Analisando o carácter simbólico desta obra, (Guernica, pintada por Pablo Picasso em 1937) devemos começar pelo nível de realidade que esta possui. Para começar, é indispensável estabelecer as relações existentes entre cada um dos elementos figurativos da obra. Deste modo e para a compreensão profunda deste ponto, é necessário haver uma valorização da natureza espacial e da temporalidade da imagem. O “Plano” de Guernica é provavelmente a característica mais assinalável e isto é o que dá força à obra. Um dos poucos antecedentes iconográficos que se relacionam com Guernica é a pintura chamada os “Horrores da Guerra”, obra de Paul Rubens (1637-38). Aqui, existem alguns aspectos comuns, começando pelo título e continuando com uma mulher que ergue os seus braços ao céu em sinal de grande dor. No entanto, existem mais paralelismos entre as duas obras do que realidades propriamente ditas. Guernica possui uma clara estrutura narrativa devido à ordem espacial interna, que se organiza em três segmentos espaciais a modo de tríptico, sendo que o espaço central está dividido ao meio como eixo de simetria do suporte. Os elementos morfológicos básicos são: linha, plano e textura que junto com o carácter monocromático em preto e suas variações, organizam a luminosidade, o ritmo, o contraste e toda a sintaxe visual da pintura. Outro elemento imprescindível é a compreensão do reportório dos elementos plásticos, para podermos estabelecer quais dos elementos têm um carácter dominante e assim poder estabelecer a hierarquização destes. A cor propriamente dita, não existe em Guernica, mas as suas funções plásticas são fundamentais na sua composição, muito elaborada neste domínio é a variada escala de cores escuras que constitui esta obra. Uma outra característica desta obra é a grande dinâmica, dinâmica esta que provoca tensão e ritmo. A obra possui uma iconografia uniforme. A iconografia de Guernica é do tipo singular, pois está modelizada e portanto não corresponde a uma cópia do real. Por outro lado, a pintura não é um manifesto político, pois não há inimigos, somente destruição e brutalidade cega que fala de sofrimento e esperança. As quatro mulheres, a mãe e a mulher que cai na parte direita da imagem, possuem uma grande identidade fisionómica, inclusive esta uniformidade encontra-se em detalhes secundários, os olhos constituem um outro tipo de variação formal. Os olhos no touro e no soldado são semelhantes à grande lâmpada situada na parte superior da obra, os olhos da mulher são figurativos, assim como os do cavalo em que ambos são circulares. Por fim, temos os olhos da mãe em forma de lágrima. É curioso observar que este último tipo de olhos possui a mesma forma das pétalas da flor que empunhava o soldado caído. A mulher portadora da candeia é a única que mantém uma espécie de realismo. Outro elemento importante é o cabelo das personagens, este encontra-se caído nas mulheres, excepto na mulher portadora da candeia. As personagens masculinas, a criança e o soldado, ambos mortos, aparecem sem cabelo. Outro elemento que encontramos em Guernica é o reportório figurativo, este é composto por três categorias: - Humano, mulheres, homem e criança; - O animal, o cavalo, o touro e a pomba; - O objectual, a casa em chamas e as duas janelas. Personagens Atitudes Touro Erguido à esquerda para a frente Valor, orgulho Mão Erguida para cima Estabilidade Criança Para baixo Súplica Soldado Horizontal, para o alto Morte Ave Para cima Destruição Cavalo Erguido para a esquerda Lamentação, ascensão Mulher portadora da luz Para a esquerda Agonia Fugitiva Diagonal para a esquerda e para Ingenuidade, busca por algo cima Para cima e para baixo em Ansiedade, busca, pânico diagonal súplica Mulher que cai Sentimento A Pintura "Guernica" pode ser sintetizada: Num primeiro nível como uma narrativa de qualidade, isto é, um ícone. Ela transmite algo do exterior, porém, fá-lo de forma muito ambígua. Só podemos ter acesso ao acontecimento real através da pintura. A pintura como ícone não coloca a veracidade dos factos, pois não é representada por verosimilitude e sim por semelhança. Ela não nos informa a respeito dos factos históricos, pois não é um índice desses factos. A arte não é um documento. Como segundo nível, a pintura é algo que representa um imenso diálogo cinestésico. A pintura pode ser sintetizada como representação da contradição antagónica Vida/Morte. Por fim, como terceiro nível a pintura só se completa na sua leitura ou visualização já que envolve três sujeitos cooperativos: a pintura, o acontecimento real e os significados que ela promove numa mente. Os significados que Guernica produziu em 55 anos de existência são caracterizados pelo grande investimento ideológico dos espectadores. É um símbolo que coloca uma pergunta sem resposta: porquê? Esta parece ser a pergunta que as personagens dirigem ao touro. Guernica simboliza a luta do homem contra a opressão, o irracional e o acto bárbaro; em abstracto. Em resumo, é uma correlação de pesos visuais que fazem desta obra uma composição dinâmica, sólida, berço da sua própria estrutura. Rubens y Picasso: Matanzas de Santos Inocentes: Por JAVIER GONZÁLEZ DE DURANA Julio Plaza. Modelo de Análise Semiótica: www.neoreader.com.br/item/doc/296/pdf Guernica de Pablo Picasso: uma obra assombrosa sobre a violência: Por André Raboni André Sá nº 8031 António Regadas nº 8012 Hugo Neves nº 8126 Tomas Araújo nº 8058