Racismo nos
Serviços de
Saúde
Curso Saúde da População
Negra – IESC/UFRJ e Criola
Janeiro 2011
Jurema Werneck
Pesquisa:
•
•
•
Iniquidades Raciais em Saúde e Políticas de
Enfrentamento: as experiências do Canadá,
Estados Unidos, África do Sul e Brasil;
Revisar a literatura internacional sobre racismo e
desigualdades raciais em saúde;
Identificar experiências bem sucedidas, práticas
de saúde mais inclusivas e equânimes, passíveis
de adequação à realidade brasileira.
Publicação: “Saúde da população negra no Brasil: contribuições para a
promoção da eqüidade”. FUNASA/MS, Brasília,2004.
Países pesquisados
 Canadá
 Estados
Unidos
 Reino
Unido
 África
do Sul
 Brasil
Bibliografia consultada
 Documentos
e estudos governamentais
ou consultorias contratadas;
 Documentos preparados por ONGs;
 Artigos científicos;
 Artigos não científicos;
 Estudos e relatórios de organizações
multilaterais;
Conceitos encontrados
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
Disparidades raciais;
Iniqüidade;
Desigualdade;
Vulnerabilidade;
Tratamento desigual;
Racismo institucional;
I. Disparidades raciais
Diferenças raciais ou étnicas na qualidade
da atenção à saúde não vinculadas a
fatores relacionados ao acesso ou
necessidades clínicas, preferências ou
intervenção apropriada .
Smedley B., Stith A. Y. e Nelson A. R.
(Editors). Unequal Treatment, Summary,
2003 pp. 3-4
Diferenças populacionais específicas na
presença de doença, saúde ou acesso ao
cuidado.
Green, B. Lee. The Pursuit of Racial Equity in
Health and Health Care: Creating the
Climate for Change, p. 4
National Institute of Health
Diferenças na incidência, prevalência,
mortalidade, carga de doenças e outras
condições de saúde adversas que existem
entre grupos populacionais específicos nos
Estados Unidos.
Bediako, S. Reconceptualizing “Health Disparities” in
African American Communities, 2003, p. 4 – Citando
definição do NIH
Crítica de Shawn Bediako
 Estrutura
comparativa inapropriada;
 Confiança excessiva em dados quantitativos;
 Ausência de análise sócio histórica;
Bediako, S. Reconceptualizing “Health Disparities” in
African American Communities, 2003
Nova definição de S. Bediako
O conjunto de fatores históricos, sociopolíticos,
econômicos e culturais que contribuem para
aumentar os níveis de doenças e diminuir a
qualidade de vida entre grupos raciais e
culturais.
Bediako, S. Reconceptualizing “Health Disparities” in
African American Communities, 2003
Vantagens da nova definição
 Incorpora
a diversidade social;
 Reconhece e enfrenta as disparidas intra
grupos;
 Possibilita diversidade na ação;
 Incorpora antecedentes sócio-históricos;
 Promoção de saúde na perspectiva
ampla e de justiça;
II. Iniquidade
 Ampara-se
no princípio de justiça social;
 Ideia de indivíduos e grupos diferentes
demandam ações diferenciadas para a
equidade;
 A discriminação racial na produção da
iniquidade;
 Admite fatores internos e externos ao setor
saúde
FATORES EXTERNOS
FATORES INTERNOS
• Restrições no
acesso;
• Qualidade dos
serviços;
• Oportunidade
de acesso;
• Segregação e
discriminação;
• Nível de renda
e tipo de
ocupação;
• Lugar de
residência;
• Estilos de vida;
• Qualidade e
acesso à
educação;
Torres, Cristina. Equidad em Salud, OPAS, 2002
III. Desigualdade
 Tem
como referência a perspectiva dos
direitos de cidadania;
 Estabelece patamar comparativo com
status padrão (indicadores dos brancos);
 Direito como consumo;
IV. Vulnerabilidade:
O conjunto de aspectos individuais e
coletivos relacionados ao grau e modo
de exposição a uma dada situação e, de
modo indissociável, ao maior ou menor
acesso a recursos adequados para se
proteger das conseqüências indesejáveis
daquela situação.
Lopes, Fernanda, Relatório DFID, 2003
Condições de vulnerabilidade



Condições individuais - fatores de risco
comportamentais, socioeconômicos ou
outros de uma pessoa específica.
Condições sociais - acesso à
informação, acesso aos serviços de
saúde, gênero, condições de moradia,
nível de escolarização.
Condições programáticas – programas
e projetos que buscam elevar o
patamar de saúde de pessoas e
grupos.
Mann, Jonathan. Health and Human Rights, 1999
V. Tratamento desigual
 Sistemas
de saúde;
 Processos administrativos e
burocráticos na saúde;
 Administradores;
 Profissionais de saúde;
 Pacientes;
Smedley B D, Stith A Y e Nelson A R, Unequal
Treatment – confronting racial and ethnic
disparities in health care, 2002
VI. Racismo institucional ou
sistêmico
Aquilo que, de forma implícita ou
explicita, reside nas políticas,
procedimentos, operações e cultura
de instituições públicas ou privadas
reforçando preconceitos individuais e
sendo por eles reforçado.
FireFighter, Institutional Racism: but what does it mean?
September 2000, p. 26. Citando o diretor do Instituto de
Relações Raciais, Reino Unido
[O racismo] persiste porque a organização
é falha em aberta e adequadamente
reconhecer e abordar sua existência e
causas através de política, exemplo e
liderança. Sem reconhecimento e ação
para sua eliminação o racismo pode
prevalecer como parte do ethos ou da
cultura da organização. Isto é uma
doença corrosiva.
