Roteiro das aulas







Minha relação com a área de História.
Evolução do Ser Humano.
Quando e como os humanos chegaram à América.
Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí.
Lagoa Santa – Minas Gerais.
Pintura Rupestres.
Educação Patrimonial.
Objetivos
Revisar: Arqueologia Brasileira.
Aprofundar: Parque Nacional Serra da Capivara.
Construir: Questões para o trabalho de campo.
Eduardo Galeano
Diego não conhecia o mar. O pai, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi
tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de
beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao
pai:
- Me ajuda a olhar!
Texto extraído do "Livro dos Abraços", de Eduardo Galeano.
BRASIL PRÉ COLONIAL
PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL
PERÍODO PALEOÍNDIO
ORIGENS DAS SOCIEDADES
INDÍGENAS
“ O teatro é a primeira invenção humana
e é aquela que possibilita e promove
todas as outras invenções e todas as
outras descobertas. O teatro nasce
quando o ser humano descobre que pode
observar-se a si mesmo: ver-se em ação.
Descobre que pode ver-se no ato de ver –
ver-se em situação”.
“Ao ver-se, percebe o
que é, descobre o que
não é, e imagina o
que pode vir a ser”.
“Cria-se uma tríade: EU
observador, EU em situação, e o
Não EU, isto é, o OUTRO”.
Augusto Boal
Reflexões sobre
a nossa
identidade
Da escravidão à
exclusão social
Como modificar
a nossa
realidade?
História: formação da
cidadania.
Era dos Extremos, Editora Companhia das Letras.
Eric Hobsbawm
Não sabemos para onde estamos indo. Só
sabemos que a História nos trouxe até este
ponto (...). Se a humanidade quer ter um futuro
reconhecível, não pode ser pelo prolongamento
do passado ou do presente. Se tentarmos
construir o terceiro milênio nessa base, vamos
fracassar.
HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Conversas com Historiadores, Editora 34.
Nicolau Sevcenko
Quando você prestou vestibular para a História, houve certa estranheza ou pressão
familiar?
Do ponto de vista familiar, foi uma crise. Eles tomaram aquilo como um ato de rebeldia,
significava que eu estava abandonando os valores da família. E que, portanto, eu tinha
optado por me tornar inaceitável. Foi ruim, péssimo. Foi um momento doloroso. Sentiame imensamente solitário e rejeitado. (...)
Qual é a importância do trabalho do historiador?
Mais do que nunca é preciso ter claro pontos de referência no tempo e no espaço, por
que eles em certo sentido estão se dissolvendo, assim como manter uma lucidez capaz
de, simultaneamente, compreender a gênese e a importância decisiva do quadro de
experiências e ideias que consolidaram o vínculo entre a cultura e a democracia. Nesse
sentido, a função que os historiadores cumprem em manter vivo esse debate, exercendo
a sua vocação crítica, preservando o vínculo entre as gerações e zelando pela coesão
social através da interlocução entre as diferenças, é estratégica e crucial como
instrumento de construção inteligente de futuro.
ARQUEOLOGIA BRASILEIRA
TRABALHO DE CAMPO
CONSTITUIÇÃO DE NOSSA IDENTIDADE
Niède Guidon
Exposição ANTES - Histórias da Pré-História, CCBB.
“Nossa História não começou há 500 anos...Nossa História começou
muito antes. Os povos que aqui viveram tinham um apurado senso
estético e desenvolveram tecnologias que permitiram sua
sobrevivência por dezenas de milhares de anos”. Marcello Dantas
História da Cidadania, Editora Contexto.
Norberto Luiz Guarinello
Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de História Antiga do Departamento de História
da mesma instituição.
Portanto as interpretações da História são sempre produtoras de memória,
de lembrança ou esquecimento, são instrumentos de identidade, de
legitimidade e de poder, reflexos da subjetividade, intenção e seleção de
fontes históricas do historiador que a produziu.
A História, deste modo, nunca se debruçou sobre a história humana como
um todo, mas sobre histórias particulares, HISTÓRIAS DE ALGO. Sempre
estudou histórias específicas inseridas dentro de unidades de sentido (os
ALGOS) que conferiam coerência a um corpo de documentos e a uma
narrativa, descrição, explicação ou interpretação.
Qual a importância de estudarmos a ocupação
do Brasil Pré-Colonial nos dias atuais?


Os povos indígenas e seu legado para a nossa sociedade,
que pode assumir diversas formas, seja na formação étnica
da população brasileira, seja nos produtos agrícolas que
deles herdamos, seja nos nomes de lugares e pessoas
(memória).
As sociedades indígenas têm uma história a contar, de
mudanças de choques. Desde a experiência da adaptação
cultural e tecnológica relativamente bem sucedida ao meio
ambiente tropical, que inclui a domesticação das plantas
importantíssimas em nossa economia atual; passando para
os trágicos eventos que reduziram sociedades florescentes a
poucas populações em franco processo de mudanças.
MAE/USP
À PROCURA DE NOSSA ORIGEM
PRINCIPAIS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
CENÁRIO MUNDIAL
PRINCIPAIS SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS DAS AMÉRICAS
A Origem das Espécies - 1859
Charge do final do séc. XIX
critica a Teoria da Evolução.
Charles Darwin foi um dos
pensadores mais importantes
da história da humanidade.
Hoje, sua Teoria da Evolução
das Espécies é amplamente
aceita pelos cientistas. Ela tem
sido comprovada e
aperfeiçoada por inúmeras
pesquisas.
Este homem está dizendo que ele é meu parente!!!
Charges do final do séc. XIX
Quais são as nossas exclusividades
anatômicas?
EVOLUÇÃO DO SER HUMANO
SAPIENS
EVOLUÇÃO DO SER HUMANO
Os Primeiros Habitantes do Brasil, Guarinello
O POVOAMENTO DA AMÉRICA
“Nossa espécie é na verdade, o resultado final de uma longa evolução”
“O Brasil é uma criação recente. Antes da chegada dos europeus, há mais de
quinhentos anos, essas terras imensas que formam nosso país tiveram sua
própria história, construída ao longo de muitos séculos. Uma história que a
arqueologia começou a desvendar apenas nos últimos anos”. Guarinello
À PROCURA DE NOSSA ORIGEM
“O Brasil foi habitado por muitos povos e culturas diferentes,
antes da chegada dos europeus”
Guarinello
Quando e como os humanos chegam
à América?

