CLIMA DA AMAZÔNIA Profa. Denise Torres - UEPA Por que as florestas tropicais existem ??? Elas se encontram na faixa intertropical que é quente, iluminada e úmida Uma primeira resposta à existência deste mundo intertropical está portanto vinculada aos fatores climáticos Na Amazônia existe um gradiente pluviométrico leste-oeste de amplitude bastante vasta (de 1.700 a mais de 4.000 mm por ano), ao longo do qual se diferenciam florestas tropicais de estrutura e composição diferentes. Fator LUZ -Indispensável aos seres vivos - Num dado ponto do planeta, a quantidade de luz recebida depende da obliqüidade dos raios solares e da duração do dia. Estes dois fatores estão vinculados à latitude e ao período do ano: em média anual, as quantidades de energia diminuem com o afastamento do Equador - No Equador: Fotoperíodo é regular, dias e noites com duração uniforme (12 horas) seja qual for o período do ano Fator TEMPERATURA - Além do efeito luminoso, os raios solares têm também um efeito energético e calorífico e determinam a repartição das temperaturas no tempo e no espaço da superfície da Terra. -O Clima tropical é quente. As temperaturas médias anuais nas florestas tropicais ultrapassam quase sempre 22°C. Elas estão geralmente compreendidas entre 24°C e 28°C. - Muito mais do que o calor, é a uniformidade térmica que caracteriza os países tropicais. Devido aos altos valores de energia que incide na superfície, o comportamento da temperatura do ar mostra uma pequena variação ao longo do ano (isotermia), com exceção da parte mais ao sul (Rondônia e Mato Grosso), que inclusive sofrem a ação de sistemas frontais (denominados localmente por friagens). A temperatura média anual varia pouco na faixa central caracterizada pela Planície Amazônica. Os valores tendem a aumentar à medida que se avança para Oeste. Exs: Belém {temperatura média em novembro, o mês mais quente, é igual a 26,5º C, enquanto que o menor valor ocorre em março que é igual a 25,4º C}. Manaus {temperatura média em setembro, o mês mais quente, é igual a 27,9º C, enquanto que o menor valor ocorre em fevereiro que é igual a 25,8º C}. Iquitos {temperatura média em novembro, o mês mais quente, é igual a 32,0º C, enquanto que o menor valor ocorre em julho que é igual a 30,0º C}. A amplitude térmica sazonal é da ordem de 1-2 ºC, sendo que os valores médios situam-se entre 24 e 26 ºC. Fator ÁGUA - A Zona Intertropical é caracterizada por uma forte umidade e chuvas abundantes e mais ou menos regulares ao longo do ano. Por que razões ??? - Sendo as Zonas Equatoriais mais aquecidas do que as Zonas Polares, o ar aquecido no Equador se eleva, se desloca para o norte, cai e retorna para o Equador. - O ar quente é aí capaz de armazenar uma grande quantidade de umidade que vai, em altitude se resfriar e se condensar e precipitar, acarretando chuvas abundantes. A DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA É IRREGULAR É sabido que a Amazônia é uma região de chuvas abundantes. A região Amazônica possui uma precipitação média de aproximadamente 2300 mm.ano, embora tenham regiões (na fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em que o total anual atinge 3500 mm. As quantidades de chuva não estão porém repartidas uniformemente, nem no espaço, nem no tempo (decurso de um ano). Uma análise geral indica que essa distribuição é bastante variável, indo de regiões com mais de 3000 mm por ano nas encostas Andinas, até cerca de 1600 mm na interface da Amazônia com o cerrado do Planalto Central Brasileiro. No espaço - A região do estuário amazônico compreende uma faixa em que a precipitação anual atinge em torno de 2.600 mm. Porém, muito mais chuva cai a noroeste da Amazônia, onde as precipitações anuais alcançam mais de 3.600 mm. Há, ainda, uma faixa mais pobre em chuvas que vai do norte até além do médio e baixo amazonas, na qual as precipitações, em certos anos, ficam abaixo de 2.000 mm. No tempo - Com relação ao período do ano, na Amazônia notam-se comumente diferenças maiores ou menores entre período chuvoso e estiagem. Por exemplo, na região de Santarém, nas imediações da foz do Tapajós, pode ocorrer em certos anos que, durante cerca de 4 semanas seguidas, de agosto a setembro, não chova nada. Já no noroeste da Amazônia são bem diminutas as diferenças entre épocas mais e menos chuvosas. Na região costeira (no litoral do Pará ao Amapá), a precipitação também é sem período de seca definido, devido a influência das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa litorânea durante o período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima. Outra característica das chuvas Amazônicas: As chuvas não caem habitualmente sob a forma de chuviscos persistentes, mas são quase sempre aguaceiros torrenciais com trovoadas que podem durar de meia a duas horas. Através do balanço de vapor d'água em toda a região Amazônica, Salati et al. (1979) determinaram que a precipitação na região é uma composição da quantidade de água evaporada localmente (evapotranspiração) adicionada de uma contribuição de água advinda do Oceano Atlântico através dos ventos alíseos. Desta maneira, pode-se estimar que 50 % do