FUNÇÕES DE LINGUAGEM Por meio da linguagem, também realizamos diferentes ações: transmitimos informações, tentamos convencer o outro a fazer (ou dizer) algo, assumimos, ordenamos, pedimos, demonstramos sentimentos, construímos representações mentais sobre nosso mundo, enfim, pela linguagem organizamos nossa vida do dia a dia, em diferentes aspectos. • Diferenciar que objetivo predomina em cada situação de comunicação auxilia a compreender melhor o que foi dito. • As funções da linguagem estão centradas nos elementos da comunicação. Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, mas elas se apresentam hierarquizadas, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o destinador quer dar ou do efeito que quer causar no recebedor. As funções da linguagem são as seguintes: referencial, poética, emotiva, fática, conativa, metalinguística. Compare os dois textos a seguir: I. “Não só baseado na avaliação do guia da folha, mas também por iniciativa própria, assisti cinco vezes a “Um filme falado’’. Temia que a crítica brasileira condenasse o filme por não ser convencional, mas tive uma satisfação imensa quando li críticas unânimes na imprensa. Isso mostra que, apesar de tantos enlatados, a nossa crítica é a antenada com as coisas que acontecem no mundo. Fantástico! Parabéns, Sérgio Rizzo, seus textos nunca me decepcionam.’’ Luciano Duarte. Guia da Folha, 10 a 16 de junho 2005 II. ****UM FILME FALADO – Idem. França/Itália/Portugal, 2003. Direção: Manoel de Oliveira. Com: Leonor Silveira, John Malkovich, Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli e Irene Papas. Jovem professora de história embarca com a filha em um cruzeiro que vai de Lisboa a Bombaim. 96 min. 12 anos. Cinearte1, desde 14. Frei Caneca Unibanco Arteplex7, 13h, 15h10, 17h20, 19h30 e 21h50 Função emotiva No primeiro texto, o destinador usa alguns procedimentos que não aparecem no texto B, tais como, emprego de 1ª pessoa: assisti, temia , tive, li (eu), destaque para qualidades subjetivas por meio de recursos gráficos que indicam ênfase, como o ponto de exclamação (fantástico!). O efeito que resulta é o destaque para a subjetividade do emissor, sua adesão ao conteúdo que informa. Não é o fato, mas o ponto de vista do emissor que está em destaque, sua percepção dos acontecimentos. Nesse exemplo temos o enfoque no emissor e a função predominante nesse texto é a função emotiva ou expressiva. Função referencial No segundo texto, os outros procedimentos são colocados em destaque: uso da 3ª pessoa, explicitando no trecho: jovem professora de história (ela), ausência de adjetivos (a indicação de que o filme é bom aparece na na quantidade de estrelinhas, quatro indica muito bom), ausência de expressões que indicam a opinião do emissor, como eu acho, eu desejo, emprego de um conjunto de informações que diz a respeito a coisas do mundo real, tais como a exatidão dos horários, o endereço, os nomes próprios. Esse conjunto de informações dá ao destinador a impressão de objetividade, como se a informação traduzisse verdadeiramente o que acontece no mundo real. Nesse caso, a função predominante é a função referencial ou informativa. Função Conativa RESERVA CULTURAL Você nunca viu cinema assim. Não perca a retrospectiva especial de inauguração, com 50% de desconto, apresentando cinco filmes que foram sucesso de público. E, claro, de crítica também. Nesse texto, o destaque está no destinatário. Para isso o emissor se valeu de procedimento como o uso da 2ª pessoa (tu, ou, no caso do português brasileiro, você), o uso do imperativo (não perca). O resultado é a interação com o destinatário procurando convencê-lo a realizar uma ação: ir ao espaço cultural. Espera-se como resposta que o destinatário realiza a ação. Os textos publicitários em geral procuram convencer ou persuadir o destinatário a dar uma resposta, que pode ser a mudança de comportamento, de hábitos, como abrir conta em banco, frequentar determinados tipos de lugares ou consumir determinado produto. Nesse tipo de texto, o foco está no destinatário e o predomínio é da função conativa ou apelativa. Função fática Em um outro tipo de situação muito comum na conversação cotidiana, o emissor usa procedimentos para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor, como em alô!, ao iniciar uma conversa telefônica, ou fórmulas prontas para dar continuidade á conversa como em ahan, uh, bem, como?, pois é ou em está me ouvindo?, para retomar o contato telefônico. Esse tipo de mensagem que serve para manter o contato, para sustentar ou “encompridar’’ ou interromper a conversa põe em destaque o canal de comunicação tem como função predominante a função fática. Função metalinguística Já outros textos que têm como objetivo falar da própria linguagem, como em o que você está querendo dizer?... Ou em que o emissor quer precisar, esclarecer, o que está dizendo, como em eu quis dizer... bem... Quero dizer que essa palavra poderia ser substituída por outra mais precisa, que desse a entender que... Nesse exemplo, o predomínio da mensagem é da função metalinguística. Fazemos uso de metalinguagem, ao preencher um exercício de palavras cruzadas ou consultar um dicionário. Nessas situações, estamos nos atendo ao próprio código, isto é, estamos usando a linguagem (o código) para