O FILHO ETERNO
Prof. Karen Neves Olivan
O FILHO ETERNO
Escola Literária: Literatura contemporânea
Ano de publicação: 2007
Gênero: Romance
Temas:  preconceito;
 Síndrome de Down;
 superação das diferenças;
 relação entre pais e filhos.
Estrutura: 25 capítulos não numerados
Narração: 1ª (pai) e 3ª pessoas
Espaço: variado  Curitiba
Tempo: eterno
O FILHO ETERNO
 Texto escancaradamente autobiográfico.
 Como o protagonista de seu romance, o autor tem um filho
com síndrome de Down.
 O livro é uma espécie de acerto de contas do escritor com seu
filho.
 Alguns literários tentaram classificar esta obra como
memorialista, Tezza prefere a classificação de romance: a
narração.
O FILHO ETERNO
 A obra traz a reflexão sobre a necessidade e a importância da
ação do tempo para operar o ciclo da aturação /
amadurecimento.
 Dicotomia: narrador X autor, sujeito real X personagem,
escritor X protagonista.
 Tentativa constante de separar o homem que escreve da ficção
que ele escreve.
O FILHO ETERNO
 Narrativa ficcional, apesar das relações vida e obra,
autobiografia e ficcionalidade.
 A ficção não pode – e não consegue - se abdicar da realidade
para entrar nos labirintos da subjetividade.
 A obra se inicia com epígrafes:
1ª - Thomas Bernhard - conflito entre o desejo pela
descrição fiel da verdade e o resultado dessa descrição.
2ª - S. Kierkegaard - reflexão entre pai e filho  tema do
livro.
O FILHO ETERNO
 Temática: o calvário e as amarras de um jovem escritor ao
receber a notícia de que seu primeiro filho é portador da
Síndrome de Down e o caminho que aquele faz até sua liberta
aceitação.
 O próprio Tezza, na epígrafe, esclarece que o romance tem
como ponto de partida suas memórias.
 História baseada em fatos reais: relacionamento de pai e
filho.
 Cristóvão Tezza é corajoso, pois expõe sua família e sua
intimidade.
 Já na orelha do livro, ficamos sabendo que este relacionamento
é de várias dificuldades e de poucas, mas saborosas, vitórias.
O FILHO ETERNO
 Personagens: Felipe, o pai, a mulher, a mãe, a filha, a irmã 
apenas o filho tem nome.
 Neste romance, acompanhamos a trajetória do pai e, a partir
de sua história, a trajetória do filho.
 O treinamento neurológico nos primeiros anos de vida do
filho é contrastado com o 'treinamento' do pai em relação às
tentativas de publicar seus livros e as recusas das editoras:
Eu também estou em treinamento, ele pensa, lembrando mais uma recusa
de editora. A vida real começa a puxá-lo com violência para o chão, e ele
ri imaginando-se no lugar do filho, coordenando braços e pernas para ficar
em pé no mundo com um pouco mais de segurança (p. 130).
O FILHO ETERNO
 O pai percebe o crescimento e o desenvolvimento do filho a
partir das representações de papéis sociais que o filho se
esforça em cumprir.
 Mas também percebe a alegria que a rotina traz e a
tranquilidade conquistada com papéis sociais como "o
professor universitário" e "o escritor" o trazem.
 "O pai começa a descobrir sinais de maturidade no seu Peter Pan e eles
existem, mas sempre como representação" (p. 218).
 Pai e filho têm papéis sociais a cumprir – o pai nota isso.
O FILHO ETERNO
 O pai percebe que o MIMETISMO social no filho é
semelhante aos papéis sociais que precisa cumprir na
universidade, na família, na escola do filho, no campeonato de
natação e na apresentação de teatro do filho.
 A dificuldade do pai é tão grande quanto a dificuldade do filho.
 A criança que vive eternamente no presente aprende a
responder ao que é solicitado dela socialmente.
 O pai – considerado pelo próprio Tezza como provisório até
este momento do livro – também só pensava em viver o
presente, mas aprende  notem o escritor por trás da
narrativa.
O FILHO ETERNO
 Tezza narras episódios na vida do pai e do filho, mas quem
avalia e reflete é o leitor.