Sabe-se que o homem é o único animal terrestre que
conseguiu dispersar-se por todo o mundo. Sua
presença é antiga em todos os continentes (...). O
pressuposto de que o homem teria vindo para a
América unicamente a pé, atravessando a Beríngia
atrás dos rebanhos de animais que migravam, não faz
justiça à capacidade intelectual humana, reduzindo o
homem americano a um descendente de uma animal
não mais capaz que os camelos, mastodontes e bisões
que migravam para a América . Niède Guidon
MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
MAPAS
POVOAMENTO DAS AMÉRICAS
Ocupações Pré-Históricas do Brasil

Falta de um contexto histórico.

Falta uma real formação sistemática.

As primeiras classificações feitas sobre a
cultura material são estudadas de maneira
fragmentada – cerâmica, lítico, registros
rupestres.
Datações Recentes





Piauí – 50 mil – indústria lítica ao lado de
fogueiras. Abrigos – Pinturas Rupestres.
Estratigrafia – Niéde Guidon.
Minas Gerais – 25 mil – lascas e raspadores –
Luzia 11.500 anos – Walter Neves.
Bahia – 500 mil - ossos de animais que teriam
marcas feitas pelo ser humano – Maria Beltrão.
São Paulo/Rio Claro – 14 mil – indústria lítica.
Góias – Morro Furado – 40 mil – indústria
lítica e gravuras rupestres. Pedro Schmitz.
A arqueóloga Maria Conceição Beltrão
investigou sítios na Bahia e propôs que ali
houvesse vestígios de um antepassado
humano, o Homo Erectus, entre 500 mil e 1
milhão de anos . Teriam chegado à América do
Sul por uma ponte de gelo, que possivelmente
ligava à África Meridional à Patagônia.
Ossos fossilizados de animais da megafauna
que teriam marcas feitas pelo ser humano.
PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS
RECENTES
•Clóvis: armas de 11.200 anos
•Na década de 1930, arqueólogos descobriram
pontas de flechas feitas de pedra lascada nas
proximidades de Clóvis, no estado do Novo
México, nos Estados Unidos. Ao lado das pontas de
flechas, foram encontrados ossos de mamutes.
As armas encontradas no sítio de Clóvis foram,
durante muitos anos, os objetos mais antigos
produzidos por humanos na América. Esse foi um dos
motivos que levaram os pesquisadores a concluir que
a ocupação da América começou pelo norte do
continente. Mas a descoberta de objetos mais antigos,
ao sul do continente americano, pôs em dúvida essa
explicação.
MONTE VERDE
•Monte Verde: casas de 13.500 anos
•Em Monte Verde, no Chile, foram descobertos centenas de artefatos de
pedra e restos de alimentos mais antigos que as lascas de pedra
encontradas em Clóvis.
Além das ferramentas de pedra, o sítio de Monte Verde reúne um vasto
tesouro da arqueologia americana. Lá foram encontradas fundações de
casa em madeira, plantas comestíveis, como batatas selvagens, nozes e
cogumelos, ossos de animais, além de diferentes espécies de plantas
medicinais.
Essas descobertas levaram a novas hipóteses:
•O povoamento da América do Sul pode ter sido anterior ao da
América do Norte.
•Os povoadores da América entraram no continente por vários
caminhos, não só pelo estreito de Bering
“Em síntese pode-se admitir
que, penetrando no país por
uma via ainda desconhecida,
grupos humanos chegaram até
o sudeste do Piauí há cerca de
60 mil anos”.
“Não se pratica uma
arqueologia de área,
essencial para que se
possa oferecer uma
reconstituição coerente
da evolução dos povos
pré-históricos e sua
dispersão”.
Niède Guidon
PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA
O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado em 1979 e, em 1991,
declarado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO. Localizado no
Sudeste do estado do Piauí, em região semi-árida, ele cobre a área dos
municípios de São Raimundo Nonato, Brejo do Piauí, Coronel José Dias e
João Costa.
A área total do parque se estende por 130 mil hectares dos quais apenas
20% estão abertos à visitação pública. Sítios pré-históricos, 535 ao todo,
guardam mais de 30 mil pinturas e gravuras rupestres, retratos do cotidiano
do homem pré-histórico que viveu em terras brasileiras.
Alojadas nas paredes dos abrigos e reentrâncias escavadas pela ação do
intemperismo, as pinturas, na sua maioria avermelhadas, espalham-se nos
paredões de rochas sedimentares, como na já conhecida Toca do Boqueirão
da Pedra Furada. As gravuras, por sua vez, adornam frequentemente a
superfície de blocos rochosos isolados próximos às fontes de água estocada
das chuvas.

O relevo do local é formado por chapadas, desfiladeiros e
serras; o clima é semi-árido e a vegetação de pequeno porte é
típica da caatinga. Também pequeno é o porte dos animais
daquela fauna: gaviões, tamanduás, jaguatiricas, gatos-domato, lagartos, onças-pintadas, cobras e tatus.

Em épocas pré-históricas, as condições ambientais eram bem
diferentes da atual. Até 12 mil anos antes do presente, o clima
era tropical úmido, responsável pela vegetação abundante, que
serviu de fonte de alimentação para inúmeras espécies de
animais de grande porte, na sua maioria herbívora: preguiça
gigante, tigre-dente-de-sabre, mastodonte e tatu gigante.