vapor d'água que precipita pelas chuvas é gerado localmente (pela evapotranspiração), sendo o 50 % restante importado para a região pela fluxo atmosférico proveniente do Oceano Atlântico. Os ventos alísios empurram a umidade vinda do Atlântico para a Amazônia e provocam chuvas na região. Do total de chuvas, 25% alimentam os igarapés, 25% são retidos pelas folhas e 50% são absorvidos pelas árvores – esses últimos 75% voltam para a atmosfera em forma de vapor d’água, por meio da evaporação e da transpiração. Esses vapores são transportados pelos ventos até a cordilheira andina, que funciona como uma barreira natural e redireciona o percurso da umidade para o Norte da Argentina, o Uruguai, o Sul e o Sudeste do Brasil. O volume de vapor d’água produzido pela floresta é imenso – cada árvore de grande porte “evapotranspira” até 300 litros de água por dia! No total, são cerca de 20 bilhões de litros de água lançados na atmosfera todos os dias pela Amazônia, mais do que a vazão do Rio Amazonas – o maior rio do planeta http://planetasustentavel.abril.com.br/inforiosvoadores/ MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM O DESMATAMENTO DA FLORESTA TROPICAL Na última década, a Amazônia tem sido foco de atenção mundial devido à sua riqueza mineral, à sua grande biodiversidade de espécies florestais e também pelos efeitos que o desmatamento em grande escala pode provocar no clima regional e global. Algumas previsões de alterações a serem causadas pela substituição ou simples destruição da cobertura vegetal da Amazônia: (Salati et al, 1983) •De maneira geral, o desmatamento modificará o tempo de permanência da água na bacia, por diminuir a permeabilidade do solo e, consequentemente, o seu armazenamento em reservatórios subterrâneos. A redução do período de trânsito das águas determinará inundações mais intensas durante os períodos chuvosos, enquanto que a diminuição dos reservatórios subterrâneos reduzirá a vazão dos rios nos períodos secos. •Conforme comentado anteriormente, 50% da precipitação da Região Amazônica é proveniente da evapotranspiração da floresta. Através deste processo, a floresta aumenta o tempo de permanência da água no sistema, devolvendo para a atmosfera na forma de vapor parte da água presente no solo. Uma outra cobertura , cuja evapotranspiração não substitua a inicial da região, determinará uma menor disponibilidade de vapor na atmosfera e em conseqüência uma redução na precipitação, especialmente nos períodos mais secos, ou seja, um período seco prolongado melhor definido, com um déficit de água do solo e maiores oscilações das temperaturas. •Haverá modificações sucessivas na flora e na fauna até ser atingido um novo equilíbrio ecológico (salienta-se que uma redução na precipitação de 10 a 20% já será suficiente para induzir profundas modificações no atual ecossistema). •A Região Amazônica é também uma fonte de vapor dágua para as regiões circunvizinhas. Existem evidências de que há um fluxo de vapor de água do norte para o sul durante o ano todo, e é provável que uma parte do vapor dágua que origina as chuvas da região central da América do Sul seja proveniente da bacia Amazônica. Espera-se, pois, que hajam modificações no ciclo dágua ou no total da água disponível na bacia Platina e mesmo no Planalto Central Brasileiro. •A energia solar que incide na região é em média 420 calorias por centímetro quadrado por dia e é em grande parte utilizada no trabalho de evaporação da água através da transpiração das plantas. No caso de deflorestamento em grande escala, o balanço de energia será completamente alterado. Uma grande parte de energia que hoje é utilizada pelas plantas para transpirar será utilizada no processo de aquecimento do ar. Com relação à associação floresta-clima, o desenvolvimento da informática facilitou a utilização de modelos numéricos de Circulação Geral da Atmosfera (MCGAs) para se estudar o efeito das trocas de energia entre a superfície e a atmosfera. Como ferramenta de análise da problemática do desmatamento, vários estudos de simulação numérica do clima em situações de floresta e desmatamento (troca de superfícies vegetadas de floresta po pastagens) já foram realizados (por exemplo Dickinson e Henderson-Sellers, 1988; Lean e Warrilow, 1989, Nobre et al., 1991; Henderson-Sellers et al., 1993; Lean e Rowtree, 1993; Manzi, 1993, Lean et al., 1996). De modo geral, os resultados obtidos convergem em que ocorrerá um aumento de temperatura do ar próximo à superfície (variando de 0,6 à 2,0 C), uma redução nos totais de precipitação e evaporação (de 20 a 30% do valor de floresta) e uma estação seca mais prolongada. Estas modificações certamente acarretarão implicações ecológicas gravíssimas. Em um estudo preliminar, Nobre et al. (1989) estudaram os impactos climáticos devido ao desmatamento e obtiveram um aumento da temperatura do ar de 1,3 C. Este aquecimento relativo da superfície de terra desmatada e do ar imediatamente acima é consistente com reduções na evapotranspiração e no fluxo de calor latente, uma vez que uma maior fração de energia radiativa está disponível para aquecer a superfície terrestre e o ar acima.