POLÍTICAS LINGUÍSTICAS:
CASO
Suíça
Bélgica
Canadá
1
CASO Suíça,
Bélgica e
Canadá
Quanto à sua constituição

Suíça – pré-realidade nacional (“emphasis on defense”)

Bélgica - ainda pré-, mas já um momento adiante.

Canadá - chegada tardia de um frame nacional.
Todos lidaram com a questão linguística:
Língua nacional só em seguida à sua constituição
como Estados.
2
CASO Suíça, Bélgica e Canadá
Interessante a se observar: nos 3 países, nenhum apresentou
unidade linguística – “unicidade” não se aplicou aí, mas o
multilinguismo — ptt., países multilíngues.

Uma vez que os países que até aqui estudamos (as excolônias) estavam destinados:
ou a se fragmentar para formar países correspondentes às s/
realidades nacionais (com a assunção da língua da metrópole:
inglês ou francês como língua oficial, ainda que não houvesse
falantes nativos),
 ou a se assumirem como países multilíngues,

poderíamos pensar em certos países como paradigmas de sucesso
mesmo na gestão do multilinguismo.
Países que ocorrem normalmente no imaginário das pessoas:
Suíça, Bélgica e Canadá – 3 casos bem sucedidos de PL.
3
CASO Suíça Bélgica Canadá
Ponto importante a se marcar:
a SIMETRIA INSTITUCIONAL
não garante a DISSEMETRIA REAL.
Ainda que sejam estados multilíngues,
reconhecer isso também não resolve a
situação (da dissemetria real).
4
SUÍÇA: um dos países + antigos do mundo
Suíça: cenário linguístico riquíssimo: muitas línguas são faladas
aí, num país incrivelmente pequeno, nos seus 26 cantões, com
cerca de 7,8 milhões de falantes. São elas:
- línguas antigas, cantonais;
- línguas modernas, gramatizadas;
- o inglês internacional; e
- as línguas dos imigrantes, em número crescente:





alemão - 65% (“alemão”=de fato, várias línguas)
francês - 18%
italiano - 10%
outras (árabe, turco etc.) - 6%.
Por conseguinte, os suíços NÃO formam uma Nação no
sentido de uma identidade comum, étnica ou linguística.
5
SUÍÇA: um dos países + antigos do mundo
Embora os suíços NÃO formem uma Nação no sentido
de uma identidade comum, étnica ou linguística...
Contudo, há forte sentimento de PERTENCIMENTO ao
país, fundado sob um histórico comum, valores
compartilhados (federalismo, democracia direta e
neutralidade) e pelo simbolismo Alpino. Criação da
Confederação Suíça é datada de 01/08/1291.
Genebra (180 mil habs.) - francês e inglês.
6
SUÍÇA

A gramatização e a modernidade linguística
chegaram tardiamente à Suíça e não de um
movimento interno, mas externo.

A adesão foi tributária ao desejo de
integração e aconteceu majoritariamente na
parte francesa.

A identificação com as respectivas “fonias”
- alemã, francesa e italiana -, só aconteceu
a posteriori.
7
SUÍÇA EM MOVIMENTO CONVERGENTE
A Suíça nasceu “de fora para dentro”, a partir de
necessidades defensivas comuns e não a partir de
uma identidade comum entre seus habitantes. Esta
veio incrivelmente tarde, cf. aponta Benedict
Anderson (Comunidades Imaginadas: 192-96), não
antes de 1891.

Paradoxalmente,
o
atraso
econômico,
o
isolamento e o desinteresse dos outros países na
Suíça, fez com que suas comunidades rurais
conservadoras, “atrasadas”, preservassem as
línguas locais até que fossem “atingidas” pela vaga
nacionalista.

Note-se que durante muitas décadas, havia ainda
pedágios internos e moedas diferentes circulando
na Suíça.

8
CASO SUÍÇA

A Suíça tem uma realidade nacional
não-nacional, isto é, não-romântica.

Ela se definiu por contraposição ao exterior,
pela postura defensiva comum contra os de
fora. A Confederação Suíça tem uma longa
história de neutralidade, não estando em
estado de guerra internacionalmente desde
1815.