Alexandre, Ziggi, Study of Black, Asian and Ethnic
Minority Issues., p. 3. Citando Sir William Macpherson’s
Inquiry into Stephen Lawrence’s murder, 1999
Pessoas e organizações que se beneficiam
do racismo institucional são refratárias a
mudanças voluntárias do status quo.
King, Gary. Institutional Racism and the
Medical/Health Complex: a conceptual analysis, p. 33
Dimensões afetadas pelo RI
 Relações
comunitárias;
 Profissionais de saúde;
 Pesquisa;
 Ideologia;
 Pesquisas sobre tratamento desigual;
É imperativo que políticos comecem a lidar com
esta área negligenciada e pouco observada
através de pesquisa e monitoramento,
estatutos, regulações e penalidades, além do
reconhecimento da natureza multifacetada do
racismo institucional dentro da medicina/saúde.
King, Gary. Institutional Racism and the Medical/Health
Complex: a conceptual analysis, p. 43
Fisiopatologia
Biologia;
Resultados
Fisiopatogenia;
Estruturas/
prestação de
serviços;
Comportamentos;
Relações socioraciais;
Doenças e outros agravos:
Fatores biológicos
Fatores sócio raciais
Fatores programáticos
Fatores biológicos:
 Anemia
falciforme;
 Deficiência de glicose-6-fosfato
desidrogenase;
 Hipertensão arterial;
 Diabetes mellitus;
 Síndromes hipertensivas na gravidez;
 (Miomas uterinos)
Anemia falciforme:
• Doença hereditária mais comum no Brasil
Nascidos vivos diagnosticados com doença falciforme pelo teste de triagem
Bahia
1:650
Rio de Janeiro
1:1 200
Pernambuco, Maranhão e Minas Gerais
1:1 400
Espírito Santo, Goiás
1:1 800
São Paulo
1:4 000
Rio Grande do Sul
1:10 000
Santa Catarina e Paraná
1:13 000
Nascem 3.500 crianças por ano no Brasil, com a doença e 200 000 com traço segundo
o PNTN.
Fonte: Programa de triagem neonatal-PNTN
Deficiência de glicose-6fosfato desidrogenase:





Defeito enzimático mais comum na espécie
humana;
Deficiência da enzima que permite
transformação de glicose em energia (ATP) na
hemácia;
Hemólise aguda, anemia hemolítica crônica em
condições específicas ou assintomático (maioria)
Afeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo:
homens negros e brancos (origem mediterrânea –
italianos)
No Brasil, sul e sudeste, afeta 2% de homens
brancos e 10 % de homens negros;
Hipertensão arterial:
Percentual de adultos com hipertensão arterial no conjunto da
população das capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, segundo
raça/cor e escolaridade (anos). VIGITEL, 2009.
25.00
20.00
15.00
%
Brancos
10.00
Negros
5.00
Parda/morena/amarela/vermelha
.00
0a8
9 a 11
12 e mais
Escolaridade (anos)
Total
* Referência de diagnóstico médico anterior de hipertensão arterial.
Diabetes mellitus
Percentual de adultos com diabetes* no conjunto da população das
capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, segundo raça/cor e
escolaridade (anos). VIGITEL, 2009.
4.00
3.500
3.00
%
2.500
2.00
Brancos
1.500
Negros
Parda/morena/amarela/vermelha
1.00
.500
.00
0a8
9 a 11
12 e mais
Escolaridade (anos)
Total
* Referência de diagnóstico médico anterior de hipertensão arterial.
Proporção de óbitos maternos na faixa etária
de 10 a 29 anos, segundo as principais causas
diretas e raça/cor, Brasil, 2000 a 2008
Branca
Negra
anormalida
hemorra
descolamento
préinfecção des da
eclampsia
gia pósprematuro da aborto
eclampsia
puerperal contração
parto
placenta
uterina
15,4
5,3
3,6
8,5
4,0
3,6
6,9
18,3
8,5
4,7
6,9
4,2
3,3
12,1
% calculado pelo total de todas as causas diretas
Fonte: SIM/SVS/MS
Fatores sócio raciais:
 Desnutrição;
 Verminoses;
 Gastroenterites;
 Tuberculose;
 Hanseníase;
 Causas
externas – violências e acidentes;
Fatores programáticos:
Acesso
• Qualidade
da atenção
Relações
interpessoais
• Desvalorização
cultural
Preconceito
• Comportamentos
de risco
Exemplos:
Principais causas de mortalidade,
segundo a raça/cor, Brasil, 2010
Causa (CID10 CAP)
Branca
Preta
Amarela Parda
Indígena total
IX. Doenças do aparelho circulatório
1
1
1
1
1
1
II. Neoplasias (tumores)
2
2
2
3
7
2
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
4
3
5
2
2
3
X. Doenças do aparelho respiratório
3
5
3
5
5
4
Mal definidas*
5
4
6
4
3
5
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas
6
6
4
6
6
6
XI. Doenças do aparelho digestivo
7
8
7
7
9
7
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias
8
7
8
8
4
8
VI. Doenças do sistema nervoso
9
10
9
11
12
9
XIV. Doenças do aparelho geniturinário
10
9
10
10
11
10
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
11
13
14
9
8
11
V. Transtornos mentais e comportamentais
12
11
11
12
13
12
*indicador de acesso a assistência
Fonte: SIM/SVS/MS
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21- 2518-6194
21- 2518-7964
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