Tratamento abortivo das dores de cabeça: o que fazer e o que não fazer Prof. Dr. Jose G Speciali ([email protected]) Professor Senior de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) O que fazer? • Analisar presença de “red flags” • Investigar se necessário • Tratar a cefaleia Alertas em Cefaleia DADOS NA HISTÓRIA ALERTAS Idade Cefaléias secundárias na terceira idade Modo e circunstâncias de instalação e evolução A primeira cefaléia Mudança de padrão em relação às crises anteriores Mudança de padrão da aura ou aura atípica Início súbito e/ou recente Desencadeada por esforço físico e atividade sexual Evolução progressiva Piora com a postura Intensidade (usar escala analógica e visual) A pior cefaléia Sintomas associados Antecedentes Febre Náuseas e vômitos Sintomas neurológicos focais Distúrbio da consciência Descarga nasal purulenta Queixas visuais História de câncer, SIDA, trauma, glaucoma e outras doenças sistêmicas Alertas em Cefaleia EXAME FÍSICO ALERTAS Pressão arterial Elevação súbita (acima de 25%) da PA Temperatura Febre Percussão Palpação do crânio Seios da face Presença de pontos dolorosos (seios da face) Arterias temporais superficiais Ausculta Arterias carótida e globo ocular Otoscopia Alertas em Cefaleia EXAME NEUROLÓGICO ALERTAS Consciência Alteração Nervos cranianos Edema de papila, distúrbio da motricidade ocular, anisocoria. Paralisia facial. Motricidade Sensibilidade Sinas focais Coordenação Reflexos Assimetrias, sinal de Babinski Pesquisa de sinais meníngeos Rigidez de nuca e outros sinais meníngeos Alertas em Cefaleia Pacientes com baixo risco para cefaleia secundária • Jovem • • • • • Com cefaleia pregressa e/ou história familiar Alerta, orientado, com capacidade de deambular Exame neurológico repetidamente normal Sem febre Sem qualquer evidência de irritação meníngea Alertas em Cefaleia Pacientes com elevado risco para cefaleia secundária • Papiledema • Alteração da consciência e/ou orientação • Sinais neurológicos focais • Sinal de Babinski mesmo que duvidoso PS : Tomografia computadorizada craniana normal não exclui pequenas hemorragias subaracnoideas e meningites Tratamento da Crise de Migrânea • Aura - Depressão alastrante de Leão (Leão, J. Neurophysiol. 1944; 7 : 359-90) CEFALEIA Moskowitz (1988) Migrânea - Tratamento da crise Fármaco Eficácia Efeitos colaterais Evidência AAS ++ ++ I Paracetamol ++ + I Dipirona ++ + II ++/+++ ++ I Ergóticos +++ ++/+++ III Triptanos +++/++++ + I AINEs Tratamento da Migrânea Da crise • • • • Pródromo = metoclopramida + AINEs Aura = domperidona/metoclopramida + AINEs Cefaleia = específicos/não-específicos Náuseas e/ou vômitos = metoclopramida, neurolépticos CRISES FRACAS OU MODERADAS Consenso Brasileiro para o Tratamento da Crise Migranosa • Nas crises fracas e moderadas: repouso em quarto escuro, evitar barulho e, se possível, conciliar o sono, bolsas de gelo e/ou compressão das artérias temporais • Quando não cedem com as medidas gerais ou o paciente está em atividade – analgésicos comuns ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Consenso Brasileiro para o Tratamento da Crise Enxaquecosa • Se sintomas de náusea ou vômito estão associados, recomenda-se o uso de: – metoclopramida ou domperidona CRISES FORTES Consenso Brasileiro para o Tratamento da Crise Enxaquecosa • Se sintomas de náusea ou vômito estão associados á crise de dor, recomenda-se o uso de metoclopramida ou domperidona antes de surgirem esses sintomas • Nos adultos, nas crises fortes, recomenda-se o uso de triptanos, indometacina, AINEs ou clorpromazina. Tratamento da Crise Antes da Dor • No pródromo: metoclopramida + triptano + AINEs de vida média longa • Na aura: metoclopramida + AINEs de vida média/longa (lamotrigina?) • Na cefaleia: tratar enquanto a dor estiver fraca o moderada Tratamento da Migrânea Os triptanos • Sumatriptano, VO, Nasal, SC • Zolmitriptano VO, RPD • Naratriptano VO Tratamento da Migrânea Ergóticos (VO, Nasal) • Tartarato de Ergotamina • Dihidergotamina Sumatriptan vs Cafergot % Patients with relief 100 80 * * * 60 40 20 0 Attack 1 Attack 2 Sumatriptan Attack 3 Cafergot * p<0.05 The Multinational Oral Sumatriptan and Cafergot Comparative Study Group. A randomized, double-blind comparison of sumatriptan and cafergot in the acute treatment of migraine. Eur Neurol 1991;31:314-322. O mais importante no tratamento da crise é tratá-la no início Quanto antes