É notável que a Suíça não tenha se
fragmentado com as guerras religiosas, como
a Alemanha (católicos x protestantes), que se
despedaçou com a Guerra dos Trinta Anos
(1618-48).
9
CASO SUÍÇA



Sintomático foi que, no plebiscito para a
adesão à EU/União Europeia, o resultado
tivesse sido de 75% contra, e 25% a
favor.
A parte francesa da Suíça revelou-se
europeísta...
A parte alemã da Suíça, mais nacionalista.
10
SUÍÇA: um dos países + antigos do mundo

O país pré-existe, de longa data, às nacionalidades que o
identificam. Todos supõem que tenha sido criado no meio
das fronteiras: do alemão, francês, italiano: crença
equivocada.

Quando nasceu a Suíça, não existia o alemão, nem
francês, nem italiano. Sem intervenção de qualquer destas
identidades: nenhum componente linguístico entrou em
questão.

Mas algo se pode afirmar sobre a questão identitária: a
identidade suíça não se construiu em cima do paradigma
do séc. XIX. Como se explicaria?
11

1388: a Liga, a Confederação Helvética (CH), grupo
militar, com a agregação dos cantões, na defesa contra os
austríacos.

Reforma protestante - Calvino em Genebra (1536), Zwingli
em Zürich (1519) – Dilacerando a Europa, a Guerra dos 30
Anos (1618-48), entre católicos e protestantes, mas não
envolvendo a Suíça. Isso se explica na questão da unidade
da Suíça: a defesa, a opção pela neutralidade, o pacifismo
suíço, que busca acordos por prevenção, para não ser
invadida.

Da grande Suíça, a guarda do Papa, o que não é acidental;
tradicionalmente, considerados os melhores soldados do
mundo. Todo jovem suíço – para além de um ano no
Serviço Militar -, com participação ativa em exercícios
militares.
12
SUÍÇA: um pouco do percurso histórico

Fundamentos da defesa militar suíça prevalentes
até hoje.

Dado importante: a Suíça como entidade militar.

Lugar de livre circulação de ideias (Rousseau,
Voltaire...), como a Holanda.

Até século XIX– somente na Suíça havia unidade.

A partir do séc.XIX, os países passam a ser
interpelados como Nação...
13
SUÍÇA: um pouco do percurso histórico
Guilherme Tell – herói
retrospectivo, mítico da
nação; o lendário
fundador da Suíça: a
versão romântica da
narrativa de GT é a
popularizada na versão
de Schiller, de 1804.
Processo natural de
construção: método
retrospectivo.
14
SUÍÇA: um pouco do percurso histórico
Como esteve a questão linguística na Suíça?
Suíça até meados do séc. XIX: Latim, como
língua formal e oficial.
Suíça foi nacionalizada tardiamente, a partir
da ideia de que o Letramento somente teria
sentido em Latim.
15
Suíça no séc.XX

Nação foi aderindo às referências nacionais externas...

No final, o francês é oficializado na escrita primeiro
nos cantões; mas o Latim permanecendo como língua
vernácula.

Séc. XX: definição constitucional que a estabelece
como país MULTILÍNGUE, com 4 línguas definidas:
(1) alemão; (2) italiano; (3) francês; (4) romance
(latim arcaico), mas não em posição simétrica.

Francês falado na Suíça é próximo ao fr. da França, é
apenas uma variante linguística; não outra língua. O
mesmo não acontece com as demais variedades
linguísticas.

As línguas germânicas são diferentes entre si: o
alemão de um cantão é diferente do alemão de outro
cantão.
16
Finalizando o Caso SUÍÇA
O que nos fica do caso da Suíça?
Mostrou-se uma situação complexa,
com acomodação dos casos peculiares.


Não suportou um tratamento uniforme
– a unicidade –,
transversal ao país, como seria
esperado pelo processo de
institucionalização linguística.
17
BÉLGICA





Pop: 10,3 mi
flamengos - 55% (próximos ao holandês, mas
não o holandês). Uma outra língua.
valões - 33% (próximos ao francês, mas não o
francês). Uma outra língua.
alemães - 1%
outros dialetos /variedades linguísticas - 11%
Garantido o equilíbrio, a presença de
imigrantes.
18
BÉLGICA

1815 – sua anexação à Holanda.