Nas pinturas, é possível reconhecer as representações de
capivaras, veados galheiros, caranguejos, jacarés e certas
espécies de peixes, fonte de alimentação humana, bem como
de inúmeras outras espécies hoje inexistentes ou extintas
naquela região.
Niède Guidon
Seria mais fácil criar uma tecnologia para o frio do que uma para
navegar?
Além do mais, em épocas de mar baixo, nos períodos de glaciações, os
rosários de ilhas que existem no pacífico deviam ser mais extensos,
o que facilitaria a navegação de grupos que avançariam colonizando ilha
por ilha. Pequenas embarcações para navegação costeira poderiam,
por causas naturais como tufões e tempestades, se desgarrar e acabar
chegando a uma ilha. O grupo povoaria a ilha e aí viveria durante
séculos ou milênios, até que um novo acidente o levasse um pouco
adiante. Poderíamos imaginar grupos dissidentes que migraram ou
também movimentos messiânicos. Pode–se propor atualmente que os
primeiros grupos chegaram até o continente americano há, pelos
menos, 60 mil anos.
Rosário: grande quantidade; seqüência ininterrupta; enfiada, série,
sucessão
Messiânicos: relativo a um messias ou a movimento ideológico que prega a missão de que
estaria investido um homem (ou grupo de homens) na salvação da humanidade.
http://houaiss.uol.com.br
NIÈDE GUIDON
PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA
“Existem vários tipos de documentos históricos: os escritos, os
visuais, os orais, os sonoros e a cultura material. Os brinquedos, as
ferramentas, as roupas, os móveis, os utensílios domésticos, os
monumentos arquitetônicos, são documentos que nos fornecem
informações sobre o modo de vida dos homens, são esses objetos
que os historiadores chamam de cultura material.
Estudar uma cultura a partir de seus objetos não é, portanto, uma
tarefa simples. Mas há outras dificuldades. Em primeiro lugar, os
antigos habitantes do Brasil possuíam uma tecnologia simples,
embora eficiente. Muitos deles eram nômades, deslocando-se
continuamente durante o ano. Por isso, possuíam poucos vestígios de
si nos sítios que ocuparam”.
Guarinello
•Arqueóloga paulista. Descobridora de
vestígios humanos que atestam a
ocupação da América do Sul em
período muito anterior ao que afirmava
a comunidade científica.
•Niède Guidon (12/3/1933-) nasce em
Jaú, a segunda de cinco irmãos. Presta
o vestibular para medicina, mas decide
ingressar no curso de história natural da
Universidade de São Paulo (USP), onde
se especializa em zoologia. Começa a
carreira em 1959 como professora do
nível secundário. Transfere-se para a
seção de arqueologia do Museu
Paulista e, em 1960, vai para Paris,
onde obtém o certificado de Pré-História
da Sorbonne.
Niède Guidon

Em 1966, é contratada como pesquisadora do Centro
Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Paris.
Obtém o título de doutora e de livre-docente em
Arqueologia também pela Sorbonne. Em 1981, descobre
em São Raimundo Nonato (PI) artefatos de pedra
lascada que atestam a presença de culturas précolombianas há 25 mil anos.

Em 1988, anuncia o achado de pedaços de carvão
oriundos de uma fogueira, datados de 48 mil anos. Suas
descobertas levantam polêmica na comunidade
científica. Até então, admitia-se que o homem só teria
chegado à América do Sul cerca de 12 mil anos atrás.
Condecorada com o título de Cavaleiro da Ordem
Nacional do Mérito, do governo francês, aposenta-se em
1998 como mestre de conferências da Escola de Altos
Estudos em Ciências Sociais de Paris. Dirige a
Fundação Museu do Homem Americano, em São
Raimundo Nonato, e o Parque Nacional da Serra da
Capivara, unidade de conservação incluída na lista do
patrimônio histórico mundial pela UNESCO.
• PUBLICAÇÃO:
em 1992 uma notícia fez tremer a
comunidade
científica
brasileira.
Escavações realizadas pela arqueóloga
Niède Guidon no sítio Boqueirão da Pedra
Furada, no Piauí, revelaram a data mais
antiga
até
então
alcançada
pela
arqueologia nacional: 48.000 anos.
• Uma análise detalhada dos artefatos,
achados no sítio do Boqueirão Pedra
Furada, no Parque Nacional da Serra da
Capivara, foi apresentada durante o
Simpósio Internacional "O Povoamento
das Américas". O trabalho foi feito por
Emílio
Fogaça,
da
Universidade
Católica de Goiás, e Eric Boeda, da
Universidade de Paris. Os dois são
especialistas na tecnologia da Idade da
Pedra.
"Só dá para explicar as
características desse material com
base numa ação intencional. São
instrumentos já finalizados, com
gumes bem preparados", disse Fogaça.
• Para eles, não há razões para duvidar
da associação das ferramentas com o
carvão antigo. "Todas elas foram
achadas dentro de estruturas de
fogueira, ou nas proximidades delas,
claramente de origem humana. Além
disso, se fossem objetos mais
recentes, teríamos indicações disso na
estratigrafia [a sucessão de camadas
do sítio arqueológico]. Mas ela é
perfeita, não se vê perturbação."
Niède Guidon, responsável pelo projeto de pesquisa Origem e Evolução
Migratória dos Primeiros Grupos Humanos no Sudeste do Piauí,
desenvolvido pela FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano)
desde 2005, disse que foi achada uma mandíbula na Toca do Alto do
Capim que é completamente diferente das encontradas até agora na
região do sudeste do Piauí. Trata-se de um Homo Sapiens Sapiens, mas
é diferente das outras mandíbulas escavadas. O achado estava
associado com ossos humanos queimados. “Eles praticavam
antropofagia, deviam comer os outros e essas cerimônias podem
estar ligadas a esses rituais antropofágicos. Pelos dentes, esse
indivíduo deveria ter 45 anos, mas foi assado e comido. Nós estamos
vendo se também pode ser uma doença, mas o canibalismo se praticava
no mundo todo. Era inclusive uma forma ritual. Existem relatórios daqui
que os índios só comiam os índios que eram valentes, uma forma de
incorporar a coragem.
“Na
área arqueológica de São Raimundo Nonato, os
primeiros indícios de cultivo de amendoin, feijão e
cabaça foram datados de 2.000 AP e o aparecimento
de plantas cultivadas seria mais antigo, entre 4 e 3.500
anos. Uma datação de 3.350 anos AP está associada a
uma cerâmica de técnica aprimorada: paredes finas,
pasta bem cozida e decorações variadas”. Niède
Guidon
ANCILOSTOMA DUODENALIS

Parasita do Ser Humano que exige
determinada temperatura para que a larva
possa se desenvolver.

