Universidade Federal de Goiás Faculdade de Medicina FARMACOLOGIA I “Biotransformação e Eliminação de Fármacos” Prof. MS. HUGO C. O. SANTOS Copidogrel monoril GOIÂNIA, 2012. METABOLISMO METABOLISMO DAS DROGAS • O metabolismo é um processo alternativo que pode levar ao término da atividade biológica ou à sua alteração. Em geral os xenobióticos lipofílicos são transformados em substâncias mais polares e, portanto passível de excreção mais fácil. • Drogas e toxinas são agentes estranhos ao organismo. METABOLISMO DAS DROGAS • Drogas podem ser metabolizadas nos pulmões, sangue e fígado • O organismo converte as drogas em formas menos ativas e aumenta a sua hidrossolubilidade para melhorar a eliminação • Como por exemplo, barbitúricos lipossolúveis como o tiopental e o pentobarbital, teriam meias-vidas extremamente longas, não fosse seu metabolismo. METABOLISMO DAS DROGAS • Por outro lado, substâncias lipofílicas, como DDT, que são armazenadas no tecido adiposo e protegidas dos principais órgãos envolvidos no metabolismo de drogas, podem persistir na gordura durante anos. • Também foram elaboradas pró-drogas farmacologicamente inativas. METABOLISMO DAS DROGAS • Fígado – principal via do metabolismo das drogas • Fígado pode também converter pró-drogas (inativas) na sua forma ativa • Tipos de reações – Fase I (sistema do Citocromo P450) – Fase II Reações de Fase I Reações não-sintéticas ou catabólicas. • Em geral as reações de fase I convertem a droga original num metabólito mais polar, ao induzir ou expor um grupo funcional (-OH, NH2, -SH). Com freqüência, esses metabólitos são inativos, ou sua atividade é apenas modificada. Tipos de Reações de Fase I • • • • • • Hidrólise Oxidação Redução Demetilação Metilação Metabolismo da Álcool-desidrogenase Oxidação • Consiste na adição de oxigênio ou de um radical carregado negativamente, ou então na remoção de hidrogênio ou de um radical carregado positivamente. • Nesse processo são utilizadas duas enzimas. A primeira é a NADPH – citocromo P450 redutase e a segunda é uma hemoproteína chamada citocromo P450, que funciona como a oxidase terminal. Redução • É o inverso da oxidação e envolve as enzimas do citocromo P450, que então agem em direção oposta àquela observada na oxidação. • Exemplo de droga que é reduzida: cloranfenicol. Hidrólise • Essa reação consiste na clivagem da molécula da droga pela junção da água. • As amidas e polipeptídeos dão hidrolisados por amidases e peptidases. A hidrólise ocorre no fígado, intestino, plasma e outros tecidos • Exemplos de drogas: procaína, lidocaína e oxitocina. Ciclização • Nesse caso, forma-se uma estrutura cíclica a partir de um composto de cadeia alifática, como observa com o proguanil (proguanil tiazina) Desciclização • Há uma abertura da estrutura em anel de moléculas cíclicas das drogas, como é o caso dos barbitúricos e as fenitoína. Reações de Fase I • Sistema do Citocromo P450 • Localizado no retículo endoplasmático dos hepatócitos • Através de cadeia transportadora de electrões, a droga liga-se ao sistema CYP450 e entra em oxidação ou redução METABOLISMO DAS DROGAS: • Fase 1: oxidação, redução, hidrólise. • Adição de um grupo funcional que aumenta a polaridade, e consequentemente, a hidrossolubilidade = diminui a absorção; Reações de Fase II • Grupo Polar (substância endógena) é conjugado com a droga • Resulta no aumento da polaridade da droga • Tipos de Reacções – Conjugação glucoronídio É a reação de fase II mais importante, compostos que possuem grupos hidroxílico ou carboxílico conjugam-se facilmente com o ácido glicurônico, que é um derivado da glicose. Exemplos de drogas que sofrem essa reação: clorafenicol, Aspirina, fenacetina, morfina metronidazol – Conjugação da glicina O reagente endógeno é a glicina Ex: ácido salicílico – Conjugação com glutation Nessa conjugação forma-se um mercapturato. Essa reação serve para inativar substâncias altamente reativas, como a quinona e derivados do paracetamol. – Conjugação do sulfato Pode provocar a inativação de certos compostos como o minoxidil. – Acetilação Os compostos que possuem radicais amínicos e hidrazídicos são conjugados com auxílio da acetil coenzima – A. Ex: sulfonamidas, isoniazida e a hidralazina. – Metilação As enzimas e os fenóis podem ser metilados, como, por exemplo, adrenalina, histamina e ácido nicotínico. METABOLISMO DAS DROGAS: • Fase 2: conjugação ou síntese. • Adição de um grupamento grande à molécula = facilita a excreção do metabólito. Genética e Metabolismo das Drogas • Diferenças individuais na expressão gênica das enzimas hepáticas resultam em diferenças individuais na resposta a um medicamento. – Ausência de enzimas – resposta exacerbada à droga; – Excesso de enzimas – resistência inata. Outros fatores podem interferir no metabolismo das drogas: Dieta e fatores ambientais Idade e sexo Indutores enzimáticos: • A síntese enzimática elevada como resultado da presença de um composto exógeno é chamado de indução. • Substâncias (inclusive algumas drogas e alimentos) que aumentam o metabolismo de outras drogas. • Drogas que promovem indução do seu próprio metabolismo → alto potencial de desenvolvimento de dependência (ex.: barbitúricos, nicotina, etc.). Inibidores enzimáticos: • Quando duas drogas competem pela mesma enzima para o metabolismo para uma ou ambas as drogas, chamamos de inibição. • Um exemplo clinicamente importante dessa situação são as arritmias cardíacas, ou convulsões, produzidas pela teofilina quando essa droga é ministrada concomitantemente com um antibiótico macrolídeo como a eritromicina. • Indutores Etanol, omeprazol, fenibarbital, rifampicina, tabagismo • Inibidores Cimetidina, eritromicina, suco de pomelo, cetoconazol, quinidina • Interações de drogas Muitos substratos, em virtude de sua lipofilicidade relativamente alta, são retidos não apenas no local ativo da enzima, como também permanecem ligados inespecificamente à membrana lipídica do retículo endoplasmático. Neste estado, podem induzir enzimas microssomais; dependendo dos níveis residuais da droga no local ativo, podem também inibir competitivamente o metabolismo de uma droga administrada simultaneamente. • O fígado é o principal local de metabolismo das drogas – metabolismo de 1ª. Passagem. ELIMINAÇÃO – METABOLISMO E EXCREÇÃO: • Cinética de primeira ordem: a velocidade de remoção da droga do organismo é proporcional à concentração plasmática da mesma. A maioria das substâncias obedece a essa cinética. • Cinética de ordem zero: algumas poucas drogas (etanol por ex.) são eliminadas a uma velocidade constante, não havendo influência da concentração plasmática. • Outras drogas (aspirina e fenitoína) apresentam taxa de eliminação intermediária entre as cinéticas de ordem zero e primeira ordem. • Pequenas modificações na dose podem levar a aumentos desproporcionais na concentração plasmática resultando em toxicidade. EXCREÇÃO: • CLEARENCE Em geral define-se o clearence sanguíneo ou plasmático de um medicamento por um órgão como o volume sanguíneo ou plasmático totalmente livre da substância por unidade de tempo. EXCREÇÃO: • CLEARENCE TOTAL Clearence renal + Clearence extra-renal EXCREÇÃO: • Urina e fezes são as vias mais comuns de excreção; • Bile, pulmões, leite e suor também são vias de excreção. MECANISMO TUBO CONTORCIDO PROXIMAL- secreção ativa (medicamento livre e ligado) TUBO CONTORCIDO DISTAL GLOMÉRULO FILTRAÇÃO GLOMERULAR ALÇA DE HENLE CANAL COLETOR (medicamento livre) Reabsorção passiva (medicamento lipossolúvel não ionizado) MECANISMO A figura anterior dá uma representação da estrutura funcional do