Criada em 1831 - a “questão nacional” ainda não se
colocava quando a Bélgica foi criada.

Ela é um país do século XVIII e não do romântico
século XIX (o que dá uma amostra da lentidão do
advento deste paradigma).

Bélgica: “Estado-tampão” (durante o Congresso de
Viena) para conter o expansionismo francês: a
primeira a ser invadida seria a Bélgica.
19
BÉLGICA

Língua oficial: era o francês. Não se pretendia simetria
linguística: o francês era assumido como superior.

Supunha-se bilinguismo por parte dos flamengos
(próximos ao holandês) e valões (próximos ao francês)
e que ambos se adequassem ao “francês” como língua
oficial.
Mas se teria um longo percurso se se desejasse chegar
à sonhada simetria... mas que nunca chega de fato.


1898: o flamengo como língua oficial (mas com status
minoritário).

1908: somente aí o bilinguismo oficial do país,
imaginando-se aí uma simetria linguística, mas na
verdade uma dissemetria real. Parte francesa: a mais
rica...
20
BÉLGICA


1968: Separação da universidade de Leuven em duas:
(Pq? de francofone, viu-se de repente em área a ser
flamenizada, em fusão com Holanda) e dividiu-se:
surge Louvain la Neuve, para manter o francês.
Hoje, em Leuven, continuam os cursos de graduação
em flamengo. Mas toda a formação é em duas línguas,
o que se torna mais pitoresco, com o monarca (Albert
II, em 1993, jurando a seu povo que sempre pensa
em duas línguas (para não ter que se identificar com
uma ou outra).

Bruxelas: é ilha francofone, num mar anglofone.

Hoje: diluição da questão de Nacionalidade: belgas...

Perfil da Bélgica: complexo para se administrar a
questão linguística, mas sem contenciosos que não
possam ser resolvidos.
21
Canadá: O caso mais emblemático diante da
Suíça e Bélgica

Pop: 31,6 mi (estimativa oficial de 2006).
inglês - 40%
francês - 27%
outros - 33% (chinês, alemão, italiano...)

Tardio foi o advento do Estado Nacional no Canadá.

Mas não se tinha até o séc. XX, nenhuma reivindicação
importante da comunidade francesa do Canadá...

No país canadense, falava-se inglês. A rainha da
Inglaterra era a Chefe de Estado...




1969 – é somente quando o francês é tornado oficial ao
lado do inglês: oficialmente, uma situação de
bilinguismo, portanto; e tb. reconhecido o
multiculturalismo.
22
Mas no Canadá, Québec faz diferença
Caso especial de Québec:


1759 - tomada pelos ingleses;
1763 - expulsão dos franceses da América do Norte, que
perderam quase todas as suas colônias, com a Guerra
dos Sete Anos;

1774 – Reconhecimento oficial da singularidade
linguística de Quebec, pelo Ato de Québec: liberdade
linguística e religiosa: a lei religiosa tinha valor civil - a
Igreja regulando a vida, com efeitos de cartório...
23
No Canadá, Québec faz diferença
1967 – Visita de De Gaulle, com o lema que defende:
“Vive le Québec Libre!” - sob o ideal da francophonie, o
nacionalismo francês.

Há então, em Québec, o investimento na SIMETRIA
INSTITUCIONAL: a tentativa de o francês e o inglês
terem estatuto similar, nas escolas, no Parlamento, nas
Cortes Federais, nas instituições em geral...
Problemática criada: esse fato é não-aceito na vida real:


Francofones – têm inglês (como L2) na escola;
efetivamente eles usam o inglês para efeitos
profissionais, sendo fluentes no inglês.
Anglofones (geralmente mais abonados), têm como L2
o francês.
Tal dissemetria entre falantes incomoda os francofones,
aumentando-lhes o desejo de emancipação. 24
Canadá (cont.)