A existência do parasita há mais de 7 mil anos
no Piauí demonstra um povo vindo de um local
quente, por rotas de clima quente.
Niède afirma ainda que no Parque Nacional Serra das
Confusões foram encontradas pinturas rupestres e rituais
funerários muito diferentes dos povos da Serra da Capivara.
Lembra que foi encontrado na Serra das Confusões um
enterramento muito diferente com treze pessoas enterradas
juntas. “As crianças embaixo, depois os adolescentes e em cima
os adultos completamente enfeitados, a pele pintada de
vermelho, com desenhos, e vários tipos de adorno”, falou a
arqueóloga. Ela informou que os indivíduos possuíam adornos
nos braços, pescoço, joelho e cintura. Os adornos foram feitos
com conchas, sementes e dentes de animais, e tinham sido
polidos. “São coisas extremamente bonitas”, relata. Acrescentou
ainda que acredita que os indivíduos dos quais acharam as
ossadas teriam participado de um ritual extremamente complexo.
(Parque Nacional da Serra das Confusões, no sudoeste do Piauí.)
LAGOA SANTA - MG
Walter Neves, em busca dos primeiros americanos.
OS PIONEIROS DAS AMÉRICAS
Muitas discussões ocorreram e continuam ocorrendo até
hoje. Essas datas colocaram em cheque a teoria da
chegada do homem nas Américas, que estimava o início
da ocupação por volta de 14.000 anos atrás. Este
momento correspondeu ao período final da última
grande glaciação terrestre, que formou uma ponte de
gelo no Estreito de Behring, unindo o extremo nordeste
da Ásia ao Alasca. Grupos de caçadores
especializados, acompanhando as manadas de
mamutes, teriam passado pela "ponte" e, assim, iniciado
a ocupação das Américas. Dos planaltos norteamericanos teriam iniciado sua migração rumo ao sul,
espalhando-se por todo o continente e alcançando o
Brasil por volta de 12.000 anos atrás.
Sem dúvida, todo esse processo de
ocupação de fato ocorreu. O problema é
que, com uma data de mais de 12.000
anos no Brasil, a passagem pelo Estreito
de Behring não teria marcado o início da
ocupação humana nas Américas. Seria
apenas mais uma das diversas vias de
acesso que para aqui afluíram.
Assim, o povoamento das Américas teria
sido realizado de forma muito mais
complexa do que até então se
imaginava. É possível que tenham
ocorrido migrações muito mais antigas
pelo próprio Estreito de Behring ou,
então, que tenham sido utilizadas rotas
alternativas.
Desta forma, a questão novamente
fica no ar:
Como e quando tudo começou?
Mas não é apenas a questão da data
que tem incomodado os cientistas.
Eles também se perguntam: quem
eram estes primeiros seres
humanos que aqui chegaram?
“Os vestígios mais antigos do território brasileiro foram
encontrados no Piauí, numa região rochosa cheia de
cavernas, em São Raimundo Nonato. Numa caverna
chamada Toca da Pedra Furada alguns pedaços de
carvão parecem datar mais de 40 mil anos! Outro local
muito importante é o Estado de Minas Gerais, e em
particular a região de Lagoa Santa, com um grande
número de sepulturas com mais de duzentos esqueletos,
habitantes que viviam no Brasil entre 7 e 11 mil anos
atrás” Guarinello
Arqueologia
Vida na América há 50 mil anos
Análise que comprova que ferramentas foram feitas por humanos teve participação de professor da UCG
Está confirmado, mesmo para os mais ferrenhos opositores da idéia: entre 33 mil e 58 mil anos atrás já havia seres humanos nas Américas, mais especificamente, no
Brasil. Estudo apresentado n o 2º Simpósio Internacional O Povoamento das Américas, que será encerrado hoje na sede da Fundação Museu do Homem Americano,
na cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, indica que ferramentas de pedra descobertas pela arqueóloga Niède Guidon no Boqueirão da Pedra Furada, naquele
município, foram mesmo feitas por seres humanos e têm entre 33 mil e 58 mil anos de idade.
A polêmica, que já dura mais de duas décadas, foi desfeita com a participação de um professor do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da
Universidade Católica de Goiás (UCG). Doutor em História e Arqueologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Emílio Fogaça
realizou com Eric Boëda, da Universidade de Paris, a análise que atestou a tese da pesquisadora paulista de origem francesa. O arqueólogo Walter Neves, da
Universidade de São Paulo (USP), até então principal adversário intelectual de Niède Guidon, reconheceu em entrevista à Folha de S.Paulo que se trata de uma prova
incontestável de que sua colega tem razão.
Em 1978, quando Niède Guidon encontrou as peças junto com supostas fogueiras em um abrigo existente na área que mais tarde seria transformada no Parque
Nacional Serra da Capivara, acreditava-se que a presença humana nas Américas tinha, no máximo, 15 mil anos. Prevalecia a cultura Clóvis, batizada com o mesmo
nome do sítio arqueológico do Novo México, Estados Unidos, onde foram encontradas pontas de pedra lascada fabricadas por habitantes da região entre 10,5 e 11,4
mil anos atrás.
Pela tese, os donos das setas, caçadores de grandes animais, como mamutes, tinham entrado no continente em um único grupo há cerca de 12 mil anos pela
Beríngia, corredor de terra que se formou entre o Alasca e o estreito de Bering, por causa do rebaixamento no nível do mar durante a última era glacial. Niède Guidon
foi muito criticada ao afirmar que os restos de carvão, submetidos a testes de carbono 14, tinham 50 mil anos (uma datação feita depois, na Austrália, recuou ainda
mais a idade dos achados, para 58 mil anos).