falar, explicar, descrever o próprio código linguístico. Função poética Tecendo a manhã João Cabral de Melo Neto Um galo sozinho não tece uma manhã: Ele precisará sempre se outros galos. De um que apanhe esse grito que ele E o lance a outro; de um outro galo Que apanhe o grito que um galo antes E o lance a outro; e de outros galos Que com muitos outros galos se cruzem Os fios de sol de seus gritos de galo, Para que a manhã, desde uma tela tênue, Se vá tecendo, entre todos os galos. No texto a função linguística está centra na própria mensagem, como se o conteúdo fosse transparente, a mensagem chama a atenção para o lado material do signo, como a sonoridade (veja a repetição da vogal a e dos sons nasais), a estrutura, o ritmo. Observe que há rupturas no modo como a frase normal se organizaria ( 3ª verso: esse grito que ele/ 4º verso: e o lance a outro...) Experimente fazer a seguinte leitura: 2º verso termina com galos, 4º verso começa com e o lance a outro, 4º verso termina com galo, 6º verso começa com e o lance a outro, 7º verso termina com cruzem, 9º verso começa com para que a manhã. É possível perceber a teia se tecendo, nas próprias palavras? O efeito é de estranhamento, de novidade, pela exploração dos vários elementos do signo. É importante lembrar que, embora a função poética, esteja mais presente na poesia, não é exclusivamente da literatura. A linguagem da publicidade explora os recursos dos signos, construindo novos sentidos ao romper com o modo tradicional como vemos as palavras. EXERCÍCIO 1. A partir dos textos a seguir, reconheça as funções da linguagem PREDOMINANTE em cada um deles: a) "O risco maior que as instituições republicanas hoje correm não é o de se romperem, ou serem rompidas, mas o de não funcionarem e de desmoralizarem de vez, paralisadas pela sem-vergonhice, pelo hábito covarde de acomodação e da complacência. Diante do povo, diante do mundo e diante de nós mesmos, o que é preciso agora é fazer funcionar corajosamente as instituições para lhes devolver a credibilidade desgastada. O que é preciso (e já não há como voltar atrás sem avacalhar e emporcalhar ainda mais o conceito que o Brasil faz de si mesmo) é apurar tudo o que houver a ser apurado, doa a quem doer." (O Estado de São Paulo) b) O verbo infinitivo Ser criado, gerar-se, transformar O amor em carne e a carne em amor; nascer Respirar, e chorar, e adormecer E se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e despertar Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir E começar a amar e então ouvir E então sorrir para poder chorar. E crescer, e saber, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror De ser e amar, e se sentir maldito E esquecer tudo ao vir um novo amor E viver esse amor até morrer E ir conjugar o verbo no infinito... (Vinícius de Morais) c) "Para fins de linguagem a humanidade se serve, desde os tempos pré-históricos, de sons a que se dá o nome genérico de voz, determinados pela corrente de ar expelida dos pulmões no fenômeno vital da respiração, quando, de uma ou outra maneira, é modificada no seu trajeto até a parte exterior da boca." (Matoso Câmara Jr.) d) " - Que coisa, né? - É. Puxa vida! - Ora, droga! - Bolas! - Que troço! - Coisa de louco! - É!" e) "Fique afinado com seu tempo. Mude para Col. Ultra Lights." f) "Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me anunciasse qualquer acontecimento extraordinário. Aquele silêncio, aqueles rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão? Findei a tarefa, erguime, desci os degraus e fui espalhar no quintal os fios da gravata. Seria tudo ilusão?... Estava doente, ia piorar, e isto me alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento embaralharse longe daquelas porcarias. Senti uma sede horrível... Quis ver-me no espelho. Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos transeuntes." (Graciliano Ramos) g) " - Que quer dizer pitosga? - Pitosga significa míope. - E o que é míope? - Míope é o que vê pouco." 02. No texto abaixo, identifique as funções da linguagem: "Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro da Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora de moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno." (Machado de Assis) 03. Descubra, nos textos a seguir, as funções de linguagem: a) "O homem letrado e a criança eletrônica não mais têm linguagem comum." (Rose-Marie Muraro) b) "O discurso comporta duas partes, pois necessariamente importa indicar o assunto de que se trata, e em seguida a demonstração. (...) A primeira destas operações é a exposição; a segunda, a prova." (Aristóteles) c) "Amigo Americano é um filme que conta a história de um casal que vive feliz com o seu filho até o dia em que o marido suspeita estar sofrendo de câncer." d) "Se um dia você for embora Ria se teu coração pedir Chore se teu coração mandar.“ (Danilo Caymmi & Ana Terra) e) "Olá, como vai? Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo em pegar um lugar no futuro e você? Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo...” (Paulinho da Viola) 04. Qual a função da linguagem comum às duas historinhas? • http://portuguesxconcursos.blogspot.co m.br/p/funcoes-linguagemportuguesa.html • http://www.youtube.com/watch?v=q9M PfO6yQqs • http://www.youtube.com/watch?v=iPVUfNchTIw