O processo de transição do familiar a cuidador da pessoa com depressão Maria de Fátima Marques Prof. Doutor Manuel Lopes a minha preocupação… depressão é provavelmente a mais antiga e uma das doenças da mente mais frequentemente diagnosticada – há casos que reportam acerca de 3000 anos perturbação do estado de humor (CID 10), é considerada um grave problema de saúde pública deteriora a qualidade de vida dos doentes e da família causa de incapacidade a longo prazo e de dependência psicossocial perturbações depressivas 3ª causa de carga global de doença em todo o mundo afeta 18,4 milhões de europeus (EAAD, 2013) Maria de Fátima Marques a minha preocupação… depressão fenómeno universal de qualquer idade classe social nível de educação nível cultural religião e ideologia diminuição da atividade concentração reduzida baixa autoestima lentidão psicomotora alterações do sono pode afetar pessoas de ambos os sexos não atinge só a pessoa doente, mas também a sua família, causando graves problemas na dinâmica pessoal, familiar e social é fortemente incapacitante Maria de Fátima Marques a minha preocupação… os familiares o internamento é um recurso de última linha família devem ser vistos como aliados na prestação de cuidados depressão têm que mudar o seu comportamento é esperado que passem à condição de cuidadores transição (Zagonel, 1999) processos dinâmicos de movimento e mudança que caraterizam o ciclo de vida da pessoa passagem de uma fase, condição ou estado a outro (Chick & Meleis, 1986) desempenho de um novo papel Maria de Fátima Marques a minha preocupação… como é que o elemento da família se torna cuidador do seu familiar com depressão objetivos caraterizar o processo de adoecer com depressão, na perspetiva do familiar e do doente; identificar reações que o familiar desenvolve na relação com o doente escrever estratégias utilizadas pelo familiar para cuidar do doente com depressão conceituar padrões de resposta presentes no processo de transição do familiar a cuidador Maria de Fátima Marques desenho de natureza qualitativa e indutiva dois polos das consultas externas do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental – Hospital de Évora seleção de participantes não probabilística intencional 13 pacientes em duas cidades diferentes fevereiro a julho 2009 8 pacientes 12 familiares 20 participantes (8 famílias) Maria de Fátima Marques critérios de inclusão no estudo adultos e/ou idosos com diagnóstico clinico de depressão ter capacidade cognitiva que permita a recolha de informação habitar juntamente com familiares concordar em participar no estudo de forma voluntária Maria de Fátima Marques a recolha de dados entrevistas semiestruturadas Grounded theory 8 famílias 20 participantes gravadas em gravador áudio e transcritas por mim 8 doentes 12 familiares entrevistas em casa das famílias Maria de Fátima Marques os dados Só o casal (3 famílias) 12 familiares o casal e um filho (2 famílias) as famílias O casal e dois filhos (1 família) mãe e filho (2 famílias) 9 homens média idades 40 anos 3 mulheres média de idades 33 anos Maria de Fátima Marques resultados codificação axial a narrativa do processo de adoecer inicio - é claramente identificado pelo doente e pelo familiar, embora em tempos diferentes sintomas comportamentos causas – só são identificadas pelo doente manifestações familiar comportamentos agressivos isolamento desinvestimento deficit de auto cuidado passividade doente manifestações somáticas isolamento perda de vontade tristeza medo Maria de Fátima Marques resultados codificação axial a narrativa do processo de adoecer caraterísticas da depressão familiar * é uma doença estranha que por vezes parece não ser doença mas uma falta de vontade; * é uma coisa má que destrói a relação familiar * é manipuladora, uma forma de conseguir o que se quer; * muda totalmente a pessoa (deixa de investir na família, deixa de cuidar da casa, torna-se conflituosa e inconstante, isola-se e não fala com os outros) doente * é uma doença da cabeça, não se vê mas sente-se; * não é possível explicar, só quem está doente percebe; * muda a pessoa de tal forma que às vezes não sabe quem é; * só a solidão ajuda e reconforta; * é uma doença inconstante. Maria de Fátima Marques resultados codificação axial mudança no comportamento dos familiares alteração de papeis – os homens assumem o papel das mulheres e os filhos assumem o papel dos pais impotência para lidar – não compreendem o que está a acontecer e não sabem como agir alteração na comunicação – isolam-se e falam menos alteração do humor – os membros da família estão tristes e alguns têm manifestações somáticas e comportamentos depressivos diminuição da tolerância – sabem que o seu comportamento mudou, têm menos tolerância e irritam-se com facilidade diminuição da atividade social –sentem revolta e vergonha, culpabilizam o doente e evitam o relacionamento com os amigos e familiares alteração do desempenho laboral – insucesso escolar e absentismo laboral Maria de Fátima Marques resultados codificação axial estratégias de cuidados compreensão é utilizada pelas crianças, através de palavras de conforto, demonstrações de afeto, pequenos jogos e brincadeiras afastamento está menos tempo em casa; diminui o diálogo para evitar discussões e quando acontecem sai de casa e não as termina conflito é utilizado pelos adultos obrigando o doente a realizar as atividades domésticas, a participar em atividades socais e a assumir o seu papel na família proximidade procura ajuda médica; controla a toma da medicação; desenvolve processo de aprendizagem Maria de Fátima Marques discussão quando há uma pessoa com depressão na família tudo muda e a família transforma-se os familiares mudam para atender às necessidades do doente e o papel de cuidador constrói-se cada dia na interação entre as pessoas que coabitam influencia reações dos familiares comportamento do doente influencia influencia influencia estratégias de cuidados Maria de Fátima Marques discussão Tudo o que o familiar faz tem a finalidade de ajudar o doente a melhorar e a superar a sua depressão, através de um modo diferente de cuidado Resultado de um desempenho inadequado de papel, as estratégias utilizadas revelam-se desajustadas às necessidades do doente e o cuidado adquire caraterísticas particulares de conteúdos inadequados à situação de saúde. De acordo com Meleis( (1975, 2010), podemos afirmar que o familiar vive uma transição não saudável, donde resulta o desempenho inadequado (insuficiência de papel) de papel de cuidador Maria de Fátima Marques discussão Para minorar este desempenho inadequado, é necessário que os enfermeiros conheçam as dificuldades que os familiares enfrentam ao assumir o papel de cuidador Desta forma poderão desenvolver estratégias de suplementação de papel, promovendo o conhecimento do familiar e ajudando na definição de planos de ação Ajudar o cuidador a cuidar em harmonia é uma função de enfermagem que se traduz em benefícios de saúde e no bem estar da família. Maria de Fátima Marques Obrigado! Maria de Fátima Marques Prof. Doutor Manuel Lopes