Arqueólogos afirmavam que o carvão era produto de combustão natural e que as outras peças eram pedaços de pedras que rolaram e se quebraram naturalmente.
Para não deixar dúvidas de que Niède Guidon sempre esteve correta, Eric Boëda e Emílio Fogaça estudaram 63 peças. Por meio de uma metodologia desenvolvida
por Boëda, considerado um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia lítica (de pedra) pré-histórica, os dois avaliaram passo a passo o processo de produção
das ferramentas. "Reconstituímos como cada lasca foi retirada, a sobreposição das intervenções em cada peça e a razão de cada uma delas", comenta Fogaça. "São
intervenções que a natureza jamais reproduziria."
Emílio Fogaça - que falou ao POPULAR por telefone, do Piauí, onde participou de debate sobre o trabalho em parceria com Boëda - diz que não há mais dúvidas: as
ferramentas encontradas por Niède Guidon são de fato a evidência mais antiga da ocupação da América. "Sempre digo que não conseguiremos encontrar evidências
da presença do homem pré-histórico no Brasil se não escavarmos até o fundo e ela fez isso."
Um desafio para os arqueólogos agora é descobrir como os humanos que habitaram a Pedra Furada chegaram aqui. Para Fogaça, a hipótese mais provável é a de
que eles tenham vindo pelo mar, que na época tinha um nível muito mais baixo do que hoje, devido ao congelamento de grande parte da água do planeta. O estudo de
Boëda e Fogaça será publicado em português e, depois, será traduzido para o inglês e o francês.
Fonte: jornal 'O Popular', Goiânia, 21/12/2006. Texto: Isabel Czepak
Até há pouco tempo, pressupunha-se que os habitantes das Américas teriam
resultado de 3 ondas migratórias: uma de populações asiáticas, outra de grupos
que teriam originado os chamados povos Na-Dene, que ocupam a porção
noroeste da América do Norte, e outra que teria originado os Esquimós. Mas a
reconstituição da face de Luzia, alguns anos atrás, trouxe novas variáveis.
“Luzia” foi apresentada ao grande público e apareceu estampada na capa de
revistas famosas, no Brasil e no exterior. A partir de um crânio datado em 11.500
anos e retirado de escavações feitas na região de Lagoa Santa (MG), foram
modelados os tecidos musculares, a pele e os demais órgãos. E o resultado
surpreendeu muita gente: Luzia apresenta, de fato, traços muito mais
parecidos com os grupos que habitavam a África e a Austrália, do
que com aqueles típicos nos grupos asiáticos (Caso você queira conhecer de
perto Luzia e o trabalho dos especialistas a respeito, embarque no site do Setor
de Antropologia Biológica do Museu Nacional, no Rio de Janeiro).
Luzia traz à tona a possibilidade de ter ocorrido mais ondas migratórias para
as Américas, e desta vez por grupos da Ásia central que descendiam
diretamente dos primeiros seres humanos modernos, vindos da África. E isto,
certamente, teria ocorrido dezenas de séculos antes de 20.000 anos.
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/
Se a arqueologia já é uma ciência naturalmente polêmica,
ninguém dentro da arqueologia consegue ser mais polêmica do
que a brasileira Niéde Guidon. Há 30 anos ela escava na região
de São Raimundo Nonato, no meio do sertão do Piauí, onde
garante ter encontrado vestígios da presença humana na
região, que remonta 50 mil anos no passado. Nesse período,
Niéde e sua equipe foram os responsáveis pela criação, em 1979,
do Parque Nacional da Serra da Capivara, o mais bem
estruturado parque nacional do país — considerado Patrimônio
Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1991. O parque é
um triunfo da arqueologia brasileira que só saiu do papel graças à
teimosia e dedicação de Niéde, que o administra com a energia
de uma coronel de saias. Em suas cavernas e lapas, preserva o
maior conjunto de pinturas rupestres do mundo, algumas
datadas com até 8 mil anos de idade. Elas representam danças
rituais, orgias, cenas de caça e diversos tipos de animais,
inclusive alguns extintos, como um parente da lhama andina e a
preguiça gigante, e são um verdadeiro livro, impresso na paredes
das cavernas, sobre a cultura dos primeiros brasileiros.
Fonte: Revista Terra ano 12 no 151 nov de 2004
SÃO RAIMUNDO NONATO – PI
"O Parque Nacional Serra da Capivara constitui a maior concentração conhecida de sítios arqueológicos e
o maior acervo de pinturas rupestres do continente. Seus registros identificam os primeiros vestígios
humanos no continente americano há mais de 50000 anos. São descobertas suficientes para questionar a
teoria clássica sobre o povoamento do continente americano, que data o surgimento do homem, na
região, há 40.000 anos. Lamentavelmente, esse santuário arqueológico reúne conjuntos de pinturas que
são, hoje, apenas vestígios parciais de uma pintura milenar que está desaparecendo com o tempo. São
fósseis, artefatos, inscrições que compõem riquíssimo museu a céu aberto que precisa ser preservado.
Esses objetos culturais guardam a memória de nossos ancestrais pré-históricos. São ferramentas valiosas
que nos auxiliam a conhecer o que fomos, para compreender em que nos transformamos”. Anne-Marie
Pessis, Petrobrás.
Imagens da Pré-História, Anne Marie-Pessis
REGISTROS RUPESTRES
Madu Gaspar
 Conta o arqueólogo André Prous que a pesquisadora francesa Anette Laming-Empire costumava dizer
que a arte rupestre parecia o campo mais fácil de ser estudado na arqueologia: o “aficcionado” não tem
dificuldades em discursar sobre vestígios – tão visíveis sem precisar de escavação, e tão mudos que