 A narrativa constrói a vida das personagens centrais: painarrador-escritor e filho-personagem-narrado.
 Há uma PARTOGÊNESE significativa que envolve o
nascimento e a criação do filho e desloca-se para o nascimento
do escritor e o ato da escritura.
O FILHO ETERNO
 PARTOGÊNESE (referência ao templo Partenon, da deusa
Atena) refere-se ao crescimento e desenvolvimento de um
embrião sem fertilização  reprodução assexuada.
 Fêmeas “independentes”  procriam sem precisar de
machos que as fecundem.
 Ainda que haja a intervenção de um gameta feminino, o que se
tem é uma reprodução assexuada, que ocorre por sucessivas
mitoses de um só gameta.
O FILHO ETERNO
 Atualmente, a biologia evolutiva prefere utilizar o termo
TELITOQUIA, por considerá-lo menos abrangente que o
termo PARTOGÊNESE.
 A partenogênese ocorre naturalmente em plantas
agamospérmicas, invertebrados e alguns vertebrados.
 Esta alternância pode surgir por pressão ambiental e
denomina-se HETEROGAMIA.
O FILHO ETERNO
 Palavras do próprio autor: “romance
autobiográfico”.
 O livro não possui o caráter de confissão.
brutalmente
 Ao escrever em 3ª pessoa, Tezza transforma o romance
autobiográfico em ficção.
 Exceto pai e filho, as personagens são secundárias, inclusive a
mãe, que apesar de ser a primeira personagem apresentada pelo
narrador através de sua própria fala “- Acho que é hoje – ela
disse.” (pág. 9), é pouco mencionada durante a obra.
O FILHO ETERNO
 Em “O filho eterno” é a paternidade que ganha ênfase.
 O romance abre com a esposa anunciando ao pai a chegada
iminente do filho, ao mesmo tempo em que constrói a figura
do pai-narrador como “Alguém provisório, talvez; alguém
que, aos 28 anos, ainda não começou a viver. [...] ele não
tem nada, e não é ainda exatamente nada”. (p. 9). É um
“filhote retardatário dos anos 70”, que se vê como um poeta
cafona, gorado em sua profissão, sustentado pela esposa que
sobrevive de aulas particulares e revisões textuais de “teses e
dissertações de mestrado sobre qualquer tema” (p. 12).
O FILHO ETERNO
 O Pai tem 28 anos, bebe, fuma muito, é personagem
introvertido, ansioso e tem dificuldades para demonstrar seus
sentimentos.
 O pai vê a solidão como um projeto de vida e, assim,
demonstra sua aversão à sociedade.
 A literatura é a fuga da realidade.
O FILHO ETERNO
 Felipe é apresentado pelo narrador pelas características de um
portador de Síndrome de Down: “... algumas características...
sinais importantes...vamos descrever: Observem os olhos, que tem as
pregas nos cantos, e a pálpebra oblíqua...o dedo mindinho das mãos,
arqueado para dentro...achatamento da parte posterior do crânio...a
hipotonia muscular...a baixa implantação da orelha e...” (pág. 30).
 Segundo o pai: “é uma pedra silenciosa no meio do caminho”
(pág. 112).
O FILHO ETERNO
 O narrador invade os pensamentos do pai testemunhando
todos os acontecimentos de sua vida, de forma invisível está
presente em todos os cenários da narrativa, assim expõem ao
leitor, os sentimentos, as emoções e as aflições de criar um
filho com necessidades especiais em uma época que pouco se
sabia sobre a Síndrome.
 No 1º capítulo, o pai ironiza suas “romantiquices” literárias –
publicaria, na Revista de Letras, o poema "O filho da
primavera" –, esclarece que “um filho é a ideia de um filho”;
e que, nem sempre, “as coisas coincidem com as ideias que
fazemos delas” (p. 14).
O FILHO ETERNO
 O pai está inconformado com a realidade.
 Ele lembra que apenas a dois meses, ironicamente, corrigira
uma DISSERTAÇÃO para um amigo, na área de genética,
cujo tema versava sobre as características da trissomia do
cromossomo 21, a Síndrome de Down, popularmente
conhecida como “mongolismo”, e o fatídico acaso que o
presente lhe reservava: um filho portador dessa mesma
Síndrome.
