Thooong… thooong… thooong… O velho relógio da oficina da Pai Natal soava onze fortes badaladas, no dia vinte e quatro de dezembro do ano mais frio de que havia lembrança. O Pai Natal, os duendes e demais ajudantes rodopiavam pela oficina em grande alvoroço para que a entrega dos presentes decorresse como ditava a tradição. Já só faltava uma hora para que todos os pedidos das crianças chegassem às botinhas vermelhas, penduradas em cada uma das lareiras, das casas mais ricas às mais pobres, dos países mais ocidentais aos mais orientais. Quando a força do relógio deixou de se ouvir, uma voz levantou-se, lembrando: -“Temos de sair daqui, Pai Natal. Se daqui a uma hora todas as crianças não tiverem os seus tão desejados brinquedos, o Natal fica arruinado!”. Estava instalada a confusão! Mal o Pai Natal ouviu aquela recomendação, foi a correr abrir as pesadas portas do celeiro das renas e dar-lhes o pó mágico para que, finalmente, começasse a tão esperada entrega. A viagem começou então sem sobressaltos e instalava-se agora um clima de dever cumprido e de serenidade. Mas, o que o Pai Natal não esperava, era que o duende responsável pela preparação da bebida de pó mágico se tivesse esquecido de encher o frasco com essa poção! Assim, como só restava um pouco de pó do ano anterior, as renas não conseguiriam voar muito mais do que dois quilómetros! Com o “combustível” prestes a acabar, e a menos de quarenta e cinco minutos para as doze badaladas, as renas, assustadas, abrandaram o ritmo, começaram a estremecer e precipitaram-se em queda, mesmo por cima do grande Mar de Kara, no oceano Ártico. Apavorado, o Pai Natal disse: - O que é que se está a passar? Eu não acredito que o duende Abel não reforçou o alimento das renas com o pó mágico! E agora?! Vamos caiiiiiiiiiir!!! Mal o Pai Natal acabou de proferir aquele grito, o trenó caiu no mar. E agora, como é que o Pai Natal iria entregar os presentes? Os duendes, já bem descansados, na fábrica, aperceberam-se que se passava algo de muito insólito, pois no radar de controlo do trenó, viram uma queda livre que não constava do percurso habitual. Confirmada a tragédia, os duendes começaram de imediato a pensar numa forma de salvar o Pai Natal e com ele o sonho de todas as crianças do mundo. Rogério, que era o duende responsável pela lista de brinquedos, começou de imediato a barafustar: - E agora? Os brinquedos estão destruídos! O que é que vamos dar às crianças? O que vai ser do Natal? O duende Abel, consciente da sua responsabilidade, disse num tom de humildade e arrependimento: - A culpa de tudo isto é minha! Só minha! Como pude esquecer-me de verificar o pó mágico? É imperdoável! Temos de salvar o Pai Natal, as renas, os presentes, o Natal!... Ouvindo as palavras de desespero de Abel, os duendes, ainda que um pouco zangados, foram rapidamente preparar a estratégia para a operação “Salvamento do Pai Natal”. Todos vestiram os seus fatos de mergulho, prepararam um trenó aquático e lançaram-se oficina fora para irem ter com o Pai Natal. À chegada, depararam-se com um gigantesco mar, cuja cor lembrava a prata mais pura que alguma vez tinham vislumbrado. Contudo, entre o reflexo e a escuridão era praticamente impossível localizar o Pai Natal. Subitamente, lembraram-se que podiam acionar o alarme luminoso do trenó do Pai Natal. Se o disseram, mais depressa o fizeram! E eis que, no meio da imensidade daquele mar gélido, surge o Pai Natal em cima do trenó, rodeado por todos os presentes completamente irrecuperáveis. Já a salvo, o Pai Natal só pensava no que se iria passar a seguir. Como poderiam salvar o Natal se todos os presentes se tinham perdido? Ademais, o tempo estava contra eles: faltavam apenas quinze minutos para a meia-noite, momento-chave para as crianças irradiarem alegria aquando da abertura dos presentes! Os duendes e o Pai Natal engendravam um plano de atuação. Foi assim que, inspirados pelo mar de prata, lhes ocorreu a solução: -“E se deixássemos uma verdadeira mensagem de Natal às crianças?” – perguntou Abel, num tom de esperança. Todos pareciam concordar. Assim, sem mais demoras, escreveram no céu a seguinte mensagem na língua das crianças: -“Queridos meninos, este ano o Natal será muito especial. Desta vez não haverá brinquedos. Peço-vos, no entanto, que quando soar a meia-noite, deem a mão a uma pessoa especial e, pela janela, fitem o céu. Convido-vos a ver o esplendor do mar espelhado no céu!” Ao ler aquelas surpreendentes palavras, as crianças ficaram em grande expectativa e correram para a janela, na companhia da sua pessoa eleita. O céu testemunhou o mais belo espetáculo de Natal: o pai Natal, num ponto bem alto do céu, mesmo em frente à lua, vazou os pós mágicos que deveriam ter sido dados às renas. Esse brilho, que não era mais do que a luz que a lua refletia, fundiu-se com o brilho do mar e, como por magia de Natal, tudo se iluminou, até os sítios mais profundos e sombrios do Planeta. As crianças não cabiam em si de tanto fascínio e perceberam que a companhia dos seus familiares poderia ser a verdadeira essência de Natal, pois aquele espetáculo não era mais do que aquilo que todos os dias temos para ver: a Natureza na sua plenitude. 8ºF