aceitam qualquer interpretação -, mas acrescentava que, na realidade, trata-se de seu capítulo mais
complexo, e no qual se cometem os maiores erros.
 O que é atualmente o território brasileiro está repleto de testemunhos arqueológicos que guardam
importantes evidências da história da colonização humana em nosso continente. São os sítios
arqueológicos com vestígios dos caçadores que iniciaram a ocupação da América do Sul, os monumentais
sambaquis do litoral, as inúmeras aldeias de grupos ceramistas dispersas por todo o país que contém
informações sobre o passado do que é hoje o território brasileiro e a diversidade cultural que foi, passo a
passo, aqui se instalando.
 Um tipo especial de manifestação, em decorrência de seu apelo estético, destaca-se entre as demais.
São as pinturas rupestres e gravuras que foram feitas em grutas, abrigos, blocos, lajes e costões.
Caçadores, pescadores e horticultores deixaram belas marcas de sua presença.
A arte rupestre e o contexto histórico
A arte foi relativamente tardia na história do Homem. Enquanto o
aparecimento de nossa espécie remonta a 125.000 anos, os mais antigos
vestígios de arte tem cerca de 40.000 anos (Europa e Austrália). Os vestígios
da arte desses caçadorescoletores que chegam até nós vêm na forma de
paredes pintadas e gravadas, a arte rupestre; estatuetas de argila, pedra e
marfim; ossos, dentes e conchas decoradas com gravuras, a arte mobiliária.
A arte rupestre é um dos aspectos da Arqueologia com maior apelo junto ao
público interessado.
Efetivamente, seja pelo impacto estético, seja por receber uma “mensagem”,
são os únicos vestígios deixados consciente e voluntariamente pelos povos
précoloniais. Por arte rupestre entende se todas as inscrições deixadas pelo
homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, matacões).
Muito dessa arte só chega até nós em condições
especiais, ou seja, em suportes protegidos dos
elementos naturais como paredes de abrigos e
grutas onde podese encontrar pinturas quase
intactas, enquanto que em suportes expostos ao ar
livre só se veem gravuras. As representações
figurativas são as formas que associamos a seres
humanos, animais, plantas ou objetos (reais ou
imaginários), enquanto que a geométrica retrata
quadrados, círculos, espirais, triângulos, pontos,
setas, etc.
Outro aspecto a ser estudado é a técnica utilizada
que pode variar entre a pintura, o crayon e a gravura.
E dentro destas técnicas ainda podese constatar
uma vasta variação de modos de fazer as
representações. A matéria prima para as pinturas
são geralmente corantes minerais, como hematitas
(vermelho, amarelo), cal (branco) e manganês
(preto).
Um sítio pode apresentar vários painéis que são
divisões topográficas dos sítios, isolando conjuntos
de representações. Um painel será estudado
levando em conta o tipo de representação, as
técnicas e cores utilizadas e sua distribuição no
painel, e com estes dados devidamente
quantificados e analisados, podemos determinar o
estilo do conjunto pela predominância de certas
representações, disposição das mesmas, técnicas
utilizadas, etc. Por vezes, no mesmo paredão,
podese ver uma sucessão de painéis sobrepostos
com diferentes estilos.
PINTURAS RUPESTRES
Para Paul Bahn, há 40 mil anos aborígines da
Austrália já estavam pintando paredões e há 27
mil anos cavernas já estavam sendo decoradas
na Europa.
No período inicial da arqueologia brasileira
(1870-1930), o tema que mais chamou a atenção
dos pesquisadores foi a antiguidade da
ocupação da região de Lagoa Santa através das
pinturas rupestres.
A equipe que estuda os grafismos
da Serra da Capivara, no Piauí,
data algumas pinturas ali realizadas
em cerca de 26 mil anos.
Quando se quer discutir o
início da ocupação de uma
região ou os primeiros
grafismos, o ponto central
não é aceitar uma ou outra
referência cronológica, e sim
ter a clareza de que, quanto
mais antiga uma
manifestação pré-histórica,
mais difícil é a obtenção de
dados que consolidem uma
hipótese de trabalho.
Algumas pinturas parecem
indicar momentos
cerimoniais, mas é impossível
ao arqueólogo interpretá-las.
Também animais aparecem
com frequencia, como emas,
tucanos e veados.
A cor vermelha predomina, embora estes artistas também
tenham utilizado o branco, o amarelo, o preto e o cinza. A
técnica utilizada revela um traço leve e seguro.
Como estabelecer a data
de rochas que foram
picoteadas ou pintadas
com pigmentos
inorgânicos?
No caso de grafismos realizados em paredões
ou cavernas com sedimento, é possível
correlacioná-los aos materiais arqueológicos
recuperados do solo.
A arte desses caçadores mostra figuras humanas em
movimento, revelando diversas cenas do cotidiano.
Toda a diversidade
denota a
profundidade
temporal do hábito
de usar tintas e
decorar as rochas e
a multiplicidade
cultural.
As pinturas dos sítios da região do Parque Nacional da Serra da
Capivara são muito diversificadas tanto na temática e na técnica de
realização quanto na maneira com as figuras estão dispostas sobre a
parede.
Existem figuras com traços de identificação suficientes para permitir o
reconhecimento imediato de elementos do mundo sensível, enquanto
outras apenas evocam formas incompletas ou formas não reconhecíveis.
Nesse conjunto de imagens dispostas ao acaso, estão misturados ritos,
evocados mitos, plasmados grafismos emblemáticos e um universo
simbólico de crenças e acontecimentos sociais confundidos com o tempo.
TRADIÇÕES

