“ Vidas Secas” (Graciliano Ramos) “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto) “João, Boa-Morte” (Ferreira Gullar) [...] [...] Pedro João Boa-Morte Ainda na véspera eram seis Somos muitos Severinos lavrador da Chapadinha: talvez tenha boa morte iguais em tudo na vida, viventes, contando com o porque vida ele não tinha. morremos de morte igual, papagaio. Coitado, morrera na mesma morte severina: [...] areia do rio. que é a morte de que se morre Podia ser no Sergipe, [...] de velhice antes dos trinta, Pernambuco ou Maranhão, Aquilo era caça bem que todo cabra-da-peste de emboscada antes dos mesquinha, mas adiaria a morte vinte, ali se chama João Boa-Morte, vida não. do grupo. de fome um pouco por dia [...] [...] (de fraqueza e de doença é que a morte severina Trabalhava noite e dia nas terras do fazendeiro, ataca em qualquer idade, mal dormia, mal comia, e até gente não nascida). mal recebia dinheiro; se não recebia não dava para acender o candeeiro. João não sabia como fugir desse cativeiro. [...] — Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida. — É uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo te sentirás largo. — É de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe deste latifúndio. — É uma cova grande para tua carne pouca, mas a terra dada não se abre a boca. — Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida. — É uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo. Ao que o doutor respondeu: "Terra aqui tenho sobrando, todo este baixão é meu. Se planta e colhe num dia, pode ficar trabalhando." "- Seu coronel, me desculpe, mas eu não sei fazer isso. Quem planta e colhe num dia, não planta, faz feitiço." "- Neste caso, não discuta, acho melhor ir andando.“ (João, Boa-Morte) — Agora trabalharás só para ti, não a meias, como antes em terra alheia. — Trabalharás uma terra da qual, além de senhor, serás homem de eito e trator. — Trabalhando nessa terra, tu sozinho tudo empreitas: serás semente, adubo, colheita. (Morte e Vida Severina) — Viverás, e para sempre, na terra que aqui aforas: e terás enfim tua roça. — Aí ficarás para sempre, livre do sol e da chuva, criando tuas saúvas. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. — Agora trabalharás só para ti, não a meias, como antes em terra alheia. — Trabalharás uma terra da qual, além de senhor, serás homem de eito e trator. — Trabalhando nessa terra, tu sozinho tudo empreitas: serás semente, adubo, colheita. Aquele de cuja mão tanta semente brotara, que filho daquele chão, aquele chão fecundara; e assim se fizera homem para agora, como um cão, morrer, com os filhos, de fome. E assim foi que Boa-Morte quando chegou a Sapé, desiludido da sorte, certo que ia morrer, decidiu que aquele dia antes da aurora nascer os cinco filhos mataria e mataria a mulher depois se suicidaria para acabar de sofrer. — Trabalharás numa terra que também te abriga e te veste: embora com o brim do Nordeste. (Vidas Secas – Baleia) (Morte e Vida Severina) (João, Boa-Morte) Olhava pra's crianças de olhos cavados de fome, já consumindo a infância na dura faina da roça. Sentia um nó na garganta. Quando uma delas almoçava as outras não, a que janta no outro dia não almoça. Olhava para Maria, sua mulher, que a tristeza na luta de todo o dia tão depressa envelheceu. Perdera toda a alegria perdera toda a beleza e era tão bela no dia que João a conheceu. — Nunca esperei muita coisa, digo a Vossas Senhorias. O que me fez retirar não foi a grande cobiça; o que apenas busquei foi defender minha vida de tal velhice que chega antes de se inteirar trinta; se na serra vivi vinte, se alcancei lá tal medida, o que pensei, retirando, foi estendê-la um pouco ainda. Mas não senti diferença entre o Agreste e a Caatinga, e entre a Caatinga e aqui a Mata a diferença é a mais mínima. (João, Boa-Morte) (Morte e Vida Severina) “[...] está apenas o pavio, ou melhor, na lamparina: Pois é igual o querosene Que em toda a parte ilumina, [...] (Morte e Vida Severina) __________ #_____________ “Sim, o melhor é apressar o fim desta ladainha, o fim do rosário de nomes que a linha do rio enfia; é chegar logo ao Recife, derradeira ave-maria do rosário, derradeira invocação da ladainha, Recife, onde o rio some e esta minha viagem se fina.” (João, Boa-Morte) Dayane da Silva Santos Jefferson dos Santos Juliana Ap. Silva Pury Kamylla de Souza Correia Myllena Gomes Rayssa Monique Dias Tâmara M. da Silva