 O destino não o fez cegar os próprios olhos, mas o narrador
admite que a morte do menino seria um alívio.
O FILHO ETERNO
O FILHO ETERNO
 Por meio de tudo o que envolve a chegada de um bebê, o
narrador estabelece uma relação com os rituais dos sacrifícios
religiosos e aponta o caráter de encenação/representação de
papéis tanto dos pais, quanto dos médicos e enfermeiros.
 Assim, os primeiros capítulos exploram as reações adversas do
pai e marido – “Eu não preciso deste filho”; “Eu também não preciso
desta mulher” (p. 32).
O FILHO ETERNO
 O menino – só mais tarde saberemos que se chama Felipe – é
tratado como “pacotinho suspirante”, “a coisa”, “aquela
criança horrível”, “esse”, “simulacro de normalidade”, enfim,
nominações que levam o narrador a concluir que é um
“escritor sem obra, [...] e agora pai sem filho” (p. 41).
 A brutalidade com que questiona a “anormalidade” do filho
conduz à reflexão sobre a própria normalidade.
 No 7º capítulo, o narrador se detém na discussão científica a
respeito das características da trissomia do cromossomo 21,
porém as contingências do fato, quando relacionadas ao filho,
não o impedem de considerar-se num abismo.
O FILHO ETERNO
 Ao reler um poema engajado, de sua autoria, – “escrito anos
antes, numa pensão em Portugal, em seus tempos de mochileiro” (p. 49)
– trazido por seu irmão, a pretexto de consolá-lo, analisa-o
com olhar crítico, tributa-o como “simulacro de poesia” (p. 51).
 SIMULACRO.
 Versos iniciais: “Nada do que não foi/ poderia ter sido” (p. 50).
 “Três estranhos em silêncio. Não há o que abraçar” (p. 66)
 a certeza genética do filho, o vazio familiar e???
O FILHO ETERNO
 O pai começa uma peregrinação em busca de clínicas
especializadas em programas de estimulação e consequentes
exercícios de reabilitação.
 O autor expõe as deficiências específicas dos portadores
dessa síndrome – em termos de visão, audição, tato,
linguagem, relações sexuais –, bem como as limitações que os
“normais” têm no trato com essas pessoas: “(elas ouvem a
palavra ‘não’ milhares de vezes a mais do que qualquer pessoa normal)”
(p. 167).
O FILHO ETERNO
 A educação de Felipe é, em contrapartida, a educação do
pai em busca de si mesmo.
 No 20º capítulo, ao narrar o desaparecimento de Felipe, faz
um retrospecto dessa fuga e, retornando ao momento de seu
nascimento, associa e equipara as sensações como se fossem “o
sentimento do abismo” (p. 161).
 A possibilidade da perda do filho permite ao narrador
avaliar o valor desta perda: o desabamento provocado pela
solidão: “Não se mova, que dói” (p. 161).
O FILHO ETERNO
 A relação autobiográfica em O Filho Eterno, também se
consolida na descrição correspondente ao processo de criação
e publicação de outros romances de Cristovão Tezza, como:
Terrorista lírico, Trapo, A cidade inventada e Ensaio da paixão, “o
primeiro acerto de contas com a própria vida, antes do filho” (p. 116).
 www.cristovaotezza.com.br.
 Referância: o futebol – o jeito brasileiro de brindar a vida, “esse
nada que preenche o mundo” (p. 218) –, une pai e filho num afeto
quente e compartilhado. Atleticano fanático, o futebol “passou
lentamente a ser para o Felipe uma referência de sua maturidade possível”
(p. 219).
O FILHO ETERNO
 Acompanhando os passos do filho, o pai identifica as noções
e qualidades possibilitadas pelo futebol:
 1ª - confirma uma noção de “personalidade”, “incluindo aí o
dom terrivelmente difícil de lidar com a frustração” (p. 219).
 2ª - caracteriza a noção de “novidade”, “não mais apenas alguma
coisa que ele já sabe o que é e que vai repetir” (p. 219).