Delimitar grandes conjuntos, denominados na
arqueologia brasileira de tradições.

Relação com a perspectiva cultural no tempo e
no espaço.

A tradição arqueológica implica em certa
permanência de traços distintivos que são
geralmente temáticos.
Manifestações Pictóricas








Tradição Amazônica
Tradição São Francisco
Tradição Planalto
Tradição Litorânea
Tradição Geométrica
Tradição Meridional
Tradição Agreste
Tradição Nordeste
Tradição Nordeste

A tradição Nordeste ocorre nos estados do
Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e
norte de Minas Gerais. São pinturas
monocromáticas e gravuras que representam
seres humanos, animais e algumas figuras
geométricas. Cenas de caça, guerra, sexo, rito,
entre outras.
Tradição Agreste

A tradição Agreste manifesta-se nos estados
do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e
Piauí. Caracterizando-se pela presença de
grandes figuras, geométricas, sendo que as
figuras humanas lembram espantalhos. As
emas e os répteis são representados de maneira
estática e há também pássaros de asas abertas e
longas pernas, alguns lembrando figuras
humanas.
A luta, a caça, a dança e o
sexo ilustram diferentes
painéis. As figuras humanas
seguram armas como bastões
e propulsores, carregam
cestas, dançam em volta de
uma árvore.
A arqueologia é a ciência que estuda as culturas a partir do aspecto
material, construindo suas interpretações através da análise dos artefatos,
seus arranjos espaciais e sua implantação na paisagem. Atualmente, o
campo da arqueologia não está mais demarcado pelo surgimento da
escrita, tendo se voltado também para a análise de “sociedades históricas”.
Madu Gaspar
“Uma preocupação muito importante para os arqueólogos é descobrir a época exata em
que viveram os povos antigos. Para isso, utilizam-se de duas técnicas fundamentais. A
primeira delas se chama Estratigrafia e se baseia na noção de que, num mesmo sítio, os
restos humanos tendem a se acumular verticalmente. A principal forma de datação é
denominada Carbono 14 e se baseia na quantidade de radiação existente na peça
encontrada”.
Guarinello
A Arqueologia pode ser definida como a ciência que estuda o passado humano a partir dos vestígios e restos materiais
deixados pelos povos que habitaram a Terra.
Nas Américas, convencionou-se chamar de Arqueologia Histórica a pesquisa feita em locais ocupados pelos europeus e
africanos que entraram em contato com os indígenas durante o processo de colonização. Assim, estudos vêm sendo
desenvolvidos no subsolo de grandes cidades, na sedes de antigas fazendas, em quilombos, campos de batalha, navios
naufragados e fortes, permitindo que se conheçam inúmeros aspectos do cotidiano que, via de regra, não constam dos
documentos oficiais.
Para realizar seu trabalho, o arqueólogo lança mão de diversos procedimentos. Em campo, procura
identificar e escavar sítios arqueológicos, onde documenta estruturas e coleta objetos que
pertenceram ao cotidiano de uma determinada sociedade. Em seguida, inicia a fase de estudos e
trabalhos sistemáticos em laboratório, onde procura relacionar os objetos coletados ao grupo que os
produziu e ao seu modo de vida. Logo, a pesquisa arqueológica exige muito esforço e dedicação em
campo, mas não afasta um trabalho intelectual intenso em laboratório.
As responsabilidades do arqueólogo vêm aumentando a cada dia, já que ele é incumbido de
resgatar e conservar a herança cultural humana, lidando com um patrimônio tão frágil e finito
quanto os próprios recursos naturais existentes em nosso planeta.
Ao arqueólogo não cabe apenas investigar as pirâmides do Egito ou os monumentos clássicos
gregos e romanos. Ao contrário, a Arqueologia está se diversificando cada vez mais e, no
Brasil, é possível encontrar pesquisadores em atividade na Mata Atlântica, nas dunas do
Nordeste ou em meio à floresta Amazônica.
As técnicas de datação mais utilizadas pelos pesquisadores e disponíveis atualmente são:
URANO-TÓRIO: é empregado no estudo de objetos com milhões de anos. Funciona pelo mesmo
princípio do método carbono-14, mas toma por base as meias-vidas do urânio 238 e do tório 230, mais
longas.
TERMOLUMINESCÊNCIA: esta técnica é confiável no exame de achados com poucos milhares de
anos. Não se detém na radioatividade dos materiais, mas em uma emissão de luz. Assim, o fóssil é
aquecido e libera, em forma de luz, energias que capturou e reteve em sua estrutura cristalina.
Considerando o ambiente em que o material foi encontrado e a quantidade de energia existente nas
diversas
épocas,
é
estabelecida
sua
idade.
TESTES DE DNA: através do mapeamento genético, já é possível determinar parentescos e outras
características. Para os próximos anos será a grande ferramenta para a solução de variadas questões.
ESTRATIGRAFIA: a partir do estudo da estratigrafia poderemos identificar características distintas das
ocupações humanas no solo. Estas camadas do solo, quando compostas de materiais arqueológicos,
nos revelarão aspectos das diferentes fases das ocupações humanas (mudanças culturais). A
estratigrafia funcionará para o arqueólogo como uma espécie de livro, em que cada uma das camadas
identificadas em um perfil do solo representará um capítulo da história da vida humana. A história da vida
dos grupos passados será interpretada a partir dos acontecimentos que ficaram marcados nessas
camadas, situadas numa posição inferior à superfície em que pisamos atualmente, daí os resíduos
deixados desde a pré-história estarem em camadas mais antigas.
CARBONO-14: a utilização desta técnica é mais ou menos precisa na análise
de materiais com até 50 milênios (com margem de erro abrangendo menos de 20
ou mais que 5000 anos). O carbono-14 é um elemento presente em todos os
organismos vivos, se desintegrando em uma taxa constante após a morte. Esta taxa
corresponde que, a cada 5730 anos a quantidade dos átomos radioativos de
carbono cai pela metade, fenômeno conhecido como meia-vida. Um aparelho
chamado acelerador espectrômetro de massa, conta os átomos de carbono-14 da
matéria orgânica analisada, determinando assim sua idade.
COMO É FEITA A MEDIÇÃO
DE TEMPO COM O
CARBONO 14?
Mundo Estranho, Abril 2008,
Reinaldo José Lopes
Características do carbono 14
A datação dos fósseis em geral é possível devido à peculiaridade do carbono 14 (C-14) ser radioisótopo ou
simplesmente radioativo. Fenômeno que se caracteriza pela emissão de radiação alfa (α), composta por núcleos
de hélio (He), radiação beta (&?946;), composta de elétrons, e radiação gama (&?947;), uma forma de radiação
eletromagnética parecida com raios X, porém mais energética.
Esse processo acaba por produzir outro fenômeno relacionado à radiação, o decaimento radioativo, que é o
resultado de uma transformação natural de um isótopo de um elemento químico em um isótopo de outro. O
processo se dá de modo natural até que a série radioativa alcance um elemento não radioativo. Ou seja, após o
processo temos outro tipo de elemento.
O C-14 é produzido por reações nucleares resultantes do bombardeamento de nitrogênio 14 (N-14) por nêutrons
presentes nos raios cósmicos na atmosfera. Depois de formado, o C-14, interagindo com gás oxigênio em
condições específicas, sofre oxidação e forma o composto CO2, que, por sua vez, acaba circulando pela
atmosfera, pela litosfera e pela biosfera.
Os seres vivos recebem o C-14 por meio do alimento e da água, mantendo um nível constante dele no corpo.
Enquanto existir vida a porcentagem de C-14 no organismo da planta ou do animal será igual à porcentagem