rim: o néfron. A formação da urina se faz pela atuação de três mecanismos: • filtração glomerular ao nível do glomérulo, não permitindo a difusão de compostos de baixo peso molecular, excluindo as proteínas, principalmente a albumina. MECANISMO • Secreção tubular permitindo a passagem direta de substâncias de células em direção ao tubo onde se forma a urina. • Reabsorção tubular que permite às substâncias que tenham sido filtradas, passar novamente pelas células e desaparecer da urina. Então um medicamento pode ser filtrado, secretado ou reabsorvido. Excreção renal: • Filtração glomerular e secreção tubular ativa. A excreção renal de metabólitos está diretamente relacionada à capacidade de excreção de creatinina. • Alterações no pH ou no fluxo urinário interferem na excreção renal das drogas. • Variação do pH pode aumentar, por exemplo, a fração da droga não-ionizada, promovendo reabsorção tubular. • O aumento do fluxo diminui o tempo de contato, diminuindo a reabsorção tubular. Influência do pH Urinário • Para os ácidos: ►A influência a influência do pH urinário é nula devido a substâncias de pKa igual ou inferior a 2; com efeito, encontram-se em sua totalidade na forma ionizada seja qual for o pH e nunca são reabsorvidas. Influência do pH Urinário ► Os compostos cujo pKa é superior a 8 (ácidos fracos) existem essencialmente na forma não ionizada para os valores de pH urinário e sofrem um processo de reabsorção intenso e permanente e induzido a um clearence renal fraco. Obs: o pH urinário é entre 4,5 e 7,5. Influência do pH Urinário ► A influência do pH surge como a mais importante para substâncias cujo valor de pka situa-se entre 3,0 e 7,5; o clearence renal depende, portanto, do pH devido a variações da reabsorção. • Para Bases: ► Os compostos com pKa superior a 12,0 (bases fortes) existem sempre na forma ionizada seja qual for o valor do pH;não há ou há pouca reabsorção. Influência do pH Urinário ► As bases mais fracas (pKa < 6,0) e não polares encontram-se sobretudo sob a forma não ionizada para valores de pH urinário e são constantemente reabsorvidas; seu clerarence renal é fraco. ► As bases fracas polares nunca são reabsorvidas. Influência do pH Urinário ► A influência do pH é determinante para os compostos de pKa compreendido entre 6,0 e 12,0; a reabsorção varia de um valor nulo a um algarismo muito elevado, de acordo com o pH. Enfim, os compostos cuja reabsorção varia com o pH são igualmente sensíveis às modificações do fluxo urinário. Excreção pelo trato digestivo: • Tempo de trânsito intestinal. • Alguns metabólitos de drogas excretados na bile são hidrolisados, liberando a droga original, resultando em reabsorção e prolongamento do efeito → circulação enteroepática. Excreção pelo trato digestivo: Características do composto: • A estrutura química • A polaridade • A massa molar Obs: a eliminação biliar é diretamente proporcional à polaridade de uma substância e contém funções ionizáveis. Para ratos é possível estabelecer uma massa molar que abaixo dela a eliminação é impossível. Excreção pelo trato digestivo: • É grande a semelhança entre este mecanismo e aquele relacionado à secreção urinária dos medicamentos. Ele: - Necessita de um aporte energético. - Pode estar saturado - Pode induzir a fenômenos de competição. Excreção pelos pulmões: • Via principal de eliminação dos anestésicos gerais. • O etanol também, mas não preferencialmente (teste do “bafômetro”). Eliminação Pediátrica • Filtração Glomerular amadurece com a idade, valores dos adultos atingidos pelos 3 anos de idade • Recém-nascido = fluxo sanguíneo renal, filtração glomerular e função tubular diminuídas, o que atrasa a eliminação das drogas • Aminoglicosidos, cefalosporinas, penicilinas = intervalo entre doses superior Princípios Farmacocinéticos • “Steady State”: a quantidade de droga administrada é igual à quantidade de droga eliminada dentro de um intervalo de doses, resultando num plateau ou nivel sérico da droga constante • Drogas com semi-vida curta atingem o “steady state” rapidamente; drogas com semi-vida longa demoram dias a semanas a atingir o “steady state” Farmacocinética “Steady State” 100 90 80 70 % 60 steady 50 state 40 30 20 10 0 1 2 3 4 Semi-vida 5 Semi-Vida = tempo necessário para as concentrações no plasma diminuírem em metade (50%) 4-5 semi-vidas para atingir o “steady state” Farmacocinética Linear 120 100 concentration • Linear = a velocidade de eliminação é proporcional à quantidade de droga presente • Aumento da dose resulta num aumento proporcional dos níveis plasmáticos da droga 80 60 40 20 0 dose • Não linear = a velocidade de eliminação é constante independentemente da quantidade de droga presente • Aumentos de dosagem aumentam a saturação dos locais de ligação e resulta em aumento/diminuição nãoproporcionais dos níveis da droga concentration Farmacocinética Não Linear 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 dose Cinética Michaelis-Menten 30 concentration • Segue uma cinética linear até as enzimas estarem saturadas • Enzimas responsáveis pelo metabolismo /eliminação tornam-se saturadas resultando em aumento não proporcional dos níveis da droga 25 20 15 10 5 0 dose phenytoin Populações de Doentes Especiais • Doença Renal: metabolismo hepático igual, volume de distribuição igual/aumentado e eliminação prolongada intervalo doses • Doença Hepática: eliminação renal igual, volume de distribuição igual/aumentado, velocidade de metabolismo enzimático mais lento dosagem, intervalo doses MEIA - VIDA • Não é um parâmetro farmacocinético primário, pois não pode der ligado apenas a um processo fisiológico. Ex: clearence (eliminação pelos órgãos) t½ = 0,693 t½ = 0,693 . Vd Kel Cl Kel – constante de eliminação Vd – volume de distribuição Cl – clearence total Equações utilizadas na farmacocinética dose única • Concentração plasmática a qualquer tempo após a administração C = S. F. D Vd (ng/ml, µg/ml, mg/ml) Equações utilizadas na farmacocinética dose única • Eliminação: Clearence total (depuração plasmática) ClT = S. F. D ClT = Vd . K AUCT (ml/min, ml/min/Kg) Equações utilizadas na farmacocinética dose única • Distribuição: volume aparente de distribuição Vd = S. F. D C (L, L/Kg) Vd = ClT K Equações utilizadas na farmacocinética dose única • Eliminação Renal Fel = Ae Fração absoluta (µg, mg) Dose Ae (quantidade excretada) = Conv. x volume urina ClR = Fel . ClT ClNR = ClT – ClR (ml/min) Princípios Farmacocinéticos • “Steady State”: a quantidade de droga administrada é igual à quantidade de droga eliminada dentro de um intervalo de doses, resultando num plateau ou nivel sérico da droga constante • Drogas com semi-vida curta atingem o “steady state” rapidamente; drogas com semi-vida longa demoram dias a semanas a atingir o “steady state” Referências Básicas - DE LUCIA R, OLIVEIRA-FILHO R.M, PLANETA C.S, GALLACI M, AVELLAR M.C.W. Farmacologia Integrada - 3a. ed. Revinter (RJ), 2007. - KATZUNG B.G: Farmacologia Básica e Clínica - 10a Ed. McGraw-Hill, Rio de Janeiro, 2007. -MINNEMAN,K.P.; WECKER, L.; LARNER, J.; BRODY, T.M. (edit) Brody- Farmacologia Humana, 3ªed. Elsevier, 2006. -RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.N.; MOORE, P.K. Farmacologia, 6ªed. Elsevier (2007). - BRUNTON, L.L.; LAZO, J.S.; PARKER, K.L. Goodman&Gilman’s As Bases Farmacológicas da Terapêutica, 11ª ed. Mac Graw Hill, 2006. - SILVA, P. Farmacologia, 7ª ed. Guanabara Koogan, 2006. -GOODMAN & GILMAN: As Bases Farmacológicas da Terapêutica, McGrawHill (NY), 2007 . 11° Edição, ed. Contatos: e-mail: [email protected] Site: www.doutormedicamentos.com.br Grato.