 3ª - implica a “socialização”: “o mundo se divide em
torcedores e por eles é possível classificar as pessoas”
O FILHO ETERNO
 4ª - corresponde à ideia do tempo, proporcionada “pela
noção de torneio” (p. 220)
 5ª - “outra pequena utopia que o futebol promete – a alfabetização”
(p. 221). É interessante refletir sobre a importância do
jogo/futebol como via de acesso ao mundo da leitura, pois,
através dele, Felipe é “capaz de distinguir a maioria dos times pelo
nome, que depois ele digitará no computador para baixar os hinos de cada
clube em mp3, e que cantará, feliz, aos tropeços” (p. 221).
O FILHO ETERNO
 A imprevisibilidade é da natureza do jogo e disputar mais
uma partida comunga dessa imprevisibilidade.
 Início: o pai olha amargo e ressentido para o filho
“mongolóide”
 Término: o narrador confere a si e ao filho o dom do jogo da
vida – liberta e imprevisível – bem como a possibilidade de
abertura – maturação/amadurecimento – que só o tempo é
capaz de proporcionar.
O FILHO ETERNO
Tempo x Espaço
 Tempo cronológico e psicológico  ao passo que Felipe
cresce, aprende andar, desenvolve a fala e inicia a vida escolar,
o narrador nos conta passagens da adolescência do pai.
 As principais mudanças de espaço ocorrem com as
interrupções do tempo cronológico – flashback – toda vez
que o pai faz uma reflexão sobre a própria vida, regredindo no
tempo e no espaço, transportando-se para situações diversas,
como a passagem por Portugal e pela a Alemanha, os
trabalhos, os estudos, a infância em Santa Catarina, o grupo de
teatro amador, o mestre guru e o primeiro amor vivido na ilha
da Cotinga.
O FILHO ETERNO
Tempo x Espaço
 O pai transita psicologicamente, entre o presente e o
passado, e fantasia um futuro, onde cria algumas expectativas
no leitor, em um período entre 03 de novembro de 1980 até
2006.
 Felipe não tem essa noção do tempo “Incapaz e entrar no
mundo da abstração do tempo, a ideia de passado e de futuro jamais se
ramifica em sua cabeça alegre; vive toda manhã, sem saber, o sonho do
eterno retorno.” (pág. 183).
O FILHO ETERNO
 Durante toda a narrativa, Felipe recebe estímulos para sua
evolução motora e mental: a esperança do pai com isto é
aproximar o filho da normalidade, uma conquista, que na
verdade, sabe que será impossível.
 A voz que narra não explicita o sentimento do pai pelo filho
eterno, pois as suas emoções são contidas a ponto de fazer o
leitor duvidar de seu amor por Felipe.
O FILHO ETERNO
 O amor só fica evidente quando o menino desaparece. O pai
“Só descobriu a dependência que sentia pelo filho no dia em que Felipe
desapareceu pela primeira vez... ainda em pânico... que agora lhe toma
por inteiro, a pior sensação imaginável na vida – quase a mesma sensação
terrível do momento em que o filho se revelou ao mundo, da qual ele
jamais se recuperará completamente...” (pág. 161).
 Embora ele próprio não admita isto “Esse é o retrospecto
desenhado com calma quase vinte anos depois. No momento, tudo é de
uma banalidade absurda...” (pág. 161).
O FILHO ETERNO
 Como desfecho dos conflitos internos do pai, há a
superação do desequilíbrio emocional, ocorrido com o
nascimento de Felipe, que é constatada quando pai e filho
compartilham, de forma carinhosa, a uma partida de futebol na
televisão.
 Quem é o filho eterno?
- Felipe, eternamente menino, imerso em sua inocência
canhestra.
- o pai, sempre me busca de sua verdadeira identidade.
- como o pai vê seu filho, mas agora no sentido de
eternizado pelo amor.
O FILHO ETERNO
 Com O Filho Eterno, Cristovão Tezza confere novas
possibilidades ao gênero autobiográfico, redimensionando o
papel da memória no presente da narrativa e, sobretudo,
inserindo a própria história no contexto de sua criação literária.
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