Dissimetria real: os francofones são bilíngues e os
anglofones monolíngues.
Movimento de singularização do quebecois em relação
ao francês.
Montréal - cidade efetivamente bilíngue, com
tendências a se tornar predominantemente anglófona.
A presença crescente dos imigrantes tende a favorecer
a anglofonia.
Provavelmente é procedente a queixa de Lucien
Bouchard (líder do Partido Quebequense e que foi
Governador do Quebec) de que eles (os francofones)
perderam o plebiscito por causa dos imigrantes
(anglofones).
25
Québec: sua diferença




O nacionalismo quebequense cresceu bastante durante
a década de 1960 e 1970.
1967 - Montreal sediou a Feira Mundial de 1967,
comparecendo vários chefes de Estado, dentre eles, o
presidente da França, Charles de Gaulle. Foi quando ele
fez um discurso à população da cidade, no qual
expressava
aparente
simpatia
a
um
Québec
independente.
Perto de terminar seu discurso, de Gaulle pronunciou
Vive le Québec libre, sendo muito aplaudido pelos
presentes, e muito criticado pelo então PrimeiroMinistro do Canadá, Lester B. Pearson.
Desde a visita de De Gaulle (1967): iniciou-se um
processo de referendos sobre a emancipação de
Québec, para tornar essa província/estado um país
independente. 1995: ocorreu o último plebiscito que
perdeu por 50 mil votos.
26




Em 1968, foi fundado por René Lévesque o Partido
Quebequense, que passou a promover o separatismo, a
independência do Québec do resto do Canadá.
Em 1974, a Assembleia Nacional do Quebec adotou o
francês como único idioma oficial da província. Até
então, o Quebec era uma província bilíngue, e também
considerava o inglês como idioma oficial.
Esta decisão fez com que o francês se tornasse o
principal idioma a ser usado em todas as escolas
públicas da província, e também o idioma a ser usado
no comércio e no governo.
80% da população do Québec: descendente de
franceses, em contraste com as outras províncias do
país, cujos habitantes são, em sua maioria,
descendentes de ingleses ou escoceses.
27
Plebiscitos para a secessão



Em 1980, o Partido Quebequense realizou um plebiscito
e pediu aos eleitores que votassem a favor da
separação do Québec do resto do Canadá. Esta secessão
seria somente política, e a província continuaria unida
ao Canadá economicamente. Na votação, 60% dos
eleitores votaram contra a secessão.
Várias tentativas de integrar o Quebec à nova
Constituição: 1987, 1990, 1992. Esta de 1992 foi
reprovada por 56,7% dos canadenses nãoquebequenses e por 57% da população quebequense.
Até hoje, a Constituição do Canadá continua em vigor,
mesmo sem a assinatura e aprovação do Québec.
28





1994: o Partido Quebequense venceu as eleições
provinciais.
1995: um novo plebiscito realizado a favor da
independência do Quebec: 50,6% dos eleitores
quebequenses votaram contra a secessão e 49,4% dos
eleitores quebequenses, a favor.
1995-1996: o Parlamento do Canadá aprovou novas
emendas cujo objetivo era promover a união
canadense. Uma destas emendas reconheceu o Québec
e sua única língua, cultura e leis civis.
2005: André Boisclair tornou-se o novo líder do Partido
Quebequense. O partido prometeu realizar outro
referendo, caso retornasse ao poder.
2006: o Partido Conservador do Canadá declarou que o
"Quebec é uma nação dentro de um Canadá unido",
declaração apoiada por todos os partidos políticos
presentes na Câmara, embora não tivesse nenhum
29
efeito legal.
Finalizando Québec - Canadá...





Forte influência francesa, presente desde os
primórdios da colonização do Canadá, torna
Québec sensivelmente diferente do resto do país.
O francês continua sendo a única língua oficial da
província de Québec.
A população de Québec é, em sua maioria, católica,
ao contrário do resto do país, onde protestantes
são a maioria.
Enfim, a exemplo do paradoxo da Catalunha, os
quebequenses votam no Parti Québécois, mas são
ainda contra a separação de sua província do
Canadá.
Sente-se, porém, nesses referendos uma
tendência, relativamente crescente, a favor da
emancipação de Québec.
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Exercício Suíça/Bélgica/Canadá
Seu comentário enxuto, pontual
sobre “O que diferencia a questão
linguística de um para outro país?”
31
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CASO Suíça Bélgica Canadá