melhor o resultado Cefaléia do tipo tensional • Tratamento não farmacológico farmacológico abortivo - analgésicos simples profilático - antidepressivos tricíclicos ISRS Curr Opin Neurol 2006;19:305-309 Cefaleia Tipo Tensional Tratamento • Fatores desencadeantes • Excesso de medicamentos • Comorbidades: identificar e tratar Cefaleia Tipo Tensional Tratamento • Fatores desencadeantes mais relatados: - Estresse - Refeições irregulares ou inapropriadas - Aumento da ingesta de café - Desidratação - Desordens do sono - Falta de exercício físico - Variações durante ciclo menstrual Ulrich B, Russel MB, Jensen R, et al. A comparision of tension-type headache in migraneurs and in non-migraneurs: a population based study. Pain 1996; 67(2-3): 501-6. Cefaleia Tipo Tensional Terapia Farmacológica Aguda • Relaxantes musculares não estão indicados. • Combinações de analgésicos deve ser evitada: risco de dependência, abuso e cronificação. • Evitar uso de analgésicos simples >14 dias combinados com cafeína > 9 dias Terapia Farmacológica Aguda Droga Via Dose Aspirina Oral 500-1000mg Paracetamol Oral 750-1000mg Dipirona Oral 500-1000mg Endovenosa 1000mg Ibuprofeno Oral 400-800mg Cetoprofeno Oral 50mg Naproxeno sódico Oral 375-825mg Diclofenaco potássico Oral 12,5-50mg Cefaléia em salvas • dor intensa • unilateral • 15 a 180 min • 2 a 8 crises/dia • sinais/sintomas autonômicos • exame neurológico normal Cefaléia em salvas PET durante crise de cefaléia em salvas (May et al, Lancet, July, 1998) Cefaléia em salvas • Tratamento da crise O2 Triptanos SC profilático Verapamil Corticosteróides Valproato, Topiramato Lítio Ergóticos Bloqueio do Nervo Occipital Maior na Cefaleia em Salvas Bloqueio de NOM com Lidocaina 1% (3 ml) e triamcinolone 40 mg, injetados no NOM ipsilateral à dor, com ou sem sensibilidade. Bons resultados • Ambrosini et al. avaliaram o efeito do bloqueio do NOM com lidocaína associada ou NÃO com corticosteroide na CS – Pacientes receberam a lidocaína ou mistura de betametasona de curta+longa ação (2ml) e lidocaina (2%, 0,5ml) – A cefaleia da CS desapareceu em até 72 horas por 4 semanas em 61% dos que receberam a associação de anestésico + corticosteroide e em nenhum dos tratados com lidocaína – Dolorimento no NOM previu melhora em CS mas o grau de anestesia cutânea pós procedimento não. – Uso abusivo de medicação sintomática triplica o risco de não haver resposta ao bloqueio do NOM Peres, MFP et col Greater occipital nerve blockade for cluster headache. Cephalalgia 2002, 22: 520–522). Ambrosini A, Vandenheede M, Rossi P, et al.: Suboccipital injection with a mixture of rapid- and long-acting steroids in cluster headache: a double-blind placebo-controlled study. Pain 2005, 118:92–96. O que não fazer no tratamento das cefaleias USO OPIÓIDES Eficácia dos abortivos • Meperidina, tramadol e nalbuphine são superiores ao placebo • Droperidol, sumatriptana, proclorperazina são muito eficazes em 77-82% • Dihydroergotamina (DHE) em 67% e clorpromazina em 65% • Ketorolaco e Meperidina em 60% e 58% respectivamente • Adicionalmente alguns pacientes podem não responder aos opióides • 17% dos que respondem aos opióides usam essas drogas regularmente. São 7 vezes mais deprimidos e têm elevado nível de limitação de atividades e visitam a UE 9X mais que os que não se utilizam de opióides Kelly, NE, Tepper, DE. Rescue meds for Acute Migraine, part 3: Opiods, NSAIDs, steroids, and post-discharge medicatons. Headache 2012, 52:467-482. Buse, D, Pearlman, SH, Reed, ML, et al. Opioid use and dependence among persons with migraine: Results of the AMPP study. Headache 2012, 52:18-36 Bigal M et al Headache2008;48:1157-1168) Conclusão • Migrânea Episódica desenvolve Cefaleia Crônica Diária a uma taxa de 2.5% por ano • Uso de barbiturato e opióides associa-se com um aumento de risco • Triptanas não aumenta esse risco • NSAIDs possuem efeito protetor contra essa transformação quando a frequência das crises é baixa (< 10/mês) Tratamento agudo da Migrânea com Alodinia Uso de opióide Jakubowski M et al. Headache2005;45:850-861 CONCLUSÕES • Migrânea: – Tratar no inicio da crise – pródromos – Associar Triptanas + AINEs – Evitar alodinia – Preferir associação de medicamentos • Cefaleia tipo tensional: – Tratamento não medicamentoso/analgésicos • Cefaleia em Salvas – Sumatriptana SC – O2 10 litros/minuto (máscara, reservatório) – Bloqueio n Occipital Maior