Há muitas personagens importantes na Bíblia que costumamos chamar de “patriarcas e matriarcas” ou “pais e mães”. São homens e mulheres que nos deixaram algum exemplo de fidelidade a Deus, de amor ao próximo e de compromisso com a comunidade. Normalmente são lembrados homens, mas há também muitas mulheres que desempenharam papel importante junto ao povo de Deus. São seminômades que acampavam em tendas e vagueavam à procura de pastagens para seus rebanhos. As narrativas patriarcais (Gênesis, capítulos 12 a 50) de Abraão, Isaac, Jacó e seus filhos formam como que o “prólogo da história de Israel” ou, mais precisamente, a “pré-história de Israel”. Abrange um período anterior à formação do povo de Israel, antes de tomar posse de Canaã, ou seja, antes que começasse a viver como povo na Palestina. O autor descreve, nessa pré-história, as memórias da história tribal mais antiga. Em certo sentido, a ordem de Deus para Abrão foi muito específica. Foi dito a Abrão, em detalhes, o que ele deveria deixar prá trás. Deveria deixar sua terra, seus parentes e a casa de seu pai. Deus iria fazer uma nova nação, não simplesmente revisar alguma já existente. Pouco da cultura, religião ou filosofia do povo de Ur deveria fazer parte daquilo que Deus planejou fazer com Seu povo, Israel. Por outro lado, a ordem de Deus foi deliberadamente vaga. Enquanto aquilo que devia ser deixado prá trás era muito claro, aquilo que estava à frente era angustiantemente desprovido de detalhes “... para a terra que eu te mostrarei.” (não sabia para onde iria Heb. 11,8). A ordem de Deus a Abrão é, com efeito, uma reversão daquilo que o homem tentou fazer em Babel. Abrão estava seguro e confortável em Ur, uma grande cidade. Deus o chamou para deixar aquela cidade e trocar sua casa por um tenda. Deus prometeu a Abrão um grande nome (aquilo que as pessoas de Babel procuravam, 11:4) por sair de Ur, deixando a segurança de sua parentela, e confiando somente em Deus. Quão diferentes são os caminhos do homem dos caminhos de Deus! Tecnicamente, a aliança com Abrão não está no capítulo 12, mas nos capítulos 15 (verso 18) e 17 (versos, 2, 4, 7, 9, 10, 11, 13, 14, 19, 21), onde aparece a palavra aliança. É lá que seus detalhes específicos são pronunciados. As três promessas principais estão contidas nos versos 2 e 3: terra, descendência e bênção. A terra, como já dissemos, está implícita no verso 1. Na época do chamado de Abrão, ele não sabia onde era esta terra. Em Siquém Deus prometeu lhe dar “esta terra” (12:7). Até o capítulo 15 não havia uma descrição completa da terra que seria dada: “Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates...” (Gênesis 15:18) Esta terra jamais pertenceu a Abrão em vida, conforme Deus mesmo dissera (15:13-16). Quando Sara morreu, ele teve que comprar um pedaço de terra para sua sepultura (23:3 e ss). A segunda promessa da aliança Abraâmica era que uma grande nação viria de Abrão. Já mencionamos a importância do Salmo 127 com relação aos esforços do homem em Babel. Bênçãos verdadeiras não vêm do trabalho árduo e torturantes horas de labor, mas do fruto da intimidade, chamado filhos. A bênção de Abraão deveria ser vista mais amplamente em seus descendentes. Eis aqui a base para o “grande nome” que Deus daria a Abrão. Esta promessa exigia fé por parte de Abrão, pois era óbvio que ele já era idoso, e que Sarai, sua esposa, era incapaz de ter filhos (11:30). Passar-se-iam muitos anos antes que Abrão entendesse inteiramente que este herdeiro que Deus prometera viria da união dele com Sarai. A última promessa era a bênção - bênção para ele, e bênção através dele. Muitas das bênçãos de Abrão viriam na forma de sua descendência, mas havia também a bênção que viria através do Messias, que traria salvação ao povo de Deus. Sobre esta esperança, nosso Senhor disse: “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijouse.” (João 8:56)