para cima. Vaidoso, ele ainda concordou em posar nos trajes ridículos. Publicadas as imagens, as legendas davam a entender que o parlamentar recebia visitas naqueles trajes: “A nobreza dos passos revela a nobreza da origem. E o deputado queremista-trabalhista se dirige ao salão, onde os convidados o esperam há tanto tempo”. Barreto Pinto processou a revista e perdeu. Visita de Fidel Castro ao Rio de Janeiro, em 1959, nas lentes de Luiz Carlos Barreto: flagrante do discurso. Chico Xavier David Nasser e Jean Manzon da revista O Cruzeiro fingiram-se de repórteres americanos para fazer uma reportagem com Chico Xavier em 1944. Essa história foi contada no filme. Vídeo Chico Xavier O prestígio atingido pela revista em meados dos anos 40, já dava pista do que seria a década seguinte. Nos anos 50 a revista chegava a seus anos de ouro. Em 1945 a tiragem da revista chegou a 80 mil exemplares. Em agosto de 1954, com a publicação histórica sobre a morte de Getúlio Vargas a revista chegou a vender720 mil exemplares. Se comparado com a população da época, este fato foi um verdadeiro marco. Entre os anos de 1937 e 1945 temos os chamados anos negros. Vários jornais e revistas foram fechados. Com a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) a imprensa tornou-se cada vez mais vigiada. Por mais que se fale em liberdade de imprensa, os empresários de comunicação são cautelosos ao publicar reportagens que atinja diretamente o governo que os sustenta. Na revista o repórter tem a liberdade de indicar pauta e fazer as reportagens, porém o texto ou fotografia passa pelo crivo da redação, diagramação, composição e encadernação. Isso mostra que há toda uma organização nas redações de “O Cruzeiro”. Essa estrutura facilita a comunicação entre os integrantes da equipe de redação. Esse fora um dos diferenciais entre a Revista O cruzeiro e outras da mesma época. Não havia concorrentes a altura da revista no que diz respeito a sua política editorial. Grandes fatos sociais enchiam suas páginas. Cinema, teatro e outros pontos de encontro, arte e cultura eram figurinhas fáceis. Sem falar das festas da alta sociedade em que participavam boa parte dos políticos, socialites, artistas, empresários como Chateaubriand e jornalistas famosos, como Nasser, Manzon, Mario de Moraes e Ubiratan Lemos. O levou para a redação o primeiro Prêmio Esso, concedido em 1956. Com a reportagem sobre a migração do nordeste para Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Ininterruptamente, a revista foi editada de 1943 a 1975. Sendo uma publicação voltada para a escrita de contos e novelas, e pequeno espaço para publicações locais. O que foi totalmente modificado na década de 50, com a revista mostrando um bom jornalismo, caracterizada por darvoz a grandes reportagens e acontecimentos sociais da época. A relação da revista com os intelectuais da época era grande. Reportágens internacionais elaboradas a partir dos contatos com as agências de imprensa do exterior e, em termos estritamente técnicos, a introdução da rotogravura, permitindo uma associação mais precisa entre texto e imagem. Toda essa modernização era patrocinada pelos Diários Associados. Já nos anos 60 com o regime militar e o surgimento de outros conglomerados como as Organizações Globo – os Diários Associados começaram a perder seu prestígio. Além disso, a consagração da televisão como o grande veículo de comunicação visual de massa diminuiu o interesse pelas revistas ilustradas. O fim da revista aconteceu em julho de 1975, com a consagração definitiva do instantâneo meio televisivo em favor dos impressos e o fim do império dos Diários Associados de Chateaubriand. A última edição trouxe na capa o jogador Pelé, vestido de Tio Sam. A revista quebrou alguns recordes como a maior venda de edições com mais de 750 mil exemplares (até hoje, proporcionalmente, a maior tiragem brasileira) e com a sua circulação que durou 47 anos.