presente na atmosfera. Quando o ser morre, esse equilíbrio é perturbado, pois não há mais o acúmulo de
carbono, porém o decaimento radiativo é mantido.
Contudo, essa atividade diminui com o passar do tempo. Após 5.730 anos, ela, que era de 14 desintegrações por
minuto para cada grama do carbono (14 dpm/g), passa para 7 dpm/g. Em 11.460 anos ela será de 3,5 dpm/g - e
assim por diante. Desse modo, quanto maior o período depois da morte, menos material dessa natureza
permanece no corpo. Então, a datação é possível por meio da determinação da atividade de C-14 da amostra.
Quando o C-14 não funciona?
Algumas exceções são conhecidas para datação com o C-14, como o fato dos
organismos não receberem a quantidade de C-14 igual à média do ambiente, mas
estes casos geralmente são facilmente explicados.
Outra exceção é o caso do C-14 não fornecer resultados confiáveis para materiais
com menos de 100 anos, pois ele não terá sofrido decaimento o suficiente para a
sua determinação.
O método também não é adequado para materiais com mais de 40.000 anos. Isso
devido ao fato de que após esse período já terão passado 7 meias-vidas do C-14 e
seu nível de radiação terá decrescido até quase zero. Já as idades de milhões de
anos são baseadas em outros métodos inorgânicos. Porém, as idades
determinadas por carbono-14 parecem ser precisas quando comparadas aos
nossos relatos históricos.
PRESERVANDO O PATRIMÔNIO E CONSTRUINDO A IDENTIDADE
.
A origem da palavra patrimônio vem de
pater, que significa pai. Vem do latim,
uma língua hoje morta, que deu origem à
língua portuguesa. Patrimônio é o que o
pai deixa para o seu filho.
Patrimônio: bem ou conjunto de bens
naturais ou culturais de importância
reconhecida num determinado lugar, região,
país ou mesmo para a humanidade, que
passa(m) por um processo de tombamento
para
que
seja(m)
protegido(s)
e
preservado(s).
Etimologia lat. patrimonìum,ìi 'patrimônio,
bens de família, herança; posses, haveres';
ver pater-f.hist. sXIII patrymonyo, sXIV
patrimônio.
http://houaiss.uol.com.br
Maria Helena Pires Martins,
Editora Moderna
“Patrimônio
cultural é o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país
cuja conservação seja de interesse público quer por sua vinculação a fatos
memoráveis, quer pelo seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico” Decreto-lei nº25, promulgado durante o Estado
Novo no Brasil.
“Outra aplicação do conceito aponta para a necessidade de não se
considerar como objeto de prática patrimonialista apenas as obras do
homem, os monumentos e edificações urbanas, mas também, seguindo a
ascendência do movimento ecológico, espaços naturais como bosques,
matas, reservas de água, a fauna, etc. (patrimônio ambiental)”.
Teixeira Coelho.
“O passado é isso: uma recriação dos fatos acontecidos a
partir do nosso presente, isto é, do modo como somos hoje e
do conhecimento que adquirimos a respeito do mundo e de
nós mesmos. É a partir do presente que reunimos esses
fragmentos da memória e os unificamos em uma interpretação.
Esse é o único modo de acesso ao que foi e não é mais, ao que
ficou lá atrás no tempo. Mas que faz parte de nós e de nossa
história. a história que queremos deixar para os nossos filhos e
netos. Se eles são o futuro, nós somos o seu passado”.
“Identidade nacional, portanto, implica uma história comum a
todos: a história dos povos que habitavam o Brasil antes da
chegada dos portugueses”. Maria Helena Pires Martins.
Os sítios arqueológicos da Serra da Capivara são Tombados
pela UNESCO e inscritos na lista do Patrimônio Cultural da
Humanidade.
“Todos nós temos um conjunto de
lembranças, de histórias e de objetos que
são significativos para a nossa vida. Por um
lado, essa é a herança que deixamos para as
gerações futuras. Por outro, herdamos das
gerações passadas o ambiente no qual
vivemos, a cultura, os hábitos, a religião, o
comportamento, a língua. Tudo isso faz parte
do nosso patrimônio brasileiro, da herança
comum que nos une como um único povo”.
TRABALHO DO ARQUEÓLOGO
Escovar
"Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando
osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam sentados na
terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos.
E que eles faziam o serviço de escovar o osso por amor. E que eles queriam encontrar nos
ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão.
Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras
eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam
guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas
oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras
para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda
bígrafos. Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. Passava horas inteiras, dias
inteiros fechados no quarto, trancado, a escovar palavras. Logo a turma perguntou: o que eu fazia
o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a eles, meio entresonhado, que eu estava
escovando palavras. Eles acharam que eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora.“
esgar: trejeito, jeito do rosto, careta de escárnio
Manuel de Barros
.
FONTES CONSULTADAS
Cunha, Manuela Carneiro. História dos Índios do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
Funari, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo, Ed. Contexto, 2003.
Funari, Pedro Paulo; Noelli, Francisco Silva. Pré-História do Brasil. Ed. Contexto, 2002.
Funari, Pedro Paulo. Cultura popular na Antigüidade Clássica. São Paulo, Ed. Contexto, 1989.
Gaspar, Madu. A arte rupestre do Brasil. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003.
Gaspar, Madu. Sambaqui :arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2000.
Guidon, Niède. Peintures préhistoriques du Brésil. Paris, ERC, 1991.
Guidon, Niède. Antes. São Paulo, CCBB, 2005.
Guarinello, Norberto Luiz. Os Primeiros Habitantes do Brasil. São Paulo, Atual, 2000.
Laver, James. A roupa e a moda: uma história concisa. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
Martins, Maria Helena. Preservando o patrimônio e construindo a identidade. São Paulo, Moderna, 2001.
Melatti, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo, EDUSP, 2007.
Monteiro, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo, Companhia das Letras, 1994.
Montero, Paula. Brasil 50 mil anos. São Paulo, EDUSP, 2000.
Neves, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2006.
Neves, Walter. O povo de Luzia. São Paulo, Globo, 2008.
Fausto, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000.
Kern, Arno Alvarez. Antecedentes Indígenas. Porto Alegre, Editora da Universidade, 1994.
Pessis, Anne-Marie. Imagens da Pré-História. FUMDHAM/PETROBRÁS, 2003.
Vidal, Lux. Grafismo Indígena. São Paulo, Edusp, 1992.
Scatamacchia, Maria Cristina Ribeiro. O encontro entre culturas. Coleção: A vida no tempo do índio. São Paulo, Atual, 1994.
Ribeiro, Berta. O índio na História do Brasil. São Paulo, Global, 2001.
Ribeiro, Berta. O índio na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro, 1987.
Ribeiro, Marily Simões. Arqueologia das práticas mortuárias: uma abordagem historiográfica. São Paulo, Alameda, 2007.
Schwarcs, Lilia Moritz. Um enigma chamado Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
Villas Bôas, Orlando. Histórias e Causos. São Paulo, FTD, 2006.
Revistas:
Ciência Hoje , Scientific American, História Viva, Nossa História, Nova Escola.
Jornais: Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo
Professor: Caco Neves
Apoio: Profª Cintia Bueno e Vladimir Aparecido Arruda – CEI.
Download

palestra serra da capivara